A pesca de emalhe e de espinhel-de-superfície na Região Sudeste-Sul do Brasil

June 16, 2017 | Autor: Jorge Kotas | Categoria: Oceanography, Tuna Longline Fisheries, Fishery, Driftnet, Driftnet fisheries
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SÉRIE DOCUMENTOS REVIZEE – SCORE SUL

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A pesca de emalhe e de espinhel-de-superfície na Região Sudeste-Sul do Brasil

Jorge Eduardo Kotas Miguel Petrere Júnior Venâncio Guedes de Azevedo Silvio dos Santos

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Comitê Executivo do Programa REVIZEE Comissão Interministerial para os Recursos do Mar – CIRM Ministério do Meio Ambiente – MMA Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq Ministério de Minas e Energia - MME Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA Ministério da Ciência e Tecnologia – MCT Marinha do Brasil – MB Ministério da Educação – MEC Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca – SEAP Ministério das Relações Exteriores – MRE Programa REVIZEE – Score Sul Coordenador: Carmen Lúcia Del Bianco Rossi-Wongtschowski - IOUSP Vice Coordenador: Lauro Saint Pastous Madureira – FURG Série Documentos REVIZEE – Score Sul Responsável – Carmen Lúcia Del Bianco Rossi-Wongtschowski Comissão Editorial Jorge Pablo Castello – FURG Paulo de Tarso Cunha Chaves – UFPR Sílvio Jablonski – UERJ Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) A pesca de emalhe e de espinhel de superfície na Região Sudeste-Sul do Brasil / Jorge Eduardo Kotas...[et al.]. — São Paulo : Instituto Oceanográfico - USP, 2005. — (Série documentos Revizee : Score Sul / responsável Carmem Lúcia Del Bianco Rossi-Wongtschowski) Outros autores: Miguel Petrere Júnior, Venâncio Guedes de Azevedo, Silvio dos Santos Bibliografia. ISBN 85-98729-14-0 1. Capturas acidentais (Pescarias) 2. Elasmobrânqios (Peixes) 3. Pescarias de emalhe-de-superfície 4. Pescarias de espinhel de superfície 5. Tubarões-martelo 6. Zona Econômica Exclusiva (Direito do mar) — Brasil I. Kotas, Jorge Eduardo. II. Petrere Júnior III. Azevedo, Venáncio Guedes de. IV. Santos, Silvio dos. V. Rossi- Wongtschowski, Carmen Lúcia Del Bianco. VI. Série. 04-8751

CDD-551.460709162

Índices para catálogo sistemático: 1. Pesca de emalhe e de espinhel de superfície : Região Sudeste-Sul : Zona Econômica Exclusiva : Direito do mar : Brasil 551.460709162

Impresso no Brasil – Printed in Brazil 2005

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SUMÁRIO Apresentação do Programa Revizee . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .5 Prefácio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .9 PARTE 1 – A pesca de emalhe-de-superfície no Sudeste e Sul do Brasil . . . . . .11 Resumo, Abstract e Palavras-chave . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .12 Material e Métodos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .12 Embarques na frota . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .12 Amostragens nos desembarques . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .14 Avaliação das estatísticas mais recentes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .14 Resultados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .15 Frota de Itajaí e Navegantes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .15 Frota de Ubatuba . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .17 Discussão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .28 PARTE 2 – A pesca de espinhel-de-superfície no Sul do Brasil . . . . . . . . . . . . . .31 Resumo, Abstract e Palavras-chave . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .31 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .32 Material e Métodos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .33 Resultados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .33 Discussão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .48 PARTE 3 – Análise dos dados de captura e esforço de pesca dos tubarões-martelo, na pesca de espinhel-de-superfície no Sul do Brasil . . . . . .51 Resumo, Abstract e Palavras-chave . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .51 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .52 Material e Métodos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .53 Modelo 1 (Relação entre a captura e o esforço) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .56 Modelo 2 (Fator trimestre) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .58 Modelo 3 (Fator área) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .60 Discussão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .62 Referências Bibliográficas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .67 Agradecimentos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .71

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APRESENTAÇÃO DO PROGRAMA REVIZEE Rudolf de Noronha Diretor do Programa de Gerenciamento Ambiental Territorial – SQA/MMA Os ambientes costeiros e oceânicos contêm a maior parte da biodiversidade disponível no planeta. Não obstante, grande parte desses sistemas vem passando por algum tipo de pressão antrópica, levando populações de importantes recursos pesqueiros, antes numerosas, a níveis reduzidos de abundância e, em alguns casos, à ameaça de extinção. Observam-se, em conseqüência, ecossistemas em desequilíbrio, com a dominância de espécies de menor valor comercial, ocupando os nichos liberados pelas espécies sobreexplotadas, o que representa uma séria ameaça ao desenvolvimento sustentável. Tal situação levou a comunidade internacional a efetuar esforços e a pactuar normas para a conservação e exploração racional das regiões costeiras, mares e oceanos, plataformas continentais e grandes fundos marinhos, destacando-se a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar e o Capítulo 17 da Agenda 21 (Proteção dos Oceanos, de Todos os Tipos de Mares e das Zonas Costeiras, e Proteção, Uso Racional e Desenvolvimento de seus Recursos Vivos), além da Convenção da ONU sobre Diversidade Biológica. O Brasil é parte desses instrumentos, tendo participado ativamente da elaboração de todos eles, revelando seu grande interesse e preocupação na matéria. A Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar – CNUDM, ratificada por mais de 100 países, é um dos maiores empreendimentos da história normativa das relações internacionais, dispondo sobre todos os usos, de todos os espaços marítimos e oceânicos, que ocupam mais de 70% da superfície da Terra. O Brasil assinou a CNUDM em 1982 e a ratificou em 1988, além de ter incorporado seus conceitos sobre os espaços marítimos à Constituição Federal de 1988 (art. 20, incisos V e VI), os quais foram internalizados na legislação ordinária pela Lei N-o 8.617, de 4 de janeiro de 1993. A Convenção encontra-se em vigor desde 16 de novembro de 1994. A Zona Econômica Exclusiva (ZEE) constitui um novo conceito de espaço marítimo introduzido pela Convenção, sendo definida como uma área que se estende desde o limite exterior do Mar Territorial, de 12 milhas de largura, até 200 milhas náuticas da costa, no caso do nosso país. O Brasil tem, na sua ZEE de cerca de 3,5 milhões de km2, direitos exclusivos de soberania para fins de exploração e aproveitamento, conservação e gestão dos recursos naturais, vivos ou não vivos, das águas sobrejacentes ao leito do mar, do leito e seu subsolo, bem como para a produção de energia a partir da água, marés, correntes e ventos.

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Ao lado dos direitos concedidos, a CNUDM também demanda compromissos aos Estados-partes. No caso dos recursos vivos (englobando os estoques pesqueiros e os demais recursos vivos marinhos, incluindo os biotecnológicos), a Convenção (artigos 61 e 62) estabelece que deve ser avaliado o potencial sustentável desses recursos, tendo em conta os melhores dados científicos disponíveis, de modo que fique assegurado, por meio de medidas apropriadas de conservação e gestão, que tais recursos não sejam ameaçados por um excesso de captura ou coleta. Essas medidas devem ter, também, a finalidade de restabelecer os estoques das espécies ameaçadas por sobreexploração e promover a otimização do esforço de captura, de modo que se produza o rendimento máximo sustentável dos recursos vivos marinhos, sob os pontos de vista econômico, social e ecológico. Para atender a esses dispositivos da CNUDM e a uma forte motivação interna, a Comissão Interministerial para os Recursos do Mar – CIRM aprovou, em 1994, o Programa REVIZEE (Avaliação do Potencial Sustentável de Recursos Vivos na Zona Econômica Exclusiva), destinado a fornecer dados técnico-científicos consistentes e atualizados, essenciais para subsidiar o ordenamento do setor pesqueiro nacional. Iniciado em 1995, o Programa adotou como estratégia básica o envolvimento da comunidade científica nacional, especializada em pesquisa oceanográfica e pesqueira, atuando de forma multidisciplinar e integrada, por meio de Subcomitês Regionais de Pesquisa (SCOREs). Em razão dessas características, o REVIZEE pode ser visto como um dos programas mais amplos e com objetivos mais complexos já desenvolvidos no País, entre aqueles voltados para as ciências do mar, determinando um esforço sem precedentes, em termos da provisão de recursos materiais e da contribuição de pessoal especializado. Essa estratégia está alicerçada na subdivisão da ZEE em quatro grandes regiões, de acordo com suas características oceanográficas, biológicas e tipo de substrato dominante: 1. Região Norte – da foz do rio Oiapoque à foz do rio Parnaíba; 2. Região Nordeste – da foz do rio Parnaíba até Salvador, incluindo o arquipélago de Fernando de Noronha, o atol das Rocas e o arquipélago de São Pedro e São Paulo; 3. Região Central – de Salvador ao cabo de São Tomé, incluindo as ilhas de Trindade e Martin Vaz; 4. Região Sul – do cabo de São Tomé ao Chuí. Em cada uma dessas regiões, a responsabilidade pela coordenação e execução do Programa ficou a cargo de um SCORE, formado por representantes das instituições de pesquisa locais e contando, ainda, com a participação de membros do setor pesqueiro regional. O processo de supervisão do REVIZEE está orientado para a garantia, em âmbito nacional, da unidade e coerência do Programa e para a alavancagem de meios e recursos, em conformidade com os princípios cooperativos (formação de parcerias) da CIRM, por meio da Subcomissão para o Plano Setorial para os Recursos do Mar – PSRM e do Comitê Executivo para o Programa. Coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente, esse fórum é composto pelos seguintes representantes: Ministério das Relações Exteriores (MRE), Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca (SEAP), Ministério da Educação (MEC), Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), Marinha do Brasil (MB/MD), Secretaria da Comissão Interministerial para os

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Recursos do Mar (SECIRM), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Bahia Pesca S.A. (empresa vinculada à Secretaria de Agricultura, Irrigação e Reforma Agrária do Estado da Bahia) e Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA, coordenador operacional do REVIZEE. A presente edição integra uma série que traduz, de forma sistematizada, os resultados do Programa REVIZEE para as suas diversas áreas temáticas e regiões, obedecendo às seguintes grandes linhas: caracterização ambiental (climatologia, circulação e massas d’água, produtividade, geologia e biodiversidade); estoques pesqueiros (abundância, sazonalidade, biologia e dinâmica); avaliação de estoques e análise das pescarias comerciais; relatórios regionais, com a síntese do conhecimento sobre os recursos vivos; e, finalmente, o Sumário Executivo Nacional, com a avaliação integrada do potencial sustentável de recursos vivos na Zona Econômica Exclusiva. A série, contudo, não esgota o conjunto de contribuições do Programa para o conhecimento dos recursos vivos da ZEE e das suas condições de ocorrência. Com base no esforço de pesquisa realizado, foram, e ainda vêm sendo produzidos, um número significativo de teses, trabalhos científicos, relatórios, apresentações em congressos e contribuições em reuniões técnicas voltadas para a gestão da atividade pesqueira no país, comprovando a relevância do Programa na produção e difusão de conhecimento essencial para a ocupação ordenada e o aproveitamento sustentável dos recursos vivos da ZEE brasileira.

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PREFÁCIO Carmen Lúcia Del Bianco Rossi-Wongtschowski Coordenadora do Score Sul – IOUSP

Jorge Eduardo Kotas, Venâncio Guedes de Azevedo e Silvio dos Santos foram os responsáveis, dentro do Programa REVIZEE pela obtenção das informações relativas à pesca de emalhe e de espinhel-de-superfície na Região SudesteSul do Brasil, tendo realizado excepcional pesquisa de campo a bordo de várias embarcações, passado semanas em alto-mar, enfrentado bravamento mau tempo e precárias condições de trabalho. O assunto, detalhadamente analisado, sob a orientação do Prof. Miguel Petrere Jr., fez parte da tese de doutoramento de Jorge Eduardo Kotas e é, agora, resumidamente apresentado nesta publicação, em três partes: A primeira, relativa à pesca de emalhe-de-superfície, traz informações sobre características da frota, das embarcações, dos petrechos utilizados, das operações de pesca, as espécies capturadas (peixes ósseos, peixes cartilaginosos, tartarugas, aves e cetáceos), os rendimentos e a prática da extração de barbatanas (finning). A segunda apresenta a análise da pesca de espinhel-de-superfície enfocando as capturas, as características físicas das embarcações e dos petrechos, as operações de pesca, as áreas, espécies e volumes capturados, a sazonalidade das capturas e sua relação com as condições oceanográficas. A terceira analisa a dinâmica das capturas dos tubarões-martelo através de modelos de Análise de Covariância. O estudo aponta, inquestionavelmente, para a situação crítica dos elasmobrânquios capturados por essas pescarias, e apresenta soluções para minimizar seus efeitos sobre esses recursos. Levando em conta a preocupação mundial sobre a conservação dos elasmobrânquios e a sustentabilidade de suas pescarias, este trabalho se torna referência mundial, tornando disponível preciosas informações brasileiras sobre o assunto. Esperamos que os órgãos responsáveis pela gestão pesqueira no Brasil façam adequado proveito das informações aqui contidas! Elas são preocupantes! Só me resta parabenizar os autores e desejar que continuem trabalhando com tanta perseverança e entusiasmo!

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A PESCA DE EMALHE-DE-SUPERFÍCIE NO SUDESTE E SUL DO BRASIL

Resumo Pescarias de emalhe-de-superfície, direcionadas aos elasmobrânquios e baseadas nos portos de Itajaí, Navegantes (SC) e Ubatuba (SP), ocorreram entre os anos de 1993 a 1997. 144 embarcações operaram nesse período. As redes utilizavam tamanhos de malha (entre nós opostos esticada) de 12 a 40 cm sendo os comprimentos totais entre 1.130 e 7.560 m. Os tubarões-martelo (principalmente Sphyrna lewini, Griffith & Smith, 1834), devido ao elevado valor de suas barbatanas no mercado internacional, foram as espécies-alvo, representando 77,8% e 28,5% das capturas totais em peso de elasmobrânquios para as frotas de ItajaíNavegantes e Ubatuba, respectivamente. O elevado esforço de pesca sobre o estoque adulto nos meses de primavera-verão (estimado em 72.216 km de redes, no ano de 1995 para a frota sediada em Itajaí e Navegantes), aliado à distribuição agrupada do estoque durante a sua fase reprodutiva, levou à queda acentuada nos rendimentos nos anos seguintes.

Palavras-Chave Emalhe-de-superfície, tubarões-martelo, capturas acidentais.

Abstract Driftnet activities in southern Brazil, targeting sharks, are presented. 144 drifters operated from Itajaí-Navegantes (Santa Catarina State) and Ubatuba (São Paulo State),between 1993 and 1997 years.Panel mesh size ranged from 12 to 40 cm (opposite knots, streched) and net length from 1.130 m to 7.560 m. Hammerheads (mainly Sphyrna lewini, Griffith & Smith, 1834) were the target species , due to its highly valuable fins in the international market. They represented 77,8% and 28,5% of the total driftnet landings in Itajaí-Navegantes and Ubatuba respectively. In 1995, the high fishing effort applied by drifters from Itajaí and Navegantes (72 .216 km of net length estimated), plus the patchy distribution of the adult hammerheads during the reproductive season, led to a steep yield decline the following years.

Key-words Driftnets, hammerheads, by-catch.

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INTRODUÇÃO Há preocupação mundial sobre a conservação dos elasmobrânquios, e a sustentabilidade dessas pescarias (Holden, 1977; Hoenig & Gruber, 1990; Pratt et al., 1990; Walker, 1998; Smith et al., 1998). A maioria dos dados disponíveis são insuficientes para avaliações dos estoques, embora já existam sinais de sobrepesca para várias espécies (Bonfil, 1994; Anônimo, 1995). No Atlântico Noroeste, os índices de abundância relativa (CPUE), entre 1986 – 2000, indicaram redução em mais de 75% para os tubarões-martelo, Sphyrna lewini, tubarões-branco, Carcharodon carcharias, tubarões-raposa, Alopias vulpinus e Alopias superciliosus (Lowe, 1839) (Baum et al., 2003). São registrados casos de extinção biológica de espécies capturadas como fauna acompanhante em pescarias de arrasto direcionadas a peixes demersais, no caso de Raja batis (Brander, 1981) e Raja laevis (Casey & Myers, 1998). A maioria dos países que têm pescarias direcionadas aos tubarões opera sem nenhum tipo de controle, e há carência de informações sobre as quantidades capturadas em peso e número e a proporção de carcaças descartadas no mar. Ao longo da costa brasileira foram estimadas, pelo menos, 600 embarcações de emalhe operando sem nenhum tipo de controle (Anônimo, 1995). As primeiras descrições sobre as atividades do emalhe-de-superfície no sudeste e sul do Brasil foram feitas por Santos & Ditt (1994), Kotas et al.(1995) e por Zerbini & Kotas (1998). Este estudo descreve as pescarias semi-industriais de emalhe-de-superfície sediadas em Itajaí-Navegantes (SC) e Ubatuba (SP) e que atuaram ao longo da Zona Econômica Exclusiva do sudeste e sul do Brasil, de 1993 a 1997. Posteriormente, as mesmas sofreram acentuado declínio, devido aos baixos índices de captura de tubarões-martelo, tornando-se uma atividade improdutiva. Também adicionaram-se informações recentes sobre a sazonalidade dessa pescaria no Estado de Santa Catarina para o período 2000-2002.

