A Participação Pública na Imprensa

July 5, 2017 | Autor: Nathane Dovale | Categoria: Comunicacion Social, Comunicação Pública, Cobertura Colaborativa
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Descrição do Produto

INSTITUTO DE ENSINO SUPERIOR DA AMAZÔNIA
FACULDADE MARTHA FALCÃO
DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL







NATHANE CHRYSTINE DOVALE CUNHA










A PARTICIPAÇÃO PÚBLICA NA IMPRENSA: DA COMUNICAÇÃO EM MASSA À COBERTURA
COLABORATIVA



















MANAUS – 2013
NATHANE CHRYSTINE DOVALE CUNHA



















A PARTICIPAÇÃO PÚBLICA NA IMPRENSA: DA COMUNICAÇÃO EM MASSA À COBERTURA
COLABORATIVA






Trabalho de Conclusão de Curso
apresentado ao Curso de Comunicação
Social da Faculdade Martha Falcão, como
requisito parcial à obtenção do grau de
Bacharel em Jornalismo.


Orientador: Prof. MsC. Jimi Aislan
Estrázulas







MANAUS – 2013
NATHANE CHRYSTINE DOVALE CUNHA





A PARTICIPAÇÃO PÚBLICA NA IMPRENSA: DA COMUNICAÇÃO EM MASSA À COBERTURA
COLABORATIVA


Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado como requisito parcial para
obtenção do grau de Bacharel em Jornalismo no Curso de Comunicação Social,
da Faculdade Martha Falcão.


Manaus, _____/_____/_____



Banca Examinadora:


______________________________________
Prof. Msc. Jimi Aislan Estrázulas
(Orientador) – Faculdade Martha Falcão

______________________________________
Prof. Msc. Grace Soares
Faculdade Martha Falcão

______________________________________
Prof. Msc. João Bosco Ferreira
Universidade Federal do Amazonas









































A Joana Dovale e Terezinha Do Vale, com muito amor.




AGRADECIMENTOS


Não há dúvidas que sem o carinho, a dedicação e apoio da minha mãe,
Joana Dovale, eu nem estaria escrevendo esses agradecimentos. Portanto,é a
ela a quem em primeiro lugar agradeço, principalmente pela paciência de ter
aguentado meu mau humor nesse período.
Agradeço a minha avó, Terezinha Dovale, por ter nervos de aço e com
tanta força vencer cada dia mais. Ela, diante de tantas histórias de
superação, é minha maior fonte de inspiração para continuar lutando pelas
coisas que eu sonho e quero.
Ao meu orientador, Jimi Aislan Estrázulas, pela coragem de ter
aceitado meu projeto, após algumas rejeições, pela paciência
demonstrada,por não ter dado confiança aos meus desesperos, pelo incentivo
e pela amizade.
Ao meu grande amigo-irmão, Adonis Perfeito, por diversas vezes ter me
amparado, aturado minhas ansiedades, nas noites não dormidas e
principalmente por saber sorrir comigo.
Agradeço bastante ao Kleiton Renzo, que me abriu os olhos para coisas
que eu não conseguia ver no meu trabalho, por ter sido tão parceiro e tão
fofo.
Agradeço aos colaboradores e parceiros do Coletivo Difusão, que
durante oficinas de cobertura colaborativa contribuíram na germinação das
ideias deste trabalho, em especial Allan Gomes, pelas conversas, debates e
ajuda nas traduções, e ao Thiago Hermido, grande parceiro de conversas e
amadurecimentos.
Agradeço a Andrea Oliveira, minha irmã e melhor amiga, ao Eddy
Fernandes por todo apoio e carinho necessário que me deu, a Susy Freitas e
Aline Fidelix, pelos materiais que ofereceram e que ajudaram bastante.
Ao Cláudio Pinheiro, Juliana Sá, Rafael Valentim, Lívia Anselmo e
Thalita Beatriz pelas conversas fortificantes.
Aos meus professores, em especial a Lourdes Moraes, que são
colaboradores disso tudo.
A turma talentosa da UEA, que diversas vezes me amparou:Janaína,
Ítalo, Karol, Gleidistone, Eduardo e Jhonatas.
Aos que trabalham no Portal D24AM, principalmente ao meu editor Dante
Graça e Manuella Barros, pela compreensão quando precisei me ausentar para
realizar este trabalho.




































Por amor ou por besteira?
Chico Science e Nação Zumbi

Só existe imprensa livre quando o povo é livre; imprensa independente em
nação independente - e não há nação verdadeiramente independente em que o
seu povo não seja livre.
Nelson Werneck Sodré
CUNHA, Nathane Chrystine Dovale. A Participação Pública na Imprensa: Da
Comunicação em Massa à Cobertura Colaborativa. 2013. 76 fls. Trabalho de
Conclusão de Curso. (Curso de Graduação em Comunicação Social: habilitação
em Jornalismo). Instituto de Ensino Superior da Amazônia – Faculdade Martha
Falcão, Manaus. 2013.

RESUMO

Este trabalho é uma análise histórico-comunicacional da participação social
na produção de notícias e tomada das mídias como uso pessoal. Através de
pesquisa bibliográfica, este trabalho se propôs a explorar um tema que
inicia um processo de discussão pública, qual seja, a participação social
na produção de conteúdos. Essa participação tem relação direta não só com o
domínio tecnológico dos aparelhos, como a tomada para si do processo
democrático do espaço público. A retomada histórica traz a noção de que o
processo de participação e emancipação social não é resultado da dominação
midiática, sobretudo com os dispositivos móveis, mas de um amadurecimento
político-democrático caro ao processo de constituição da pós-modernidade,
cujo início data dos anos 1970, mas que continua hoje em franca
metamorfose.

PALAVRAS–CHAVE: Jornalismo colaborativo, Jornalismo comunitário, Cobertura
colaborativa, Jornalismo, Mídias Sociais.










CUNHA, Nathane Chrystine Dovale. The Public Participation in the Media:
From Mass Communication to Cover Collaborative. 2013. 76 fls. Completion Of
Course Work. (Social Communication Graduation Course: Journalism degree).
Community College Amazonian - Martha Falcão College, Manaus. 2013.

ABSTRACT

This work is a communicational historical analysis of social participation
in the production of news and the media outlet as personal use. Through
literature, the study proposes to explore a theme that begins the process
of public discussion that is social participation in content production.
This participation is directly related not only to the field of
technological devices, like taking for themselves the democratic process of
public space. The historical resume brings the notion that the process of
participation and social emancipation is not the result of media
domination, especially with mobile devices, but a political and democratic
maturity from postmodernity. Process beginning in the 70s, but which
continues today in frank metamorphosis.

KEYWORDS: Collaborative Journalism, Community Journalism, Collaborative
Coverage, Journalism, Social Media.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES


"FIGURA 1 "Página de notícias do Portal "52 "
" "JusBrasil " "
"FIGURA 2 "Página de notícias do Portal "52 "
" "Estadão " "










































SUMÁRIO


INTRODUÇÃO 1
1 SOCIEDADE OBSERVA A MÍDIA 3
1.1 Surgimento da Imprensa 3
1.2 Espaço Público 8
1.3 Fortalecimento das mídias 12
1.4 O quarto poder 19
1.5 Agenda-setting e gatekeeper 22
2 SOCIEDADE COMEÇA A PARTICIPAR DA PRODUÇÃO DA MÍDIA 26
2.1 Pós-Modernidade e os Novos Movimentos Sociais 26
2.2 Ciência Pós-Moderna 30
2.3 Escolas de Estudo em Comunicação 32
2.4 Jornalismo Comunitário 33
2.5 Comunicação Popular Participativa 37
3 SOCIEDADE PARTICIPA ATIVAMENTE 40
3.1 Digitalização dos Medias 41
3.1.1 A Mobilidade das Mídias 48
3.2 Usuário como gerador de conteúdo e as Mídias Sociais 49
3.3 Jornalismo Participativo 53
3.4 Cobertura Colaborativa 55
CONSIDERAÇÕES FINAIS 59
REFERÊNCIAS 62

INTRODUÇÃO


Este projeto pretende traçar, em ordem cronológica, como se
desenvolveu a participação do público na imprensa. Para que se entenda de
que forma ocorreu essa emancipação da sociedade frente aos primeiros moldes
das mídias, foi realizado um estudo bibliográfico da história da imprensa,
desde seu surgimento até os dias atuais. Através desta modalidade de
pesquisa, estabeleceram-se dois momentos que marcam a participação popular
na imprensa: o jornalismo comunitário e a cobertura colaborativa.
O jornalismo comunitário, que foi impulsionado pelos estudos da Escola
Latino-Americana, permite que a comunidade participe das pautas e apurações
de notícias, além de incentivar um debate acerca do que está sendo
noticiado. Neste caso, o jornalismo comunitário permite que a comunidade
seja um agente importante.
Já a cobertura colaborativa valoriza a diversidade de olhares acerca
dos eventos produzidos, a utilização da internet para difundir produtos
comunicacionais e o livre arbítrio na produção da matéria (que pode ser
feita coletiva ou individualmente).
Assim, como objetivos específicos relacionados ao planejamento, esta
pesquisa buscou: a) observar como a sociedade percebe a mídia desde o
início da imprensa; b) analisar o momento a partir do qual se pode perceber
intervenções de público no cotidiano de produção de notícias dos jornais;
e c) esclarecer de que maneira a sociedade observa a mídia como plataforma
participativa.
Para que sejam sustentadas as discussões do tema e nas vivências
empíricas passadas dentro das redações e em oficinas de cobertura
colaborativa este trabalho apresenta ampla variedade de referenciais
teóricos. Dessa forma, as constatações deste projeto são de caráter teórico
relevante, pois a partir da história da comunicação, delimitado no
surgimento da escrita, até a forma que atualmente se trabalha a produção de
notícia, será traçada uma ordem cronológica de participação do público na
imprensa.
A motivação na escolha deste tema partiu de duas ideias macro. A
primeira surgiu de situações vivenciadas em empresas jornalísticas aliadas
a estudos teóricos sobre jornalismo comunitário; já a segunda se deu a
partir do contato que estabeleci com a cobertura colaborativa do Festival
de Artes Integradas Até o Tucupi nos anos de 2011 e 2012, na cidade de
Manaus.
A responsabilidade do jornalismo em ser honesto (quanto às notícias
que são veiculadas, e não apenas reproduzir declarações não apuradas de
fontes, diga-se) , dá ao espectador um estado de confiança nos meios de
comunicação. Contudo, por motivos empresariais, como patrocínios e
publicidade, o serviço de interesse público acaba por ser esquecido.
Através dos avanços tecnológicos e pelo fato de a rede online agregar
cada vez mais público, percebemos que os segmentos sociais demonstram
grande interesse em atuar diretamente nas notícias que são veiculadas.
No primeiro capítulo desta pesquisa, é esmiuçado o surgimento da
imprensa desde o aparecimento da escrita. Nele, busca-se relatar de que
forma a mídia surgiu, bem como as dificuldades enfrentadas pelos interesses
predominantes. Assim, relacionam-se então estas características à
participação do público, ainda tímida.
O segundo capítulo analisa como a pós-modernidade influenciou nas
ideologias da sociedade a ponto de questioná-las sobre tudo que antes era
apenas obedecido. Expondo os novos movimentos sociais e o impacto que estes
causaram tanto em comportamentos, quanto nos estudos acerca da comunicação,
este capítulo demonstra o que de fato estimulou o público a olhar a mídia
com outros olhos.
No terceiro capítulo, finalmente, é exposta a maneira pela qual as
novas tecnologias influenciaram a dinâmica dos meios de comunicação a fim
de que estes tornassem o público mais participativo. A partir daí, fala-se
sobre o jornalismo participativo como forma de familiarizar a sociedade com
a imprensa e sobre a cobertura colaborativa dos festivais de música e sua
influência na participação pública nas mídias.
Ao final desta pesquisa são feitas considerações sobre quais formas
diretas e indiretas contribuíram para uma imprensa local mais
participativa, mesmo que toda essa mudança ainda não seja tão clara ao
público.
1 SOCIEDADE OBSERVA A MÍDIA

1.1 Surgimento da Imprensa



Datada em aproximadamente cinco mil anos antes de Cristo, a escrita é
atribuída ao povo de Uruk, ao sul da Mesopotâmia (atual região ocupada pelo
Estado do Iraque). A despeito disso, foi em idioma sumério que se encontrou
monumentos escritos em pictogramas e ideogramas[1], visto que na época não
existia o alfabeto tal como o concebemos atualmente, pois o abecedário
atual só foi sistematizado três mil anos depois pelos fenícios.
A invenção da escrita pelos sumérios partiu de necessidades de
administração diretamente ligadas ao comércio como, por exemplo, cobrança
de impostos, registro de cabeças de gado, etc. Buggy (2013) declara que
primeiro surgiram os pictogramas e somente quatro mil anos depois estes
foram transformados em ideogramas. Fica claro, portanto, que os eventos
anteriores a esta transformação eram somente registrados pela tradição oral
e esta evolução, por sua vez, permitiu que o homem literalmente escrevesse
a sua história.
Desse modo, percebe-se que a evolução dos símbolos representantes de
objetos para símbolos representantes de ideias se deu por uma necessidade
dos sumérios de cada vez mais legitimar seus pensamentos e expressões
através da escrita.
Provando que a necessidade de expressão através da escrita não era
exclusiva do povo sumério, logo houve a transição do ideograma para o
hieróglifo[2], sistema no qual se permitia a palavras novas ou
desconhecidas a possibilidade de serem pronunciadas conforme seus sons,
utilizando sinais gráficos familiares. Nesta nova fase da história da
escrita se admite outra evolução gradual silábica na qual palavras
desconhecidas poderiam ser escritas, conforme declara Buggy (2013).
Todos os povos que tiveram sua importância na origem da escrita
estavam ligados ao comércio e mantinham negócios com a China através de
intermediários. Deste modo, avalia-se a possibilidade dos povos Uruk,
fenícios e sumérios – que tiveram grandes influências neste processo- sido
a grande inspiração dos chineses, afinal a técnica de imprimir com
caracteres tem origem asiática no século XI, através de ensaios de
impressão por meio de caracteres móveis, só que de terracota, que tornava o
sistema mais caro.
A grande revolução na difusão da escrita é marcada pela invenção da
imprensa. Na China, a impressão praticada desde o século VIII (talvez até
antes desse período) tinha geralmente como método utilizado a chamada
impressão em blocos, no qual se usava um bloco de madeira entalhada para
imprimir uma única página de um texto específico.


O procedimento era apropriado para culturas que empregavam
milhares de ideogramas, e não um alfabeto de 20 ou 30
letras. Provavelmente por essa razão teve poucas
consequências à invenção de tipos móveis no século XI na
China. No entanto, no início do século XV, os coreanos
criaram uma fôrma de tipos móveis. (BRIGGS; BURKE, 2006,
p. 24).

A invenção ocidental – como ficou conhecida a prensa gráfica criada
pelo alemão Johannes Gutenberg (c.1400-68) no século XV– que imprimiu em
papel a Bíblia pode ter sido estimulada pelas notícias do que acontecia no
Oriente.
O mérito da invenção da imprensa fora atribuído a Gutenberg, por conta
da ideia dos tipos móveis – a tipografia – e pelo aperfeiçoamento da
prensa, "que já era conhecida e utilizada para cunhar moedas, espremer
uvas, fazer impressões em tecido e acetinar papel", conforme afirma Gaspar
(2004, p. 1). O aprimoramento da prensa teria acontecido em uma casa de
moeda, na cidade alemã de Mogúncia, onde o pai e o tio de Gutenberg eram
funcionários e ali ensinaram a ele a arte da precisão em trabalhos de
metal.
Partindo para Estrasburgo, Gutenberg desenvolveu, no ano provável de
1442, um pedaço de papel com onze linhas, neste que seria o primeiro
exemplar de sua prensa original. Vinte anos depois, ele regressou à
Mogúncia, fazendo ali empréstimo de 800 ducados com Johann Fust e, em
seguida, fundando a Fábrica de Livros (Das Werk der Buchei). (GASPAR, 2004,
p. 2).
Somente no início de 1450, Gutenberg teria iniciado a impressão da
Bíblia em módulo de quarenta e duas linhas, em duas colunas, publicada em
1455. Porém, para Defleur e Ball-Rokeach (1993), Gutenberg não tinha ideia
de que sua invenção (que precisou de mais de vinte anos de aperfeiçoamento)
seria bem-sucedida.
Segundo Briggs;Burke (2006), Gutenberg teria escolhido a impressão da
bíblia como primeiro trabalho a ser comercializado para os ricos, pois para
ele, o grande público encararia suas impressões como imitação ordinária e
os amantes dos livros iriam preferir uma cópia à mão.
Defleur e Ball-Rokeach (1993) declaram que Gutenberg não chegou a
desfrutar os resultados da invenção, pois precisou de pesados empréstimos
para aperfeiçoar o sistema. Após terminar a impressão da bíblia, o advogado
que concedeu empréstimos a Gutenberg o processou , conseguindo, assim,
despojá-lo de sua oficina, de sua invenção por inteiro, dos exemplares da
Bíblia e de tudo que ele tinha. Ao fim desse processo, cerca de dez anos
depois, Gutenberg morreu pobre.
Para Tosseri (2010), porém, Gutenberg não inventou a imprensa no
século XV, mas a reinventou, pois, a invenção do papel pelos chineses nos
anos 105 da era cristã abriu caminho para uma produção, ainda artesanal, de
um maior número de livros. Além do mais, já existiam a gravura em pedra e a
impressão em blocos, criada pelos chineses.


