A morte e o morrer aproximações - Luteranismo e o caso da região de Nova Friburgo no XIX

June 4, 2017 | Autor: Ronald Lopes | Categoria: Historia Cultural
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A Morte e o morrer aproximações: Luteranismo e o caso da região de Nova
Friburgo (1824 a 1857)



Ronald Lopes de Oliveira [1]



Resumo

Essa comunicação trata-se de uma aproximação teórica e analítica dos
estudos realizados que abrangem o campo da Religião e religiosidades no
Brasil e a questão da morte atrelada à busca de uma compreensão da
historiografia que analisa a implementação do Luteranismo no Brasil, na
colônia de Nova Friburgo - Cantagalo - Rio de Janeiro. Por isso essa
comunicação busca apreender sobre a construção do arcabouço teórico e
metodológico para entender a contribuição da morte no processo de
organização do espaço administrativo da citada região, através de um estudo
de caso, o da implantação da Igreja Luterana de Nova Friburgo durante a
primeira metade do século XIX.

Palavras-chave: Morte, Igreja Luterana, Nova Friburgo.


Resume


This communication it is a theoretical and analytical studies covering
the field of religion and religiosity in Brazil and the question of death
linked to the search for an understanding of historiography that examines
the implementation of Lutheranism in Brazil, in the colony of Nova Friburgo
- Cantagalo - Rio de Janeiro. Therefore this communication seeks to seize
on the construction of the theoretical and methodological contribution to
understanding of death in the process of organization of administrative
space of that region, through a case study of the deployment of the
Lutheran Church of New Fribourg during the first half of the nineteenth
century.



INTRODUÇÃO

No século XIX, o Brasil exerce uma política incorporadora abrindo
suas fronteiras às primeiras imigrações e que subsequentemente poderiam
trazer inversões de ordem social-religiosa.

Tal fenômeno pode ter sido umas das condições de possibilidade para
a formação de um Brasil multicultural. Diante disto, pretende-se
problematizar o estudo do processo da organização do espaço administrativo
do Brasil Império, sob outra lógica; isto é, privilegiando o campo cultural-
religioso de sua formação e construção em um estudo de caso. Assim, esse
projeto de pesquisa, discutirá e investigará a implantação dos Luteranismos
no Brasil Império durante a primeira metade do século XIX, como um viés da
afirmação cultural religiosa da identidade dos colonos alemães, por meio de
um estudo de caso na cidade de Nova Friburgo. Além de detectar a
contribuição da morte e do morrer com o estudo do cemitério luterano como
base para o estabelecimento da Igreja Luterana, supostamente a primeira da
América Latina, cujo pastor Sauerbronn (seu fundador), um colono, que
estava sob as leis do Império Português a respeito dos imigrantes e que
conseguiu, de certa maneira, delinear a todo esse anseio e empreendimento.
Somando-se a isso, um acontecimento em especial, marcaria intensamente a
chegada dos alemães em Nova Friburgo: a morte do filho do pastor luterano
Sauebronn e líder dos colonos vindos da Alemanha. Um mês após a chegada
destes imigrantes, em 13 de maio de 1824, às oito horas da noite faleceu
Peter Leopold, filho do pastor protestante Friedrich Sauerbronn. De acordo
com a certidão de óbito Peter Leopold, nasceu no dia 17 de novembro de
1823, durante a viagem para a América, perto das ilhas de Cabo Verde e em
consequência deste parto sua mãe, Charlotte, veio a falecer.

Deve-se deixar claro que, buscaremos não a definição de verdade como
correspondência que garante propriamente a verdade, mas sim o seu
fundamento, neste viés o real só se mostra real através do desvelamento do
ente, nesta leitura heidegueriana, investigaremos as condições de
possibilidade para que aquele determinado evento ocorresse. Voltando a
pesquisa, deste modo, a morte de seu filho constitui em si a fixação de uma
memória e identidade em terras imperiais na capital do Brasil mesmo que se
tenha certa rigidez nas relações entre imigrantes e população local. Uma
vez que, de acordo com Pagoto "... Porém onde buscar este lugar, já que a
Igreja Católica se tornara intolerante na concessão de sepulturas às
ovelhas pertencentes a outros rebanhos..." (PAGOTO, 2004, p. 64), ou seja,
neste caso a região negada era São Paulo, entretanto era usual negar
enterramentos a outros que não fossem da religião católica.

