A Periferia na Televisão: o contrato comunicacional entre o programa \" Esquenta! \" e seu público

May 26, 2017 | Autor: Lu Belin | Categoria: Comunicação, Estudos Culturais, Televisão
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A PERIFERIA NA TELEVISÃO: o contrato comunicacional entre o programa “Esquenta!” e seu público1 THE OUTSKIRTS ON TELEVISION: communication agreement between “Esquenta!” TV Show and its public Luciane Leopoldo Belin2 Resumo: Em uma sociedade cuja maioria da população pertence a classes sociais economicamente desfavorecidas, a cultura popular reflete elementos das periferias das grandes cidades – uma periferia que não é apenas geográfica, mas sociocultural –, cujos hábitos e produção artística vêm sendo retratados também na televisão. Na Rede Globo, Esquenta! é uma das atrações que se dedica a apresentar características dessas classes periféricas. Tendo como quadro teórico os Estudos Culturais, este artigo aplica de maneira metodológica o conceito de contrato comunicacional (Charaudeau), com o objetivo de identificar de que maneiras Esquenta! dialoga com a população da periferia. Com o recorte em uma edição da atração, foram estabelecidas categorias de identificação entre o programa e o público na periferia, isolando os elementos que contribuem para a construção de uma negociação comunicativa entre ambas as partes: a linguagem empregada pelos participantes do elenco e convidados, o discurso verbal e não verbal e os gêneros musicais. Por meio da combinação entre estes fatores, Esquenta! cria um ambiente comunicativo que contribui para a construção da imagem da periferia brasileira frente a outros segmentos sociais, embora ela nem sempre se reconheça nessa imagem construída pelo programa. Palavras-Chave: Periferia. Cultura Popular. Estudos Culturais. Contrato Comunicacional. Esquenta! Abstract: In the Brazilian society, the majority of the population belongs to economically disadvantaged social classes. Popular culture reflects elements of the outskirts of large cities – a periphery that is not only geographical but sociocultural – whose habits and artistic production have been also portrayed on television. A TV Show named “Esquenta!” is one of the attractions dedicated to presenting features of these peripheral classes. Fundamented in Cultural Studies, this article applies methodologically the concept of communication agreements (Charaudeau), objectifying to identify the ways in which Esquenta! dialogues with the population of the outskirts. By analyzing one edition of this attraction, categories of identification between the show and the public at the periphery were established, by isolating the elements that contribute to the construction of a communicative negotiation between both parties: the language used by the participants of the cast and guests, verbal and non-verbal speech and musical genres. Through the combination of these factors, Esquenta! creates a communicative environment that contributes to the construction of the image of Brazilian periphery compared to other social segments, although those does not always recognize this image constructed by the program. Keywords: Outskirts. Popular Culture. Cultural Studies. Communication agreements. Esquenta! 1

Trabalho apresentado na Divisão Temática 5 - Comunicação e identidades culturais do XIV Congresso Internacional IBERCOM, na Universidade de São Paulo, São Paulo, de 29 de março a 02 de abril de 2015. 2 Mestranda da linha de pesquisa de Comunicação, Educação e Formações Socioculturais do Programa de PósGraduação em Comunicação da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Email: [email protected]

Introdução Toda comunicação é uma troca. Entendê-la desta maneira é pressupor que há produção de sentido em cada uma das pontas que permeiam o processo de intercâmbio de informações – aquele que quer produzir e entregar uma mensagem e aquele que a irá receber, conferindo significado a esta conforme sua maneira de interpretá-la, que é permeada por uma série de fatores. Estes aspectos que permeiam o processo comunicativo também não são fixos, variam de acordo, por exemplo, com o meio de comunicação utilizado, e isso ocorre mesmo quando o papel desse meio já não é o de uma mera ferramenta de transferência da informação, mas como um ambiente em que a troca acontece, influenciando-a. Quando se trata de um veículo de comunicação de alcance mais abrangente, como é o caso da televisão, por exemplo, os fatores que permeiam esse processo são inúmeros. Entendêlos, e entender de que maneira e em que momento da troca de informações a mútua significação acontece vem sendo uma das ocupações dos pesquisadores afiliados aos pressupostos dos Estudos Culturais (EC), cuja abordagem será discutida em seguida. Um ponto que permanece menos claro com relação à maneira como estes se articulam é a questão metodológica. Neste trabalho, propõe-se uma linha metodológica em que o embasamento teórico nos EC está em consonância com o conceito de Contratos Comunicacionais, discutido pelo teórico francês Patrick Charaudeau, que discorre a respeito da produção de sentido nos processos comunicativos e defende, assim como os EC, que a significação permeia todas as instâncias da troca de informações – a da produção e a da recepção por parte do destinatário. Nosso quadro de referência teórica é um modelo de análise de discurso que se baseia no funcionamento do ato de comunicação, que consiste numa troca entre duas instâncias: de produção e de recepção. Assim, o sentido resultante do ato comunicativo depende da relação de intencionalidade que se instaura entre essas duas instâncias (CHARAUDEAU, 2013, p. 23).

