A política como identidade. Estratégias de identificação e diferenciação em imigrantes argentinos no Brasil

June 16, 2017 | Autor: Magali Alloatti | Categoria: Identity (Culture), National Identity, International Migration, Mercosur/Mercosul
Share Embed


Descrição do Produto



! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! !

! !

! Anais do ! V Seminário Nacional Sociologia & Política !

! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! !

14, 15 e 16 de maio de 2014, Curitiba - PR!

ISSN: 2175-6880

A política como identidade. Estratégias de identificação e diferenciação em imigrantes argentinos no Brasil.

Magali Natalia Alloatti 1 Esta pesquisa foi realizada para a obtenção do título de mestre em sociologia política da UFSC (2013). O objetivo geral foi analisar os processos de transformação e manutenção da identidade de imigrantes argentinos radicados em Florianópolis. Planejou-se um estudo de caso no bairro Balneário Canasvieiras e realizou-se uma triangulação metodológica sequencial com interação de diversas técnicas. Procurou-se identificar representações sociais, percepções, práticas e valorações destes imigrantes. Foi necessário considerar os mecanismos de naturalização e obtenção da cidadania (na sua especificidade brasileira) e o Acordo de Residência para nacionais dos países membros do MERCOSUL e associados. A partir da diferença do status (naturalizado/residente) forjam-se complexas relações entre direitos (cidadania) e identidade (naturalização), fazendo com que os imigrantes devam escolher uma nova identificação nacional para obter posse plena dos seus direitos. Um eixo central da pesquisa foi compreender a definição da identidade do imigrante perante a “o outro” (HALL 2008) a partir de negociações de sentido e dinâmicas sociais. Identificaram-se estratégias deliberadas de transformação da identidade na escolha de elementos por meio de juízos de valor (adotando plenamente aquilo julgado como valioso “dos brasileiros”). Por outro lado, a singularidade “do argentino” se definiu quase exclusivamente em termos políticos. Apelando a elementos da denominada “cultura politica” os indivíduos consultados esforçaram-se em definir a sua peculiaridade no seu perfil político. Conjuntamente consideraram-se as recentes transformações da cena política na Argentina, que têm gerado “de longe” reações e sentimentos de afastamento nestes imigrantes em relação “ao povo” que escolhe e legitima o atual governo. A identidade definida em termos políticos resulta muito forte, porém ambígua. É um elemento que justifica o rechaço em adotar outra nacionalidade. Mas, por outro lado, permite identificar a dissolução do sentimento de pertencimento pela sensação de traição e alienamento da nação argentina. Palavras chaves: imigrantes, identidade, política.

1 Introdução.

O presente trabalho é resultado parcial da pesquisa desenvolvida para a realização da dissertação de mestrado ao longo dos anos 2011 e 2012, no programa de Pós Graduação em Sociologia Política da Universidade Federal de Santa Catarina. O trabalho teve como origem uma série de interrogantes que se orientaram às relações estabelecidas entre imigrantes (no caso argentinos) e a sociedade brasileira. Uma das questões centrais que me levaram a refletir sobre o caso dos argentinos no Brasil teve a ver com os diversos mecanismos de identificação entre eles e a

1

Doutoranda do programa de Pós- Gradução em Sociologia Política da Universidade Federal de Santa Catarina, [email protected]

