A náutica na reforma da Universidade de Coimbra (1772): o fim do cargo de cosmógrafo mor e o nascimento das academias de ensino náutico, in F. R. Oliveira (coord.), Cartógrafos para toda a Terra : produção e circulação do saber cartográfico ibero-americano: agentes e contextos.

July 24, 2017 | Autor: N. Martins Ferreira | Categoria: History of Mathematics, History of Education, History of Science, Nautical Studies, Nautical Science
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Cartógrafos para toda a Terra produção e circulação do saber cartográfico ibero-americano: agentes e contextos

Cartógrafos para toda la Tierra producción y circulación del saber cartográfico iberoamericano: agentes y contextos

Cartógrafos para toda a Terra produção e circulação do saber cartográfico ibero-americano: agentes e contextos

Cartógrafos para toda la Tierra producción y circulación del saber cartográfico iberoamericano: agentes y contextos

Francisco Roque de Oliveira (org.)

Volume 2

Lisboa 2015

Cartógrafos para toda a Terra. Produção e circulação do saber cartográfico ibero-americano: agentes e contextos Cartógrafos para toda la Tierra. Producción y circulación del saber cartográfico iberoamericano: agentes y contextos organizador Francisco Roque de Oliveira comissão editorial Francisco Roque de Oliveira, Guadalupe Pinzón Ríos, Maria Helena Esteves, Maria Joaquina Feijão, Miguel Rodrigues Lourenço, Zoltán Biedermann revisão Daniel Paiva editores Biblioteca Nacional de Portugal (bnp) | Centro de Estudos Geográficos da Universidade de Lisboa (ceg-ul) | Centro de História d’Aquém e d’Além-Mar da Universidade Nova de Lisboa e da Universidade dos Açores (cham, unl/uaç) capa Fernão Vaz Dourado – Carta parcial da costa noroeste da América do Norte, [ca 1576], perg., il. color.; 385 × 277 mm bnp, Lisboa: IL 171, fl. 19 (pormenor) design tvm designers pré-impressão Área de Gestão Editorial bnp © Autores, Biblioteca Nacional de Portugal, Centro de Estudos Geográficos da Universidade de Lisboa e Centro de História d’Aquém e d’Além-Mar da Universidade Nova de Lisboa e da Universidade dos Açores

Biblioteca Nacional de Portugal – Catalogação na Publicação Cartógrafos para toda a Terra Cartógrafos para toda a Terra : produção e circulação do saber cartográfico ibero-americano : agentes e contextos = Cartógrafos para toda la Tierra : producción y circulación del saber cartográfico iberoamericano : agentes y contextos / org. Francisco Roque de Oliveira. – Lisboa : Biblioteca Nacional de Portugal : Centro de Estudos Geográficos da Universidade de Lisboa : Centro de História d’Aquém e d’Além-Mar da Universidade Nova de Lisboa e da Universidade dos Açores, 2015. – 2 v. : il. Livro eletrónico. ISBN 978-972-565-529-0 cdu

528(46)”15/19”(091)(042)(0.034)

Os trabalhos que integram esta publicação foram submetidos à avaliação por pares (peer review) feita por avaliadores externos à Comissão Editorial em regime de duplo anonimato (double-blind). Los trabajos que integran esta publicación fueron sometidos a evaluación por pares (peer review) hecha por evaluadores externos a la Comisión Editorial en régimen de doble anonimato (double-blind). apoios

volume 2 Parte iv Cartografia e história urbana Cartografía e historia urbana «[O] Melhor Patrimonio do Estado»: representações não-portuguesas das cidades da Província do Norte do Estado da Índia, séculos xvi-xix Joaquim Manuel Rodrigues dos Santos As cidades (in)visíveis: a representação urbana em mapas do Brasil Renata Malcher de Araujo Vera Domingues Sobre a biografia da Planta da Villa de Maceió e a cartografia do engenheiro inglês Carlos de Mornay em Alagoas Maria de Fátima de Mello Barreto Campello A Porto Alegre Imperial Daniela Marzola Fialho A cartografia da expansão da cidade de São Paulo no período de 1881 a 2001 Reinaldo Paul Pérez Machado Iara Sakitani Kako Buenos Aires, mapas y expansión. Cartografía y saberes urbanos en la construcción de la ciudad moderna Graciela Favelukes Reinterpretaciones cartográficas: del origen a la Granada del xviii Ana del Cid Mendoza Da evolução urbana à geografia histórica do Rio de Janeiro: uma análise da produção de Mauricio de Almeida Abreu Pedro de Almeida Vasconcelos

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Parte v Horizontes da cartografia náutica ibero-americana Horizontes de la cartografía náutica iberoamericana La Casa de Contratación de Sevilla, el Padrón Real, las cartas de marear y los inicios de la ciencia moderna Mauricio Nieto Olarte

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La cartografía en los libros españoles de cosmografía, siglo xvi Mariano Cuesta Domingo

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La cartografía náutica española en el siglo xvii: transición de arte a ciencia Alfredo Surroca Carrascosa

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La cartografía en los libros españoles de náutica, siglo xviii José María Blanco Núñez

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A Náutica na Reforma da Universidade de Coimbra (1772): o fim do cargo de cosmógrafo mor e o nascimento das academias de ensino náutico Nuno Martins Ferreira

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Troncos particulares de léguas: alternativa à carta de Mercator António Costa Canas

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El problema de los mapas náuticos con doble escala de latitud Simonetta Conti

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A cristalização de um modelo: as Filipinas na cartografia portuguesa, 1554-1580 Miguel Rodrigues Lourenço

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Parte vi Cartografias híbridas e imagens literárias Cartografías híbridas e imágenes literarias Topónimos/serpiente: sacralización del paisaje en las Relaciones geográficas, crónicas y documentos pictóricos del siglo xvi en México Ángel Julián García Zambrano

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Imaginar Nuevo México en 1602. La representación de la tierra incógnita: encuentros y desencuentros cartográficos en la América colonial Amaia Cabranes Rubio

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Cartografías de lo interno. Lo subterráneo en la construcción mítica de la Granada contrarreformista Francisco Antonio García Pérez Os sertões: de realidade geográfica a imagem literária André Heráclio do Rêgo El Sudeste Asiático europeo a través de la cartografía literaria: la literatura de viajeros españoles a Filipinas durante el siglo xix José María Fernández Palacios Angola na cartografia colonial e na escrita de António Lobo Antunes Fabiana D’Ascenzo