É a partir dessa linha de entendimento da comunicação que esta pesquisa se debruça especialmente sobre a comunicação midiática – mais especificamente, a televisão. O objeto selecionado para utilizar inicialmente o conceito de contratos comunicacionais com um enfoque de técnica metodológica é o programa de auditório Esquenta!, produzido pela Rede Globo de Televisão e exibido pela emissora aos domingos em horários variáveis, em geral entre 12h e 14h. Trata-se de uma atração que, com média de audiência que se situa entre 10

e 18 pontos3, busca ser popular entre o público de telespectadores nas periferias das grandes cidades. O que se percebe por meio da análise do mesmo, é um esforço por parte da instância de produção – ou seja, do programa Esquenta! – no sentido de que se estabeleça uma relação positiva entre ambas as partes. Por meio da linguagem verbal e não verbal, por meio do discurso de seu elenco, especialmente da apresentadora, e da escolha de produtos artísticos elencados ao longo do programa, este tenta se colocar como uma atração que, em meio a toda uma programação voltada para públicos distintos, é feito para esta parcela da população que vive na periferia.

A produção: quem fala Mesmo com o crescente uso da internet, a televisão ainda é o meio de comunicação mais utilizado no Brasil. De acordo com a Pesquisa Brasileira de Mídia de 2015, 95% da população nacional assiste televisão com alguma frequência – 73% tem o hábito de acessála diariamente. De segunda a sexta-feira, o brasileiro gasta em média 4h31 por dia em contato com esta mídia, enquanto o tempo de exposição nos finais de semana é de 4h14. Os canais abertos são os mais acessados, por 72% dos entrevistados na pesquisa. De acordo com levantamento encomendado pela Secretaria de Comunicação da Presidência da República (PNAD/IBGE, 2009), neste universo de canais de acesso não-pago, a Rede Globo de Televisão detém a preferência de 69,8% dos entrevistados4. Na última década, período em que cresceu a concorrência com os canais de TV paga, ou TV a cabo, e com a internet, a Rede Globo vem incorporando à sua programação atrações que, de uma maneira ou outra, procuram conversar com uma audiência que é heterogênea tanto geográfica quanto socialmente. É crescente, por exemplo, a inserção de novos programas que se relacionam com elementos da cultura popular brasileira, mais especialmente com a cultura da periferia. Uma periferia que, mais do que significar o afastamento físico das

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Considerando-se que, apenas na Grande São Paulo, cada ponto corresponde a aproximadamente 183.520 pessoas3, são cerca de 2,5 milhões de expectadores somente nesta capital no período indicado. 4 A pesquisa, realizada pela empresa Meta Pesquisa de Opinião, ouviu moradores de 12 mil residências em 539 municípios de todos os estados, homens e mulheres, acima de 16 anos.

grandes cidades, representa uma parcela da população socialmente isolada por barreiras econômicas e culturais. Atrações como os seriados Subúrbia (2012), Antonia (2007), Carandiru (2005) e Cidade dos Homens (2003), bem como o quadro Central da Periferia (2006), e, mais recentemente, a novela Avenida Brasil (2012) foram apenas alguns dos programas que se dedicaram a retratar o cotidiano na periferia – especialmente esta última, que recebeu grande atenção do público, com altos níveis de audiência5. No entanto, o programa de auditório Esquenta! é o mais recente exemplo neste caminho. Lançado inicialmente como especial de final de ano, foi incorporado à grade fixa da emissora em 2013, quando passou a ser veiculado também durante o restante do ano. Segundo a Pesquisa Brasileira de Mídia de 2014, é o sexto programa de auditório mais visto no final de semana, escolhido por 8,8% dos 18.312 entrevistados, ficando atrás apenas de atrações que não são diretamente concorrentes, seja por conta do formato diferente ou do horário de exibição incompatível – os programas Domingão do Faustão, Fantástico, jogos de futebol (sem especificar emissora), Caldeirão do Huck e Programa Sílvio Santos. A página Memória Globo, mantida pela emissora, define Esquenta! como “uma miscelânea de assuntos com entrevistas, rodas de samba, culinária e personagens populares”6. Com duração média que varia entre 75 e 90 minutos, o programa reúne temas de diferentes espectros do cotidiano da população brasileira, desde assuntos políticos, datas comemorativas e grandes eventos nacionais, até tendências gastronômicas e de vestuário e moda, trazendo com frequência discussões e falas da apresentadora, a carioca Regina Casé, sobre tópicos como o preconceito racial, de gênero e orientação sexual, a discriminação e desigualdade sociais, diferentes religiões e heranças folclóricas e de colonização das regiões do país. Um dos propósitos autodeclarados do programa, por meio da fala da apresentadora, é proporcionar oportunidades para que atores sociais discutam questões socioculturais. Grande

