A Necrópole Romana do Moinho do Castelinho, Amadora (Portugal)

May 26, 2017 | Autor: Vanessa Dias | Categoria: Death and Burial (Archaeology), Roman Necropolis, Necropolis
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Descrição do Produto

A Necrópole Romana do Moinho do Castelinho Amadora (Portugal) Gisela Encarnação (Câmara Municipal da Amadora / Museu Municipal de Arqueologia) Vanessa Dias (ARQA - Associação de Arqueologia da Amadora)

Introdução

Cronologia

Espólio de adorno

As campanhas arqueológicas realizadas, nos últimos anos, no sítio do Moinho do Castelinho revelaram a presença de uma extensa necrópole romana, construída sobre um núcleo habitacional do século I a.C./I d.C. Através da análise dos dados recuperados durante a escavação das sepulturas, é-nos possível definir modos e ritos de enterramento, tipologias que definem estas construções fúnebres, e conhecer melhor a população que ocuparia o território entre os séculos III e V d.C.

Necrópole Romana O sítio arqueológico do Moinho do Castelinho foi identificado na década de 60 do século XX, mas os primeiros trabalhos arqueológicos ocorreram apenas em 2011. Está localizado na freguesia da Falagueira Venda Nova, no concelho da Amadora, Distrito de Lisboa, Portugal, com as seguintes coordenadas: X (A) -94903,79 e (B) -94889,26 (etrs89/pt-tm06); Y (A) -99728,75 e (B) -99732,69 (etrs89/pt-tm06).

No interior das sepulturas foram exumados vários elementos metálicos pertencentes ao vestuário e calçado dos inumados. A cuidada escavação antropológica permitiu perceber que seis indivíduos tinham junto dos pés cardas calegiae em ferro, pertencentes ao calçado. O esqueleto da sepultura 9 possuía sobre a zona do peito um pequeno alfinete de bronze, provavelmente um elemento de mortalha, numa das falanges da mão esquerda do indivíduo da sepultura 17, foi recuperado um anel de bronze e na sepultura 18, no úmero esquerdo do esqueleto, foram recuperados fragmentos de ferro, que podem corresponder a elementos de adorno do tipo pulseira.

A tipologia das sepulturas, bem como a análise do espólio recuperado no seu interior, leva-nos a supor que a utilização do espaço funerário foi longa e intensa. Segundo os dados recuperados nos trabalhos de campo realizados até à data, a necrópole começou a ser utilizada em meados do século III d.C. até aos meados do século V d.C.

144,61

144,43

144,96

144,75

144,56

Sepultura 14

144,67

144,89

144,63 144,45

144,67

144,70

144,56

144,61 144,91

144,78

144,33

144,28

144,64

144,73 144,55

144,19

144,28

144,13

144,77

144,26

144,27

144,12

144,09 144,05

144,21

144,07

145,12

144,52

144,19

144,63

144,21

144,03

144,03

144,70

144,75

144,69

144,59

144,82

144,49

144,26

144,66 143,97

8 144,17

144,40

144,61

144,17

144,55

Sepultura 3

144,02

Os vestígios arquitetónicos situam-se no sopé da elevação, junto de um corte existente a sul do terreno, próximo da berma da Estrada. Na necrópole romana identificaram-se, entre 2011 e 2015, 27 sepulturas em quatro dos seis setores escavados no sítio, 19 foram escavadas na totalidade. Estas correspondem a inumações no interior de covachos escavados na rocha, de tipologia diversa e, na maioria, acompanhadas de espólio votivo e/ou elementos de adorno pessoal.

