A mãe de todas demonstrações - Douglas Engelbarth e o controle da interface digital (2016))

May 25, 2017 | Autor: Ariane Souza Stolfi | Categoria: User Interface, Interface Design
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CMU 5172 - A música e Seus limites professora Dra. Lílian Campesato trabalho de análise de discurso Ariane de Souza Stolfi A mãe de todas demonstrações - Douglas Engelbarth e o controle da interface digital

figura 1 - convite para a apresentação no Fall Joint Computer Conference

Em dezembro de 1968, durante o ​ Fall Joint Computer Conference​ , o engenheiro de software Douglas Engelbart fez uma demonstração de um sistema de hardware e software denominado on-Line System (NSL) (figura1), que estava sendo desenvolvido desde 1962 pelo Augmented Human Intellect (AHI) Research Center no Stanford Research Institute, um laboratório experimental desenvolvido em torno de um sistema de computação e representação interativo e multi-usuário, que tinha a intenção de "aprender os princípios que pelos quais o auxílio da computação interativa poderia ampliar sua capacidade intelectual" 1 (Engelbart e William, 1968). O objetivo principal do laboratório era "desevolver  ​ 2a In the Augmented Human Intellect (AHI) Research Center at Stanford Research Institute a group of researchers is developing an experimental laboratory around an interactive, multi-console computer-display system, and is working to learn the principles by which interactive computer aids can augment their intellectual capability. 1

 

princípios de análise e design de modo a compreender como ampliar a capacidade humana" e ao mesmo tempo "ajudar a desenvolver sistemas computadorizados complexos" (Engelbart e William, 1968 ). O laboratório era equipado com 12 consoles individuais conectados a um computador central compartilhado, onde cada usuário poderia operar o sistema de maneira individual simultâneamente. Além disso, cada terminal estaria equipado com um teclado, "similar ao teletype​ ", um mouse, que ele descreve como um conversor analógico/digital capaz de converter o movimento de duas rodas na posição X e Y de um ponto na tela, que o usuário poderia "apontar" coisas na tela e também um dispositivo de 5 teclas, "com 31 acordes ou combinações únicas de teclas, com cinco 'caixas'". É interessante notar a analogia desse dispositivo com um instrumento musical. A apresentação do sistema, feita para uma platéia de cerca de 1000 pessoas ficou conhecida como "The mother of all demos", que foi a primeira apresentação pública do mouse e de muitas outras inovações como "o hipertexto, o endereçamento de objetos, a ligação dinâmica de arquivos e a colaboração coletiva em um ambiente em rede", inclusive a telepresença e a possibilidade de comunicação remota com áudio e vídeo: No palco, abaixo e ao lado direito da tela da audiência, estava sentado o palestrante principal (Engelbart) no controle de uma tela de computador de uma estação de trabalho online, cuja saída era projetada na tela (e simultaneamente capturada em filme). Por trás da cena, Bill Engelish coordenava a equipe de apoio que manejava as câmeras, switches, mixers, controladores de efeitos especiais etc. (transcrição do vídeo de 1968)2 Douglas faz a apresentação de um sistema complexo e também de um novo meio de comunicação, fruto de um projeto de seis anos em busca de um sistema que permitisse aos computadores auxiliar na "ampliação do intelecto humano", que ele define como: Por "ampliação do intelecto humano" nós queremos dizer aumentar a capacidade do homem de abordar situações problemáticas complexas, chegar à compreensão para atingir suas necessidades particulares, e dar soluções a problemas. A capacidade ampliada é, a respeito disso, levada a significar uma mistura do seguinte: compreensão mais rápida, melhor compreensão, a possibilidade de ganhar um grau útil de compreensão numa situação que previamente era muito complexa, soluções mais rápidas, soluções melhores, e a possibilidade de encontrar soluções para problemas que antes pareciam insolúveis. (Engelbart, 1962)3  ​ On the stage, below and to the audience's right of the screen, was seated the main speaker (Doug Engelbart) at the controls of an on-line computer-display work station whose display output was projected on the screen (and simultaneously captured on film). Behind the scenes, Bill Engelish coordinated the supporting crew who manned camers, switches, mixers, special-effects controllers, etc. 2