Para além da problemática dos enterramentos de não católicos e na
tentativa de compreender as tensões e conflitos das diferentes vertentes
das religiões cristãs ocorridos no Brasil no século XIX, é importante
ressaltar que foi neste contexto que também foi criada uma das primeiras
Igrejas Protestantes no Brasil, antes mesmo da construção do templo
católico na Colônia de Nova Friburgo, erguido de pau a pique pelo próprio
Sauerbronn, que de acordo com J. E. Schlupp:


"em 1827, construíram o seu primeiro Templo, na então
'Praça do Pelourinho', mas as autoridades locais mandaram
demolir o mesmo. Somente em 1857 foi possível construir
uma igreja perto do local da anterior. Obedecendo as leis
vigentes, não tinha torre, nem sinos e nem nada que a
diferenciasse de outras casas".


COMO ALGUNS HISTORIADORES VÊM TRABALHANDO O ASSUNTO

Posto isso, faz-se necessário dialogarmos com a historiografia
protestante no Brasil do século XIX. Dentre os poucos trabalhos nesta área,
abordaremos somente aqueles que contribuem para a formação de um quadro
teórico produzido sobre o protestantismo e sua inserção no Brasil. A
princípio analisaremos rapidamente as obras de Boanerges Ribeiro e Émile
Leonard no que tange a questão de como esses autores trabalharam diferentes
métodos sobre o mesmo tema. Um artigo de Cláudia Rodrigues pontuará a
problemática dos enterros de não católicos, exemplificando tensões e duelos
de força que geram influências nas diferentes vertentes do cristianismo. E
por fim, será apresentada uma proposta dentro desse cenário historiográfico
protestante.

Dentre os estudiosos que mais se engajam para analisar de forma mais
completa sobre o protestantismo no Brasil, Boanerges Ribeiro tem
pioneirismo, pois sendo de família presbiteriana e pastor da mesma
denominação pública em 1973 a obra "Protestantismo no Brasil Monárquico
1822-1888" onde apresentam investidas inglesas para penetrar nas muralhas
do sistema religioso católico do Brasil oitocentista, ele ainda lembra que
no período da Independência não havia igreja protestante estabelecida no
Brasil. Por outro lado, Émile Leonard prefere abordar em sua obra, "O
Protestantismo Brasileiro: Estudo de eclesiologia e História Social", por
um viés de esgotamento do acompanhamento espiritual dos fiéis católicos
explicada pela formação de um "clero político" e deficiência numérica por
parte da Igreja Católica, esse autor também analisa por uma abordagem mais
factual quando sua obra é permeada pelos principais momentos das primeiras
missões, as perseguições sofridas e a colaboração de D. Pedro II,
intentando garantir a presença dos estrangeiros protestantes, fundamentais
para realizar os objetivos de branquear a população, ocupar as fronteiras,
e realizar melhoramentos técnicos (como as ferrovias) que exigiam mão-de-
obra especializada, inexistente no Brasil. Essa análise contribui para a
contextualização social e política para implementação do protestantismo no
Brasil, entretanto não adota uma proposta feita pela Nova História que
argumenta o protestantismo no Brasil como um processo historicamente
construído levando a ser inserido no campo da História Cultural.