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Parte vii História da cartografia e divulgação de fundos cartográficos Historia de la cartografía y divulgación de fondos cartográficos Francisco de Borja Garção Stockler versus António Ribeiro dos Santos: os primeiros estudos de cartografia antiga em Portugal, 1805-1817 Francisco Roque de Oliveira

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A edição de Portugaliae Monumenta Cartographica e o seu significado político Carlos Manuel valentim

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El mapa geológico de México. La presencia de uma nueva disciplina en el México del siglo xix Lucero Morelos Rodríguez José Omar Moncada Maya Projeto «Atlas Histórico da Bahia Colonial»: promoção e difusão do saber cartográfico Erivaldo Fagundes Neves Maria Hilda Baqueiro Paraíso Caio Figueiredo Fernandes Adan André de Almeida Rego Raquel de Matos Cardoso do Vale Elane Fiúza Borges Jocimara Souza Britto Lobão Projeto «Album Chorographico Municipal do Estado de Minas Geraes, 1927: estudos críticos» Maria Lúcia Prado Costa

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Maria Aparecida Seabra de Carvalho Maria de Lujan Seabra de Carvalho Costa A importância da cartografia para o estudo da evolução da orla costeira: o exemplo do trecho Buarcos-Cova (Figueira da Foz, Portugal) Joana Gaspar de Freitas João Alveirinho Dias António Mota Lopes Helena Kol Herramientas tecnológicas para la difusión y el estudio de los fondos cartográficos de la Fundación Luis Giménez Lorente Jesús Palomar Vázquez Fernando Buchón Moragues

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volume 1 Cinquenta e um ensaios ibero-americanos de História da Cartografia 15 Francisco Roque de Oliveira Rumos da História da Cartografia 23 Francisco Contente Domingues

Parte i Os cartógrafos e as suas fontes Los cartógrafos y sus fuentes Fontes de origem portuguesa utilizadas por Piri Reis no Prefácio do Kitab i-Bahrye, 1526 37 Rui Manuel Loureiro Alonso de Santa Cruz: argumentos para considerarle el autor del Atlas de El Escorial 47 Antonio Crespo Sanz Isabel Vicente Maroto Nacimiento y evolución de la cartografía matemática en España. Las libretas de campo de tres cosmógrafos: Esquivel, Labaña y Santa Ana 81 Antonio Crespo Sanz Los mapas lícitos de publicar en Amberes. Redes, agentes y fuentes cartográficas usadas por Abraham Ortelius para el «Pervviae Avriferæ

Regionis Typvs. Didaco Mendezio auctore», 1584 115 Sebastián Díaz Ángel Producción y circulación del saber cartográfico entre Europa e Italia a finales del siglo xvi y principios del xvii. Modelos geográficos y cartográficos para representar a la Tierra 149 Annalisa D’Ascenzo Percursos do engenheiro António Carlos Andréis em Cabo Verde, 1765-1779 171 Maria João Soares ¿Original o copia? La colección de Pedro De Angelis y la circulación de la cartografía en el Río de la Plata, 1827-1853 199 Teresa Zweifel

Parte ii Tecnologia cartográfica e disputas territoriais Tecnología cartográfica y disputas territoriales La línea de frontera brasileña en el mapa de Juan de la Cruz y Olmedilla de 1775 219 José Andrés Jiménez Garcés A outra face das expedições científico-demarcatórias na Amazônia: o coronel Francisco Requena y Herrera e a comitiva castelhana 243 Beatriz Piccolotto Siqueira Bueno Iris Kantor O Padre Francisco Xavier Éder e as Missões de Moxos 265 István Rákóczi Mário Clemente Ferreira Trazos a ciegas: los mapas políticos de Sudamérica en tiempos de las revoluciones independentistas latinoamericanas 287 Carla Lois O território contestado entre a França e o Brasil no âmbito das Sociedades Geográficas Nacionais 317 João Paulo Jeannine Andrade Carneiro O delineamento da Estrada Real desde a serra de Rio Maior a Leiria em 1791 339 Ricardo Charters d’A zevedo

La evolución de la representación cartográfica de las Islas Pontinas en el virreinato de Nápoles – siglos xvi-xviii 357 Arturo Gallia Proyección inglesa sobre las Islas del Pacífico novohispano a través de sus mapas y diarios de viaje – siglo xviii 371 Guadalupe Pinzón Ríos España y la legitimación de sus colonias decimonónicas en el Pacífico a través de los mapas de Francisco Coello 391 David Manzano Cosano

Parte iii A construção territorial do Brasil La construcción territorial del Brasil Análise semiótica da dimensão imaterial da cartografia histórica brasileira: o sentido territorial do Estado do Paraná no século xviii 413 Estevão Pastori Garbin Fernando Luiz de Paula Santil Cartografia Histórica da Capitania de Minas Gerais nos mapas de José Joaquim da Rocha do século xviii 429 José Flávio Morais Castro Território e História. Caminhos, vilas e cidades em Goiás no século xviii 447 Lenora de Castro Barbo Rômulo José da Costa Ribeiro Cartografia de terras e gentes: a guerra aos povos indígenas nas capitanias de Minas Gerais, Espírito Santo e Bahia no início do século xix 465 Maria Hilda Baqueiro Paraíso Caio Figueiredo Fernandes Adan Colonização e cartografia no sul do Brasil oitocentista: o exemplo de Emil Odebrecht 487 Enali De Biaggi Cartografia e experiência histórica no Império do Brasil 511 Leandro Macedo Janke

A Náutica na Reforma da Universidade de Coimbra, 1772: o fim do cargo de cosmógrafo mor e o nascimento das academias de ensino náutico Nuno Martins Ferreira Escola Superior de Educação Instituto Politécnico de Lisboa

Os espaços tradicionais de ensino da náutica

No século XVIII, a principal novidade no domínio da náutica portuguesa não foi de ordem técnica no mar, apesar da busca pelo grau da longitude, mas antes da sua dinâmica pedagógica em terra. O que antes era aprendido ou em aulas com exposição generalista (aula da esfera) ou em lições quase particulares (lição do cosmógrafo mor)1 passou a ser estudado em escolas próprias, com um corpo docente específico, especializado e de acordo um curriculum pensado para o efeito. A figura do cosmógrafo mor é incontornável na história da dinâmica da transmissão de conhecimentos náuticos aos homens do mar. A sua atividade letiva foi enquadrada por um regimento datado de 1592 que se julga ter sido uma reformulação de um outro de 1549 provavelmente gizado pelo matemático Pedro Nunes2.