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Segundo o site Wikipedia, na noite de exibição do seu capítulo de encerramento, a novela Avenida Brasil marcou 56 pontos de audiência no Ibope. De acordo com o site do próprio Ibope, a novela também teve repercussão nas redes sociais na internet, com mais de 700 mil menções apenas com a hashtag correspondente ao título da atração, nos últimos quatro meses de exibição. Disponível em: http://www.ibope.com.br/ptbr/noticias/Paginas/Na-reta-final-cresce-o-ibope-da-avenidabrasil-nas-redes-sociais.aspx. Acesso em 15/12/2014 6 Disponível em . Acesso em 08 de março de 2015.

parte do tempo é dedicada a apresentar produtos culturais, com predominância de ritmos musicais como o samba, o pagode, o rap, o funk e a dança de rua. O elenco fixo também reflete essa característica. Com algumas variações a cada período, de acordo com a disponibilidade de agenda dos próprios profissionais, é formado por Arlindo Cruz, Leandro Sapucahy, Douglas Silva, Mumuzinho, Péricles, Xande de Pilares, Luane Dias. Destes, todos têm origem ligada à periferia e se relacionam com o samba e o pagode, ou ainda com o funk (ver tabela 1). Tabela 1: Elenco fixo do programa Esquenta! em 2015 Elenco Arlindo Cruz Leandro Sapucahy

Douglas Silva Mumuzinho Péricles

Ocupação inicial Músico brasileiro, compositor e cantor de samba e pagode Produtor musical, cantor e compositor de samba e pagode Ator reconhecido por seus papéis de bandido Dadinho no filme Cidade de Deus (2002) e Acerola na série Cidade dos Homens (2007) Ator e cantor de samba e pagode Cantor e compositor de samba e pagode, ex-vocalista do Exaltasamba

Origem Rio de Janeiro (RJ) Rio de Janeiro (RJ)

Rio de Janeiro (RJ) Rio de Janeiro (RJ) Santo André (SP)

Xande de Pilares

Cantor e compositor de samba e pagode, ex-vocalista do Revelação

Rio de Janeiro (RJ)

Luis Lobianco7

Ator e comediante brasileiro, reconhecido pelo trabalho na produtora Porta dos Fundos

Rio de Janeiro (RJ)

Luane Dias

Famosa por seu canal no Youtube, onde publicava vídeos criticando os figurinos de amigas da comunidade onde morava

Rio de Janeiro (RJ)

Fonte: Elaborado a partir de acesso aos sites de cada personagem.

Essa formação do grupo é parte da construção da identidade do programa e um dos indícios que permitem – ou ainda, que visam – estabelecer um vínculo de identificação por parte do público da periferia. A proposta desta pesquisa é analisar de que maneira se configura esse contrato de comunicação midiática entre a televisão e a população da periferia, tendo como recorte a primeira edição do ano de 2015 do programa Esquenta!, veiculada em 04 de janeiro8, e identificar em que aspectos se situa a negociação estabelecida entre o público e esta mídia. 7

Por motivos de agenda, o ator Luis Lobianco não participou da edição analisada e foi substituído por Ronaldo Lemos, outro comentarista que com frequência participa do programa. Lemos é nascido em Araguari (MG), é advogado, professor e pesquisador, atua na área de propriedade intelectual 8 Disponível em: . Acesso em 15 de dezembro de 2015.

Pressupostos em convergência Para que possa compreender as características estabelecidas entre as duas instâncias envolvidas no processo comunicativo que marca Esquenta!, essa pesquisa propõe a elaboração de categorias de análise do contrato comunicacional que é firmado. Este conceito é tangente à metodologia de Análise de Discurso (AD), embora não seja uma AD propriamente dita. O contexto e os elementos que circundam e que interferem no processo comunicativo assumem uma posição central na análise do contrato comunicacional, com o objetivo de identificar qual é a mensagem que se quer passar e qual reação ela espera provocar. Objetiva-se discernir como é acionada uma ‘semiologia da produção’, isto é, uma semiologia do fazer da instância de enunciação cuja busca não diz respeito nem aos efeitos possíveis da construção do produto, nem aos efeitos realmente produzidos sobre o receptor; o que esta semiologia da produção busca são os ‘efeitos esperados’ por tal instância (CHARAUDEAU, 2013, p. 26).

