A Natureza Comunicacional da Ciência e Tecnologia e as Exigências Transculturais de Mudança Epistêmica (Programa de Pós-Graduação em História das Ciências e Técnicas e Epistemologia-HCTE-UFRJ)

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CCMN-Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza COPPE, Instituto de Matemática e Instituto de Química Programa de Pós-Graduação em História das Ciências e das Técnicas e Epistemologia-HCTE Ementa de Disciplina 2015.1 A Natureza Comunicacional da Ciência e Tecnologia e as Exigências Transculturais de Mudança Epistêmica Prof. Evandro Vieira Ouriques Ementa Da mesma maneira que a natureza comunicacional da financeirização exige condições objetivas para investigar a episteme que move a historicidade da tecnofilia acrítica 1 do “crescimento ilimitado”, a Ciência e a Tecnologia exigem o diálogo epistêmico transcultural quando se quer experiência de comunicação (portanto hiperdialógica) entre os cientistas, entre eles e a sociedade, e entre as civilizações. Esse fenômeno tende a tornar-se intelectualmente inteligível, tecnicamente controlável e teoricamente explicável quando compreende-se que tal padrão mental (no sentido neurocientífico de consciência incorporada) é construído pelo dualismo e suas operações psicológicas com fins políticos2 “No Brasil, vez por outra, as agências de fomento -que garantem bolsas de pesquisa a professores com título de doutorado ou que se atribuem o dever de zelar pela excelência dos programas de pós-graduação- tentam burocraticamente traçar perfis epistemológicos para o campo [da Comunicação]. Torna-se, porém, cada vez mais evidente que, por si só, esse panorama acadêmico não gera as condições institucionais e cognitivas necessárias à constituição de área científica própria, legitimada ou ao menos reconhecida como tal pelos autores mais conspícuos das outras disciplinas do pensamento social. Esta não é uma afirmação de natureza voluntariosa, ou seja, não estamos imputando à área em questão uma suposta falta de vontade acadêmica quanto à constituição epistemológica do campo. Estamos buscando afirmar uma ausência de condições objetivas, reforçada pela própria especificidade do saber comunicacional, que torna difícil a distinção entre episteme e a realidade prática das tecnologias da comunicação, em que se expandem mais competências (o saber fazer prático) do que conhecimentos no sentido (...) universal do termo. O campo acadêmico da comunicação é atravessado por essa ideologia da competência, estimulada, particularmente no caso brasileiro [e mundial digo eu], pela emergência de uma tecnofilia acrítica, tendente a depositar nas tecnologias do digital velhas esperanças de redenção e inclusão social”. (Sodré, 2012:26) 1

Estes são os 11 eixos de operações psicológicas com fins políticos: 1. Família/Sociedade (a mentalidade do “crescimento ilimitado”, reificada pela violência de gênero e pela violência contra a infância); 2. Educação (a pedagogia da opressão); 3. Mídia (a concentração crescente da propriedade cruzada dos meios de comunicação desregulados sob o argumento baseado nos insustentáveis conceito de “censura” e de “liberdade de expressão comercial”); 4. Esportes (o incentivo à competição entendida como eliminação do outro para objetivos rentistas) 5. Religião (o esvaziamento do contato direto com a auto-poiesis através da relação mediada, reforçando o regime de servidão); 6. Ciência (comprometida tecnologicamente com os interesses bélicos, financeiros, comerciais, publicitários, eleitorais; e com o “dissenso consentido” promovido pelas agências de financiamento de pesquisas e monitoramento dos programas de pós-graduação); 7. Arte (a dramaturgia da mimesis, ao invés do êxtase); 8. Justiça (a punição por conflito com a Lei); 9. Psiquiatria (a punição por conflito com a “normalidade”); 10. Guerra Psicológica (em sua 4a. geração, a Guerra Psicológica tem como principal objetivo exatamente gerar a decepção no adversário, o estado mental anteriormente referido, pois é o que permite dominá-lo da maneira mais eficaz e eficiente); 11. Vigilância e Controle (o caráter panóptico da internet, como provado pelo Echelon, Wikileaks e Snowden. 2

