A PAIXÃO DA MISERICÓRIDA ENUNCIADA POR CARAVAGGIO. Aline Rezende Belo ALVES (PG/D/DISCENS/FL/UFG/IFG

A PAIXÃO DA MISERICÓRIDA ENUNCIADA POR CARAVAGGIO.
Aline Rezende Belo ALVES (PG/D/DISCENS/FL/UFG/IFG)

Com o objetivo de refletir sobre a paixão misericórdia e a narratividade da imagem, é feita uma análise de uma tela de Michelangelo Merisi da Caravaggio. Traços individuais do artista, como a escolha de seus personagens retirados das ruas com suas características grotescas e repulsivas, marcam sua obra. A tela é produzida no período clássico por encomenda da instituição Igreja Católica para representar imageticamente o enunciado religioso verbal referente aos "sete atos de misericórdia" que é decorrente das condições sociais em que se assiste a um espetáculo abominável nas ruas de Nápolis. Mendigos miseráveis, esfarrapados, até mesmo nús perambulavam lamuriando-se e implorando por moedas ou pão. O grau de pobreza era tamanha que caso os doentes chegassem à morte não tinham nem como serem enterrados. Neste contexto sócio histórico a instituição Igreja Católica enuncia "Os atos de misericórdia" que são representados pelo artista em uma única tela. Contudo, pelas limitações de extensão do trabalho apenas uma das imagens, será analisada: a que representa uma mulher que amamenta um preso pelas grades. Esta é escolhida por representar dois dos sete atos em uma única imagem: visitar os presos e alimentar os que tem fome. A linha de pesquisa adotada é a Análise do Discurso, na perspectiva da semiótica das paixões. Um vez que o tema da tela é a paixão misericórdia, é feita a apresentação de o que é uma paixão em uma perspectiva semiótica greimasiana. Alguns conceitos de Aristóteles e Greimas, apresentados por Meyer, Barros e Pietrofort, são aqui mobilizados a fim de orientar a leitura e análise do objeto. Nesta perspectiva, como afirma Meyer, as paixões são as "respostas às representações que os outras concebem de nós", em outras palavras, é consciência de si. Sendo o trabalho filiado à AD francesa, a obra é considerada como texto que materializa o discurso religioso e critica a estrutura social do tempo e local em que é produzido. Após situar a obra sócio historicamente por meio da observação das condições de produção da tela é feita uma análise discursiva da imagem propriamente dita considerando sua narratividade. Durante a análise é observado o percurso gerativo do sentido da imagem e são apontados os programas narrativos e o nível discursivo da imagem a fim de, além de descrever o que o texto diz, analisar como ele faz para dizer o que diz. A relação semântica fundamental que orienta o percurso narrativo é o abandono, pela sociedade e autoridades, vs a assistência da mulher movida pela paixão misericórdia. Na análise são apresentados nove programas narrativos, nos quais a mulher figura como sujeito do fazer capaz de viver uma paixão enquanto o homem é um sujeito de estado, que possibilitam outros programas narrativos como: morte vs vida, fome vs alimento e outros.
Palavras-Chaves: Paixão. Semiótica. Discurso.