A palatalização de consoantes na língua mehináku (Arawák)

July 3, 2017 | Autor: A. Corbera Mori | Categoria: Arawakan Languages, Indigenous Languages of South America
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O XVII Congresso Internacional da ALFAL foi realizado na Universidade Federal da Paraíba Brasil no período de 16 a 19 de julho de 2014. Muitas foram as atividades ao longo do congresso, entre elas cursos, conferências, sessões coordenadas, comunicações individuais e pôsteres, sem contar as reuniões dos 24 Projetos temáticos que constituem o ponto alto da ALFAL. Para celebrar os 50 anos da ALFAL, tomamos a iniciativa de reunir neste e-book um conjunto de trabalhos significativos para a área da Linguística, cuja seleção se deu a partir de uma avaliação criteriosa por pares, membros da própria associação. Assim, trazemos à comunidade acadêmica textos que contemplam as seguintes áreas: análise de estruturas linguísticas, dialectologia e sociolinguística, filologia e linguística histórica, letramento, linguística ameríndia, política linguística, psicolinguística e aquisição, texto e discurso.

ALFAL

50 ANOS CONTRIBUIÇÕES PARA OS ESTUDOS LINGUÍSTICOS E FILOLÓGICOS

Dermeval da Hora Juliene Lopes R. Pedrosa Rubens M. Lucena (Organizadores)

Dermeval da Hora Juliene Lopes R. Pedrosa Rubens M. Lucena (organizadores)

ALFAL 50 ANOS: CONTRIBUIÇÕES PARA OS ESTUDOS LINGUÍSTICOS E FILOLÓGICOS

Ideia

João Pessoa 2015

Ficha Técnica Livro produzido editorialmente pelo Projeto Para Ler o Digital (NAMID/DEMID/PPGC/UFPB) Capa e Editoração Digital Marriett Albuquerque Elementos Gráficos da Capa Designed by Freepik.com

Conselho Editorial José S. Magalhães (UFU) Marco Antônio Martins (UFRN) Marianne Carvalho Cavalcante (UFPB) Maria Elizabeth A. Christiano (UFPB)

Atenção: As imagens usadas neste trabalho o são para efeito de estudo, de acordo com o artigo 46 da lei 9610, sendo garantida a propriedade das mesmas aos seus criadores ou detentores de direitos autorais. A385

ALFAL 50 anos: contribuições para os estudos linguísticos e filológicos / Dermeval da Hora, Juliene Lopes R. Pedrosa, Rubens M. Lucena (Orgs.). João Pessoa: Ideia, 2015. 2328p.: il. ISBN: 978-85-463-0003-7 1. Linguística. 2. Argumentação na língua. 3. Análise linguística. 4. Hora, Dermeval da. 5. Pedrosa, Juliene Lopes R. 6. Lucena, Rubens M. CDU: 801(043)

Editora Av. Nossa Senhora de Fátima, 1357, Bairro Torre Cep.58.040-380 - João Pessoa, PB www.ideiaeditora.com.br [email protected]

ALFAL 50 ANOS

SumÁrio Apresentação ..................................................................................................................................... 13 Análise de estruturas linguísticas ................................................................................... 17 LA PRODUCCIÓN DE LAS CONSONANTES OCLUSIVAS DEL PORTUGUÉS POR HABLANTES NATIVOS DE ESPAÑOL

Luciene Bassols Brisolara, María Josefina Israel Semino ........................................................................................................................................................ 18

ANÁLISE EXPERIMENTAL DE UM CORPUS ESPONTÂNEO: A CONSTRUÇÃO DA IMAGEM SOCIAL DO PROFESSOR A PARTIR DA PROSÓDIA Sabrina Lima de Souza Cerqueira ................................................................................................................................................................................................... 46

TEORIA DA MARCA NOS PROCESSOS FONOLÓGICOS Teresinha de Moraes Brenner ........................................................................................................................................................................................................... 85

SEPARAÇÃO SILÁBICA FONOLÓGICA AUTOMÁTICA PARA O PORTUGUÊS BRASILEIRO: CAMINHOS PERCORRIDOS E ESTADO DA ARTE Vera Vasilévski ........................................................................................................................................................................................................................................ 129

A LATERAL SILÁBICA DO INGLÊS: UM MODELO COMPUTACIONAL DE GRAMÁTICA E AQUISIÇÃO

Fernando Cabral Alves, Rubens Marques de Lucena ............................................................................................................................................................. 172

Capa Sumário eLivre

A MARIA ENVIOU A CARTA AO JOÃO OU PARA O JOÃO: UM ESTUDO SOBRE AS PREPOSIÇÕES INTRODUTORAS DE ARGUMENTOS EM PORTUGUÊS BRASILEIRO Ana Regina Vaz Calindro ................................................................................................................................................................................................................... 215

DIFERENCIAS INDIVIDUALES EN LA INTERPRETACIÓN TEMPRANA DE LA CUANTIFICACIÓN Y DEL ASPECTO EN EL ESPAÑOL IBÉRICO Tania Barberán, Isabel García del Real, Maria José Ezeizabarrena ..................................................................................................................................... 238

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ALFAL 50 ANOS INFORMAÇÕES DISCURSIVAS NO CÁLCULO DA COMPLEXIDADE SINTÁTICA Eduardo Kenedy ................................................................................................................................................................................................................................... 265

ORAÇÕES TEMPORAIS INICIADAS POR QUANDO: UMA COMPARAÇÃO ENTRE O PORTUGUÊS E O ESPANHOL Cristiany Fernandes da Silva ............................................................................................................................................................................................................ 289

OS PARÂMETROS DE CONDICIONALIDADE: UM ESTUDO COM O SUPONDO QUE Aline Fernanda Bueno ........................................................................................................................................................................................................................ 315

A SUBSTITUIÇÃO DE HAVER POR TER EM CONTEXTOS EXISTENCIAIS: ECOS DA MUDANÇA NA REMARCAÇÃO DO PARÂMETRO DO SUJEITO NULO Elyne Giselle de Santana Lima Aguiar Vitório ........................................................................................................................................................................... 340

ORAÇÕES COMPLETIVAS EM POSIÇÃO ARGUMENTAL DE SUJEITO E O ALÇAMENTO A SUJEITO SOB PERSPECTIVA FUNCIONAL Sebastião Carlos Leite Gonçalves ................................................................................................................................................................................................... 367