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No contexto ibérico, em Espanha – e ao contrário do que sucedeu em Portugal –, a produção de saber cosmográfico encontrava-se institucionalizada desde a segunda metade do século XVI e em três níveis: na Casa da Contratação das Índias Ocidentais sediada em Sevilha, no Conselho das Índias e na Corte. Sobre a formação dos pilotos espanhóis vejam-se os trabalhos de Portuondo (2009) e de García Garralon (2009). 2 A actividade de cosmógrafo apareceu pela primeira vez na carta de nomeação de Pedro Nunes, de 16 de Novembro de 1529, para a ocupação do dito cargo. Nunes teria instruído os homens do mar, pilotos ou outros que quisessem ingressar na profissão, mas também cosmógrafos mores, nomeadamente os que lhe sucederam no cargo: Tomás de Orta e João Baptista Lavanha.

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O cumprimento de uma lição de matemática era uma das disposições previstas no Regimento3. No capítulo 11º, a obrigatoriedade da presença naquela lição de todos os que tinham o encargo das viagens, nomeadamente pilotos, sota-pilotos e mestres, justificava-se pela diversidade de rotas a cumprir, algumas delas de longo curso, e pela necessidade de uma boa condução das mesmas. A estrutura do programa da lição assentava na aplicação de conteúdos teóricos à navegação e incluía: princípios elementares de astronomia, aplicados à navegação; construção e leitura de cartas de marear; uso do astrolábio para a observação do Sol; uso do quadrante e da balestilha para observação da Estrela Polar; e determinação da variação da declinação magnética (mota, 1969). O Regimento vigoraria até à extinção do cargo de cosmógrafo mor no último quartel do século XVIII, não se conhecendo qualquer outro documento que nos indique ter havido uma reformulação do de 1592 ou um novo regulamento. Se é verdade que os procedimentos da navegação não sofreram alterações de monta no seu grau de complexidade entre o final do século XVI e o final do século XVIII, fica por esclarecer a razão pela qual não houve necessidade de se alterar esse Regimento. As muitas décadas acumuladas de experiência letiva por parte dos cosmógrafos mores que observaram de perto as dificuldades do ensino náutico junto de um público com fracas competências ao nível da literacia4, pouco interessado nos conteúdos técnicos das aulas e muitas vezes afastado das lições pelas vicissitudes de uma vida passada em alto mar, poderiam ter instigado as autoridades a repensar o modelo de ensino/aprendizagem. No entanto, esse modelo permaneceu o mesmo até à criação da Academia Real de Marinha em 1779. O exercício letivo do cosmógrafo mor teve o condão de equilibrar os pratos da balança entre a experiência dos marinheiros e o avanço do conhecimento científico, ao refletir acerca do peso que a ‘arte’ e o seu ‘cálculo’ teriam na navegação (leitão, 2006). Estávamos perante um avanço que,

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Segundo Mota (1969: 33), este foi o mais importante capítulo do Regimento pois continha “o mais antigo programa do ensino da náutica em Portugal de que temos conhecimento”. 4 Veja-se a este propósito Domingues (2008: 297-307).

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sobretudo em Seiscentos, veio desequilibrar o estado da questão em favor da ‘matematização do real’5. A lição ministrada pelo cosmógrafo mor, para além de apresentar conteúdos muito elementares, oferecia um funcionamento demasiado irregular (leitão, 2008: 20-21). Tal motivou o Rei D. Sebastião a solicitar junto da Companhia de Jesus a criação de uma aula de matemática – a designada aula da esfera – que teria lugar no Colégio de Santo Antão, em Lisboa, e que apresentou um plano de natureza prática de estudos de formação de pilotos e oficiais de marinha6. A aula da Esfera, autêntico “refúgio da cultura matemática durante o século XVII” (dias, 1986: 102), iniciou atividade letiva a partir de 1590. Pelo seu caráter especulativo e com uma carga teórica acentuada pelos professores que procuravam “dar maior extensão e profundidade às suas lições” (albuquerque, 1972: 9), diferenciava-se da lição do cosmógrafo mor por ser esta mais prática, tendo em conta o incipiente grau de instrução dos alunos que nem sequer tinham a obrigação de a frequentar. Os resultados destas duas ‘escolas’ – a lição do cosmógrafo mor e a aula da esfera – não foram satisfatórios, apontando-se a intermitência do seu ensino, a fraca instrução dos alunos e o desfasamento entre a teoria e prática, como algumas das causas que concorreram para o insucesso do ensino da náutica até meados do século XVIII (dias, 2006).

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Sobre a importância da aritmética no quotidiano dos séculos XVI e XVII leia-se Almeida (1994). Acerca do protagonismo que os números assumiram no século seguinte escreveu Pierre Chaunu (1985: 254) que “O matemático é, no século XVIII, o primeiro sábio técnico (…) solicitado a preço de ouro pelos príncipes (…). Acabou-se o tempo dos amadores e também o dos génios universais: não tornará a haver Descartes nem Leibniz”. 6 Até hoje não foi encontrado o programa instituído para as lições da aula da esfera. Apesar disso, os objectivos subjacentes à formação dada sugerem que as matérias leccionadas provinham dos Elementos de Euclides: astronomia, hidrometria e cosmografia (baldini, 2004).

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O lugar da náutica na Faculdade de Matemática, criada no âmbito da Reforma da Universidade de Coimbra

A ideia de ‘utilidade’ foi central no modo como o Estado do século XVIII entendeu e organizou a formação dos seus súbditos7, numa lógica de formar futuros quadros administrativos e melhorar o funcionamento da máquina estatal, cada vez mais dependente da qualidade profissional dos seus componentes. Criava-se uma prática de meritocracia que levaria à valorização de um Estado que se queria moderno. Nesse sentido, a Reforma da Universidade de Coimbra, de 17728, que criou as novas faculdades de Matemática e de Filosofia, foi a face mais visível de um Estado interventor numa nova formação técnica e intelectual após a expulsão da Companhia de Jesus em 1759. Um dos problemas de fundo era precisamente a falta de gente qualificada para levar a cabo a tarefa de mudar o estado geral em que se encontrava a educação9, sabendo o Estado da importância da constituição de um duplo capital educativo: por um lado, um escol de professores que dessem o sustento à obra regeneradora preparada pelo Estado e, por outro lado, um conjunto de alunos, futuros profissionais, com competências examinadas e aprovadas10.