MATERIAL E MÉTODOS A metodologia aplicada foi a mesma tanto para o emalhe como para o espinhel-de-superfície. A avaliação das capturas nas frotas de emalhe-de-superfície sediadas em Ubatuba (SP), Itajaí e Navegantes (SC), foi realizada entre 1995 e 1997. Por sua vez, a frota de espinhel-de-superfície de Itajaí e Navegantes (SC), foi acompanhada no ano de 1998. Utilizaram-se as seguintes estratégias de trabalho:

1 - Embarques na frota Foram efetuados os seguintes cruzeiros com observadores científicos:

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Nome do barco

Localidade

Modalidade

Número de observadores

Período

Verde Vale VI Cmte. Custódio I Cmte. Everton Rei David 2ºYamaya III Yamaya III Basco

Itajaí Ubatuba Ubatuba Ubatuba Itajaí Itajaí Itajaí

Emalhe-de-superfície Emalhe-de-superfície Emalhe-de-superfície Emalhe-de-superfície Espinhel Espinhel Espinhel

1 1 2 1 2 2 2

Julho – Agosto/1995 Janeiro/1997 Junho – Julho/1997 Setembro/1997 Março – Abril 1998 Junho – Julho 1998 Setembro – Outubro 1998

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A bordo foram obtidas as seguintes informações biológicas e pesqueiras:

Barco de emalhe e de espinhel Foram anotados dados de comprimento total (m), potência do motor principal (HP), capacidade de armazenamento do porão (t), tonelagem bruta de arqueação, tonelagem líquida, capacidade de gelo (t), quantidade de combustível, consumo de diesel/hora, ano de fabricação do barco, tipo de casco, número de tripulantes, equipamentos eletrônicos disponíveis e porto de registro.

Rede de emalhe Tipo de fio, construção e diâmetro das tralhas, malha da rede e das arcalas1; tamanho da malha e arcalas; tipo, comprimento e diâmetro das bóias; distância entre bóias; disposição do chumbo na tralha inferior; disposição das malhas às arcalas; altura e comprimento do pano, bem como os seus respectivos números de malhas; número total de panos a bordo; comprimentos totais das redes foram os dados obtidos para o emalhe-de-superfície. Para as redes,o “coeficiente de emalhe”(E) (Nédelec,1975) foi calculado como: E  (comprimento da tralha superior em cm)/[(número de malhas na tralha superior)*(tamanho da malha em cm)]

Espinhel Número total de anzóis no espinhel; comprimento da linha principal e secundária; diâmetro e material da linha principal; espaço entre as linhas secundárias; numeração do anzol; comprimento, diâmetro e material do cabo das bóias; número de bóias-cegas, sinalizadoras e rádio-bóias foram as informações coletadas. Era também feito um esquema da distribuição das bóias e linhas secundárias no espinhel, e detalhamento da linha secundária.

Operações de pesca com emalhe Mediante mapas de bordo específicos, foram levantadas no lançamento e recolhimento as seguintes informações: data, hora, número de panos, profundidade , latitude, longitude e nome do pesqueiro. Quando da disponibilidade de refratômetro e termômetro, foram medidas a salinidade e a temperatura da água, na superfície .

Operações de pesca com espinhel No lançamento e recolhimento as seguintes informações foram registradas: data, hora, latitude, longitude, duração média da operação, velocidade da embarcação, velocidade do “line-setter”, profundidade de atuação do espinhel (estimada), freqüência temporal na instalação da linha secundária à principal através do “snap” e tempo de imersão do espinhel. Quando da disponibilidade de refratômetro e termômetro, eram medidas a salinidade e a temperatura.

Amostragem das capturas De acordo com a metodologia estabelecida pela ICCAT (1996), aplicaramse os seguintes procedimentos: 1) Identificação da espécie, conforme chaves sistemáticas disponíveis (Garrick, 1982; Compagno, 1984,1994; Figueiredo & Menezes, 1978). 1 Arcalas: pequenos cabos de poliamida (trançada), dispostos em “U” e que conectam a tralha de bóia à panagem da rede na sua parte superior e a tralha de chumbo à panagem da rede na sua parte inferior. A função das arcalas seria a de amortecer a tensão sobre o pano da rede de emalhe provocada pelas capturas de peixes, principalmente de grande porte. Os pescadores costumam utilizar como comprimento de arcala o tamanho da malha de rede (entre-nós opostos esticada), ou seja para uma malha de 40 cm, arcala de 40 cm. Nos desenhos das plantas de redes é possivel visualizar as “arcalas” (“amortecedores de rede”).

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2) Obtenção de dados de peso inteiro, peso eviscerado, comprimento total, comprimento furcal, comprimento da carcaça, comprimento da distância entre a 1-a nadadeira dorsal e a caudal e sexo. No caso das raias, foi utilizada a largura do disco. 3) Informações adicionais, ou seja, se o animal era aproveitado ou descartado, tipo de produto desembarcado (carcaça, fígado, nadadeira), se estava vivo ou morto na captura, número e tipo de barbatanas aproveitadas. 4) Coleta de material biológico, como estômagos, gônadas e vértebras, sendo o material acondicionado a bordo em formol 10% e posteriormente, em laboratório, as vértebras e gônadas em álcool 70%.

2) Amostragens nos desembarques Nos portos de Ubatuba, Itajaí e Navegantes, semanalmente foram levantadas as seguintes informações: • Características dos barcos e artes de pesca conforme explicado no item anterior. • Entrevistas com os mestres dos barcos de pesca para obtenção de informações sobre as áreas de pesca, profundidade, duração da viagem e pescaria, número de panos, anzóis utilizados e quantidades desembarcadas. • Realização de amostragens de peso e comprimento das carcaças dos elasmobrânquios desembarcados e determinação de sexo. Nesse caso, as medidas de comprimento obtidas foram o comprimento da carcaça (medida a partir do corte na região dorsal da cabeça à altura da primeira vértebra, até o corte no sulco pré-caudal) e a distância entre a origem da 1-a nadadeira dorsal até o sulco précaudal. Os dados foram armazenados em banco de dados ACCESS, e processados através do programa EXCEL.

3) Avaliação das estatísticas mais recentes Adicionalmente, para o período 2000 a 2002, analisaram-se as composições dos desembarques do emalhe-de-superfície no Estado de Santa Catarina (Univali, 2001, 2002 e 2003), distribuídas em categorias: • Agulhões: Agulhão-azul, Makaira nigricans, agulhão-vela, Istiophorus platypterus e outras espécies da família Istiophoridae. • Atuns: Albacora-laje, Thunnus albacares, bonito-listrado, Katsuwonus pelamis e outras espécies da família Scombridae. • Outros tubarões: Anequim, Isurus oxyrinchus, cação-anjo (Squatina spp.), tubarão-azul, Prionace glauca, cação-bagre (Squalus spp.), tubarões-cabeça-chata, Carcharhinus obscurus e Carcharhinus leucas, mangona, Carcharias taurus, tubarão-tigre, Galeocerdo cuvieri, machote, Carcharhinus signatus, cação-baía, Hexanchus griseus. • Tubarões-martelo: Cambeva-branca, Sphyrna lewini e cambeva-preta, Sphyrna zygaena. • Espadartes: Meka, Xiphias gladius. • Outros peixes: Dourado, Coryphaena hippurus, peixe-lua, Mola mola.

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RESULTADOS Entre 1995 e 1997, pelo menos 112 embarcações operaram com redes de emalhar de superfície, a partir dos portos de Ubatuba (SP), Itajaí e Navegantes (SC) (Zerbini & Kotas, 1998).

Frota de Itajaí e Navegantes A frota de Itajaí e Navegantes utilizava redes de emalhar de superfície de grande extensão (tabela 1). O comprimento médio era de 3,4 km e a amplitude entre 1,3 a 7,6 km, dependendo do tamanho da embarcação. Essas redes, internacionalmente conhecidas como “driftnets”, são compostas de unidades menores denominadas “panos”. Na maioria dos casos, a altura é de 14 m e o comprimento total de 50 m. O tamanho das malhas na panagem é normalmente de 40 cm (malha esticada, entre-nós opostos), adequado para a captura de tubarões-martelo adultos acima de 2 m de comprimento total, sendo confeccionada com fios trançados de poliamida (PA) (multifilamento) de 2 mm de diâmetro. Há casos onde o tamanho das malhas é menor, ou seja, de 15 a 18 cm, sendo confeccionadas de fios de poliamida (PA) ou náilon monofilamento, com diâmetros entre 0,7 e 1,47 mm. Os pescadores reclamam dessas malhas menores, que capturam grandes quantidades de juvenis de Sphyrna lewini e Sphyrna zygaena. O número de panos que a embarcação leva a bordo é proporcional ao seu tamanho, sendo em média 60 (aproximadamente 3 000 m de rede). Um barco pode levar no máximo 120 panos por cruzeiro. A altura das redes faz com que elas operem desde a superfície até 30 m de profundidade, valor que, em média, é de 14 m. Para a frota sediada em Itajaí e Navegantes, (figuras 1 a3), as malhas das redes apresentam um coeficiente de emalhe (E) entre 0,39 e 0,70 (tabela 1). Essa relação é importante, pois permite que a panagem da rede trabalhe menos tensionada e mais ondulada, aumentando a capturabilidade dos grandes pelágicos. Dessa forma, os tubarões-martelo podem ser emalhados pela cabeça, primeira nadadeira dorsal e nadadeiras peitorais, auxiliados por seus movimentos de fuga em forma de “saca-rolha”.

Tabela 1 – Características físicas das embarcações e redes de emalhe-de-superfície. Frota sediada em Itajaí e Navegantes (SC) no ano de 1995.

Estatística Média Amplitude Mínimo Máximo N

Estatística

malha (cm)

altura do pano (m)

Média Amplitude Mínimo Máximo N

35,6 26,0 14,0 40,0 43

13,5 22,6 4,4 27,0 41

ano de construção

comp. total barco (m)

1981 46,0 1949 1995 30

17,2 14,1 12,9 27,0 37

comp. total do pano (m) 56,6 93,8 25,0 118,8 41

potência do motor (HP) 196,2 294,0 66,0 360,0 36

tonelagem bruta

tonelagem líquida

37,5 118,2 10,3 128,5 35

19,0 50,4 3,1 53,5 29

nº- de panos a bordo

comp. total rede (m)

área total da rede (m2)

coef. de emalhe (E)

59,0 85,0 35,0 120,0 37

3.411,0 6.310,0 1.250,0 7.560,0 36

46.384,8 77.299,5 16.012,5 93.312,0 36

0,525 0,310 0,390 0,700 13

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50 m PE torcido

16 mm

262

380 mm PA trançado

E = 0,51

2 mm 50 m PE

poliuretano 0,588 Kgf

3,8 m

380 mm

PA 210/120

Figura 1 – Modelo de rede de emalhe-de-superfície utilizada para capturar tubarões-martelo. Frota sediada em Itajaí e Navegantes (SC). Ano 1995. Desenho de autoria de Manoel da Rocha Gamba. PE  polietileno, PA  poliamida, E  coeficiente de emalhe.

50 m PE trançado 370 mm PA trançado

16 mm

268

E = 0,51

2 mm 50 m PE trançado

16 mm nylon 0,1 Kgf

2m 280 mm

PA trançado 2,5 mm

PE trançado

16mm c/ Pb +_ 350 g/m

Figura 2 – Modelo de rede de emalhe-de-superfície utilizada para capturar tubarões-martelo. Frota sediada em Itajaí e Navegantes (SC). Ano 1995. Desenho de autoria de Manoel da Rocha Gamba. PE  polietileno, PA  poliamida, E  coeficiente de emalhe, Pb  chumbo.

50 m PE trançado 16 mm 484

170 mm PA 210/30

E = 0,61

50 m PE trançado 16 mm 2,8 m

Poliuretano 1,318 Kgf

310 mm

PA trançado 2 mm

PE trançado

16mm c/ Pb +_ 240 g/m

Figura 3 – Modelo de rede de emalhe-de-superfície utilizada para capturar tubarões-martelo. Frota sediada em Itajaí e Navegantes (SC). Ano 1995. Desenho de autoria de Manoel da Rocha Gamba. PE  polietileno, PA  poliamida, E  coeficiente de emalhe, Pb  chumbo.

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Frota de Ubatuba A maioria das redes utilizadas pela frota de Ubatuba (SP) era de poliamida trançada, material comumente utilizado para malhas entre 38 e 40 cm de tamanho. Com menor freqüência eram utilizados o náilon (monofilamento) e a poliamida torcida, para malhas entre 12 e 16 cm. As redes operavam da superfície até 16 m de profundidade (tabela 2). Os panos mediam entre 50 e 100 m, embora a maioria da frota utilize 54 m. O número de panos a bordo variou entre 18 e 80, em função do tamanho do barco. Normalmente 50 panos eram utilizados. O comprimento total das redes variou entre 1,1 e 5,2 km. Em relação ao coeficiente de emalhe (E), foi observado que redes maiores, com tamanhos de malha entre 38 e 40 cm apresentavam valores de (E) entre 0,4 e 0,8. Por sua vez, redes menores, com tamanhos de malha entre 12 e 16 cm apresentavam valores de (E) entre 0,2 e 0,6 (figura 4). Tiago et al. (1995) relatam que o número de panos e o tamanho das malhas variam sazonalmente. Tabela 2 – Características físicas das embarcações e redes de emalhe-de-superfície. Frota sediada em Ubatuba (SP) no ano de 1997.

Estatísticas

comp. total barco (m)

potência do motor (HP)

tripulação

capacidade do porão (toneladas)

12,0 5,0 9,0 14,0 10

92,1 105,0 45,0 150,0 10

5,0 7,0 3,0 10,0 10

5,8 7,2 2,8 10,0 8

Média Amplitude Mínimo Máximo N

Estatística

malha (cm)

altura do pano (m)

comp. total do pano (m)

nº- de panos a bordo

Média Amplitude Mínimo Máximo N

27,8 27,9 12,0 39,9 11

11,9 7,2 9,0 16,2 11

63,9 50,0 50,0 100,0 11

49,4 62,0 18,0 80,0 11

comp. total rede (m) 3.077,3 4.050,0 1.130,0 5.180,0 11

área total da rede (m2)

coef. de emalhe (E)

37.751,6 64.266,0 11.880,0 76.146,0 11

0,533 0,590 0,200 0,790 8

Coeficiente de Emalhe (E) 1,00

0,90

0,80

0,67

0,50

0,40

Figura 4 – Formatos da malha nas redes de emalhe-de-superfície com diferentes valores de coeficientes de emalhe. Fonte: Karlsen & Bjarnasson, 1986; Sparre et al., 1989.