[...] O alemão Gutenberg, dito inventor da imprensa, mas
na verdade foi um homem que aperfeiçoou de maneira
decisiva a arte asiática. Ele desenvolveu os caracteres
móveis de chumbo, que podiam ser utilizados
indefinidamente, além de uma nova tinta de impressão e a
prensa de imprimir. Com isso, mudou definitivamente o
mundo, em todas as suas dimensões: política, econômica,
social e religiosa. (TOSSERI, 2010, s/p)




Com a diáspora dos impressores germânicos, era produzida uma média de
500 cópias por edição, equivalendo a 13 milhões de livros circulando
naquela data em uma Europa de cem milhões de habitantes. Contudo, a
revolução da impressão gráfica não foi tão facilmente aceita em outros
lugares.
Na Rússia e no mundo cristão ortodoxo, onde a educação formal era
confinada ao clero, a imprensa gráfica teve dificuldades para se habitar.
Conforme Briggs e Burke (2006), a revolução da impressão gráfica não era um
fator independente de acontecer e não se ligava somente à tecnologia, pois
era preciso haver condições sociais e culturais favoráveis para se
disseminar.
A impressão gráfica na Rússia só teve seu lugar quando, no século
XVIII, o czar Pedro, o Grande, foi aos poucos fundando gráficas, com o
interesse na educação, para tornar os russos próximos da ciência e
tecnologia modernas, em especial a militar.
A questão religiosa como detentora da educação e opositora à revolução
da imprensa foi bastante forte no mundo muçulmano. A oposição à gráfica era
justificada pelo medo de cometer heresia e em função de produzir
aprendizado sobre o Ocidente. Chegaram-se, inclusive, a serem criados
decretos punindo com morte quem praticasse a impressão.
Este reflexo da revolução da imprensa na sociedade da época traz
consigo a difusão da alfabetização e a forma que ela reverberou na formação
de opiniões. A impressão gráfica foi dificilmente aceita, não apenas pela
novidade, mas pelo medo dos poderes predominantes de perderem sua autonomia
diante do povo, visto que através destes novos públicos passariam a ter
mais acesso aos livros e, consequentemente, à informação. Havia o uso desta
restrição por parte do clero e do governo, visto que estes usufruíam do
controle absoluto dos canais de informações e através dele desenvolviam uma
modalidade de oratória estratégica a ponto de manipular o que deveria ser
pensado e obedecido.
Oldenburg, o primeiro secretário da Sociedade Real de Londres,
relacionou a ausência da impressão gráfica com o despotismo. Em uma carta,
em 1659, ele observou que:

O Grande Turco é um inimigo da aprendizagem para seus
súditos, porque ele acha vantajoso conservar as pessoas na
ignorância para poder impor-se. Por isso não tolerará
qualquer impresso, sendo da opinião de que a impressão
gráfica e o aprendizado, especialmente aquele encontrado
nas universidades, são o combustível principal da divisão
entre cristãos (OLDENBURG, 1659, apud BRIGGS; BURKE, 2006,
p.25).

O clero considerava a impressão gráfica um problema, pois esta
permitia aos cristãos de baixa posição na hierarquia social e cultural da
época estudar os textos religiosos de maneira autônoma ao controle da
Igreja e, desta forma, tornavam-se independentes quanto às as autoridades
que representavam fontes de in(formação). (BRIGGS; BURKE, 2006).
A impressão gráfica contribuiu sobremaneira para a difusão da
alfabetização. Ainda com todas suas restrições, no início do século XVI,
vários livros estavam sendo produzidos e seus exemplares impressos em
papel. Uma vez publicados em todas as línguas europeias e acessíveis a
qualquer pessoa alfabetizada em seu idioma, a ampla disponibilidade dos
livros despertou interesse na aprendizagem da leitura.
Condorcet (apud SANTOS, 2009, p. 15) considerou o surgimento da
imprensa, junto com a escrita, um dos marcos do que classifica como
"progresso da mente humana", pois, para ele, a imprensa foi crucial para a
divulgação mais corrente do conhecimento, na medida que destitui grupos
poderosos de um controle eficaz sobre a informação.


Pela primeira vez, as Escrituras estavam acessíveis em
outra língua que não o latim. Não mais podia a Igreja
Romana guardar cautelosamente as escrituras sagradas
graças ao emprego de uma língua antiga. A acessibilidade
das Escrituras pelas pessoas comuns, em suas próprias
línguas, acabou levando a desafios às autoridades e às
interpretações de Roma. Um novo veículo de comunicação,
pois, abriu caminho para protestos contra a estrutura
religiosa e social existente (DEFLEUR; BALL-ROKEACH, 1993,
p. 39).

Com a impressão e a ideia de se noticiar acontecimentos através da
escrita, os noticiosos surgiram bastante cedo no continente europeu.
Segundo Rudin e Ibbotston (2008), o primeiro período no qual se teve
evidências de que uma população de massa teve acesso a relatos de
acontecimentos impressos foi em meados do século XVII, durante a Guerra
Civil Inglesa[3]. Porém, não se sabe ao certo quando surgiu a primeira
publicação do que poderia ser chamado de jornal. Alguns historiadores
defendem a ideia de que esta modalidade de informação surgiu por volta de
1620 na Itália e na Alemanha.
As restrições a publicar qualquer acontecimento se impuseram como
condição para a circulação dos jornais. Na Inglaterra, por exemplo, até
1694, qualquer pessoa que quisesse publicar algo deveria solicitar licença
do Estado previamente. Outro ponto destacado pelos autores é quanto às
críticas às autoridades. Ainda que fossem embasadas e justificadas, quem as
fizesse estaria sujeito à prisão. (RUDIN; IBBOTSTON, 2008)
A liberdade de imprensa foi sendo aos poucos conquistada no século
XVII. Um exemplo disso foi a abolição da Star Chamber, na Inglaterra, em
1641, evento no qual o Rei se via impossibilitado de censurar ou barrar
questões contenciosas, permitindo, assim, certa liberdade de imprensa.
Porém, a tal liberdade de imprensa conquistada não durou por muito
tempo. Com a vitória dos Parlamentares na Guerra Civil Inglesa, fato que
gerou a necessidade de propagação de informações e propaganda, Oliver
Cromwell instaurou um rigoroso sistema de autorização para jornais e
severos controles de impressão: "O London Gazette, fundado em fevereiro de
1666, sobreviveu ao tempo e hoje é o periódico mais antigo do mundo. O
primeiro jornal diário da Inglaterra foi o Daily Courant, que começou a ser
publicado em 1702." (RUDIN; IBBOTSON, 2008, p. 18).
Para evitar críticas indesejadas nos noticiosos, as autoridades
criavam dificuldades para que estes jornais não saíssem, como por exemplo,
a cobrança abusiva de impostos sobre o preço dos impressos e na veiculação
de propagandas. Conforme Rudin e Ibbotson (2008), desta forma o Estado
acreditava que os jornais não seriam disponibilizados para a maioria da
população e assim não haveria perigo de as massas serem convencidas por
ideias e informações que as deixassem insatisfeitas e até revoltosas.
Foi em Nova York, em 1830, que surgiram alternativas para que as
informações circulassem mais através do pennypress, o "jornal de tostão".
Segundo Defleur e Ball-Rokeach (1993), o primeiro veículo de massa de fato
surgiu depois de se ter encontrado uma forma de financiamento de um jornal
barato para ampla distribuição, sendo criadas assim técnicas para rápida
impressão e difusão.
Briggs e Burke (2006) observam a impressão gráfica como um
catalisador de mudança, e não como uma revolução. Para eles, dar ênfase à
revolução da impressão é colocá-la como agente de mudança e exaltá-la ao
meio de comunicação em detrimento de escritores, impressores e leitores que
usaram a tecnologia, cada qual segundo seus próprios e diferentes
objetivos. Segundo os autores, é mais realista ver a nova técnica como
incentivo que mais ajudou as mudanças sociais do que as originou.
Já Pena (2005) considera a impressão como a verdadeira revolução da
história do jornalismo. Entretanto, o autor destaca que não basta que a
imprensa não seja constituída pelo calor industrial dos tipos móveis; é
preciso saber que espaço ela vai ocupar. Afinal, "[...] esse espaço é o
público, que também vai passar por uma série de transformações." (PENA,
2005, p. 28).

2. Espaço Público


Genericamente, os jornais foram um dos meios que contribuíram na
difusão da opinião pública (BRIGGS E BURKE, 2006). Isto foi possível após a
publicação do livro de Jürgen Habermas (nascido em 1929), no qual se
permitiu o surgimento do conceito de "esfera pública".
Este espaço público, teorizado por Habermas (2003), se trata de um
local onde se formam opiniões e decisões políticas, se dá legitimidade ao
exercício do poder e no qual pessoas privadas discutem assuntos públicos.
Inicialmente estes debates aconteciam em cafés, clubes e salões inspirados
pelo espírito iluminista[4] da época.
Com o Renascimento, no Ocidente, por exemplo, perdeu-se a visão
teocêntrica para dar lugar a homocêntrica, na qual o homem era o centro do
mundo. Desta maneira, os dogmas e formas religiosas de conhecimento
começaram a ser rejeitadas e, consequentemente, as pessoas começaram a
questionar todos os pensamentos que a igreja os coagiam a ter.
Segundo Sousa (2006), o espírito renascentista[5] do final do século
XIV e meados do século XVI alteraram o clima político e religioso tanto na
Europa quanto na China, contrário à circulação de informação e à
alfabetização de cidadãos. Assim deu-se andamento às estratégias de
dominação sócio-política e religiosa.

Os descobrimentos agudizaram a urgência em conhecer. [...]
Pode, assim, dizer-se que o espírito renascentista, a fome
de conhecimento originada pelos descobrimentos e a
tipografia gutenberguiana detonaram a explosão da
comunicação. (SOUSA, 2006, p.137).


A separação entre Estado e povo se deu a partir da Idade Moderna.
Anterior a isso, na Idade Média, não se considerava os conceitos de esfera
pública e nem privada, visto que uma não era diferente da outra e não havia
a discussão pública. Desta maneira, ao longo de toda a Idade Média as
categorias de público e privado obedeceram a definições do Direito Romano,
tal como, a esfera pública como res pública. Esta esfera só passa a ter
novamente uma aplicação processual jurídica, como era na Grécia e em Roma,
com o surgimento do Estado moderno e com a esfera da sociedade civil
separada dele. Assim sendo, "servem para a evidência política, bem como
para a institucionalização jurídica, em sentido específico, de uma esfera
pública burguesa" (HABERMAS, 2003, p. 16).
Isso não significa que a separação entre as categorias de público e
privado não era visada em período anterior à Idade Moderna. Habermas (2003)
declara que as definições de público e privado são de origem grega, porém
nos foram transmitidas em sua versão romana, por exemplo: na cidade-estado
grega desenvolvida, a esfera da pólis comum ao cidadão livre (koiné) é
rigorosamente separada da esfera particular a cada indivíduo.
Entre as características da esfera privada grega, Habermas (2003)
destaca a ordenação política baseada na economia escravagista em forma
patrimonial e os cidadãos dispensados efetivamente do trabalho produtivo.
A participação desses cidadãos na vida pública, entretanto, depende da
autonomia privada deles como senhores de casa; e a não posse de escravos
como empecilho no sentido de poder participar na pólis.
Já a esfera pública grega significava na conversação dos cidadãos
entre si é que as coisas se verbalizam e se configuram. "Só à luz da esfera
pública é que aquilo que é consegue aparecer, tudo se torna visível a
todos" (HABERMAS, 2003, p. 16). Se na Grécia o que era público era tratado
por pessoas públicas, e o que era privado, por sua vez, era tratado por
pessoas privadas, para Habermas (2003, apud GUEDES, 2010, p. 2), o conceito
de representatividade pública vinculada à autoridade estava relacionado ao
cargo, aos atributos da soberania, à hereditariedade, ao status da pessoa e
não a um setor social.
Desta forma arrisca-se dizer que o Renascimento influenciou as
definições de Habermas (2003) sobre o espaço público, visto que o movimento
tinha como uma de suas características reviver a antiga cultura greco-
romana. O autor se apropria primeiramente das definições de público e
privado que surgiram na Grécia e foram transmitidas em versão romana para,
a partir disso, defender seu conceito de espaço público.
Apesar do modelo de esfera pública helênica, Sousa (2006) afirma que
Habermas (2003) só considera o nascimento do espaço público moderno (ou
esfera pública) e o surgimento dos conceitos de público (no sentido do que
deve ser publicitado, tornado público) e privado no século XVIII.
Segundo Habermas (2003), o conceito político de esfera pública surgiu
inicialmente na Inglaterra. Desta maneira, forças que queriam exercer
influências nas decisões do poder do Estado recorreram ao público pensante
"a fim de legitimar reivindicações ante esse novo fórum".

No contexto dessa práxis, a assembleia dos estados se
constitui num moderno parlamento, processo que se estende
ao longo de todo o século. Ainda está para ser esclarecido
por que, tão mais cedo na Inglaterra do que noutros
países, manifestam-se certos conflitos que contam com a
participação do público (HABERMAS, 2003, p.75).


Foi em cafés, salões, clubes, etc. que a classe burguesa emergente
deu prova do seu requinte e das suas ambições intelectuais, em confronto
com a velha aristocracia nobiliárquica. Nos séculos XVIII e XIX, estes
locais abrigavam fregueses que faziam circular notícias, debates políticos
e crítica literária produzidas pelos próprios fregueses que se apropriavam
destes espaços para externar sua opinião pública (ESTEVES apud SENA, 2007,
p. 277).
Para Habermas (apud GUEDES, 2010, p.2), a esfera pública burguesa
podia ser compreendida inicialmente como a esfera das pessoas privadas
reunidas em um espaço público. Desta forma, elas reivindicavam esta esfera
pública regulamentada pela autoridade, mas diretamente contra a própria
autoridade. O objetivo era discutir com esta autoridade as leis gerais da
troca na esfera fundamentalmente privada, mas publicamente relevante, as
leis de mercadoria e do trabalho social.
Guedes (2010) considera o conceito de esfera pública de Habermas como
excludente, pois, na concepção deste, tratava-se de um espaço, dito
público, mas voltado para os interesses e valores de uma classe emergente
na sociedade.
Com a emergência da imprensa os debates travados foram transferidos
de cafés e salões para jornais e revistas. Com isto, a imprensa foi a
primeira "grande instância mediadora na configuração do espaço público
moderno" (SOUSA, 2006, p. 140).
No século XIX a imprensa impulsionava debates, formações de opiniões
e polêmicas foi dando lugar a imprensa comercial com interesse
mercadológico. Conforme demonstra Habermas (2003, apud GUEDES, 2010, p. 4),
"à medida que o setor público se imbricava com o privado, a esfera pública
burguesa deixava de existir". Desta maneira, Habermas (2003) acusa a
imprensa de prejudicar a coerência do discurso político, visto que ela
permitiu a integração dos cidadãos menos cultos em espaços públicos, logo,
em discussões políticas.

Os jornais passaram de meras instituições publicadoras de
notícias para, além disso, serem porta-vozes e condutores
da opinião pública, meios de luta da política partidária.
Isso teve, para a organização interna da empresa
jornalística, a consequência de que, entre a coleta de
informações e a publicação de notícias, se inseriu um novo
membro: a redação. Mas, para o editor de jornal, teve o
significado de que ele passou de vendedor de novas
notícias a comerciante com opinião pública. (BUCHER apud
HABERMAS, 2003, p. 214).



Outra questão problematizada por Habermas (2003) é a mercantilização
da imprensa, a qual interferia diretamente no nível e na racionalidade do
debate tornando os estados crescentemente intervencionistas, com o objetivo
de atenuar ou eliminar os problemas econômicos, políticos e sociais que
enfrentavam.
Assim sendo, organizações interessadas em se tornar parceiras dos
Estados e também com interesses de seguir com seus objetivos, transformaram
a comunicação pública racional dos tempos iniciais do espaço público em
relações públicas, publicidade e entretenimento, conforme declara Santos
(1998). Estes fatores não apenas atenuaram os limites entre o público e o
privado, como também permitiram a desagregação, desintegração e
feudalização do espaço público (SANTOS, 1998, apud SOUSA, 2006, p. 141).
Um dos pilares de sustentação da democracia, a capacidade
escrutinadora e crítica do público não esteve mais vivamente atuante,
causando, desta forma, prejuízo ao próprio sistema democrático. Acresce-se
a isso o fato de que com o espaço público moderno se estabelece, em grande
parte, na esfera mediática, aqueles que são excluídos pelos media
massificados, consequentemente, não participam no espaço público, conforme
declara Sousa (2006).


A concorrência dos interesses privados organizados penetra
na esfera pública. Se, outrora, neutralizados, à base do
denominador-comum do interesse de classes, pretendiam
possibilitar uma certa racionalidade porque eram
interesses privados isolados, permitindo também uma
efetiva discussão pública, hoje, no lugar disso, já
apareceu a manifestação de interesses concorrentes.
(HABERMAS, 2003, p. 211).

3. Fortalecimento das mídias


No século XIX, segundo Sousa (2006), o espaço público foi ganhando
outros lugares no campo dos media com o aparecimento de novos meios de
comunicação que se juntaram aos anteriores e assim multiplicaram as formas
de interação em sociedade. O resultado disso foi o impacto tecnológico
experimentado pelo jornalismo no século XIX:

A fotografia nasceu na década de vinte do século XIX, com
os inventos de Niépce, embora seja a Daguérre, o inventor
do daguerreotipo, que foi dada a honra de progenitor do
médium, devido à sua consagração pela Assembleia Nacional
da França, em 1839. A eletricidade, descoberta, em 1853,
pelo italiano Alessandro Volta (inventor da pilha,
justamente chamada pilha de Volta), provoca uma revolução.
O telefone nasce em 1876 (Alexander Graham Bell). O
telégrafo aparece em 1878 (Baudot), no mesmo ano em que
surge o fonógrafo de Edison, o inventor da lâmpada
elétrica (igualmente patenteada em 1878). Em 1896,
Gublielmo Marconi faz a primeira transmissão rádio. Em
1895, os irmãos Lumière inventam o cinema, que adquiriu
som e cor já no século XX e que veio a constituir o
primeiro grande responsável pela internacionalização da
cultura de massas. (SOUSA, 2006, p. 142).


