A poesia revolucionária de José Martí: breve análise de Versos Singelos

May 31, 2017 | Autor: T. Mundstock Jahnke | Categoria: Poesía latinoamericana, Jose Marti
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIENCIAS HUMANAS DEPARTAMENTE DE HISTÓRIA História da América III – Professor Mathias SeibelLuce Aluna: Teane Mundstock Jahnke - 00192184

A poesia revolucionária de José Martí: breve análise de Versos Singelos

O presente trabalho busca identificar na poesia de José Martí o seu pensamento revolucionário. Buscam-se sinais de expressão que condigam com suas obras literárias, relacionadas com a sua nova forma de ver o mundo, a nação e o ser ser humano. Para isso delimitou-se o uso dos poemas do livro “Versos Singelos” e bibliografia relacionada José Martí foi muito além de ser apenas poeta. Para compreender o seu pensamento é necessário ir bem além de apenas sua liricidade. José Martí teve uma vidaagitada e cheia de viagens,muitas vezes tendo de sair de sua ilha e sempre no intento de libertar Cuba para sua autoadministração. José Martí foi fonte de inspiração à diversos agentes históricos e continua o sendo até hoje. A partir da revista online “El Nuevo Fénix digital” - na qual há ampla gama de documentos, artigos e cronologias - intenta-se, aqui, uma breve biografia. José Martí nasceu em Havana, no dia 28 de janeiro de 1853. Filho de pais espanhóis, teve uma vida sempre a favor da luta pela liberdade em Cuba e para Cuba. Na sua juventude, foi simpatizante da Guerra dos Dez Anos (1868-1878), o que contribuiu para que, no ano seguinte, fosse preso por conspiração. (CUBA, 2007) Em 1871 foi exilado na Espanha, onde aproveitou para estudar Filosofia, Letras e Direito. Em 1875 que começará uma série de viagens ao México, onde conheceu e se casou com Carmem ZayasBazán. Mas, será na Guatemala, que Martí conhecerá sua musa, a famosa Niña de Guatemala, María García Granados. Após uma breve estadia também em Nova York, retorna a Cuba, mas por pouco tempo,

visto que seus planos de liberdade a Cuba acabaram por exila-lo novamente, para a Espanha.(CUBA, 2007) Em 1880 José Martí cruza o Atlântico e mais uma vez estabelece-se em Nova York, porém, agora trabalhando como jornalista para o The Hour e o The Sun. Ao mesmo tempo, mantém contato com militares cubanos, como o general Calixto García, e toma parte como presidente do Comitê Revolucionário Cubano. Será na cidade norte-americana que Martí se dedicará a preparar uma revolução que consiga a independência de Cuba: além de escrever e publicar Nuestra América em janeiro de 1891 na Revista Ilustrada de Nova York, o poeta conseguiu dinheiro, armas, embarcações, treinou alguns voluntários, buscou apoio internacional e manteve o espírito de rebelião dos cubanos, realizando diversas viagens por países latinoamericanos.(CUBA, 2007) Após cinco anos de preparação, quando tudo estava pronto, o governo norteamericano confiscou o material logístico de José Martí. Entretanto, ele e seus companheiros saem da cidade rumo a Santo Domingo e Cuba. Em 19 de maio de 1895, as forças de Martí se enfrentam com o exército espanhol em Dos Ríos, na ilha cubana. Morto em batalha, José Martí sempre fora lembrado como o inspirador e herói da independência. (CUBA, 2007)

Na obra de José Martí, encontramos diversos traços que caracterizam uma das épocas mais efervescente não somente para a arte, mas para todas as manifestações artísticas desse período, compreendendo inclusive o início do novo século: o Modernismo em José Martí transparece em sua prosa ousada e em sua marcada e íntima poesia. Em sua vida como escritor ativo e panfletário, nos deparamos com algumas facetas desse grande pensador cubano. Como jornalista, Martí publicou mais de quatrocentas crônicas sobre a Hispano-América, os Estados Unidos e a Europa, em jornais de Buenos Aires, Caracas, Montevidéu e Nova York. Se analisarmos o conjunto da obra, veremos que a parte jornalística ocupa quase a metade de toda a produção literária de Martí. Isso não deve ser menosprezado, pois, entre fins do século XIX e começo do século XX, a imprensa escrita foi o principal meio de difusão de escritores, pensadores e artistas modernos. (CUBA, 2007)