que compreendemos e superamos com a economia psicopolítica. Índices como os de concentração de renda e de poder e de devastação da Terra estimulam rever os casos de (in)comunicação entre Ciência e Natureza e Ciência e Sociedade (bem como entre Arte e Natureza e Arte e Sociedade), pois há comunicação no núcleo mesmo da estruturação da Ciência (e da Arte), quando vistas numa perspectiva transdisciplinar 3. Neste sentido vamos aproximar contribuições de epistemes na diáspora, em especial as não-dualistas da Índia, com trabalhos ocidentais focados na superação do axioma hobbesiano4 , de maneira a ajudar a fortalecer o descondicionamento psicopolítico em rede do sujeito, em sua relação com seus processos cognitivos, afetivos e volitivos, que determinam o seu conhecimento e, assim, a qualidade emancipadora de sua ação humana, científica e artística no mundo. Metodologia A disciplina será conduzida através de conversas explanatórias, exposições audiovisuais e entrevistas apreciativas com o objetivo de fortalecer a relação entre os alunos e a contribuição deles para o tema. Avaliação A avaliação será feita pela participação nos diversos momentos dos encontros e por um artigo, no qual o aluno articula o tema da disciplina com sua dissertação ou tese. Bibliografia Amaral, Marcio Tavares d’ (1995). O homem sem fundamentos: sobre linguagem, sujeito e tempo. Editora UFRJ e Tempo Brasileiro: Rio de Janeiro. Belvedere, Carlos (2012). El discurso del dualismo en la teoría social contemporánea: una crítica fenomenológica. Eudeba, Universidad de Buenos Aires: Argentina. Bernays, E. L. [1947] (2010). The engineering of consent. The Annals of the American Academy of Political and Social Science, 250(1), reprinted by permission of SAGE Publications, Inc.: USA. pp. 113-120. Eagleton, Terry (2003). Depois da teoria: um olhar sobre os Estudos Culturais e o pósmodernismo. Civilização Brasileira: Rio de Janeiro. Godbout, Jacques T. (1999). O espírito da dádiva. (em colaboração com Alain Caillé). Fundação Getútilo Vargas: Rio de Janeiro. Melman, Charles (2003). O homem sem gravidade: gozar a qualquer preço. Entrevistas por Jean- Pierre Lebrun. Companhia de Freud Editora: Rio de Janeiro. Nandy, Ashis (2011a). The intimate enemy: loss and recovery of Self under colonialism. Oxford India Paperbacks. New Delhi. Ouriques, Evandro Vieira (Org.) (2002). Diálogo entre as civilizações: a experiência brasileira. Centro de Informações da ONU e UNESCO: Rio de Janeiro. Ouriques, Evandro Vieira (2009). Território Mental: o nó górdio da democracia. Revista Democracia Viva, Nº 46, Maio 2009. pp. 76-81 Como bem mostra Marcio Tavares d’Amaral, “há comunicação, isto sim, no núcleo mesmo da estruturação da ciência, vista numa perspectiva transdisciplinar -que não é uma aventura do espírito, mas uma radical exigência da crise. O modelo do trabalho transdisciplinar é um modelo-comunicação. (...) cada ciência particular, como parte modernamente reprodutora do paradigma Ciência, se organiza a partir de uma questão-comunicação: um tema, um problema, uma estratégia, um método -que faz presente a multiplicidade complexa do real, ainda que sob a forma redutora própria da especialidade. Seria possível indicá-lo com alguns exemplos: a verdade como questão-comunicação da filosofia; a informação e o código genético como questão-comunicação da biologia; a cultura como questão-comunicação da antropologia; a relação social como a questão-comunicação da sociologia; a troca como questão-comunicação da economia.” (Amaral, 1995:92) 3

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Vale dizer, dos estados mentais da ignorância, ódio e ganância.

Ouriques, Evandro Vieira (2012). Psychopolitics, tradition and culture as a mode of Nature: a comparative study on Gandhi and distributed communication. in Joám Pim (ed.). Nonkilling and Media. Center for Global Nonkilling: Honolulu. Ouriques, Evandro Vieira (2012). Psicopolítica e emancipação intercultural: a questão Galiza, Brasil e Lusofonia. Boletim da Academia Galega da Língua Portuguesa Vol. 5: 43-67. Ouriques, Evandro Vieira (2013). Auto-reflexão, valor e fato: o silêncio epistêmico que emancipa Ciência, Cultura, Tecnologia e Arte. Boletim da Academia Galega da Língua Portuguesa Vol. 6: 117-126. Ouriques, Evandro Vieira (2015). La transculturalité comme défi épistémique et la perspective psicopolitique. in Dinah, Guimaraens (org.). Les musées et la transculturalité. En presse. Poulain, Jacques (2012). ¿Qué es la justicia? in Praxis Filosófica, Nº 34, Enero-Junio, 2012. Universidad del Valle, Cali, Colombia. pp. 189-202. Sennet, Richard (2005). A corrosão do caráter: consequências pessoais do trabalho no novo capitalismo. Record: Rio de Janeiro. Sodré, Muniz (2012). Comunicação: um campo em apuros teóricos. in Matrizes Ano 5, Nº 2 Jan./Jun. 2012. Universidade de São Paulo: São Paulo. pp. 11-27 Welzer, Harald (2012). Infraestruturas mentais: como o crescimento se instalou no mundo e nas nossas almas. Heinrich Boll Stiftung: Berlim. Evandro Vieira Ouriques