Embora a pesca de emalhe-de-superfície seja direcionada ao tubarão-martelo, Sphyrna lewini, há capturas acidentais de outras espécies de elasmobrânquios, teleósteos, cetáceos e tartarugas (tabela 3).Entre os elasmobrânquios, 3 famílias são as mais importantes: Carcharhinidae, Lamnidae e Sphyrnidae. Os Carcharhinideos são representados pelos gêneros Carcharhinus, Rhizoprionodon e Prionace. Há capturas de tubarões-galha-preta, Carcharhinus brevipinna e Carcharhinus limbatus e de tubarões-frango, Rhizoprionodon porosus, principalmente sobre a plataforma continental até os 200 m de profundidade. No talude e área oceânica adjacente (entre 100 e 4 000 m de profundidade), ocorrem capturas dos tubarões-cabeça-chata, Carcharhinus obscurus, tubarões-machote, Carcharhinus

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signatus, tubarões-galha-branca, Carcharhinus longimanus e tubarões-azuis, Prionace glauca. Os lamniformes são representados pelo tubarão-anequim, Isurus oxyrinchus, e, mais raramente, pelo tubarão-golfinho, Lamna nasus, espécie mais associada a temperaturas abaixo de 18° C. Os esfirnídeos se distribuem sobre a plataforma continental e o ambiente oceânico epipelágico, e as capturas incidem sobre os adultos de Sphyrna lewini e de Sphyrna zygaena, esta última associada a águas temperadas e zonas de convergência (Gilbert, 1967; Compagno, 1984; Vooren & Brito, 1997; 1998). As maiores capturas de Sphyrna lewini ocorrem durante o verão, quando a temperatura da água de superfície está acima de 21° C, temperatura esta associada com a massa de água tropical (Corrente do Brasil). No verão, o grande tubarão-martelo, Sphyrna mokarran, algumas vezes é capturado, mas não é uma espécie freqüente. Nos meses de verão, outono e inverno, há importantes capturas de raias-mantas, Mobula hypostoma, sobre a plataforma e o ambiente oceânico. No momento, essa espécie não é comercializada, sendo, portanto, descartada. Os mobulídeos são animais difíceis de retirar das redes. Em cruzeiros realizados no verão – outono em Ubatuba (SP), foram capturadas fêmeas Tabela 3 – Espécies capturadas na pesca de emalhe-de-superfície sediada em Itajaí-Navegantes (SC) e Ubatuba (SP) em 1995 e 1997 respectivamente (M.O. Meses de ocorrência). Nomenclatura da FAO

Família

Espécies

Descritores

ELASMOBRÂNQUIOS Blacktip shark Spinner shark Oceanic whitetip shark Dusky shark Night shark Caribbean sharpnose shark Requiem sharks Shortfin mako Porbeagle Lesser devil ray Eagle ray Sandtiger shark Blue shark Scalloped hammerhead Great hammerhead Smooth hammerhead

Carcharhinidae Carcharhinidae Carcharhinidae Carcharhinidae Carcharhinidae Carcharhinidae Carcharhinidae Lamnidae Lamnidae Mobulidae Myliobatidae Odontaspididae Carcharhinidae Sphyrnidae Sphyrnidae Sphyrnidae

Carcharhinus limbatus Carcharhinus brevipinna Carcharhinus longimanus Carcharhinus obscurus Carcharhinus signatus Rhizoprionodon porosus Carcharhinus spp. Isurus oxyrinchus Lamna nasus Mobula hypostoma Myliobatis spp. Carcharias taurus Prionace glauca Sphyrna lewini Sphyrna mokarran Sphyrna zygaena

VALENCIENNES, 1839 MÜLLER & HENLE, 1839 POEY, 1861 LESUEUR, 1818 POEY, 1868 POEY, 1861 BLAINVILLE, 1816 RAFINESQUE, 1809 BONNATERRE, 1788 BANCROFT, 1834

TELEÓSTEOS Frigate tuna Pomfret Leatherjack Greater amberjack Dolphinfish Atlantic sailfish Skipjack Atlantic blue marlin Atlantic bonito Atlantic white marlin Yellowfin tuna Swordfish

Scombridae Bramidae Carangidae Carangidae Coryphaenidae Istiophoridae Scombridae Istiophoridae Scombridae Istiophoridae Scombridae Xiphiidae

Auxis thazard Brama brama Oligoplites spp. Seriola lalandi Coryphaena hippurus Istiophorus platypterus Katsuwonus pelamis Makaira nigricans Sarda sarda Tetrapturus albidus Thunnus albacares Xiphias gladius

LACEPÈDE, 1800 BONNATERRE, 1788

CETÁCEOS Common dolphin Long-finned pilot whale Dolphin Clymene dolphin Striped dolphin Atlantic spotted dolphin

Delphinidae Delphinidae Delphinidae Delphinidae Delphinidae Delphinidae

Delphinus spp. Globicephala melas Stenella spp. Stenella clymene Stenella coeruleoalba Stenella frontalis

TARTARUGAS Green turtle Leatherback

Chelonidae Dermochelidae

Chelonia mydas Dermochelys coriacea

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RAFINESQUE, 1810 LINNAEUS, 1758 GRIFFITH & SMITH, 1834 RÜPPELL, 1837 LINNAEUS, 1758

VALENCIENNES, 1833 LINNAEUS, 1758 SHAW, 1792 LINNAEUS, 1758 LACEPÈDE, 1802 BLOCH, 1793 POEY, 1860 BONNATERRE, 1788 LINNAEUS, 1758

M.O. - Itajaí/ Navegantes 1, 3, 3, 3, 8 8 7 3, 3, 7 8 7, 7, 8 7, 4 8 3, 7 7

M.O. Ubatuba 1 6, 9

3, 4, 5 6

4 4, 5, 6, 7, 8

4, 5, 7, 8 4, 5, 6, 7, 8

8

8 8

4, 7

1, 1 6 6 6, 1, 6 9 1, 1, 1 6,

6

9 6, 9

6, 9 6, 9 9

6 6 6 1 1 1, 6 1 1 6 -

GRAY, 1850 MEYEN, 1833 CUVIER, 1829

8 8 8 8 8

1 1, 9

LINNAEUS, 1758 VANDELLI, 1761

-

1 1, 9

TRAILL, 1809

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grávidas com embriões no termo (figura 5) e machos com cláspers calcificados. Os barcos que usam emalhe-de-superfície quando operam em águas abaixo dos 100 m, às vezes, capturam o tubarão-mangona, Carcharias taurus (Rafinesque, 1810). As capturas de cardumes desses odontaspidídeos na área de Ubatuba também estão associadas às atividades reprodutivas de cópula, sendo que durante o mês de setembro de 1997 foram observados desembarques dessa espécie com a maioria dos machos apresentando cláspers congestionados e hemorrágicos (figura 6).

Figura 5 - Raia-manta grávida, Mobula hypostoma (Bancroft, 1831) capturada em janeiro/1997, por uma embarcação de emalhe-de-superfície sediada em Ubatuba (SP). Detalhe do embrião. Tamanho da malha da rede 39 cm (entre-nós opostos, com a malha esticada).

Figura 6 - Detalhe do clásper calcificado em um macho de tubarão-mangona Carcharias taurus (Rafinesque, 1810). Observa-se o estado hemorrágico do mesmo, indicativo de cópula. Captura realizada pelo emalhe-de-superfície sediado em Ubatuba (SP). Período: setembro de 1997.

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Os teleósteos são considerados capturas acidentais nessa modalidade pesqueira. Os peixes de bico são os mais importantes, especialmente o agulhão-vela, Istiophorus platypterus, o agulhão-branco, Tetrapturus albidus, e o espadarte, Xiphias gladius. O marlin-azul, Makaira nigricans é raro, sendo capturado no verão e outono. Há também capturas de escombrídeos, particularmente de bonito-cachorro, Auxis thazard, albacora-laje, Thunnus albacares, bonito-do-atlântico, Sarda sarda e do bonito-listrado, Katsuwonus pelamis. Outros peixes que também ocorrem nessa pescaria são os dourados (Coryphaenidae), estes em todos os meses do ano, e os peixes da família Bramidae, Brama brama. Os barcos de emalhe sediados em Ubatuba (SP) ocasionalmente capturam peixes da família Carangidae, quando operando sobre a plataforma continental. Ocorrem capturas acidentais de cetáceos, principalmente da subordem Odontoceti. Zerbini & Kotas(1998) reportaram 10 espécies no emalhe-de-superfície das Regiões Sudeste e Sul, mas a lista pode ser expandida para 22 espécies. Tartarugas marinhas também são capturadas, sendo as famílias Chelonidae e Dermochelidae as mais representativas. As espécies capturadas são a tartarugaverde, Chelonia mydas, a tartaruga-cabeçuda, Caretta caretta, e a tartaruga-decouro, Dermochelys coriacea. A de couro é principalmente capturada no verão, associada a manchas de hidromedusas na borda da plataforma continental. Alguns pescadores chegam a capturar entre 10 e 30 tartarugas-de-couro em um único lance, havendo grande dificuldade para retirá-las das redes. A participação dos elasmobrânquios nos desembarques do emalhe-desuperfície durante o período de 1993-94, no Estado de Santa Catarina (Branco & Rebelo, 1995, 1997) é apresentada na tabela 4. Os tubarões-martelo, principalmente Sphyrna lewini, representaram 76% do total das capturas em peso; vários carcharhinídeos, 7,3%; o anequim, Isurus oxyrinchus, 3,4% e o tubarão-azul, Prionace glauca, 0,3%, constatando-se que essa modalidade pesqueira é direcionada aos tubarões. O tubarão-mangona, Carcharias taurus, representou 10,8 % do total capturado. Os teleósteos representam apenas 2% do total da captura em peso, sendo o agulhão-vela, 1,2% do total capturado; o bonito-cachorro, 0,4% ; o dourado, 0,2%; o espadarte e a albacora-laje, 0,1% cada um. Tabela 4 – Composição por espécies de elasmobrânquios e teleósteos nos desembarques do emalhe-de-superfície, Estado de Santa Catarina, durante os anos de 1993 e 1994. Desembarques em toneladas. Nome vulgar

Espécies de elasmobrânquios

1993

1994

Média

% do total desembarcado

% do total de elasmobránquios

Tubarões-martelo Mangona Tubarão-cabeça-chata Anequim Tubarões Mole-mole, azul

Sphyrna lewini, S. zygaena Carcharias taurus Carcharhinus obscurus Isurus oxyrinchus Carcharhinus spp. Prionace glauca

422,40 49,38 47,94 13,76 1,98 0,33

538,43 87,00 39,18 28,61 3,16 3,41

480,42 68,19 43,56 21,19 2,57 1,87

76,25 10,82 6,91 3,36 0,41 0,30

77,76 11,04 7,05 3,43 0,42 0,30

Total elasmobrânquios

535,79

699,79

617,79

98,05

100,00

1993

1994

Média

% do total desembarcado

% do total de teleósteos

Istiophorus platypterus Auxis thazard Coryphaena hippurus Xiphias gladius Thunnus albacares Sarda sarda Katsuwonus pelamis

2,53 2,00 1,31 0,56 0,13 0,22

12,49 2,41 0,66 1,15 1,02 0,27 0,21

7,51 2,21 0,99 0,86 0,58 0,27 0,22

1,19 0,35 0,16 0,14 0,09 0,04 0,03

61,23 17,98 8,03 6,97 4,69 2,20 1,75

Total teleósteos

6,53

18,00

12,27

1,95

100,00

542,32

717,79

630,06

100,00

Nome vulgar Agulhão-vela Bonito-cachorro Dourado Espadarte Albacora-laje Serrinha Bonito-listrado

Espécies de teleósteos

Total elasm. + teleósteos

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A análise das composições desembarcadas do emalhe-de-superfície no Estado de Santa Catarina, para o período 2000 a 2002 (Univali, 2001, 2002 e 2003), mostrou que os tubarões foram as espécies-alvo , totalizando 93,1% do total capturado em peso (considerando-se as barbatanas também), seguidos em ordem decrescente pelos agulhões (3,5%), outros peixes (2,9%), espadartes (0,4%) e atuns (0,1%) (tabela 5). Do total capturado de tubarões, os esfirnídeos corresponderam a 59,5%. O volume total de pescado desembarcado por essa modalidade de pesca, no período considerado, foi de 411 toneladas. Tabela 5 – Composição por grupos de espécies (kg) nos desembarques do emalhe-de-superfície, Estado de Santa Catarina. Período de 2000 a 2002. Fonte: UNIVALI, 2001, 2002 e 2003. Espécie Agulhões Atuns Tubarões Espadartes Galha de cação Outros Total

total (kg)

% do total em peso

14.345 249 379.902 1.818 2.930 12.097

3,5 0,1 92,4 0,4 0,7 2,9

411.341

100,0

Espécie Tubarões-martelo Tubarões

total (kg)

% do total de tubarões

226.035 379.902

59,5

A evolução anual dessas categorias no período considerado (tabela 6), mostra como o direcionamento aos tubarões aumentou, chegando, em 2002, a 269 toneladas. Esse aumento foi devido ao maior volume de tubarões-martelo desembarcados, que em 2002 atingiu 159 toneladas (figura 7). Pode-se afirmar que o tubarão-martelo continua sendo a espécie-alvo dessa modalidade de pesca, porém em menor quantidade se comparado aos anos de 1993 e 94, quando foram desembarcadas respectivamente 422 e 538 toneladas, em Santa Catarina. Tabela 6 – Composição por grupos de espécies (kg) nos desembarques do emalhe-de-superfície, Estado de Santa Catarina. Período de 2000 a 2002. Fonte: UNIVALI, 2001, 2002 e 2003. ESPÉCIES 2000 Agulhões Atuns Tubarões Espadartes Outros

(kg) por ano 2001 2002

1.923 46.916 1.000

3.942 49 63.600 180 7.784

8.480 200 269.386 1.638 3.313

TOTAL (kg) 14.345 249 379.902 1.818 12.097

159 268 160.000 Desembarques (Kg)

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140.000 120.000 100.000 80.000 60.000 40.000

43 668 23 099

20.000 0

2000

2001

2002

Figura 7 – Evolução anual dos desembarques de tubarões-martelo, frota de emalhe-de-superfície, Estado de Santa Catarina. Período 2000 a 2002. Fonte: UNIVALI (2001; 2002; 2003).

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A evolução mensal das categorias “tubarões-martelo” e “outras espécies de tubarões”, em Santa Catarina, para o período 2000 a 2002, é apresentada na tabela 7 e figuras 8 e 9. As capturas de tubarões-martelo foram mais elevadas na primavera-verão e outono e as das outras categorias de tubarões no final do inverno e primavera. O pico do mês de setembro de 2000 é relativo ao grande volume desembarcado de mangona, Carcharias taurus, que foi de 21,5 toneladas. Em Ubatuba (SP), a composição de elasmobrânquios em 3 cruzeiros de pesca (Kotas et al., 1998) mostraram que as capturas de raias-manta, Mobula hypostoma, representaram 52,5% do total desse grupo, embora a espécie seja totalmente descartada. O peso médio individual dessas raias foi de 65 kg, o que representa uma quantidade considerável de proteína animal desperdiçada (para os 3 cruzeiros considerados, 5,5 t de raias-manta foram descartadas). A segunda espécie mais capturada foi o tubarão-martelo, Sphyrna lewini, espécie-alvo que representou 28,5% das capturas de elasmobrânquios, seguida pelo tubarão-anequim, Isurus oxyrinchus, com 4,4%. Em ordem decrescente de valor, os 14,9% restantes, foram preenchidos pelos tubarões-cabeça-chata, Carcharhinus obscurus, e Carcharhinus leucas, pelo grande tubarão-martelo, Sphyrna mokarran, pela cambeva-preta, Sphyrna zygaena, por tubarões-galha-preta, Carcharhinus limbatus e Carcharhinus brevipinna, por tubarões-azuis, Prionace glauca, tubarões-machote, Carcharhinus signatus, tubarões-de-lombo-preto, Carcharhinus falciformis, outros carcharhinídeos (0,1%), raias-sapo, Myliobatis spp. e pelos tubarões-frango, Carcharhinus porosus e Rhizoprionodon porosus. Tabela 7 – Desembarques mensais (kg), por grupo de espécies na pesca de emalhe-de-superfície, Estado de Santa Catarina. Período 2000 a 2002. Fonte: UNIVALI (2001; 2002; 2003).

ESPÉCIE

ANO

Agulhões (1) Agulhões (1) Agulhões (1) Atuns (2) Atuns (2) Atuns (2) Outros tubarões (3) Outros tubarões (3) Outros tubarões (3) Cação-martelo (4) Cação-martelo (4) Cação-martelo (4) Meka (5) Meka (5) Outros peixes (6) Outros peixes (6) Outros peixes (6) Barbatanas de tubarões

2000 2001 2002 2000 2001 2002 2000 2001 2002 2000 2001 2002 2001 2002 2000 2001 2002 2002

JAN

400 984

FEV

2.392 300 30 19

MAR

ABR

100

MAI

1.760

JUN

50

JUL

320

AGO

SET

DEZ

TOTAL

899 650 680

1.024 500 3.240

11.182 1.800 1.800 26.280 12.866 33.120 8.143 1.400 1.000 6.931 14.737 12.131

12.635 8500 14.078 14.956 6.750 18.002

1.923 3.942 8.480 30 19 200 23.817 19.932 110.118 23.099 43.668 159.268 180 1.638 1.000 7.784 3.313 2.930

142

100 2.250 5.734

904

NOV

100 5.002 3.190

2.380 6.690

4.760 22.258 8.500 15.590 23.480 23.610 100 80 185 160 280 1.000 2.294

OUT

1.630

3.040

550

1.140

33.787

6.000

4.000

342

100

50

461

65 830

100

46

1.300 620 510

5.484 100

500

60 1.000 188 990

1 Agulhões: Agulhão-azul (Markaira nigricans), agulhão-vela (Istiophorus albicans) e outras espécies da família Istiophoridae. 2 Atuns: Albacora-laje (Thunnus albacares), bonito-listrado (Katsuwonus pelamis) e outras espécies da família Scombridae. 3 Outros tubarões: Anequim (Isurus oxyrinchus), cação-anjo (Squatina spp.), tubarão-azul (Prionace glauca), cação-bagre (Squalus spp.), tubarão-cabeça-chata (Carcharhinus obscurus e Carcharhinus signatus), cação-baia (Hexanchus griseus). 4 Cação-martelo: Cambeva-branca (Sphyrna lewini), cambeva-preta (Sphyrna zygaena). 5 Meka: Espadarte (Xiphias gladius). 6 Outros peixes: Dourado (Coryphaena hippurus), peixe-lua (Mola mola).

