A luta sem futuro de revolução

July 18, 2017 | Autor: Eduardo Pellejero | Categoria: Gilles Deleuze, Gilles Deleuze and Felix Guattari, Filosofía
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A luta sem futuro de ravolucáo Eduardo Pellejero

Porqu e nao ven s a té rnirn? Porque nao posso ama r-te? Charlv García, Perta da revolu~ao

N um a en trevista de 1990 l , Deleuze de fen dia per ante N egri a sua fidelid adc ao marxismo, ísro é, a ídeia d e que a filosafia política deve colocar-se co mo rarefa a análise e a crítica do ca pitalismo. Defendia rarnbém , cont udo , urna reavaliar,;áo dos seus objectos e dos scus instrumentos a favor de urna tip ología d ifer en cial de macro e rnicro-agen ciam entc s, com o det erminantes da vida soc ial. S ubs tit uir as infra:"estrutu~a s pela vida ou pelo desejo , corn o dimensáo consritu in te d as forrn acó es de pod er, nao ím plicava ern principio re negar Ma rx , se, co mo sugere Derr id a, Marx nos punha j á em gua rda sobre a h iswricid ad e e o "en velhecimento" po ssível d a sua obra , isto é, sobre a n ecessidad e de transfonnw;áo das suas pr6pri as teses par a acolh er a imprevisibilidad e de n oves saberes, de novas técnicas, de h av os dad os políticos. Sim levantava o problema do tipo de luta q ue seme lha n te deslocamento na teoria pod ía che gar a 'p rod uzir ao n ível da praxis. As linhas de fuga (e náo as co n tra d ie;óes de lima socied ade) , as minor ías (pelas classes ) , as máquin as de gue rra , (contra ° a parato de Est ado) , na o implicavam urna mudanca no qu adro con, ceptual da aná lise ,serri'implicar, ao mesmo tempo, urn a pr ofunda reri o vac áo das qu estóes q ue co nt orna m a prática milit ante. E essa renovacá o tornava- se ainda mais ur gente . se ,tivermos em con ta q ue a an álise da sociedade em termos de agencía me ntos de desejo - conceito que Deleu ze pr efer e ao d e dispositi vo s de (bio) pode r - implicava urna ruptura com qu alquer lógica progressist a ou teleologia libertári a. Das soc iedades de sobe ra ' n ía as sociedade s disciplinárias, com efeito , e destas as sociedad es de controlo, a mudan«; a d os agenciamc n tos colectivos é a expressao de um a mudan«;a, mas n ao necessari am ente de uma mudanc;a par a melhor. . A consciencia da imp ossibilidad e de q ualquer totali zac;ao da realidad e pela represcntae;ao - ist o é, a assun«;áo do valor local dos n ossos in strumentos teóricos _ , ass im co mo a ren úncia a tod o o "me ssian ismo e.stru tural"2 - ist o é, o abandono de tod a a prom essa em an cip atóri a - , podi am se r exigencias de um 1 Tr~r~-se de um~ enue visra com Ton i N egri. publicada em FUlur anlérieHr, n. Primavera de 1990. re' romado em Deleuze. Pourparlers. Parn •.Editions de Minuir, 1990 lConversa~6c5, Sáo Paulo. Ed, 34. 19921· 2 Cf. D errida, Speetres de Marx. l.:Ew[ de la delle, le lravai! du deuil el la nouvelle lnremmionale. París. GaliJée. 1993; p, 102. 21,

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pensarnenro ca paz de se con front ar com as mutac óes biopo lític as do capital, mas ao mesmo tempo abriam a lur a par a urna di spe rsáo sem precedentes. O men or como Iinh a de fuga ou máquina de guerra nao assen rava as bas es de um programa políti co rev olu cion ário , mas se de senvolvía just amente na di recr,;~~ op~sta as lógicas or ganí zativas arborescen tes do s movimentos políticos trad1CI~na1s (neste sen tido , Gu art ari dizia-nos que "a pro cu ra de urna uníficacáo de~~slado gra nde nao co nt ribuiría. por part e das forca s de resistencia. sen áo para fa~lhtar o rraba lh o d e sem io tizac áo do ca pita l" J e Deleuze insist ía em que nao existe qualquer coisa como un1 govern o de esq ue rda ). ,. ...... D.aí qu e, ao confront ar a dimensáo política de st e pen sarnento , Ne gri o faca a p~rtlr do luga~ paradoxal do mili tante que encontra nele uma pod erosa inspiracao para continuar a pen sar o movimento da rev olta, mas, por outro lado , nao compreenda COIT)O pode ser institucionaliz ável da' ponto de vista do movimento revolucion ário: "Com o pode ser potente o devir minorit ário? Como pode con: v.erter-s.e a res ísténcia ern insurreic áo r (:..) H á algurn meío de que essa rnassa de sl~gu land ades e átomos que somos possa se apresentar como urn poder constitumt~? ?u devemos, pelo contr ario, ace ita r o parad oxo jurídico de qu e o poder consntumte s6 possa ser de fin ido por um pod er j á const ítuídot '". . Negri sa úda a apar ir,;.~ o de Mille Pia tea ux , qu e cons idera urna ob ra de filo- ' . ~ofia política as.sin a lável, mas lamen ta um ace n to tr ágico , na med ida em qu e Ignora ao nd e po~ ~ cond uzir a "máq uin a d e gue rra • . (Leva nto aqui a questáo de urna pers~~ ctlv a revolu ci on ári a, m as cerramente as qu esr óes levantadas p'~r .N egri t am~ém pod eriam se: co locadas de urn a per sp ectiva progressista ou lib eral : tal e o caso d e Phil ipp e Mengu e, qu em es creve: "Se Del eu ze n os ofer ece. ferram en ras fecund as pa ra n os erna n c ipa rruos do peso d o passado e enco:aja-nos a cometer o matricidio d a Hist ória, matriz da modern ídade, ná o nos liber ta desra sen áo para n os lan ca r ern devires, certamente a n.-h is ró rico s, ~as ~es~i~ados d,e qu alqu er efecru aca o so cia l e polí tica pos sível. (...) O rnatrim ónio e impossível entre a n arq uismo esp ontaneista do intempestivo e o tr abalho a langa pr azo [das] in stituicóes ( ) Sao direccóes politicam ente opostas (... ) O Intempestivo ná o institu ível ( ) lsto é, a guerr ilh a deserta o campo do p~l f.tico para fechar:-se n a sua posicá o , sern d úvida in expugnável, mas 56 e tradiCIonalmente ética"' .) ~or outras pala vra s, os novas instrumentos de análise do capitalismo, de senvo lvldos por Deleuze e GlIattari, poem em qu estao o sentido histórico da luta. Se a destotalizaC; áo, a loca lidade e a dispersáo das luras andam de máos dadas com a renúncia a possib ilidade his tórica da revolur,;áo, pa ra qu e lu tar ? De que valem as Im h as d: fuga, os processos de subversao ou as form as de resistencia, se qualquer revoluc;ao está condenada - por definir,;áo - a d errota?