ALGUNS ASPECTOS SEMÂNTICOS DA LIBRAS: UM ESTUDO DO LÉXICO DE SEUS SINAIS EM SUAS RELAÇÕES DE SINONÍMIA, ANTONÍMIA, HOMONÍMIAS, HOMÓGRAFAS E POLISSEMIA Ediane Silva Lima .................................................................................................................................................................................................................................. 418

METÁFORAS DO TRABALHO EM TEXTOS ONLINE

Eliane Santos Leite da Silva .............................................................................................................................................................................................................. 455

DESENVOLVIMENTO DA COMPETÊNCIA EXPRESSIONAL A PARTIR DO LÉXICO: UMA ABORDAGEM ICÔNICO-FUNCIONAL Darcilia Simões, Maria Teresa G. Pereira, Eleone F. de Assis, Claudio Artur O. Rei ...................................................................................................... 483

LÉXICO E PRÁTICAS LINGUÍSTICAS:

Capa Sumário eLivre

DA INSTRUMENTALIZAÇÃO DAS MÁQUINAS ÀS FUNÇÕES INTELECTUAIS Everaldo dos Santos Almeida .......................................................................................................................................................................................................... 515

LÉXICO E ARQUIVO: A QUESTÃO DA VIOLÊNCIA NOS REGIMES DITATORIAIS Eliana Correia Brandão Gonçalves ................................................................................................................................................................................................. 544

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ALFAL 50 ANOS

Dialetologia e sociolinguistica ..................................................................... 574 VARIAÇÃO FONÉTICA EM CAPITAIS BRASILEIRAS: A DITONGAÇÃO DIANTE DE /S/ E AS REALIZAÇÕES FONÉTICAS DO /S/ EM CODA Amanda dos Reis Silva ....................................................................................................................................................................................................................... 575

PERÍFRASE DE FUTURO E FUTURO SINTÉTICO EM ESPANHOL ORAL: UM ESTUDO SOBRE VARIAÇÃO E GRAMATICALIZAÇÃO Ana Kaciara Wildner, Fernanda Lima Jardim Miara, Leandra Cristina de Oliveira ....................................................................................................... 614

CREENCIAS Y ACTITUDES HACIA LAS VARIEDADES DEL ESPAÑOL EN EL SIGLO XXI: AVANCE DE UN PROYECTO DE INVESTIGACIÓN Ana M. Cestero, Florentino Paredes .............................................................................................................................................................................................. 652

ESTUDIO COORDINADO DE LA “ATENUACIÓN” EN EL MARCO DEL PRESEEA: PROPUESTA METODOLÓGICA Ana M. Cestero, Marta Albelda, Antonio Briz ........................................................................................................................................................................... 684

ATITUDE E AVALIAÇÃO LINGUÍSTICA EM DADOS DE FALA ESPONTÂNEA Josenildo Barbosa Freire .................................................................................................................................................................................................................... 709

A SELEÇÃO LEXICAL E A IDENTIDADE SOCIAL DE FAIXA ETÁRIA NA BAHIA Marcela Moura Torres Paim ............................................................................................................................................................................................................. 742

TERMINOLOGIA MÉDICA E VARIAÇÃO

Maria da Graça Krieger, Márcio Sales Santiago ........................................................................................................................................................................ 764

LA INTEGRACIÓN SOCIOLINGÜÍSTICA DE LA POBLACIÓN ECUATORIANA DE LA CIUDAD DE MADRID (ESPAÑA) María Sancho Pascual ......................................................................................................................................................................................................................... 785

Capa Sumário eLivre

CONSTRUCCIONES COLABORATIVAS EN LOS DIÁLOGOS DE JÓVENES HISPANOHABLANTES EN ESTOCOLMO Nadezhda Bravo Cladera .................................................................................................................................................................................................................. 814

VARIAÇÃO LINGUÍSTICA NO IMPERFEITO DESIDERATIVO EM CONTOS ESCRITOS EM ESPANHOL Valdecy de Oliveira Pontes ............................................................................................................................................................................................................... 847

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ALFAL 50 ANOS LOS FRASEMAS EN EL MACRO ACTO DE NARRACIÓN: HABLANTES MAYORES DE EDUCACIÓN Y BÁSICA SUPERIOR Yazmín M. Carrizales Guerra, Lidia Rodríguez Alfano ............................................................................................................................................................ 873

Filologia e linguística histórica .................................................................... 903 O SER HUMANO É UM ANIMAL? E O QUE MAIS? METÁFORAS DA IDADE MÉDIA A. Ariadne Domingues Almeida ..................................................................................................................................................................................................... 904

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ENVOLVIDOS EM TRANSCRIÇÕES/EDIÇÕES DE TEXTOS DE SINCRONIAS PASSADAS Elaine Thomé Viegas, Erica Almeida, Afrânio Barbosa, Dinah Callou .............................................................................................................................. 933

A PARASSÍNTESE LATO E STRICTO SENSU NA PRIMEIRA FASE DO PORTUGUÊS ARCAICO Mailson dos Santos Lopes ............................................................................................................................................................................................................... 969

OS RITUAIS DA “BOA MORTE” NA BAHIA COLONIAL A PARTIR DA ANÁLISE DE TESTAMENTOS Norma Suely da Silva Pereira ........................................................................................................................................................................................................ 1013

Letramento .................................................................................................................... 1043 PARA A HISTÓRIA DO ALFABETISMO NA BAHIA: O CASO DOS REGISTROS ECLESIASTICOS DE TERRAS Adilson da Silva de Jesus, Zenaide de Oliveira Novais Carneiro ..................................................................................................................................... 1044

Capa Sumário eLivre

A PONTUAÇÃO: REFLEXÕES SOBRE OS LIVROS DIDÁTICOS DE PORTUGUÊS (ANOS FINAIS) Anderson Cristiano da Silva ........................................................................................................................................................................................................... 1084

A LÍNGUA MATERNA NOS PRIMEIROS ANOS DO ENSINO FUNDAMENTAL E O OLHAR DO CONHECIMENTO DO ALFABETIZADOR Cleia Maria Lima Azevedo, Cátia De Azevedo Fronza ......................................................................................................................................................... 1108

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ALFAL 50 ANOS UMA PRÁTICA DE MEDIAÇÃO ENTRE OS SABERES DA ORALIDADE E DA ESCRITA: DESPERTANDO A CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA Edilvânia Soares Pereira, Juliene Lopes Ribeiro Pedrosa .................................................................................................................................................... 1132

EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA: REPRESENTAÇÕES DE PROFESSORES E ALUNOS DO CURSO DE LETRAS À LUZ DO INTERACIONISMO SOCIODISCURSIVO Gabriela Belo da Silva, Maíra Cordeiro dos Santos, Regina Celi Mendes Pereira ..................................................................................................... 1184

O LETRAMENTO: UM DESAFIO EM SALA DE AULA Hérica Paiva Pereira ........................................................................................................................................................................................................................... 1216

A FONÉTICA E A FONOLOGIA NO CURRÍCULO DO ENSINO FUNDAMENTAL Jorgevaldo de Souza Silva .............................................................................................................................................................................................................. 1241

TRABALHO E ENSINO: AS REPRESENTAÇÕES DE UM PROFESSOR Kátia de França ................................................................................................................................................................................................................................... 1263

UMA PROPOSTA METODOLÓGICA PARA O ENSINO-APRENDIZAGEM DA ENTOAÇÃO EM ESPANHOL COMO LÍNGUA ESTRANGEIRA Maristela da Silva Pinto, Roberto Botelho Rondinini, Natacha Dionísio de Souza .................................................................................................. 1288

O PACTO NACIONAL PELA ALFABETIZAÇÃO NA IDADE CERTA (PNAIC): A LEITURA NO 1º ANO Priscila Alves de Almeida Lopes, Dermeval da Hora ............................................................................................................................................................ 1310

A (IN)SIGNIFICÂNCIA DA NOÇÃO DE MULTILETRAMENTOS NA RELAÇÃO ENUNCIADOR-DESTINATÁRIO PRESUMIDO EM SITUAÇÕES IDEALIZADAS DE ENSINO DE PORTUGUÊS LÍNGUA MATERNA Rosângela Rodrigues Borges ........................................................................................................................................................................................................ 1357

Capa Sumário

Linguística ameríndia .......................................................................................... 1401

eLivre

A PALATIZAÇÃO DE CONSOANTES NA LÍNGUA MEHINAKU (ARAWÁK) Angel Corbera Mori .......................................................................................................................................................................................................................... 1402

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ALFAL 50 ANOS GRUPOS CONSONÂNTICOS OCLUSIVOS DE SONORIDADE PLANA EM AKWĒ-XERENTE (JÊ) Kêt Simas Frazão, Daniele Marcelle Grannier ......................................................................................................................................................................... 1431

POLÍTICAS LINGUÍSTICAS PARA OS POVOS INDÍGENAS NO BRASIL Maria Aparecida Valentim Afonso ............................................................................................................................................................................................... 1450

EL AYMARA COMO PRÁCTICA EN LA UNIDADES EDUCATIVAS DE LA CIUDAD DE LA PAZ BOLIVIA María Sandra Vedia Garay .............................................................................................................................................................................................................. 1496

Política linguística ............................................................................................... 1528 A PESQUISA EM POLÍTICA LINGUÍSTICA NO BRASIL: CONTRIBUIÇÕES DOS ESTUDOS SOBRE CRENÇAS E ENSINO/APRENDIZAGEM DE LÍNGUAS Elias Ribeiro da Silva ......................................................................................................................................................................................................................... 1529

O MITO DO MONOLINGUISMO E A (DES)NATURALIZAÇÃO DO PRECONCEITO E DA INTOLERÂNCIA NA LINGUAGEM: UMA QUESTÃO DE POLÍTICA LÍNGUÍSTICA Luana Francisleyde Pessoa de Farias .......................................................................................................................................................................................... 1549

Psicolinguística e aquisição ............................................................................. 1579 DESENVOLVIMENTO LINGUÍSTICO EM CRIANÇAS COM ATRASO NEUROPSICOMOTOR: O PAPEL DO OUTRO NESSE PROCESSO SOB A ÓTICA BAKHTINIANA

Capa Sumário eLivre

Evani Andreatta Amaral Camargo ............................................................................................................................................................................................... 1580

UNIVERSAL E SINGULAR: INSTÂNCIAS DA LÍNGUA NA FALA DA CRIANÇA Irani Rodrigues Maldonade ........................................................................................................................................................................................................... 1622

CRIANÇAS COM DIFICULDADES NA INTERFACE GRAMÁTICA-PRAGMÁTICA: EVIDÊNCIAS DE UM DEL-PRAG? Jacqueline Rodrigues Longchamps, Letícia Maria Sicuro Corrêa .................................................................................................................................... 1650

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ALFAL 50 ANOS ESTRATÉGIAS DE MINIMIZAÇÃO DE CUSTO NA PRODUÇÃO DE ESTRUTURAS DE MOVIMENTO E POSSÍVEIS MANIFESTAÇÕES DO DEL Letícia M. Sicuro Corrêa, Marina R. A. Augusto, Tatiana Bagetti, Jacqueline Longchamps ................................................................................... 1683

A FALA SINTOMÁTICA NAS AFASIAS: DO ORGANISMO AO SUJEITO Maria de Fátima Vilar de Melo ..................................................................................................................................................................................................... 1710

INTERPRETACIÓN DE LA REALIDAD Y SU DISOLUCIÓN EN LA NARRACIÓN A PARTIR DEL RECONOCIMIENTO DE LAS FORMAS PERFECTIVAS E IMPERFECTIVAS POR PARTE DE ESTUDIANTES DE HERENCIA Patricia Granja-Falconi ..................................................................................................................................................................................................................... 1730

A ANALOGIA: SEU LUGAR NA TRAJETÓRIA LINGUÍSTICA DE CADA CRIANÇA Rosa Attié Figueira ............................................................................................................................................................................................................................ 1773

Texto e discurso ......................................................................................................... 1817 O ANÚNCIO PUBLICITÁRIO COMO UM REFLEXO DAS MUDANÇAS SOCIAIS: UMA ANÁLISE DAS IDENTIDADES FEMININAS CONSTRUÍDAS PELOS ANUNCIANTES Luciana Martins Arruda ................................................................................................................................................................................................................... 1818

GÊNEROS TEXTUAIS E ENSINO DE LÍNGUAS EM PAU DOS FERROS, NO RN: ENTRE AS CRENÇAS DOS DOCENTES E AS PRÁTICAS LETRADAS DOS DISCENTES Lucineudo Machado Irineu, Walison Paulino de Araújo Costa ........................................................................................................................................ 1853