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35.000 31.500 28.000 desembarques (Kg)

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24.500 21.000 17.500 14.000 10.500 7.000 3.500 0 0

1

2

3

4

5

6 7 meses

8

9 10 11 12 13

Figura 8 – Desembarques médios mensais (kg) de tubarões-martelo capturados pela pesca de emalhe-de-superfície em Santa Catarina. Período: 2000 a 2002. Barras verticais são erros-padrão. Fonte: UNIVALI (2001; 2002; 2003).

33.200 29.880 26.560 desembarques (Kg)

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23.240 19.920 16.600 13.280 9.960 6.640 3.320 0 0

1

2

3

4

5

6 7 meses

8

9 10 11 12 13

Figura 9 – Desembarques médios mensais (kg) de outros tubarões capturados pela pesca de emalhe-de-superfície em Santa Catarina. Período: 2000 a 2002. Barras verticais são erros padrão. Fonte: UNIVALI (2001; 2002; 2003).

Em 1995 a frota de Itajaí e Navegantes operou na área localizada entre as latitudes de 24° S (Santos) e 33°45´S (Chuí) e profundidades de 47 a 3.600 m. Algumas embarcações operaram até Vitória (20° S) (figura 10). Por sua vez, em 1997, a frota de Ubatuba operou numa área menor e mais próxima à costa, limitada pelas latitudes 23° S (Cabo Frio) e 26° S (divisa dos Estados do Paraná e Santa Catarina) em profundidades de 30 a 417 m (figura 11). Os barcos de Itajaí e Navegantes, às vezes, operam fora dos limites da Zona Econômica Exclusiva, enquanto as embarcações sediadas em Ubatuba sempre operam dentro dela. Um resumo das operações de pesca é apresentado na tabela 8. Para a frota de Itajaí e Navegantes, os cruzeiros tiveram duração de 8 a 27 dias, em função da disponibilidade de espécies-alvo, consumo de óleo diesel e água potável a bordo. A média foi de 17 dias. Os dias de pesca estiveram entre 5 e 18 dias, com

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22˚ Rio de Janeiro

23˚ 24˚

Santos

25˚ 26˚ 27˚ 28˚ 29˚ 30˚ 31˚ Rio Grande

32˚ 33˚

Oceano Atlântico

34˚ 35˚ 54˚

53˚

52˚

51˚

50˚

49˚

48˚

47˚

46˚

45˚

44˚

43˚

42˚

41˚

40˚

Figura 10 – Áreas de pesca da frota de emalhe-de-superfície sediada em Itajaí e Navegantes (SC), durante o ano de 1995. A linha afastada da costa indica o limite da Zona Econômica Exclusiva brasileira (ZEE).

22˚ Rio de Janeiro

23˚ 24˚

Santos

25˚ 26˚ 27˚ 28˚ 29˚ 30˚ 31˚ Rio Grande

32˚ 33˚

Oceano Atlântico

34˚ 35˚ 54˚

53˚

52˚

51˚

50˚

49˚

48˚

47˚

46˚

45˚

44˚

43˚

42˚

41˚

40˚

Figura 11 – Áreas de pesca da frota de emalhe-de-superfície sediada em Ubatuba (SP), durante o ano de 1997. A linha afastada da costa indica o limite da Zona Econômica Exclusiva brasileira (ZEE).

média em 12. A diferença entre os dias de mar e os de pesca foi devido ao tempo de navegação e ao mau tempo. O lançamento das redes ocorria entre 15h00 e 18h00, com duração média de 3 horas, dependendo da força do vento e do comprimento da rede. Ventos fortes auxiliam na operação de lançamento sendo o barco posicionado de través ao vento, enquanto a rede é liberada manualmente pela borda oposta. Em condições de calmaria, a rede é lançada lateralmente com a embarcação navegando entre 2 e 3 nós, operação perigosa devido ao risco de enganche da rede na hélice. O tempo de imersão da rede é em média 12 horas. É considerada uma pescaria noturna, com os melhores rendimentos durante a Lua nova, quando as redes ficam menos visíveis aos tubarões e outras espécies de peixes pelágicos. O recolhimento ocorre no dia seguinte, entre as 4h30 e 6h30 da manhã. O tempo médio de recolhimento é de 4 horas, também dependente do comprimento da rede e das condições do mar.

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Tabela 8 – Resumo das operações de pesca para as frotas de emalhe-de-superfície sediadas nos portos de Itajaí-Navegantes (SC) e Ubatuba (SP), durante os anos de 1995 e 1997, respectivamente.

Frota - Ubatuba (SP) Estatística

profundidade (m)

dias de mar

dias de pesca

Média Amplitude Mínimo Máximo N

91,1 387,0 30,0 417,0 40

10,2 9,0 4,0 13,0 37

7,4 7,0 3,0 10,0 36

início de início de tempo de lançamento (h) recolhimento (h) imersão (h) 17h23 5h10 14h50 20h00 25

5h41 3h20 3h30 6h50 24

12,4 5,7 9,6 15,3 24

Frota - Itajaí e Navegantes (SC) Estatística

profundidade (m)

Média Amplitude Mínimo Máximo N

1.548,5 3.553,0 47,0 3.600,0 23

dias de mar 17,1 19,0 8,0 27,0 20

dias de pesca

início de lançamento(h)

duração do lançamento(h)

12,2 13,0 5,0 18,0 20

16h18 3h00 16h00 16h00 19

2,7 4,0 1,0 5,0 12

início do duração do recolhimento(h) recolhimento(h) 5h26 2h00 4h30 6h30 19

4,0 4,8 2,2 7,0 15

tempo de imersão (h) 12,0 0,2 12,0 12,2 18

A frota sediada em Ubatuba, possuindo menor autonomia, permanece no mar entre 4 e 13 dias e pesca,em média,7 dias.As redes são lançadas,entre as 14h50 e 20h00. O recolhimento ocorre no dia seguinte entre as 3h00 e 6h50. O tempo médio de imersão das redes foi semelhante à frota de Itajaí, ou seja, 12 horas. A distribuição horizontal da CPUE de Sphyrna lewini (tubarões/km de rede) durante o período de 1995 a 1997 foi mapeada, constatando-se que a pescaria esteve concentrada entre 28° S – 33° S e 44° W de longitude (figuras 12 e 13). Os melhores rendimentos, entre 20 e 25 tubarões/km de rede, foram obtidos na primavera-verão sobre o talude, no ambiente epipelágico, região com profundidades de 1 000 a 3 000 m, e temperatura da água de superfície acima de 21° C, associada à massa de água tropical (Gama et al., 1998). A pesca de emalhe-de-superfície segue o comportamento migratório dos subadultos e adultos, desde a zona nerítica até o ambiente oceânico e vice-versa. A distribuição da CPUE de Sphyrna lewini, portanto, apresentou o seguinte padrão sazonal (Figuras 12a,b e 13a,b): • Primavera-verão: a espécie ocorreu entre 24° e 33° S e 51° e 43° W. No verão, a distribuição horizontal foi bem ampla, ou seja, desde a zona litorânea até o talude, fato explicado pelo comportamento migratório das fêmeas maduras, deslocando-se das áreas oceânicas para as zonas neríticas na época de parto. Durante a primavera, a espécie se concentrou mais ao sul, entre 30° e 33° S de latitude; no verão, se deslocou mais ao norte, entre 31° e 28° S de latitude. • Outono-inverno: a espécie esteve concentrada sobre o talude, entre as latitudes 28° e 31° S e longitudes de 47° a 46° W, em profundidades de 2.300 a 3.500 m. Nessa região, adultos de Sphyrna lewini permanecem no ambiente epipelágico à procura de presas como as lulas e pequenos peixes. A distribuição espaço-temporal dos rendimentos de Sphyrna lewini no emalhe-de-superfície evidencia seu comportamento migratório, o qual é regido por seus hábitos alimentares e reprodutivos.

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18˚ 20˚ 22˚

Rio de Janeiro

Santos

24˚ 26˚ Oceano Atlântico

0 a 5 peixes/km 5 a 10 peixes/km 10 a 15 peixes/km 15 a 20 peixes/km

Rio Grande

28˚ 30˚ 32˚

20 a 25 peixes/km

50˚

48˚

46˚

44˚

42˚

40˚

38˚

36˚

Figura 12a – Distribuição sazonal da CPUE (tubarões/km) de Sphyrna lewini, no sudeste e sul do Brasil, capturada pelo emalhe-de-superfície. Período: 1995 a 1997. OUTONO. Na legenda, médias sazonais de CPUE para o período considerado.

18˚ 20˚ 22˚

Rio de Janeiro

Santos

24˚ 26˚ Oceano Atlântico

0 a 2 peixes/km 2 a 4 peixes/km 4 a 6 peixes/km 6 a 8 peixes/km

Rio Grande

28˚ 30˚ 32˚

8 a 10 peixes/km

50˚

48˚

46˚

44˚

42˚

40˚

38˚

36˚

Figura 12b – Distribuição sazonal da CPUE (tubarões/km) de Sphyrna lewini, no sudeste e sul do Brasil, capturada pelo emalhe-de-superfície. Período: 1995 a 1997. INVERNO. Na legenda, médias sazonais de CPUE para o período considerado.

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18˚ 20˚ 22˚

Rio de Janeiro

Santos

24˚ 26˚ Oceano Atlântico

0 a 5 peixes/km 5 a 10 peixes/km 10 a 15 peixes/km 15 a 20 peixes/km

Rio Grande

28˚ 30˚ 32˚

20 a 25 peixes/km

50˚

48˚

46˚

44˚

42˚

40˚

38˚

36˚

Figura 13a – Distribuição sazonal da CPUE (tubarões/km) de Sphyrna lewini, no sudeste e sul do Brasil, capturada pelo emalhe-de-superfície. Período: 1995 a 1997. PRIMAVERA. Na legenda, médias sazonais de CPUE para o período considerado.

18˚ 20˚ 22˚

Rio de Janeiro

Santos

24˚ 26˚ Oceano Atlântico

0 a 5 peixes/km 5 a 10 peixes/km 10 a 15 peixes/km 15 a 20 peixes/km

Rio Grande

28˚ 30˚ 32˚

20 a 25 peixes/km

50˚

48˚

46˚

44˚

42˚

40˚

38˚

36˚

Figura 13b – Distribuição sazonal da CPUE (tubarões/km) de Sphyrna lewini, no sudeste e sul do Brasil, capturada pelo emalhe-de-superfície. Período: 1995 a 1997. VERÃO. Na legenda, médias sazonais de CPUE para o período considerado.

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DISCUSSÃO Na maioria das pescarias de emalhe direcionadas aos tubarões, é constatada rápida ascensão nas capturas durante os primeiros anos, seguida, posteriormente por uma vertiginosa queda. Esse efeito é indicativo de níveis de explotação bem acima do ponto de equilíbrio (Walker, 1998). Para a maioria das pescarias de emalhe-de-superfície, há carência de informações sobre o impacto ecológico causado sobre as espécies-alvo e as capturas acidentais. Freqüentemente são espécies de pouca importância comercial, bem como espécies “protegidas” (cetáceos e quelônios) as quais, normalmente, não são registradas nos mapas de bordo (Zerbini & Kotas, 1998). Por esse motivo, a ONU, através da resolução A/Res/44/225 de 1989, proibiu o uso de redes de emalhe-de-superfície em larga escala, a partir de 30 de junho de 1992 (Bonfil, 1994). A União Européia limita o comprimento total das redes de emalhe-de-superfície em 2,5 km, sendo que elas devem ficar permanentemente conectadas à embarcação (ICCAT, 1994). Embora existam restrições em todo o mundo ao uso dessas redes, vários países ainda continuam a utilizar esse tipo de aparelho de pesca, sendo o Brasil um exemplo. Na Austrália, o comprimento máximo permitido para redes de emalhe-de-superfície é de 2,5 km (Stevens & Davenport, 1987), semelhante ao previsto na legislação brasileira (IBAMA, 1998). Portanto, as maiores redes utilizadas em Ubatuba estavam até 108% acima do tamanho regulamentado. Já em Itajaí e Navegantes (SC), as maiores chegaram a 204% acima do tamanho máximo permitido (IBAMA, 1998). Um dos problemas existentes no desenho dessas redes se deve ao fato da tralha de bóia operar desde a linha de superfície, capturando pequenos cetáceos e quelônios. Estudos mostram que esse problema poderia ser minimizado se a tralha de bóia operasse pelo menos 2 m abaixo da superfície (FAO, 1990). Com os dados relativos ao número de barcos, comprimento total médio das redes e dias de pesca, foi realizada uma estimativa do esforço total (em quilômetros de rede) aplicado durante um ano pela frota de emalhe-de-superfície sediada em Itajaí e Navegantes. Foram considerados: • (A)  Número médio de dias de pesca por viagem  número de lances realizados durante um cruzeiro  12, • (B)  Número máximo de barcos de emalhe-de-superfície operando durante o outono e inverno = 47, • (C)  Número máximo de barcos de emalhe-de-superfície operando durante a primavera-verão = 130, • (D)  Comprimento total médio das redes  3,4 km, • (E)  Número médio de cruzeiros que uma embarcação pode realizar por época do ano (ou seja outono-inverno ou primavera-verão). O esforço total aplicado durante um ano foi calculado da seguinte maneira: • Esforço de pesca estimado (km de rede/ano)  (ABDE)  (ACDE) • Esforço de pesca estimado  19.176 km/ano (outono-inverno)  53.040 km/ano (primavera-verão), obtendo-se 72.216 km/ano. Considerando o ano de 1995, quando foi feita a avaliação do tamanho da frota, conclui-se que houve um grande esforço de pesca sobre os tubarões-martelo. Se a frota naquela época tivesse utilizado o comprimento máximo de rede permitido por lei (portaria do IBAMA, no- 121, de 24 de agosto de 1998), ou seja, de 2,5 km, o esforço total estimado seria de 53.100 km/ano, ou seja, haveria

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uma redução no esforço de 26,5%. Além disso, o fato de os adultos de Sphyrna lewini estarem muitas vezes agrupados no ambiente epipelágico (Klimley, 1987; Klimley et al., 1993; Klimley, 1993), aumenta sensivelmente sua vulnerabilidade às redes de emalhe. Outro aspecto negativo foi o fato de o esforço de pesca ter sido mais intenso na primavera-verão, justamente quando os adultos se concentram para fins reprodutivos. Kotas et al. (1998) observaram para a região de Ubatuba, capturas de adultos em fase reprodutiva no mês de janeiro (verão), ou seja, quando os exemplares de Sphyrna lewini apresentavam comprimentos totais médios entre 190 e 196 cm para machos e fêmeas respectivamente. Amorim et al. (1994), através do desenvolvimento embrionário, identificaram a época de parto para Sphyrna lewini na primavera. Possivelmente, todos os fatores anteriores, aliados ao esforço de pesca intensivo exercido pelo emalhe de fundo sobre os neonatos e juvenis de Sphyrna lewini, conduziram o recurso a um dramático declínio nas capturas dos anos seguintes. As barbatanas de tubarões são um dos mais caros “frutos do mar” da atualidade e costumam ser exportados quase que em sua totalidade para os principais mercados compradores de Hong Kong e Cingapura (Vannuccini, 1999). Em Hong Kong, em 2004, os valores médios das barbatanas processadas de tubarões-martelo oscilaram entre 100 e 700 dólares por kg (Clarke, comunicação pessoal). Essa demanda internacional por barbatanas aumentou consideravelmente no final dos anos 80 e ao longo da década de 90, como conseqüência da abertura do mercado chinês. O tubarão-martelo, Sphyrna lewini, é considerado uma espécie-alvo na pescaria de emalhe-de-superfície no sudeste e sul do Brasil, devido ao elevado preço que as suas barbatanas alcançam no mercado asiático (Taiwan, Hong Kong, Coréia do Sul e Japão). Em 1995, eram comumente pagos 50 dólares por kg aos pescadores de Itajaí e Navegantes pelas nadadeiras de tubarão-martelo (nadadeiras frescas, sem processamento). Por sua vez, o preço pago pelas carcaças era de apenas US$ 0,10 – 0,12/ kg, fato que estimulava a prática do descarte das carcaças, principalmente durante os períodos de pico dessa pescaria (Kotas, comunicação pessoal). “Finning” é o nome dado à prática de capturar tubarões, extrair suas barbatanas e devolver o restante do animal mutilado, normalmente vivo, ao mar (Vannuccini, 1999). O controle dessa atividade é difícil, pois envolve questões éticas e econômicas (Anônimo, 1999). Em 1998, o Ministério do Meio Ambiente e sua Agência Ambiental, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) editaram a portaria de n-o 121, de 24 de agosto de 1998, proibindo essa atividade danosa, por embarcações licenciadas para operar em águas brasileiras, e proibindo um volume de desembarques de barbatanas superior a 5% do peso total das carcaças. Para a Sociedade Brasileira envolvida com o Estudo e Conservação dos Elasmobrânquios (SBEEL) (Anônimo, 1998; Anônimo, 1999), o “finning” é ainda rotineiramente realizado a bordo de muitas embarcações nacionais e arrendadas. Mais recentemente, em 2005, nos portos de Itajaí e Navegantes (SC), temse observado para a pesca de emalhe-de-superfície o desembarque de tubarões eviscerados com as barbatanas ainda inseridas às carcaças, sendo a retirada das mesmas, para algumas espécies, inclusive o tubarão-martelo, efetuada no porto (Kotas, comunicação pessoal).