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“Nos séculos XVII e XVIII, embrionariamente no primeiro e decididamente no segundo, a história da ciência e das ideias científicas europeias num dos seus aspectos mais importantes é a história do sentido de utilidade que os fautores da ciência tinham para os propósitos económicos, políticos e culturais de quem dependiam em maior ou menor grau” (domingues, 1994: 110). 8 Os novos Estatutos da Universidade de Coimbra foram publicados em três volumes e regimentavam o funcionamento de seis faculdades, tendo sido o autor da elaboração e redação dos Estatutos das Faculdades de Filosofia Natural e de Matemática o padre José Monteiro da Rocha que, apesar de jesuíta, “já pertencia à geração dos jesuítas de espírito aberto à modernidade nas ciências” (carvalho, 1985: 84). Sobre a atividade científica de Monteiro da Rocha ver Figueiredo (2011). 9 O século XVIII foi de charneira na história da educação visto que se assistiu a um processo de secularização do ensino, cabendo ao Estado a guarda direta das instituições escolares. Neste sentido “l’école fonctionne comme garant idéologique d’un ordre sócio-économique base sur la propriété privée des moyens de production et sur l’économie de marche” (nóvoa, 1987: 69). 10 “The creation of human capital was, in fact, a slower proccess than the accumulation of wealth via the manipulation of tariffs, or the concession of lucrative monopolies.

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A transformação que o ensino náutico sofreu em Portugal enquadrar-se-ia numa mudança de paradigma educativo que abrangeu diversas atividades económicas e sociais. Nas palavras de Maria Manuel Tavares (1997: 144), o modelo de educação em vigor designava-se por “reprodução social e profissional”, isto é, por um lado, cada grupo profissional estava restringido ao acesso à formação profissional de acordo com as suas origens familiares ou de influências sociais mantidas, por outro lado, o processo de formação tinha por objetivo a imitação do mestre pelo seu aprendiz, o que na prática iria reproduzir uma forma de exercício de profissão anterior. De acordo com o espírito da Reforma de 1772, a importância do adestramento do cálculo matemático tornou indispensável a criação de uma faculdade própria para o seu ensino, terminando-se com o vazio existente nos dois séculos precedentes11. O curso teria a duração de 4 anos12 e apenas autorizava-se a lecionação por lentes formados em Coimbra13. Todos os alunos que o completassem e que tivessem realizado os exames previstos ficariam habilitados “para o serviço da Campanha, e da Marinha (…) [podendo] ensinar pública, e particularmente as Sciencias Mathematicas

In the area of educational reform he tried to make use of foreigners, especially Italians, and to rotate from institution to institution the few modern-minded individuals he had at his disposal” (maxwell, 1995: 106). 11 Sobre este vazio escreveria Francisco Freire (1872: 28-29) que “A Mathematica então [anterior a 1772] era uma sciencia não só quasi desconhecida entre nós, mas desprezada como inútil; e os methodos de ensino que vogavam, eram os mais depravados e absurdos. Tornava-se pois forçoso, para elevar e propagar os estudos mathematicos, fazer conhecidas as suas differentes partes, systematisal-as, uniformar o seu ensino, e descer áquellas miudezas, as quaes, se actualmente podem chamar-se luxuarias, eram, naquela epocha de reconstrucção, como o fio de Ariadna, que devia guiar os operarios do ensino nos labyrinthos do novo edifício scientifico.” 12 As disciplinas consignadas do curso eram a álgebra, a aritmética e a geometria. Integravam o conjunto das “Mathematicas Puras”, seguindo-se outras disciplinas com o nome de “Mixtas” ou “Sciencias Fysico-Mathematicas”. Nestas incluíam-se a hidráulica, a hidrodinâmica, a astronomia (movimento dos astros) e as suas dependentes (cosmografia, hidrografia, pilotagem, etc.). 13 “Nos Lugares, onde houver Mathematico formado pela Universidade, que queira ensinar as ditas Sciencias, não poderá outra alguma pessoa ensinallas pública, nem particularmente” (Estatutos, 1772: 238).

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fora da Universidade em qualquer parte dos Meus Reinos, e Domínios” (Estatutos, 1772: 238). Não obstante os esforços feitos, cinco anos depois, em 1777, o reformador e reitor da Universidade, D. Francisco de Lemos, faria publicar um balanço dos resultados alcançados a que deu o título de Relação Geral do Estado da Universidade de Coimbra14 e nele reforçaria a falência do ensino matemático no seio da instituição universitária. Na verdade, tendo sido a criação da Faculdade de Matemática uma das grandes bandeiras da reforma universitária, pela inovação e potencialidade que oferecia para o desenvolvimento do conhecimento científico em Portugal, foi com algum espanto que o reformador assinalou o insucesso observado, nomeadamente da frequência da população estudantil: “O Estudo desta Sciencia que produzio tantas utilidades a este Reino; e que do Seculo passado para cá se tem cultivado com tão felis sucesso em todas as Nações Civilizadas da Europa; se achava inteiramente abandonado na Universidade, sem ter nella um Estabelecimento adequado. [...] porem maior admiração deve cauzar o abandono total, em que se puzeram estes Estudos logo depois do tempo dos Estatutos, sem embargo da importância e da necessidade da Mathematica tão claramente expressada” (lemos, 1980 [1777]: 79 e 80).

Perante a falta de alunos nos cursos da Universidade, o reformador proporia a criação de legislação específica com o objetivo de restringir o acesso a algumas profissões exclusivamente aos formados em matemática. Nesse sentido, D. Francisco de Lemos advogava que para se ser cosmógrafo mor ou engenheiro mor era condição sine qua non o diploma em estudos matemáticos:

14 Relembrou D. Francisco de Lemos, com tom nostálgico, na “breve história da reformação” que serviu de introdução à Relação as expetativas e a adesão que constituíram os primeiros tempos da Reforma da Universidade: “Em conformidade dos Estatutos e das Ordens dadas se abriram as Escolas no mesmo tempo concorrendo a Mocidade a Ellas com tal fervor, aplicação, e proveito, que fez logo acreditar a Reforma, e a Fundação dos Estudos novamente plantados” (lemos, 1980 [1777]: 4).