   ​ By "augmenting human intellect" we mean increasing the capability of a man to approach a complex problem situation, to gain comprehension to suit his particular needs, and to derive solutions to problems. Increased capability in this respect is taken to mean a mixture of the following: more-rapid 3

O computador era até então, uma máquina de uso muito restrito, cujo uso era voltado principalmente a fins militares e de pesquisa muito complexa. Utilizá-lo para tarefas de nível mais baixo, como escrever, na verdade seria para ele uma maneira de "fazer mudanças no sistema geral" de maneira que pudesse colaborar na própria forma do pensamento, de uma maneira mais geral. (Reinghold, 1985) O processo de trabalho do laboratório era baseado no conceito de ​ bootstrapping 4 ​ , que é o de alavancar a si prórpio, construir as ferramentas necessárias para aprimorar o próprio trabalho, como aponta Reinghold: O laboratório por si próprio teria que ser conscientemente desenhado como uma ferramenta de ​ bootstrap​ , porque as primeiras ferramentas que este time estaria construindo de início seriam as ferramentas necessárias para para fazerem seus próprios trabalhos melhor. Antes deles esperarem ampliar as tarefas de outras pessoas, eles tinham que ampliar seus próprios trabalhos. ​ Bootstraping ​ – construir as ferramentas para construir ferramentas melhores, e testando-as em si mesmo na medida do avanço, era um componente central na estratégia de Engelbart, para acertar o passo de antecipados desenvolvimentos da tecnologia da computação 5 . O foco do trabalho do laboratório então é no desenvolvimento de um sistema complexo, o NSL, que incluía um computador instantaneamente responsivo e interativo, que iria se desenvolvendo de forma evolutiva,"porque nós não conseguimos ser analíticos o suficiente sobre isso em um determinado ponto, para decidir qual seria a melhor coisa a fazer em seguida" (Engelbart, 1968). Em 1968, a equipe prepara então um verdadeiro espetáculo para "mostrar, ao invés de falar sobre" os recursos e potencialidades desse sistema. A performance então, é demonstrar os recursos do sistema um a um, utilizando os recursos mais desenvolvidos de edição de vídeo em tempo real, que permitia alternar, sobrepor ou dividir a projeção entre o rosto de Douglas, a tela do écran, uma câmera que mostrava a operação dos instrumentos de interação, ou mesmo câmeras remotas no laboratório central em Menlo Park, enquanto ele mostrava as possibilidades do sistema: escrever, voltar atrás, copiar, colar, apagar, apontar coisas na tela, salvar e carregar arquivos, uma série de coisas

comprehension, better comprehension, the possibility of gaining a useful degree of comprehension in a situation that previously was too complex, speedier solutions, better solutions, and the possibility of finding solutions to problems that before seemed insoluble.

   A tradução literal de ​ bootstrap ​ é alça de bota, a palavra é usada como uma metáfora para alavancar a si  próprio.     5  The laboratory itself would have to be a consciously designed bootstrapping tool, because the very tools  this team would be constructing first were the tools needed to do their own jobs better. Before they could  hope to augment other people's tasks, they had to augment their own jobs. Bootstrapping ­­ building the  tools to build better tools, and testing them on yourself as you go along, was a central component of  Engelbart's strategy, intended to match the pace of anticipated developments in computer technology.  4

que hoje são totalmente essenciais e corriqueiras em qualquer computador pessoal ou dispositivo eletrônico. A cada clique, uma resposta sonora que parece um som sintético. Para a primeira aplicação prática do seu sistema, ele menciona a sua esposa: "Deixe me ir a um arquivo que eu preparei assim que a minha mulher me ligou e disse, no caminho de casa, você faria algumas comprinhas para mim. E assim que ela disse, eu entrei no meu sistema…". E então ele carrega um arquivo com uma lista de compras (figura2). Ele até faz uma piada com a quantidade de items na lista, mas já é uma tentativa inicial de colocar a computação como fomento à própria sociedade de consumo. A lista de compras passa a ser um mote para demostrar a potencialidade de hieraquização de informações e categorização, enquanto ele faz a divisão dos produtos pelas suas respectivas lojas. Tudo com uma voz muito calma e com alternância entre beeps e sons contínuos ao fundo. Ao final, ele demonstra a possibilidade de criar mapas no computador, mostrando a sua jornada após o trabalho: trabalho, sapatos, biblioteca, mercado, farmácia, arte, ferramentas, casa (figura3).