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Embora a pesca de emalhe-de-superfície atue até a profundidade máxima de 30 m, isso não implica que o gênero Sphyrna e outras espécies de tubarões não possam ocorrer além dessa faixa. Estudos mostram que os tubarõesmartelo podem mergulhar até 560 m de profundidade (Klimley & Nelson, 1984; Klimley & Butler, 1988; Klimley et al., 1993). Assim, a pesca com emalhe-de-superfície explora o estrato mais superficial, visitado à noite por várias espécies de tubarões em busca de alimento. Notarbartolo-di-Sciara (1988), observou que Mobula thurstoni era abundante em águas rasas, até 100 m de profundidade. Isso significa que as raiasmanta são extremamente vulneráveis ao emalhe-de-superfície. As raias-manta apresentam um comportamento solitário ou formam pequenos agrupamentos contendo de 2 a 6 indivíduos. Durante um cruzeiro de pesca no mês de janeiro (verão), os autores observaram uma captura de 30 raias-manta em um único lance. Essas capturas elevadas nessa época do ano estão associadas com o comportamento reprodutivo da espécie, ou seja, quando formam agrupamentos para fins de cópula e parto. Bancroft (1829); Coles (1910); Coles (1916) também observaram o comportamento de cardume em Mobula hypostoma. Embora as capturas de cetáceos e quelônios sejam acidentais no emalhede-superfície, capturas intencionais são proibidas por lei federal. Esse fato contribui para que os animais (vivos ou mortos) capturados sejam descartados, havendo, conseqüentemente, perda desses registros que certamente contribuíriam para se conhecer melhor a distribuição, abundância, identidade dos estoques e parâmetros de seu ciclo de vida no sudeste e sul do Brasil.

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A PESCA DE ESPINHEL-DE-SUPERFÍCIE NO SUL DO BRASIL

Resumo A pesca de espinhel-de-superfície (monofilamento) sediada nos portos de Itajaí e Navegantes (SC), tem como enfoque as capturas de tubarões e a extração das barbatanas. São apresentadas as principais áreas, as características físicas das embarcações e dos espinhéis, bem como toda a operação de pesca. A análise da composição das capturas para o Estado de Santa Catarina entre 2000 e 2002 mostra que os tubarões representaram acima de 50% do volume desembarcado nessa pescaria, em função da demanda de carne para o mercado interno e da exportação de barbatanas para a Ásia. O uso do estropo de aço nas linhas secundárias do espinhel é o grande responsável pelas elevadas capturas de tubarões. O tubarão-azul, Prionace glauca, (Linnaeus, 1758) é a principal espécie capturada. A sazonalidade nas capturas é apresentada para os agulhões, atuns, espadartes, tubarões-azuis e tubarões-martelo. A taxa de sobrevivência para várias espécies de tubarões no espinhel é elevada (acima de 50%). As maiores capturas de tubarõesmartelo ocorrem no segundo semestre, sendo estas acidentais.

Palavras-chave Espinhel-de-superfície, tubarões, capturas acidentais.

Abstract The monofilament longline fishery, based in Itajaí and Navegantes (Santa Catarina State, Brazil) was described, focusing on sharks and finning. Between 2000 and 2002 years, sharks represented more than 50% of the total longline landings in Santa Catarina State, being the carcasses for domestic market and fins exported to Asia. Steel wires used at the gangions are the main responsible for the high shark rate capture. The blue shark (Prionace glauca), is the most important species. A seasonal pattern was presented for blue sharks, hammerheads, billfish, albacores and swordfish catches. Longline survival was high for sharks (more than 50%) and most of them are sacrificed aboard. Higher hammerhead catches used to happen in the second quarter of the year.

Key-words Longline, sharks, bycatch.

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INTRODUÇÃO A pesca de espinhel-de-superfície sediada nos portos de Itajaí e Navegantes (SC) e que ocorre ao longo de toda a região sudeste-sul do Brasil é descrita tendo como enfoque as capturas de tubarões e a atividade de extração de barbatanas. No ano de 1998, três cruzeiros do qual participaram observadores foram efetuados a bordo de espinheleiros sediados em Itajaí (SC), durante os períodos de março-abril, junho-julho e setembro-outubro, com o objetivo de conhecer a pescaria e as respectivas capturas de tubarões. Esses cruzeiros fizeram parte do Programa REVIZEE-Score Sul, que objetiva avaliar os recursos vivos na Zona Econômica Exclusiva brasileira, especificamente nas latitudes compreendidas pelas Regiões Sudeste e Sul. Os atuneiros sediados nos municípios de Itajaí e Navegantes (SC) utilizam o espinhel de monofilamento, sendo o anzol iscado com o calamar-argentino descongelado, Illex argentinus. A esse conjunto também é inserido, em cada linha secundária, um atrator luminoso (“lightstick”), aumentando a capturabilidade do petrecho. A área de pesca, delimitada pelas latitudes de 27°30´S e 34°30´S e pelas longitudes de 52°00´e 36°00´W, situa-se na região da Convergência Subtropical (figura 14). Mudanças climáticas sazonais ocasionam deslocamentos latitudinais dessa zona de mistura, onde são também encontradas ressurgências de borda de plataforma, que dão suporte aos estoques de peixes pelágicos, como os atuns (Castello & Habiaga, 1988; Brandini, 1990; Weidner & Arocha, 1999; Brandini et al., 1989; Matsuura, 1990; Pires-Vanin et al., 1993; Mesquita et al., 1983; Matsuura, 1982; Matsuura, 1990). Nessa região, a morfologia do fundo é basicamente composta pelo talude, planícies, bacias abissais e elevações oceânicas. Sobre esse ambiente oceânico-epipelágico são capturados, ao longo do ano, pela frota espinheleira sediada nos portos de Itajaí-

22˚ Rio de Janeiro

23˚ 24˚

Santos

Limite da ZEE brasileira (200 milhas)

25˚ 26˚ 27˚ 28˚ 29˚ 30˚ 31˚

Rio Grande

32˚

Oceano Atlântico

33˚ 34˚ 35˚ 54˚

53˚

52˚

51˚

50˚

49˚

48˚

47˚

46˚

45˚

44˚

43˚

42˚

41˚

40˚ 39˚

38˚

37˚

36˚

35˚

Figura 14 – Áreas de pesca onde foram realizados 3 cruzeiros de observadores de bordo, durante os períodos de março-abril, junho-julho e setembro-outubro de 1998 na costa sul-brasileira, para a modalidade de espinhel-de-superfície. As áreas de pesca estão sinalizadas pelos blocos pretos.

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Navegantes (SC) e Santos (SP) o espadarte, Xiphias gladius, atuns, Thunnus obesus, Thunnus alalunga, Thunnus albacares e tubarões (em especial o tubarão-azul,Prionace glauca). Nessa área, elevadas concentrações de espadarte são encontradas, principalmente nos meses de inverno, devido a sua migração trófica e disponibilidade de presas, no caso, lulas (Haimovici & Perez, 1991; Arfelli, 1996). O espinhel de monofilamento é utilizado primariamente para a captura do espadarte, Xiphias gladius. Entretanto, outros tubarões pelágicos (principalmente Prionace glauca) e atuns, (Thunnus albacares , Thunnus obesus e Thunnus alalunga) são também capturados. Quando essa modalidade de pesca foi introduzida, em 1994, em Santos (SP) e, em 1996, em Itajaí (SC), a frota inicialmente se direcionava para o espadarte, evitando áreas de grandes concentrações de tubarões. Naquele período, o anzol era diretamente preso à linha secundária, de náilon, permitindo o escape dos tubarões. Entretanto, com a crescente demanda de barbatanas, estropos de aço começaram a ser inseridos entre o anzol e a linha secundária, impossibilitando o escape dos tubarões. Atualmente, o espinhel de monofilamento com o estropo de aço é o mais comumente utilizado no sudeste e sul do Brasil, devido à sua facilidade operacional e segurança apresentada, em comparação ao sistema tradicional de espinhel de multifilamento (tipo “japonês”).

MATERIAL E MÉTODOS A metodologia utilizada é apresentada na parte 1, que versa sobre a pesca de emalhe-de-superfície.

RESULTADOS Durante os três cruzeiros, um esforço total de 33.650 anzóis correspondentes a 34 lances foi efetuado, o que representou 1% do esforço médio anual da frota espinheleira nacional no sudeste e sul do Brasil. 24 lances foram efetuados dentro da Zona Econômica Exclusiva e os 10 restantes em águas internacionais. O número médio de anzóis utilizados por lance foi de 1.030, 992 e 950 para o primeiro, segundo e terceiro cruzeiros, respectivamente. Constatou-se que as embarcações podem permanecer no mar por até 30 dias, sendo esse período representativo da frota nacional operante ao longo da Zona Econômica Exclusiva sul-brasileira. As características físicas dessas embarcações são apresentadas na tabela 9. Tabela 9 – Características físicas das embarcações que utilizam espinhel-de-superfície (monofilamento), sediados em Itajaí – SC, nos quais foram realizados os cruzeiros com os observadores de bordo no ano de 1998. Nome da embarcação Porto de origem Comprimento total (m) Potência do motor (HP) Capacidade do porão (t) Tripulação Equipamento eletrônico Ano de fabricação Tipo de casco

BASCO Itajaí 24,4 330 70 11 GPS/VHF/SSB/Radiogônio Plotter/Ecossonda 1989 Madeira

YAMAYA III Itajaí 20,7 325 30 10 GPS/VHF/SSB/Radiogônio Plotter/Ecossonda 1982 aço

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O espinhel de monofilamento é composto por uma linha principal de náilon, onde as linhas secundárias são fixadas. Bóias-cegas e rádio-bóias são inseridas nessa estrutura (tabela 10 e figura 15). A linha principal utilizada tem 4 mm de diâmetro e o seu comprimento total varia entre 47 e 66 km. Bóias são fixadas à linha principal por meio de um cabo de náilon com um grampo de aço inoxidável na sua extremidade livre. A distância entre bóias varia de 200 a 300 m. Entre as bóias, 4 a 5 linhas secundárias são presas à linha principal, eqüidistantes de 60 e 40 m, respectivamente. Tabela 10 – Características físicas dos espinhéis de superfície (monofilamento), sediados em Itajaí SC, nos quais foram realizados os cruzeiros com os observadores de bordo no ano de 1998. Nome da embarcação Número de anzóis Comprimento da linha principal (milhas) Comprimento da linha secundária (m) Distância entre bóias-cegas (m) Distância entre linhas secundárias (m) Numeração do anzol Diâmetro do cabo de bóia (mm) Material do cabo de bóia Comprimento do cabo de bóia (m) Diâmetro da linha principal (mm) Material da linha principal número de bóias-cegas número de bóias-sinalizadoras número de rádio-bóias

BASCO 950 25,6 20 200 40 9 1,75 náilon 20 4 náilon 260 0 6

YAMAYA III - 1-0 cruz. 1100 32 - 35 13 300 60 9 3,6 náilon 10 4 náilon 200 1 6

0 YAMAYA III - 2-cruz. 1000 32 13 300 50 9 3,6 náilon 15 4 náilon 200 3 5

6 - rádio-bóias 5 - bóias-cegas

1 - cabo de bóia 4 - linha principal ou “linha madre” 2 - espaçamento entre duas linhas

3 - linha secundária ou “burã”

Figura 15 – Esquema de uma seção de espinhel.

A estrutura da linha secundária, ou “burã”, é relativamente simples (figura 16), medindo entre 13 e 20 m de comprimento total. É composta por um cabo de náilon monofilamento, com diâmetro de 1,8 mm e comprimento entre 12 a 19 m. A linha secundária é presa à linha principal através de um grampo (“snap”) com destorcedor (figura 17). Na outra extremidade, um estropo de aço trançado de 1 m de comprimento, com uma proteção plástica e medindo 2 mm de diâmetro fica conectado entre a linha de náilon e o anzol (de número 9/0) (figura 18). Atratores luminosos artificiais (“lightsticks”) de 4 polegadas de comprimento são fixados

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próximos ao anzol, ou afastados do mesmo cerca de 1 m (figura 19). Quando mantidos no gelo, podem ser reutilizados em um segundo lance. Um segundo destorcedor, com um peso de chumbo, é fixado no cabo de náilon 9,40 m abaixo do “snap”, permitindo que dessa forma os tubarões ou outro tipo de peixe possam nadar ou girar livremente sem emaranhar a linha secundária, mantendo-a também em posição vertical sob a coluna de água (figura 20).

G 6 “snap”

destorcedor

“ligthstick” estropo

anzol

Figura 16 – Estrutura de uma linha secundária, ou “burã”, no espinhel de monofilamento. Modificado de Broadhurst & Hazin, 2001.

13 cm

3,3 cm

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4,3 cm

Figura 17 – Detalhe de um grampo ("snap”) de 13 cm de comprimento, com destorcedor (veja seta).

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7,96 cm

2,96 cm Figura 18 – Anzol modelo “Swordfish 9/0”, utilizado na pesca de espinhel de monofilamento.

2,2 cm

1,0 cm

16,4 cm

Figura 19 – Atrator luminoso ou “lightstick”, utilizado na linha secundária.

1,6 cm

7,2 cm

Figura 20 – Destorcedor com chumbo (aproximadamente 75 gramas), utilizado na linha secundária do espinhel.

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As bóias-cegas são de plástico rígido, com 30 cm de diâmetro e presas à linha principal através de um “snap” com cabo de náilon de 3,6 mm de diâmetro e entre 10 e 20 m de comprimento. Bóias-rádio são colocadas para localizar o espinhel por meio do GPS – PLOTTER (figura 21). Em geral, 5 ou 6 bóias-rádio são utilizadas por lance, localizadas a cada 40-43 bóias-cegas. Como alerta à navegação, 2 bóias-sinalizadoras são também empregadas, uma no meio e outra no final do espinhel.

Figura 21 - Rádio-bóias japonesas, utilizadas para localizar o espinhel de monofilamento.

A linha principal, ou “linha madre”, é acondicionada em um tambor conectado a um guincho hidráulico, que serve para a operação de lançamento e recolhimento (figura 22). As linhas secundárias vão sendo colocadas na linha principal à medida que esta última é lançada na água, sendo o espaçamento entre as linhas secundárias feito através de um controlador de tempo, que apita a cada 15-18 segundos. A profundidade de operação do espinhel é atingida por meio de um lançador hidráulico denominado de “line-setter”(figura 23), que acelera a velocidade de lançamento da linha principal (entre 8,4 e 8,2 nós). Nem todos os espinheleiros brasileiros possuem o “line-setter”. Nesse caso, é alterado o comprimento do cabo de bóia e/ou o número de linhas secundárias entre bóias-cegas. Considerando-se apenas o comprimento máximo do cabo de bóia mais o comprimento da linha secundária, o espinhel operaria a uma profundidade teórica de 40 m. Entretanto, na prática, essa profundidade possivelmente seja maior, em função da “catenária”formada, ou seja, a profundidade máxima atingida ficaria em torno dos 60 – 100 m (Arfelli, 1996; Amorim et al., 1998; Anônimo, 1998). A faixa de profundidade de atuação desse petrecho é menor se comparada ao espinhel tradicional japonês que operava entre os 50 e 150 m, na década de 70.

