A NATUREZA DO ESPAÇO EM MILTON SANTOS

October 10, 2017 | Autor: Emilio Sarde | Categoria: Existentialism, Geografia
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A NATUREZA DO ESPAÇO EM MILTON SANTOS Emílio Sarde Neto

Resultado de uma antiga pesquisa de Milton Santos a obra em questão trabalha os vários enfoques abordados por teóricos que vivenciaram os períodos conturbados do século XX, Santos ainda traça uma ontologia do Espaço buscando primeiramente um conjunto de meios instrumentais e sociais onde o homem possa realizar sua vida e criar espaços. A princípio busca mostrar a negligência das técnicas de pesquisa geográfica onde o fenômeno analisado e sua técnica não são um elemento de sua constituição e transformação. Vários teóricos e seus pensamentos são mencionados e suas teorias expostas e colocadas à prova, onde o território ganha uma enorme dimensão, a ciência e a tecnologia são colocadas em voga, porém não aparecem integradas. As técnicas com frequência eram consideradas em artigos e livros de geógrafos, sobre tudo em estudos empíricos de casos. A distinção entre as técnicas particulares são marcadas nas suas singularidades onde o fenômeno técnico é visto como uma totalidade. Quando os geógrafos escrevem que a sociedade opera no espaço geográfico por meio dos sistemas de comunicação e transportes, eles estão certos, mas a relação, que se deve buscar entre espaço e fenômeno técnico é abrangente de todas as expressões das técnicas, e isso inclui as técnicas da própria ação. A técnica é colocada como um meio. O espaço é formado de objetos, mas não são os objetos que determinam os objetos. É o espaço que determina os objetos. Tempo espaço e mundo são realidades históricas que devem ser mutuamente conversíveis se a preocupação epistemológica é totalizadora. Em qualquer momento, o ponto de partida é a sociedade humana em processo. Essa realização dar-se-á sobre uma base material, o espaço e seu uso, o tempo e seu uso, a materialidade e suas diversas formas, as ações e suas diversas feições. O espaço é formado de objetos técnicos. O espaço do trabalho contém técnicas que nele permanecem como autorizações para realizar ações de várias maneiras e ritmos segundo sucessões. Tudo é considerado tempo. O espaço considerado distância também

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é modulado por técnicas que comandam a tipologia e a funcionalidade dos deslocamentos. As técnicas participam na produção da percepção do espaço, e também da percepção do tempo, tanto por sua existência física, que marca as sensações diante da velocidade como pelo seu imaginário. Assim cada técnica pode ter sua história particular de um ponto de vista mundial, nacional e local. A geografia poderia ser construída a partir da consideração do espaço como um conjunto de fixos e fluxos. Onde os fluxos são resultado direto ou indireto das ações e atravessam ou se instalam nos fixos, modificando sua significação. Para os geógrafos os objetos são tudo o que existe na face da terra, toda a ação humana que se objetivou. Os objetos são esse extenso, essa objetividade, isso que se cria fora do homem e se torna instrumento material de sua vida, em ambos os casos uma exterioridade. Sobre os sistemas de ações a ação humana não é exclusivamente uma ação racional, e um evento é o resultado de um feixe de vetores, conduzido por um processo, levando uma nova função ao meio preexistente. O evento só é identificável quando percebido. A ação não se dá sem que haja um objeto. Por isso os eventos estão no impulso da interpretação geográfica dos fenômenos sociais. A inseparabilidade dos objetos e das ações é a razão do conhecimento geográfico. A paisagem e espaço não são sinônimos. A paisagem é o conjunto das formas que em um momento exprimem as heranças que representam as sucessivas relações localizadas entre o homem e a natureza. O espaço é a forma e a vida que animam. O espaço não pode ser estudado como se os objetos materiais que formam a paisagem tivessem uma vida própria, podendo assim explicar-se por si mesmo. As formas são importantes e a materialidade sobrevive aos modos de produção que lhe deram origem ou aos momentos que lhe deram origem ou aos momentos desses modos de produção. O fato geográfico é tratado como fato social reunindo elementos que definem uma região ou país alinhando todos os fatos possíveis de uma situação local. A ideia de totalidade-mundo inspira discursos filosóficos e encontra como solução epistemológica a noção de carência de um sistema mundo. Assim a totalidade é incompleta buscando sempre totalizar-se.

SARDE NETO, Emílio. Meu Acervo Digital, 2015 [2012].

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O símbolo e a ideologia no movimento da totalidade exprimem a realidade que inclui a ideologia a um nível de totalidade social não apenas objetiva e real, mas criadora desta realidade. A diversificação da natureza sucede outro modo de diversificação comparada ao de divisão internacional do trabalho, processo cujo resultado é a divisão territorial do trabalho. A natureza é um processo repetitivo, enquanto a divisão do trabalho é um processo progressivo pelo qual os recursos disponíveis se distribuem social e geograficamente. O valor real dos recursos não depende de sua existência separada, mas de sua qualificação geográfica, da significação conjunta que todos obtêm pelo fato de participar de um lugar. O tempo do mundo é o das empresas multinacionais e o das instituições supranacionais. O tempo dos Estados Nações é o tempo dos Estados Nacionais e suas firmas nacionais, os únicos a utilizar plenamente o território nacional com suas ações e consequências. As divisões do trabalho nos permitem lembrar as formas herdadas segundo uma lógica que as restabelece no momento mesmo de sua produção. O meio ambiente construído se contrapõe aos dados puramente sociais da divisão do trabalho. E a divisão social do trabalho não pode ser explicada sem a explicação da divisão territorial do trabalho, que depende das formas geográficas herdadas. Os eventos sociais resultam da ação humana, da interação entre os homens, dos seus efeitos sobre os dados naturais. A história da humanidade parte de um mundo de coisas em conflito para um mundo de ações em conflito. O objeto tem autonomia de existência, devida a sua existência corpórea, mas não tem autonomia de significação, a mudança em um objeto vem das diferentes relações que mantém com os diversos eventos. Sobre a atualidade, depois dos infinitos exemplos históricos temos a tecnologia e todo o legado deixado pelos primeiros teóricos. Assim a geografia com suas técnicas de informações nos permitem fazer cálculos e conclusões do mundo que nos rodeia e especular, ainda, sobre o infinito e suas possibilidades.

Referência SANTOS, Milton. A Natureza do Espaço. Ed. EDUSP. São Paulo, 2002.

SARDE NETO, Emílio. Meu Acervo Digital, 2015 [2012].

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