1

sociedade brasileira como um todo, neste horizonte me concentrei especificamente nos possíveis laços identitários nutridos a partir da dimensão política. A importância da política na constituição de laços ganhou especial importância a partir dos mecanismos por meio dos quais os imigrantes do cone sul podem residir em diversos países de América do sul. A partir do Convênio de Residência para nacionais dos Estados do MERCOSUL, Bolívia e Chile 2 (atualmente considerando também Colômbia) obter a residência temporária (de dois anos) e permanente (de nove anos) resulta significativamente acessível em comparação com os critérios previamente estabelecidos. Por que isto configura um cenário interessante em relação aos direitos políticos? Segundo o convênio os nacionais que escolham residir no Brasil (e outros países) e que realizem a tramitação necessária possuíram os mesmos direitos que um cidadão brasileiro excetuando aqueles de natureza política, somente obtiveis por meio do processo de naturalização. Sendo assim é possível afirmar que a dimensão política ganha um destaque pelo contraste derivado da obtenção de direitos, o que possibilitou, no caso desta pesquisa, estabelecer um complexo de relações entre dois polos: identidade (naturalização / residência) e direitos (cidadania / direitos limitados). Em outros termos a condição é que o indivíduo que queira obter e exercer plenamente todos os seus direitos deve negociar a sua identidade, declarando e buscando modificar o seu pertencimento nacional. A partir destas premissas a pesquisa procurou identificar a importância da dimensão política por meio de diversas técnicas e indicadores. Procurei indagar sobre o vínculo que se mantem com o país de origem (Argentina) a partir de consumos culturais (leitura de jornais, radio, revistas, contato com pessoas que residam lá) que, por sua vez, informaram sobre as percepções que se tem sobre “a realidade” do país de origem. De maneira paralela se indagou sobre a participação política dos entrevistados, e o que se denominou “participação ampla” 3 tanto na Argentina como no Brasil, com o objetivo de identificar motivos, objetivos e interesses que levaram ou levam a estes indivíduos a participarem em diversos espaços da esfera pública. Pesquisou-se também sobre as representações sociais, destrinçando este tópico nos estereótipos sobre argentinos e brasileiros e as maneiras nas quais estes influenciam as relações sociais e predispõem atitudes. O eixo de preocupação foi sempre compreender os processos de constituição, transformação e negociação da identidade.

2 Metodologia.

2

Disponível em: http://www.parlamento.gub.uy/htmlstat/pl/acuerdos/acue17927-2.htm Acessado em 05/04/2014 3 E foi pensada também a opção de participação ampla, que incorpora nela todo tipo de organização da sociedade civil, mas sem identificação política. Ali se reconheceram blocos de carnaval, ONGs, ajuda aos moradores de rua, clubes, grupos de atividades sociais, associação de vizinhos, etc.

2

Devido à falta de dados confiáveis sobre a quantidade de argentinos em Florianópolis, e inclusive no Brasil, diversas desafios foram redefinindo as escolhas metodológicas. Definiu-se um estudo de caso restringido a imigrantes argentinos radicados em Santa Catarina, especificamente em um local que tem exibido uma alta concentração destes imigrantes ao longo das últimas três décadas: bairro de Balneário Canasvieiras, Florianópolis. A partir desta definição, e considerando a falta de informações prévias, determinou-se que a melhor estratégia era uma triangulação metodológica, desenvolvendo-se primeiramente uma etapa quantitativa (aplicação de questionário por bola de neve a quantos argentinos fosse possível, conformando uma amostra final de vinte cinco -25- casos) e, posteriormente, uma etapa qualitativa com entrevistas de casos definidos a partir de critérios teóricos avaliados ao longo da primeira etapa (total de sete -7- casos). Tratando-se de um estudo exploratório não se estabeleceram critérios de corte (sejam temporais, etários, geográficos ou ocupacionais) e considerando a ausência de dados institucionais fidedignos, a existência de imigrantes em condições irregulares e a falta de meios institucionais nos quais identificar e trabalhar com esta população, a técnica julgada mais apropriada foi a bola de neve. Ela ajudou a mapear as relações sociais entre os indivíduos, identificado diversos graus de intensidade, assim como permitiu identificar espaços de interação que se configuram por excelência como fontes de sociabilidade 4. É imperativo realizar um esclarecimento aqui. A política foi uma dimensão importante desde o começo da pesquisa a partir das condições de residência e naturalização previamente mencionadas. Porém ganhou destaque progressivamente ao longo do trabalho de campo, o que permitiu colocar cada vez mais atenção nela, isto facilitou-se pela utilização de uma abordagem e metodologias ascendentes.