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Figura 22 – Tambor com guincho hidráulico utilizado para lançar e recolher a linha principal do espinhel.

Figura 23 – Guincho hidráulico, ou "line-setter", utilizado para posicionar o espinhel na profundidade desejada.

A tabela 11 resume as operações de pesca durante os 3 cruzeiros. Normalmente, os tubarões são içados até o convés do barco ainda vivos, por meio de fisgas, arpões ou de um dispositivo denominado de “tesoura” (figura 24). No convés, ou mesmo na borda da embarcação, os animais são sacrificados através de um profundo corte sobre a cabeça (degola), que produz acentuada hemorragia, sendo finalmente imobilizados por meio da inserção de um arame de aço através do arco neural. Após a execução, são decapitados, eviscerados e as barbatanas extraídas (figura 25), sendo as carcaças acondicionadas em urnas com gelo.

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Tabela 11 – Resumo das operações de pesca realizadas durante as 3 viagens dos observadores de bordo nos espinheleiros de superfície (monofilamento) sediados em Itajaí – SC, durante o ano de 1998. Line-setter  lançador hidráulico (veja figura 23). Cruzeiros Horário médio de lançamento do espinhel Duração média do lançamento Velocidade do barco durante o lançamento (nós) Profundidade estimada de operação do anzol (m) Velocidade de lançamento do "line-setter" (nós) Periodicidade na fixação da linha secundária (segundos) Tempo médio de imersão do espinhel Duração média do recolhimento do espinhel

Basco set/out 1998 18h39 03h42´ 7 40-60 15 6h48´ 6h

Yamaya III março/abril 1998 17h00 4h45´ 7,4 50-70 8,4 16 8h25´ 8h

Yamaya III junho/julho 1998 17h15 4h42´ 7 70 8,2 18 7h54´ 7h30´

Figura 24 - Captura de um tubarão-azul, Prionace glauca, no espinhel-de-superfície e detalhe da "tesoura" (seta).

Figura 25 - Barbatanas extraídas de tubarões de diferentes espécies na pesca de espinhel-de-superfície.

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Durante os 3 cruzeiros, constatou-se a captura de 1 247 elasmobrânquios (68,9%) e 563 teleósteos (31,1%). O tubarão-azul, Prionace glauca, representou 50,4% do total capturado em número, os tubarões-martelo, Sphyrna spp. 8,2%, o tubarão-machote, Carcharhinus signatus, 6,2% e o tubarão-anequim, Isurus oxyrinchus, 4%; outros Carcharhinídeos como o tubarão-fidalgo, Carcharhinus obscurus e o tubarão-galha-branca, Carcharhinus longimanus representaram apenas 0,1%. Os principais peixes ósseos capturados foram o espadarte, Xiphias gladius, com 13,5% do total capturado, seguido pela albacora-laje, Thunnus albacares, 9,1%; albacora-branca, Thunnus alalunga, 6,7%; albacora-bandolim, Thunnus obesus, 1,6% e o agulhão-branco, Tetrapturus albidus, 0,3%. Foi também observada a condição que os tubarões apresentavam quando do recolhimento do espinhel, ou seja, se os indivíduos chegavam vivos ou mortos ao convés. O animal era considerado vivo, quando apresentava movimentos do corpo, da mandíbula, maxilas, movimentos na membrana nictitante do olho e nas fendas branquiais. Por outro lado, o tubarão era considerado morto, quando não se observava qualquer das características mencionadas, mesmo que sob estímulos externos. A tabela 12 apresenta os resultados dessas observações, sendo que de um total de 508 tubarões de diferentes espécies, 88% chegavam vivos ao convés da embarcação. A mais alta taxa de sobrevivência foi a do tubarão-azul, Prionace glauca (97%) seguido pelo tubarão-anequim, Isurus oxyrinchus, 78%; tubarãomachote,Carcharhinus signatus (69,8%) e o tubarão-martelo,Sphyrna zygaenas (53%). Esse tipo de análise seria um fator-chave para a adoção de medidas de conservação, no caso, a soltura de animais vivos, e ao mesmo tempo fornecer subsídios técnicos para estudos de marcação e recaptura. Tabela 12 – Observações sobre a condição dos tubarões capturados pelos espinheleiros de superfície sediados em Itajaí e que operaram no sul do Brasil. Cruzeiros de março-abril, junho-julho e setembro-outubro de 1998. n  508.

ESPÉCIES

Número de tubarões amostrados

Número de tubarões vivos

Número de tubarões mortos

% VIVOS

% MORTOS

Carcharhinus obscurus Carcharhinus longimanus Carcharhinus signatus Isurus oxyrinchus Prionace glauca Sphyrna lewini Sphyrna zygaena

1 1 53 41 356 20 36

1 1 37 32 346 11 19

0 0 16 9 10 9 17

100 100 69,8 78 97,2 55 52,8

0 0 30,2 22 2,8 45 47,2

TOTAL

508

447

61

88

12

Dados sobre o aproveitamento das barbatanas constam da tabela 13 e indicam que o tipo de barbatana aproveitada está relacionado com a espécie e a tripulação. Nos cruzeiros de março-abril e junho-julho, com a mesma tripulação no Yamaya III, as nadadeiras dorsais (primeira e segunda), peitorais, pélvicas, anal e lobo inferior da caudal foram extraídas de Prionace glauca, Carcharhinus signatus, Sphyrna lewini, Sphyrna zygaena, Carcharhinus longimanus e Carcharhinus obscurus. Para o tubarão-anequim, Isurus oxyrinchus, apenas a primeira dorsal, peitorais, e o lobo inferior da nadadeira caudal foram extraídas. A segunda dorsal e nadadeiras pélvicas foram apenas utilizadas quando o peixe era adulto. No cruzeiro de setembro-outubro, a bordo do Basco, e com outra tripulação, o padrão de aproveitamento das barbatanas foi diferente. Nesse caso, apenas a primeira nadadeira dorsal, peitorais e lobo inferior da caudal foram extraídos de Sphyrna zygaena, Sphyrna lewini, Isurus oxyrinchus, Prionace glauca, Carcharhinus signatus e Carcharhinus obscurus. Os tubarões-azuis, Prionace glauca, perfizeram 76% e 94%

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Tabela 13 – Observações sobre os tipos de barbatanas extraídas das diferentes espécies de tubarões capturadas pelos espinheleiros de superfície sediados em Itajaí e que operaram no sul do Brasil. Cruzeiros de observadores de bordo de março-abril, junho-julho e setembro-outubro de 1998.

1 2 3 4 5 6

CRUZEIRO

ESPÉCIES

Tipos de barbatanas extraídas

n

%

março-abril/98

Prionace glauca Carcharhinus signatus Sphyrna spp.

1,2,3,4,5,6 1,2,3,4,5,6 1,2,3,4,5,6 total

2.792 736 128 3.656

76,4 20,1 3,5 100

junho-julho/98

Prionace glauca Isurus oxyrinchus Carcharhinus signatus Carcharhinus longimanus

1,2,3,4,5,6 1,2,3,6 1,2,3,4,5,6 1,2,3,4,5,6 total

4.248 228 24 8 4.508

94,2 5,1 0,5 0,2 100

setembro-outubro/98

Sphyrna zygaena Isurus oxyrinchus Prionace glauca Carcharhinus signatus Sphyrna lewini Carcharhinus obscurus

160 97 92 44 24 4 421

38,0 23,0 21,9 10,5 5,7 1,0 100,0

1,3,6 1,3,6 1,3,6 1,3,6 1,3,6 1,3,6 total

Primeira nadadeira dorsal Segunda nadadeira dorsal Nadadeiras peitorais Nadadeiras pélvicas Nadadeira anal Lobo inferior da nadadeira caudal

das nadadeiras extraídas durante o primeiro (março-abril) e segundo (junho-julho) cruzeiros, respectivamente. Um total de 3 656 e 4 508 nadadeiras de diversas espécies de tubarões foram extraídas nessas duas viagens. Para o terceiro cruzeiro (setembro-outubro) as nadadeiras do tubarão-martelo, Sphyrna zygaena, representaram 38% das nadadeiras aproveitadas, para o total de 421 nadadeiras extraídas de diferentes espécies. Em 1998, os tripulantes dos espinheleiros de Itajaí recebiam US$12/kg de barbatanas de tubarão-azul conservadas no porão com gelo. No caso do tubarãomartelo, Sphyrna lewinii o valor chegou a US$ 45/kg. Atualmente 50% dos lucros obtidos com as barbatanas são do armador. Os barcos da frota nacional sediados em Itajaí não descartam as carcaças dos tubarões, já que há mercado interno para esse produto. O mesmo ocorre com a frota de espinheleiros sediada em Santos (Amorim et al., 1998). As estatísticas de desembarques (kg) para a frota espinheleira de superfície no Estado de Santa Catarina foram avaliadas para os anos de 2000, 2001 e 2002 (Univali, 2001; 2002 e 2003). Inicialmente, os dados foram agrupados em grandes grupos (Tabela 14). Nesse período, 4 050 toneladas de pescado foram desembarcadas. Desse total, em ordem decrescente de importância, destacaram-se os seguintes grupos: tubarões (50,7%), atuns (21,4%), espadartes (18,8%), outros (8%) e agulhões (1,1%). Os tubarões-azuis e os tubarões-martelo representaram respectivamente 37,4% e 5,1% do total desembarcado. Analisando essas proporções, torna-se necessário questionar se, realmente, existe direcionamento dessa modalidade de pesca apenas para o espadarte, Xiphias gladius, e os atuns (principalmente, Thunnus alalunga, Thunnus obesus e Thunnus albacares), pois os tubarões representaram a maior fração em peso nessa pescaria. Há de se notar, também, que as quantidades desembarcadas de barbatanas (em peso e em número) não foram registradas nessas estatísticas pesqueiras.

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Tabela 14 – Produção pesqueira desembarcada (kg), dos principais grupos de peixes. Frota industrial de espinhel-de-superfície em Santa Catarina nos anos de 2000, 2001 e 2002. Fonte: UNIVALI (2001; 2002 e 2003). 2000

Anos 2001

Agulhões Atuns2 Tubarões3 Espadartes4 Outros5

26.660 213.856 419.049 196.224 14.162

11.141 327.079 812.641 261.820 159.416

Tubarão-azul Tubarão-martelo

243.471 86.210

619.890 64.480

Espécies 1

2002

Total (kg)

% do Total

7.612 325.321 822.969 301.968 150.264 Total 650.913 55.687

45.413 866.256 2.054.659 760.012 323.842 4.050.182 1.514.274 206.377

1,1 21,4 50,7 18,8 8,0 37,4 5,1

1 Agulhões: Neste grupo estão incluídos o agulhão-azul (Markaira nigricans), agulhão-branco (Tetrapturus albidus) e o agulhão-vela (Istiophorus albicans). 2 Atuns: Albacora-bandolim (Thunnus obesus), albacora-branca (Thunnus alalunga), albacora-laje (Thunnus albacares), e o bonito-listrado (Katsuwonus pelamis). 3 Outros tubarões: Cação-anequim (Isurus oxyrinchus), tubarão-azul (Prionace glauca), cação-baía (Hexanchus griseus), cação-cabeça-chata (Carcharhinus leucas, Carcharhinus obscurus e Carcharhinus brachyurus), cação-mangona (Carcharias taurus), cação-rajado (Carcharhinus longimanus), cações-martelo (Sphyrna lewini, Sphyrna zygaena), cações-machote (Carcharhinus signatus e Carcharhinus spp.), caçõesraposa (Alopias vulpinus e Alopias superciliosus), cações-bagre (Squalus acanthias, Squalus megalops), cação-bico-doce (Galeorhinus galeus), cação-tigre (Galeocerdo cuvieri), cação-lombo-preto (Carcharhinus falciformis), cações-cola-fina (Mustelus spp.) e outras espécies de tubarões da família Lamnidae, Carcharhinidae, Triakidae, Odontaspididae, Sphyrnidae, Alopidae, Squalidae. 4 Espadarte: inclui apenas Xiphias gladius. 5 Outros: Batata (Lopholatilus villari), cavalinha (Scomber japonicus), cherne (famílias Serranidae e Polyprionidae), dourado (Coryphaena hippurus), espada (Trichiurus lepturus), mistura (várias espécies sem valor comercial ou quando de valor comercial, desembarcadas em quantidades muito pequenas), namorado (Pseudopercis numida), olho-de-boi (Seriola dumerili), pargo-rosa (Pagrus pagrus), peixe-lua (Masturus lanceolatus), prego (Lepidocybium flavobrunneum), raia (principalmente Dasyatis violacea), abrótea (Urophycis spp.) e cavala (Scomberomorus cavalla).

O maior direcionamento para os tubarões é visualizado mais nitidamente através da evolução dos desembarques dos diferentes grupos de peixes entre os períodos analisados (figura 26). As capturas de tubarões aumentaram de 419 toneladas, em 2000, para 823 toneladas, em 2002 (aumento de praticamente 100%). 900.000

800.000 700.000

desembarques (kg)

600.000 500.000 400.000 300.000 agulhões

200.000

atuns tubarões

100.000

espadartes outros

0 2000

2001 anos

2002

Figura 26 - Desembarques (kg), por grupo de espécies, da frota de espinhel-de-superfície em Santa Catarina, período de 2000 a 2002. Fonte: UNIVALI (2001; 2002 e 2003).

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Esse aumento se deu, principalmente, pelo elevado volume de capturas do tubarão-azul, que passou de 243 toneladas para 651 toneladas. Os atuns também apresentaram um incremento de 214 toneladas para 325 toneladas. O espadarte, por sua vez, também apresentou essa evolução positiva nos desembarques (196, em 2000, para 302 toneladas, em 2002). Para os desembarques da pesca de espinhel-de-superfície no Estado de Santa Catarina, entre 2000 e 2002, foi possível verificar a sazonalidade entre os diversos grupos de peixes (figuras 27 a 33): • Agulhões: As capturas mais intensas foram na primavera e no verão. O inverno e início da primavera foram as épocas mais fracas (figura 27). • Atuns: As melhores capturas foram nos meses de inverno. O verão foi a estação mais fraca (figura 28). • Tubarões-azuis: Elevadas capturas foram detectadas no verão e outono. Os menores volumes estiveram entre o final do inverno e a primavera (figura 29). • Tubarões-martelo: Estes tubarões ocorreram o ano todo, com as maiores capturas a partir do segundo semestre.Um pico de captura foi detectado no inverno,associado a Sphyrna zygaena, espécie de águas mais frias (abaixo de 17 °C) (Weidner & Arocha, 1999; Vooren et al., 1999). Por sua vez, o aumento das capturas nos meses de primavera estaria relacionado a Sphyrna lewini, esta de águas mais quentes e que se desloca com a Corrente do Brasil (entre 20 °C e 24 °C), sendo esta a época de parto da espécie (figura 30). • Todos os tubarões: Existem picos no verão, associados às grandes capturas de tubarões-azuis, na elevação do Rio Grande, e no inverno, coincidindo com as maiores capturas de tubarões-martelo da espécie Sphyrna zygaena (figura 31). • Espadartes: O pico das capturas foi no inverno, ocorrendo, também, outro pico na primavera. As menores capturas foram detectadas no verão (figura 32). • Outros: Os maiores volumes desembarcados foram nos meses de primavera (figura 33).

4.000

3.200 desembarques (kg)

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2.400

1.600

800

0 0

1

2

3

4

5

6

7

8

9 10 11 12 13

meses

Figura 27 – Distribuição dos valores médios mensais de desembarques (kg) de agulhões capturados pela pesca de espinhel-de-superfície em Santa Catarina. Período – 2000 a 2002. Barras verticais são erros-padrão. Fonte: UNIVALI (2001; 2002; 2003).

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95.000

desembarques (kg)

76.000

57.000

Figura 28 – Distribuição dos valores médios mensais de desembarques (kg) de atuns capturados pela pesca de espinhel-de-superfície em Santa Catarina. Período – 2000 a 2002. Barras verticais são erros-padrão. Fonte: UNIVALI (2001; 2002; 2003).