RESUMOS ACADÊMICOS: ENTRE O ENSINO E A PRÁTICA DE PRODUÇÃO TEXTUAL Márcia de Souza Luz-Freitas, Cibele Moreira Monteiro Rosa ........................................................................................................................................... 1874

Capa Sumário eLivre

FORÇAS CENTRÍPETAS E CENTRÍFUGAS ATUANDO EM TRÊS GÊNEROS DISCURSIVOS: NARRATIVA DE FICÇÃO, NOTÍCIA E CARTA ARGUMENTATIVA Márcia Helena de Melo Pereira .................................................................................................................................................................................................... 1902

CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS: ORALIDADE, GESTO, VOZ – PERFORMANCE Maria Claurênia Abreu de Andrade Silveira ............................................................................................................................................................................ 1951

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ALFAL 50 ANOS PLANOS DE TEXTO E A COMPOSIÇÃO: O GÊNERO BOLETIM DE OCORRÊNCIA Maria de Fátima Silva dos Santos, João Gomes da Silva Neto ........................................................................................................................................ 1977

A MULTIMODALIDADE EM PROPAGANDAS DA REDE VIRTUAL: CONSTRUINDO SENTIDOS ATRAVÉS DOS PROCESSOS DE REFERENCIAÇÃO Maria Denise Oliveira da Silva, Tânia Andrade Oliveira Santos ....................................................................................................................................... 2018

UM ESTUDO DA ENUNCIAÇÃO NO GÊNERO INQUÉRITO POLICIAL Maria do Socorro Oliveira .............................................................................................................................................................................................................. 2040

MARCAS E INDICADORES DE LA IRONÍA EN CONVERSACIONES ENTRE FAMILIARES Y AMIGOS DE SANTA FE (ARGENTINA) María Isabel Kalbermatten ............................................................................................................................................................................................................. 2071

DISCURSO DE LA HISTORIA PROGRESIVA (FERNÁNDEZ DE LIZARDI E IGNACIO RAMÍREZ) María Rosa Palazón Mayoral ......................................................................................................................................................................................................... 2115

MARCADORES DEL DISCURSO EN LA ORALIDAD CULTA DE CÓRDOBA, ARGENTINA. RECUENTO CONTRASTIVO CON EL USO PENINSULAR María Teresa Toniolo, María Elisa Zurita .................................................................................................................................................................................... 2137

PRÁTICAS DISCURSIVAS DE JORNALISTAS EM TEMPO DE MUDANÇAS: TRABALHANDO OS CONCEITOS DE COMUNIDADES DISCURSIVAS E RITOS GENÉTICOS EDITORIAIS NA PERSPECTIVA DA AD Marília Giselda Rodrigues ............................................................................................................................................................................................................... 2195

A REPRESENTAÇÃO DA LÍNGUA DO BRASIL NO SÉCULO XX: O CASO MÁRIO DE ANDRADE NO POSFÁCIO DE AMAR, VERBO INTRANSITIVO Mauriene Freitas, Andréa Costa Morais, Greiciane Mendonça ........................................................................................................................................ 2223

Capa Sumário eLivre

ESTRATÉGIAS COESIVAS EM HISTÓRIAS EM QUADRINHOS: A REFERENCIAÇÃO NO TEXTO MULTIMODAL DO GÊNERO HQ Mayalu Felix ......................................................................................................................................................................................................................................... 2262

LENDO IMAGENS, VENDO TEXTOS: UM ESTUDO DISCURSIVO DE FOTOGRAFIAS E LEGENDAS NA MÍDIA IMPRESSA Nadja Pattresi de Souza e Silva .................................................................................................................................................................................................... 2295

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ALFAL 50 ANOS

Apresentação

Capa Sumário eLivre

A Associação de Linguística e Filologia da América Latina (ALFAL) completou, em 2014, 50 anos de existência. Ao longo desses anos, tem realizado a cada triênio seus Congressos Internacionais, reunindo pesquisadores de todo o mundo, pois, embora seja uma associação fundada na América Latina, seus sócios estão espalhados por diferentes países de todos os continentes. É uma associação itinerante, cuja diretoria é constituída por colegas de diferentes países. O XVII Congresso Internacional da ALFAL foi realizado na Universidade Federal da Paraíba - Brasil no período de 16 a 19 de julho de 2014. Muitas foram as atividades ao longo do congresso, entre elas cursos, conferências, sessões coordenadas, comunicações individuais e pôsteres, sem contar as reuniões dos 24 Projetos temáticos que constituem o ponto alto da ALFAL. Nesse Congresso Internacional, foram apresentados mais de 800 trabalhos das mais diferentes áreas temáticas que o nortearam: análise de estruturas linguísticas (fonética / fonologia, morfologia, sintaxe, semântica, pragmática e lexicologia), análise de textos literários, análise do discurso, dialectologia e sociolinguística, estudos da tradução, filologia e linguística histórica, linguís-

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ALFAL 50 ANOS

Capa Sumário eLivre

tica ameríndia, linguística aplicada (ensino e aquisição de línguas L1 e L2), linguística computacional, linguística de corpus, política linguística, linguística do texto e análise da conversação, tipologia linguística, processamento linguístico, psicolinguística e linguística clínica, neurolinguística e neurociências aplicadas à linguagem, e semiótica. Para celebrar os 50 anos da ALFAL, tomamos a iniciativa de reunir neste e-book um conjunto de trabalhos significativos para a área da Linguística, cuja seleção se deu a partir de uma avaliação criteriosa por pares, membros da própria associação. Assim, trazemos à comunidade acadêmica textos que contemplam as seguintes áreas: análise de estruturas linguísticas, dialectologia e sociolinguística, filologia e linguística histórica, letramento, linguística ameríndia, política linguística, psicolinguística e aquisição, texto e discurso. Os 17 capítulos relativos à estrutura linguística contemplam estudos voltados para os seguintes níveis: fonologia, morfossintaxe, semântica e léxico. Com relação aos aspectos fonológicos foram abordados temas como "consoantes", "prosódia", "processos fonológicos", "sílaba". Na área de sintaxe, os trabalhos versam sobre "preposição", "aspecto verbal", "complexidade sintática", "orações temporais", "sujeito nulo" e "orações completivas". Contemplando a área de semântica, um trabalho trata de "aspectos semânticos da LIBRAS" e outro de "metáforas". Os estudos de lexicologia reúnem trabalhos sobre "competência expressional a partir do léxico", "léxico e práticas linguísticas" e "léxico e arquivo".