Este período tecnológico permitiu a difusão mais rápida de notícias
por conta de outras invenções que foram surgindo. Afinal, embora o jornal
de massa chegasse à década de 1830, segundo declara Defleur e Ball-Rokeach
(1993), ele ainda era limitado em termos de coleta de notícias, tecnologia
de impressão e distribuição. Com as inovações científicas, mecânicas e
técnicas surgidas no século XX, várias possibilidades de crescimento do
jornal de massa foram surgindo.
As ferrovias, meio de transporte considerado por Briggs e Burke
(2006) o primeiro dispositivo de comunicação que prepara o caminho até o
transistor, alcançaram distâncias cada vez maiores no período em questão e
permitiu cada vez mais a criação de guias de viagens e romances sobre
países estrangeiros mais visitados – como na Europa, onde se desenvolveu a
literatura ferroviária.
Com o desenvolvimento cada vez maior das ferrovias, o novo meio de
transporte alavancou a demanda de carvão e ferro, baixou os custos dos
negócios, desenvolveu mercados, estimulou o emprego em várias indústrias e
criou outras novas comunidades. Por conta desta forte industrialização,
tornou-se notável as visões superior e inferior de poder. De um lado, a
classe menos favorecida financeiramente, que agora podia sair de seu local
natal, para outra cidade através das ferrovias. De outro, a fortuna que os
senhores de ferrovia acumulavam. Assim, a mudança de hábito foi causada na
sociedade em geral e refletida na imprensa da época.
Neste período, todas as novidades que surgiam com as ferrovias eram
noticiadas, inclusive os acidentes ferroviários que serviam de matéria-
prima para revistas e jornais. Segundo Defleur e Ball-Rokeach (1993), cada
vez mais os jornais buscavam coletar/ produzir notícias exigindo, desta
forma, um trabalho mais complexo e especializado do repórter.
Embora boa parte dessas notícias ainda surgisse como forma de
divulgar as novas descobertas e inovações, os jornais começavam a adquirir
popularidade. Segundo Defleur e Ball-Rokeach (1993), nesta época, com
frequência os jornais buscavam produzir notícias e, deste modo, o papel do
repórter tornou-se mais complexo e especializado, por conta dos jornalistas
correspondentes estrangeiros e colhedores de notícias especializados em
diversas áreas.
Além dos jornais, cooperativas de coleta de notícias eram formadas,
enviando assim informações de diversas partes do país com os quais se
tinham contratos de prestação de serviço. Quanto à qualidade de impressão,
cada vez mais, a tecnologia avançava, permitindo, assim, uma difusão e
automação maior dos jornais.

As agências enviavam estórias para jornais em muitas
partes do país. [...] Graças a estes acordos, a equipe de
um jornal próxima do acontecimento podia cobrir a estória
para muitos jornais de outras partes, assim reduzindo
grandemente o custo. Tais progressos levaram o jornal a
cidades e vilas menores e até às recém-instaladas cidades
do Oeste. A tecnologia de impressão dava grandes passadas,
avançando para uma automação cada vez maior. Impressoras
rotativas, com clichês fundidos em um estereótipo
metálico, tornaram-se capazes de imprimir 10.000 e até
20.000 folhas por hora. (DEFLEUR; BALL-ROKEACH, 1993, p.
70).

Com característica publicitária, as notícias veiculadas comunicavam a
sociedade sobre as inovações. Um exemplo disso está na a cobertura feita
sobre o ocorrido com navio Great Eastern: em 1865, ele ganhou a maior
"publicidade que a imprensa já havia feito" (BRIGGS; BURKE, 2006, p. 132)
por ter atravessado o Oceano Atlântico carregando o primeiro cabo
transatlântico já transportado.
Os jornais continuaram a ter popularidade e o ritmo de crescimento da
circulação acelerava constantemente, mas não espetacularmente, até a década
de 1880. Nas décadas seguintes, de 1890 a -1910 mais especificamente, a
circulação de jornal por família cresceu significamente e assim prosseguiu
até por volta do início da Primeira Guerra Mundial[6], onde se nivelou
durante a década de 1920 (DEFLEUR; BALL-ROKEACH, 1993).
Outra novidade na revolução da mídia foi o telégrafo – na época, o
meio mais útil para transmissão rápida de notícias dos locais de
acontecimentos importantes para a redação dos jornais. Briggs e Burke
(2006) associam o desenvolvimento do telégrafo ao das ferrovias, visto que
métodos instantâneos de sinalização eram necessários, por motivo de
segurança, em linhas simples, embora existissem fios telegráficos que
seguiam os trilhos, não das ferrovias, mas dos canais.
O telégrafo permitiu ligações de mercados nacionais e internacionais,
incluindo bolsa de valores e de mercadorias. Além de ter aumentado a
velocidade de transmissão de informação, pública e privada, local e
regional, nacional e imperial. Com isso, em longo prazo, o telégrafo foi
tendo seu efeito mais significativo do que apenas transmitir mensagens de
um ponto para outro.
A ascensão do telégrafo se deu no momento em que a mensagem conseguiu
chegar primeiro que o mensageiro. Para McLuhan (1995), os meios elétricos,
como o telégrafo, iniciaram o processo de abolição da dimensão espacial.
"Graças à eletricidade, em toda a parte retomamos os contatos pessoa a
pessoa como se atuássemos na escala da menor das aldeias (1995, p. 287)".
Mesmo que se fale aqui de meios de transporte e de comunicação, todos
estão intrinsicamente ligados ao fortalecimento da mídia na época. São a
partir dessas primeiras invenções, naturalmente ou não, que se começa a
restringir a participação popular na imprensa. Embora essa participação
tenham promovido notáveis mudanças a toda a sociedade, tendo ela o poder ou
não, foi a partir dessas invenções que as prioridades de ter um poder
comunicando e outro apenas absorvendo foram mantidas por muito tempo.
Em 1876, o norte-americano Alexander Graham Bell (1847-1922) inventou
o telefone. Graham Bell trabalhava anteriormente ensinando falas aos
surdos, e a partir disso que pensou na ideia de transmitir sons orais por
ondas elétricas, depois, em 1874, idealizou o aparelho conforme a estrutura
do ouvido humano.
Para Rodrigues (2006), foi através de invenções como o telégrafo e o
telefone que o rádio busca a origem de sua estrutura tecnológica e assim se
beneficia para expandir. Destacando a evolução natural dos seres humanos,
que desde as pinturas rupestres nos tempos pré-históricos buscam se
comunicar, uma invenção tecnológica foi desencadeando novas formas de se
comunicar.
Ferraretto (2001) afirma que um dos marcos na história da comunicação
humana é dado pela invenção da radiodifusão. Se o telefone funcionava a
partir de uma comunicação bidirecional e privada entre duas pessoas, o
rádio usou um fluxo unidirecional e público, no qual se envia a mesma
mensagem para várias pessoas.

[...] Pode-se afirmar que a radiodifusão sonora constitui-
se no resultado do trabalho de vários pesquisadores em
diversos países ao longo do tempo, representando o esforço
do ser humano para atender a uma necessidade histórica: a
transmissão de mensagens à distância sem o contato pessoal
entre o emissor e o receptor, origem dos serviços de
correio e dos primitivos sistemas de comunicação por
sinais (tochas luminosas, bandeiras, fumaças,
tambores...), (FERRARETTO, 2001, p. 80).

Com o tempo o aperfeiçoamento do rádio aumentou e assim a voz humana
passou a ser transmitida em todo mundo. Até sua estrutura – antes grande e
pesada, motivo pelo qual apenas os navios conseguiam transportá-lo com
facilidade – foi sendo progressivamente reduzida, tornando-o mais leve e
portátil.
Defleur e Ball-Rokeach (1993) consideram espantosas as condições
sociais que rodearam o desenvolvimento inicial do rádio, sendo estas de
propriedade privada e a motivação do lucro. Embora tais condições tivessem
facilitado, e até retardado, a evolução do veículo de comunicação, era
quase impossível aperfeiçoar os componentes e comercializar equipamentos
melhores sem envolver tensas disputas judiciais por conta das patentes.

Todos os principais pioneiros do rádio, a partir de
Marconi, frequentemente se viram batalhando em juízo uns
com os outros. Lee De Forest, um dos principais inventores
dos mais importantes componentes do rádio, foi deveras
preso e acusado de fraude. O problema, claro, é que havia
fortunas a serem conseguidas no sem-fio, e a concorrência
para vincular-se a importantes invenções, a fim de explorá-
las, foi intensa (DEFLEUR; BALL-ROKEACH, 1993, p. 113).


Os sistemas de rádio puderam ser aperfeiçoados por conta da Primeira
Guerra Mundial, que impôs demandas militares de comunicação. Em seus
primeiros anos de uso, o rádio era apenas um sistema de telecomunicações
que servia para envio de telegramas, comunicações militares, comunicações
com navios em alto mar, entre outros (SOUSA apud RODRIGUES, 2006, p. 572).
O uso do rádio para comunicação com o público heterogêneo só surgiu em
1912, proposto pelo francês Raymond Braillard.
Naquele mesmo ano, o jovem engenheiro de rádio, David Sarnoff, que
trabalhava na Companhia Marconi Americana, conquistou grande atenção
pública durante o naufrágio do navio transatlântico Titanic[7]. Sarnoff
ficou em seu manipulador telegráfico, em uma estação de rádio da cidade de
Nova York, decifrando mensagens recebidas do local do desastre e repassando
ao público os detalhes do acontecimento referente ao acidente (cf. DEFLEUR;
BALL-ROKEACH, 1993). Logo após o fato, Sarnoff foi promovido para posições
mais importantes na companhia e expediu um memorando a seus superiores
mostrando como o rádio podia ser usado de uma forma economicamente
lucrativa para veicular informação de massa às famílias comuns.

Tenho em mente um plano de desenvolvimento que faria do
rádio um 'utensílio doméstico', no mesmo sentido que o
piano ou o fonógrafo. A ideia é levar música às casas
através do fio. [...] O receptor pode ser na forma de uma
simples "Caixinha de Música de Rádio" e preparada para
diferentes comprimentos de onda. [...] A "Caixinha de
Música de Rádio" pode ser acrescida de válvulas
amplificadoras e um alto-falante, tudo podendo ser montado
elegantemente em uma caixa. Esta pode ser instalada em
cima duma mesa na sala de visitas ou na sala de estar
[...]. O mesmo princípio pode ser ampliado para numerosos
outros campos como, por exemplo, ouvir palestras em casa
[...]; também acontecimentos de importância nacional podem
ser simultaneamente anunciados e recebidos. Resultados de
partidas de beisebol podem ser transmitidos no ar graças à
utilização de um aparelho instalado no estádio. [...] Esta
sugestão seria especialmente interessante para fazendeiros
e outros moradores de locais afastados das cidades
(DEFLEUR; BALL-ROKEACH, apud Sarnoff, 1993, p. 114).

Depois de dez anos, o rádio foi convertido em veículo para uso
doméstico, praticamente com o mesmo esboço proposto por Sarnoff. Seguido do
rádio, outro meio de comunicação que fortaleceu as mídias foi a televisão.
O aparelho surgiu devido ao empenho de pesquisadores e inventores que
buscavam construir um sistema que transmitisse imagem em movimento, com som
à distância. As primeiras emissões públicas regulares iniciaram no ano de
1929 em Londres (cf. SOUSA, 2006).
Em 1842, Alexander Bain conseguiu transmitir uma imagem impressa
através do telégrafo. Porém, o precursor da invenção foi o cientista sueco
Jakob Berzellus, que em 1817 observou a foto sensibilidade do selênio ao
ser exposto à luz.
Depois de 56 anos, através dos estudos do inglês Willoughby Smith, a
possibilidade de transformar energia luminosa em energia elétrica, serviu
para transmissão de imagens. Assim, após a descoberta de Berzellus e
Alexander Bain, deu-se início assim a vários estudos e aperfeiçoamento para
que a TV chegasse aonde chegou.
Sousa (2006) declara que em 1929 nos Estados Unidos a televisão se
desenvolveu por conta de investimentos de empresas comerciais. Já na
Europa, foi lançada e controlada pelo Estado. Defleur e Ball-Rokeach, por
sua vez, explicam que desde o princípio a base financeira da televisão foi
clara: "o público estava completamente acostumado a 'comerciais', e a
televisão prometia ser até mais eficaz como veículo para promoção de
vendas." (1993, p. 127).
Esse contexto provocou que a televisão se tornasse símbolo de status
socioeconômico, chegando até a causar irritação de pessoas ao ser
constatado que algumas eram ajudadas financeiramente pelo governo ou,
mediante outras formas de ajuda, possuíam receptores (DEFLEUR; BALL-
ROKEACH, 1993, p. 128).
Defleur e Ball-Rokeach (1993) destacam que a televisão até poderia ter
sido um veículo doméstico desde seu início, porém dois grandes fatores
retardaram isso: a guerra e o congelamento dos preços imposto pelo governo.
Só em 1941, às vésperas da guerra, a Federal Communication Commission (FCC)
dos Estados Unidos, aprovou a televisão doméstica, permitindo que a
indústria de comunicação iniciasse um plano para a implantação. Além do
mais, já havia cerca de cinco mil televisores em mãos de particulares, e
diversas estações transmitiam programações com tempo de duração de duas a
três horas diárias.
Após 1929, vários países aderiram à TV e grandes investimentos foram
sendo feitos para melhorar as condições de recepção televisiva. A BBC, por
exemplo, emitiu, em 1930, imagem e som simultaneamente. Mais adiante, em
1936, os Jogos de Berlim foram transmitidos pela televisão alemã para mais
de 150 pessoas. No ano seguinte, 1937, foi iniciada a transmissão regular
na França (SOUSA, 2006).
O telejornalismo só surgiu no final do século XX nos Estados Unidos.
Até então, as redes de televisão só transmitiam programas de
entretenimento, propagandas e exibições para uso político. No início, as
emissoras encontravam dificuldades na captação audiovisual e os primeiros
telejornais transmitiam documentários sobre atualidades. Apenas no final
dos anos 1960 o vídeo revolucionou as informações da TV, pois trouxe
"mobilidade, atualidade e rapidez ao telejornalismo" (SOUSA, 2006, p. 170-
171).
Com a chegada de cada novo veículo de comunicação, estes precisavam
encontrar seus nichos entre os demais. Defleur e Ball-Rokeach (1993)
indicam que alguns fatores como guerra, depressão, opulência, imigração,
urbanização, a difusão da educação e a presença de determinados elementos
tecnológicos na cultura da sociedade da informação, podem ter produzido
tensões que facilitaram, inibiram ou de outra forma afetaram o
desenvolvimento e a adoção de cada veículo de massa.

Mostrando a mídia como parte do amplo processo evolutivo
de industrialização e urbanização relaciona-os com as duas
tendências maiores da sociedade moderna. A ideia mais
antiga de serem os veículos forças formando e plasmando a
sociedade conforme desejam é simplista e ultrapassada. A
mídia formada pelos acontecimentos da sociedade como um
todo, e é profundamente influenciada pelo processo
dialético de conflitos entre forças, ideias e
acontecimentos opostos no âmbito do sistema da mídia, e
entre os veículos e outras instituições da sociedade. Por
outras palavras, há numerosas maneiras difusas pelas quais
uma sociedade exerce profunda influência sobre seus
veículos de comunicação (DEFLEUR E BALL-ROKEACH, 1993, p.
139).


4. O quarto poder


Apesar de a sociedade exercer influência sobre seus veículos de
comunicação desde o surgimento da impressão, com o fortalecimento das
mídias pode-se notar que o objetivo dos que controlavam a imprensa e
produziam notícias era apenas de informar o público conforme seus
interesses e sem a participação popular em geral. Portanto, nesta primeira
fase o que surgiu foi uma sociedade que observa o que a mídia produz.
Um dos fatores que possibilitou esta apatia do público diante da
produção de notícias e da construção do discurso jornalístico pode ser
justificado com a própria evolução da imprensa. Afinal, a história da
imprensa é a própria história do desenvolvimento da sociedade capitalista,
como destacou Sodré (1999).
O desenvolvimento da imprensa, como reflexo do desenvolvimento
capitalista na qual ela está incorporada, ocasionou em controle dos meios
de difusão de ideias e de informações. Na luta contra esse controle,
aparecem pessoas das mais diversas situações sociais, culturais e
políticas, defendendo e destacando as diferenças de interesses e aspirações
de cada uma delas (SODRÉ, 1999). O segredo da difusão da imprensa, de
acordo com Sodré (1999), consistia na forma como o capitalismo avançava, na
rapidez que chegava aos leitores e na possibilidade de conta-los aos
milhões.
Em nenhuma fase dos primeiros passos da difusão do jornalismo, o
capitalismo se mostrou interessado em tornar a sociedade como agente da
imprensa. Afinal, como as trocas eram de interesse a elementos de classes e
camadas numericamente reduzidas, "com o desenvolvimento da imprensa sendo
mais lento, ela ficou facilmente controlada pela autoridade governamental"
(SODRÉ, 1999, p. 2).
Atualmente, nota-se que a atuação da imprensa tem em termos
democráticos é muito maior do que no seu início, tornando assim as teorias
de imprensa como um "quarto Poder" (ALBUQUERQUE, 2001).
No início do século XIX, o gênero dominante era o da imprensa
opinativa ou ideológica. Apenas por volta dos anos 20 e 30 do século XX que
começaram a surgir nos Estados Unidos jornais com gêneros mais factuais e
noticiosos. Por ser um país de imigrantes, a linguagem desses jornais se
adequava a um público mais amplo e pouco conhecedor da língua (SOUSA,
2006).
Considerados jornais independentes, estes eram vistos como uma saída
para escapar da tirania da época, permitindo assim aos cidadãos engajarem-
se num debate público racional, como um recurso fundamental, observando a
imprensa a partir daí como uma proteção contra os abusos do Estado
(ALBUQUERQUE, 2001).
Designado por Álvarez (apud SOUSA, 1992, p. 150) como Primeira Geração
da Imprensa Popular, alguns dos principais motivos para o uso mais comum de
um gênero factual e noticioso foram: o aparecimento de empresas
jornalísticas devotadas ao lucro; o aumento do poder de compra; e a
concentração de pessoas em cidades, urbanização e urbanidade.
A Segunda Geração da Imprensa Popular surgiu no final do século XIX
tornando o jornal cada vez mais acessível economicamente para toda a
população americana. Embora os assuntos fossem cada vez mais direcionados
ao público, e não apenas para a elite, o interesse imediato dos donos dos
jornais era obter lucro, fosse com vendas, ou com a publicidade neles
veiculada (SOUSA, 2006, p. 153).
As mudanças nas narrativas jornalísticas possibilitaram a renovação da
área, recebendo o nome de Novo Jornalismo, através da seleção e síntese da
informação e linguagem factual, que, posteriormente, "foram transmitidas de
geração de jornalistas em geração de jornalistas, configurando-se como
traços da cultura profissional, particularmente, visíveis nas agências
noticiosas" (SOUSA apud SOUSA, 1997, p. 154).
As características apresentadas com estas mudanças incentivaram e
permitiram aos jornais se definirem como politicamente independentes e
interessados na defesa do interesse público e no comprometimento com os
fatos (ALBUQUERQUE, 2001).