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“Os Empregos de Cosmographo Mor, de Engenheiro Mor, e as Cadeiras de Engenharia, e Artilharia estão já fundados; e o que se pede somente he, que Sua Magestade seja servida ordenar, que se não confiram senão aos Mathematicos Graduados no Novo Curso Mathematico” (lemos, 1980 [1777]: 96).

Mas não era somente o desinteresse que os estudantes revelavam na formação oferecida por Coimbra. Havia ainda o problema da falta de qualidade no desempenho profissional em setores tão importantes para a vida do reino, nomeadamente aqueles que dependiam dos conhecimentos de ciências exatas como era o caso da pilotagem, entregue a homens sem formação adequada: “A Nautica he de muita importancia, e está em Portugal em mizeravel estado. Nas mãos de hum Piloto ignorante vão pelo meio das ondas as Vidas, e as Fazendas dos Vassalos de Sua Magestade. He tal a ignorancia que ainda não há muitos annos, que hum Piloto sahindo da Costa da Mina foi naufragar sobre as Prayas do Maranhão, cuidando que embocava pela Enseada da Bahia de Todos os Santos. Parece pois necessario estabelecer-se huma Cadeira de Nautica em Lisboa, e outra no Porto, regidas por hum Lente Mathematico, que saiba Astronomia” (lemos, 1980 [1777]: 90).

É de notar que, para o caso da náutica portuguesa, a Relação de 1777 revela-se hoje um documento importante para aferirmos a importância que o seu ensino teve na mente e ação dos principais protagonistas deste período reformador. E aqui releve-se a consideração que se teve para com a figura do cosmógrafo mor na dinâmica do ensino da arte de navegar. A Relação não indiciou a extinção do cargo de cosmógrafo mor, mas antes uma mudança no seu perfil de formação, sendo que este devia ter para o exercício de tão complexas funções o diploma do curso da Faculdade de Matemática. Contudo, como veremos de seguida, os indícios de uma atualização do perfil do cosmógrafo mor não se concretizariam e, num espaço de dois anos, o cargo viria mesmo a desaparecer.

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O fim do tradicional professor de náutica - o cosmógrafo mor

O cargo de cosmógrafo mor, que no século XVIII esteve na posse da mesma família e assumiu uma forma de transmissão hereditária ao nível do ensino das artes de navegar, foi extinto na sequência da reestruturação educativa pombalina. No século XIX, Garção Stockler chamou a atenção para a redução à hereditariedade a que tinha sido votada aquela função. Esta foi mesmo uma das causas que apontou para a decadência da ciência náutica na primeira metade de Setecentos e que se traduziu num ensino que não foi além do elementar, com evidente prejuízo para o sucesso das navegações: “O estudo da navagação estava a ultima decadencia, basta dizer que o cargo de cosmographo mór do Reino estava reduzido a oficio hereditario: como se os talentos e as sciencias se transmitissem depois a filhos, a maneira de bens allodiaes em virtude das leis civiz. Toda a Sciencia, que na sua aula se ensinava, se reduzia ao conhecimento da sphera, e dos diversos meios graphicos, e trigonometricos de determinar no mar a situação do navio pela derrota estimada […]” (stockler, 1819: 69)15.

Foi Luís Serrão Pimentel16 o primeiro a iniciar uma tradição de transmissão de funções no seio familiar ainda no século XVII17. Até então, esta hereditariedade de testemunho não tinha acontecido, o que nos poderá

15 Garção Stockler apresentou este quadro decadente do ensino náutico na época do rei D. José, para logo de seguida enaltecer os feitos realizados no reinado de D. Maria I, nomeadamente a criação das academias. Note-se que o autor deste Ensaio Histórico dedicado à evolução dos estudos matemáticos em Portugal teria um papel de destaque no ensino da matemática e no âmbito das novas instituições escolares dedicadas à formação de oficiais de marinha. Sobre a sua vida e obra ver Honório (2012). 16 Foi cosmógrafo interino a partir de 1647 e titular do cargo entre 1671 e 1679, ano da sua morte. 17 O último dos cosmógrafos mores de Portugal foi Francisco da Silva Serrão Pimentel, que ocupou o lugar entre os anos de 1764 e 1778, sucedendo ao pai, Luís Francisco Serrão Pimentel, titular entre 1724 e 1764.

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fazer refletir acerca da natureza institucional e grau de importância do cargo de cosmógrafo mor no contexto do ensino técnico da náutica portuguesa18. Voltemos mais uma vez à Relação de 1777. Como vimos, D. Francisco de Lemos referiu explicitamente a existência do cosmógrafo mor e, mais do que isso, apontou no sentido de uma ampliação das suas competências que passariam pela gestão de um curso de náutica a criar naquela Universidade. Se, em 1772, os Estatutos não continham qualquer referência ao ofício de cosmógrafo mor ou a qualquer intenção de se criar um curso com uma estrutura dedicada ao ensino náutico – apesar de, anos mais tarde, José Maria Dantas Pereira ter relembrado que a publicação dos Estatutos contivera uma preocupação com a marinha nacional19 – cinco anos depois, a baixa formação dos pilotos exigia um ensino da arte de navegar com cadeiras próprias. Atente-se que, entre 1772 e 1777, a situação no que concerne à aprendizagem da náutica não tinha evoluído, mas sublinhe-se que o cargo de cosmógrafo mor existia há mais de duzentos anos e que o modo como os futuros pilotos obtinham habilitação para o seu posto não havia sido alterado. D. Francisco de Lemos conhecia bem as carências do ensino náutico, pois alertava para a necessidade de se reformular o Regimento de 1592: “O Cosmographo Mor, alem do objecto da Pilotagem, que necessita de Novo Regimento, deveria ter a Superintendencia sobre os

18 A forma hereditária da marinha foi precisamente um dos aspetos combatidos pelo Conselho do Almirantado, a partir de 1795, cujas competências viriam a incluir a gestão das cartas atribuídas a pilotos, e que passou por destruir “radicalmente os vícios que podião ainda sentir-se, ou de administrações hereditárias, ou daqueles, em que huma única espécie de luzes, e conhecimentos predominava” (Decreto dando nova forma ao conselho do almirantado, e criando uma junta da fazenda da marinha e um corpo de engenheiros construtores, 26 de outubro de 1796 in Silva, 1828: 306). 19 Contudo, só em 1779, com a publicação dos estatutos da Academia da Marinha, é que o ensino preparatório naval iria arrancar. Dantas Pereira, num discurso de abertura do ano letivo da Academia dos Guardas Marinhas, fez um importante reparo: “com tudo será facil concluir que o estabelecimento da Real Academia da marinha deve ser, como tem sido, muito mais adequado para nos irmos adiantando em navaes conhecimentos” (pereira, 1828: nota 11 ao Discurso recitado de abertura da Real Academia dos Guardas Marinhas em 1803, e retocado em 1828).