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Cf, Gu a:l ari-Srivale, Di,w'5ion Wil~ Fe/ix Gllallari (19 de M a r~ o de 1985), Wayne S r;ue U nivers l t))I ~ I,spo nfve l ~ m : Im~ :/I\\'ebpag es ,u rs11l u s , ed u!rri chle r!s tiv al e .hrm l. Cf. Anne Qu errien , .Esquizoana ~SIS: caplla hs":I 0 ~ lIberrad . La larga .marcha de los desafiliados. , in Guau ari. Plan sobre el planela. Plla/r51l1O mundwl 1IllegTlldo 'Y revoluClone.s moleculare" ed i~ao de Ral,l Sánc hez C d 'lI M d 'd

3.

ea Traflcant es de luellOS, 2004; p. 28. 4 5

< e 1 0, a n • De leuze, POllTparlers, Paris. ,Éditions de Minuit, 1990; p. 234. Mengue, Deleuze el la que5llon de la démocralie, Paris. LH arm atlan, 2003; pp, 17, 155 e 15 7.

A id e ía de urna pragm ática milita nte, cm todo o caso, n áo é de todo cstra n.hn a Deleuze . q ue ao tongo da sua obra procura criar os co nc eitos capa zes de abnrnos a um sent ido a-histórico da Ju ta. Em primeiro lugar, De le uce afirm a , co nt ra todas as es tra tég ias de to tal izac ño da vid a pe lo pod er, d o d ísciplinam cm o ou da modulac áo da .vida que opcw m, os seu s di spositi vos, que a resis ten c ia é pr im cira, isro é,.que eXlst: um a c~n tl~ge n ­ cía de principio a ope ra r na pr ópr ia n a tureza do socla l., A SOCiedad: nao e u ma rotalid ade dada : um que bra- cabecas de pe cas heter ogen eas, que n ao en cai xam sernpre . As organi;a~oes de pod er esr áo arra vess adas por um impo~er e~se~cía l. O ca mpo social n ao est á co m posto apenas por íormacó es isolad as e l~~ta\' els : só as estra t ifica cóes do sa ber e do pode r Ihe proporci onarn alguma establ)¡~ade , ~la~ cm si me smo ín st ável, agita do, camb iante, co mo se d ependesse de um a pn o n paradoxal, de urn a micr oagitac áo". O socia l escoa por todas as. p~r~e s . ' . Em segun do lugar, De leuze n ao passa por alto o fracasso hi st órico dos proj ectos revol ucion án os mod er nos e co nre rnpo ráneos. A maneira co nstante e rn que os grupos revol ucion ários atrn it;oara m a sua rar efa é .mais q~,e conhec~~ a,. e ~lfi~ espanta Dc le uze. N cst e sen tido, se por urn ladoadmite que nun ca mais assisn rem os a urna ru ptura cim a, de c lasse co n tra classe, que inicie a redefin ic áo de urn novo t ip o d~ socied ade'", por nu tro, afirma que as re volucó es - fracassan do his- .. .. to ricame;l te - n áo d eixam de ter efe ítos imanent emente, n em de produ zir efeir os • . . (i n c a1c u l áv ei~) '-n'essa rn esrna h istoria ern que fracassam B• Port ante Dcleuze nao acn len ta id eais de um futuro n a h íst óría on de possa realizar-s~ 'U1~a expressáo co lec tiva e du radoura·de. urna v~~a liberada , igüalitá ría ou justa, mas na o deixa de apostar nos efeitl!s " libe rta(~Ores " ~e :x~lo,sóes pur~s . de desejo. Passa , d este modo , da REVOL U
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