A poesia contemporânea como confim

June 6, 2017 | Autor: Florencia Garramuño | Categoria: Poesía
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A poesia contemporânea como confim

Florencia Garramuño


RESUMO

Na postergação e deslocamento constante dos umbrais e confins do sujeito lírico, algumas formas da poesia contemporânea parecem explorar a irredutibilidade da vida à forma individual, colocando em cena a trama de relações nas quais se manifesta uma vida impessoal. Nesse movimento, essa poesia diagrama o espaço intervalar entre seres e coisas como um modo de pensar a vida impessoal como aquilo que se opõe ao eu, para além da consciência, da memória e da identidade pessoal; como um modo de pensar a vida segundo uma lógica que já não busca o desenvolvimento de uma interioridade mas a exposição de um ser em comum. O trabalho analisa esses deslocamentos como formas pelas quais a poesia contemporânea se coloca - ela mesma - como confim.




Wipe your hand across your mouth, and laugh…
T. S. Eliot

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El arco que toca en el hilo
de la voz un yo y un mí
es una canción que dice:
hay un hilo, rodea el mundo,
y la voz es su alfiler…

Edgardo Dobry, Cosas


I.
Qual é o lugar da poesia, hoje? Que a poesia tenha, hoje, um lugar – talvez isso seja precisamente o que está em dúvida. Mas, pensada desde outra perspectiva, a pergunta no assume tanto a procura pelo lugar que a poesia teria hoje, mas a busca de uma definição da poesia constantemente adiada e lançada irremediavelmente para a frente. Assim reformulada, a pergunta deixa ver outro significado: qual o lugar que a poesia constrói hoje como próprio? O lugar da poesia, portanto, nesse outro sentido, viria a se perguntar pelo modo em que a poesia contemporânea define o desenha o seu próprio lugar. No entanto, é possível pensar que a poesia constrói – hoje – um lugar como próprio?
É em torno dessas perguntas que escrevo estas linhas, centrando-me em alguns poemas contemporâneos que fazem da poesia a exploração de uma impropriedade radical; poemas nos quais, de formas variadas, a poesia constrói para si um lugar que melhor caberia descrever como impróprio. Acho que esse lugar impróprio da poesia contemporânea se relaciona de modo estreito com a elaboração de um trabalho com o impessoal que, para além da doutrina modernista do impessoalismo em poesia, se define como um limiar entre o pessoal e o impessoal que faz da voz lírica um lugar impróprio.
Em "The Doctrine of Impersonality and Modernism's War on Rhetoric: Eliot, Loy, and Moore", Charles Altieri analisou a tendência impessoalista na poesia postulada por Eliot – a poesia como "an escape from personality"-, explorando não só os sentidos que ela adquiriu em Eliot, mas também as atitudes que ela acarretou na poesia de língua inglesa. Se em Eliot Altieri localizou a impessoalidade como um modo de atacar a ideia de uma "substancial unity of the soul" (ALTIERI 60), ela – diz Altieri – "can sustain two radically opposed attitudes. It can continue on the vein of Eliot's withering critique of the ego, or it can celebrate the power of attention one arrives at when one is freed of the baggage of self-promotion." (ALTIERI 60). Entre Mina Loy – na esteira do impessoalismo eliotiano – e Marianne Moore, na atenção dirigida para o exterior, propõe Altieri, a poesia posterior a T.S. Eliot encontrou dois modos diversos de continuar com a tradição do impessoalismo.
De modo muito diferente dessas duas propostas, parece-me ver que em alguma poesia contemporânea já não se trataria de uma dissolução do eu: nem de sua desaparição, nem de sua concentração exclusiva no exterior. De fato, muitas das poesias contemporâneas nas quais precisamente identifico isso que estou chamando – por falta de um melhor nome – de novo impessoalismo, os sujeitos aparecem de modo insistente, ainda que despidos de toda interioridade. Em Monodrama, de Carlito Azevedo, em Engano Geográfico, de Marília Garcia, en Afectos, de Carlos Cociña, a definição de uma voz lírica que, se distanciando da expressão de toda interioridade, se volta para a exterioridade de situações, relações e experiências, faz dessa voz – de esse eu – um ponto móvel constantemente deslocado – muitas vezes, até em errância ("todo poeta é imigrante", diz Carlito) – que nesse movimento se exibe como o ponto de tensão de uma cartografia do espaço intervalar entre seres e coisas. A voz escreve, sempre, entre: entre lugares, entre pessoas, entre coisas. A impessoalidade, aqui, teria mais a ver com um esvaziamento do lugar do sujeito para fazer dele um lugar hospitaleiro de uma experiência concebida para além do prisma da experiência individual. Trata-se, portanto, de uma voz imprópria, de uma voz que não assume a propriedade nem sobre si mesma nem sobre os lugares nem sobre os discursos que a habitam.