A expansão da imprensa, com as suas acrescidas
responsabilidades, surge acompanhada do conceito de
"Quarto Poder", em que a defesa e vigilância da nova força
chamada "opinião pública" é invocada como dever e atua
como legitimadora da nova força social que é a imprensa.
(TRAQUINA apud SOUSA, 2006, p. 154).

Conforme explica Albuquerque (2001), o exercício do chamado "Quarto
Poder" não acontece no âmbito do Estado e muito menos se confunde com as
prerrogativas dos três poderes constitucionais, quais sejam: judiciário,
executivo e legislativo. Antes, ele acontece no compromisso que a imprensa
precisa ter com a objetividade no tratamento das notícias, com a
representação do cidadão comum frente ao Estado e com o funcionamento
eficiente do sistema de divisão de poderes (ALBURQUERQUE, 2001).
Quanto à opinião pública como ingrediente para legitimar a imprensa,
Lippmann (2008) declara que esta se trata de imagens criadas por grupos de
pessoas, ou por indivíduos agindo em nome dos grupos.

Os jornais são considerados pelos democratas uma panaceia
para seus próprios defeitos, enquanto a análise da
natureza das notícias e da base econômica do jornalismo
parece mostrar que os jornais necessária e inevitavelmente
refletem, e, portanto, em grande ou menor medida,
intensificam a defeituosa organização da opinião pública
(LIPPMANN, 2008, p. 42).

A opinião pública não surge naturalmente das pessoas, pois este é um
processo de animação social com interessados no controle social se
envolvendo. Portanto, sugere-se que os donos de jornais formem equipes
multidisciplinares formadas por cientistas sociais para passar informações
relevantes aos jornalistas (WAINBERG apud LIPPMAN, 2008, p. 15).
Nota-se que à medida que a imprensa ganhava mais autonomia, o
aprimoramento da construção do seu discurso jornalístico se fazia
necessário. Através da criação da agenda-setting e do gatekeeper se
iniciaram mudanças, "não apenas em relação à linguagem e à sua necessidade
de autonomia, mas em relação ao poder do jornalismo de seleção e produção
dos acontecimentos e à sua repercussão sobre a ordem social." (MAROCCO,
1997, p. 4-5).
Desta maneira, existem dois enunciados, considerados o espaço
privilegiado e o veículo de duas singularidades do poder do jornalismo e de
um efeito de poder do mesmo, "ora situadas na esfera da produção
jornalística, ora deslocadas à esfera da recepção e da sociedade."
(TRAQUINA apud MAROCCO, 2005, p. 7).

Por efeito de poder vem sendo mencionada, com maior ou
menor certeza por diferentes pensadores, a possibilidade
de o jornalismo ser um instrumento de controle social,
direta ou indiretamente (two step flow), ou a
possibilidade de gerar impacto no cotidiano das pessoas
expostas às notícias. (MAROCCO, 2005, p. 8).

Estas se configuram no que é e o que não é notícia e em uma ordem
jornalística da realidade.

5. Agenda-setting e gatekeeper


A partir dai, surgem duas definições que mudarão a forma de se
definir o que é notícia e de a imprensa exercer um poder sobre a sociedade:
a Agenda-Setting e o Gatekeeper.
Criada a partir de uma campanha eleitoral, para a Presidência dos
Estados Unidos em 1968 e apresentada por McCombs e Shaw, a definição de
Agenda-Setting considera os meios de comunicação como definidores dos
assuntos discutidos pelas pessoas. A teoria nada mais é que um grupo
definido de temas que serão debatidos em lugares e tempos particulares.
Sendo assim, o modelo da Agenda-Setting prevê que os temas pautados pelas
mídias serão discutidos pelas pessoas (MARTINO apud OLIVEIRA, 2010).
Entretanto, a teoria do Agenda-Setting considera que este agendamento
não acontece de forma intencional e nem exclusiva. Antes da teoria,
prevalecia nos Estados Unidos a ideia de que a comunicação social não
atuava diretamente sobre a sociedade e as pessoas, pois a influência
pessoal relativizaria, limitaria e mediatizaria os efeitos. (SOUSA, 2006).
Após a publicação de The People's choice: How the Voters Makes His
Mind in a Presidential Campaign, em 1944, por Lazarsfeld, Berelson e Gaudet
– obra resultada de um estudo científico destinado a pesquisar a influência
da rádio e da imprensa sobre a decisão de votos de uma pequena cidade
americana –, concluiu-se que os meios de comunicação estavam longe de
terem um poder quase ilimitado sobre as pessoas. Considerou-se assim, a
existência de um patamar mediador entre o público em geral e os meios de
comunicação social (two-step).
Após vários outros estudos, Lazarsfeld reconheceu, que , ao contrário
do que argumentava em seu livro, os líderes de opinião nem sempre se
encontram no topo da pirâmide social. Assim sendo, nasceu um novo modelo, o
do "fluxo de comunicação em múltiplas etapas" (multi-step), que
precisamente pretendia relevar a complexa teia de relações sociais que
medeia o efeito dos meios de comunicação social.
Sousa (2006) destaca alguns fatores que podem contribuir no sucesso do
agendamento, tal como a acumulação, processo no qual um tema abordado pela
mídia tem mais chance de passar para a agenda pública à medida que o
público é exposto mais vezes e sucessivamente às mesmas mensagens. Outro
fator é a consonância em que o tema passará mais facilmente pelo público se
as mensagens transmitidas por diferentes media forem semelhantes.

Um dos pontos mais interessantes da agenda-setting é que
pesquisas realizadas no seu âmbito vieram colocar em
questão um dos seus pilares: os media pode influenciar as
pessoas não só sobre o que pensar, mas também como se
pensar (SOUSA, 2006, p. 505).

Por sua vez, o gatekeeper[8] trabalha a seleção das notícias. O termo
foi metaforizado em 1950 por David Manning White em um artigo. Manning
White pretendia escolher apenas os assuntos que seriam noticiáveis tendo em
vista a triagem pela qual as matérias passariam em vista de serem aceitas
ou reprovadas para publicação. Na metáfora, a decisão seria justamente os
portões e o jornalista seria o porteiro. Na teoria de White, as escolhas
que passariam pelo gatekeeper, seriam subjetivas e condicionadas por
fatores como os deadlines[9].
Após a definição da teoria, vários estudos acerca do gatekeeper foram
avançando e colocando em discussão o termo. Como a subjetividade do
jornalista relegada a segundo plano, por conta das empresas; o gatekeeping
usado essencialmente para organização; o gatekeeping como redutor de
notícias e conteúdos; entre outros.
Com a teoria, vários critérios de noticiabilidade ou de valor de
notícia, propostos por Galtung e Ruge (apud Sousa, 2006), foram sendo
discutidos. Entre tantos, os autores destacam: (1) Momento e frequência do
acontecimento: cada vez mais que o acontecimento for recente e se a
cobertura se adequar ao ritmo de trabalho das empresas jornalísticas, mais
ele precisa ser notícia; (2) Intensidade ou magnitude de um acontecimento:
quanto mais intenso ou crescente for um assunto , ou ainda, quanto mais
pessoas estiverem envolvidas nele, maior é o potencial de noticiabilidade
dele ; (3) Proeminência social de pessoas e nações envolvidas: quanto maior
for a proeminência social das pessoas envolvidas ou das nações, maior a
probabilidade de elas se tornarem notícia; (4) Desenvolvimento de assuntos
anteriores: assuntos já noticiados, porém com desdobramentos novos capazes
de despertar assuntos antigos, têm maior probabilidade de serem noticiados;
(5) Negatividade: As "más notícias" são "boas notícias", isto é, possuem
potencial maior de circulação enquanto notícia; (6) Inesperado: catástrofes
naturais têm grande chance de se tornarem notícias.
Outros autores ampliaram os estudos de critérios de noticiabilidade.
Traquinas (apud SOUSA, 2006) explicitou, por exemplo, valores-notícias de
seleção, como morte, notoriedade, proximidade, entre outros; valores-
notícias de seleção contextual, como disponibilidade, equilíbrio de
noticiário; e valores-notícias de construção, no qual se mostra de que
forma o acontecimento é/ se torna importante.
Todos esses critérios foram definidos de acordo com as organizações
empresariais a fim de atrair mais leitores. Sousa (2006, p. 262) considera
as razões financeiras como um constrangimento organizacional, por conta das
decisões editoriais que afetam o meio jornalístico. O autor exemplifica
citando a dinâmica corporativa existente entre editor – o qual pode criar
novas delegações no jornal a fim de ampliar a cobertura em uma comunidade
ou país inserida –, e a administração do jornal, capaz de barrar a
veiculação de uma notícia por questões financeiras.
Para Lippmann (2008), o editor de jornal assume uma posição estranha
nas redações, por depender do arrecadamento de seus anunciantes por seus
leitores.

O Tribunal da Opinião Pública, aberto dia e noite, deve
baixar uma lei para tudo o tempo todo. Isso não é
realizável. E quando você considera a natureza das
notícias, isso não é nem pensável. Pois a notícia, como
vimos, é precisa na proporção à exatidão com que o evento
é registrado. [...] Portanto, ao todo, a qualidade das
notícias sobre a sociedade moderna é um index de sua
organização social. Quanto melhor forem as instituições,
quanto mais todos os interesses envolvidos forem
formalmente representados, mais as questões estão
desembaraçadas, mais critérios objetivos são introduzidos,
mais perfeitamente um assunto pode ser apresentado como
notícia. E no melhor dos casos a imprensa é serva e
guardiã das instituições. (LIPPMANN, 2008, p. 308).




Desta forma, cada pessoa tende a julgar um jornal pelo tratamento que
ele dá às notícias que as pessoas se sentem envolvidas. Assim como ele
trata com uma multiplicidade de eventos que estão além das experiências
vividas pelos seus leitores, há também um tratamento específico mediado
para as experiências vividas por eles. Portanto, Lippmann critica a maioria
dos leitores por entender que estes "demandam do jornal maior rigor, não
como leitores comuns, mas de litigantes em questões de sua própria
existência." (LIPPMANN, 2008, p. 281-282).

2. SOCIEDADE COMEÇA A PARTICIPAR DA PRODUÇÃO DA MÍDIA



2.1 Pós-Modernidade e os Novos Movimentos Sociais


Prevalecendo sobre os conceitos dominantes à era moderna, a Pós-
modernidade é uma condição sócio cultural e estética que deu início a um
novo tempo, após a consequente desvalorização das concepções ideológicas
predominantes.
A era tem início na década de 50 do século XX, impulsionada pela crise
do capitalismo e socialismo, e com o surgimento de novas tecnologias e
mudanças políticas, sociais e econômicas. Um grande evento marcado nesta
época foi a crise das ideologias que dominaram o século XX, como a queda do
Muro de Berlim, em 1989.
Se anteriormente o indivíduo era visto como sujeito unificado, através
das antigas identidades que estabilizaram o mundo por tanto tempo, a partir
de meados do século XX esse quadro começou a declinar dando lugar a novas
configurações, permitindo assim uma fragmentação do homem moderno. Esta
desagregação implica em paisagens culturais de classe, gênero, etnia,
sexualidade, raça e nacionalidade, que antes solidificavam o homem como
indivíduo social. Para o teórico da cultura Stuart Hall,

A sociedade não é como os sociólogos pensaram muitas
vezes, um todo unificado e bem delimitado, uma totalidade,
produzindo-se através de mudanças revolucionárias a partir
de si mesma, como o desenvolvimento de uma flor a partir
do seu bulbo. Ela está constantemente sendo descentrada ou
deslocada por forças fora de si mesma. (HALL, 2006, p. 4)


Com esta fragmentação, novos movimentos sociais foram sendo criados.
Se até o início do século XX, segundo Gohn (1997), este conceito de
movimentos sociais era válido apenas para organizações e ações dos
trabalhadores em sindicatos, na pós-modernidade o conceito de movimento
social se amplia abarcando interesses difusos.
Em termos de efeitos destrutivos do capitalismo e do industrialismo
sobre os modos tradicionais de vida, estes novos movimentos sociais se
alinhavam com os movimentos dos operários. A este respeito, Giddens declara
que


A separação atual entre os dois reflete o aumento da
consciência dos riscos de alta-consequência que o
desenvolvimento industrial, organizado ou não sob os
auspícios do capitalismo, traz em sua esteira. (GIDDENS,
1991, p. 142)




Estes novos movimentos que marcaram a pós-modernidade iam contra tanto
à política liberal capitalista do Ocidente quanto à política estalinista do
Oriente. Além do mais, estes afirmavam as dimensões subjetiva e objetiva da
política. Traziam como características em comum, a suspeita de todas as
formas burocrática de organização; favoreciam a espontaneidade; refletiam o
fim da classe política e das organizações políticas de massa, dentre outras
(HALL, 2006). Entre mudanças sociais desta era, destacam-se os movimentos
de contracultura, do feminismo, a revolução sexual e as lutas negras.
O movimento de contracultura usava os meios de comunicação em massa
para se mobilizar e contestar socialmente sobre seus desassossegos. Ele
começa a dar seus passos na década de 1950, por conta do surgimento da
geração Beat, o qual gerou grande influência em outras manifestações ao
longo dos anos 60, 70 e 80.
A geração beat (Beat Generation) foi um movimento literário norte-
americano formado por um grupo de jovens escritores que se mostravam
incomodados com os modelos de conduta e comportamento estabelecidos nos
Estados Unidos após a Segunda Guerra Mundial. O objetivo da Beat Generation
era de se expressar livremente sobre sua visão do mundo, na maioria das
vezes em conjunto compondo e viajando.
O movimento beat tinha como características: intensidade no estilo
narrativo, nos temas e personagens; escrita compulsiva; fluxo de pensamento
desordenado; linguagem informal; valorização da transmissão oral; e apoio à
igualdade étnica, à miscigenação e às trocas culturais entre raças. Entre
os principais escritores, destacam Jack Kerouac, Allen Gisberg, William
Burroughs, Lawrence Ferlinghetti e Gregory Corso.
A contracultura se mostrou como uma revolta juvenil por conta das
transformações socioeconômicas provenientes da criação do Estado do Bem
Estar Social[10], que indagava a juventude a procurar medidas criativas de
não se enquadrar em um sistema técnico. Daí, a necessidade de se criar uma
cultura própria.
Acima de tudo, este movimento tinha como base a própria juventude
unida em protesto. O movimento revolucionário colocava em questão o
respeito às minorias raciais, inclusive foi iniciada por jovens brancos que
se aliaram a negros já descontentes com o sistema racista norte-americano.
Ainda que tomasse como base ideais de revolta, o movimento de contracultura
pregava a paz e novas visões libertárias para o casamento, famílias e o
sexo. Concretamente, entretanto, as revoltas contraculturais não alcançaram
os objetivos das bandeiras levantadas. A despeito disso ele se
caracterizou como um movimento que transformou mentalidades.
Outro novo movimento que se potencializou na pós-modernidade foi o
feminista, que surgiu quando as mulheres tiveram a percepção de que eram
oprimidas e buscaram a igualdade na sociedade. A luta feminina existia
desde a antiguidade, porém somente nos dois últimos séculos ela se
fortaleceu.
No século XIX e início do século XX, no Reino Unido e Estados Unidos,
as mulheres foram às ruas exigir o direito de voto. A conquista foi
alcançada e em 1919, com a 19ª. Emenda à Constituição dos Estados Unidos a
qual concedia em todos os estados o direito à mulher de votar. Porém,
diante de uma sociedade patriarcal, esta foi apenas uma das conquistas. Com
discussões que envolviam casamentos, abortos e métodos contraceptivos, as
mulheres foram aos poucos conquistando seus espaços.
Em 1966, nos Estados Unidos, o termo Women's Liberation (Liberação das
Mulheres) deu nome ao movimento feminista, que liderou à época uma série
de protestos – dentre eles, o conhecido como Bra-Burning, o termo
popularizado pela mídia como "Queima dos Sutiãs". O motivo da revolta era
a exploração comercial dos concursos de beleza.
No dia 7 de setembro de 1968, durante a realização do concurso de Miss
América, em Atlantic City, nos Estados Unidos, cerca de 400 ativistas deste
movimento jogaram sutiãs, espartilhos, sapatos de salto alto, maquiagens,
entre outros, no espaço do concurso, que era visto como opressivo em
relação às mulheres.
Hall (2006) destaca como grandes características do movimento
feminista: (1) a contestação política: a família, a sexualidade, a divisão
doméstica do trabalho, o cuidado com as crianças, entre outros; (2) a
subjetividade, a identidade e o processo de identificação (como
homens/mulheres, mães/pais, filhos/filhas); como uma questão política e
social (3) O que começou como um movimento dirigido à contestação da
posição social das mulheres se expandiu para incluir a formação das
identidades sexuais e de gênero.
O feminismo desencadeou o movimento de liberação sexual, marcado na
década de 1960 pela criação da pílula anticoncepcional. Uma das lutas do
movimento feminista, o método contraceptivo – muito usada para justificar a
repressão sexual feminina, a gravidez indesejada – começava a sair de moda.
O movimento defendia que a mulher pudesse exercer mais liberdade de
escolha de seus parceiros afetivos e o sexo deixasse de ter apenas o
objetivo da reprodução. O prazer, portanto, passa a ser importante.
No movimento pela luta contra o racismo e pelo direito dos negros, na
década de 1960, nos Estados Unidos, foi criado o grupo revolucionário "Os
Panteras Negras". Em sua criação, o grupo visava patrulhar os bairros para
proteger os moradores contra a resistência policial. Eram fornecidas armas
a todos do movimento, e alguns militantes pediam a liberação de todos os
negros das penitenciárias americanas e o pagamento de indenizações às
famílias negras pelo período da escravidão.
Chegando a dois mil membros e com representações nas principais
cidades do país, os Panteras Negras tiveram seu movimento enfraquecido.
Isso se deu em função da resistência armada que resultou em longos
conflitos urbanos entre policiais e panteras. O grupo chegou a renunciar às
ações violentas e apenas prestar serviços de assistência social em
comunidades negras pobres, mas logo se dissolveu.
Outro movimento pela luta racial de grande destaque foi pelos
direitos civis, liderado pelo pastor Martin Luther King Jr. Sua corrente
pacífica defendia a obtenção da igualdade racial e a extensão do direito ao
voto a todos os negros. Embora Luther King tenha sido assassinado, a Lei
dos Direitos Civis foi aprovada, garantindo alguns direitos básicos para
minorias raciais.
Para Giddens (1991), os movimentos sociais proporcionam conjecturas
de futuros factíveis e são em parte veículos para sua realização.
Entretanto, é preciso reconhecer, da perspectiva do realismo utópico, que
elas são as únicas bases de mudança que podem conduzir a um mundo mais
seguro e mais humano.
Junto a essas conjecturas são necessárias influências da opinião
pública, de políticas das corporações de negócios, dos governos nacionais e
de atividades de organizações internacionais, para que se obtenham reformas
básicas. Linhas de pensamento que confluem para a humanização e
subjetividade social, como fala Duriguetto:


Assim, trabalha-se agora com a perspectiva de uma
pluralidade de 'sujeitos sociais' importantes, que
independente da classe social a que pertencem podem agora
desenvolver mudanças viáveis, ainda que no limite da
sociedade capitalista. Em decorrência, tem-se a
substituição dos conceitos de revolução e de emancipação
pela 'micropolítica', ou seja, pelas pequenas lutas, sem
centro e sem coordenação (DURIGUETTO, 2009, p. 7).