Para Charaudeau, o sentido de uma mensagem não está dado, ele é construído por meio da linguagem – seja ela verbal, icônica, gráfica ou gestual. “O sentido depende, pois, da estruturação particular dessas formas, cujo reconhecimento pelo receptor é necessário para que se realize efetivamente a troca comunicativa: o sentido é o resultado de uma cointencionalidade” (CHARAUDEAU, 2013, p. 27). A enunciação contida num contrato de comunicação se dá com base na junção de dados externos ao processo e a dados internos, enumerados pelo autor conforme a tabela a seguir: Tabela 2: Dados externos e internos do contrato comunicacional Dados externos - correspondentes aos tipos de enunciação

Dados internos - espaços de comportamentos linguageiros

Condição de identidade – Todo ato de linguagem depende dos sujeitos envolvidos

O espaço de locução – o sujeito toma a palavra, impõe-se como locutor e diz a quem se dirige

Condição de finalidade – Todo ato de linguagem é ordenado em função de um objetivo

O espaço de relação – o sujeito constrói sua identidade de locutor e constrói a do interlocutor, estabelecendo relações de força, aliança, exclusão ou inclusão, agressão ou conivência

Condição de propósito – todo ato de comunicação se constrói em torno de um domínio de saber, recorta o mundo em universos de discursos tematizados.

O espaço de tematização – o sujeito escolhe um modo de intervenção e de organização discursiva específico para o campo temático ao qual se dirige.

Condição de dispositivo – todo ato de comunicação se desenvolve em uma determinada condição material Fonte: Elaborado a partir das categorias sugeridas pelo autor (CHARAUDEAU, 2013, p. 68)

As condições e espaços de produção de sentidos sugeridos contribuíram na elaboração das categorias de análise e entendimento do contrato comunicacional do objeto em questão. A sugestão de uma negociação no processo comunicativa perpassa também pelo que Eliséo Veron sugere como o conceito de contratos de leitura, nos estudos de literatura. Entende-se, aqui, por contratos de leitura as regras, estratégias e ‘políticas’ de sentidos que organizam os modos de vinculação entre as ofertas e recepção dos discursos midiáticos, e que se formalizam nas práticas textuais, como instâncias que constituem o ponto de vínculo entre produtos e usuários (FAUSTO NETO, 2007, p. 03)

Ao considerar e reconhecer o papel de produção de sentido presentes tanto no universo de produção quanto no de recepção, os conceitos de contrato de leitura e de comunicação convergem com os fundamentos dos Estudos Culturais britânicos e latinoamericanos, que propõem que o público ou os receptores sejam considerados agentes ativos no processo comunicativo e sociocultural. O formato e as características do programa Esquenta! trazem em sua essência os conceitos de periferia e cultura popular. Ou seja, seus processos comunicativos estão ligados intimamente com processos culturais. A ponte entre estes dois campos é amplamente estudada pelos Estudos Culturais, que atentam para o aspecto sociopolítico, linguageiro e textual da cultura. A multiplicidade de influências e apropriações teóricas dos pesquisadores de cultura e comunicação é marcada pelo contexto social e político da década de 50, em que o mundo começa a sentir os primeiros impactos da globalização, permeado por movimentos de migração e imigração, e em reestruturação pós-guerra. Na Inglaterra, mais especificamente, o surgimento da chamada Nova Esquerda9 ajuda a despertar o interesse dos pesquisadores em torno dos impactos de toda essa agitação sobre a cultura, em um desdobramento teórico que rompe com a tradição de observar a temática cultural exclusivamente do ponto de visa “artístico” – no sentido de considerar a dicotomia entre cultura de elite, ou alta cultura, versus 9

A Nova Esquerda é considerada um movimento que propunha uma maneira nova de fazer política, tendo como característica a atenção a grupos à margem da sociedade – formado por operários, imigrantes, negros e mulheres, que passaram a reivindicar seu espaço e sua voz como agendes sociais e políticos.

baixa cultura ou cultura popular. Essa oposição perde terreno lentamente para a proposta de que o local cultural é um fenômeno vivo, em constante alteração, e engloba muito mais do que a arte. O mérito dos Estudos Culturais, não apenas na Inglaterra, é reconhecer o vínculo existente entre os processos culturais e as relações sociais e de poder. Levar em consideração os processos pelos quais os indivíduos comunicam suas necessidades, demandas e respostas sociais e políticas é também uma característica dos estudos de cultura e comunicação latinoamericanos. Percebe-se um rompimento quase que total com a abordagem da cultura relacionada com a arte elitizada, o que dá lugar a olhares direcionados ao popular, às atividades que marcam o dia a dia nas comunidades, aos produtos artísticos das classes sociais economicamente desfavorecidas e às minorias, ou, segundo Martín Barbero, a “o que, na comunicação, há do mundo da gente comum” (MARTÍN BARBERO, 2004, p.26). Para este autor, tanto a comunicação quanto a cultura ocupam hoje lugares diferentes na sociedade dos que ocupavam antes, mas se entrecruzam e se conectam em tempo integral. É a esses entrecruzamentos que se dedicam os estudos latino-americanos. Os processos sociais e culturais são perpassados por mediações que, ainda segundo Martín Barbero, os intermediam. Esta é uma das marcas do deslocamento da discussão da comunicação dos meios, da produção, para o contexto da recepção, considerando-o não apenas uma parte do processo comunicativo, mas como todo um complexo processo em si mesmo. Produtos e gêneros como o melodrama e a telenovela, por exemplo, passam a ser estudados não sob a ótica da produção, mas sob a ótica da recepção, e em relação com o contexto social em que estão inseridos. Como chegam ao seu público e porque motivos o afetam da maneira como afetam? Não com o objetivo de estimular uma lógica de mercado ou de estudar seus efeitos sobre o público, mas de entender quais processos e quais particularidades daquele grupo, daquela cultura, geram determinada aceitação em detrimento de outra, ou que aspectos influenciam a criação de determinados produtos culturais por aquela população. Este é o ponto principal em que os Estudos Culturais dialogam com o olhar lançado por Charaudeau sobre o processo comunicativo e o discurso das mídias, que será utilizado como base teórico-metodológica desta pesquisa. Assim como os Estudos Culturais, a proposta do autor francês visa analisar que aspectos fazem com que se estabeleça o contrato