Sem dúvida, o lado que fez de José Martí bastante conhecido e reconhecido foi sua ideologia política. Apesar de sua luta direta se limitar a Cuba, Martí entendia a liberdade dos países latino-americanos como um todo. Duas características importantes do pensamento de Martí são, por um lado, defender uma melhor distribuição da riqueza nacional, cuja concentração em poucas mãos lhe parecia injusto; por outro lado, a questão indígena presente nas nações americanas, um dos mais tristes resultados da dominação colonial sofrida, na qual os índios foram massacrados e os poucos sobreviventes foram reduzidos à condição de animais. (CUBA, 2007) Para Martí, o futuro da revolução no continente está vinculado à raça indígena e à união dos povos. Daí que Martí sempre se opôs a qualquer intervenção militar que tentasse impor um movimento revolucionário. Segundo ele, a independência de Cuba seria, antes de tudo, a libertação da América dos últimos grilhões do colonialismo espanhol e, depois, seria necessário assegurar a união das repúblicas hispano-americanas contra o imperialismo dos Estados Unidos.(CUBA, 2007) Na faceta poética de José Martí há diversas obras e poemas. Um dos temas interessante em suas obras é o teor infanto-educacional. Dentro de sua personalidade ampla e eclética, Martí - militante político e revolucionário - também dedicou parte de seu tempo para a literatura infantil. Para ele, a educação de um novo homem e uma nova pátria é também uma forma revolucionária - a função desses contos é nitidamente educacional, pautado pelosideais político-social de Martí, no qual a criança é o futuro, e esse futuro deve ser o progresso e a virtude. Para conseguir tal objetivo – a liberdade, a busca da verdade, americanismo, independência de Cuba –, deve-se educar a criança lhe apresentando os grandes problemas da América, como o racismo, a desigualdade social e a pobreza em contos de estilo simples, mas belos e elucidativos. (CUBA, 2007) José Martí se distinguiria, conforme Lopes (1997), pela sua integridade em todos os aspectos de sua obra. Seria essa integridade que o fez abordar todos os assuntos em pauta de sua época, desde questões políticas e econômicas até a problemas de forma, estilos e vocabulário literário.Nas crônicas, e também em suas obras de forma geral, há um leque muito amplo de temas e assuntos: perpassam formas de tomar o chá, assuntos de guerras e da política internacional, da educação, da arquitetura, da moda e de diversos tópicos sobre a ciência e a literatura da

época.Além disso, Martí foi um exemplo de perspicácia no seu conchecimento sobre ética e a condição humana. (CUBA, 2007). Lopes (1997) também afirma que teria sido Martí que fundou a poesia hispano-americana no plano internacional e que teria revolucionado a literatura e a língua espanhola: “Martí sabia, conscientemente, que ao lado da revolução política a que se dedicou sua vida, estava fazendo uma outra, uma revolução literária” (LOPES, 1997. P. 27)

Versos Sencillos “Versos Sencillos” é o último livro de poemas publicado por Martí. Escrito em 1891, foi pautado pelas condições de seu tempo. Na época, Martíteria se dado conta dos intentos EUA sobre sua amada ilha e uma certa desilusão sobre o futuro. Durante a conferência de Washington, o governo dos EUA apresentaram uma única saída para Cuba e os demais países que intentavam, ou já havia, se livrado do colonialismo espanhol – a única alternativaseria tornar-se uma semicolônia norteamericana. (LOPES, 1997. P. 18).Martí logo percebeu o perigo destas iniciativas estado-unidenses: “Los Sersos sencillos fueron concebidos por martí em médio de laaflicción y la pena: “Me echóel médico al monte: corrianarroyos, y se cerrabanlasnubes: escribí versos”. La poesia como evasión, como purga de emociones; la poesia, lapersonalmanisfestación lírica del artista dentro de su ambiente (...)” (SCHULMAN, 1970. P. 31)

A poesia de José Marí é pautada por seu valor moral e por uma forma literária precisa – A estética poética deve acompanhar o pensamento e a possibilidade da palavra. Se o objetivo da poesia é atingir e comunicar verdades, ela deverá ser acompanhada de valores, solidariedade e amor. Não é a toa que a sua ultima obra poética foi escrita com extrema complexidade métrica mas ao mesmo tempo com caráter e raízes populares. Versos Sencillos aparece, então como o verso ideal, como “(...) expressão exata do pensamento e dos sentimento. Não por acaso

“Guantanamera” se tornou tão famosa, repetida até hoje sem cansaço.” (LOPES, 1997. P. 29) Assim, Versos singelos merece seu nome. A clareza e perfeição estética em conjunto com a sensibilidade de caráter popular demonstram uma singeleza na representação do ser humano: ser simples, que busca a paz, a liberdade, a solidariedade, o afeto e a ternura. Mesmo com os obstáculos a serem enfrentados no futuro – superar a colônia espanhola e sobreviver aos intentos dos estados unidos – o poema enfrenta e supera os obstáculos. O poema transcende as visões do humano e do natural e da natureza e tudo se transforma em um só, um só humanizado. Lopes (1997) afirma que esta obra é o poema mais pessoal de José Martí e que não é apenas uma coletânea, mas um poema como um todo, completo e perfeito em sua complexidade.