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Cosmographos das Comarcas; communicar lhes as Ordens de Sua Magestade, e reprezentar a Sua Magestade as Contas, que dessem os Cosmographos, etc.” (lemos, 1980 [1777]: 90).

Para além do diagnóstico, D. Francisco de Lemos apresentou o que considerou ser a revitalização do ensino da arte da navegação: os professores de um futuro curso de náutica deviam ser graduados pela Universidade de Coimbra e sujeitos à inspeção do cosmógrafo mor e a formação dos alunos assente na aprendizagem de aritmética, geometria, trigonometria, cálculo, mecânica, mas sobretudo de astronomia20: “Deveria o Lente principiar pela Arithmetica, e exercitar bem os Discipulos das Operaçoens della, que são necessarias ao Piloto. Dahi passaria à Geometria que seria rezumida, e quanto fosse bastante para entender bem, e praticar com acerto as Operaçoens de Trigonometria Rectilinea, e Espherica. Depois disso ensinaria os Principios do Calculo, e da Mechanica, que fossem necessarios para bem entender a Theorica da Manobra, da Construcção dos Navios da Mastreação; do modo de arrumar a Carga, etc. Depois disso examinaria os Principios de Astronomia, que são necessarios ao Piloto, e entendidos estes, passaria miudamente de fazer as derrotas; o modo de se servirem das Observaçoens da Lua para determinação das Longitudes, o modo de usar dos Instrumentos, o modo de os verificar, e de combinar os rezultados de differentes Observaçoens, etc. Estas Cadeiras deveriam ser providas em sugeitos Graduados na Universidade, e estar sujeitas á Inspecção do Cosmographo Mor por este rezidir em Lisboa” (lemos, 1980 [1777]: 94).

O curso de náutica deveria ter a duração de três anos. Os alunos que o frequentassem teriam de primeiro fazer uma viagem a bordo do navio para experimentarem a sensação prática de se estar embarcado, mas uma vez

20 O resultado destas medidas seria, no seu entender, de enorme proveito para o reino: “Todas estas Providencias, que acabo de expor, segurariam nestes Reynos os Estudos Mathematicos, e fariam, que delles rezultassem muitas utilidades em beneficio do Publico. Utilidades não fantasticas, e apparentes, mas reaes, e verdadeiras” (lemos, 1980 [1777]: 96).

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integrados no curso tinham de cumprir o plano curricular, ficando proibidos de embarcar. Esta obrigatoriedade de frequência do curso mostra, mais uma vez, que o reformador conhecia a realidade do ensino náutico português, mas também as fragilidades intrínsecas que uma formação deste tipo, essencialmente prática, revelava. No seu entender, era necessário separar claramente a teoria do embarque, sendo apenas após a conclusão com aproveitamento do curso que os futuros oficiais tinha acesso aos navios: “O Curso de Nautica poderia ser de Trez annos, e acabado hum principiar outro com novos Discípulos. Todos os Cadetes da Marinha depois de assentarem Praça, e fazerem huma só viagem, para se acostumarem a ver o Mar, fariam este Curso de Tres Annos; e durando elle não poderiam embarcar, mas valeria o Serviço, como se fossem embarcados, e depois seriam despachados, e attendidos, conforme ao merecimento de seus Exames” (lemos, 1980 [1777]: 94).

De acordo com o projeto apresentado por D. Francisco de Lemos, abrir-se-iam cadeiras de náutica lecionadas por lentes matemáticos com conhecimentos de astronomia e o cargo de cosmógrafo mor – porque nada foi dito em contrário – deveria continuar a existir na estruturação pensada pela Reforma, até porque aquela Relação consignava o facto de que todas as disciplinas, dadas por gente habilitada para o efeito, deviam estar sujeitas à inspeção do cosmógrafo mor. Contudo, o decreto de 20 de janeiro de 1779, que anunciou a substituição da lição do cosmógrafo mor por uma aula de pilotos inserida na nova Academia Real de Marinha de Lisboa, alteraria o modus operandi do ensino náutico de uma forma profunda: “Atttendendo á utilidade que resulta aos meus vassallos, de que haja sugeitos hábeis, que saibam e exercitem fundamentalmente a Arte da Navegação sem a qual não póde florecer, nem dilatar-se o commercio, que constitue uma parte principal da felicidade publica: e querendo promovel-a em beneficio dos meus vassallos, e que a Marinha tenha pilotos capazes de se empregarem na dita navegação [...] sou serbida aliviar a Francisco Serrão Pimentel da Silva Paes, cosmógrapho mor, do exercício que até o presente tinha com este emprego [...] E hei por bem nomear para

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Lente da Aula dos pilotos o professor Miguel António Ciera, para que na forma que por mim lhe for determinada, possa reger esta cadeira” (ribeiro, 1872: ii, 69).

A data de 1779 não oferece dúvidas: em 20 de janeiro a aula do cosmógrafo terminava as suas funções e, poucos dias depois, em 11 de fevereiro, Francisco da Silva Serrão Pimentel deixava de desempenhar o cargo, como refere um alvará de 18 de maio de 1780 nas suas linhas iniciais: “Eu A Rainha faco saber aos que este Alvará virem que havendo respeito a representarme Francisco da Silva Serrão Pimentel que havendo lhe Eu feito Mercê de o livrar do officio digo de o livrar do exercicio do Emprego de Cosmografo Mor do Reyno que exercitava conservando-lhe o seu respectivo ordenado por decreto de 11 de Fevereiro do anno proximo passado expedido ao Inspector Geral da Marinha” (Alvará a Francisco da Silva Serrão Pimentel, 18/05/1780: fl. 365v.)21.