Boanerges Ribeiro segue outros parâmetros e outros caminhos quando
procura mostrar como o sistema jurídico-político do Brasil tentou se
ajustar gradativamente as perspectivas de inserção de uma massa não
católica no país. Observando a seguinte afirmação "(...) a abertura do país
ao protestantismo foi consciente e deliberadamente projetada, assim como a
manutenção do catolicismo romano sob tutela e administração estatal (...)"
(RIBEIRO, 1973, p. 27-33) vemos que a inserção do protestantismo no Brasil
foi historicamente produzindo, permeando, então, a Nova História.
Entretanto, ao considerar a afirmação anterior percebemos que:

"(...) após a Constituição de 1824, a desagregação do
monasticismo nacional contribuiu para arrefecer a oposição
ao protestantismo no Brasil. (...) conventos e mosteiros
despovoados e desmoralizados, sem liderança efetiva – e
ausência de monges e freiras convictos e numerosos, para
se oporem ao Protestantismo. (...)" (RIBEIRO, 1973, p. 44)

E assim foi um auxílio indireto, prestado pelo enfraquecimento da
Igreja Católica, por isso, podemos considerar este fator como uma das
condições que possibilitaram o estabelecimento de uma liderança protestante
com sua comunidade em terras brasileiras. É muito provável que os luteranos
que vieram em 1824 já encontrassem tais condições.

Tanto Leonard quanto Ribeiro analisaram o desenvolvimento das
primeiras comunidades protestantes. As diferenças aparecem quando o
primeiro prefere abordar os conflitos advindos das frequentes trocas de
denominações pelos fiéis brasileiros, e os "acordos de delimitação de
zonas" de evangelização, que constituíram uma alternativa, nem sempre bem-
sucedida, para este problema. Já, Ribeiro se aproxima de nosso trabalho,
pois avalia as medidas legislativas tomadas em favor das comunidades
protestantes, quais sejam a de separar um espaço nos cemitérios para os
enterramentos de católicos, e o direito de celebrar casamento com efeitos
legais e registrar os nascimentos. No que tange aos cemitérios podemos até
evocar Pagoto, pois, "... O cemitério muita das vezes é visto como um
espaço que provoca mais receio do que admiração; oferece aos historiadores,
no entanto, inúmeras possibilidades de investigação acerca de produções
historiográficas (iconográficas) epitáfios, testamentos e os mitos que
constituem o próprio imaginário relativo a morte nos diferentes períodos
históricos..." (PAGOTO, p. 26 apud RIBEIRO, 1995, p.13)

Finalmente, Cláudia Rodrigues publicou um artigo discutindo a
problemática dos sepultamentos e explica que o fenômeno da romanização,
ocorrido em meados do século XIX, foi também responsável pela extinção da
"tolerância" havida para o enterro de não católicos, o que no caso para
este trabalho em questão, veremos que o enterro de não católicos é uma
solução encontrada pelas autoridades católicas da época em terras
friburguenses do século XIX. Porém, ela mostra que não parecia mais ser
consenso que os cemitérios fossem de domínio eclesiástico, ou seja, já
havia um processo de secularização da morte em andamento. Iniciava-se,
assim, um longo e tenso debate conduzido por políticos e intelectuais da
chamada Geração 1870 a respeito da natureza da jurisdição que deveria haver
sobre os cemitérios públicos, se eclesiástica ou civil. Rodrigues (IBID, p.
31) menciona ainda que o governo passou a perceber os riscos que as medidas
católicas representavam para os projetos de imigração "frente ao iminente
fim da escravidão; sem contar, é claro, a questão racial que também estava
por trás deste projeto."; solicitou, então, que a Igreja Católica separasse
em todos os cemitérios públicos um espaço para o não católico, o que não
ocorrera em Nova Friburgo, pois aqui já havia separado desde 1824, assim
cada luterano que morria se enterrava num cemitério a parte até o dia de
hoje. Há de se considerar que o recorte da referida historiadora é além
deste projeto, entretanto serve de subsídio para uma reflexão mais amiúde
da instalação do cemitério luterano em Nova Friburgo no que tange o duelo
de forças empreendidas entre a Igreja Católica e o Estado. Por outro lado,
como ela deixa claro nesta mesma passagem também, o governo percebe os
riscos que a falta desse espaço trazia para o projeto colonizador imigrante
e que neste caso, alemão/luterano.

Após esse breve debate, assim sendo, é dessa maneira que essa
temática vem sendo abordada por alguns dos estudos históricos e de outras
ciências. Com base neste referencial que pretendo, neste projeto de
pesquisa, analisar algumas questões sobre a instalação de um cemitério
Luterano em Nova Friburgo, Rio de Janeiro no ano de 1824.