Após as ações históricas dos movimentos sociais, e inclusive da Guerra
do Vietnã, aos poucos a sociedade pós-moderna é vista como se estivesse
perdendo o sentimento de pertencimento e se fragmentando, o que é percebido
como consequência do modernismo. (BAUMGARTEN, 2005).



2.2 Ciência Pós-Moderna



Por conta das mudanças nas formas de produção e acumulação
capitalista, o conhecimento se tornou uma mercadoria de informação
indispensável ao predomínio produtivo, em que este "cada vez mais
significava uma competição pelo poder". (LYOTARD, 2009, p. 5)
A condição pós-moderna é a forma própria de conhecer uma sociedade pós-
industrial. Portanto, as teorias totais, conhecidas como metarrelatos, não
dão mais conta de uma sociedade que tem uma rede de jogos de linguagem:
econômica, política, cultural, estética. Sendo assim, a ciência perde na
pós-modernidade o caráter de sistema absoluto e total de explicações da
realidade e os pensadores pós-modernos começam a ver a História como uma
troca constante de metanarrativas (sobre isso, ver LYOTARD, 2009; NOVAES,
2006).
Se na era medieval o conceito de Providência fundamentava que Deus
determinava o destino e a compreensão da realidade, na modernidade esta
Providência era substituída pelo Progresso, por conta dos sentidos terem
superado a crença na divindade. Novaes entretanto, destaca que "as
contradições e decepções da modernidade fazem com que o divino retorne ao
centro das atenções, fazendo com que o conceito medieval da Providência
volte à tona." (2006, p.15),.
Conforme Dorneles (apud NOVAES, 2006), foi repassada à geração pós-
moderna um pessimismo e decepção com a ciência. Esta decepção ocorreu por
conta da tentativa de aniquilar o sagrado da sociedade moderna, trazendo
assim alguns efeitos negativos do progresso científico-tecnológico, tais
como uma urbanização desumana, desigualdade social, indústria de morte de
armas e da droga, entre outros.
Desta forma, as promessas da era da razão e da ciência ficaram
desiludidas pela sociedade. Foi nesta desilusão deixada pela pretensão
científica que ressurgiu todo o tipo de crença e a recorrente busca pela
sobrenatural da pós-modernidade. Assim


Na pós-modernidade, a inimizade de séculos e séculos entre
ciência e religião abre espaço para uma cooperação, na
qual ambas procuram um diálogo muito mais amistoso e
solidário entre as partes. No entanto, o retorno do
sobrenatural na pós-modernidade não trata apenas de
corrigir o enfoque antimetafísico ou anti-sobrenatural da
ciência, mas também renovar sua epistemologia – dar-lhe um
novo conceito, uma nova roupagem (NOVAES, 2006, p. 16).




Agora havia um desejo do sistema em investir na promoção profissional,
visto que a difusão dos novos saberes tinha um interesse da própria nação
em conquistar sua liberdade. Cada vez mais investigações e pesquisas no
campo da linguagem foram sendo feitas, com o objetivo de conhecer a
mecânica da produção e assim se estabelecer compatibilidades entre as
linguagens e a máquina informática. (LYOTARD, 2009).
As pesquisas das universidades cada vez mais foram sendo financiadas
pelo Estado como uma instituição importante no cálculo estratégico-político
destes, visto que na condição pós-moderna mostrou-se que sem o saber
científico e técnico não se tem riqueza (BARBOSA, apud LYOTARD, 2009).
Com investimentos no saber científico, despertado na era pós-moderna,
descobriu-se que a ciência era um modo de organizar, guardar e depois
distribuir certas informações. A ciência então é vista como um conjunto de
mensagens possíveis de serem traduzidas em quantidade de informação. Para
Lyotard,


Esta relação entre fornecedores e usuários do conhecimento
e o próprio conhecimento tende e tenderá a assumir a forma
que os produtores e os consumidores de mercadorias têm com
estas últimas, ou seja, a forma valor. O saber é e será
produzido para ser vendido, e ele é e será consumido para
ser valorizado numa nova produção: nos dois casos, para
ser trocado. Ele deixa de ser para si mesmo seu próprio
fim; perde o seu valor de uso. (LYOTARD, 2009, p. 4-5)



Na pós-modernidade cada vez mais as funções de poder são retiradas do
domínio de administradores e confiadas a autômatos. Isto se deu por conta
da mudança econômica no capitalismo, auxiliado pela mudança das técnicas e
das tecnologias seguindo em paralelo, com a mutação de função dos Estados.
Desta maneira, forma-se uma imagem da sociedade que obriga a revisar com
seriedade o que estava sendo colocado anteriormente como alternativa. Na
visão de Lyotard, "a grande questão vem a ser e será a de dispor das
informações que estes deverão ter na memória a fim de que boas decisões
sejam tomadas." (2009, p. 27).
A pós-modernidade está a par do binômio sujeito/instituição,
realizando assim relações como comunicações. Assim se desenvolve a
percepção de uma sociedade baseada em múltiplas relações, percebendo-se
dessa forma novas características e tendências em maneiras de se
socializar, permitindo assim aos indivíduos e grupos se expressarem e se
constituírem. (ALMEIDA, 2010, p. 5).
Este período vem positivamente envolvendo as pessoas no que está sendo
produzido na imprensa. Esse avanço ainda é tímido, mas após a era moderna,
no qual conceitos ideais e ditatoriais eram plantados na cabeça da
sociedade, aos poucos o público começa a ter consciência que pode, de
alguma forma, contribuir com ações na sociedade. O povo sai da apatia e
total poder do Estado e começa a caminhar pelos próprios meios.
Constituída como uma sociedade da comunicação globalizada, a sociedade
dos mass media é caracterizada, conforme Vattimo (apud ALMEIDA, 2010), pela
importância capital dos meios de comunicação. Com estes meios, em vez de
desenharem uma sociedade mais ilustrada e consciente de si, a desenham como
uma sociedade mais complexa e até caótica. Neste relativo caos, existe uma
esperança de emancipação.
A pós-modernidade foi essencial para que a sociedade desse um primeiro
passo na construção de uma imprensa mais participativa. Este poder que o
povo começava a ter nas mãos foi despertado pelo conceito ideológico da pós-
modernidade, pelas características que o conceito traz, visto que o
jornalismo se tratava de uma profissão social. Como ressalta Amaral (2001),
os veículos de comunicação são instituições sociais, segundo as quais sua
destinação é a sociedade – embora os interesses nem sempre coincidam com
esta.


2.3 Escolas de Estudo em Comunicação


Os estudos nos aspectos econômicos e tecnológicos destes meios de
comunicação começaram através da Escola de Chicago, nos Estados Unidos no
final do ano de 1920 e início de 1930, também conhecida como Escola
Funcionalista. Nos estudos pesquisavam-se os efeitos que os meios de
comunicação causavam na sociedade.
Iniciada pelos sociólogos Lazarfeld, Lasswell e Merton, a Escola de
Chicago abordava que a comunicação tem como papel principal a organização
social. Dentre outras funções, estariam a vigilância, a integração, a
educação, o entretenimento e a normalização.


De acordo com o funcionalismo, a sociedade deve ser
considerada como um organismo, um sistema articulado e
interrelacionado, formado por partes, sendo que cada uma
delas desempenha função de integração e manutenção do
próprio sistema. Afirma que os meios de comunicação,
compreendidos como emissores de informação, têm sempre a
intenção de persuadir aos receptores. (ALMEIDA, 2010, p.
2)


Se para os funcionalistas esse organismo social se influencia
mutuamente, ainda que o grau de influencia varie o sociólogo funcionalista
Charles Cooley destacou que todas as partes ajudam a dar sentido a este
organismo e a constituí-lo. Um exemplo disso é a opinião pública, no qual o
indivíduo não existe isolado do contexto social nem a sociedade é alheia a
estes e suas particularidades (SOUSA, 2006).
Outros estudos no campo da comunicação foram avançando pelo mundo após
a Escola de Chicago iniciar suas pesquisas. Na América Latina, estes
estudos deram seus primeiros passos, em 1959, após o Centro Internacional
de Estudios Superiores de Periodismo para a América Latina (Ciespal),
fundado em Quito, pela Organização das Nações Unidas para a Educação,
Ciência e Cultura (Unesco), Organização dos Estados Americanos (OEA) e pelo
Governo do Equador trazerem para o Brasil os estudos comunicacionais que
estava sendo desenvolvidos nos continentes Americanos e Europeus.
Mais do que inquietações científicas, foram demandas políticas e
sociais que impulsionaram a Escola Latino-Americana. Afinal, este
continente era marcado por dependência estrutural, relembrando uma cultura
do silêncio e da submissão, assim, impulsionou a busca para compreender o
que, nas palavras de Berguer (2201, p. 241), "acontecia com a comunicação e
demarca as fronteiras do emergente campo de estudo".
Inicialmente, as pesquisas Latino-Americanas, por conta da influência
das pesquisas desenvolvidas na Europa, traziam características pessimistas,
sombrias e conspiratórias, de forma que quase todos seus produtos culturais
eram a serviço da dominação e hegemonia dos Estados Unidos. Em resposta a
isso, a partir da década de 1970 os pesquisadores latino-americanos
começaram a estudar políticas públicas de comunicação, considerando a
comunicação popular e o media alternativos (SOUSA, 2006).

2.4 Jornalismo Comunitário



Com as pesquisas em comunicação na América-Latina voltada para as
comunidades – por conta da realidade sócio-política, econômica e cultural
na região, onde havia uma carência de defesa dos direitos dos cidadãos –
foi desenvolvido o estudo da comunicação popular, também chamado de
jornalismo comunitário.
Segundo Pena (2005, p. 187), o objetivo do jornalismo comunitário é
atender às demandas da cidadania, de forma que sirva como ferramenta de
mobilização social. Além do mais, é preciso que o jornalista que exerce a
função comunitária, enxergue esta comunidade como se fizesse parte dela,
para que haja uma "real apropriação dos processos de mediação pelo grupo".
A importância de se aprofundar as investigações do meio comunicativo
em si mesmo e do jornalismo comunitário se dá em função dos significados
que este tem que dar à população. Portanto, esta nova forma estabelecida de
jornalismo nasceu como um protesto expandido em pequenos jornais, rádio,
vídeos, teatro, entre outros.

Numa conjuntura em que vinha à tona a insatisfação
decorrente das precárias condições de existência de uma
grande maioria e das restrições à liberdade de expressão
pelos meios massivos, criaram-se instrumentos
'alternativos' dos setores populares, não sujeitos ao
controle governamental ou empresarial direto. Era uma
comunicação vinculada à prática de movimentos coletivos,
retratando momentos de um processo democrático inerente
aos tipos, às formas e aos conteúdos dos veículos,
diferentes daqueles da estrutura então dominante da
chamada "grande imprensa". (PERUZZO, 1998, p. 114-115).


Visando substituir a fragmentação noticiosa, o jornalismo comunitário
propõe um envolvimento com a comunidade que ofereça atenção a cada tema.
Para isso, no contexto deste fazer jornalístico é preciso haver sondagem
direcionada ao povo a fim de reconhecer suas prioridades e necessidades
(SOUSA, 2006). Assim, é proposto um confronto com políticos, jornalistas e
representantes da comunidade para que existam resultados palpáveis.
Peruzzo (1998) utiliza a expressão "comunicação popular" como sinônimo
de "jornalismo comunitário". Embora haja diferença nos termos[11], a autora
explica que quando se fala de uma comunicação popular se trata de uma
comunicação do povo. Ainda que outros significados sejam dados, é
consensual apenas o que tem a ver com povo[12]. Portanto, é a partir da
definição do que é "povo" que se define o que é comunicação "popular" –
"embora essa categoria encerre a mesma problemática, podendo ser
compreendida de várias maneiras." (PERUZZO, 1998, p. 116).
Por ser a comunicação popular resultado de um processo no qual grupos
de camponeses ou trabalhadores discutiam entre si ou com grupos similares,
esta tinha características essenciais de questão participativa voltada para
a mudança social (PERUZZO, 1998). Percebe-se, assim, que os movimentos
sociais tomam a frente destas discussões mais participativas da sociedade,
inclusive trazendo-as para o jornalismo. Verificar que a apatia popular
estava sendo deixada de lado e a própria voz do povo começava a incomodar,
é arriscar dizer que o jornalismo, de fato, começava a ter a autonomia e
praticar sua grande função social que é atender às necessidades da
sociedade.
Conforme Sequeira e Bicudo (2006), o local é quem dá as pautas ao
jornalismo comunitário, assumindo e dando conta de uma área restrita e, que
comparada com a grande mídia, não se importa em ser pequeno, em conversar
com grupos limitados, em termos quantitativos.

O fato de aproximar-se de seu público permite que dialogue
com ele mais com profundidade e intensidade. Essa relação
de proximidade, embora se manifeste essencialmente no
plano geográfico - assuntos que estão mais perto da região
onde vive a comunidade tendem a ter prioridade no
noticiário -,pode também se revelar por meio daquilo que
chamamos de 'proximidade por demandas ou expectativas'.
Exemplificando: projetos culturais e sociais desenvolvidos
na comunidade terão destaque nos veículos por ela
produzidos; o mesmo raciocínio vale para cenários de
violência e exclusão, para problemas como o desemprego e a
falta de escolas ou de postos de saúde. (SEQUEIRA; BICUDO,
2006, s/p.).


O jornalismo comunitário traz cinco características que garantem
personalidade, autenticidade e registros muito nítidos de uma carga
genética exclusiva, segundo Sequeira e Bicudo (2006):


1. Valorização da realidade local;
2. Participação da comunidade durante todo o processo de produção;
3. Consagração das ideias da mobilização e da transformação;
4. Resgate de um viés pedagógico e educativo;
5. Articulação com a produção independente e de resistência.

A participação do público na apuração dos problemas, para possíveis
exigências de soluções, foram essenciais no fortalecimento da comunicação
popular. Conforme Peruzzo (1998), na comunicação popular os protagonistas
são compostos por representantes do povo ou as organizações a eles ligada
organicamente, quebrando assim a lógica da dominação, compartilhando dentro
do possível seus próprios códigos.
Neste caso, o jornalismo passa a ser visto como um patrimônio da
comunidade, pois a participação de pessoas comuns está garantida. Conforme
Sequeira e Bicudo (2006), esta prática não é uma maneira sectária e
seduzida por palanques e holofotes, mas uma forma de se despertar a
reflexão crítica de diversos assuntos, através dos discursos e narrativas
produzidas dentro desta comunidade.
O jornalismo comunitário é acima de tudo um exercício de democracia,
pois permite aos comunitários a participação em assuntos que não são mais
ditados pela grande mídia, mas construídos após debates e diálogos,
inclusive tornando estes conscientes de seus direitos e participantes da
construção destas notícias.
Para Peruzzo (2002), as pessoas que participam dos processos
comunicacionais firmados nas comunidades, tendem a mudar a maneira de
observar o mundo e se relacionar com ele, agregando assim novos elementos à
sua cultura. Isto acontece, porque a participação neste processo é uma
forma facilitadora de se ampliar a cidadania, afinal, possibilita-se a
transformação em seres de atividades nas ações comunitárias e nos meios de
comunicação inventado, resultando em um processo educativo.
Apesar de toda militância, o jornalismo comunitário não chega a se
colocar como força superadora dos meios de comunicação de massa, pois os
dois são complementares e não excludentes. A grande mídia não consegue
suprir necessidades em nível de comunidade e movimentos sociais
organizados, mas se faz necessária e importante quando o assunto é
entretenimento e informação (PERUZZO, 1998).
Uma das hipóteses para a grande imprensa não conseguir alcançar as
necessidades das comunidades, além da óbvia máquina capitalista que impera
por trás dela, pode ser visualizado em Bauman (2001).
O autor fala que, quanto mais a comunidade precisa ser defendida e
apelar para seus próprios membros para que suas escolhas individuais sejam
protegidas, elas são demandadas de outras questões. Seriam essas questões
mais projetos que realidades, ou algo que vem depois e não antes da escolha
individual.




Esse é o paradoxo interno do comunitarismo. Dizer "é bom
ser parte de uma comunidade" é um testemunho oblíquo de
não fazer parte por muito tempo, a menos que os músculos e
mentes dos indivíduos sejam exercitados e expandidos. Para
realizar o projeto comunitário, é preciso apelar às
mesmíssimas (e desimpedidas) escolhas individuais cuja
possibilidade havia sido negada. Não se pode ser um
comunitário bona fide sem acender uma vela para o diabo:
sem admitir numa ocasião a liberdade da escolha individual
que se nega em outra (BAUMAN, 2001, p. 195).