144,09

144,41

Sepultura 4

144,04

143,88

144,14

144,09

144,06

144,57

144,04

144,08 144,32

144,07 143,87

144,05

144,35

144,36 144,54

144,51

Sepultura 7

143,94

144,63

143,91

144,05

144.29 144.53

144.19

144,59

144,06

144,01

144,44 144,20

144,16

144.02

144.13

143,34

143,86

Sepultura 13

144,03

144,09

144.41

144,60 144,57

Sepultura 2

144,14

Sepultura 21

143,94

144,07

144,01

144,13

144,40

144,26

Sepultura 5

Sepultura 1

144,19

144,62

144,23

144,41

143,86

144,54

144,44

144,45 144,36

144,62

144,63

144,63

144,77

144,63

144,46

144,35

144,34

144,71

143.85

142,88 144,07

144,04

143.85

143,88 143.82

143,71 144,00 143,62

143,72

143.67

143.77

143.79

143.89

143,84

143,83

143,77

Sepultura 8

143,47

143,66

144.09

143.92

143.84 143.80

143.86

144.16

143,53 143,58

Sepultura 10 143,59

143.97

143,46

143,55

143,56

143,58

142,84 143,80

Planta geral do Setor II com cronologia das sepulturas 0

1

2m

144.11

143,81

144,07

143,50

143,56

143,21

143.92

Sepultura 12 143,99

143,39

143,40

Sepultura 19

143,95

143,39 143,42

143,43

N

Sepultura 11

143,18

Legenda:

143,13

143,67

142,76

143,04 143,06

143,12

7 43,0

Sepulturas de meados do século III d.C.

143,13

143,14

1

143,04 142,91

142,76

Sepulturas de finais do século III d.C.

142,98 142,97

Sepulturas de meados/finais do século IV d.C.

143,08

Sepulturas de inícios do século V d.C.

Tipologia das Sepulturas Através da observação das diferenças na estruturação dos covachos e da existência ou não de cobertura, foram constituídos quatro tipos diferentes de sepulturas, divididos em grupos.

Grupo A – Covacho simples - estrutura negativa de pouca profundidade escavada na rocha, aproveitando a sua morfologia ou realizando um simples afeiçoamento de modo a acondicionar o inumado. O perfil destes covachos varia entre ligeiramente côncavo a sub-retangular.

Grupo B – Reaproveitamento – para o depósito dos indivíduos foram reutilizadas estruturas préexistentes, neste caso, lajeados de pedras calcárias de pequena e média dimensão.

Grupo C – Covacho simples com tampa – estrutura negativa escavada no substrato rochoso, colmatada com sedimento e coberta com lajes de calcário de média e grande dimensão. O seu perfil oscila entre o oval e o sub-retangular, o topo e o fundo têm tendência a ser côncavos, servindo o primeiro de apoio para o crânio.

Grupo D – Covacho estruturado com e sem tampa - estrutura negativa de profundidade considerável escavada no substrato rochoso com moldura nas laterais (escalonamento), provavelmente para encaixe de tampa e contexto de enchimento térreo. O perfil deste covacho oscila entre o sub-retangular e o retangular, o topo e o fundo têm tendência a ser côncavos, servindo o primeiro de apoio para o crânio. A sua cobertura seria feita com recurso a grandes lajes de calcário que encaixariam nos contornos desenhados na rocha para o efeito.

Pormenor de cardas caligae junto aos pés do esqueleto da sepultura 5, com a forma de solado

Anel de bronze na falange da mão direita do esqueleto da sepultura 17

Planta geral do Setor III com cronologia das sepulturas 0

Espólio Votivo

1

N

2m

145,13

Sepultura 9

145,16

145,19

Legenda:

145,15

145,19

145,12 145,08

Foram exumadas várias peças completas no interior das 19 sepulturas escavadas, a maioria encontrava-se na zona inferior dos covachos. Recuperámos cinco púcaros asados em cerâmica comum, produzidos durante o século III/IV, dois, com decoração com linhas brunidas no bojo. Seis lucernas, quatro de produção local/regional, uma em Terra Sigillata Clara, proveniente do Norte de África e uma de volutas da forma Dressel 15, de fabrico Bético. Recuperaram-se, ainda, uma tigela em cerâmica comum que imita as formas 35 e 36 de Dragendorff em cerâmica Terra Sigillata, um prato da forma Hayes 14c em Terra Sigillata Africana Clara A e uma taça em cerâmica comum que possuí afinidades formais com a forma 27 de Dragendorff. Além dos materiais cerâmicos foram exumadas duas peças de vidro pertencentes à mesma sepultura, uma taça troncocónica de cor translúcida, decorada com cabuchões, e uma jarra de colo alto, também translúcida. Recolheram-se, ainda, três ferramentas em ferro (um escopro, um cinzel e um pico), um fragmento de metal nobre, decorado com óvulos, pertencente a um pendente, um anel, um alfinete, uma agulha e 13 numismas em liga de cobre. Junto do esqueleto da jovem da sepultura 4, foram encontrados três alfinetes de cabelo em osso de morfologia simples, com a cabeça ovalada.