II. Cosas, de Edgardo Dobry. Um livro organizado em torno a poemas numerados que vão se acoplando precariamente. Qual é o fio que os une? Fragmentos de um poema que reaparecem em outro, lugares que se repetem, um resto de voz que em cada um dos poemas aparece como uma caixa de ressonância sobre a qual repercutem as situações para as quais os poemas constroem um lugar. Entre Rosario e Barcelona, entre Cadaqués e Chissianu na Moldávia, o tempo se expande e entretece. Um dos poemas, o número 28, diz:

28
(Boulevard Oroño)
Instante en que un resplandor templa
al yo adentro del cuerpo distraído.

Outro:
58
Ya era yo, ya casi no.


No poema 28, o resplendor realiza a ação sobre um eu – sublinho um – que, passivamente, o recebe "dentro del cuerpo distraído". "El yo" que recebe a ação, para repetir as palavras do poema, pode ser pensado como eu lírico ou ele – a voz do poema – se encontra, pelo contrário, fora do poema e é desde o exterior que observa a cena? Qué cena seria essa, observada desde onde? Evidentemente, trata-se de um momento no qual o eu – el yo – ausente de si mesmo, menos presente ante si mesmo do que presente ante um fato, recebe o resplendor cálido. Em outros poemas do mesmo Cosas, el yo – e não, simplesmente, eu – se estilhaça em partes, pedaços, formas. Cito o poema 23:

"La uña de mi dedo,
el dedo de mi mano,
la mano de mi cuerpo,
el cuerpo de mi yo.
Mi yo de mi yo de mi yo."

O procedimento não implica um mero questionamento de um eu único, mas mais profunda e radicalmente, lido no conjunto do livro todo, a exibição de uma preocupação por uma poesia que, para além da doutrina impessoalista do modernismo e do confessionalismo no outro extremo, problematiza as noções de sujeito e vida de um modo inovador. O que, pelo menos, tem consequências noveis. O gesto de distanciamento do eu lírico na poesia de Dobry – em Cosas, mas também no El lago de los botes- permite explorar uma das figurações do impessoal ou anônimo que acarreta a articulação de uma experiência que, sendo pessoal, desautoriza toda noção de pertencimento e propriedade. Neste poema 28, reparemos que depois do número 28, o poema inclui, entre parêntese, "Boulevard Oroño", uma das ruas mais emblemáticas – larga, ponteada de árvores e ensolarada – de Rosario – a "Cidade Nativa", como Rosario é chamada ao longo de El lago de los botes, o livro anterior do próprio Dobry. O poema fala também desse espaço urbano, e ao referir a uma experiência que, ainda que se trate da sua própria, não é vista desde a interioridade desse si mesmo, pode convocar ao leitor, na referência à rua comum, a uma experiência que não é tanto compartilhada quanto virtualmente impessoal: a experiência, digamos, que qualquer um poderia ter ao atravessar Boulevar Oroño em Rosario. Na eliminação de todo traço de identidade, de todo resto de subjetividade, essa constante deslocação do eu na poesia de Dobry aponta para um modo de fazer evidente uma experiência para além do prisma do sujeito; para além, ainda, do indivíduo.
O livro passa também esse impessoalismo para a língua. Nos poemas, trata-se também de uma língua anfíbia, que pode passar de incrustações de uma língua catalana para reverberações de argentinismos, de coloquialismos para cultimos, sem nunca se identificar com nenhuma delas, o que se traduz, pela sua vez, no que Nora Catelli denominou como "uma forma esquiva" (Nora Catelli 2008).
Também para um sentido de impropriedade apontam os poemas entre aspas. São vários ao longo do livro, e neles se desloca a voz de algum outro poema de outro autor que aparece rescrito e deslocado, pela sua vez, no livro de Dobry.
Como no poema 65:
65
"Ahora bien, aquel que ayer
nomás decía hoy no está,
vino temprano
a otros asuntos, ya se fue."