3 Resultados da etapa quantitativa

3.1 Informações gerais.

O questionário aplicado permitiu identificar num primeiro momento uma série de informações gerais do universo definido, desdobrando-se em diversos itens 5, o que permite aqui sintetizar alguns dados gerais sobre estes imigrantes. Devido ao fato de que quase a totalidade da amostra tinha visitado previamente Balneário Canasvieiras, especialmente por motivos de férias, a maior parte dos 4

Trata-se de espaços de (re) encontros, comemoração e socialização de diversos tipos e regularidades. Foram considerados assim jogos de futebol, churrascos, atividades religiosas, comemoração de datas pátrias, entre outros. 5 A) Características sociodemográficas (idade, estado civil, filhos, ocupação); B) Atividades realizadas e compartilhadas, percepções sobre graus de integração e receptividade. Tipo de visto, condição ilegal, percepção sobre os mecanismos de obtenção do visto C) Relações sociais prévias e conhecimento do espaço geográfico D) Percepção e avaliação das “realidades” argentina e brasileira E) Consumo de mídia, conhecimento de política e participação formal e ampla.

3

indivíduos possuía um “amplo conhecimento prévio” do lugar. Derivado disto a metade da amostra tinha estabelecido relações sociais prévias à migração, produto de épocas de férias e empregos compartilhados. A ajuda entre argentinos é um elemento que define estas relações sociais prévias, que lhes permite conseguir emprego e moradia, assim como conhecer o bairro e outras pessoas, em síntese para se integrar econômica e socialmente. Considerando o Convênio de residência entre Argentina e Brasil que rege desde o ano 2006 (antecedente do atual Convênio de residência do MERCOSUL) e a anistia feita pelo Governo brasileiro no ano 2009, não se encontrou nenhum caso irregular/ ilegal. A anistia permitiu que todas as pessoas que estavam irregulares pudessem mudar a sua condição, aproveitando a possibilidade de tirar o visto de residência temporária e, posteriormente, a permanente. Este visto representa uma maioria quase absoluta em relação a outro tipo de vistos na amostra. Muitos dos imigrantes participantes estão em condições de serem naturalizados, tanto pela quantidade de tempo de residência quanto pelo fato de terem filhos brasileiros. Dos 25 casos que compõem a amostra, só um homem tem se naturalizado.

3.2 Primeiras considerações sobre as representações.

Segundo os dados obtidos os entrevistados acreditam que de maneira geral os argentinos conseguem se integrar quase completamente à sociedade brasileira 6, porém a principal percepção positiva teve a ver com a receptividade dos brasileiros 7 e não com a predisposição dos imigrantes. Os obstáculos à integração referem a dois aspectos centrais: por uma parte a dificuldades comuns no processo de migração; por outro lado as experiências de migração/ turismo argentino em Balneário Canasvieiras, destacando a característica cultural da arrogância dos argentinos. Há uma diferença entre as pessoas que optaram por uma categoria e por outra. Os indivíduos que têm morado menos tempo em Balneário Canavieiras optaram pela primeira categoria, enquanto as pessoas que moram há mais tempo optaram pela segunda. Este aspecto relaciona-se com a experiência de ter passado em Balneário Canasvieiras várias temporadas de turismo. Todos os entrevistados mencionaram que a temporada turística é o ponto de inflexão na ocupação de argentinos, que tomam conta do bairro e acabam sendo relacionados aos efeitos negativos do turismo (engarrafamentos, distúrbios, sujeira, maltrato). É possível observar assim que as pessoas que moram há mais tempo identificam os motivos que nutrem a percepção negativa do turista argentino e, o que ainda é mais significativo, eles mesmos adotam esta identificação para se diferenciar constantemente “desses argentinos bagunceiros”. 6

A partir da pergunta “Você considera que os argentinos conseguem se inserir na sociedade brasileira, a categoria de quase todos os argentinos foi a que apresentou uma frequência maior a 75% do total 7 Neste caso as principais categorias para representar esta característica foram muito receptivos ou completamente receptivos

4

Grande parte da amostra considera que é importante que outros argentinos residam no bairro, realizam diversas atividades que vão desde jogos de futebol e comemoração de casamentos ou aniversários, até reuniões de pequenos grupos com uma frequência semanal. Embora estes aspectos sejam destacados pelos entrevistados, eles fazem questão de explicar que estas relações sociais não se sustentam no fato de serem compatriotas, senão pelas amizades que se estabeleceram nos primeiros momentos da migração e que se nutriram em favores mútuos.