comunicacional, ou seja, entender quais são as características que permeiam os diversos momentos entre a produção e a recepção de uma mensagem e que permitem que uma conversa ou uma troca aconteçam entre os participantes desta negociação. No caso do objeto em questão, quais são os elementos presentes no programa analisado e que permitem que se estabeleça um vínculo de comunicação com o público da periferia.

Transformação e Transação A produção de sentido acontece quando se combina o que se fala, quem fala, com o que se escuta e com quem escuta. De acordo com Charaudeau (2013, p. 41), ela só acontece por meio de uma situação de troca envolvendo formas linguageiras num processo duplo, à qual ele chama de “transformação” e de “transação”. O primeiro dá significação por meio de formas que identificam os seres do mundo nomeando-os, que aplicam a esses seres propriedades qualificando-os, que descrevem as ações nas quais esses seres estão engajados narrando, que fornecem os motivos dessas ações argumentando, que avaliam esses seres, essas propriedades, essas ações e esses motivos modalizando. (Idem, p. 41).

Já o processo de transação leva em conta as hipóteses sobre a identidade do outro, o destinatário-receptor, quanto a seu saber, sua posição social, seu estado psicológico, suas aptidões, seus interesses, etc.; o efeito que pretende produzir nesse outro; o tipo de relação que pretende instaurar com este outro e o tipo de regulação que prevê em função dos parâmetros precedentes. (Ibidem, p. 41).

A junção desses dois momentos funcionou como base metodológica para as categorias de análise da edição em questão do programa Esquenta!. As primeiras são categorias de transformação na produção, em que se identificaram as condições de 1) Identificação do emissor; 2) Qualificação do emissor; 3) Narração e explicação das ações; 4) Justificativas pelas ações do emissor. As segundas dizem respeito ao processo de transação e se dedicam a compreender o destinatário a partir das mensagens. São elas: 1) Com quem fala; 2) O que quer que escute; 3) Que relação se quer estabelecer, conforme listadas a seguir. 1) Identificação do emissor. O clipe de abertura traz os nomes de todos os participantes do elenco fixo e o programa começa com a apresentação verbal dos convidados de cada edição. Tanto entre convidados quanto no elenco a predominância é de pessoas de pele negra. Com exceção de um convidado, todos são nascidos no Rio de Janeiro e têm atuação ligada à

periferia – cantores de samba e pagode, ator que interpreta papeis de morador de comunidades pobres, celebridade negra da internet. A entrada dos convidados e da própria apresentadora acontece enquanto é tocada uma música – um samba. Em inúmeros momentos, reforça-se a identidade negra, como é o caso da citação a seguir, presente no discurso da apresentadora no trecho a seguir, recortado do programa aos três minutos do primeiro bloco: Sabe o que acontece? A gente no Brasil finge que isso não existe, mas no Brasil você chega num lugar, normalmente, pode ser uma festa, o que for, mesmo uma escola de samba. É um lugar de preto que tem alguns brancos simpatizantes, ou o contrário.10