Portanto, fica por perceber com maior detalhe a justificação para que, num espaço de apenas dois anos, aquele cargo ter passado de uma posição com competências reforçadas a uma função inadequada de acordo com as necessidades sentidas pelas autoridades em melhorar e organizar a aprendizagem dos futuros pilotos. Apesar disso, tomamos hoje por certo que, à data da sua extinção, o cargo de cosmógrafo mor não estava vazio de competências visto haver notícia do exercício das suas atribuições para além do fim da sua atividade anunciado por decreto. Na verdade, Francisco da Silva Serrão Pimentel continuou a desempenhar as tarefas reconhecidas como sendo as de cosmógrafo para além de 20 de janeiro de 1779 pois todas as cartas que assinou nesse ano são posteriores ao decreto. O Livro Iº da Matrícula Geral dos Pilotos contabilizou para o período entre os anos de 1743 e de 1788 a emissão de 416 cartas de

21 Em 1791, recebeu a comenda de Santa Maria do Castelo Bom da Ordem de Cristo e nessa carta de mercê se dizia que o premiado havia servido a Coroa “por espaço de 13 annos, 9 meses e 12 dias contados de 19 de Novembro de 1764, athe 13 de Agosto de 1778” (Alvará a Francisco da Silva Serrão Pimentel, 09/02/1791: fl. 110v.).

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habilitação para a pilotagem22, período esse que abarcou a atividade dos dois últimos cosmógrafos mores e do Inspetor Geral da Marinha com a emissão de cartas distribuídas da forma resumida nas figuras 1 e 2. Em 1779, Francisco da Silva Serrão Pimentel passou 10 cartas de piloto, tendo sido a última delas, de 27 de outubro, dada a António Rodrigues Pessoa. Esta data marcou o fim do envolvimento do cosmógrafo mor enquanto protagonista da examinação feita aos homens do mar pois a carta seguinte foi assinada pelo Inspetor Geral da Marinha, o Marquês de Angeja, mas apenas a 6 de novembro de 1780, isto é, mais de um ano depois. Fica por saber quais as razões que levaram a um hiato prolongado na emissão de cartas de piloto. Provavelmente tal se deveu à instalação da Academia da Marinha de Lisboa, cuja lei que lhe deu forma era de 5 de agosto de 1779.

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1743 e 1747

1753 a 1760

1761 a 1770

1771 a 1780

1781 a 1788

Figura 1. Cartas de piloto emitidas entre 1743 e 1788 (por décadas). Fonte: Livro Iº da Matrícula Geral dos Pilotos [1743-1788] (BCM-AH).

22 Sendo 344 com exceção dos portos da Ásia, 69 cartas gerais sem restrição e apenas 3 para o posto de sota-piloto.

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Luís Francisco Pimentel

Francisco da Silva Serrão marquês de Angeja Pimentel (inspetor geral da Marinha)

Figura 2. Cartas de piloto emitidas entre 1743 e 1788 (por examinador). Fonte: Livro Iº da Matrícula Geral dos Pilotos [1743-1788] (BCM-AH)

Um facto curioso é o da média de idades dos pilotos que receberam a sua carta profissional: durante o período de emissão de cartas assinadas pelos dois últimos cosmógrafos mores a média é de 37,6 anos ao passo que na primeira década da nova forma de habilitação do pessoal para funções de pilotagem a média é semelhante: 37,5 anos. Estes dados permitem-nos refletir acerca do grau de sucesso do ensino da arte de navegar após a extinção do cargo de cosmógrafo mor e a criação das academias náuticas. Se é verdade que o número de licenças de piloto aumentou exponencialmente na última década a que nos reportamos, mais especificamente entre os anos de 1780 e de 1788, os dados referentes à idade dos examinados não se alterou de forma significativa para que possamos confirmar que o novo modelo de certificação para funções de pilotagem mediante a frequência de cursos de três anos permitia uma renovação geracional entre a comunidade de pilotos. As academias e a institucionalização do ensino da arte de navegar

A criação da Academia de Marinha de Lisboa em 1779 veio colocar um ponto final na fórmula que funcionou durante mais de 250 anos e apesar de todas as fragilidades, descontinuidades e falhas que conheceu no domínio

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do ensino/aprendizagem da arte de navegar23. A partir de então, com o fim do cargo de cosmógrafo mor, o sistema de exames passou a ser ministrado pela nova instituição, que incluiu na sua estrutura não apenas a examinação dos futuros pilotos, mas igualmente o ensino das matérias náuticas. A justificação avançada para esta mudança na formação náutica teve um cariz utilitarista, isto é, a importância do comércio marítimo e, provavelmente, a pressão dos seus principais negociantes24, levou a que o Estado alterasse o modo de aprendizagem da arte de navegar e com isso aumentasse a taxa de sucesso das viagens que tocavam pontos longínquos no globo (santos, 1985). Na Academia de Marinha de Lisboa ministraram-se cursos aos futuros oficiais da marinha de guerra e marinha mercante, com o ensino da matemática e da física em três anos, sendo o último ano do curso destinado ao ensino da navegação. Contudo, se a componente teórica era condição irredutível para se ingressar na carreira de oficial, a prática de mar não o era menos, pois, uma vez admitidos na Marinha, só aqueles que apresentassem dois anos de tirocínio a bordo dos navios podiam solicitar postos de tenente ou superiores, sendo que nesses dois anos deveria constar uma viagem de longo curso à Índia ou ao Brasil. A entrada no serviço da Marinha real só era possível com o curso de matemática concluído após um exame geral final. Este aspeto foi fraturante com o passado do binómio ensino/aprendizagem da arte de navegar: apesar de não termos dados concretos para os séculos anteriores que nos permitem conhecer com rigor a efetividade dos exames feitos pelo cosmógrafo mor e a correspondência entre a aprovação e o real conhecimento das matérias teóricas que aqueles encerravam, o comando técnico dos navios passava agora a ser entregue a quem apresentava um formação académica atestada.

23 Sobre a evolução do ensino náutico em Portugal e as mudanças verificadas no século XVIII ver a síntese de Domingues (2011:129-141). 24 Veja-se o caso da instalação de uma aula de náutica na cidade do Porto em 1762 que veio responder precisamente a uma reivindicação de um grupo de negociantes daquela praça (pinto, 2011).

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Neste processo de escolarização do futuro oficialato, seguir-se-iam a Academia dos Guardas Marinhas25 em 1782, sediada em Lisboa, e a Academia Real de Comércio e Marinha do Porto26 em 1803. Na génese destas três academias de formação de oficiais para a Marinha esteve um modelo assente na aprendizagem em terra das principais matérias teóricas e no mar com a aplicação dos princípios assimilados através da observação, experimentação e uso de instrumentos. O projeto da Academia dos Guardas Marinhas deveu-se em parte à visão de D. João da Bemposta, sobrinho do rei D. João V, que fez toda a sua carreira na Marinha, tendo-a iniciado em 1754 como voluntário. Do conhecimento profundo das vicissitudes da navegação nasceu uma visão educativa, tendo sugerido junto do rei D. José a criação de uma companhia que instruísse os oficiais em terra e onde pudessem aprender as diferentes disciplinas teóricas. Estas foram as principais linhas da proposta que fez para a instalação de uma Companhia de Guardas Marinhas, datada de 6 de setembro de 1765 (De huma Representação, 25/7/1761), fruto de uma reflexão que realizou na sequência de um relatório elaborado pelo capitão-de-mar-e-guerra francês José Rollen Van Deck que servia a marinha portuguesa nessa época27.