onde a remissão aos muito famosos versos de Rubén Darío (Yo soy aquel que ayer nomás decía…), revisa a posição do sujeito e a dá volta como se fosse uma luva.
É claro que a impessoalidade em Dobry não parece um abandono do pessoal mais um modo – um dispositivo – para deixar aflorar um tipo de experiência que já não se confunde com a experiência subjetiva. Como disse Dobry numa entrevista:

"Un poema es una especie de álgebra que convierte la experiencia personal en un valor universal. Son los dos polos de la poesía: el que expresa algo que tiene que ver con la experiencia y el que expresa la lengua en sí misma como máquina, como artefacto, que estaría conectado con Mallarmé; hacer sonar la lengua, hacer de la misma sintaxis un instrumento artístico. Intento encontrar la vía intermedia entre estos dos polos. (…) A lo que aspiro como poeta es que el lector lea dos veces el poema porque el sentido del poema, a diferencia de la prosa, es que va soltando su jugo de a poco" (DOBRY 2009).

O impessoal, portanto, não priva ao eu de identidade, não implica um completo "surrender of the self" (Eliot), mas o coloca como limiar de um modo de reflexão sobre uma experiência que, só sendo pessoal, vê-se desde o prisma de uma experiência que poderia ser de qualquer um, e atravessada por uma tradição literária que aparece em destroços, fragmentos, cacos. Nesse sentido, é claro que esse limiar não implica o oposto ao pessoal. Cito a Esposito en El dispositivo de la persona:

"Desde luego, lo impersonal se sitúa fuera del horizonte de la persona, pero no en un lugar que no guarde relación con ella, sino más bien en su confín. Para decirlo de un modo más preciso, se sitúa sobre las líneas de resistencia que cortan su territorio, impidiendo o al menos contrastando el funcionamiento de su dispositivo excluyente. Lo impersonal -se podría decir – es el límite móvil, el margen crítico, que separa la semántica de la persona de su natural efecto de separación. No es su negación frontal, sino su alteración, su extraversión hacia una exterioridad que pone en tela de juicio e invierte su significado prevaleciente (ESPOSITO 2007, 27)."


III.
Mas há outras formas nas quais se manifesta esse limiar do impessoal na poesia contemporânea. No poeta chileno Carlos Cociña, a impessoalidade da voz lírica permite construir o poema como limiar entre filosofia e a abstração. Leo de Plagio de los afectos:

Si la realidad es el mundo que nos rodea, sin realidad no hay conciencia. El cerebro existe pues es parte de ella. La conciencia puede existir sin que el mundo externo module su actividad. Cuando lucubramos, recordamos o soñamos no se requiere necesariamente una entrada sensorial. El mundo sólo se puede captar con el cerebro; captar es, en sí mismo, una función cerebral. El cerebro simula la realidad. Tiene que hacerlo porque el tamaño de la cabeza y del cuerpo es pequeño comparado con el tamaño de la realidad. Allí sólo caben descripciones. Si por conciencia se entiende construir una imagen, entonces la realidad es ésa. Tan cercana está la realidad de lo que vemos.
Por eso cuando cae un árbol en la selva, y no hay quien lo oiga, no produce sonido. El sonido es una interpretación que hace el cerebro de las vibraciones del aire producidas por el árbol que se derrumba. Las vibraciones en el aire son el amor" (Cociña 2003-2005).