2) Qualificação do emissor. A estratégia de qualificação da apresentadora já começa na primeira fala desta na entrada. Quando diz: “Chegou o verão Esquenta!, gente! Porque o Esquenta, assim como eu, que nasci numa segunda-feira de Carnaval, o Esquenta! nasceu pra ser só um amor de verão. Mas esse amor durou tanto que a gente tá juntinho o ano todinho de ponta a ponta”. Essa fala firma não apenas a própria Regina Casé em sua aproximação com o público, como também a satisfação deste com a atração televisiva – ou seja, embora fosse inicialmente apenas por um período limitado, no verão, foi tão bemsucedida que se manteve no ar indefinidamente. Outra estratégia neste sentido é a de se colocar no lugar do emissor. Aos 12 minutos, quando o tema da conversa é a MC Xuxu, cantora de funk transgênero, um dos convidados pergunta sobre a questão da dificuldade de ainda ser chamada pelo nome de registro de nascimento, mesmo que agora seja uma mulher. O discurso da apresentadora diz “a gente tá brincando e rindo, mas no dia a dia isso é muito puxado. Você ser zoado desde pequenininho o tempo todo, não é mole não, gente, é difícil pra caramba. Qual é o lema do Esquenta?”, convidando o público verbal e gestualmente a uma resposta que já é de conhecimento geral, uma vez que o retorno é imediato, com a frase: “Xô, preconceito!”. Esta ação mostra uma intencionalidade no sentido de se colocar como um aliado da parcela do público que se identifica com a situação de preconceito vivida pela MC Xuxu por conta de sua identidade de gênero. 3) Narração e explicação das ações. A narração das ações comunicativas nesta edição de Esquenta! é feita, em grande parte, pela própria apresentadora. Por conta de seu discurso durante a exibição da atração televisiva e também por seu longo histórico na televisão, no

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CASÉ, Regina. Trecho retirado da transcrição da edição 04.01.2015 do programa Esquenta.

qual em grande parte atuou em programas conectados à cultura popular e à população da periferia, seu papel desperta credibilidade e é fundamental para estabelecer a relação de negociação com o público da periferia. Ela é responsável por conduzir as duas partes envolvidas – a do público que assiste e a da emissora – a um lugar de diálogo. O crédito que se pode dar a uma informação depende tanto da posição social do informador, do papel que ele desempenha na situação de troca, de sua representatividade para com o grupo de que é porta-voz, quanto do grau de engajamento que manifesta com relação à informação transmitida (CHARAUDEAU, 2013, p. 52).

No caso de Regina Casé, o discurso é sempre feito em primeira pessoa do plural, a todo momento ela utiliza pronomes como “nós”, expressões como “a gente”, além de conversar utilizando gestos com as mãos, os braços e a expressão facial, sempre empregando gírias e linguagem informal, como nos exemplos de fala elencados a seguir: 4min31s: A Paolla Oliveira, ela adora carnaval. Ela já foi rainha de bateria duas vezes. E não é caô não, ela cai no samba mesmo. Chega pra cá, Paolla! 18min38: [Regina circula pelo palco, vai de um lado a outro se aproximando de vários convidados e do público na plateia] Gente, sabe o que que é essa parada aí? Lembra daquele cone temaki que veio com tudo? Aí qualquer lugar que cê ia tinha cone de qualquer coisa, cone de pizza, cone de feijoada? 27min: Quando chega o verão tem uma turma que dá show, é um pessoal que rala pra caramba debaixo do sol.

Assim, possui representatividade, e seu discurso verbal demonstra engajamento, conforme será citado na próxima categoria listada. 4) Justificativas pelas ações do emissor. Em Esquenta!, as atrações são apresentadas e a argumentação que justifica sua escolha são normalmente ligadas à tentativa de inserir a cultura da periferia na televisão e nas demais culturas brasileiras, com um discurso de combate ao preconceito. O diálogo abaixo, estabelecido entre a apresentadora Regina Casé e o convidado Ronaldo Lemos aos três minutos do primeiro bloco, diz: Regina: Ninguém aguenta mais ouvir isso, a gente sabe que é bobeira, mas quando entra nesse assunto, as pessoas falam assim: ‘Pô, a Regina fala de favela, fortalece a favela, ela mora na Zona Sul! (...) Se uma pessoa que mora na zona sul, não pode fortalecer, respeitar e admirar alguém que mora na favela, é como, pra eu não ser homofóbica, eu tenho que ser gay, pra não ser antissemita, e não ir contra ela, eu tenho que ser judia. Vamos pensar um pouco sobre isso? É ou não é? [aplausos] Todo mundo quer não ter vala negra, todo mundo quer ter educação, quer ter os filhos, quer segurança, quer... todo mundo quer ver a tia poder ir pro trabalho e voltar em segurança, os meninos estudando. E esse lado, é claro que todo mundo quer, ninguém acha bom isso. É claro, quem vai dizer que é bom? Uma coisa é respeitar e admirar a cultura que é produzida lá, e a dignidade e o respeito que as pessoas conseguem ter apesar de uma vida indigna, onde a sociedade não tem respeito por

elas, e elas se darem o respeito, isso pra mim é um ponto de amor, de respeito e de admiração, e é o que o Esquenta! faz e vai continuar fazendo, é isso, pronto.

