A mão que balança o golpe: José Serra

June 4, 2017 | Autor: Gisele Toassa | Categoria: Ciencia Politica, Impeachment, Psicologia Política
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A MÃO QUE BALANÇA O GOLPE: JOSÉ SERRA
Profa. Dra. Gisele Toassa
Psicologia, UFG
Terça, 22/03/2016
Enquanto tento, inutilmente, ler as dissertações a serem arguidas na próxima semana, minha cabeça procura reconstituir a 'conspiração' que tem tolhido, de forma tão bem-sucedida, todos os movimentos do governo na tentativa de sair da crise. Há quem tenha preferência por Janot, mas meu voto é no Serra.
Primeiro, tem que ser alguém com sólidas conexões tanto no PIG quanto no Supremo e na Polícia Federal. Sólidas o suficiente para se sobrepor aos seus concorrentes conservadores. Obviamente, um tucano. Por que não um que foi visto almoçando com Gilmar Mendes há uns poucos dias?
Não é Aécio, que seria o nome mais óbvio da oposição para a próxima corrida presidencial. Ele está à beira de tomar um banho de soda cáustica na Lava Jato. Moro (quadro do PSDB) também está sofrendo alguns ataques na Globo. Estranho. Assumindo que o esquema na Petrobrás deva ter distribuído grana para todos os políticos de grosso calibre desse pais, deve ser alguém que queira aproveitar a chance para liquidar um incômodo concorrente na sua própria raia. E essa mão oculta é de alguém de São Paulo, o estado mais anti-federalista, mais 'golpista', que temos. E alguém solidamente conectado ao capital internacional que reivindica a privatização da Petrobrás.
É um movimento típico de Serra, lembrado por usar a imprensa para tratorar impiedosamente os adversários em seu próprio partido, além da oposição. Lembrem-se de Aloizio Mercadante (na última ocasião em que concorreu com Serra ao governo de SP), que, na reta final, foi destruído com fúria assassina pela associação Veja-Globo-Polícia Federal. O denuncismo contra o petista nunca se confirmou. Alguém se lembra sobre o que era?
Em comparação com Serra, até Alckmin foi mais denunciado. Poucos vão ser capazes de ligar ao seu nome a alguma acusação de corrupção.
Segundo, alguém com uma sede inefável pela presidência. Algo anormal - além da sede mediana dos políticos que concorrem uma vez e depois esquecem. Alguém que perdeu a corrida presidencial duas vezes, e cuja idade faz o tempo se encurtar, tornando a sede em autêntico desespero. Um conservador, legalista, mas tão ávido pela presidência que seria capaz de trair sua palavra de que não deixaria a prefeitura de São Paulo (palavra esta registrada em cartório) para satisfazer essa ambição, quando surgiu a oportunidade de tentar de novo (com isso, não chegou nem mesmo à Prefeitura de Sampa quando concorreu pela última vez). Um político em declínio; alguém tão antipático e sem carisma que nem todo o Viagra do PIG conseguiu fazer sua campanha subir. Sua única chance é mover meio mundo e tramar um golpe, desde que este não tenha qualquer associação com sua pessoa. Notem que Alckmin e Aécio estiveram na Paulista com os coxinhas, mas Serra não foi. Malandro, ele sabe que, nas campanhas, quem ataca acaba se estrepando tanto quanto quem é atacado. É um homem discreto que jamais tira a máscara, como têm feito Alckmin e FHC com suas declarações protofascistas. O jogador que, como diríamos no truco, fica quietinho, parando-pé com casal preto na mão... Não um Eduardo Cunha, exibicionista demais para não se jactar de sua ótima mão.
Dos tucanos ele tem sido o mais quieto - até agora, quando emerge das sombras com um projeto. Uma alternativa, uma saída. Celebrando a paz com Temer. Uma condição: que Temer não concorra à reeleição (pois a próxima vez, com Lula e Aécio fora da jogada, será dele, só dele) e componha uma equipe ministerial "surpreendente". Desnecessário dizer que ele terá lugar nessa equipe. Caso contrário, como já pipoca na imprensa, Temer também será enxovalhado pela Lava Jato. Se Temer desobedecê-lo, ao invés de propor uma conciliação, seu partido deve propor a queda da chapa Dilma-Temer e defenderá a convocação de novas eleições.
Temer reagiu de mal humor à declaração de Serra, dizendo que ele mesmo comunicará a imprensa sobre suas decisões, quando apropriado. É como se um parceiro no truco avisasse o outro (a arma secreta; aquele jogador cansado de parar-pé com o casal preto na mão) que ele está se traindo. Cale-se, canalha. Espere trucarem em você. Assim arrancamos desses otários seis tentos ao invés de três.
Nosso vampiro bonzinho só se traiu agora, em que não há a mínima chance de que toda a merda na qual o país rasteja possa ser associada com sua pessoa. Taí um político que me põe muito mais medo que o Bolsonaro, um milico tosco demais para engendrar uma coisa desse tamanho.




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