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ALFAL 50 ANOS

Capa Sumário eLivre

Referentes à dialectologia e sociolinguística, os onze trabalhos, em sua maioria, tratam de estudos sobre variação tanto em língua portuguesa como em língua espanhola em diferentes perspectivas. Além disso, alguns trabalhos analisam questões sobre crenças, atitudes e identidade social. Quatro estudos se voltam para filologia e linguística histórica, tendo como objeto de análise recortes diacrônicos do português, e um deles trata de procedimentos metodológicos em transcrição e edição de texto. Os estudos de letramento que compõem esse e-book revelam avaliações sobre a prática do professor, reflexões sobre o livro didático e multiletramento. Com respeito à linguística ameríndia, os estudos versam sobre análises envolvendo línguas como "mehinaku" (arawák), "akwe-xerente" ( jê) e "aymara". Dois trabalhos abordam a política linguística, um deles tratando do mito monoliguismo e outro sobre a pesquisa em política linguística no Brasil. Na área de psicolinguística e aquisição, muitos trabalhos se voltam para estudos com crianças, observando o desenvolvimento linguístico em crianças com atraso neuropsicomotor, afasias e dificuldade com a interface gramática / pragmática. A área de texto e discurso, por ser uma das mais produtivas, é a que reúne maior número de estudos. Eles se distribuem em diferentes frentes de análise, envolvendo também perspectivas as mais diversas. Há estudos sobre o gênero

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ALFAL 50 ANOS

textual, sobre análise do discurso crítica, sobre a relação discurso / literatura, práticas discursivas, marcadores do discurso, multimodalidade, etc. Com essa publicação, espera-se atingir um grande público, possibilitando reflexões que redundem em novos estudos, contribuindo para o fortalecimento da ALFAL, enquanto associação que se volta para estudos linguísticos e filológicos. Dermeval da Hora Juliene Lopes R. Pedrosa Rubens Marques de Lucena

Capa Sumário eLivre

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ALFAL 50 ANOS

A PALATIZAÇÃO DE CONSOANTES NA LÍNGUA MEHINAKU (ARAWÁK) Angel Corbera Mori (CELCAM/IEL-UNICAMP) [email protected]

Introdução

Capa Sumário eLivre

O Mehináku, Waúja e Yawalapíti são línguas originárias que fazem parte da família linguística arawák, subgrupo Arawák Central (Payne 1991), denominado também grupo pareci-xingu, subgrupo Xinguano, em termos de Aikhenvald (2002). A língua mehináku é falada por, aproximadamente, 270 pessoas distribuídas, atualmente, pelas aldeias Uyaipiyuku, Utawana, Aturuwá, Kaupüna e o posto indígena de vigilância do Curisevo (PIV- Curisevo). Todas essas aldeias se encontram localizadas às margens do rio Curisevo, na região do Alto Xingu, Município de Gaúcha do Norte, estado de Mato Grosso (MT). O presente capítulo aborda brevemente os processos de palatalização que ocorrem na fonologia da língua mehináku. A palatalização é um processo recorrente em línguas da família arawák, mas sua manifestação concreta

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ALFAL 50 ANOS

varia de uma língua para outra. No que diz respeito à língua mehináku, esse processo afeta as consoantes labial /p/, a coronal /t/ e a dorsal /k/, a aproximante labiovelar/w/, além das soantes nasais /m/ e /n/. A análise, aqui apresentada, se fundamenta em dados primários coletados em diversos trabalhos de campo junto aos falantes dessa língua originária. A interpretação do respectivo processo fundamenta-se na tipologia apresentada por Bhat (1974) e Bateman (2007) e tendo como baseamento teórico principal os aportes da fonologia não linear nos termos assumidos por Hume (1994), Clements (1999), Clements e Hume (1995), além das discussões sobre a palatalização abordadas em trabalhos de Kim (2001), Hall e Hamann (2003, 2006), Hall, Hamann e Zygs (2004) e Telfer (2004, 2006).

O que é palatalização?

Capa Sumário eLivre

Bhat (1974) afirma que dos diversos processos fonológicos que ocorrem nas línguas naturais, três deles podem ser agrupados sob o hiperônimo palatalização, que se relacionam, respectivamente com: i) a anteriorização da língua (‘tongue-fronting’), ii) o alçamento da língua (‘tongue-raising’) e iii) a espirantização (‘spirantization’). Uma propriedade relevante do processo de espirantização é a presença do traço de estridência nos segmentos envolvidos no processo de

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ALFAL 50 ANOS

Capa Sumário eLivre

palatalização. Nos três casos citados, o elemento ativo do processo se relaciona com a participação da lâmina da língua. Bhat (op. cit.) ressalta o fato que a presença da palatalização envolve duas condições básicas: a) o contexto engatilhador do processo deve ser um entorno de palatalização, ou seja, os elementos condicionadores do processo poderão ser dados por uma vogal anterior, uma semivogal palatal, ou uma consoante palatal ou palatalizada, b) o produto resultante deverá ser um segmento palatal, ou bem, um segmento com articulação secundária (Bhat 1974: 19). Uma consoante pode sofrer uma alteração em sua articulação primária, por exemplo, uma plosiva velar desvozeada /k/ passar a ser articulada foneticamente como uma africada pós-alveolar [ʧ], ou, simplesmente agregar uma articulação palatal secundária, mas sem alterar a sua articulação primária, como seria o caso de um fonema nasal bilabial /m/ ser produzida foneticamente como uma nasal bilabial palatalizada [mʲ]. Quando os segmentos são modificados mediante a anteriorização e a espirantização, Bateman (2007) o denomina de palatalização plena e coronalização por Hume (1994). Do mesmo modo, quando um segmento apenas modifica sua articulação primária pela superposição do traço de um segmento palatal, Bateman (op. cit.) o denomina palatalização secundária, enquanto Hume (op.cit.) o considera simplesmente palatalização. Esses dois processos estão presentes em Mehináku; nesta língua o elemento desencadeador da palatalização é a vogal anterior alta fechada /i/, como se mostra no presente capítulo.

