A Música, ‘Khān Hǔ’ e a Dualidade da Identidade Feminina

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A Música, ‘Khān Hǔ’ e a Dualidade da Identidade Feminina

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Quando se fala sobre as músicas populares que têm conotação sexual, muita gente geralmente pensa das músicas cantadas por cantores masculinos. Não é porque haja mais cantores masculinos do que femininos, mas, de acordo com os trabalhos sociolinguísticos realizados pelos investigadores nesta área, como Lakoff (1975 & 2005: 161-178), O’Barr & Atkins (2009: 159-167) e Ochs & Taylor (1995: 431-449), os homens são os que, não só controlam política e economicamente as atividades sociais, mas também dominam a atividade da linguagem; ou seja, os homens podem falar à vontade sobre qualquer coisa, quer assuntos formais quer os temas obscenos. Há alguns exemplos que confirmam este facto mencionado acima. Na Tailândia, houve, entre 2012 e 2014, apenas uma primeira-ministra, enquanto há muitos homens que ocupam esta posição. Também, em Portugal, Quim Barreiros é um cantor muito conhecido cujas músicas frequentemente falam sobre as relações sexuais entre homens e mulheres, e, às vezes, entre homossexuais. Esta situação pode implicar que, apesar da modernização social, as mulheres ainda sofrem de posição inferior aos homens. Por outras palavras, ser feminino significa ser mais delicado, mais cuidadoso e mais submissivo, quer social quer linguisticamente. O facto de mulheres deverem ser submissivas, porém, nem sempre as impede de aproveitar essa identidade na esfera socioeconómica. Em Lip Service on the Fantasy Lines, o trabalho sociolinguístico realizado por Hall (1995: 183-216) mostra que algumas mulheres, particularmente as que trabalham para o serviço de sexo por telefone nos E.U.A., usam as componentes (para)linguísticas tipicamente consideradas como inferiores para ganharem a vida e até viverem independentemente. Esta situação implica que ser feminino nem sempre é desvantajoso. Em 2011, houve um fenômeno musical muito polémico na Tailândia quando uma cantora cantou uma música que tem conotação sexual. A sua alcunha é Já, e a sua música é titulada, Khān Hǔ, que literalmente significa, orelhas comichosas. A cantora foi imediatamente muito falada, e claramente muito criticada, visto que algumas palavras na sua música, bem como a forma de apresentar a música em público, parecem obscenas. Mesmo agora, não há mais música deste género da cantora tailandesa que seja tão controversa como esta. Semelhante às letras nas músicas de Quim Barreiros, as letras na música, Khān Hǔ, tem implicação sexual. Primeiramente, o título que contém a palavra, Hǔ, implica o órgão sexual das mulheres. De facto, esta palavra literalmente significa, orelhas, em tailandês. No entanto, o consoante surdo glotal fricativo [h], bem como o tom crescente desta palavra, têm o som parecido como o som de um palavrão tailandês. Além disso, as letras desta música, falando sobre uma rapariga que sofre de orelhas comichosas e que pede ao seu namorado para usar cotonetes para limpar as orelhas dela, podem ser interpretadas como a relação sexual entre aquela rapariga e o seu namorado. Além das componentes linguísticas desta música, a cantora também usufrui de alguns elementos paralinguísticos que salientam a implicação sexual. Nos seus concertos, a cantora produz a voz trémula e, às vezes, emite alguns gemidos quando canta esta música. Também, o estilo da dança e os vestidos parecem sexualmente atraentes. Portanto, não é uma surpresa que a cantora tenha sido rigorosamente criticada como *

Este trabalho escrito, que se serve como a segunda parte do meu estudo sociolinguístico, particularmente o que diz

respeito à construção das identidades masculina e feminina através das línguas tailandesa, inglesa e portuguesa, é

apenas a minha reflexão crítica sobre o tema. Pois, precisa de mais acrescentamento e elaboração em breve.

uma prostituta que canta, embora ela, chorando, dissesse numa entrevista da TV na Tailândia que queria ser apenas cantora, e não tinha nenhum arrependimento pelo que já tinha feito. Em conclusão, a música, Khān Hǔ, bem como o que aconteceu com a cantora, enfatizam a mesma situação em Lip Service de Hall (1995). A cantora desta música, para ganhar a vida, usa algumas componentes (para)linguísticas que tipicamente pertencem às mulheres. Estas componentes são consideradas fisicamente fracas e socialmente inferiores; porém, podem ser uma mercadoria que se vende bem para os homens em particular. Mais, o facto de a cantora aproveitá-las na sua profissão implica o uso do poder feminino para alcançar a independência financeira e económica em particular. Esta ironia situacional, pois, simboliza a identidade feminina que é semelhante a uma moeda que tem duas faces. Referências Bibliográficas Hall, K. (1995). ‘Lip Service on the Fantasy Lines’. in Hall, K. & Bucholtz, M. (eds.) Gender Articulated: Language and the Socially Constructed Self. New York: Routledge. pp. 183-216. Lakoff, R. (1975). Language and Woman’s Place. New York: Harper and Row. Lakoff, R. (2005). ‘Language, Gender, and Politics: Putting “Women”and “Power” in the Same Sentence’. In Holmes, J. & Meyerhoff, M. (eds.) The Handbook of Language and Culture. Victoria, Australia: Blackwell. pp. 161-178. O’Barr, W. M. & Atkins, B. K. (1980). ‘‘Women’s Language’ or ‘Powerless Language’?’. In Coupland, N. & Adam, J. (eds.) The New Sociolinguistics Reader. New York: Palgrave Macmillan. pp. 159-167. Ochs, Elinor, and Carolyn Taylor. (2001). ‘The “Father Knows Best” Dynamic in Dinnertime Narratives’. In Duranti, A. (ed.) Linguistic Anthropology: A Reader. pp. 431-449. Oxford. Malden, MA: Blackwell.

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