figura 2, à esquerda: Douglas e a lista de compras; figura 3, à direita, o caminho de casa: Route see (Alpha) work, shoes, library, market, drugs, art, hard, home. Depois dessa demonstração, ele parte para "só para deixar claro que vocês entenderam que nós estamos mudando de material ilustrativo (a lista de compras) para a coisa real de trabalho" 6 , e ele mostra a estrutura de um texto: Introdução, geral sobre o programa, NLS como um "instrumento", técnicas de controle, Implementação do NSL, uso, atividade e créditos. Então ele apresenta mais um conceito crucial no desenvolvimento posterior dos  ​ And now I’d like to stop a minute and just make sure you understand we’re shifting from illustrative material to the real working stuff. In case you wouldn’t recognize it otherwise. 6

 

meios de comunicação online, a idéia de link, e a capacidade de pular para um ponto diferente do texto apontando para uma texto na tela. Ele considera o sistema como um "instrumento". e diz que ficou ensaiando com o programa. Curiosamente, na hora em que ele passa a falar "da coisa real", o feedback sonoro desaparece e já não existe mais o som de fundo. A partir desse índice, ele consegue acessar e abrir uma série de capítulos, "primariamente um instrumento e um veículo para ajudar os homens a operar no domínio das estruturas complexas de informação" (Engelbart, 1968). Ele usa então a metáfora da navegação, para nomear esse movimento entre links no espaço virtual. Em seguida, passa a falar das técnicas de controle "dispositivos de controle" - mouse, teclado e teclas especiais e nesse momento, ele abre uma janela de comunicação remota com Menlo Park, mostrando a capacidade de comunicação em tempo real por teleconferência à distância, a possibilidade de trocar mensagens entre os programadores de diferentes localidades e em conjunto com Bill English demonstra como um dispositivo equipado com duas rodas permitiu o controle sobre o espaço da tela, através do controle do plano cartesiano, os eixos X e Y, e ele demonstra o processo hoje corriqueiro de se olhar a tela, acompanhar um pontinho, que ele chama de “bug” e controlá-lo com o mouse. Explica também o funcionamento do sistema de teclas especiais, um pequeno dispositivo de cinco teclas, uma para cada dedo e todas as possibilidades de combinação entre as teclas. Dos dispositivos de controle apresentados naquele dia, somente esse teclado especial não foi implementado em larga escala em desenvolvimentos posteriores na computação pessoal. O Laboratório para Ampliação do Intelecto Humano foi sem dúvida um dos agentes cruciais no desenvolvimento da computação como a conhecemos hoje. Ele definiu certos paradigmas que até hoje se mantém, como pudemos assinalar ao longo do texto. Rheingold (1985) aponta também que muitos dos engenheiros que passaram por lá vieram a se tornar chefes de laboratório em universidades e centros de pesquisa de empresas de computação, mas enquanto o discurso é dos mais bem intencionados, da possibilidade de ampliação do intelecto humano, e da capacidade de pensar melhor, trabalhar melhor e organizar as coisas melhor, podemos notar uma forte inclinação do pensamento em direção à manutenção da sociedade de consumo.

ENGELBART, D. C. Augmenting Human Intellect: A Conceptual Framework. AFSOR-3233, Summary Report Menlo Park: Stanford Research 24 Institute, 1962 disponével em: ________. 1968 Demo - Douglas C. Engelbart, PhD et.al. Disponível em: ENGELBART, D. C e ENGLISH, W. A research center for augmenting human intellect. ​ AFIPS Conference Proceedings of the 1968 Fall Joint Computer Conference,​San Francisco, CA, December 1968, Vol. 33, pp. 395-410 (AUGMENT,3954,). RHEINGOLD, Howard. The Loneliness of a long distance thinker in Tools for tought. Howard Rheigold, 1985. disponível em:

 

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