A Mediação de Aulas na Formação Inicial de Professores Primários: as visões de Niquice e Libâneo

July 24, 2017 | Autor: A. Manjate | Categoria: Teacher Education
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Reflexão de Armando Aniceto Manjate e Hércia da Sandra Ussaca, Mestrandos na UNISAF - MaxixePágina 5
A Mediação de Aulas na Formação Inicial de Professores Primários: as visões de Niquice e Libâneo
Por: Armando Aniceto Manjate e Hércia da Sandra Ussaca
Mestrandos do Curso de Formação
de Formadores na Universidade Pedagógica- Sagrada Família da Maxixe

Para introdução deste texto sobre a mediação das aulas na formação inicial de professores primários nos Institutos de Formação de Professores – IFPs em Moçambique, na actualidade, vamos debater a (des) promoção do papel de instrução/ formação, que no entender de Niquice (2006:140) a mediação do conteúdo da aula é analisada tendo como base o fluxo comunicacional entre o formador - formando no processo de ensino - aprendizagem.
Na mesma linha de pensamento, encontramos nos discursos de Libâneo um interesse para que os formadores respeitem o trabalho fundamental de mediação cognitiva e da mediação didáctica dos conteúdos. Este autor sugere que o modo de trabalhar pedagogicamente com algo depende do modo de trabalhar epistemologicamente com algo, considerando as condições físicas, cognitivas, afectivas do aluno e o contexto sociocultural e institucional em que vive. Para Pilleti (2004:19) grande parte dos comportamentos e das atitudes dos alunos é provocada pelos comportamentos, pelo método e pela atitude do professor.
Encontramos nos processos formativos nos IFPs em Moçambique uma promoção da mediação que contradiz- se com o conceito de Niquice (Ibid). Na percepção deste autor a mediação propriamente dita significa, organização, a direcção, a gestão do processo das interacções pelo formador, para garantir a construção do conhecimento, da compreensão, do saber pelos formandos. Contemporaneamente falando, há uma visão que intercepta - se com a escola didáctico - pedagógica defendida por Libâneo, uma escola que valoriza a formação, cultura e cientificidade do formando, neste caso concreto.
A questão da mediação relaciona - se profundamente com a do fluxo comunicacional na sala de aulas. A reiteração do aspecto da comunicação, do diálogo na análise dos conceitos ensinar - aprender é pertinente, defende Niquice. Sente - se nesta citação de Niquice a vontade de mudar e modernizar a escola de formação de professores primários em Moçambique. Para que este processo ocorra com perfeição é importante repensar a questão dos Projectos Pedagógicos nos IFPs como uma questão central e numa perspectiva objectiva e baseada na aplicação de Aulas Activas e Participativas. Este tipo de aulas valoriza a participação do formando como o centro da aprendizagem. Esta participação é promovida por via de actividades lectivas onde a mediação para o formador é mesmo desenvolver o seu papel de mediador do processo.
No desenvolvimento do texto, há que defender a exigência de formação cultural e científica. Na opinião de Niquice e Libâneo, estes actores constroem uma forma de pensar numa perspectiva ecopedagógica. Esta perspectiva valoriza dois mundos, o da cultura científica na escola e um outro da cultura quotidiana. Conforme Niquice (2006) salienta que a formação actual legitima a cultura científica na escola e ignora a cultura quotidiana. Na opinião de Formosinho (2009:28), as Práticas Pedagógicas constituem o local para a valorização da cultura quotidiana do formando. Este debate sobre a valorização do quotidiano do formando na forma de leccionação ou instrução é claramente visível pelo (des) interesse desde as Zonas Libertadas, por ausência de um Projecto Pedagógico para a formação de professores com uma amplitude longa em termos de duração e que valorize as metamorfoses da sociedade moçambicana.