145,22 145,06

145,07

Sepulturas de meados/finais do século IV d.C.

145,09

145,11

144,96

144,383

144,663

144,413

144,42 144,41 144,263

144,35

Sepultura 6 144,193

144,063

144,113 144,113

144,403

144.39

144,443

144,383

144.21

143,943

144.12 144.21 143,883

144.06

143,923

144.05 144,05

144.02

145.34

145.39

145.10

Sepultura 20

Sepultura 22 145.40 144.77

Sepultura 16

144.72

145.27

144.98 144.98 145.18

144.67

144.85

145.17 144.62

144.73

144.52

Silo 1

144.52

145.13

Planta geral do Setor IV com cronologia das sepulturas

144.92

145.13

144.91

0

144.5

2m

N

Legenda:

144.92

Sepultura 23

144.61

1

144.62

Sepulturas de meados/finais do século IV d.C.

144.67

Sepultura 18

Idade à morte e sexo

144,023

144,323

144,023

144,093 144,233

144,073 144,133 144,043

14

3.5

8

143,773 143,753

142.99 143.70 143.58

Sepultura 24

143.73

14

3.4

4

143,913

142.96

143.55

143.76 143,773

143.16

143.85

143,693

143.47

143.58

143.41

Sepultura 17

143.56

143.53

143.55

142.92

143,573 143,573

143,423

143.29

143.52

143.48 143,583 143,383 143,423

143.33

143,513

03

3,4

14

143,403

143,463

Espólio da Sepultura 11

223

143.28

143.38

143,

143.51 143,403 143,033

Sepultura 25

143,203 143,193 143,333

Orientação das sepulturas e dos esqueletos As orientações dos esqueletos no interior das sepulturas são variadas. Doze apresentam orientação oeste/este, dois estão dispostos este/oeste, quatro, noroeste/sudeste e apenas a orientação do indivíduo da sepultura 15 é indeterminada, pois trata-se de um enterramento de um neonato, em mau estado de conservação.

Planta geral do Setor VI com cronologia das sepulturas 0

1

2m

N

Legenda: Sepulturas de meados/finais do século IV d.C. Sepulturas de inícios do século V d.C.

Os esqueletos encontravam-se em decúbito dorsal, com exceção de uma redução e dos indivíduos das sepulturas 3 e 19, que estavam em decúbito fetal e ventral, respetivamente. A posição dos membros superiores dos indivíduos era variável, mas na maioria, estavam estendidos ao longo do corpo ou ligeiramente fletidos sobre a pélvis. Em relação aos membros inferiores, apenas no indivíduo da sepultura 3 estavam fletidos, nos restantes esqueletos estavam esticados.

Considerações finais Devido à proximidade dos sítios e à contemporaneidade na ocupação de ambos durante a antiguidade, parece-nos que o espaço sepulcral, que ocupa toda a zona sul e sudeste do Moinho do Castelinho, está relacionado com a Villa Romana da Quinta da Bolacha, correspondendo à sua necrópole.

Espólio da sepultura 12

Bibliografia COELHO, António dos Santos (1982) – Subsídios para a História da Amadora, Amadora, Câmara Municipal da Amadora. ENCARNAÇÃO, Gisela (2003) - A Villa romana da Quinta da Bolacha. Um caso de arqueologia urbana. In Actas do Quarto Encontro de Arqueologia Urbana. Amadora: Museu Municipal da Arqueologia da Amadora. p. 107-116. ENCARNAÇÃO, Gisela; DIAS, Vanessa (2015) – Moinho do Castelinho. Um sítio a descobrir. Catálogo de exposição. Amadora: Câmara Municipal da Amadora. 16 p. ENCARNAÇÃO, Gisela [et al.] (2016) – Moinho do Castelinho. Trabalhos Arqueológicos realizados entre 2011 e 2015. Relatórios 9.

Decúbito Ventral - Sepultura 19

ORGANIZA:

COLEGIO DE ARQUEÓLOGOS CDL MADRID

Decúbito fetal - Sepultura 3

Espólio Sepultura 17

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