1404

ALFAL 50 ANOS

Fonemas da língua mehináku Consoante com os estudos que venho realizando, postulo que os fonemas consonantais e vocálicos da língua mehináku, são aqueles que se apresentam nas tabelas (1) e (2), respectivamente. Tabela 1. Fonemas consonantais

Labial p Obstruintes Soantes Tepe Aproximantes

m

Coronal [+anterior] [-anterior] t ʦ ʧ ȿ n ɾ l j

Dorsal

Glotal

k

w

h

Tabela 2. Fonemas vocálicos

Capa Sumário eLivre



[fechadas] [-fechadas]

Coronal oral nasal i ĩ e ẽ

oral ɨ a

Dorsal nasal oral nasal ɨ̃ u ũ ã

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ALFAL 50 ANOS

Na tabela (2) dos fonemas vocálicos poderia adicionar-se o alongamento fonético das vogais, mas elas são analisadas fonologicamente como a sequência de duas vogais homorgânicas, formando sílabas sem o preenchimento do ataque correspondente. A posição de coda não é preenchida por segmento algum nessa língua. Dados que mostras as sequências vocálicas homorgânicas são exemplificados em (1). (1) [makuja:lu] [tɨmu:ˈkai] [ɨʂɨpe:ˈte.ku] [aˈji:ku] [ˈtɨ:pa]

ma.kuˈja.a.lu tɨ.mu.u.ˈka.i ɨ.ʂɨ.pe.e.ˈte.ku a.ˈji.i.ku ˈtɨ.ɨ.pa

CV.CV.CV.V.CV CV.CV.V.CV.V V.CV.CV.V.CV V.CV.V.CV CV.V.CV

‘barata’ ‘pó’ ‘estreito’ ‘vamos!’ ‘pedra’

Palatalização dos segmentos /p/, /m/ e /n/ Capa Sumário

As consoantes plosiva labial oral /p/, a labial nasal /m/ e a nasal coronal /n/ se realizam foneticamente como palatalizadas quando são precedidas pela vogal coronal /i/, como se pode verificar nos seguintes dados.

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ALFAL 50 ANOS

(2) a. /p/ → [pʲ] / [i] ___ /pu’taka/ [pu’taka] /nu-puta’ka/ /pi-puta’ka/ [pipʲuta’ka] /ji-puta’ka/ [ jipʲuta’ka]

‘aldeia’ [nũputa’ka] ‘minha aldeia’ ‘tua aldeia’ ‘aldeia de vocês’

b. /m/ → [mʲ] / [i] _____ /’maiki/ [‘mãĩki] /nu-mai’ki-ɾa/ [nũmãĩ’kiɾa] /pi-mai’ki-ɾa/ [pi’mʲãĩ’kiɾa] /ji-mai’ki-ɾa/ [ ji’mʲãĩ’kiɾa]

‘milho’ ‘meu milho ‘teu milho’ ‘milho de vocês’

c. Capa Sumário

/n/ →[nʲ] / [i] _____ /nee’te-i/ [nẽ:’tei] /nu-’neete/ [nũ’nẽ:te] /pi-’neete/ [pi’nʲẽ:te] /ji-’neete/ [ ji’nʲẽ:te]

[‘piolho’ (absoluto) ‘meu piolho’ ‘teu piolho’ ‘piolho de vocês’

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A nasal coronal /n/ pode, opcionalmente, ser também pronunciada como uma nasal palatal plena [ɲ] e, em alguns casos, como uma aproximante palatal nasalizada [ȷ̃], fato que evidencia um caso típico que envolve o processo de debucalização de segmentos. Como se observa nessa modificação, o traço nasal da consoante coronal é preservado, porém se perde a especificação da cavidade oral da consoante. Dessa forma, as construções /pi-’neete/ ‘teu piolho’ e /ji-’neete/ ‘piolho de vocês’, poderão ocorrer ora como em (3a) ora como em (3b). (3) a. /n/ →[ɲ] / [i] _____ [pi’ɲẽ:te] [ ji’ɲẽ:te]

b. Capa Sumário

/n/ →[ j̃ ] / [i] _____ [pi’j̃ẽ:te] ‘teu piolho’ [ ji’j̃ẽ:te] ‘piolho de vocês’

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Palatalização da aproximante dorsal /w/ À diferença da palatalização secundária dos segmentos apresentados na seção §3.1 acima, o processo fonético-fonológico que afeta a aproximante dorsal /w/ é converter esse segmento em uma aproximante palatal plena, isto é: /j/, quando o segmento dorsal está precedido pela vogal coronal /i/, como se observa nos dados seguintes. (4) a. /wanana’i-i/ /nu-wana’nai/ /pi-wana’nai/ /ji-wana’nai/

[wanãnã’ĩ]] [nũwanã’nãĩ] [pijanã’nãĩ] [ jijanã’nãĩ]

‘abraçadeira (absoluto)’ ‘minha abraçadeira’ ‘tua abraçadeira’ ‘abraçadeira de vocês’

[wejete’ki] [nũwejete’ki] [pijejete’ki] [ jijejete’ki]

‘sarna (absoluto)’ ‘minha sarna’ ‘tua sarna’ ‘sarna de vocês’

b. Capa Sumário eLivre

/wejete’ki-i/ /nu-wejete’ki/ /pi-jejete’ki/ /ji-jejete’ki/

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Os dados apresentados em (4a) e (4b) podem nos induzir à hipótese que o alvo da palatalização dos segmentos é apenas quando há uma fronteira de morfema, pois como se mostrou, o elemento responsável pelo processo é a vogal coronal /i/, núcleo do prefixo pronominal de segunda pessoa, singular e plural, respectivamente. Contudo, dados adicionais da língua mehináku nos mostram que a palatalização é um processo mais geral, dado que também está presente na estrutura interna da palavra, como se evidencia nos dados seguintes. (5) /i’pehɨ/ /hima’lai/ /ina-’taɾi/

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[i’pʲehɨ] [himʲa’lai [iɲa’taɾi]

‘capivara’ ‘fumaça’ ‘barbante’

Em se tratando da aproximante dorsal /w/, ela não é afetada pelo processo de palatalização quando ocorre na posição interna da palavra, seja quando está precedia pela vogal /i/ ou, mesmo, quando se encontra entre duas vogais /i/. A não ocorrência parece se relacionar com o principio do contorno obrigatório (OCP), pois se criaria uma sequência agramatical de três segmentos com os traços [-anterior,+coronal], como se mostra nos dados seguintes.