Por isso é necessário cautela na edificação da identidade do veículo
comunitário, para que o cidadão se sinta como parte desta construção. Pois
grande parte dos meios de comunicação comunitários têm o potencial de
organização popular e trazer conteúdos informacionais e culturais, e também
podem possibilitar a prática da participação direta neste processo.
(PERUZZO, 2002).
Para Sequeira e Bicudo (2006), o jornalismo comunitário é uma prática
alternativa que trata de assuntos não tratados de forma costumeira pela
grande imprensa, a qual possui outra agenda pública de discussões. Isso
significa que, ainda que os assuntos sejam abordados na grande mídia,
certamente receberão dos veículos comunitários, outros enfoques e
tratamentos, voltados para as demandas e realidades das populações menos
favorecidas.
A importância desta forma de se fazer jornalismo é de fato dar a
função de agente social ao jornalista, e principalmente ao povo, de forma
que se provoque a participação deste.


2.5 Comunicação Popular Participativa


O conceito de comunicação participativa começou a ser desenvolvido a
partir de um paradigma que contém princípios do marxismo com o do
cristianismo, através da Igreja Católica, e cuja metodologia de trabalho é
inspirada em Paulo Freire[13]. A comunicação participativa inclui: noções
de luta de classes; a existência da relação dominante/dominado na
sociedade; a crença na necessidade de transformação radical para construção
de uma sociedade igualitária. (TAUK SANTOS, 2002).
O diálogo, como forma de interação, na comunicação participativa é
visto como fator capaz de desenvolver a consciência crítica das classes
mais baixas através da valorização do saber dessas na transformação da
realidade.
No caso, a diferenciação da comunicação participativa para a
comunicação se dá em observar na informação um processo unidirecional, cujo
objetivo é a transmissão verbal e conhecimento. Portanto, "o diálogo passa
a ser considerado a comunicação soberana por excelência. [...] Só no
autêntico diálogo se dão as condições de uma verdadeira democracia."
(PASQUALI apud TAUK SANTOS, 2002, p. 258).
Peruzzo levanta a questão dos meios populares serem ocupados por
poucos e estes fazerem interpretações das necessidades de informações e de
outras mensagens dos receptores. "Por isso, convém não esquecer, como já
dissemos, que tanto 'participativo' como 'popular' não qualificam
necessária e automaticamente o substantivo democracia." (1998, p. 141).
Esse período caracterizado como participativo vivido a partir da pós-
modernidade operou levantamentos de quais tipos de cidadãos ativos estavam
sendo formados. Assim, em uma perspectiva mais ampla de ação coletiva,
Peruzzo (1998) destaca três modalidades de participação popular:


1. Participação Passiva: Ainda que não se envolva em processos decisórios
– seja por censura ou por não acatar o que é defendido e aceitar o que
foi decidido – a pessoa desenvolve um tipo de participação. "Ela
consente, se objetiva, se submete e simplesmente delega o poder da
outra." (PERUZZO, 1998, p. 78);
2. Participação Controlada: Esta pode ser manipulada, pois inicia em uma
pressão da própria base. "Assim, conquista-se ou se ganha a
possibilidade de fazer um 'planejamento participativo' ou de ter parte
nos lucros da empresa." (PERUZZO, 1998, p. 78-79);
3. Participação-Poder: Apesar de ser limitada, por nem sempre se
conseguir alcançar todas as decisões e atingir todas as instâncias da
estrutura política, a Participação-Poder tem processos que favorecem a
participação democrática, ativa e autônoma.


Assim sendo, a comunicação participativa se torna importante, porque
ajudou a elevar o conceito de mudança social ao patamar de transformação
social, conforme ia se constituindo em instrumento para viabilização de um
conceito de desenvolvimento criado, como processo de transformação
estrutural com grande participação popular (TAUK SANTOS, 2002).
Essa participação popular não se limitava à criação de consciência
política e social da situação, mas envolvimento em produção, planejamento e
na gestão da comunicação comunitária.
Nas mensagens enviadas à população – em forma de entrevistas,
depoimentos, denúncias e outros – a participação era mais simples e pura.
Porém, diversas vezes essa população comunitária participava da produção
destes produtos, mediante a aplicação de conhecimentos aprendidos e
qualificações técnicas.
A participação no planejamento dos meios era mais usual, afinal estes
viviam de fato os acontecimentos da comunidade, logo havia comunicação nas
reuniões de política editorial, objetivo, formatação de programas, entre
outros. Na gestão desses veículos, por se tratar de um exercício de poder,
há critérios de representatividade e corresponsabilidade, pois se trata de
uma democracia. A esse respeito, Peruzzo declara que


Em todos esses níveis, a participação popular requer a
existência de canais de participação abertos e
desobstruídos. Porém, não lhe basta isso. Há que se
incentivá-la e facilitá-la mediante uma metodologia que a
privilegie enquanto processo que vai crescendo em
qualidade. (PERUZZO, 1998, p. 145).



Esta bandeira levantada pela comunicação participativa não visa destruir
outras formas de comunicação, mas democratizar o acesso a ela.





























































3 SOCIEDADE PARTICIPA ATIVAMENTE


As mudanças na era pós-moderna se estendiam também aos modos
comunicacionais, que iam da apuração de notícias até a forma de
distribuição destas. A sociedade como participante ativa da comunicação foi
influenciada por características da globalização[14].
De acordo com Thompson (2008), este modo de se comunicar passa a
acontecer em uma escala cada vez mais global, de forma que informações são
acessadas e mensagens são recebidas de fontes distantes. Isso se dá por
conta da separação entre o espaço e o tempo, cisão operada pelos meios
eletrônicos, tornando assim o acesso às mensagens mais instantâneo ou
virtualmente instantâneo.
Sobre isso, Thompson declara que:

Distâncias foram eclipsadas pela proliferação de redes de
comunicação eletrônica. Indivíduos podem interagir uns com
os outros, ou podem agir dentro de estruturas de quase-
interação mediada, mesmo que estejam situados, em termos
de contextos práticos da vida cotidiana, em diferentes
partes do mundo. (THOMPSON, 2008, p. 135)



Processos simbólicos vão sendo alterados e novos modos de relação vão
surgindo por conta da revolução tecnológica. São essas as formas de
produzir notícias, alterando o modo de comunicar - e a transformando do
conhecimento em uma força produtiva direta (MOZZINI, 2010).
O avanço da globalização na comunicação foi impulsionado pelo
desenvolvimento de tecnologias capazes de transmitir mensagens por ondas
eletromagnéticas, criando assim uma emergência das organizações nacionais e
internacionais de administrar este espaço. Estas mensagens eram cada vez
mais acessíveis, ainda que de forma heterogênea, a qualquer um que
estivesse ao alcance de sinal e com equipamentos para interceptá-lo
(THOMPSON, 2010).
Porém, este avanço só foi possível por conta de três desenvolvimentos
intrinsicamente interligados no século XX. Primeiro, o uso mais frequente e
melhor aplicado do sistema de cabos que fornecia uma capacidade maior de
transmissão de informações eletronicamente codificadas. Segundo, o
constante uso de satélites para a comunicação a longa distância. Terceiro,
o crescente uso de métodos digitais para o processamento, armazenamento e
recuperação da informação.
De acordo com Thompson,

A digitalização da informação, combinada com o
desenvolvimento de tecnologias eletrônicas relacionadas
(microprocessadores, etc.), aumentou grandemente a
capacidade de armazenar e transmitir informações e criou a
base para a convergência das tecnologias de informação e
comunicação, permitindo que a informação seja convertida
facilmente para diferentes meios de comunicação.
(THOMPSON, 2010, p. 145).


Compreende-se, então, que a técnica e a tecnologia se apresentam como
um espinho para o relacionamento entre o sujeito e o meio. Afinal, conforme
surge necessidade de produção de conhecimento, para assim se desenvolver
objetos técnicos e artificiais, existe a necessidade de objetos e processos
que permitam mediações da relação de produção de conhecimento. (XAVIER;
SILVA, 2005).

3.1 Digitalização dos Medias


A mediação da produção de conhecimento começa a tomar forma quando
surge o computador e em seguida a internet[15]. Em 1946, nos Estados
Unidos, em plena Guerra Fria, surgiu o primeiro computador chamado de Eniac
(sigla de "Integrador e Computador Numérico Eletrônico"). Como havia
interesses bélicos, buscou-se a partir daí criar a rede mundial de
computadores. A internet foi criada com o objetivo de se estabelecer
comunicação caso houvesse ataques inimigos e destruição dos meios
convencionais de telecomunicação.
Logo após a invenção, a empresa americana Bell Company cria o
Dataphone, que permitia que dois computadores se comunicassem usando linhas
telefônicas tradicionais. A partir daí, várias atualizações foram feitas
permitindo facilidade nesta comunicação digital e ampliando as vendas
desses computadores. Entre tais atualizações estão: a invenção do
microcomputador; a transmissão de sinais de telecomunicação entre Estados
Unidos e Europa; surgimento do vídeo-disco; a operação do Ministério da
Defesa dos EUA criando a primeira rede da internet e, então, o surgimento
do microprocessador.
Por meio dos computadores foi possível desenvolver a convergência
midiática, inclusive esta foi iniciada em um projeto militar norte-
americano com a intenção de simular ambientes e distribuir pessoal no
espaço. Esta transferência à realidade, permitiu, com a computação gráfica,
a multimídia possível ao meio digital.
Na história da mídia, o computador é o grande ponto chave da evolução
tecnológica, pois ele deixa de ser usado apenas como máquina de calcular e
como objeto de escritório, para executar vários serviços no campo da
comunicação (e também em outros campos). Os novos serviços foram sendo
convergidos e, para que eles fossem melhor difundidos, foi necessário
baratear o preço de forma que estes tivessem mais fácil acesso.
Apesar das vendas dos computadores terem aumentado, o acesso à
internet só foi facilitado em 1989, quando as empresas Time Inc. e Warner
Bros se juntaram e criaram a teia global World Wide Web[16]. Conforme nos
explica Estrázulas, "no princípio, as ligações da rede utilizavam o sistema
da telefonia fixa com fios de cobre. Depois surgiram os cabos de fibra
óptica que melhoraram a qualidade e a largura de banda de transmissão."
(2010, p. 56).
Castells (2003) afirma que o uso da Internet como sistema de
comunicação e forma de organização foi tão grande no segundo milênio que,
em 1995, primeiro ano de uso da World Wide Web, o número de acessos chegava
à aproximadamente 16 milhões de usuários por computador no mundo. Este
defende que


A influência das redes baseada na Internet vai além do
número de seus usuários: diz respeito também à qualidade
do uso. Atividades econômicas, sociais, políticas, e
culturais essenciais por todo o planeta estão sendo
estruturadas pela Internet e em torno dela, como por
outras redes de computadores. De fato, ser excluído dessas
redes é sofrer uma das formas mais danosas de exclusão em
nossa economia e em nossa cultura. (CASTELLS, 2003, p. 8)


Desta forma, a internet permitiu uma nova maneira de interação social.
Trata-se de uma apropriação de invenções pelo próprio tempo no qual estas
surgem. Se com o surgimento da imprensa de Gutenberg, alternativas para a
expansão da comunicação – como a tradução de conhecimento do espaço privado
para o espaço público – foram criadas, o meio digital foi sendo apropriado
e modificado para que esta comunicação se propagasse também. Neste meio
digital, um novo valor foi dado às informações. Embora se tratasse de
tecnologias, valores foram dados aos princípios físicos destes – este foi
o caso do princípio físico do meio digital: o bit.
Conforme Negroponte (1995), esse bit sofreu uma ressignificação
socioeconômica-cultural possibilitada pelo meio digital de forma que o bit
não tem cor, tamanho ou peso e ainda tem a capacidade de viajar à
velocidade da luz.
A partir daí, o bit começa a armazenar informações que têm valores
muitas vezes imensuráveis dependendo de quem as pertencem. Levy defende que
quando a subjetividade, a pertinência e a significação entram no jogo "não
se pode mais considerar uma única extensão ou uma cronologia uniforme, mas
uma quantidade de tipos de espacialidades e de duração." (1996, p. 22).
O cenário criado com a digitalização dos medias se potencializou por
conta da circulação de informações das estruturas labirínticas de redes,
bem como a multiplicação de mídias fundamentada em uma única plataforma de
linguagem, a digital. Entretanto, mais do que dilatar as possibilidades de
emissão e recepção de informações, através da plataforma digital se iniciou
uma conversa global que influenciou as relações sociais e as áreas do
conhecimento. (CARNIELLO e ZULIETTI, 2007).
No princípio, a multimídia era usada para migrar músicas ao sistema
binário. Nesse período se criou o CD-ROM (Compact Disc - Road Only Memory).
Esta criação foi vista como um ótimo potencial para se alavancar as
indústrias capitalistas, que passaram a explorar o mercado consumidor e a
investir em tecnologia digital.
Esse investimento teve grande importância para que outros meios
aderissem ao campo da digitalização. Em 1978, o Laboratório de Media do
Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) desenvolveu um projeto que
convertia as gravações analógicas das ruas da cidade de Aspen em vetores
digitais, permitindo assim interação dos usuários com o sistema.
O projeto permitiu que os meios de comunicação e a indústria de
cultura notassem o rumo digital que o novo mundo tomava. Essa convergência
digital dava mais qualidade aos meios, tanto no sentido técnico quanto nas
formas de atrair consumidores para estes. Segundo Briggs e Burke (2006), as
novas tecnologias permitiriam opções mais ricas no que se refere a ver e
ouvir e de quando ver e ouvir, tornando, mais do que nunca, os espectadores
e ouvintes em "clientes".
Mesmo que as tecnologias dessem passos colossais na produção da
notícia, naquele contexto o trabalho do jornalista ainda era segmentado.
Ainda existiam funções específicas, pois havia um profissional para cada
trabalho exercido. Por exemplo, no jornalismo televisivo, cinegrafista e
fotógrafo para captura de imagens, produtor para auxiliar o repórter na
elaboração de matérias e repórter para única e exclusivamente realizar a
matéria.
Quanto ao papel do público, ele passava a receber uma qualidade
melhor nas imagens e sons de suas televisões e rádios, mas ainda era
constituído de meros espectadores. Mais à frente, com a popularização de
meios de produção de notícias, estes o público passará passarão a utilizar
estes meios digitalizados como forma de contribuir na produção da mídia.
No final da década de 1980, surgiram os primeiros equipamentos
transformadores de dados magnéticos de imagem e áudio em digital,
conhecidos como placas de captura. Em paralelo a essas placas, foram
desenvolvidos softwares de edição digital usados para imagem e áudio. Nesta
edição, as imagens não eram rodadas em modo cronológico, sendo o processo
então classificado de de edição não linear. Após essas atualizações
digitais foram inventados aparelhos que dispensassem o uso da placa de
captura e fossem autossuficientes em sua existência de forma digital. Assim
foram criados os gravadores de voz, câmeras fotográficas e câmeras de
vídeos.
Com a digitalização destes processos as novidades pareciam sempre
mais atraentes para o público, então se exigiu uma reinvenção do que já
tinha sido descoberto. Quanto a isso, Estrázulas (2010) declara que

O jornal se reinventou com o aparecimento do rádio. Já não
bastava dar a notícia, porque isso o rádio fazia
instantaneamente. Era necessário o aprofundamento, uma
análise, a adição de mais imagens e outras conexões. Com o
surgimento da televisão, o rádio se reinventa e busca na
qualidade das FM o meio ideal para transmitir
entretenimento musical; e no alcance das AM a transmissão
de informações às populações mais distantes. (ESTRÁZULAS,
2010, p. 59)


A evolução das tecnologias e a digitalização dos processos influenciam
diretamente no jornalismo e nos seus profissionais. Com a popularização da
internet essas mudanças foram mais significativas. Assim, o repórter que
antes saia para as pautas com um fotógrafo, um produtor e um cinegrafista
nos tempos atuais, na maioria das vezes, sai apenas com outro profissional
apenas e seu celular a tiracolo.
Um exemplo são os portais de notícias online que exploram bastante
essas multitarefas do repórter. Se antes cinco profissionais de jornalismo
eram necessários em uma pauta, atualmente, na maioria das vezes, apenas o
repórter dá conta de apurar os fatos, registrar o áudio e as imagens e
ainda enviar para o editor na redação, através do celular.
É o que acontece, por exemplo, no Portal D24AM[17] onde o repórter, na
maioria das vezes, inicia sua apuração entrevistando ou registrando através
de imagem e áudio o fato, passando, em seguida, o material para o editor
através de mensagem de celular e, na redação, o editor trabalha a matéria e
a publica.
Mas essa característica não é exclusiva dos portais de notícias
online. Com a digitalização dos aparelhos, é possível que essa urgência
também aconteça no jornalismo televisivo. Isso acontece, por exemplo, na
emissora Record News[18], na qual o repórter, junto do seu cinegrafista,
apura e registra a notícia e, em seguida, envia um motoboy da empresa até o
local da apuração em busca do microchip da câmera, levando-o até a ilha de
edição do jornal, para que a notícia entre a tempo no ar.
Ainda há casos nos quais as funções são mais reduzidas, como os
portais G1[19] e UOL[20], veículos nos quais os próprios repórteres são
responsáveis pela redação e edição do texto, a fim de agilizar o processo e
não "levar furo" dos concorrentes.
Esse acúmulo de funções de repórter, editor e revisor, fotógrafo e
videorrepórter se caracteriza como uma urgência das empresas pela notícia,
e claro, o mais importante, a diminuição dos custos para estas. Mas não são
apenas essas mudanças estruturais que o jornalismo vem sofrendo por conta
da urgência e pelo consumo de notícias, característica de uma sociedade pós-
moderna.
Bauman declara que


O consumismo de hoje [...] não diz mais respeito à
satisfação das necessidades – nem mesmo as mais sublimes,
distantes (alguns diriam, não muito corretamente,
'artificiais', 'inventadas', 'derivativas') necessidades
de identificação ou a auto-segurança quanto à 'adequação'.
Já foi dito que o spiritus movens da atividade consumista
não é mais o conjunto mensurável de necessidades
articuladas, mas o desejo - entidade muito mais volátil e
efêmera, evasiva e caprichosa, e essencialmente não-
referencial que as 'necessidades', um motivo autogerado e
autopropelido que não precisa de outra justificação ou
'causa' (BAUMAN, 2010, p. 88).