A mediação na formação inicial dos professores primários, e, em tabela, no ensino secundário é tida como uma exposição catequética por excelência. Niquice (2006:162) postula que os formadores, muitos sem preparação específica, trabalham segundo Modelos de uma pedagogia tradicional. Têm dificuldades em lidar com formandos cujo nível de entrada é heterogéneo. Para um Moçambique multicultural e com níveis de desenvolvimento vergonhosamente desiguais, onde a entrada para a formação de professores é vista como uma saída escape para um emprego precário e que alberga grande parte da juventude, parece de longe que não seria social e pedagogicamente viável prover os alunos de conteúdos científicos sem desligitimar as prácticas socioculturais e institucionais em que vivem. Ora vejamos, há uma grande oportunidade para os IFPs transformarem e formarem uma geração nova e que possa mudar o actual cenário a médio e longo prazo com a criação de Projectos Pedagógicos baseados em Aulas Activas e Participativas. Este caso de mudança da forma de trabalhar a mediação de aulas deve ser institucionalmente reformada onde a autonomia do formador deve ser respeitada.
A autonomia do formador constitui uma arma perigosa no processo de formação porque segundo Libâneo e Niquice, este agente mediador da apropriação do conhecimento cultural e científico é vitimado durante o trabalho de formar pelo facto de o formador na qualidade de elo de ligação (mediador) entre o património sócio- cultural da sociedade e os formandos, vai repetindo, transmitindo ritualisticamente o saber. Fá- lo sem criar, sem recriar, sem adaptar á situação. (Niquice, 2009:162). As práticas de gestão da formação de professores primários devem ser analisadas do ponto de vista da relação intrínseca entre o formador- formando na transmissão dos conteúdos na sala de aulas. Os IFPs são instituídos com infra- estruturas para promover um ambiente a cultura e a ciência podem muito bem coabitar, mas duvidamos se esse ambiente na gestão constitui cultura. A gestão pedagógica deve valorizar as Aulas Activas e Participativas como um instrumento de promoção da cultura e da ciência de forma integrada.
Libâneo defende esta situação recomendando uma escola integradora, que respeita o aluno na sua dimensão cultural e científica. Este autor propõe que a escola de formação de professores, neste caso para o ensino primário devia valorizar a cultura científica e quotidiana, onde o formando por via do seu mediador vive o processo de apropriação do objecto/ conteúdo de ensinar bem. Este ensinar bem depende da forma objectiva da valorização da mediação cognitiva e do manuseamento da mediação didáctica.
Nos IFPs em Moçambique há uma clara promoção do assassinato da liberdade do formador mediar a transmissão do conhecimento nos futuros professores respeitando sua mediação cognitiva. Por exemplo, é comum num determinado IFP o formador da disciplina de metodologias, com enfoque nos das línguas, ignorar completamente a aplicação de Métodos Activos e Participativos, esta prática propicia a perpetuação do modelo de pedagogia tradicional, onde os formandos só aprendem determinada língua e não conhecem as didácticas para o ensino dessa língua ou vice - versa.
A INOFER (s/d:18) define este conceito de Métodos Activos e Participativos como sendo:

Método baseado na actividade, liberdade e auto-expressão, em que o formando aprende através da sua experiência pessoal e de forma interactiva. Implica os domínios cognitivo, afectivo e psicomotor e é mais estruturado que o Método da Descoberta. No método activo, o processo é grupal, suscitando a comunicação em vários sentidos, provocando uma troca de informações, de opiniões ou experiências resultantes das vivências particulares. Trata-se de suscitar a actividade dos participantes, obtendo a sua adesão a exercícios, iniciativas, casos, discussões, etc., tão semelhantes à realidade profissional quanto possível e que permitam a descoberta de soluções, a sua aplicação e validação.

Este colega formador na formação de professores que tem a responsabilidade de evoluir e criar no seu trabalho vivendo em pleno século XXI, abusa de uma gestão pedagógica completamente desagregada com as novas situações. As suas atitudes, o ambiente e as vivências profissionais no trabalho encontram - se descaracterizadas da vida contemporânea, na visão de Libâneo.
Todos estes cenários remetem Niquice a corroborar com Libâneo quando estes integram o papel da escola, incluindo a formação de professores primários em Moçambique numa plataforma desestruturada do ponto de vista curricular. A escola para a formação de professores caracteriza - se entre o currículo instrumental e/ou de resultados e o currículo intelectual, que promove a diversidade cultural. Por exemplo, a formação de professores primários é vitima, nestas duas últimas décadas, da política da Terceira Via, encontramos a GIZ ProEducação que vem trabalhando, somente com os IFPs das Províncias de Sofala, Inhambane e Manica, na promoção de Aulas Activas e Participativas e os restantes com outras organizações como JICA e etc. A curiosidade é que todos estes parceiros investem em estratégias de trabalho para um sistema de formação de professores sem um Projecto Pedagógico, cada um a sua maneira. Existem vestígios de existência de uma disparidade enorme na forma de trabalhar do ponto de vista Didáctico - Pedagógico com a criação de um currículo que se quer que seja integrador e contribua para a melhoria da qualidade de ensino.
Propõe- se que seja valorizada a mediação de aulas nos IFPs cujo centro seja a visão da ascensão do Abstracto ao Concreto aplicando os Métodos Activos e Participativos e que seus princípios didácticos sejam promovidos para a elevação da qualidade de ensino básico por via da formação de professores em Moçambique.
Para a INOFER (s/d:27) há que considerar que,
Devem ser privilegiadas as abordagens centradas na aprendizagem dos formandos e a integração entre situações de formação e situações profissionais. A motivação do formando é, como foi já referido, intrínseca, no entanto, se não houver uma correspondência entre a realidade da formação e as suas expectativas de realização de aprendizagens de "consumo imediato" em contexto real, depressa verificaremos uma diminuição de interesse e investimento da sua parte.

O formando já entra para esta realidade de aprendizagem profissional com motivos claros, ele prepara - se para uma nova vida baseado nas experiências vividas no ensino secundário. Estão criadas condições para o formador promover uma formação que valorize as expectativas e a cultura do formado. Este futuro profissional deve sentir que há uma correspondência entre a realidade da formação e as suas expectativas de realização de aprendizagens porque espera tornar - se num profissional provavelmente diferente daquele do secundário. Para que tal aconteça o ambiente de aprendizagem deve ser promovido de tal forma que este profissional sinta diferenças na forma de agir e de ser profissionalmente.
As abordagens de aulas Activas e Participativas devem marcar esta diferença no processo da sua formação na sala de aulas para que consiga transferir esta novidade para as Práticas Pedagógicas como o lugar ideal para a sua iniciação a profissão e posteriormente no contexto real na sua escola.
O currículo de formação de professores primários na actualidade valoriza dois pólos; o saber ser e estar e o saber ser e fazer. A prática diária, melhor, as vivências e a cultura institucional contrastam – se com estes dois pólos. A ausência de um Projecto Pedagógico integrador mina a promoção de uma gestão integradora porque os actores do processo comprometem - se com a monotonia e apatia que são características da escola secundária moçambicana. Os procedimentos no IFP são parecidos com os do Ensino Secundário e todos os seus aspectos de gestão da vida do formando no seu dia- a- dia. Há oportunidades para a médio e longo prazo o cenário inverter- se com vista a uma escola integradora e que valorize o formando na sua completude desde que os gestores pedagógicos acreditem que a escola é um Projecto na sua essência, onde a cultura e a ciência devem coabitar e que necessitam de investimento intelectual e material.
As conexões entre a actividade de estudo, os motivos dos formandos, as tarefas de aprendizagem e a formação de operações mentais devem ser vistas numa Plataforma como a seguinte;
Princípios Fundamentais da Aprendizagem Cooperativa nos IFPs
Pensar - Partilhar - Apresentar
Fincionamento:
PENSAR: Nesta fase os formandos trabalham individualmente.
PARTILHAR: Após do trabalho individual, os formandos comparam seus resultados e discutem resultados divergentes, aos pares ou num pequeno grupo.
APRESENTAR: Os grupos apresentam seus resultados à toda turma, incluindo a discussão e correcção dos mesmos.
Vantagens: Dá segurança para os formandos mais tímidos, garante que todos formandos contribuem de forma activa e responsável para o sucesso da aprendizagem participativa, promove a responsabilidade para o processo de aprendizagem, estimula o processamento cognitivo de temas e matérias, através de um processo comunicativo, promove as habilidades comunicativas dos formandos.