3.3 Sobre a política

A dimensão da política desdobrou-se em diversas variáveis e indicadores, tratando-se de um estudo exploratório procurou-se um questionário o mais aberto possível para identificar pontos sensíveis e, posteriormente, aprofundar neles. Num primeiro momento identificou-se que a maioria dos entrevistados manifestou ser pouco interessado ou mais ou menos interessado na política, o que explica o consumo da mídia. Eles têm um grande consumo da mídia argentina (jornais on-line, rádio, revistas, televisão), mas com pouca orientação à política. Por exemplo, eles leem mais jornais argentinos que brasileiros (mais de 70%) e conhecem mais profundamente a atualidade da Argentina que do Brasil, inclusive em relação ao bairro de Balneário Canasvieiras. Mas a preferência em relação às noticias é sempre por questões sociais e culturais, e em poucos casos se manifestou uma preferencia pelas informações de natureza política. Em relação à participação das eleições presidenciais do ano 2007, as únicas pessoas que votaram foram as que moravam na Argentina nesse momento, nenhum dos argentinos que morava no Brasil participou. Existe sim uma concordância entre o grau de interesse na política deles com as razões pelas quais não votaram. Em outras palavras, as pessoas que não estão interessadas na política votaram porque “não se interessam”, enquanto os interessados em política não votaram por causas externas a sua vontade, como trabalho ou obrigações. Em relação às eleições do ano 2011, poucos pensam participar, mas, por outro lado, demonstraram um alto grau de conhecimento dos candidatos, das campanhas e propostas. Em relação à participação política partidária um 30% dos entrevistados participaram em partidos na Argentina e só um (1) caso participou no Brasil. Em contraste, o que se definiu “participação ampla” compreendeu a metade da amostra que participou de alguma organização na Argentina, com preponderância de organizações sociais. No que refere ao Brasil, a participação “ampla” apresenta mais ocorrências que a participação formal (quase inexistente), aonde também se destacam as organizações sociais. O último aspecto significaito são as avaliações que cada sujeito fez sobre “a realidade” da Argentina e do Brasil, comparando-as segundo alguns eixos detalhados acima. Para começar, o 5

Brasil foi avaliado como melhor que a Argentina em todos os aspectos 8, exceto na educação. Evidenciaram-se algumas divergências segundo os intervalos temporais de residência, sendo que os “recém-chegados” e aqueles que migraram após e por causa da crise do ano 2001 tinham uma percepção mais negativa da Argentina que os “velhos imigrantes”. Este aspecto é importante porque, além de fornecer as avaliações e o conhecimento geral que as pessoas têm, concede informação também sobre os momentos nos quais estas pessoas migraram, se trata da última experiência de residência que tiveram na Argentina.

4 Resultados da etapa qualitativa

4.1 Sobre a identidade

Um aspecto interessante sobre a identidade é que a maior parte dos entrevistados se define como argentino que tem adotado traços culturais do Brasil, ou seja, o ponto de partida é a hibridização. A afirmação da identidade argentina se sustenta em alguns elementos e práticas que se repetem com diversa frequência. Existem três elementos significativos na hora de definir a identidade, necessariamente “opostos” às características brasileiras. Estes são: a participação política e o comprometimento político; o consumo de determinados produtos 9 e diferenças de gênero; devido ao limite de espaço deste artigo trabalharei somente o primeiro elemento. Em relação às características estritamente políticas os entrevistados se declaram comprometidos politicamente e participativos, especialmente quando moravam na Argentina. Eles “trazem junto” esta caraterística ao Brasil onde não conseguem exercer esta participação, na explicação deles, por causa “dos brasileiros”. Motivos como: “este não é meu país” ou “se eles não se importam, por que vou me importar eu?”, são elementos que justificam não só a defasagem entre representação e prática (sou comprometido e participativo, mas não me comprometo nem participo) senão que coloca claramente a ênfase negativa na “sociedade brasileira”. Estes argentinos percebem a “os brasileiros” como apáticos e desinteressados, imagem que se generaliza a quase todos os amigos e conhecidos brasileiros que eles têm. Trata-se de uma identidade estabelecida pela diferença, ou de maneira negativa, na medida em que este critério de identificação se mantém, a diferença se reforça.