38.000

19.000

0 0

1

2

3

4

5

6

7

8

9 10 11 12 13

meses

110.000

desembarques (kg)

88.000

66.000

Figura 29 – Distribuição dos valores médios mensais de desembarques (kg) de tubarões-azuis capturados pela pesca de espinhel-de-superfície em Santa Catarina. Período – 2000 a 2002. Barras verticais são erros-padrão. Fonte: UNIVALI (2001; 2002; 2003).

44.000

22.000

0 0

1

2

3

4

5

6

7

8

9 10 11 12 13

meses

248.000

desembarques (kg)

19.840

14.880

Figura 30 – Distribuição dos valores médios mensais de desembarques (kg) de tubarões-martelo capturados pela pesca de espinhel-desuperfície em Santa Catarina. Período – 2000 a 2002. Barras verticais são erros-padrão. Fonte: UNIVALI (2001; 2002; 2003).

99.200

4.960

0 0

1

2

3

4

5

6

7

meses

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9 10 11 12 13

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117.000

desembarques (kg)

93.600

70.200

Figura 31 – Distribuição dos valores médios mensais de desembarques (kg) de tubarões (todas as espécies) capturados pela pesca de espinhel-de-superfície em Santa Catarina. Período – 2000 a 2002. Barras verticais são erros-padrão. Fonte: UNIVALI (2001; 2002; 2003).

46.800

23.400

0 0

1

2

3

4

5

6 7 meses

8

9 10 11 12 13

40.400

desembarques (kg)

32.320

24.240

Figura 32 – Distribuição dos valores médios mensais de desembarques (kg) de espadartes capturados pela pesca de espinhel-de-superfície em Santa Catarina. Período – 2000 a 2002. Barras verticais são erros-padrão. Fonte: UNIVALI (2001; 2002; 2003).

16.160

8.080

0 0

1

2

3

4

5

6 7 meses

8

9 10 11 12 13

40.400

32.320 desembarques (kg)

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24.240

Figura 33 – Distribuição dos valores médios mensais de desembarques (kg) de outras espécies capturadas pela pesca de espinhel-de-superfície em Santa Catarina. Período – 2000 a 2002. Barras verticais são erros-padrão. Fonte: UNIVALI (2001; 2002; 2003).

16.160

8.080

0 0

1

2

3

4

5

6 7 meses

8

9 10 11 12 13

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Analisou-se a distribuição espacial e sazonal dos rendimentos do tubarão-martelo (CPUE em indivíduos/1000 anzóis) capturado na pesca de espinhel-de-superfície sediada em Itajaí-SC,durante o período de 1996 a 2001 (Figuras 34 a 37).Como um todo,observa-se uma grande concentração das capturas de esfirnídeos ao sul de Florianópolis (SC), na zona de talude, entre 200 e 3.000 m de profundidade. Essa faixa inclusive se estenderia até a costa do Uruguai.Capturas expressivas também foram encontradas na elevação do Rio Grande e Cadeia Trindade-Vitória, principalmente no verão e outono. Durante o verão e outono, as capturas estiveram mais dispersas, com elevadas CPUE´s (até 100 indivíduos/1.000 anzóis) no talude,entre Florianópolis (SC) e Chuí (RS) e em áreas mais afastadas da costa,como as planícies oceânicas,a elevação do Rio Grande e Cadeia Trindade-Vitória (Figuras 34 e 35).Houve inclusive bons rendimentos no verão, sobre o talude, próximo a Salvador (BA).

10˚ W Salvador

CPUE (indiv./1000 anzóis) 0.53 a 1 1 a 1.74

15˚ W

1.74 a 13.01

Vitória

20˚ W

Cabo Frio

25˚ W Florianópolis

30˚ W

Rio Grande

35˚ W 3000 m 2000 m 200 m 1000 m

– 55˚ W

– 50˚ W

– 45˚ W

– 40˚ W

– 35˚ W

Figura 34 – Distribuição espacial da CPUE (indivíduos/1.000 anzóis) dos tubarões-martelo capturados pela pesca de espinhel-de-superfície (monofilamento) sediada em Itajaí – SC. VERÃO. Período de 1996 a 2001.

– 30˚ W

10˚ W Salvador

CPUE (indiv./1000 anzóis) 0.53 a 1 1 a 1.74

15˚ W

1.74 a 13.01

Vitória

20˚ W

Cabo Frio

25˚ W Florianópolis

30˚ W

Rio Grande

35˚ W 3000 m 2000 m 200 m 1000 m

– 55˚ W

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– 50˚ W

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– 45˚ W

– 40˚ W

– 35˚ W

– 30˚ W

Figura 35 – Distribuição espacial da CPUE (indivíduos/1.000 anzóis) dos tubarões-martelo capturados pela pesca de espinhel-de-superfície (monofilamento) sediada em Itajaí – SC. OUTONO. Período de 1996 a 2001.

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No inverno e primavera, os melhores rendimentos (até 295 individuos/ 1.000 anzóis) se concentraram principalmente no talude, ao sul de Florianópolis, havendo apenas algumas capturas menores entre Cabo Frio (RJ) e Vitória (ES),e em áreas oceânicas no sul da Bahia (figuras 36 e 37).

10˚ W Salvador

CPUE (indiv./1000 anzóis) 0 a 1.25 1.25 a 9.09

15˚ W

9.09 a 295.1

Vitória

20˚ W

Cabo Frio

25˚ W Florianópolis

30˚ W

Rio Grande

35˚ W 3000 m 2000 m 200 m 1000 m

– 55˚ W

– 50˚ W

– 45˚ W

– 40˚ W

– 35˚ W

– 30˚ W

Figura 36 – Distribuição espacial da CPUE (indivíduos/1.000 anzóis) dos tubarões-martelo capturados pela pesca de espinhel-de-superfície (monofilamento) sediada em Itajaí – SC. INVERNO. Período de 1996 a 2001.

10˚ W Salvador

CPUE (indiv./1000 anzóis) 0 a 1.25 1.25 a 9.09

15˚ W

9.09 a 295.1

Vitória

20˚ W

Cabo Frio

25˚ W Florianópolis

30˚ W

Rio Grande

35˚ W 3000 m 2000 m 200 m 1000 m

– 55˚ W

– 50˚ W

– 45˚ W

– 40˚ W

– 35˚ W

– 30˚ W

Figura 37 – Distribuição espacial da CPUE (indivíduos/1.000 anzóis) dos tubarões-martelo capturados pela pesca de espinhel-de-superfície (monofilamento) sediada em Itajaí – SC. PRIMAVERA. Período de 1996 a 2001.

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DISCUSSÃO A pesca de espinhel-de-superfície, com “linha madre” de monofilamento, no Estado de Santa Catarina, direciona-se principalmente para os tubarões, atuns e espadartes. Semelhante comportamento foi encontrado para a frota espinheleira de superfície sediada em Santos (SP), para o período 1971-1997 (Amorim et al., 1998). Segundo estes últimos autores, no período 1983-1994, quando a frota utilizava o espinhel de multifilamento (japonês), parte do tempo era direcionado aos tubarões. Com o advento do espinhel de monofilamento, sem o estropo de aço, o rendimento dos tubarões caiu em relação ao espadarte. Entretanto, a utilização mais recente do estropo de aço nas linhas secundárias mostra o retorno dos tubarões ao primeiro lugar nas capturas. Em Santos, o mercado para carne de tubarão cresceu após 1977 e os pescadores começaram a trazer todos os tubarões capturados.Também o preço das barbatanas aumentou em torno de 6 vezes no período 1983 – 1994. Segundo Amorim et al. (1998), desde 1976, os tubarões apresentaram valores acima de 50% nas capturas totais no espinhel-de-superfície, sendo que, em média, de 1983 a 1993, somente o tubarão-azul representou 30% da captura total dos espinheleiros de Santos. A sazonalidade das diferentes espécies capturadas no espinhel foram analisadas por diversos autores. Vooren et al.(1999) encontraram maior freqüência numérica nas capturas de Istiophorideos durante os cruzeiros de primavera e verão.Silva (1991),constatou que os atuns eram mais abundantes de maio até outubro.Vooren et al. (1999) também encontraram maior freqüência de capturas de albacoras no inverno.É nessa época do ano que a corrente das Malvinas exerce forte influência sobre o sul do Brasil, e as lulas, principal alimento das albacoras e do espadartes, são mais abundantes (Silva,1992).Amorim et al.(1998) verificaram que,para a frota de espinheleiros sediada em Santos (SP),maiores capturas de Prionace glauca ocorreram durante os meses de inverno, no período de 1971 a 1979, e durante os meses de outono, no período de 1980 a 1990. Vooren et al. (1999) mostraram que essa espécie ocorre ao longo de todo o ano, porém, com maior percentual numérico no mês de julho. As elevadas capturas da frota sediada em Itajaí,no verão,devem-se à realização de viagens à elevação do Rio Grande, fora da Zona Econômica Exclusiva brasileira, onde ocorrem grandes concentrações de tubarões-azuis, fato constatado por Kotas (com. pessoal) em duas viagens realizadas a essa região oceânica e por Azevedo (2003). Segundo Yamandú et al. (1998), a elevação de Rio Grande (ou “Bromley Plateau”) é uma região de grandes bancos, entre 2.700 a 4.500 m de profundidade, mas com picos chegando entre 380 e 760 m. Segundo Arfelli & Amorim (1994), para a frota sediada em Santos (SP), 60% das capturas são de Sphyrna lewini e 40% de Sphyrna zygaena, ocorrendo os melhores rendimentos entre os meses de setembro a novembro. Nesse grupo podem estar também incluídas capturas ocasionais de Sphyrna mokarran. VOOREN et al. (1999) detectaram maiores capturas de Sphyrna zygaena durante os cruzeiros de inverno e capturas de espécies tropicais, ou seja, Carcharhinus signatus, Sphyrna lewini, Galeocerdo cuvier, Carcharhinus plumbeus e Alopias superciliousus na primavera e verão, coincidindo com os deslocamentos sazonais da convergência subtropical. Segundo Amorim & Arfelli (1979), Neto & Lima (1997), Vooren et al. (1999) o pico nas capturas de espadarte ocorre principalmente nos meses de inverno. É nesse período

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também que ocorrem as capturas dos maiores exemplares (acima de 2 m de comprimento). Castello (1996) considera a melhor época de captura para o espadarte entre os meses de outono e inverno. De maneira geral, a pesca de espinhel-de-superfície em Santa Catarina, ocorre durante o ano todo, havendo alterações sazonais na disponibilidade e/ou direcionamento por parte da frota às diversas espécies, como é o caso das maiores capturas de albacoras e espadartes nos meses de inverno; tal fato se deve ao deslocamento latitudinal-sazonal da margem ocidental da Convergência Subtropical ao longo da costa sul do Brasil e Uruguai, que estabelece os limites de distribuição para as diferentes espécies de peixes pelágicos sobre a borda do talude e ambiente oceânico (Mello et. al., 1993; Silva,1994,Seeliger et. al,1997,Weidner & Arocha,1999,Vooren et al.,1999;Vaske & Castello, 1991). Até 2001,nos meses de verão,os espinheleiros sediados em Itajaí costumavam operar nas imediações das ilhas de Trindade e Martin Vaz, havendo evidências de que capturas significativas de espadartes e tubarões azuis nessas localidades estivessem associadas à reprodução e alimentação (Mazzoneli & Schwingel,2002).Por outro lado, grandes capturas de tubarões-azuis foram obtidas no verão e outono de 1998 e verão de 2002, junto à elevação do Rio Grande, durante a época de escassez de espadarte sobre o talude sul-brasileiro. Essas concentrações de tubarões-azuis sobre essa elevação possivelmente estão relacionadas à utilização de recursos alimentares (Vaske Jr., 2000). Atualmente,a dinâmica da frota espinheleira sediada em Itajaí (SC) revela duas áreas principais de atuação:a elevação do Rio Grande,nos meses mais quentes (verão e outono), quando a frota se direciona principalmente para o tubarão-azul; e o talude sul-brasileiro nos meses mais frios (inverno e primavera),quando as capturas de espadarte são mais elevadas. As viagens às ilhas de Trindade e Martin Vaz raramente são realizadas,haja vista os elevados custos operacionais para efetuar as descargas em Vitória (ES). Essa dinâmica é bem apresentada no trabalho de Azevedo (2003).

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ANÁLISE DOS DADOS DE CAPTURA E ESFORÇO DE PESCA DOS TUBARÕESMARTELO, NA PESCA DE ESPINHELDE-SUPERFÍCIE NO SUL DO BRASIL Resumo Estudou-se a dinâmica das capturas dos tubarões-martelo (Sphyrna lewini e Sphyrna zygaena), através de modelos de Análise de Covariância (ANCOVA), na pescaria com espinhel-de-superfície, da frota sediada em Itajaí e Navegantes (SC). Foram utilizados n  596 lances de pesca, para o período 1996-2001, sendo o logarítmo neperiano das capturas (em peso, kg) a variável dependente. Os fatores ano, estação e área de pesca foram inseridos no modelo, sendo o logarítmo neperiano do esforço de pesca (em número de anzóis) a covariável. As médias ajustadas indicaram maiores capturas no inverno (associadas com Sphyrna zygaena), primavera e verão (associadas com Sphyrna lewini). Houve pequena variação nas capturas entre 1996 e 2001. A área delimitada pelo talude, entre profundidades de 200 e 3.000 m e as latitudes de 30° S (Tramandaí, RS) e 35° S (Maldonado, Uruguai), apresentou as maiores capturas. A relação logaritmizada entre as capturas (em peso, kg) e o esforço de pesca (em número de anzóis) é linear e positiva.

Palavras-chave ANCOVA, espinhel-de-superfície, tubarões-martelo.

Abstract The hammerheads catch dynamics (Sphyrna lewini and Sphyrna zygaena) was studied through covariance analysis (ANCOVA) on longline data for the fleet based in Itajaí and Navegantes (Santa Catarina State, Brasil). Catch and effort observations (n  596) were used for the period 1996-2001.Year, season, and area effects were tested in the model, being the natural logarithm of the fishing effort (hook number) the covariable. The adjusted means by the model showed higher hammerhead catches during winter (related to Sphyrna zygaena), spring and summer (related to Sphyrna lewini).There was a low variation in the hammerhead catches between 1996 and 2001 years. An area over the continental slope, between 200 and 3.000 m depth and limited by 30° – 35° S latitudes, yielded the best catches. The logarithmic relationship between catch (Kg) and effort (hook number) is linear and positive.

Key-words ANCOVA, longline, hammerheads.

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INTRODUÇÃO O sistema de espinhel-de-superfície do tipo raso, com linha principal de monofilamento, é uma modalidade pesqueira importante no sudeste e sul do Brasil (Arfelli, 1996; Amorim et al., 1998). Existem diferenças, entre uma embarcação e outra, no comprimento dos cabos de bóia, linhas secundárias e tamanho dos anzóis (tabela 15). Os tubarões-martelo, apesar de suas barbatanas apresentarem elevado valor no mercado internacional, seriam capturas acidentais, sendo representados em sua maioria por Sphyrna lewini e Sphyrna zygaena. Durante 2000, os tubarões-martelo, capturados pelo espinhel-de-superfície no Estado de Santa Catarina, representaram em torno de 10 % do total desembarcado em peso de pescado. Já em 2002, essa representatividade caiu para apenas 3,5% (UNIVALI, 2001; 2003). Tabela 15 – Características físicas dos espinhéis de superfície de monofilamento analisados no presente estudo. Foram analisados 25 espinhéis. linha secundária (m)

média desvio-padrão mínimo máximo número erro-padrão

tamanho do anzol

6 10 11 12 12 12 12 12,8 13 13 13,5 14 14 14 14 15,3 16 18 18 18 18,9 20 25 30 32

3 3 9 7 3 12 14 13 13 9 13 14 2 9 2 9 13 13 14 14 8 13 9 9 9

15,8 5,93 6 32 25 1,19

9 4,13 2 14 25 0,83

número de anzóis/samburá

cabo da bóia (m)

5 5 5 5 5 5 5 5 5 5 5 5 5 5 5 5 5 4 5 5 4 4 5 5 5

94 40 40 12 38 20 48 47,2 20 10 46,5 46 46 20 36 20 76 37 42 20 20 20 21,6 30 21,6

5 0,33 4 5 25 0,07

34,9 19,45 10 94 25 3,89

Segundo Quinn & Deriso (1999), a captura (Ct) de um determinado recurso pesqueiro, em um determinado período de tempo, pode ser expressa da seguinte forma:

Ct  q · ft · Nt

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Onde, Ct  captura em um determinado período de tempo (t); q  coeficiente de capturabilidade; ft  esforço de pesca (e.g. número de anzóis) aplicado durante o período de tempo (t); Nt  abundância média do recurso no período de tempo (t) considerado. As tendências espaço-temporais nas capturas podem refletir mudanças na mortalidade por pesca (Ft  q · ft), mudanças na abundância (Nt), ou seus efeitos combinados. Portanto, há necessidade de um melhor conhecimento da dinâmica das capturas dos esfirnídeos pelo espinhel-de-superfície,visando a medidas de regulamentação pesqueira para a conservação desses elasmobrânquios sobreexplotados. Assim, com os dados disponíveis, procurou-se entender quais são as variáveis e fatores que atuaram de maneira significativa sobre as capturas de tubarões-martelo.