Círculo Duplo
Funcionamento:
No Círculo Duplo, organiza - se os formandos em dois círculos: um interno e o outro externo. Os formandos do círculo interno olham para fora, os formandos do círculo externo para dentro. Os dois formandos opostos formam pares. Os formandos no círculo interno relatam ao 1º círculo. Os formandos no círculo externo escutam e depois fazem um resumo ao aluno parceiro.

Nestas imagens, ao sinal do formador cada formando movimenta-se por 2 ou 3 formandos, assim mudam os pares. Agora os formandos do círculo externo são os actores e relatam sobre o mesmo tema. Os pares podem mudar várias vezes.
Este instrumento de trabalho para o formador pode ser usado, não de forma rígida, na fase de introdução, os formandos apresentam e desenvolvem os seus conhecimentos sobre o tema da aula. Na fase de consolidação, para aprofundar a aprendizagem no fim da aula.
Vantagens:
Exploração das ideias dos alunos: Permite aos alunos de trocar ideias aos pares antes de falar em plenário, o que dá mais segurança, reduzindo o receio de falar em frente de toda a turma.
Maior interacção entre alunos: Todos alunos têm a oportunidade de comunicar, expressar suas ideias, escutar ao parceiro, resumir as ideias do parceiro, assim praticando e adquirindo competências de comunicar, interpretar e resumir informações.
As mudanças na abordagem de "Desenvolvimento Profissional" pressupõem o desenvolvimento da capacidade colectiva de todo o pessoal do IFP para a melhoria do PEA dos formandos. Há sessões múltiplas. Os formadores aprendem com e dos colegas. Ampliam as oportunidades para praticar novas estratégias. Surge uma nova forma de relações, onde promove- se o acompanhamento através da direcção do IFP.
Surge, com o acompanhamento, o debate sobre o papel da Direcção- Pedagógica na condução dos destinos da formação profissional dos futuros professores. Com estes instrumentos, e outros, este sector pode de forma autónoma, criativa, estruturada e progressiva, planificar, organizar, monitorar e avaliar os processos pedagógicos e contribuir para a evolução profissional dos formadores. A plataforma do Projecto Operativo Pedagógico num IFP deve estar alinhada, assumida e partilhada por todos os intervenientes, no mínimo, formadores das metodologias de ensino.

Referências Bibliográficas
FORMOSINHO, João, (2009), Formação de Professores: Aprendizagem Profissional e Acção Docente, Porto: Porto Editora;
INOFER (s/d:);
LIBÂNEO, José Carlos, Vários artigos da Internet sobre Formação de Professores.
NIQUICE, Adriano Fanicela, (2005), Formação de Professores Primários: Construção do Currículo, Maputo: Texto Editores;
PILLETI, Claudino, (2004), Didáctica Geral, São Paulo: Editora Atica, 23ª Edição.




Este currículo preocupa - se com a criação e promoção de emprego precário, neste caso concreto há uma grande entrada de jovens dos 17 aos 25 anos para formação longa e ou curta duração para responder ao chamamento de substituir professores sem formação psico - pedagógica.
Esta visão política foi promovida pelo Reino Unido, para integrar uma educação virada para socialização do pobre e redução das desigualidades e oportunidades e reduzir o fosso entre Ricos e Pobres.

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