8

Os eixos definidos foram: educação, economía, segurança, estabilidade, emprego, funcionamento das instituições públicas e oportunidades futuras. 9 É interessante destacar que, o consumo de produtos específicos é explicado mais como uma maneira de perpetuar costumes argentinos do que como um diferenciador próprio de cada um. Estes mecanismos de manter costumes ganham importância nos casos de entrevistados que são pais e os utilizam como meios de transmissão culturais. De todas as formas, para todos os entrevistados o consumo seletivo tem um protagonismo importante.

6

O sesgo positivo e negativo combinam-se nesta definição de identidade, eles enunciam aquilo que eles são, ao mesmo tempo em que lhes permite distinguir aquilo que é julgado como negativo “nos brasileiros”: A afirmação “sou brasileiro” [neste caso argentino], na verdade, é parte de uma extensa cadeia de “negações”, de expressões negativas de identidade [...] por trás da afirmação [...] As afirmações sobre diferença também dependem de uma cadeia, em geral oculta, de declarações negativas sobre (outras) identidades. Assim como a identidade depende da diferença, a diferença depende da identidade. Identidade e diferença são, pois, inseparáveis [...] A identidade e a diferença têm que ser ativamente produzidas. Elas não são criaturas do mundo natural [...] Somos nós que as fabricamos, no contexto de relações culturais e sociais. A identidade e a diferença são criações sociais e culturais (DA SILVA, 2003, p. 75-76).

A interpretação e uso da política como elemento funcionam como definição dupla, já que destaca a semelhança e diferença simultaneamente. O caso do comprometimento político funciona desta maneira, alguns entrevistados destacam isso como algo que eles consideram positivo “dos argentinos”, e por isso, o escolhem para se identificar. Quando a referência é aos brasileiros, eles identificam a falta de comprometimento e participação de maneira negativa, em consequência afastam-se do coletivo brasileiro. Para compreender este caráter duplo da identidade podemos retomar algumas considerações feitas por Bauman (2005)

10

e Guiddens (1994) 11. Nesta pesquisa conceitos como modernidade

liquida ou tardia não são muito favoráveis, porém eles ajuda sim a pensar uma questão central: o caráter não estático e definido da identidade: tornamo-nos conscientes de que o “pertencimento” e a “identidade” não têm a solidez de uma rocha, não são garantidos para toda a vida, são bastante negociáveis e revogáveis, e de que as decisões que o próprio indivíduo toma, os caminhos que percorre, a maneira como age [...] são fatores cruciais tanto para o “pertencimento” quanto para a “identidade”[...] a ideia de “ter uma identidade” não vai ocorrer às pessoas enquanto o “pertencimento” continuar sendo o seu destino, uma condição sem alternativa [...] As “identidades” flutuam no ar, algumas de nossa própria escolha, mas outras infladas e lançadas pelas pessoas em nossa volta, e é preciso estar em alerta constante para defender as primeiras em relação às últimas (BAUMAN, 2005, 17-19. GRIFO NOSSO).

Estes autores destacam a margem existente para uma definição própria da identidade, elemento exibido nos depoimentos dos entrevistados. Eles possuem um conhecimento das representações negativas e positivas “dos argentinos” e “dos brasileiros”, e as mobilizam para

10 Como é bem conhecido este autor considera a identidade relacionada com a progressiva dissolução de marcos que foram fixos na época da modernidade, e que nos nossos tempos atuais caracterizam-se como líquidos. 11 Como resultante do desenvolvimento da modernidade tardia. Assim os sujeitos têm a capacidade de escolher aquilo que eles querem ser e os elementos que melhor conseguem manifestar isso que eles desejam, utilizando de maneira seletiva os recursos que eles entendem como valiosos. Trata-se de: [...] novos mecanismos de identidade do eu [O eu] já não é uma entidade passiva determinada por influxos externos [a identidade se converte em uma] tarefa que terá que se realizar em meio de uma complexa diversidade de opções e possibilidades” (GIDDENS, 1994, p. 10-11, tradução nossa).