MATERIAIS E MÉTODOS Testou-se a aplicabilidade de um modelo de covariância múltipla (ANCOVA), sobre dados de captura e esforço, para analisar o efeito de possíveis fatores sobre as capturas totais (em peso) de tubarões-martelo, Sphyrna lewini e Sphyrna zygaena, em uma pescaria de espinhel-de-superfície no sudeste-sul do Brasil (Huitema, 1980; Zar, 1999). Foram testados os efeitos dos fatores ano, estação do ano e área de pesca. As covariáveis utilizadas foram o esforço de pesca (em número de anzóis) e a temperatura de superfície da água do mar (em graus centígrados). Os dados de captura e esforço, utilizados na análise, foram obtidos dos mapas de bordo dos espinheleiros que operaram principalmente nas latitudes das regiões sudeste e sul do Brasil e que realizaram seus desembarques em Itajaí – SC. Os mapas de bordo foram fornecidos pelo IBAMA/CEPSUL (Centro de Pesquisa e Gestão de Recursos Pesqueiros do Sudeste-Sul) e pelo Grupo de Estudos Pesqueiros (Universidade do Vale do Itajaí, Centro de Ciências Tecnológicas da Terra e do Mar), que possui convênio com a SEAP (Secretaria Especial da Pesca).O petrecho de pesca utilizado por essas embarcações foi o espinhel-de-superfície de monofilamento, com atração luminosa (“lightstick”) e isca de lula, Illex argentinus (Castellanos, 1960). As capturas de tubarões-martelo (em peso, kg), por lance de pesca, perfizeram no total 596 observações, que foram associadas a dados sobre esforço de pesca (em número de anzóis), temperatura da superfície da água do mar (em °C), ano, mês e área de pesca. A área estudada, segundo a Comissão Internacional para a Conservação dos Tunídeos do Atlântico (ICCAT, 1997), foi a de número 96, que foi dividida em quadrados de 5 por 5 graus (figura 38). O período analisado foi o de 1996 a 2001. Trabalhou-se apenas com os lances em que houve captura de tubarões-martelo. As informações obtidas dos mapas de bordo não discriminavam as espécies do gênero Sphyrna (Rafinesque, 1810) e dessa forma foram considerados os dados conjuntos de Sphyrna lewini e Sphyrna zygaena, estas as duas espécies mais comumente encontradas na área. Uma Análise de Covariância múltipla, com três fatores: ano, trimestre e área de captura (Petrere, 1978; Huitema, 1980; Petrere, 1982; Petrere, 1983; Petrere, 1986;

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15˚ W

Vitória

1

2

3

20˚ W

Cabo Frio

4

5

6

7

8

9

10

11

12

13

14

15

16

17

18

25˚ W

Florianópolis

30˚ W

Rio Grande

35˚ W

3000 m 2000 m 200 m 1000 m

40˚ W – 60˚ W

– 55˚ W

– 50˚ W

– 45˚ W

– 40˚ W

– 35˚ W

– 30˚ W

– 25˚ W

Figura 38 – Divisão da área de estudo em quadrados de 5 por 5 graus . As áreas comparadas foram as de número 9, 14 e 15.

Abuabara, 1996; Petrere & Abuabara, 1997) , ou simplesmente ANCOVA, foi aplicada com o objetivo de averiguar a influência desses fatores sobre as capturas de tubarões-martelo (em peso) na pesca de espinhel-de-superfície. As covariáveis foram o esforço de pesca (em número de anzóis) e a temperatura da água da superfície (em °C). Nesse caso, o modelo foi o seguinte:

ijk    i j k  1 ( 1ijk 1...)  2 ( 2ijk 2...) interações  ijk Onde, ijk  captura em peso (kg) no ano i, trimestre j e área k.   média populacional. i  efeito do i-ésimo nível do fator ano (i  1, ..., 6). j  efeito do j-ésimo nível do fator trimestre (j  1, 2, 3, 4). k  efeito do k-ésimo nível do fator área (k  1, 2, 3).

1  coeficiente angular da covariável temperatura. 1ijk  valor da covariável temperatura no ano i, trimestre j e área k. 1... média da temperatura para todas as observações.

2  coeficiente angular da covariável esforço de pesca. 2ijk  valor da covariável esforço de pesca no ano i, trimestre j e área k. 2...  média do esforço de pesca para todas as observações.

ijk  componente de erro aleatório, suposto N (0 ; 2). Os dados foram agrupados para os diferentes anos, trimestres e áreas conforme a tabela 16. A partir desse agrupamento de dados (n  53) foi realizada a análise de covariância. As áreas consideradas nesse caso foram apenas as de número 9, 14 e 15, onde o número de dados sobre captura e esforço de tubarõesmartelo era maior, havendo amostragens mais representativas.

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Inicialmente, fez-se o gráfico do peso total da captura (kg) de tubarõesmartelo versus o esforço de pesca (em número de anzóis) (figura 39) . Nesse caso, a nuvem de pontos evidenciou uma relação linear positiva entre as duas variáveis, não havendo porém homogeneidade na variância da variável resposta com o aumento do esforço. Por isso, foi realizada a linearização dos dados através da aplicação do logarítmo (base e) sobre as variáveis analisadas. (figura 40). Devido à agregação dos dados, ficou a alternativa de fazer três modelos, considerando um fator de cada vez, visto que não é possível testar a interação entre eles, por falta de replicação, conforme descrição a seguir:

10.000 9.000 8.000 7.000 Peso (kg)

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6.000 5.000 4.000 3000. 2.000 1.000 0 0

10.000

20.000

30.000

40.000

50.000

Esforço (números de anzóis)

Figura 39 – Capturas totais em peso (kg) vs. esforço (número de anzóis), para os tubarões-martelo na pesca de espinhel-de-superfície no sudeste e sul do Brasil, no período de 1996 a 2001. Os dados considerados foram apenas para as áreas 9, 14 e 15, sendo os dados agrupados em subtotais por ano, trimestre e área (n  53).

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■ MODELO 1 Relação entre a captura e o esforço Foi elaborado um modelo de regressão linear simples entre o ln(peso da captura) e a covariável ln(anzóis) (figuras 40a, b), ou seja: ln(peso da captura)  constante  ln(anzóis) Onde, • ln(peso da captura)  variável dependente, ou seja, o logarítmo (base e) do peso da captura em kg; • constante  média populacional (na variável dependente) comum para todas as observações; • ln(anzóis)  covariável relativa ao esforço de pesca , ou seja o logarítmo (base e) do número de anzóis, tendo sido obtido o seguinte modelo: ln(peso da captura em kg)  4,57  1,24 · ln(número de anzóis) Nota-se, nesse modelo, o efeito preponderante do esforço de pesca em número de anzóis sobre as capturas de tubarões-martelo na pesca de espinhel, sendo essa correlação positiva (r2  0,73).

10

4

9

3 Resíduos studentizados

LN (peso em kg)

8 7 6 5 4

1 0 -1 -2

3 2

-3 6

7

8

9

10

11

LN (número de anzóis)

Figura 40a – Logarítmo neperiano das capturas totais em peso (kg) vs. o logarítmo neperiano do esforço (em número de anzóis) para os tubarões-martelo na pesca de espinhelde-superfície no sudeste e sul do Brasil, durante o período de 1996 a 2001. Neste caso, os dados considerados foram apenas para as áreas 9, 14 e 15 , sendo os dados agrupados em subtotais por ano, trimestre e área (n  53). A linha de regressão ficou definida como: Y  4,572  1,237 X, sendo Y  ln(peso da captura em kg) e X  ln(número de anzóis) (r2  0,732; P  0,000; n  53).

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2

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3

4

5

6

7

8

9

Estimativa das capturas em peso logaritmizadas

Figura 40b – Distribuição dos resíduos padronizados em função dos valores previstos pelo modelo. LN  logarítmo neperiano (base e).

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Tabela 16 – Dados de captura em peso (kg) e esforço de pesca (em número de anzóis) de tubarões-martelo, somados por ano, trimestre e área (n  53). ln  logarítmo neperiano (base e). Ano

1996 1996 1996 1996 1996 1996 1997 1997 1997 1997 1997 1997 1997 1997 1997 1998 1998 1998 1998 1998 1998 1998 1998 1998 1998 1998 1998 1999 1999 1999 1999 1999 1999 1999 1999 2000 2000 2000 2000 2000 2000 2000 2001 2001 2001 2001 2001 2001 2001 2001 2001 2001 2001

Trimestre área

1 2 3 3 4 4 1 2 2 3 3 3 4 4 4 1 1 1 2 2 2 3 3 3 4 4 4 2 2 2 3 3 3 4 4 2 3 3 3 4 4 4 1 1 2 2 2 3 3 3 4 4 4

9 9 9 15 9 15 9 9 15 9 14 15 9 14 15 9 14 15 9 14 15 9 14 15 9 14 15 9 14 15 9 14 15 9 14 15 9 14 15 9 14 15 14 15 9 14 15 9 14 15 9 14 15

temperatura número peso da ln ln ln (graus centígrados) de anzóis captura (kg) (captura) (anzóis) (temperatura)

20,0 24,2 21,1 19,0 21,6 19,7 26,1 25,7 23,4 21,5 17,4 15,9 22,1 22,0 22,0 25,3 22,9 25,0 21,2 21,2 22,5 20,6 19,4 18,9 22,1 18,6 20,3 20,6 19,5 18,7 20,2 16,9 18,9 22,0 18,4 21,0 22,2 17,2 19,3 23,3 20,4 23,5 26,7 26,5 23,2 22,6 24,3 22,1 19,4 20,7 22,6 22,7 23,8

2.200 14.500 18.100 800 5.400 2.100 2.400 8.420 3.600 4.560 7.200 5.400 7.300 7.200 11.550 3.700 1.000 2.000 3.400 2.100 6.000 2.150 26.128 5.430 2.850 3.800 2.850 4.400 3.000 3.750 12.185 14.010 1.980 2.400 2.325 1.000 9.000 17.550 7.800 10.000 10.000 33.900 1000 11.000 13.820 18.810 11.080 13.190 40.690 45.750 2.200 7.100 28.000

140 385 1.220 40 700 90 100 300 170 460 5.445 340 480 760 880 160 150 80 47 300 470 85 6.672 253 162 474 753 280 106 143 1.218 1.729 120 495 165 15 500 9.399 1.780 510 820 4.325 150 590 775 2.440 395 805 7.232 7.341 270 1.080 4.364

4,94 5,95 7,11 3,69 6,55 4,50 4,61 5,70 5,14 6,13 8,60 5,83 6,17 6,63 6,78 5,08 5,01 4,38 3,85 5,70 6,15 4,44 8,81 5,53 5,09 6,16 6,62 5,63 4,66 4,96 7,10 7,46 4,79 6,20 5,11 2,71 6,21 9,15 7,48 6,23 6,71 8,37 5,01 6,38 6,65 7,80 5,98 6,69 8,89 8,90 5,60 6,98 8,38

7,70 9,58 9,80 6,68 8,59 7,65 7,78 9,04 8,19 8,43 8,88 8,59 8,90 8,88 9,35 8,22 6,91 7,60 8,13 7,65 8,70 7,67 10,17 8,60 7,96 8,24 7,96 8,39 8,01 8,23 9,41 9,55 7,59 7,78 7,75 6,91 9,10 9,77 8,96 9,21 9,21 10,43 6,91 9,31 9,53 9,84 9,31 9,49 10,61 10,73 7,70 8,87 10,24

3,00 3,19 3,05 2,94 3,07 2,98 3,26 3,25 3,15 3,07 2,85 2,77 3,09 3,09 3,09 3,23 3,13 3,22 3,05 3,05 3,11 3,02 2,97 2,94 3,10 2,92 3,01 3,03 2,97 2,93 3,01 2,82 2,94 3,09 2,91 3,04 3,10 2,85 2,96 3,15 3,01 3,16 3,29 3,28 3,15 3,12 3,19 3,09 2,97 3,03 3,12 3,12 3,17

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■ MODELO 2 Fator trimestre Este modelo ANCOVA relacionou as capturas de tubarões-martelo em peso (kg) logaritmizadas, com uma variável discreta referente ao trimestre do ano, sendo as médias de Y ajustadas através da covariável logarítmo (base e) do número de anzóis , ou seja: ln(peso da captura)  constante  trimestre  ln(anzóis) Onde, • ln(peso da captura)  variável dependente, ou seja, o logarítmo (base e) do peso da captura em kg; • constante  média populacional (na variável dependente) comum para todas as observações; • trimestre  efeito do fator trimestre; • ln(anzóis)  covariável relativa ao esforço de pesca , ou seja o logarítmo (base e) do número de anzóis. O resultado final dessa análise é apresentado na tabela 17. Nesse caso, o modelo explicou a variação nas capturas, pois o coeficiente de determinação foi significativo (r2  0,79; P < 0,01).Tanto o efeito trimestre, quanto a covariável relativa ao esforço de pesca, o logarítmo (base e) do número de anzóis, foram significativos (P < 0,05). Resumindo, o modelo que relaciona as capturas de tubarões-martelo com a estação do ano, sendo o ajuste das médias de captura através da covariável esforço de pesca, é consistente. O gráfico de comparação das médias trimestrais (figura 41), indicou períodos de maiores capturas de tubarões-martelo nos meses de verão, inverno e primavera. Possívelmente, as capturas de inverno estejam mais associadas à presença de Sphyrna zygaena, que é de águas mais frias.

Tabela 17 – Resultados da análise de covariância de um fator (ANCOVA) aplicados ao modelo: ln(peso)  constante  trimestre  ln(anzóis), para os dados agrupados apenas das áreas 9, 14 e 15. TRIM  trimestre; LNANZ  logarítmo (base e) do número de anzóis. Valores categorizados encontrados durante o processamento: TRIMESTRE (4 níveis) 1, 2, 3, Variável dependente: LN(PESO)

N: 53

R Múltiplo: 0,889

4 R: 0,791

Análise de Variança Fonte

Soma dos quadrados

GL*

TRIM LNANZ Erro

6.323 60.675 22.474

3 1 48

Durbin-Watson D: 2.160 Auto correlação da 1ª ordem: – 0.081 * Graus de liberdade

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Quadrado médio 2.108 60.675 0.468

razão F

P

4.502 129.592

0.007 0.000

12/23/05

3:50 PM

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8

7

LN (peso)

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6

5

4

3 1

2

3

4

Trimestre

Figura 41 – Comparação entre as médias ajustadas trimestrais dos logarítmos neperianos das capturas, em peso (kg), de tubarões-martelo, segundo o modelo ANCOVA, ln(peso das captura)  constante  trimestre  ln(número de anzóis). Os dados foram relativos à pesca de espinhel-de-superfície no sudeste e sul do Brasil, durante o período de 1996 a 2001. Neste caso, os dados considerados foram apenas para as áreas 9, 14 e 15, sendo somados em subtotais por ano, trimestre e área (n  53). LNPESO  logarítmo (base e) do peso da captura (kg).

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■ MODELO 3 Fator área Neste modelo foram relacionadas as capturas de tubarões-martelo em peso (kg) logaritmizadas, com uma variável discreta referente à área onde as mesmas ocorreram. As médias de Y foram ajustadas através da covariável logarítmo (base e) do número de anzóis, ou seja: ln(peso da captura)  constante  área  ln(anzóis) Onde, • ln(peso da captura)  variável dependente, ou seja, o logarítmo (base e) do peso da captura em kg; • constante  média populacional (na variável dependente) comum para todas as observações; • área  efeito do fator área (áreas de número 9, 14 e 15); • ln(anzóis)  covariável relativa ao esforço de pesca , ou seja, o logarítmo (base e) do número de anzóis; Nesse caso, o modelo explicou a maioria da variação nas capturas (tabela 18), pois o coeficiente de determinação foi elevado (r2  0,80). Tanto a área , quanto a covariável ln(anzóis) foram significativas (P
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