A PESQUISA BRASILEIRA EM LINGÜÍSTICA APLICADA NA CONTEMPORANEIDADE

June 24, 2017 | Autor: T. Biazi | Categoria: Applied Linguistics
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A PESQUISA BRASILEIRA EM LINGÜÍSTICA APLICADA NA COMTEMPORANEIDADE

Terezinha Marcondes Diniz Biazi (Dep. de Letras/UNICENTRO), e-mail:
[email protected]
Palavras-chave: Lingüística Aplicada, pesquisa, contemporaneidade.

Resumo: Este trabalho visa familiarizar alunos de graduação/pós-graduação e
professores em geral, com a perspectiva de professores-pesquisadores, que
fazem Lingüística Aplicada na contemporaneidade.

Introdução

A atualidade está marcada por deslocamentos de ordem social,
cultural, política, histórica e epistemológica, impulsionados por muitos
fatores, entre eles, pela explosão das informações e pela dinâmica das
comunicações em nível mundial, caracterizada por alguns teóricos sociais
como pós-modernidade (BAUMAN, 2001), modernidade recente (CHOULIARAKI;
FAIRCLOUGH, 1999) e modernidade reflexiva (GIDDENS, 2002). É uma época que
se configura, em decorrência da revolução tecnológica global (na
informática, na cibernética e na eletrônica), por modificações societárias,
que tem desencadeado novas práticas sócio-discursivas, nas quais os
indivíduos passam a atuar e a constituir-se. Desse modo, a
contemporaneidade revela-se para muitos pesquisadores que atuam nas
ciências sociais e nas humanidades como um desafio e como uma necessidade
por novas teorizações calcadas em novos modos de entender a vida social
para produzir conhecimento sobre o sujeito que está inscrito nessa condição
contemporânea emergente (MOITA LOPES, 2006). O reconhecimento da
complexidade dos fenômenos sociais em curso tem operado na área de pesquisa
em Lingüística Aplicada (doravante LA) uma revisão de suas concepções
epistemológicas, onde se passa a discutir novos direcionamentos sobre os
modos de fazer pesquisa na área, sobre quem é o sujeito de LA e o que se
pesquisa em LA nesta era tecnológica (MOITA LOPES, 2006), sendo, pois, uma
discussão sobre tais direcionamentos, que este trabalho tratará.

Materiais e Métodos


Concentramos nossa pesquisa em leituras bibliográficas de
pesquisadores brasileiros que discutem a mutação em curso na área de
estudos de LA na atualidade.


Resultados e Discussão


A LA na contemporaneidade está preocupada em descrever a complexidade
das identidades lingüísticas que se constituem nos contextos societários
cada vez mais diversificados (na esfera pública ou privada; em nível global
ou local), na tentativa de ser responsiva às demandas sociais que se
relacionam às questões de linguagem. Para isso, a LA está transgredindo
suas fronteiras disciplinares convencionais para que, informada por
disciplinas do campo das Ciências Sociais (entre as quais, Antropologia,
Sociologia, Estudos Culturais, Psicologia Social) e das Ciências Humanas
(como Filosofia, História, Geografia, Estudos da Linguagem, Psicologia da
Aprendizagem), possa compreender de forma mais holística questões da vida
social nas quais a linguagem tem papel preponderante (MOITA LOPES, 2006;
PENNYCOOK, 2006). Para Pennycook (2006), a LA deve ser transgressiva
disciplinarmente, e argumenta que "as disciplinas não são estáticas,
domínios demarcados de conhecimento aos quais pedimos emprestados
construtos teóricos, mas são elas mesmas domínios dinâmicos de
conhecimento" (p.72). Essa orientação teórica que o lingüista aplicado
segue pode ser compreendida quando ele relata sobre um de seus projetos de
pesquisas, no qual examina a difusão global da cultura hip-hop em relação
ao inglês, no que necessitou de leituras nas áreas de estudos lingüísticos,
estudos culturais, música popular e geografia, ao traçar as relações entre
música, lugar, identidade e língua (PENNYCOOK, 2006).


Outra característica da LA contemporânea é que esta se configura
como uma área de pesquisa que busca identificar, compreender e
problematizar os usos da linguagem que emergem nas práticas sociais, com
vistas a pensar em alternativas que possam vir a melhorar a qualidade de
interação discursivo-social e, para que assim, as pessoas passem a
desfrutar de uma melhor qualidade de vida (MOITA LOPES, 2006; ROJO, 2006).
Nesse sentido, a LA passa a questionar suas bases epistemológicas,
principalmente, no que se refere ao seu sujeito, já que, tradicionalmente,
os estudos sobre a linguagem separavam o sujeito do seu mundo,
descorporificando-o da pesquisa, na busca de uma verdade cartesiana,
objetiva e controlável. Agora, o sujeito de LA é pensado em sua
heterogeneidade, em sua multiplicidade e mutabilidade, corporificado,
situado em sua sócio-história, atravessado por discursos que o constituem.
Assim, a LA busca produzir conhecimento sobre esse sujeito social nesses
novos tempos, refletindo sobre o papel do discurso na constituição desse
sujeito heterogêneo e dinâmico e de como esse sujeito, que tem identidade,
raça, gênero, classe social, ideologia, história, nacionalidade, etc., é
constituído no seu discurso (MOITA LOPES, 2006; PENNYCOOK, 2006).