Nesta fase de digitalização dos meios de produção da notícia, o
público começa a participar mais ativamente através dos feedbacks que dão
às emissoras pelo telefone ou e-mail da redação, que passam a ser
divulgados nos programas ou páginas. Com a integração dessas diferentes
ferramentas de interatividade, o público ganha um espaço para dar palpites
e sugestões.
Esta participação do público no jornalismo ocorreu justamente por
conta das transformações no uso da internet. Aos poucos o público vai se
percebendo como parte da construção dessas notícias, principalmente pelo
interesse desses meios em se tornar interativo. Neste momento, a sociedade
tem a possibilidade de se informar, tecer comentários sobre o que assistiu
e ainda interagir com a produção das empresas de comunicação através da
internet e/ou do telefone sugerindo pautas ou direcionamentos para as
matérias.
Como ressalta Guzzi (2006), por conta da emergência da Internet e da
Web em 1994, elementos totalmente inéditos foram introduzidos na sociedade,
promovendo assim uma revolução do espaço público caracterizada pela
possibilidade da interconexão geral, a desintermediação e a comunicação de
todos com todos.


Com a chegada da Internet, e a conseqüente
disponibilização de informações online, pode-se dizer que
uma experiência em democracia mais abrangente,
globalizada, vai sendo compreendida. Com isso, estudiosos
no mundo todo discutem o aperfeiçoamento dos mecanismos
democráticos. Cada vez mais a participação pública em
tomadas de decisão no âmbito governamental é considerada
parte de uma definição que vem sendo necessariamente
vinculada à democracia. Sendo assim, é possível que a
própria democracia esteja se aperfeiçoando, como tantos
pesquisadores afirmam, na medida em que novas tecnologias
de informação e comunicação vão sendo criadas (GUZZI,
2006, p. 31).


Vacas (2010) encara esta evolução digital como um incentivo a mais
para o público que sente a necessidade de transmitir, compartilhar com
alguém e até debater com os outros variados assuntos divulgados na mídia,
assumindo assim a axioma de que é impossível não se comunicar. O autor
observa ainda que não foi só a potencialidade tecnológica do novo tempo que
atraiu o público, mas o custo menor se comparado a ferramentas
tecnológicas anteriores.
Com todas essas mudanças, a digitalização dos espaços também foi
alcançada promovendo que meios clássicos convergissem para a internet. Os
jornais impressos mudaram sua diagramação para algo que imitasse a
navegação na web, inclusive com mosaicos e gráficos; os rádios alcançam seu
formato digital, no qual o ouvinte, além de ouvir a música, pode acompanhar
a letra, caso tenha um aparelho decodificador; e com as televisões novos
padrões de transmissão foram criados para suportar a TV digital, melhor em
imagem, som e interação.
Sobre isso, Estrázulas ressalta que:


O meio digital se apropriou das formas perceptivas e se
transformou num meio sinestésico, mas que a desejo do
consumidor pode alcançar profundidade em qualquer nível de
informação. Tudo isso graças ao emaranhado de uma rede que
liga interlocutores digitais. Há, em todo esse universo
digital, um representante perfeito dessa convergência.
(ESTRÁZULAS, 2010, p. 61).



As novas funções das mídias digitais (internet e suas diversas
ferramentas como blogs, podcasts, wikis e telefones celulares com múltiplas
funções) são chamadas por Lemos (2007) de pós-massivas. Estas funcionam a
partir de redes telemáticas em que qualquer pessoa pode produzir informação
independente de manter relações diretas com empresas ou conglomerados
econômicos. As redes massivas tem um fluxo centralizado de informação pelas
empresas que competem entre si e são dirigidas às pessoas que não se
conhecem e possuem limitada possibilidade de interação.
Lemos (2007) destaca as funções massivas e pós-massivas que existem
tanto na mídia analógica quanto na digital. De acordo com o autor, não
existe uma dualidade simples, mas uma reconfiguração do sistema. Isto se dá
em virtude de existir na internet funções massivas – como a TV pela Web, os
grandes portais ou máquinas de busca – e pós-massiva, com os blogs e
podcasts. Lemos (2007) destaca em seu artigo as mudanças socioculturais
alcançadas na cultura pós-massiva das tecnologias digitais. Segundo o
autor, tais mudanças provocaram uma:


Estrutura midiática ímpar (com funções massivas e pós-
massivas) na história da humanidade onde, pela primeira
vez qualquer indivíduo pode produzir e publicar informação
em tempo real, sob diversos formatos e modulações. (LEMOS,
2007, p. 126)


Isso tudo além de poder construir pontes em rede com outros conectados.
Hoje percebemos que vários portais de notícias mesclam suas funções
massivas com as pós-massivas. A maioria deles, além das notícias
publicadas, realizam chat's com convidados especiais com os quais o público
pode interagir, disponibilizam blogs com assuntos variados bem como
divulgam podcasts com entrevistas, entre outras formas de interação.
Desta forma, são criadas nas cidades contemporâneas "zonas de controle
de emissão e recepção de informação digital do indivíduo, em mobilidade e
no espaço público, potencializando novas práticas sociais" (LEMOS, 2007, p.
128). A rotina do jornalista, neste novo processo, é de conectar-se a seus
chefes e fontes por intermédio de smartphones, além da mudança em seus
múltiplos horários de carga de trabalho. Dessa forma, a linguagem digital
concentrada em uma plataforma única permitiu que as mídias se
complementassem por parte dos comunicadores e contribuíssem cada vez mais
para a construção de locais comunicacionais mais democráticos.

3.1.1 A Mobilidade das Mídias


Um dos ingredientes fundamentais para o desenvolvimento das redes
digitais foi a telefonia móvel, que teve suas conexões intensificadas. Em
destaque as conexões de tecnologias sem fio foram responsáveis por esse
avanço, pois permitiram uma interação maior do público com os processos de
comunicação.
Os celulares com tecnologia avançada obtiveram novas funções além de
ligação, mensagem de texto e mensagem de voz. A distância entre as pessoas
foi se tornando cada vez mais reduzida, pois as novas tecnologias permitiam
captura de fotos e vídeos e através do acesso à internet o compartilhamento
de músicas e documentos, console de jogos e acesso ao correio eletrônico.
Dessa forma, essas mudanças se mostravam como extensões de funções que
apenas os computadores desempenhavam.



Ao final as imagens, antes espaçadas na tela da televisão,
juntam-se e tomam a forma do aparelho. Sob a inscrição:
Seu mundo num único lugar. Mais do que explicar os motivos
que a convergência apresenta para eleger o telefone móvel
como signo dessa revolução, a propaganda elenca dezenas de
atividades que podem ser realizadas com um único aparelho
tecnológico. [...] Quando a indústria telefônica condensa
todas essas possibilidades ao aparelho móvel, torna-se
irresistível ao multiconsumo não se digitalizar também.
(ESTRÁZULAS, 2010, p. 61)




Esta crescente digitalização dos meios, principalmente da telefonia
móvel, permitiu um barateamento dos aparelhos digitais, de forma que eles
se tornaram mais acessíveis, crescendo, assim, o número de usuários. Um
exemplo disso no Brasil é que até o mês de outubro de 2013, conforme dados
da Agência Nacional de Telecomunicações[21], havia 269,9 milhões de
celulares. Sendo assim, fica claro que o país tem mais celulares do que
habitantes, conforme registrado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), em agosto de 2013, com um pouco mais do que 201 milhões
de pessoas.

3.2 Usuário como gerador de conteúdo e as Mídias Sociais


Com todas as tecnologias voltadas para os dispositivos, o que se tem
atualmente é um usuário gerador de conteúdo (UCG[22]). Ser gerador de
conteúdo, conforme Vacas (2010), consiste em pensar teoricamente que todos
os bits são tratados sem privilégios. Assim sendo, os conteúdos passam a
ser produzidos por usuários, porém não são classificados conforme os
critérios da mídia tradicional (séries, filmes, notícias, jornais, livros,
etc), os diferenciando então da produção mainstream.
Conforme Vacas (2010), apesar de todos poderem criar conteúdos o que
define como UCG é a vontade de seu criador em publicar, de fato, sua
publicação, tornando possível o acesso público. Outra definição dada pelo
autor é a diferenciação dos conteúdos. Por exemplo: uma mesma notícia dada
por vários canais, produzidas, na maioria das vezes, segundo interesses
da empresa impõem cerceamento nas informações, impedindo que estas sejam
publicadas. O mesmo fato, com acréscimo desta informação cerceada por algum
usuário na rede, agrega um novo valor à informação, criando-se um novo
produto.
A terceira característica do UGC, defendido por Vacas (2010), diz
respeito à existência de um trabalho criativo e com nenhuma fonte de
circuito profissional. Assim sendo, tanto os profissionais de comunicação
podem ser considerados UGC quanto usuários esporádicos com poucos
conhecimentos práticos que usam a internet para publicar material não
comercial.
O UGC encontra em blogs e redes sociais, tais como Facebook, Twitter
e YouTube, uma forma de publicar seu material. Segundo Carvalho in
Brambilla (2011), as possibilidades da era digital tornaram o público fonte
de informação, permitindo, inclusive, que em algumas vezes seja noticiado o
ocorrido antes dos veículos de referência.
Outra mudança é destacada por Ricordi (2012), que atribui
significação na convergência dos veículos e dos meios para as reportagens
multimídias, surgidas com o avanço da tecnologia na informática e no uso da
rede mundial de computadores. Por conta disso, o público começa a ser
tratado como colaborador.
Um exemplo são as sessões oferecidas nos portais de notícias, como na
'Vc no G1'do G1[23]. Ao explicar como participar, o portal coloca como
condições e dicas:


1. O envio de um vídeo e até seis fotos por vez, porém o usuário pode
participar quantas vezes quiser;
2. Estado, cidade e data de quando o vídeo foi gravado ou a foto tirada;
3. O conteúdo pode ser usado na Globo e na Internet. Na web, o vídeo
ficará publicado durante seis meses; suas fotos e texto podem ficar
disponíveis por tempo indeterminado;
4. Fornecimento de detalhes, para que se entenda melhor o conteúdo
colaborativo;
5. O que você está falando, o assunto que está abordando, onde isso está
ocorrendo, o porquê e como (o famoso lead);
6. Descrição no texto das cenas que aparecem nas imagens, caso elas
também sejam enviadas;
7. Ser direto e simples ao contar a história. Realizar um roteiro antes
da gravação de um vídeo pode ajudar;
8. Verificar a nitidez do áudio e imagem do seu vídeo. Uma boa iluminação
é importante para a qualidade da imagem.

Percebe-se que as condições e orientações da participação do usuário
no portal é uma aula sucinta de técnicas do texto jornalístico. Conforme
Carvalho (in BRAMBILLA 2011), a adoção na produção dos conteúdos e de
inclusão do público em coberturas de notícias foi um dos métodos
encontrados pelas empresas jornalísticas. Sobre essa questão, Vacas defende
que

Os UGC se movimentam consideravelmente melhor que os
conteúdos majoritários no novo mercado hipersegmentado
surgido da digitalização das antigas redes de
distribuição, já que sua essência é o nicho. O paradoxo
atual é que, embora esta premissa seja verdadeira, também
ocorre que só têm inserções significativas os produtos
mais reconhecidos pelos usuários, ou seja, aqueles
provenientes dos antigos meios. A atuação situação
descreve perfeitamente um ponto sem retorno já que é
difícil imaginar uma rede sem UGC, ainda que às vezes
pareça improvável que desapareçam os conteúdos clássicos.
É por isso que os grandes editores de conteúdo na Internet
oferecem uma mescla rentável entre uns e outros com maior
porcentagem de conteúdos produzidos por usuários já que
estes são gratuitos. (VACAS, 2010, p. 51-52, tradução
nossa).


Se antes a participação do público se limitava a sessões dos vários
meios de comunicação, com as mídias sociais foram potencializados a
produção, distribuição e compartilhamento dessas mídias. Assim, as redes
sociais conseguiram atingir mais pessoas de forma mais rápida, pois criaram
redes que estão permanentemente conectadas e por onde circulam informações
de forma síncrona (como nas conversações, por exemplo) e assíncrona (como
no envio de mensagens). (RECUERO in BRAMBRILLA, 2011)
Com as redes sociais e o advento das tecnologias houve uma revolução
na forma de circulação da informação, pois antes ela era filtrada e
repassada. A que era repassada, era conectada à conversação, no qual era
debatida, discutida e, assim, gerava a possibilidade de novas formas de
organização social baseadas em interesses coletivos. (RECUERO in
BRAMBRILLA, 2011)
Essa revolução permitiu avanços nas discussões de assuntos públicos.
Se o conceito de espaço público elitista, conforme Habermas (2003),
considerava apenas para cafés e bares a importância de se discutir assuntos
que também tinham a ver com a sociedade em geral, o espaço público na era
digital ainda era elitista, afinal o acesso, apesar de ter agora grandes
proporções, de longe chegava às minorias.
Mas de fato, se tratava de um novo comportamento antes cerceado pelos
próprios meios de comunicação e pelo Estado. Um exemplo desse comportamento
foi observado no ano de 2009, na cidade de Manaus, período no qual grupos
formados no microblog Twitter se mobilizaram para discutir leis que eram
aprovadas na Câmara Municipal e manifestaram péssimas impressões ao
prefeito da época, Amazonino Mendes, e aos vereadores que teriam aprovado a
lei da Taxa do Lixo.
No caso ilustrado, o usuário participa de parte da produção destas
notícias, não somente por pautar notícias através das redes sociais, mas
também por registrá-las até antes da imprensa. Sem contar que o
comportamento dos usuários na rede começou a servir de tema para pesquisas
de pautas, no qual se filtrava o assunto mais comentado. Um exemplo é o
microblog Twitter, no qual muitas vezes o Trending Topics (assuntos mais
comentados do dia) é transformado em pauta (a respeito disso, confira
Figura 1 e Figura 2).


Figura 1 - Página de notícias do portal JusBrasil.

Fonte: Disponível em:
. Acesso
em:


Figura 2 - Página de notícias do portal Estadão

Fonte: Disponível em: . Acesso em:
13 de set. 2013

O que se percebe com as novas mídias é que muitas vezes, dependendo
do assunto que é pautado no Trending Topics, as pautas diárias são
elaboradas por usuários e não pela imprensa. Isso não significa apenas um
lado otimista de toda essa revolução digital. Ferramentas, como o
YouTube[24], segundo Burgess e Green (2009), possuem fraquezas em seus
modelos, pois as pessoas não aprendem necessariamente o que precisam para
expressar o que querem. Mas isso requereria estudos, discussões e ações
para o futuro, pois o momento agora é perceber e avaliar de que forma a
revolução digital contribuiu para a participação pública na imprensa.

3.3 Jornalismo Participativo


Cada vez mais que as redes se tornavam interativas e incentivavam o
público a fazer parte delas, surgia uma mídia mais participativa. Conforme
Savi (2007), esta mídia bidirecional permitiu a abertura de um espaço para
o público participar ativamente de processos de produção e disseminação de
informações e notícias, criando-se assim termos como jornalismo open
source, jornalismo cidadão e jornalismo participativo.
O termo jornalismo open source foi empregado, em uma de suas
primeiras vezes, no site Slashdot5[25], uma comunidade online com
interessados em informática que discutiam, em forma de fóruns e websites,
as notícias e acontecimentos sobre tecnologias da informação. Esse modelo
de jornalismo foi classificado como open source por conta de agrupar
amantes da informática, sendo então comparado com o processo open source de
desenvolvimento de software, nos quais programas de computadores eram
disponibilizados com o código-fonte aberto, para possibilitar que
comunidades de usuários avançados analisassem as linhas do programa,
corrigissem falhas e implementassem melhorias (SAVI, 2007).
Só depois o termo jornalismo open source foi usado como descrição de
novas formas de publicação online, que surgiam e garantiam formas mais
acessíveis ao público em geral. Os blogs e wikis[26], sendo usados por
pessoas que não tinham conhecimentos específicos de informática ou
programação, permitiam que mesmo assim elas pudessem publicar informações
na internet. "O termo open source não estava se referindo ao 'código fonte'
de uma matéria ou notícia, mas ao livre acesso às ferramentas de
publicação." (SAVI, 2007, p. 29).
O termo jornalismo open source era bastante relacionado à
informática. Por isso, vários autores preferem usar jornalismo cidadão
(citizen journalism) ou jornalismo participativo (participatory journalism)
quando o assunto se refere à publicação de notícias, conteúdos e
informações realizada por pessoas que não eram jornalistas profissionais.

Por um lado o termo jornalismo open source parece ter sido
adotado primeiro, contando com a ajuda tanto do site
Slashdot quanto dos entusiastas por tecnologia e software
de código aberto. Por outro lado os termos jornalismo
participativo e jornalismo cidadão acabaram tendo maior
disseminação e hoje são mais adotados, talvez porque,
diferentemente da palavra open source, originária de um
campo bastante especializado como o desenvolvimento de
software, sejam conceitos de compreensão mais fácil e
intuitiva para a maioria das pessoas. (SAVI, 2007, p. 30).