QUADRO TEÓRICO

Para estabelecermos um quadro teórico adequado é preciso pontuar os
trabalhados de alguns clássicos perpassando as conotações sociais e
contextos históricos. Primeiramente, segundo Durkheim, os primeiros
sistemas de representação social elaborados pelo homem são de origem
religiosa, caracterizando a religião com sentido eminentemente social.
Assim haveria contato de sistemas culturais diversos e como resultado
modificações nas estruturas internas das sociedades decorrentes de troca e
padrões culturais, gerando harmonia ou tensões.

Por outro lado, trabalharemos com o conceito de religião de
Pettazoni; pois para ele a religião é construto Histórico, portanto
qualquer definição estaria diretamente ligada à experiência particular e
por consequência sujeita à modificações. Por isso, a religião nunca é
metafísica ou ética, mas é vista como produto histórico e cultural
condicionado pelo contexto e, por sua vez, condicionante do próprio
contexto o qual está inserido.

Em detrimento da busca de se adotar a religião como um elemento
intrínseco que se inter-relaciona com a sociedade, o estudo de Geertz em
sua obra Interpretação das Culturas permitirá embasamento prévio, pois em
sua ótica, a religião como um sistema simbólico e de representação
configura um acontecimento social, que pode ser responsável por um ajuste
nas relações humanas. Forma-se assim, uma rede de signos que implicam no
ethos de um povo. Pretendemos seguir o raciocínio de que a religião
inserida num contexto forma a cultura religiosa, pois:

"[...] denota um padrão de significados transmitidos
historicamente, incorporado em símbolos, um sistema de
concepções herdadas expressas em formas simbólicas, por
meio das quais os homens comunicam, perpetuam e
desenvolvem seu conhecimento e suas atividades em relação
à vida.[...]" (GEERTZ, 2008)

No entanto, para isso precisamos averiguar que no sistema religioso
com seus ritos e aspectos míticos configura uma fantasia social fomentada
pelo gênio cultural. Dessa forma, além do ritual proporcionar conexões
capazes de expressar o sentimento e emoções de um povo também é necessário
ter uma dimensão social implicando numa dinâmica histórica. Assim, se a
função aparente dos ritos consiste em reforçar: "[...] os vínculos que unem
um indivíduo à sociedade de que é membro, porque o deus não é senão a
expressão figurada da sociedade [...]" (DURKHEIN, 1912, p. 249)

Sobre a relação de sociedade e religião, nas palavras de Durkheim
(1912, p. 329) "[...] se a percepção que a sociedade tem de si mesma
(espécie de código coletivo) precede a percepção da natureza, é porque as
estruturas comuns a natureza e a sociedade seriam mais fáceis de aperceber
na sociedade [...]" por isso, a religião pode ultrapassar o mundo dos fatos
tornando-se um processo histórico. Consequentemente, a religião legitima
instituições existentes e modos de distribuir poderes enquanto que a igreja
enxerta a fantasia na política sem desintegrar visões. (HARVEY COX, 1974).

Ainda nessa abordagem sócio-antropológica, o homem multidimensional,
enquanto religioso, criará espaço sagrado e não sagrado assim como a
primeira experiência humana é estar no mundo, desta maneira a manifestação
do sagrado se funde ontologicamente (MIRCEA, 2005). Ainda segundo esse
autor, o espaço sagrado é aquele que permite que se obtenha um ponto de
referência a sua existência se recusando a viver no presente histórico e
através dos mitos "fixar" os modelos exemplares de todas as atividades
humanas significativas, enquanto o espaço profano mantém-se homogêneo e não
goza de nenhum plano ontológico por não se constituir como realidade ou
orientação vivencial.

Desta forma, o cemitério luterano, suas concepções e seu processo de
implantação durante a segunda metade do século XIX em Nova Friburgo
precisam ser analisados como espaço do sagrado que santifica o real.
Considera-se também que o Sagrado, em qualquer manifestação, exige
obrigações morais, compromisso emocional e aceitação intelectual (GEERTZ,
2008) porque a religião ordena o todo através de símbolos sagrados
interelacionando grupos sociais.