25 Nela se integrou a Companhia dos Guardas Marinhas que fora criada em 1761 e extinta em 1774 porque o tipo de formação para a graduação de guarda-marinha não apresentara resultados significativos. 26 Foi a herdeira da aula de náutica gerida pela Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro que havia iniciado a sua atividade em 1762. A instalação da Academia concretizou uma vontade da Junta da Administração daquela Companhia. Muitos dos artigos incluídos nos Estatutos eram inspirados na Academia Real de Marinha de Lisboa (as habilitações do corpo docente eram equivalentes, os exercícios práticos semelhantes e os privilégios e honras equiparados). Oferecia um currículo de três anos, com a matemática como eixo central da aprendizagem que tinha início com aritmética, geometria e trigonometria. No domínio da pilotagem, a prática da manobra era decalcada da Academia dos Guardas Marinhas de Lisboa. Após três viagens, os alunos solicitavam a carta de sota-piloto e de piloto conforme o constante dos Estatutos da Companhia (pinto, 2011). Em 2012 comemorou-se os 250 anos da aula da náutica com uma exposição no Museu de Ciência da Universidade de Porto. Veja-se Bernardo (2012). 27 O relatório, com a designação de Extracto da Companhia dos Guardas Marinhas do Reino de França existente no Departamento de Rochefort (1765/9/6), está apenso à

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A Academia dos Guardas Marinhas só conheceu os seus estatutos catorze anos após a sua entrada em funcionamento. A Lei de 1 de abril de 1796, que a regulamentou, espelhava o resultado de mais de duas décadas de “observações, que desde a sua fundação até agora o tempo tem feito evidentes, e que só a experiencia costuma de ordinário mostrar em todas as instituições primitivas na prática dos seus preceitos: Hei por bem dar a Minha Real Approvação aos referidos Estatutos, para o melhoramento da Academia dos Guardas Marinhas, segundo a sua forma, e theor” (silva, 1828: 267). não era apenas a formação teórico-prática dos oficiais de marinha, que no reinado de D. Maria I conheceu um avanço considerável, que estava em causa. A profissionalização dos pilotos e a capacidade de estes conduzirem com segurança e competência os navios era determinante para o sucesso do comércio marítimo. Neste aspeto em particular, a marinha mercante foi considerada como a razão para o aprimoramento da formação dos oficiais para a marinha de guerra28. Notas finais

O aparecimento das academias mostrou não apenas uma inovação na forma da estruturação do ensino/aprendizagem, como também uma dupla descentralização: a da geografia tradicional29 que localizava os espaços de ensino e a

representação de D. João da Bemposta. Van Deck tinha estado doze anos na companhia de guardas marinhas francesa de Rochefort, entre 1736 e 1748, onde fora aluno e oficial de uma das suas brigadas. 28 Numa memória escrita em 1792 por António Ferreira de Andrade, dirigida ao Marquês de Angeja, pode ler-se: “A Marinha Mercante na lingoa de todos os Politicos, Excellentissimo Senhor, he sempre o termómetro, por onde se calcula o grau de força, e de possibilidade da Marinha Militar que não he mais do que huma deducção (…) Este he o segredo da Politica, fazer entrar as forças navaes na combinação do poder, que se quer estebelecer; favorecendo a navegação que nutre a Marinha pelo Commercio. Este he pois, o que subministra a escola ou o Seminario dos Marinheiros: o Commercio he o seu ponto de apoio ou a sua fabrica. (...)” Observações e Lembranças…,1792: fls. 3v-4. 29 No quadro colonial, para além da escola de pilotos práticos do Pará criada em 1803, existiram aulas de pilotagem no Estado da Índia, nomeadamente em Goa e em Macau, na segunda metade de Setecentos. O ensino da náutica a Oriente foi iniciado num modelo de lições particulares, aproveitando-se homens com experiência de navegação que habitavam aquelas paragens, muito embora os resultados tenham sido modestos.

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da forma de transmissão dos conhecimentos. De facto, no século XVIII dar-se-ia uma ‘academização’ do conhecimento técnico-científico, nomeadamente do ensino náutico, com o professor das matérias ligadas à ciência náutica a conhecer uma homogeneização do seu perfil formativo. Estávamos perante o nascimento de um ensino de cariz politécnico, dividido em duas partes, uma teórica e outra prática, que se complementavam entre si: ao currículo matemático juntava-se a sua aplicabilidade a bordo dos navios. A organização das academias tendeu a promover o prestígio da formação através dos seus professores que tinham estatuto equiparado aos seus congéneres da Universidade de Coimbra. Os lentes tinham obrigatoriamente de ter uma licenciatura em matemática, feita nesta Universidade, e professores e alunos regiam-se pelas mesmas regras existentes em Coimbra. De centro de formação superior único em Portugal, a Universidade de Coimbra, mais especificamente a sua Faculdade de Matemática, tornava-se o berço da formação dos novos corpos docentes que iriam animar a vida das novas escolas. A figura do cosmógrafo mor ficara para trás nesta história do ensino náutico. Chegara o tempo de uma navegação vincadamente politécnica na sua aprendizagem teórica e aplicação prática. Muitas vezes menorizado no quadro da história da ciência e das navegações em particular, há ainda muito por descobrir acerca destes homens que desde o tempo de Pedro Nunes se dedicaram a uma tarefa difícil e tantas vezes incompreendida: cultivar o conhecimento matemático numa atividade que desde sempre viveu em boa parte do ‘aprender-fazendo’ dos homens do mar. Adiante-se ainda que está por fazer um estudo do perfil social e académico dos cosmógrafos mores, cabendo neste âmbito uma necessária revisão do seu papel no desenvolvimento científico português no quadro do ensino ministrado pela Companhia de Jesus entre os séculos XVI e XVIII.

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Referências bibliográficas

FONTES MANUSCRITAS

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