O termo jornalismo cidadão foi validado por players – dentro da mídia
de massa – após a criação do jornal sul-coreano OhmyNews. Em várias partes
do mundo o público era visto também como um repórter, de forma a despertar
assim um olhar seletivo diante da realidade. Posteriormente, a consciência
dos cidadãos de usarem seus celulares para registrar os fatos e depois
passá-los aos canais com sessões colaborativas de sites jornalísticos, foi
amadurecida com a popularização das iniciativas dos veículos em tornarem-se
abertos às contribuições do público. (BRAMBRILLA, 2011).
Entre os anos de 2006 e 2008, a sessão disponível para participação do
público deixou de ser um diferencial e passou à obviedade. Por isso que as
redes sociais nesta época passaram a ser muito mais utilizadas, acessadas e
focadas para produção de conteúdo. Por exemplo, os conteúdos produzidos no
YouTube, Twitter, Flirck e Picasa iam além dos sites de relacionamento
Orkut e Facebook, fazendo com que os usuários agreguem valor ao conteúdo,
que estes estão disponibilizando, e circulando na rede na forma de capital
social. (BRAMBRILLA, 2011).
Percebe-se na forma que o público se comporta nas redes sociais quando
agrega valor às suas publicações tipo de comportamento estimulado pelas
próprias redes de comunicação. Sobre isto Brambrilla (2011) diz que

Se até então o usuário batia na porta de um veículo
oferecendo o seu conteúdo para publicação, agora é o
veículo que deve correr atrás do usuário em busca de um
conteúdo diferenciado e com alto teor de noticiabilidade.
[...] Além da busca de pautas e personagens, o jornalismo
nas mídias sociais aproxima ainda mais o jornalista do seu
público, tornando o contato humano tão possível quanto
necessário. (BRAMBRILLA, 2011, p. 99)


Além de ser impulsionado pela curiosidade, tragédias e grandes
acontecimentos, o público também se sente motivado a participar da produção
da mídia quando insatisfeitos com os conteúdos publicados na mídia
tradicional, queixando-se de falta de aprofundamento, imprecisão e/ou
erros nas matérias (PRIMO e TRÄSEL, 2006).
Embora o público tente preencher a mídia tradicional com questões que
muitas vezes não são pautadas, e quando são os interesses empresariais
prevalecem, para Brambrilla (apud MÉDOLA e GRZESIUK, 2010) é necessário que
se tenha um profissional mediador e uma autoridade para dar credibilidade
aos assuntos debatidos pelo público. É necessária cuidar da edição do
conteúdo gerado pelo público, de forma que se valide a intervenção do
público e ainda se garanta a credibilidade das notícias, observando-se a
veracidade dos fatos passados pelo público.
Isso tudo se faz necessário por conta da forma que o público foi
sendo tratado desde o surgimento da imprensa. Afinal, o Estado usava esta
como forma de cercear algumas informações e até manipulando-as a seu favor.
Ignorando que a participação pública na divulgação de notícias,
informações, de forma que contribuísse com a imprensa, teria que desde o
seu início existir como um exercício de cidadania.

3.4 Cobertura Colaborativa


Com a característica do jornalismo participativo, no qual o cidadão
contribui com a produção de notícias, a cobertura colaborativa, além da
cooperação entre profissionais e amadores apresenta, conforme Quadros
(2010), as seguintes particularidades:

1. Utilizando a internet para divulgar as informações, é realizada
através do coletivo, dando valor aos diversos olhares acerca de um
único evento;
2. Os participantes de uma cobertura colaborativa têm liberdade para
produção de materiais conforme seu domínio e utilizando as ferramentas
de sua preferência. Porém, é necessário que haja possibilidades de
trabalho em grupo, experimentando e aprendendo novas formas. "O
conhecimento individual quando somado aos demais conhecimentos permite
que, em uma cobertura colaborativa, as informações sejam divulgadas de
maneira variada". (QUADROS, 2010, p. 23);
3. Por serem os conteúdos reflexo de carga de experiências e criatividade
de quem os produz, a autoria das produções são preservadas. A ideia é
de que o cidadão deva desenvolver o trabalho participativo, de forma
que possa utilizá-lo em seu aprendizado ou como forma de divulgação na
internet de suas produções, como em portfólios;
4. Os formatos de mídias são variados (texto, fotografia, vídeo e áudio)
para transmitir as informações. Todas estas podem ser desenvolvidas
isoladamente (utilização apenas de vídeos para cobrir um show, por
exemplo) ou em convergência, por muitos suportes midiáticos;

A definição de cobertura começa a ser bastante usada após ser firmada
a Associação Brasileira de Festivais Independentes (ABRAFIN)[27]. Isso
porque foi considerada uma estratégia para ganhar espaço na internet. Para
isso contou com o início da estruturação de uma rede de festivais
independentes no Brasil, após em 2005, no Festival Abril pro Rock na cidade
de Fortaleza, Ceará, e com a própria sistematização da ABRAFIN.
Com o crescimento dos blogs e microblogs, as coberturas colaborativas
ganharam uma nova ferramenta para suprir o problema da falta de divulgação
ou melhorá-las. Conforme Ricordi (2012, p. 9), "tais festivais agora contam
com coberturas colaborativas em que voluntários pré-cadastrados e/ou
público, escrevem e registram os eventos dos festivais em blogs por meio de
coberturas estruturadas".
Os voluntários de uma cobertura colaborativa são orientados e muitas
vezes têm seu material editado por equipes de comunicação. O trabalho dos
colaboradores é somar com suas visões e sensibilidades, de forma que possam
influenciar nas fotos, no texto, no vídeo, passando, assim, de um
jornalismo mainstream para uma difusão em rede.
Para que esta divulgação chegue até o público, Quadros (2010) diz que
é necessário criar estratégias de divulgação que despertem o interesse das
pessoas em acompanhar a cobertura e também atuar como colaboradores. Assim
sendo, as redes sociais de relacionamento, Facebook, Twitter e Google+, são
usadas juntamente com as versões Beta desenvolvidas com softwares livres.
Segundo Ricordi (2012), esta variedade de plataformas disponível para
a cobertura dos festivais desperta a vontade de pesquisar, observar e
analisar a estruturação e o cruzamento de mídias no conteúdo dos blogs de
cobertura. Um exemplo disso foi a organização de mídia do Festival de Artes
Integradas "Até o Tucupi", ocorrido em Manaus, nos anos de 2011 e 2012, no
qual se desenvolveram novos métodos comunicacionais na distribuição e
veiculação de conteúdos, mas também na forma de captação e construção
social dessas notícias relacionadas ao festival.
Geralmente, um mês antes do festival, a organização do festival Até o
Tucupi abre seleção para interessados em participar da cobertura
colaborativa do evento. As exigências são mínimas, sendo o principal
critério a vontade de contribuir com a divulgação do evento de maneiras
criativas.
Quadros (2010) atenta que é necessário divulgar produções quase em
tempo real e se possível, fazer transmissões ao vivo, para que se consiga
prender constantemente a atenção do público sobre o que se quer mostrar.
Assim, muitas vezes a divulgação ocorre antes do evento e durantes os dias
de realização dele, monitorando em tempo real o ritmo das atividades. Este
conteúdo produzido possibilitou o encontro de vários pontos de vistas
diferentes, de forma que contribui para uma visão própria e entendimento de
um determinado assunto.
Conforme Quadros (2010), com o usuário gerando conteúdo se verifica
uma maneira de organização na rede na qual vários conhecimentos vão sendo
desenvolvidos tanto para quem participa de geração de conteúdo, quanto para
quem tem acesso às produções.


As distinções de status entre produtores, consumidores,
críticos, editores e gestores da midiateca se apagam em
proveito de uma série continua de intervenções onde cada
um pode desempenhar o papel que desejar. [...] Na era da
computação social, os conteúdos são criados e organizados
pelos próprios organizadores (LEMOS; LEVY, apud QUADROS,
2010, p. 14).


É importante destacar que a cobertura colaborativa não tem o interesse
de competir com o jornalismo, pois ambos podem conviver de maneira
paralela, afinal, se propõem a diferentes formas de transmissão de
informações. Na cobertura colaborativa, a linha editorial se mostra
bastante flexível, mudando de acordo com o evento e de acordo com os
interesses de quem dela participa. Nesse contexto, são os participantes que
contribuem para formar a maneira de transmitir informações e decidir sobre
quais mídias serão usadas na cobertura do evento (QUADROS, 2010).
Apesar de ser uma forma de cobertura ainda pouco usada e estudada, a
cobertura colaborativa se mostra com grande potencial de garantir o
exercício da democracia aos cidadãos em termos comunicacionais. Isso se dá
em virtude de esta funcionar, assim como o jornalismo comunitário,
incentivando seus colaboradores a produzirem notícias, informações e
conhecimento pelas próprias mãos dos cidadãos.




CONSIDERAÇÕES FINAIS


Apesar do volume de informações reunidas neste trabalho, consideramos
que esta pesquisa se trata de uma obra aberta, pois a cada dia novas
tecnologias vão modificando as formas de comunicação e principalmente de
participação pública nos veículos de comunicação em massa.
Cada vez mais se nota um cenário das projeções sociais no qual o
cidadão é democraticamente participante dos meios de comunicação. Embora a
concentração democrática ainda seja heterogênea e excludente,
principalmente no Brasil por conta do acesso à internet ainda ser desigual,
o que se conclui é que os primeiros passos de uma democracia digital foram
dados.
Dessa forma, é cediço que as intervenções, lutas e bandeiras
levantadas de um público que deseja participar de fato da construção de uma
sociedade não são ainda prioritárias em grandes empresas de comunicação.
Porém, é importante que se atente a outros tipos de manifestações para que
de fato esse público seja ouvido e os direitos que se relacionam à
comunicação sejam ampliados.
É possível exemplificar com casos internacionais, nacionais e locais
que frequentemente se sucedem, a exemplo dos casos nos quais minorias
pautam a imprensa através de revoltas populares. Na cidade de Manaus,
podemos ilustrar com o caso de moradores do bairro Cidade de Deus,
localizado na zona Leste de Manaus, que em outubro de 2013 protestaram
contra a suspensão do serviço de energia elétrica, bloqueando as vias da
Avenida Camapuã. Por ser esta uma ocorrência comum naquele bairro, na
maioria das vezes as notícias dadas são mais informativas do que de fato
questionadoras e investigativas sobre as concessionárias de fornecimento.
Mas, após os moradores armarem fogueiras, bloquearem o trânsito de carros e
ônibus, e percebendo a imprensa nesse episódio que, de fato, o caso ali era
de revolta popular, as notícias no outros dias deixaram de ser apenas
informativas para serem investigativas. Alguns veículos de imprensa
questionaram os motivos das frequentes interrupções de energia enfrentadas
pelos moradores daquele bairro. Não que seja responsabilidade da imprensa
resolver problemas como este, mas esta é uma função social muitas vezes
negligenciada.
Através deste episódio relatado, concluímos que quando o povo observa
que, de fato, as grandes empresas só falam do que as interessa, ele passa a
usar as plataformas das redes sociais, seja de uma lan house ou do
trabalho, ao menos para desabafar sobre ocorridos diários que ameaçam o
exercício pleno da cidadania. O tipo de manifestação popular relatado
começa a se expandir, porém o que se questiona é sobre as mudanças reais
que estas promovem, pois, embora atualmente existam muitas informações
disponíveis, cada vez mais poucos grupos econômicos e políticos a
controlam.
Ações do jornalismo comunitário são contribuições que podem estimular
a todos, e não apenas às minorias, a repensarem mudanças que precisam ser
promovidas na sociedade, pois mobiliza setores que podem ajudar – o
presidente do bairro, o vereador, o deputado, um cientista social, um
psicólogo – para debater e desenvolver/ aguçar o senso crítico de todos.
A participação pública na imprensa não é a única responsável pela
construção de uma sociedade mais justa e democrática, mas sem dúvida, pelos
seus grandes poderes de alcance, são fundamentais, sendo comparáveis a
megafones gigantes que podem atrair atores sociais para mudanças.
O intuito de ter exposto neste trabalho a cobertura colaborativa,
embora esta seja usada em sua maioria para festivais de artes, é entender
que tanto o seu funcionamento quanto suas ferramentas podem contribuir para
a democrática comunicação. Afinal, imaginar amadores trabalhando com
jornalistas interessados em debater, em instigar e estimular pensamentos,
de forma que se ensine ou aprimore formas natas de produção de notícias, em
uma nação que de fato precisa de um trabalho coletivo para se regenerar é
somar esforços e ideais para um mundo mais justo.
Claro, que essa utopia toda não exime alguns monstros que foram
criados com essa participação pública, como mais uma plataforma para os
"grandes poderes" manipularem a minoria. Por isso, faz-se necessário o
estimulo ao debate, à educação e cada vez mais um senso crítico do que é
apresentado, pois o momento em que vivemos mostra que ao tempo em que
alguns direitos civis são ampliados, outros são cerceados.
Coloca-se em evidência cada vez mais o aperfeiçoamento dos mecanismos
democráticos de participação nos meios de comunicação, de forma que haja
mudanças não apenas na imprensa, mas na educação pública.
O que mais instiga um olhar especial para essa democratização é
perceber que embora exista demanda de cultura de massa, essa não é mais o
único mercado. E, diante de tantas manifestações organizadas pela rede,
arrisca-se o prognóstico de que, no futuro, a participação pública se
ampliará nas mídias. Cabe ressaltar, entretanto, que para que de fato
ocorram mudanças positivas, ainda é necessário estudos e conscientização de
todas as partes de que este caminhar precisa ser construído coletivamente,
somando o que cabe a cada um contribuir para assim se planejar e se
ampliar debates construtores da comunicação. Para isso é necessário um
longo caminho de mudanças, afinal embora atualmente mais pessoas tenham
condições de serem ouvidas, nem todos os direitos estão sendo ampliados.














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-----------------------
[1] A escrita cuneiforme inventada pelos Sumérios consistia em dois tipos
diferentes de sinais. O de pictogramas era um símbolo que representava um
objeto, como o desenho da palma da mão significava "palma". Já o ideograma
era um sinal que representava uma ideia, no qual se utilizavam o método de
dedução e de associação de ideias para formá-los.
[2] O sistema hieróglifo surgiu por volta de 2.800 a.C. no Egito e
consistia originalmente em representar as palavras por meio de figuras
que poderiam ter dois ou mais significados, como por exemplo as palavras
"laranja", "manga", etc.
[3] A Guerra Civil Inglesa (1642-1649), também chamada de Revolução
Inglesa, foi um conflito entre os partidários do rei Carlos I da Grã-
Bretanha e os parlamentaristas. Por querer unificar religiosamente o país
sob a Igreja Anglicana, Carlos I enfrentou a Escócia, que era quase
totalmente presbiteriana. Carlos I foi derrotado por Oliver Cromwell, que
dominava o parlamento, declarado culpado de traição e em seguida foi
executado.
[4] O Iluminismo foi um movimento filosófico e político que surgiu no final
do século XVI. Marcado pelo surgimento da filosofia moderna e da ciência, o
iluminismo é um conjunto de ideias burguesas contrárias ao absolutismo, ao
mercantilismo e ao poder do clero.
[5] Movimento que sinaliza o final da Idade Média e início da Idade
Moderna. O Renascimento foi um movimento artístico e cultural que trazia
como proposta a ressurreição consciente do passado. Desta forma o que era
valorizado agora era o homem (Humanismo) e a natureza, em oposição ao
divino e sobrenatural - conceitos que haviam impregnado na cultura da Idade
Média.
[6] A Primeira Guerra Mundial iniciou em julho de 1914 e durou até 1918. O
conflito envolveu potências de todo mundo, que se organizaram em duas
alianças opostas: os Aliados (Reino Unido, França e Império Russo) e os
Impérios Centrais (Império Alemão, Áustria-Hungria e Itália); porém como a
Áustria-Hungria tinha tomado a ofensiva contra o acordo, a Itália não
entrou em guerra. Estas alianças reorganizaram-se e expandiram-se em mais
nações que entraram na guerra. Entre os motivos que causaram a guerra,
incluem-se as políticas imperialistas estrangeiras das grandes potências da
Europa, como o Império Alemão, Império Austro-Húngaro, Império Otomano,
Império Russo, Império Britânico, Terceira República Francesa e a Itália.
[7] O navio Titanic, durante sua viagem inaugural entre Southampton, na
Inglaterra, e Nova York, nos Estados Unidos, chocou-se com um iceberg no
Oceano Atlântico e afundou duas horas e quarenta minutos depois. Com 2.240
pessoas a bordo, o naufrágio resultou na morte de 1.517 pessoas,
considerada a maior catástrofe marítima de todos os tempos.
[8] Empréstimo terminológico da língua inglesa que significa "do porteiro"
ou "guardião dos portões".
[9] Empréstimo terminológico que significa "hhorário limite para se fechar
uma matéria ou página".
[10] O Estado de Bem Estar Social é um tipo de organização política
econômica que classifica o Estado como agente da promoção (protetor e
defensor) social e organizador da economia.
[11] Conforme o dicionário Aurélio, popular significa: do, ou próprio do
povo, ou feito por ele; simpático ao povo; vulgar, trivial. Já comunitário,
significa: relativo à comunidade, sendo Comunidade a qualidade de comum;
corpo social; grupo de pessoas submetidas a uma mesma regra religiosa.
[12] Povo, segundo definições do dicionário Aurélio, é um conjunto de
indivíduos que falam a mesma língua, têm os mesmos costumes e hábitos
idênticos, uma história e tradições comuns.
[13] Paulo Freire foi um educador e filósofo que defendia a Pedagogia
Libertadora, relacionada à visão marxista do Terceiro Mundo e das
consideradas classes oprimidas, com a tentativa de esclarecê-las e
conscientizá-las politicamente. As suas maiores contribuições foram no
campo da educação popular para a alfabetização e conscientização política
de jovens e adultos operários.
[14] Termo que se refere à crescente interconexão entre as partes do mundo,
originando várias formas de interação e interdependência.
[15] Uma rede de computadores conectados que trocam informações.
[16] Um modo de acesso à informação através da internet usando o hypertext
tranfer protocol (http) e os navegadores da web.
[17] Portal de notícias de Manaus: www.d24am.com
[18] Empresa jornalística televisiva.
[19] Portal de notícias nacional: www.g1.com
[20] Portal de notícias nacional: www.uol.com.br
[21] Dados retirados do site Teleco. Disponível em:
. Acesso em: 12 out. 2013.
[22] Contenidos Generados por Usuário (UGC).
[23] Site de notícias do Grupo de Comunicações Globo. Disponível em:
. Acesso em: 22 nov. 2013.
[24] Rede social que permite que usuários carreguem e compartilhem vídeos.
[25] Disponível em: . Acesso em: 19 nov. 2013.
[26] Vocábulo de origem havaiana traduzido como comunidade, social,
utilizado dentro das mídias sócias para construção coletiva.
[27] Instituição sem fim lucrativo para auxiliar e orientar os produtores
de festivais independentes de música.
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