Ou, em Aguas servidas:
Soy el ojo que recorre
el ojo de la voz que descubre cada objeto
y en lo negro
y en lo blanco
soy los matices que revientan a cada instante (Cociña, citado en Hozven 1986).

Trata-se de um olhar intersubjetivo que já não é, como apontou Hozven, "la mirada de la subjetividad que mira que mira sino la mirada de la intersubjetividad, que devuelve a la mirada a la subjetividad, desde la contigüidad de los objetos, aunque con otra mirada, en cuanto esta mirada proviene, literalmente, desde todas partes". (Hozven 1986, 126).
Em Engano geográfico, de Marília Garcia, na tensão constante entre a primeira, a segunda e a terceira pessoas verbais, entre observações, declarações e perguntas, essa posição impessoal se constrói como diálogo e incorporação de um sopro narrativo – do mesmo modo que em "20 poemas para o seu walkman"- que, como apontou Flora Süssekind – "talvez devessem ser lidos com mais atenção, fora do âmbito da poesia também". Outro modo dessa impropriedade – entre a poesia e a prosa, entre o lírico e ou narrativo – da poesia contemporânea. É por isso que essa ideia de poesia como limiar, como confim, pode abranger também outras formas que no espaço entre o impessoal e o pessoal incorpora vozes heterogêneas, corais, a incorporação da narratividade, a expansão do verso e sobre tudo também a emergência de outras formas textuais contemporâneas que muitas vezes podem ser pensadas tanto dentro do âmbito da poesia como no da prosa como, por exemplo, Delírio de Damasco, de Veronica Stigger.
Em todos esses casos, esse limiar ou confim entre o pessoal e o impessoal não acarreta, como em Eliot, um dispositivo que procure "(to) challenge the idea of the metaphysical unity of the self", mas – de um modo muito mais radical – uma forma de questionar a própria ideia de um sujeito existente para além de sua relação com o outro e com o mundo.
Quem vem depois do sujeito?, se preguntava Jean-Luc Nancy num questionamento proposto a vários filósofos contemporâneos, procurando contornar a necessidade de repensar uma nova determinação post-deconstrutiva da responsabilidade do sujeito. Em algumas das figurações da poesia contemporânea, isso que vem depois do sujeito parece ser um limiar que ao despir de propriedade e pertencimento ao sujeito, possa dar conta, e elaborar, problemas contemporâneos eticamente indispensáveis. Porque, como apontou Derrida na resposta a Nancy:
"La singularidad del "quién" no consiste en la individualidad de una cosa idéntica a sí misma; no es un átomo. Ella se disloca o se divide al reunirse para responder al otro, cuya llamada pre- cede, por decirlo así, a su propia identificación consigo misma [...]. He allí sin duda el enlace con las grandes cuestiones de responsabilidad ética, jurídica, política, en torno a las cuales se constituye la metafísica de la subjetividad" (DERRIDA 2005).

Na postergação e deslocamento constante dos umbrais e confins do sujeito lírico, algumas formas da poesia contemporânea parecem explorar a irredutibilidade da vida à forma individual, colocando em cena a trama de relações nas quais se manifesta uma vida impessoal. Nesse movimento, essa poesia diagrama o espaço intervalar entre seres e coisas como um modo de pensar essa vida impessoal como aquilo que se opõe ao eu, para além da consciência, da memória e da identidade pessoal; como um modo de pensar a vida segundo uma lógica que já não busca o desenvolvimento de uma interioridade mas a exposição de um ser em comum. Creo ver em ela algumas das formas nas quais muitas práticas culturais estão enfrentando alguns dos problemas mais urgentes do mundo contemporâneo sobre a organização dos seres e das coisas e imaginando, para além do sujeito e do indivíduo, novos modos de se pensar a vida em comum.

