A PERSPECTIVA DOS CÉTICOS E GLOBALISTAS SOBRE A GLOBALIZAÇÃO

May 27, 2017 | Autor: Rafael Ramos | Categoria: International Relations, Globalization
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A PERSPECTIVA DOS CÉTICOS E GLOBALISTAS SOBRE A GLOBALIZAÇÃO Elton Cardoso Leon Torquato Luiza Freitas Mateus Gomes Rafael Paes Rafael Ramos1 Docente: Kamila Massoud2 RESUMO: Neste trabalho, apresentamos ideias contra e a favor da globalização demonstradas nas abordagens de céticos e globalistas, passando pela contextualização histórica do sistema capitalista, da busca pelo poder, o conceito e os contrastes desse processo. Mostramos o quanto que é importante o debate de ideias acerca da globalização na área de relações internacionais, e de maneira geral procuramos destacar o quanto é imprescindível a compreensão de cada lado para a formação de identidades críticas no mundo atual. Por fim, concluímos é que de extrema importância estudos que visam a caracterização, formulação de ideias e debates sobre a globalização, principalmente quando há formas alternativas de abordar as vantagens e os problemas desse processo. PALAVRAS-CHAVE: Mundialização; Debate de ideias; Globalização popular; Relações Internacionais. INTRODUÇÃO O termo globalização tem sido um dos mais utilizados pela mídia em geral nas últimas duas décadas. Pode-se definir globalização como um processo bastante amplo, que se caracteriza pelo intenso intercâmbio mundial de mercadorias, capitais, pessoas e serviços. Antes de 1991, esse termo era pouco utilizado. Ele passou a ser frequentemente empregado por pesquisadores, jornalistas e pessoas em geral após o fim

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Acadêmicos do primeiro semestre do Curso de Bacharelado em Relações Internacionais da Universidade

Federal do Amapá (UNIFAP). Email; [email protected]. 2

Docente da disciplina de Português Diplomático do Curso de Bacharelado em Relações Internacionais da

Universidade Federal do Amapá (UNIFAP). Email: [email protected].

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da União Soviética, quando as principais barreiras para a expansão do capitalismo pareciam ter sido eliminadas. Embora o termo globalização seja relativamente novo, acredita-se que o fenômeno teria se iniciado com as grandes navegações dos séculos XV e XVI. A diferença entre as “globalizações do passado” e a globalização dos dias atuais é que em nenhuma época se produziu um volume tão grande de riquezas e houve uma integração econômica tão imensa entre os países. A globalização é um processo que suscita controvérsias principalmente quando a mesma é objeto de estudos e pesquisas. Os Pensadores da globalização dividem-se em dois grupos, os céticos e os globalistas que tem visões distintas da globalização, desde os conceitos até as novas ordens mundiais estabelecidas pelo fenômeno. Apesar das divergências entre globalistas e céticos, os mesmos foram essenciais para a consolidação de estudos sobre a globalização, sendo que este fenômeno possui extrema relevância para o campo científico das Relações Internacionais. O objetivo deste trabalho é apresentar, contextualizar e debater as perspectivas dos céticos e dos globalistas quanto ao processo de globalização, discutindo suas ideias e situando-as no contexto capitalista. Para isso, começaremos situando o contexto histórico em que surgiu, demonstrando a busca pelo poder das nações europeias para com o resto do mundo, além de mostrar o conceito, suas problemáticas e contrastes. Entraremos então no debate das perspectivas de céticos e globalistas, suas principais ideias e as formas alternativas de globalização (no caso a globalização popular) e onde ela se encaixa nesse debate de céticos e globalistas. Por fim, as considerações finais do trabalho desenvolvido.

1 O contexto histórico, a busca pelo poder e o conceito de globalização

Sobre o viés das expansões marítimas que ocorreram durante o século XV e XVI, encabeçadas pelos países Europeus que buscavam uma ampliação de suas riquezas em necessidade da manutenção de seus sistemas econômicos ascendentes, é possível notar deste ponto as faíscas que permitiriam o surgimento de uma sociedade internacional que se desenvolveria e englobaria todos os Estados e colônias existentes, submetendo-os a um mesmo ideário econômico que promoveria gradualmente uma