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(6) /i’wĩ-ʦi-i/ /ti’wi-i/ /iwiʦi’niɾi/ /weɾi’weɾi/

[i’wĩnʦi] [ti’wi] [iwiʦi’niɾi] [weɾi’weɾi]

*[[i’ȷĩnʦi] *[ti’ȷi] *[iȷiʦi’niɾi] *[weɾi’ȷeɾi]

‘coração (absoluto)’ ‘cabeça (absoluto)’ ‘peixe voador’ ‘pintura corporal usado pelos jovens’

Interpretação da palatalização em termos da Fonologia Autossegmental

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Hume (1994) ao tratar das vogais anteriores, as consoantes coronais e sua interface com a fonologia não linear, mostra que os segmentos palatalizados possuem uma articulação secundária sobreposta à articulação primária da consoante alvo do processo. Nesse caso, o segmento resultante mantém sua articulação primária. Com base nos pressupostos dessa autora, assumo que os fonemas /p, m, n/ do Mehináku se palatalizam devido à propagação progressiva do traço coronal da vogal /i/. Nesse processo, os segmentos afetados mantém sua correspondente articulação primária, mas simultaneamente recebem a sobreposição do traço articulatório da vogal coronal /i/. No que tange à consoante nasal /n/, ela se caracteriza por ter os traços [+coronal, +anterior], por isso o espraiamento da coronalidade da vogal /i/ se

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dá vacuamente. Além disso, o traço redundante [-anterior] dependente da vogal /i/ cria o efeito esperado de uma consoante nasal [+coronal, -anterior], ou seja, uma consoante nasal coronal com palatalização secundária [nʲ]. Assim sendo, a aplicação do processo de palatalização terá uma representação geométrica como em (7). (7) /p/ → [pj] / [i] ____

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Nessa configuração, observa-se que o traço coronal da vogal /i/ se projeta sobre o ponto da consoante (PC) /p/, dando como resultado um segmento que possui todas as propriedades articulatórias primárias, mas recebendo uma característica adicional de palatalização, como se mostra na diagramação de (8). (8)

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Em se tratando da aproximante dorsal /w/, o espraiamento do traço coronal da vogal /i/ origina a dissociação do nó vocálico dominado pelo ponto de consoante (PC) desse segmento. Nesse caso, obtém-se outro segmento que foneticamente será uma aproximante [+coronal, -anterior] com seu correspondente traço de abertura [–aberton], isto é, a aproximante palatal [ȷ]. O processo correspondente pode ser exemplificado no diagrama seguinte. (9) /w/ → [ȷ] ⁄ /i/____

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A partir dessa configuração geométrica se obtém o resultado de uma aproximante coronal palatal [ȷ], como na seguinte representação. (10)

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O que acontece com os fonemas plosivos /t/ e /k/?

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As plosivas desvozeadas que se relacionam com a coronal /t/ e a dorsal /k/ também são alvos do processo de palatalização quando se manifestam depois da vogal coronal /i/. A plosiva coronal /t/ se realiza foneticamente como uma africada coronal desvozeada [ʦ] e a dorsal /k/ como uma africada pós-alveolar desvozeada [ʧ]. Esses dois segmentos são afetados pelo mesmo processo de palatalização; contudo, para ter uma ideia mais clara e ver como se diferencia da palatalização descrita na seção §4, o denominarei processo de assibilação, tendo como base os argumentos levantados por Hall e Hamann (2003, 2006) e Kim (2001). Concretamente, esses autores consideram a assibilação como um processo em que as consoantes plosivas articulam-se foneticamente como africadas sibilantes ou estridentes quando ocorrem contíguas as vogais altas. É bastante comum que este processo tenha como alvo as consoantes plosivas coronais e dorsais, como é o caso da língua mehináku. De fato, em Mehináku a consoante coronal /t/ se manifesta foneticamente como uma africada estridente coronal [ʦ] quando é precedida pela vogal coronal /i/, tal como se pode ver nos dados seguintes.

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(11a) /tukuna’tɨ-i/ /nu-tuka’natɨ/ /pi-tuku’natɨ/ /ji-tuku’natɨ/

[tukunã’ti] [nũtuku’nãtɨ] [pi-ʦuku’nãtɨ] [ ji-ʦuku’nãtɨ]

‘umbigo (absoluto)’ ‘meu umbigo’ ‘teu umbigo ‘umbigo de vocês’

(11b) /’teeme/ /nu-tee’me-le/ /pi-tee’me-le/ /ji-tee’me-le/

[‘te:mẽ] [nũte:’mẽle] [piʦe:’mẽle] [ jiʦe:’mẽ-le]

‘anta’ ‘minha anta’ ‘tua anta ‘anta de vocês’

Em relação à plosiva dorsal desvozeada /k/, ela se manifesta foneticamente como uma africada pós-alveolar [ʧ] quando ocorre depois da correspondente vogal coronal /i/, como se vê no seguintes dados. (12a) Capa Sumário eLivre

/kalu’tɨ-i/ /nu-ka’lutɨ/ /pi- ka’lutɨ/ /ji-ka’latɨ/

[kalu’ti] [nũka’lutɨ] [piʧa’lutɨ] [ jiʧa’lutɨ]

‘lágrimas (absoluto)’ ‘minhas lágrimas’ ‘tuas lágrimas’ ‘lágrimas de vocês’

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(13b) /kana’tɨ-i/ /nu-ka’natɨ/ /pi- ka’natɨ/ /ji-ka’natɨ/

[kanã’ti] [nũka’nãtɨ] [piʧa’nãtɨ] [ jiʧa’nãtɨ]

‘boca (absoluto)’ ‘minha boca’ ‘tua boca’ ‘boca de vocês’

É importante observar que a plosiva dorsal /k/ não é afetada quando ocorre na posição intervocálica de duas vogais coronais /i/. Aqui novamente parece estar em jogo o principio de contorno obrigatório (OCP), que proíbe a sequência de três segmentos caracterizados pelos traços [-anterior, +coronal]. Os dados seguintes mostram o processo no paradigma de possessão. (13)

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/ki’ɾi-i/ /nu-’kiɾi/ /pi-’kiɾi/ /ji-’kiɾi/ *[pi’ʧiɾi] *[ ji’ʧiɾi]

[ki’ɾi] ‘nariz (absoluto)’ [nũ’kiɾi] ‘meu nariz’ [pi’kiɾi] ‘teu nariz’ [ ji’kiɾi] ‘nariz de vocês’ *forma fonética agramatical *forma fonética agramatical