Poesia revolucionária Tendo em vista todos os aspectos já comentados o presente trabalho,é possível perceber porque a poesia de José Martí assume, além de papel literário, caráter revolucionário. Não revolucionário no sentido somente em que busca novas formas de governo e liberdade a cuba e a sua nação, mas revolucionário também na escrita, na estética, no poder da sensibilidade, sentimento e humanidade: “Martí realiza-se plenamente com “Versos Sencillos” - não há mais oposição entre o erudito e o popular, entre forma e conteúdo, (...) Um longo poema de amor, de quarenta e seis seções, quase todo em quadras metrificadas - amor à mulher, ao povo, à pátria, ao filho, aos pais, à natureza, à cultura e à humanidade.” (SHINEIDER, 2011.)

O primeiro poema do livro foio mais impactantes e é presente na América Latina até hoje. Demonstrando essa caráter revolucionário extracorpóreo. Musicado por Josito Fernandez em 1963 e mundialmente conhecida na voz de Júlio Iglesias. As interpretações do poema são diversas e regravadas periodicamente. Abaixo segue o Poema original (MARTÍ, 1997. Verso I):

“Yo soy un hombre sincero De donde crece la palma, Y antes de morirme quiero Echar mis versos del alma.

Oigo un suspiro, a través De las tierras y la mar, Y no es un suspiro,—es Que mi hijo va a despertar.

Yo vengo de todas partes, Y hacia todas partes voy: Arte soy entre las artes, En los montes, monte soy.

Si dicen que del joyero Tome la joya mejor, Tomo a un amigo sincero Y pongo a un lado el amor.

Yo sé los nombres extraños De las yerbas y las flores, Y de mortales engaños, Y de sublimes dolores.

Yo he visto al águila herida Volar al azul sereno, Y morir en su guarida La vibora del veneno.

Yo he visto en la noche oscura Llover sobre mi cabeza Los rayos de lumbre pura De la divina belleza.

Yo sé bien que cuando el mundo Cede, lívido, al descanso, Sobre el silencio profundo Murmura el arroyo manso.

Alas nacer vi en los hombros De las mujeres hermosas: Y salir de los escombros, Volando las mariposas.

Yo he puesto la mano osada, De horror y júbilo yerta, Sobre la estrella apagada Que cayó frente a mi puerta.

He visto vivir a un hombre Con el puñal al costado, Sin decir jamás el nombre De aquella que lo ha matado.

Oculto en mi pecho bravo La pena que me lo hiere: El hijo de un pueblo esclavo Vive por él, calla y muere.

Rápida, como un reflejo, Dos veces vi el alma, dos: Cuando murió el pobre viejo, Cuando ella me dijo adiós.

Todo es hermoso y constante, Todo es música y razón, Y todo, como el diamante, Antes que luz es carbón.

Temblé una vez —en la reja, A la entrada de la viña,— Cuando la bárbara abeja Picó en la frente a mi niña.

Yo sé que el necio se entierra Con gran lujo y con gran llanto. Y que no hay fruta en la tierra Como la del camposanto.

Gocé una vez, de tal suerte Que gocé cual nunca:—cuando La sentencia de mi muerte Leyó el alcalde llorando.

Callo, y entiendo, y me quito La pompa del rimador: Cuelgo de un árbol marchito Mi muceta de doctor.”

A presença de “Guantanamera” no repertório musical, como símbolo identitário latino-americano perante o mundo é apenas um dos exemplos dos impactos causados pela poesia de José Martí. Abaixo a primeira versão musicada de Guantanamera (MARTÍ, 1997. P. 180) (posteriormente criou-se novas versões): “Yosoy um hombre sincero

De donde crecela palma, Y antes de morirmequiero Echar mis versos del alma

Guantanamera, Guajiraguantanamera

Guantanamera, Guajiraguantanamera

Mis versos es de um verde claro Y de um carmínencendido: Mi versos es um ciervoherido Que busca em el monte amparo

Conlos pobres de latierra Quieroyo mi suerteechar: El arroyo de lasierra Me complace más que el mar

Guantanamera, Guajiraguantanamera”

Também dos versos singelos, “Rosa Blanca” foi musicada e tem amplo alcance na américa latina. Menos conhecida que guantanamera, musicada com versos exatos (MARTÍ, 1997. Verso XXXIX) “Cultivo uma rosa blanca, Em julio como em Enero, Para el amigo sincero Que me da su mano franca. Y para el cruel que me arranca El corazón com que vivo, Cardo nioruga cultivo: Cultivo la rosa blanca.”