BIBLIOGRAFIA

Ayala, Matías. Lo impersonal. 60 Watts, N0. 7, 2014. Disponible en http://60watts.cl/2014/07/resena-carlos-cocina/
Altieri, Charles. The Doctrine of Impersonality and Modernims's War on Rhetoric: Eliot, Loy, and Moore. En The Art of XXth Century American Poetry. Modernism and After. Malden, MA, Blackwell, 2006
Catelli, Nora. La forma esquiva. Casado, Miguel (ed.): Cuestiones de poética en la actual poesía en castellano. Madrid: Iberoamericana-Vervuert, 2009. páginas 199-209
Cociña, Carlos. Plagio del afecto. Disponible en http://www.poesiacero.cl/plagiodelafecto.html
----. Aguas servidas. 1973-1980. Citado en Hozven, Roberto.
Derrida, Jacques. Hay que comer, o el cálculo del sujeto. Traducción de Virginia Gallo y Noelia Billi, revisada por Mónica Cragnolini. Pensamiento de los Confines, núm. 17, Buenos Aires, diciembre de 2005
Dobry, Edgardo. Cosas. Barcelona, Lumen, 2008
----. El lago de los botes. Barcelona, Lumen, 2005
----. La poesía suelta su jugo de a poco. Entrevista de Silvina Friera. Página 12, 27 de enero de 2009.
Eliot, Thomas Stearns. Tradition and the Individual Talent. The Sacred Wood. Essays on Poetry and Criticism. New York, Alfred A. Knopf, 1921 
Esposito, Roberto. Tercera Persona. Política de la vida y filosofía de lo impersonal. Buenos Aires, Amorrortu, 2007
------. El dispositivo de la persona. Buenos Aires, Amorrortu, 2012
Garcia, Marília. Engano geográfico. Río de Janeiro, 7 Letras,
Heaney, Seamus. The Government of the tonge: the 1986 T. S. Eliot Memorial Lectures and other Critical Writings. London, Faber and Faber, 1989.
Hozven, Roberto. El tacto de una mirada, según Carlos Cociña, Revista Chilena de Literatura, No. 27/28 (Apr. - Nov., 1986), pp. 121-132
Nancy, Jean-Luc. Introduction. Who comes after the Subject? Edited by Eduardo Cadava, Peter Connor, Jean-Luc Nancy. New York, Routledge, 1991.
Süssekind, Flora. Objetos Verbais não Identificados. O Globo, 29 de septiembre de 2013, disponible en línea: .
Warren, Rosanna. Fables of the Self. Studies in Lyric Poetry. New York , W.W. Norton, c 2008
Stigger, Veronica. Delírio de Damasco. Desterro, Cultura e Barbárie, 2012








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Segundo a famosa frase de Eliot: "Tradition and the Individual Talent": "Poetry is not a turning loose of emotion, but an escape from emotion; it is not the expression of personality, but an escape from personality. But, of course, only those who have personality and emotions know what it means to want to escape from these things." Ver también Seamus Heaney (1988) y Rosanna Warren (2008).
Lembro aqui a reinterpretação de Freud que faz Roberto Esposito: "Los episodios con tanta abundancia en el texto de Freud no son actos, realizados o fallidos, de un sujeto personal, sino anónimos fragmentos de vida que siempre se encuentran más acá o más allá de la persona. Lo que falta, en verdad, no es el acto, sino la actitud –o sea, la intención consciente- de quien le da vida, siempre atravesada, y desfigurada, por el propio negativo. La vida cotidiana es la no persona, el flujo impersonal que altera su perfil y arranca su máscara, no destituyéndola del todo, sino apoderándose de sus propias fuerzas y dirigiéndolas contra ella (Esposito 2012, 39)".
Sobre lo impersonal en la poesía de Cociña, ver Matías Ayala 2014.

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