Expondo mais uma vez o projeto de pesquisa O processo de implantação
do cemitério luterano em Nova Friburgo com o quadro teórico acima descrito
dá embasamento para uma reconfiguração da mentalidade e engajamento em uma
sociedade colonata agrária, tendo em vista que, qualquer mudança cultural-
religiosa numa determinada sociedade traz impactos em todos os aspectos
dimensionais do ser humano, inclusive para a formação embrionária das
hierarquias sociais da cidade em questão.

Portanto, poderemos raciocinar da seguinte forma: Se o mundo profano
(não religioso) se vincula à política; e, os cemitérios assim como as
igrejas, são os espaços de manifestação do sagrado, não há um muro
intransponível entre elas. Assim o mundo profano da política se veste, com
determinadas indumentárias do sagrado; e, por sua vez, o mundo sagrado
instrumentalizado nas religiões revela manifestações políticas de
competência do espaço não religioso, observamos que, por exemplo, como a
política gera os "profetas" cheios de carisma à maneira religiosa, assim os
líderes eclesiásticos também geram os "políticos" à maneira não religiosa.
Percebemos como em certos contextos históricos, ideologias seculares se
manifestam religiosamente, com a presença de determinados "ritos" e o culto
à personalidade.

Finalmente, se as religiões têm como função legitimar e manter o
mundo social e historicamente construído, as ideologias seculares tem dupla
função: manter e transformar a sociedade existente. Para que efetivem essas
funções, estas também precisam se revestir de aspectos políticos e
religiosos. Assim, por exemplo, as ideologias conservadoras se alimentam de
valores morais vinculados à tradição, aos costumes e à religião. Já as
ideologias críticas, por sua vez, também não podem simplesmente
desconsiderar estes fatores. Para serem eficazes, precisam convencer e
arrebanhar seguidores. Seu caráter, porém, não será definido pela
religiosidade e sacralidade, mas por um apego a um discurso que produz
"verdades". A ideologia, então, fundamentará a sua utopia em argumentos
pretensamente inquestionáveis, sem, no entanto, abrir mão de, como toda
religião, a crença.

Para complementar, Roger Chartier nos instiga a pensar que a morte é
tanto uma representação como também uma realidade, quando:

" (...) As estruturas do mundo social não são um dado
objectivo, tal como o não são as categorias intelectuais e
psicológicas: todas elas são historicamente produzidas
pelas práticas articuladas (políticas, sociais,
discursivas) que constroem suas figuras. São essas
demarcações, e os esquemas que as modelam, que constituem
o corpo de uma história cultural levada a repensar
completamente a relação tradicionalmente postulada entre o
social, identificado com um real bem real, existindo por
si próprio, e as representações, supostas como reflectindo-
o ou dele se desviando. (...) (CHARTIER, 1990: 27)

Esta afirmação de Roger Chartier ajuda-nos a pensar o protestantismo
brasileiro sob outras perspectivas. Ele é como os demais, historicamente
construído, porém suas partes constitutivas e seus elementos nos permitem
observar que houve a construção também de diferenças específicas que no
caso de Nova Friburgo a morte esteve sempre como representação e
santificação do real. Foi por meio dessa delimitação diferenciadora que
empreendemos a coerente interpretação do tema em questão.




A MORTE E O MORRER TEUTO-FRIBURGUENSE: UMA PROPOSTA

No arcabouço que foi exposto, a produção de tensões sociais
ocorridas dentro das práticas religiosas e culturais durante o ano de 1824
na região de Nova Friburgo pertencente até então a comarca de Cantagalo,
foram culminadas na manifestação de uma religião protestante luterana,
assim, mesmo tendo legislações e práticas predominantemente católicas e
supostamente rígidas, foram capazes de se tornar fluidas na medida em que
houve necessidade de convívio com outras práticas culturais e religiosas
por interesse tanto do Estado como da Igreja Romana.

Assim a morte com seus sepultamentos e enterramentos foi responsável
não só pelo estabelecimento da comunidade teuto-friburguense como também o
desencadeamento de disputas sócio-políticas na região.