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aproximação (aparente e desigual), a priori pelo viés comercial, destas entidades políticas e que alcançaria âmbitos como o político, o social e o cultural (AGGIO; COELHO, 2004). Ainda que importante, as vozes que expressam e tentam, de alguma forma, conceituar o que é a Globalização só começaram a ressoar no cenário mundial na contemporaneidade, difundindo-se das academias para uma noção popular sobre o fenômeno. Há teóricos como Samuel Huntington (1994) que referem-se a esse fato como uma onda democratizante que surgiu com o colapso do comunismo e que deu liberdade ao capitalismo para propagar-se sem limitações pelo globo, incitando a democracia política em vários países encabeçadas pelos interesses de potências europeias e dos Estados Unidos. Seguindo essa perspectiva e explicitando uma diversidade quanto a concepção do que é realmente esse processo de aproximação (tanto econômico, social e político) dessas unidades de poder, há aqueles que limitam esses pilares ao afirmarem que essa integração só é possível com a hegemonia estadunidense. Nota-se que o círculo de informações que discorrem a respeito deste assunto é tão diverso e amplo que uma conceituação única e definitiva deste, ainda é uma realidade a ser construída. Entretanto, pode-se apontar uma questão em comum entre o conjunto desses conhecimentos: para eles, é inegável o fato de que as antigas limitações territoriais sofreram uma drástica diminuição, mitigadas através do aumento do fluxo de informações que minimizou a distância entre as comunidades e promoveu a intensificação do contato entre as pessoas. A Globalização ampliou as possibilidades de crescimento, da reconstrução de subjetividades com o intuito de promover uma série de temas que dizem respeito à dignidade humana, permitiu a promoção de sistemas políticos mais igualitários; precisamente, suas contribuições foram inúmeras, assim como as suas consequências, moldando-se através de um processo que mutilou, agrediu e eliminou povos inteiros; caracteriza-se, portanto, como um elemento extremamente contraditório.

2 Debates entre Céticos e Globalistas: Perspectivas diferentes

Embora a complexidade de seu conteúdo impossibilite a construção de um conceito universalmente aceito, uma vez que os debates sobre sua veracidade são

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pungentes em todo o globo, há duas correntes de pensamentos que circulam pelas academias e que alcançaram, a partir de seus argumentos, certo nível de ortodoxia. Denominados como globalistas e céticos, os primeiros sustentam a ideia de que a Globalização é um processo real e profundamente transformador enquanto os segundos divergem quanto a essa concepção, dizendo que é a partir dela que surgem as dificuldades que impossibilitam uma definição clara sobre as forças que estão modelando a sociedade contemporânea (HELD; MCGREW, 2010). Para os céticos, apesar do reconhecimento de que a globalização possui um caráter benéfico, a associação desse benefício é ligada a um conceito errôneo sobre democracia. Articula-se que o liberalismo não é a grande mola propulsora das democracias e que a globalização não é mais do que uma internacionalização das economias e sociedades distintas. Levando em consideração momentos históricos que demonstraram processo parecido de vinculação de suas unidades políticas, é dito que a globalização surge como um fato que tenta justificar e legitimar o processo global neoliberal. Associando-se a visão marxista sobre o assunto, criticam o fenômeno como um novo ressoar do imperialismo baseando-se na aparente hegemonia dos EUA, fortemente ligado a mecanismos de controle e vigilância multinacionais e capaz de exercer significativa influência sobre as decisões por eles tomadas, acusando o conjunto de transformações que ocorreram no cenário internacional como um processo de “americanização” (HELD; MCGREW, 2010). Pelo viés de uma interpretação mais radical sobre o cenário internacional, há céticos que veem na globalização uma diminuição do bem-estar social, uma consequente ampliação das barreiras que dificultam a movimentação de pessoas pelo globo, ocasionadas pelo movimento diminuto de capitais gerados por um mercado financeiro intensamente poroso a crises descontroladas e, portanto, estabelecendo um cenário de instabilidade. Assumindo uma postura mais ideológica e divergindo dos céticos quanto as transformações causadas pela globalização, os globalistas a entendem como um conjunto de alterações profundas e reais sobre as camadas da sociedade que promoveram a difusão de culturas, a expansão da preocupação quanto aos problemas ambientais, o surgimento de corporações com relevância internacional e de mercados financeiros. Para eles, é necessário focar (embora não unicamente) sobre as relações inter-regionais e intercontinentais que cristalizaram-se, desprendendo-se das limitações