Assim, a linha discursiva focada no combate ao preconceito contra a população da periferia é o principal ponto em que se apoia a fala da apresentadora. Ela assume sua diferença de origem – ao dizer que mora na Zona Sul carioca, uma região de população de classes sociais economicamente elevadas – e contrapõe esta diferença ao se colocar ao lado do público, com um discurso favorável à aceitação das formas culturais e sociais da periferia. A maneira como esta mensagem é codificada e decodificada no processo desde a produção do programa até chegar aos receptores, no sentido proposto por Hall, é que influencia a maneira como o contrato comunicacional será estabelecido. Antes que essa mensagem possa ter um “efeito” (qualquer que seja sua definição), satisfaça uma “necessidade” ou tenha um “uso”, deve primeiro ser apropriada como um discurso significativo e ser significativamente decodificada. É esse conjunto de significados decodificados que tem um efeito, influencia, entretém, instrui ou persuade, com consequências mentais muito complexas (HALL, 2009, p. 368).

Esse caminho de codificação e decodificação é analisado com base na segunda linha de categorias contratuais – a das formas de transação, considerando o destinatário. 1) Com quem fala. A escolha do elenco tem representatividade no sentido de atrair atenção por meio das características de representatividade já citadas. Na edição analisada, os convidados (ver tabela 3) possuem características que os relacionam com a periferia. Tabela 3: Atividades dos convidados Convidado Turma do Pagode Paolla Oliveira Rael MC Xuxu Gabriela Rossi Dupla Tiago e Edilson Dupla RP e Virgílio Laurinha do Camarão

Atividade/ característica Grupo de pagode Atriz Cantor de rap, funk e pagode Cantora de funk transgênero Blogueira de moda e gastronomia Vendedores ambulantes Vendedores ambulantes Vendedora ambulante

Fonte: Estruturado a partir da análise da edição de 04 de janeiro de 2015

Dos convidados listados, apenas duas mulheres não se relacionam diretamente com ritmos musicais da periferia ou não possuem origem na periferia: Paolla Oliveira e Gabriela Rossi. No entanto, durante o programa Paolla é apresentada em situações que a qualificam como uma pessoa acessível e à vontade junto à população destas regiões – primeiramente, sua apresentação como rainha de bateria, ou seja, ligada ao samba; em seguida, seu relato de uma viagem à África, onde aprendeu a dançar um ritmo africano que ela precisa reproduzir

no palco, em coreografia ao lado de Douglas Silva, e, por fim, convidada a praticar um jogo de bola, a “altinha”, um tipo de brincadeira disputada nas praias do Rio de Janeiro. A outra convidada, Gabriela Rossi, embora não seja colocada em nenhuma dessas condições similares à de Paolla, é chamada para falar sobre sua receita de paletas mexicanas, um tipo de sorvete que vive um momento de popularidade no Brasil, e cuja forma de preparo é apresentada no blog de Gabriela e teve milhões de buscas durante o ano de 2014. Todos os restantes fazem parte de minorias periféricas – negros, vendedores ambulantes, transgênero, ex-moradores ou moradores atuais de favelas cariocas. 2) O que quer que escute. Um dos aspectos é a musicalidade. Ao longo dos 83 minutos de programa, são tocados quatro sambas, três sambas-enredo carnavalescos, seis pagodes, duas canções de MPB, um funk, um axé, um reggae e uma música que mescla samba e hip-hop, ritmos diretamente conectados com as periferias e com a população economicamente desfavorecida nas grandes cidades brasileiras. Outro aspecto é o posicionamento do programa como um “ouvinte” do seu público. Por meio do discurso do elenco, Esquenta! abre espaço para escutar o que seu público tem a dizer. A fala a seguir, um diálogo entre a apresentadora e a convidada Laurinha do Camarão, foi extraída do primeiro bloco e é um exemplo neste sentido: Regina: E cê gosta de trabalhar na areia da Praia, Laurinha? Laurinha: Eu amo aquela praia, mantém meus filho e meus netos. Regina: Os netos também, porque você cuida dos netos? Laurinha: Minha nora foi embora deixou três netos e eu cuido. Regina: Isso é tão comum. Quantas mulheres tem assim? Chefe de família no Brasil eu digo, não é só mãe. Em geral é avó, que cuida dos filhos e que cuida dos netos!

3) Que relação se quer estabelecer. A estrutura para entender esta categoria está relacionada a uma conjunção entre todas as citadas anteriormente. A tentativa de estabelecimento de uma relação acontece por meio da escolha de um elenco e de uma apresentadora que estão diretamente ligados ao perfil da pessoa que mora na periferia no Brasil, da utilização de ritmos musicais que remetem a este indivíduo, e de elementos presentes na cultura da periferia – na culinária, por exemplo, quando os convidados do grupo Turma do Pagode preparam um churrasco no palco. Há um trecho no discurso da apresentadora, aos seis minutos do segundo bloco, em que ela verbaliza sua intencionalidade quanto à relação com seu público:

O meu sonho pro Esquenta, pro Brasil e pro mundo, é que seja que nem aqui, que você não consiga encontrar nem na mesa do restaurante, duas pessoas iguais e da mesma cor. Por que que a gente tem pra fazer de melhor na vida é celebrar a diferença, é festejar a diferença.