Para além da problemática dos enterramentos de não católicos e na
tentativa de compreender as tensões e conflitos das diferentes vertentes
das religiões cristãs ocorridos no Brasil no século XIX, é importante
ressaltar que foi neste contexto que também foi criada uma das primeiras
Igrejas Protestantes Luteranas no Brasil que de acordo com Mendonça (2002)
constituem um Protestantismo de Imigração sendo mais ajustável a cultura
brasileira.

E será justamente dentro desta perspectiva de análise que
conduziremos o estudo da temática da religiosidade protestante no Brasil a
partir da instalação da Igreja Luterana em Nova Friburgo no processo de
assentamento desses colonos através da morte e do morrer em 1824 e a
instalação de seu cemitério. Como resultado desta pesquisa, contribuiremos
para a preservação da identidade cultural no âmbito da história regional.


FONTES

ACERVO DA IGREJA LUTERANA DE NOVA FRIBURGO/RJ.
- Relato do Pastor Sauerbronn enviado à comunidade de Becherbach em 1824
- Registro do primeiro óbito protestante em Nova Friburgo. 13/05/1824

-Sínodo Evangélico do Brasil Central. Boletim Informativo, n.16. Rio de
Janeiro, 1º/06/1964. (AHIECLB – SBC 20/1)


REFERÊNCIAS


CHARTIER, Roger. A História Cultual Entre Práticas e Representações. Rio de
Janeiro: Bertrand Brasil, Lisboa [Portugal] : Difel, 1990
COX, Harvey. A Festa dos Foliões Um ensaio teológico sobre a festividade e
fantasia. Rio de Janeiro: Ed Vozes. 1974. p. 74-91
DREHER, Martin. Igreja e Germanidade. São Leopoldo, Rio Grande do Sul:
Editora Sinodal. 2003.
DURKHEIM, Émile. Da Divisão do Trabalho Social; As Regras do método
sociológico; o Suicídio; As Formas Elementares da Vida Religiosa. Seleção
de textos de José Arthur Giannotti: traduções de Carlos Alberto Ribeiro
de Moura [et al.]. São Paulo: Abril Cultural Ed. 1978. p. 205-245
GEERTZ, Clifford. Interpretação das Culturas. Rio de Janeiro: Zahar Ed. 1ª.
Edição, 13ª. Reimpressão. 2008. p. 65-149
HECHT, Joseph. A imigração suíça no Brasil 1819-1823. Trad. Armindo L.
Muller. Independente. Rio de janeiro: 2009
MENDONÇA, Antônio Gouveia; FILHO, Velasques Prócoro. Introdução ao
Protestantismo no Brasil. 2ª. Edição. São Paulo: Ed. Loyola. 1990
MIRCEA, Eliade. O Sagrado e o Profano a essência das religiões. São Paulo:
Martins Fontes Ed. 2005
PAGOTO, Amanda Aparecida. Do âmbito sagrado da Igreja ao cemitério público:
transformações fúnebres em São Paulo (1850 – 1860). São Paulo: Arquivo do
estado, Imprensa Oficial do Estado de São Paulo. 2004
PETTAZZONI, R. L'onniscienza di Dio, Turim, 1971. Apud. Marcello Massenzio.
A História das Religiões na cultura moderna. São Paulo: Hedra, 2005.
RODRIGUES, Cláudia. Sepulturas e sepultamentos de protestantes como uma
questão de cidadania na crise do Império (1869-1889). Revista de História
Regional 13(1) 23-88: Verão, 2008
SCHL.[UPP], J.[ohannes]. Resumo da história da Comunidade Evangélica
Lutherana de Nova Friburgo. In: BEGRICH, Martin (Hrgb.) 1912 1962; Em
Comemoração do 50.° Aniversário do Sínodo Evangélico do Brasil Central
fundado em 28/30 de junho de 1912. São Paulo: Hugo Grobel, [1962].


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[1]Graduando do Curso de Licenciatura em História da Universidade Federal
do Rio de Janeiro/UNIRIO
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