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que permeiam as ideias de local e nacional, considerando-as fluídas e dinâmicas. Ao tomar a direção histórica, explicam que para entender a globalização é necessário compreender as fases de seu desenvolvimento e suas diferenças, localizando padrões de suas transformações no decorrer dos anos e a partir disto estabelecer aquilo que lhe é mais característico. Em seus estudos sobre o fenômeno globalizante, busca-se compreender essencialmente sobre a sua configuração, distribuição e impacto, vinculando-se as ideias de governança democrática e cidadania global (HELD; MCGREW, 2010; RIBEIRO, 2010). Apesar de suas diferenças, os céticos e globalistas convergem em algumas interpretações da realidade sobre as consequências da globalização: segundo suas interpretações sobre o fenômeno, na medida em que houvera a intensificação da interconexão entre as diferentes economias, expandiram-se as desigualdades dentre as comunidades, surgiram novas formas de se pensar a política, a economia e as culturas; ampliaram-se as competições inter-regionais e globais que desafiam as velhas hierarquias e intensificam as diferenças de poder, conhecimento e privilégios; o surgimento de uma governança internacional que apresenta importantes questões normativas sobre a ordem mundial, construindo-a aos moldes de seus interesses.

3 Formas alternativas de globalização: globalização popular

A globalização tornou possível uma grande quantidade de novos recursos para ação local das sociedades, incluindo novos discursos, práticas e identidades (que inclui gêneros e estilos) que são internalizados e operacionalizados. O “lugares” são as cidades, vilas, tribos, regiões etc, onde a maioria das pessoas ainda vivem suas vidas. As estratégias sociais dependem do posicionamento particular de cada indivíduo (em termo de relações entre as classes sociais, as relações entre os gêneros e outros) dentro desses lugares (FAIRCLOUGH, 2004; RIBEIRO, 2010). Segundo Fairclough (2004) há uma linha tênue entre os interesses, objetivos, estratégias e discursos individuais com os gerais (da sociedade como um todo), embora ainda haja um conflito entre eles. Mas é importante ressaltar que esse diálogo é o responsável pela criação de modelos de ação, que acabam permitindo a inserção dessas sociedades em um âmbito além de seu “habitat”, uma vez que a partir dessas lutas por

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um objetivo comum, elas podem entrar em contato com outros pensamentos comuns de outras sociedades, o que ajuda na formação de alianças entre diferentes lugares, entre grupos e organizações agindo em uma escala local, nacional, macro-regional ou até mesmo global. Esses contatos tornam possível o que é chamado de “ativismo transnacional” e organizações de escala global, como o Greenpeace. Esse autor debate sobre as estratégias de indivíduos ou grupos em lugares específicos, defendendo-os dos processos negativos da globalização e discutindo a respeito das possibilidades que são oferecidas a eles por esse processo. Dentre estas estratégias encontra-se as que vão contra do Globalismo e as alternativas para ele.

CONDIDERAÇÕES FINAIS

Ao longo do trabalho foi discutido as perspectivas acerca da globalização na visão dos Céticos e dos Globalistas. Em meio a diversificadas literaturas pode-se encontrar diversas visões, na maioria das vezes conflitantes entre si no que diz respeito às consequências da globalização no mundo e os contrastes que se pode notar. Nesse contexto de debates sobre a crescente inter-relação das questões humanas, essas teorias são de extrema importância para a formação de mentes críticas. A globalização e todos os seus conceitos (sejam políticos, econômicos ou sociais), formaram não uma única sociedade – pois cada uma apresenta suas particularidades, culturas e valores -, mas ajudou a expandir através de seus inúmeros discursos que vão desde as mídias até a ciência, todas as ideias ao redor do mundo. E as mais diferentes sociedade usam isso de forma local, para construir um interesse comum mínimo, e compartilhar com outras sociedades a fim de formar uma consciência global em prol da resolução das deficiências da globalização e seus contrastes. Portanto, há tanto os pontos positivos, quanto os negativos. É de extrema importância estudos que visam a caracterização, formulação de ideias e debates sobre a globalização, principalmente quando há formas alternativas de abordar as vantagens e os problemas desse processo, como é o caso do debate dos Céticos X Globalistas. Vale ressaltar a incipiência de abordagens alternativas (como por exemplo a globalização popular) na literatura.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AGGIO, A.; COELHO, H. M. F. Globalização: conceito e problema. Em tempo, v. 6, n. 1, p. 21-26, 2004. FAIRCLOUGH, N. Language and globalization. New York: Routledge, 2006, 167 p. HELD, D.; MCGREW, A. Prós e contras da globalização. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001, 96 p. HUNTINGTON, S. A terceira onda: a democratização no final do século XX. São Paulo: Ática, 1994, 335 p. RIBEIRO, G. L. A globalização popular e o sistema mundial não hegemônico. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 25, n. 74, p. 21-38, 2010.

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