A terceira característica, que discutimos aqui, refere-se aos
diversificados interesses de pesquisa da área da LA brasileira na
atualidade, tanto em língua materna como estrangeira, que tem avançado na
relação multidisciplinar e, assim, enriquecido esse campo de investigação.
Nessa perspectiva, os estudos brasileiros em LA têm investigado questões
socioculturais mais amplas, e assim, têm ampliado suas pesquisas que,
tradicionalmente, se limitavam a tratar das práticas de ensino/aprendizagem
de línguas, para, na contemporaneidade, incluir o estudo da linguagem na
vida do sujeito social, nas mais variadas situações de interações humanas.
Nas publicações brasileiras da área, destacamos as recentes discussões de
Moita Lopes (2002, 2003); de Bastos & Moita Lopes (2002); de Heberle,
Ostermann e Figueiredo (2006) e de Kleiman & Cavalcanti (2007), que tratam:
1) da construção discursiva das identidades sociais (gênero, sexualidade,
raça, idade e profissão) na escola e na família com base em uma visão
socioconstrucionista do discurso e das identidades sociais (MOITA LOPES,
2002, 2003); 2) das identidades na vida social contemporânea, incluindo
pesquisadores que atuam em Antropologia, Comunicação, Design, Educação,
Geografia, História, Lingüística, Lingüística Aplicada, Literatura,
Psicanálise e Psicologia (BASTOS & MOITA LOPES, 2002); 3) das questões de
gênero social (feminino e masculino) e suas relações com a linguagem em
diferentes contextos socioculturais (HEBERLE, OSTERMANN E FIGUEIREDO, 2006)
e, por fim, 4) do lado crítico da pesquisa sobre a linguagem, estudando a
linguagem na vida social, com a preocupação de inserir as minorias -
surdos, adultos não alfabetizados, professores índios, adolescentes de
risco, estudantes negros, alunos e professores em escolas carentes, - na
coletânea comemorativa organizada por Kleiman & Cavalcanti (2007), que
reúne trabalhos de professores e ex-professores do Departamento de
Lingüística Aplicada da Unicamp, que, em 2006, completou 25 anos, e que
permite entrever as novas possibilidades de teorizar e fazer lingüística
aplicada no Brasil.

Conclusões

Nosso objetivo neste trabalho foi de discutir a área de pesquisas da
LA na atualidade, considerando os novos direcionamentos que a LA tem tomado
em relação ao seu modo de fazer pesquisa, que envolve avanços além de
fronteiras disciplinares, que considera o sujeito social de pesquisa
heterogêneo e corporificado e que se concentra em tratar de perspectivas
marginalizadas socialmente.

Referências


BAUMAN, Z. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.
BASTOS, L. C. & MOITA LOPES, L. P. (orgs.) Identidades - Recortes Multi e
Interdisciplinares. São Paulo: Mercados das Letras, 2002.


CHOULIARAKI, L.; FAIRCLOUGH, N. Discourse in late modernity: Rethinking
Critical Discourse Analysis. Edinburgh: Edinburgh University Press, 1999.


GIDDENS, A. Modernidade e Identidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor,
2002.


HEBERLE, V. M.; A. C. OSTERMANN e FIGUEIREDO, D. C. (orgs.) Linguagem e
gênero no trabalho e em outros contextos. Florianópolis: Editora da UFSC.,
2006.


KLEIMAN, A.; CAVALCANTI, M. (orgs.) Lingüística aplicada - suas faces e
interfaces. São Paulo: Editora Moderna, 2007.

MOITA LOPES, L. P. (org.) Identidades Fragmentadas - A Construção
discursiva de raça, gênero e sexualidade em sala de aula. Campinas:
Mercados das Letras, 2002.

________________. (org.) Discursos de identidades. São Paulo: Mercados das
Letras, 2003.


________________. (org.) Por uma lingüística aplicada indisciplinar. São
Paulo: Parábola Editorial, 2006.

PENNYCOOK, A. Uma lingüística aplicada transgressiva. In: MOITA LOPES, L.
P. (org.) Por uma lingüística aplicada indisciplinar. São Paulo: Parábola
Editorial, 2006.
ROJO, R. H. R. Fazer lingüística aplicada em perspectiva sócio-histórica.
In: MOITA LOPES, L. P. (org.) Por uma lingüística aplicada indisciplinar.
São Paulo: Parábola Editorial, 2006.
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