A partir dos elementos eminentemente narrativos de

June 19, 2017 | Autor: Little Sheepbr | Categoria: Literaturas africanas de língua portuguesa
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A partir dos elementos eminentemente narrativos de "S. Bernardo", de Graciliano Ramos, e de suas relações com o filme homônimo de Leon Hirszman e com o texto de Raymundo Faoro, explique por que a leitura conjunta dessas três obras configura um tipo de análise típico dos estudos comparados de literaturas de língua portuguesa.
Por Literatura Comparada compreendemos ser uma abordagem multidisciplinar que consiste nos estudos comparativos não só de literaturas de diferentes línguas, mas também de diferentes tipos de texto e arte. Este campo da literatura, encoraja o diálogo entre diferentes disciplinas
Em seu surgimento, no século XX, a Literatura Comparada fazia distinção entre literaturas maiores e menores, sendo que considerava que as maiores serviam de fonte inpiradoras para as menores, fazendo com que essas tivessem um papel secundário. A disciplina, portanto, surgiu contra o nacionalismo, reagindo contra o isolacionismo de muitos historiadores da literatura alemã, francesa, italiana, inglesa, etc.
Wellek em seu texto "A Crise da Literatura Comparada" (1958) , comenta o falso isolamento das histórias literárias nacionais. A falta de objeto para este estudo é também por diversas vezes criticada pelo autor. Ele faz com que a fundamentação historicista e positivista do modelo comparatista tradicional ,seja substituído por uma renovação dos objetos e métodos deste campo dos estudos literários. Para Wellek, "todos podem investigar qualquer questão, mesmo que esta se restrinja a uma única obra ou língua e podem estudar até mesmo história, filosofia ou qualquer outro tópico" (pg. 115).
Seguindo os preceitos de Wellek, é possível dizer que a análise dos elementos narrativos presentes tanto no livro São Bernardo podem ser facilmente relacionados com o filme de mesmo nome e até mesmo com o texto histórico e teórico de Raymundo Faoro.
No livro há dois momentos de enunciação, um na narração, feita por Paulo Honório, e outro quando o narrador dá voz às conversas que ele mesmo tem com os personagens. Paulo Honório está escrevendo um livro, assim ele assume não só o papel de narrador, mas também o de autor. Há um sujeito do enunciado, aquele que faz parte do tempo de enunciação e faz parte di
o mundo dos personagens, e o sujeito da enunciação, o narrador.
Além disso, temos a questão do tempo que também é construída no enunciado do narrador, e pela enunciação das personagens. Paulo Horório, ora se afasta, do momento da enunciação, ora se aproxima. No campo da enunciação o Paulo Honório narrador se distancia do Paulo Honório personagem, o narrador neste caso tem a voz mais branda, sem grandes mudanças na entonação, já o Paulo Honório personagem é mais agressivo em seus discursos, pois age ativamente nos diálogos.
Já no que diz respeito ao tempo, ofilme começa como no livro, antecipando os fatos, faz uma retrospectiva na maior parte do tempo; e no final temos uma não diferenciação de passado e futuro. O que parece existir é o presente da imagem, da cena.
Partindo para o texto de Faoro, "República Velha: Os Fundamentos Políticos", ele analisa o processo de formação da sociedade brasileira e explica que, além de ela estar sustentada no latifúndio agrícola, movida pela troca de favor, apresenta a figura do coronel, "[...] senhor da soberania, o povo que vota e decide, cala e obedece, permanece mudo ao apelo à sua palavra". (FAORO, 1989, p. 620).
Embora Paulo Honório não seja em nenhum momento denominado coronel, nem pelo narrador, nem pelos personagens, suas atitudes evidenciam que ele se comporta como tal. Ele compra votos, consegue obter São Bernardo através de trapaças, não mede esforços, e nem escrúpulos para conseguir o que quer. Dessa forma o leitor é levado à percepção do coronelismo retratado no texto de Faoro.
Paulo Honório não foi chefe político, não herdou fortuna, nem fora militar, apenas conseguiu desvendar o que era necessário para se tornar homem de presígio e poder. Quando se estabiliza economicamente, começa a exercer o coronelismo sobre aqueles que o cercam.
Assim, temos três obras diferentes, um livro São Bernardo, o filme homônimo, e um texto historicista que se relacionam entre si. Nos dois primeiros temos um total diálogo, na tentativa que o diretor do filme faz de emular o Livro. Já no texto, temos a situação histórica da época em que o livro se passa, retratada.






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