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Sem dúvida, esses dois processos que envolvem a modificação das plosivas são semelhantes, mas não idênticos. Assumo que cada um deles apresenta nuances muito sutis, pois: a. A modificação fonética do fonema plosivo coronal /t/ origina uma consoante africada, mas retendo o traço inicial [+coronal], traço que, como sabemos, é partilhado pela vogal fechada /i/, elemento detonador da assibilação. Assumo que a plosiva /t/ ganhou uma propriedade adicional de estridência, uma característica típica dos segmentos fricativos sibilantes. Consoante com Bhat (1974: 20), a estridência consiste na adição de uma fricção a uma consoante em um determinado entorno, que dá como resultado um segmento [-continuo, +estridente], como é descrito em Jakobson, Fant e Halle (1952). Uma possível representação do processo que afeta o fonema plosivo /t/ se pode ver, a seguir. Capa Sumário eLivre

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(14)

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De acordo com a geometria de traços postulados por Hume (1994), Clements e Hume (1995), a consoante plosiva /t/ já é caracterizada pelo traço coronal, por isso o espraiamento do traço coronal da vogal /i/ se dá vacuamente. Contudo, o traço coronal leva simultaneamente seus traços dependentes [-anterior] e [distribuído], que definem a vogal /i/. Supõe-se, então, que com isso se origina uma sequência agramatical [-anterior], um traço redundante que caracteriza as vogais e o traço [anterior] da consoante plosiva /t/. A solu-

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ção é dissociar o traço redundante da vogal /i/, ficando tão somente aquele da consoante /t/. Assim, a representação da africada coronal seria como: (15)

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b. A transformação da plosiva dorsal /k/ em africada pós-alveolar [ʧ] produz uma alteração no ponto de articulação, passando de uma posição velar ou dorsal para uma pós-alveolar ou alvéolo palatal. Nesse processo está en-

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volvido o que Bhat (1974) denomina anteriorização da língua (‘tongue-fronting’), acompanhado simultaneamente por alçamento e espirantização (op. cit. 1974: 28). Com base nos postulados de Hume (1994) e Clementes e Hume (1995) assumo que este é um processo típico de coronalização, em que a especificação [+coronal, -anterior] substitui o ponto de articulação que definia, inicialmente, o fonema plosivo dorsal /k/. Dessa forma, na permuta da sequência /...ik/ para [ʧ] o traço dorsal da plosiva é obrigado a se dissociar do nó ponto da consoantes (PC), como se mostra, a seguir. (16)

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Dessa forma, o processo resultante é uma consoantes africada com os traços de [+coronal, -anterior, +estridente], cuja representação aproximada é como em (16): (17)

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À guisa de conclusão No presente capítulo levantei algumas observações sobre a palatalização na língua mehináku. Assumi, seguindo as observações tipológicas levantadas por Bhat (1974) e Bateman (2007), que há dois processos de palatalização em Mehináku: i. aquele em que ocorre a superposição de articulação secundária à correspondente original dos segmentos alvos do processo, nesse caso encontram-se o fonema labial oral /p/ e as consonantes nasais /m/ e /n/, respectivamente. Assume-se que neste tipo de processo, “sounds are said to be palatalized if the point of articulation moves toward the palatal region in some particular circumstance” (Ladefoged 1993: 230). Uma representação geral e mais abstrata do processo é esquematizada em (18). Capa Sumário eLivre

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(18)

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ii. no segundo tipo, dá-se a substituição do traço primário do segmento alvo por aquele do elemento que detona o processo de palatalização, é o caso da mudança da aproximante dorsal /w/ para a aproximante palatal [ȷ] e a correspondente assibilação das consoantes plosivas desvozeadas /t/ e /k/,

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que se convertem em [ʦ] e [ʧ], respectivamente. Em todos os casos, o elemento engatilhador do processo é a vogal coronal /i/, que precede esses segmentos em fronteira morfológica ou em posição interna da palavra. Por sua parte, a aproximante dorsal /w/ ao se manifestar entre duas vogais coronais /i/, na posição interna de palavra, o processo é bloqueado (cf. a diagramação do processo em (9) e (10), respectivamente).

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Um aspecto importante se relacionas com o processo de assibilação das consoantes /t/ e /k/, que se convertem em africadas coronais [+anterior] e [-anterior], respectivamente. Segundo Kim (2001) ao se produzir uma consoante africada surge uma extensão da fricção, que se assemelha às características das consoantes fricativas estridentes, daí a intrusão do traço [+estridente] na geometria de traços das plosivas, que se assibilam convertendo-se em africadas. Para este autor, “high vocoid-conditioned phonological stop assibilation is motivated by the brief period of turbulence that sometimes occurs at the release of a plosive into a high vocoid […] this turbulence is interpreted in phonology as the insertion of the feature [+strident] into the representation of the plosive, with the loss of the feature [-continuant] in the case of frication …” (op. cit.: 81). Nesse caso, a extensão da fricção se apresenta com as vogais altas ou fechadas,

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e somente quando essas vogais seguem as plosivas, mas não quando as precedem. De fato, esta observação de Kim entra em confronto com o que mostram os dados da língua mehináku, que como se viu, o processo é detonado quando a vogal coronal /i/ precede as consoantes /t/ e /k/. Um processo semelhante se dá na língua lakhota, em que a plosiva velar /k/ ocorre como africada estridente [ʧ] quando é precedida pela vogal coronal /i/ (Telfer 2004). Clements (1999) assume que as consoantes africadas devem ser caracterizadas como plosivas estridentes, sem a caracterização tradicional de segmentos de contorno com os traços [-contínuo] [+contínuo], os traços que definem esses segmentos seriam [-contínuo] [+estridente]. Nesse sentido, a assibilação em Mehináku das plosivas /t/ e /k/, quando precedidas pela vogal /i/ não se relacionaria diretamente com o traço [+contínuo]. Ao contrário, haveria uma reanálise do segmento fricativo intrusivo criado pelas condições aerodinâmicas que se dá durante a transição da vogal /i/ para as correspondentes plosivas. O processo de assibilação das plosivas /t/ e /k/ origina as consoantes africadas estridentes /ʦ/ e /ʧ/, respectivamente. Uma representação geométrica aproximada desses segmentos seria como em (19).

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Sumário

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