7

conformar e definir uma identidade a partir de critérios morais de aquilo que é bom e aquilo que é ruim. O uso deliberado dos elementos é fundamental para compreender como as identidades são dinâmicas e, especialmente não unidirecionais, senão constantemente transformadas e negociáveis. Em uma pesquisa realizada em Balneário Camboriú (outro referente excepcional), Lopes e Vasconcellos (2005) destacam este esforço de encontrar uma coerência na trajetória biográfica dos imigrantes argentinos. A busca se traduz em uma ressignificação das práticas, dos modos de vida, da criação de formas de se vincular ao lugar onde se mora e as pessoas que ali moram. Em outras palavras “[...] a reelaboração dos referenciais identificatórios envolve um questionamento de valores e de imagens de si e do outro [trata-se] da preservação de modos de vida da Argentina e também a negação destes modos de viver” (LOPES, VASCONCELLOS, 2005, p. 4-5). Este caráter processual da identidade, construção constante e flutuante, permite e expressa a escolha deliberada e valorativa do entrevistado, baseada no conhecimento do que cada coisa significa, para ele, para os outros argentinos e para “os brasileiros” 12. É um saber derivado das interações cotidianas, dos vínculos sociais estabelecidos, da experiência de residir no espaço de Balneário Canasvieiras por um determinado período de tempo. A escolha baseada nas características positivas e negativas lhes permite, inclusive, se afastar dos aspectos negativos dos mesmos argentinos, reduzindo-os aos “argentinos turistas”. Trata-se de uma dinâmica instalada no interior de um complexo universo, onde diversos elementos (materiais ou não) ganham e perdem importância 13 na equação que busca expressar e afirmar uma identidade nacional (WOODWARD 2003).

Neste novo espaço de constituição

identitária é necessário compreender as razões pelas quais um sujeito se identifica de uma determinada maneira e não de outra. Em outras palavras, o indivíduo passa a ser o agente legitimado para decidir que tipo de elementos ou traços culturais considera identificadores (pelos quais vai ser reconhecido por outros). Neste sentido, a identidade conjuga no seu seio um aspecto moral, ou seja, a configuração de traços escolhidos expressa um julgamento de aquilo que é bom e ruim. Em outros termos se trata de compreender a ligação entre um sujeito (gerador de valorações e representações) e um coletivo: A identidade [...] tem também esses elementos específicos de cada indivíduo e de cada comunidade étnica, religiosa ou nacional à que pertencem, e que são os que lhes propõem boas formas de vida [...] somente a pessoa que se sente membro de uma comunidade concreta, que propõe uma forma de vida determinada; somente quem se sabe reconhecido por uma comunidade deste tipo como um dos seus e cobra sua própria identidade como membro dela, pode se sentir motivado para se 12

Trabalhando sobre as contribuições de Seyferth, as autoras estabelecem que: “[os imigrantes] criam solidariedades e lealdades vinculadas, no caso aqui apresentado, ao ser argentino. O autor refere que há situações em que o indivíduo obscurece sua identidade étnica e em outras procura enfatizá-la, e que estas escolhas variam de acordo com a percepção dos sujeitos sobre o contexto sóciohistórico em que vivem” (LOPES, VASCONCELLOS, 2005, p. 21). 13 “A representação conclui as práticas de significação e os sistemas simbólicos por meio dos quais os significados são produzidos, posicionando-nos como sujeitos. É por meio dos significados produzidos pelas representações que damos sentido à nossa experiência e àquilo que somos” (WOODWARD, 2003 p. 17).

8

integrar ativamente nela. (CORTINA, 1998, p. 31-32, TRADUÇÃO NOSSA. GRIFO NOSSO).

Trata-se de não ser aquilo que é moralmente rejeitável ou que simplesmente não é estimado como valioso nos “outros” que compartilham o espaço aonde mora. As maneiras nas quais são possíveis definir a própria identidade podem traduzir-se em limites para a integração, na medida em que o indivíduo passaria a não se considerar parte do coletivo e, em consequência, não agiria em favor desse grupo. Isto pode ter diversos alcances que vão desde a participação em instituições, cumprir com determinadas obrigações civis e, num nível micro, relacionar-se com atitudes de respeito e reconhecimento orientadas aos outros. Se se trata de identidades definidas a partir “dos outros” e resulta indispensável avançar nesse sentido.