Mas não só de sensibilidade aconchegante os verso singelos se apresentam, o Verso XXX demonstra isso com clareza, um poema com ímpeto de indignação, singelo e revolucionário na maneira de demonstrar dor e tristeza, episódios comuns do passado da américa Latina. “El rayo surca, sangriento, El lóbregonubarrón: Echael barco, ciento a ciento, Los negros por elportón.

El viento, fiero, quebraba Los almácigoscopudos: Andabalahilera, andaba,

De losesclavos desnudos. El temporal sacudía Los barraconeshenchidos: Una madre consucría Pasaba, dando alaridos. Rojo, como eneldesierto,

Salióel sol al horizonte: Y alumbró a unesclavomuerto, Colgado a unseíbodel monte. Unniñolovio: tembló De pasión por los que gimen: Y, al pie delmuerto, juró Lavar consu sangre elcrimen!”

Há uma diversidade bastante grande dentro dos poemas da obra. Perpassam vários sentimentos e assuntos. Outro exemplo pode ser visto no Verso XXV Yo penso, cuando me alegro Como um escoltar sencillos, Em el canário amarillo, Que tieneelojotan negro Yoquiero, cuando me muera, Sin pátria, pero sin amo, Tener em mi losa um ramo De flores, - y uma bandera!

Verso sem numero. Pg. 165. ! verso nos hablan de um Dios Adonde van los defuntos: Verso, o nos condenan juntos, O nos salvamos los dos

Conclusao: Versos sencillos não é uma coletânea mas um poema inteiro – unidade (29) É o poema mais pessoal (30)

A poesia de marti é inseparável de sue valor moral (19) – passou a vida construir um mundo de liberdade e justiça... unir o povo... liberdade e idependencia (8) mas o que faz martí

transcender os próprios limites da literatura de que faz, inegavelmente, parte, é o seu pendoor, ideologia e atividade revolucionárias. Trata-se, ao seu ver, de libertar a pátria e os homens, o que implica em criar uma nova pátria e um novo mundo para os homens.” (LOPES, 1997. P. 25) A América latina tal qual conhecemos hoje é uma criação de Marti (8)e seus poemas ajudaram nisso

Bibliografia: COSTA, Diogo Valença de Azevedo. Pensamento anti-colonial e educação popular em José Martí. Revista Espaço Acadêmico, n. 79, dez. 2007. Mensal. Disponível em: . Acesso em: 01 dez. 2013. CUBA. Raúl I. García Álvarez. Editor Chefe (Ed.). El Nuevo Fénix: José Martí, Héroe Nacional de la República de Cuba. 2007. Disponível em: . Acesso em: 01 dez. 2013. ETTE, Ottmar. José Martí. Apóstol, Poeta Revolucionário: Una historia de surecepción. México: Universidad Nacional Autónoma de México, 1995. (Nuestra América). LOPES, Carlos. José Martí: O herói, o poeta, o contemporâneo. In: MARTÍ, José. Versos Singelos. Porto Alegre: Sidnei Belmur Schneider, 1997. Cap. 1. p. 533. Prefácio. MARTÍ, José. Versos Singelos. Porto Alegre: Sidnei Belmur Schneider, 1997. 184 p. Tradução, notas e posfácio Sidnei Schneider e prefácio de Carlos Lopes. SANTOS, Jefferson Odair da Silva; GOUVêA, Luzimar Goulart. ANÁLISE DO POEMA “HIJO DEL ALMA” DE JOSÉ MARTÍ E AS DIFICULDADES TRADUTÓRIAS DO ESPANHOL PARA O PORTUGUÊS DO BRASIL. Proft em Revista: Anais do Simpósio Profissão Tradutor 2011, v. 2, n. 1, jun. 2011. Disponível

em:

. Acesso em: 01 dez. 2013.

SCHULMAN, Ivan A.. Símbolo y color enla oba de José Martí. 2. ed. Madrid: Editorial Gredos, S. A., 1970. 497 p. (Estudios y ensaios). SHINEIDER, Sidnei. José Martí: singelo vigor de aço. 2011. Disponível em: . Acesso em: 01 dez. 2013. SUÁREZ, Yainy Cabrera. José Martí, sus versos sencillos ennuestrosdías. 2012. Disponível em: . Acesso em: 01 dez. 2013.

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