Assim, enquanto por meio da escolha de seus convidados e elenco, o programa parece tentar estabelecer uma conversação especialmente focada na periferia do Rio de Janeiro, a fala da apresentadora constantemente reforça o desejo de reunir a pluralidade de culturas que é característica da população brasileira.

Considerações finais As mensagens veiculadas na televisão são marcadas por uma característica particular, que é a dificuldade de se estipular quem é o seu enunciador, como já elabora Charaudeau. A imagem televisionada tem uma origem enunciativa múltipla com finalidade de construção de um discurso ao mesmo tempo referencial e ficcional, o que coloca um problema de responsabilidade jurídica: quem é o autor de uma informação televisiva? Quem pode responsabilizar-se pelo sentido que lhe é conferido? (CHARAUDEAU, 2013, p. 110)

Assim, o que se propôs a desenvolver neste artigo foi uma discussão acerca do momento de produção do programa, levando em consideração muito mais o “por meio de quem e do que se fala” do que o “quem fala” nos dois blocos analisados de Esquenta!. Entender quais as características presentes no discurso dos participantes do programa – seja a apresentadora, o elenco fixo ou seus convidados e plateia – que contribuem para que se exerça uma relação de comunicação entre esta atração televisiva e o público que se encontra em frente à televisão assistindo ao Esquenta! aos domingos. Não se trata de fazer uma avalição valorativa de se o programa representa ou não os interesses dos grupos que são citados ao longo do programa, se é eficaz nesse sentido, mas muito mais de entender quais aspectos permeiam esse contrato comunicação e demonstram essa intencionalidade, já que a existência deste contrato não pressupõe concordância ou discordância de ambas as partes, apenas uma troca de informações, que pode ser simétrica ou não. O que se percebe, ao analisar a edição do dia 04 de janeiro de 2015, a primeira do ano, é que a negociação comunicacional é permeada por discursos por parte da apresentadora e que reforçam uma fala direcionada a estas periferias, principalmente à população negra. Um discurso que se posiciona social, política e culturalmente como favorável à diferença, o que é reforçado com a presença de convidados que detém representatividade – os cariocas, as pessoas de pele negra, uma transgênero, entre outros.

Por conta de sua pluralidade de discursos e de formatos, Esquenta! é um objeto de estudos que não se esgota com a análise de apenas uma edição. Demanda a busca de um recorte mais amplo e que permita analisar, por exemplo, o comportamento cultural do seu elenco com convidados diferentes e em situações distintas – uma edição ao vivo, por exemplo. Outra abordagem possível e muito rica, porém também para um trabalho mais amplo, é a que escuta de maneira direta essa população, seja por parte de uma análise de consumo quanto de recepção, em si.

Referências bibliográficas BRAGA, José. Constituição do campo da Comunicação. São Leopoldo, Verso e Reverso, XXV(58):62-77, janeiro-abril 2011. Brasil. Presidência da República. Secretaria de Comunicação Social. Pesquisa brasileira de mídia 2014: hábitos de consumo de mídia pela população brasileira. Brasília: Secom, 2014. Disponível em: Acesso em: 10 de dezembro de 2014. CHARAUDEAU, Patrick. Discurso das Mídias. São Paulo: Contexto, 2013. EAGLETON, Terry. A ideia de Cultura. São Paulo: Ed. Unesp, 2005. FAUSTO NETO, Antonio. Contratos de leitura: entre regulações e deslocamentos. Diálogos Possíveis (FSBA), v. 6, 2007. GOVERNO Federal – Secretaria de Comunicação. Pesquisa Brasileira de Mídia 2015. Disponível em:. Acesso em 08 de março de 2016 HALL, Stuart. Da Diáspora. Identidades e Mediações Culturais. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2009. IBOPE: Audiência de Televisão – 2000. Disponível em: Acesso em 20 de setembro de 2013. MARTÍN BARBERO, Jesús. Dos meios às Mediações: Comunicação, cultura e Hegemonia. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1997. MARTÍN BARBERO, Jesús. Ofício de Cartógrafo. Travessias latino-americanas da comunicação na Cultura. São Paulo: Edições Loyola, 2004. MEMÓRIA Globo. Ficha técnica do programa Esquenta! Disponível em: . Acesso em 08 de março de 2015. OBSERVATÓRIO da Imprensa. Pesquisa Brasileira de Mídia 2014, da Secretaria de Comunicação do Governo Federal Brasileiro. Disponível em: . Acesso em 08 de março de 2016 PESQUISA Nacional por Amostra de Domicílios do IBGE – PNAD 2009. Disponível em: Acesso em: 10 de dezembro de 2014.

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