Tem experiência transdisciplinar de 45 anos, reconhecida academicamente desde 1984. É coordenador do Núcleo de Estudos Transdisciplinares de Psicopolítica e Consciência, da UFRJ, supervisor de pesquisas de Pós-doutorado em Estudos Culturais no Programa Avançado de Cultura Contemporânea-PACC-Faculdade de Letras da UFRJ, vicecoordenador do GT Comunicación y Estudios Socioculturales da Asociación Latinoamericana de Investigadores de la Comunicación e professor convidado do Mestrado e do Doutorado em Ciências da Comunicação e do Doutorado em Ciências Sociais da Universidad de La Frontera, Temuco, Chile. Em 2013-2014 recebeu Bolsa de Mobilidade Acadêmica do Programa Erasmus Mundus, para conferências e intercâmbio em Portugal e Espanha, sobre seu pensamento, a partir da Universidade do Porto, e nas Universidade da Beira Interior, Universidade de Coimbra, Instituto Universitário de Lisboa e Universidade de Santiago de Compostela; em 2012 foi eleito, juntamente com Evanildo Bechara, Acadêmico Correspondente da Academia Galega da Língua Portuguesa; em 2011 recebeu o título de Guerreiro Zulu, conferido pela Universal Zulu Nation, Seção Brasil (dirige a seguir o Quinto Elemento da Seção Portugal da Universal Zulu Nation e é membro da Seção Rio de Janeiro desta associação que está na origem do Hip Hop); em 2010 recebeu o título de Melhor Acadêmico do Mundo, Best Scholar of The World, do Reputation Institute, New York; e, em 1984, a Menção Honrosa do Prêmio Jeca Tatu, conferido pela Propeg e a Academia Brasileira de Letras, pelo livro 1a. FotoSul, Instituto Nacional da Fotografia, Funarte. Com formação acadêmica e/ou autodidata em ciência política, jornalismo, design, comunicação, curadoria, gestão cultural e terapia de base analítica, corporal e energética, entre outras, tem graduação em Ciências Sociais pelo IFCSUFRJ, Mestrado e Doutorado em Comunicação e Cultura pela ECO-UFRJ e Pós-doutorado em Comunicação, Estados Mentais e Ação no Mundo pelo PACC-UFRJ. Líder de grupo de pesquisa no CNPq, e reconhecido pelo Fondecyt-Chile e Colciencias-Colombia, é pesquisador associado: da International Policy and Research Network on Territories of Social Responsability, da UFF e da Leicester Business School, University of Monfort, United Kingdom; do Núcleo de Estudos em Religiões e Filosofias da Índia, do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião, da UFJF; do Nonkilling Political Science Research Committee, do Center for Global Nonkilling, EUA; da International Society for Iberian-Slavonic Studies-ComPares, Portugal; do Núcleo de Estudos do Futuro, do Programa de Pós-Graduação em Administração, da PUC-SP, Brasil; do Laboratório Transculturalidade e Paisagem, do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo-UFF; e da Cátedra Ignacio Sachs, da PUC-SP. É membro de diversos conselhos e associações científicos no Brasil e no exterior e, inclusive participa de bancas de doutorado no exterior. Tem publicações na Dinamarca, Reino Unido, Estados Unidos, Chile, Portugal, Colômbia e Brasil. No momento tem o livro Economía Psicopolítica: imaginar y hacer un poder emancipador no prelo da Universidad de La Frontera (em co-edição com o PACC-UFRJ e a Faculdade de Letras da Universidade do Porto), e está co-organizando três outros: um sobre Comunicación y Estudios Socioculturales, uma co-edição UFRO-Universidad de La Frontera e ALAIC-Asociación Latinoamericana de Investigadores de la Comunicación; um sobre Psicopolítica e Superação da Discriminação, uma co-edição UFRJ, UFRO e UP-Universidade do Porto; e um sobre a Economia Psicopolítica, também em co-edição UFRJ, UFRO e UP. Coordena ainda a realização da série de Seminários Internacionais Psicopolítica e Consciência, cuja segunda edição será no Chile em 2015 e em Portugal em 2016.

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