4.2 Sobre a origem dos estereótipos e a sua influencia nas relações sociais.

Para adentrar neste tema devemos definir a importância do turismo como fonte geradora de estereótipos, relações sociais e princípio organizador da vida e das atividades (SCHMEIL 1994; 2002). Um aspecto que ajuda a explicar a percepção negativa dos argentino é devido a sua grande participação no total dos turistas, que são diretamente identificados com os problemas que derivam necessariamente das condições de infraestrutura e organização dos espaços turísticos de Florianópolis, especialmente de Canasvieiras 14. “[...] A população detesta o argentino, ou gringo, como são chamados, em função dos problemas que trazem ou causam para a cidade: [...] a sujeira, por atitudes agressivas [...] até desrespeitosas” (SCHMEIL, 1994, p. 105-106). por Burgos (2009) e Fridman e Iório (2010) destacam estes efeitos do turismo argentino em Florianópolis, e especialmente Balneário Canasvieiras, preferência “dos argentinos”. Pesquisas prévias sofrem do limite de tratar somente dos turistas, tentou-se avançar em função dos argentinos que moram em Balneário Canasvieiras. Existem razões específicas que favorecem a contratação de argentinos (por outros argentinos) e empreendimentos econômicos (étnicos) na área do turismo: especialmente a língua, gastronomia, elementos que geram empatia com o cliente argentino. Levando em conta o comercio étnico e a contratação entre compatriotas é impossível negar que o protagonismo destes argentinos tem crescido ao longo do tempo 15.

14

“O turismo, na alta temporada, tem se expressado de uma forma visivelmente desorganizada, ou não planejada; o que transforma a vida da população local num verdadeiro caos. A infraestrutura existente não é adequada para o atendimento da população que na cidade desembarca [...] enquanto os habitantes da cidade não possuírem clareza de que deveríamos ter mais benefícios que prejuízos com o turismo [...] os maiores atacados serão os turistas, mas diretamente os “gringos” como pejorativamente são conhecidos os turistas argentinos em Florianópolis” (SCHMEIL, 1994 Apud BURGOS, 2009 p. 111) 15 Como explica Harguindeguy (2007) no caso de Armação dos Búzios “[...] pode-se afirmar que os argentinos, que agora fazem parte da imagem/paisagem do município contribuíram para o seu crescimento e desenvolvimento como cidadãos, embora nem sempre se sintam como tais” (HARGUINDEGUY, 2007, p. 86, grifo nosso).

9

Para resumir, os principais efeitos socioeconômicos do turismo são: 1) Modifica o espaço público, gera problemas urbanos, trânsito e congestionamento pela quantidade de pessoas (SCHMEIL, 1994), o espanhol ganha espaço e preponderância frente ao português. 2) Estrutura os “períodos” de trabalho e atividades dos argentinos que trabalham com turismo, produz um grande benefício e oportunidades em temporadas altas e salários reduzidos e “momentos tristes” em temporadas baixas. 3) O aumento ou detrimento de atividades econômicas segundo as temporadas turísticas atualizam de diferentes maneiras os laços estabelecidos entre os argentinos ligados a esta atividade 16. 4) É a fonte geradora de conhecimento prévio do espaço geográfico que salienta geralmente a decisão de migrar. Todos os entrevistados tinham vindo pelo menos uma vez a Balneário Canasvieiras e, em alguns dos casos, permitiu o estabelecimento de relações sociais prévias que lhes permitiram conseguir emprego posteriormente. Tendo identificado as principais fontes e dinâmicas de produção de representações e estereótipos positivos e negativos é preciso, agora, reconhecer as maneiras nas quais eles podem influenciar, ou não, as relações entre argentinos e brasileiros. Conjuntamente deverão identificar-se algumas características dos vínculos que se tecem entre os entrevistados e a percepção que eles têm das relações entre os argentinos que fazem parte do seu universo representacional. O pano de fundo desta dinâmica é que Florianópolis também se apresenta como uma singularidade migratória, o que foi destacado pelos entrevistados. Segundo eles pessoas provenientes de São Paulo e gaúchos são iguais de estranhos como o não nacional 17. Em outras palavras “[...] no espaço florianopolitano, as identidades nacionais tendem a se sobrepor a outras fontes mais particularistas de identificação cultural” (BURGOS, 2009, p. 106). Talvez uma boa maneira de sintetizar como o estereótipo “do argentino” é mobilizado é o uso da palavra “gringo”, como termo pejorativo para se referir ao estrangeiro. Todos os entrevistados utilizam a palavra, reconhecem a sua conotação pejorativa que vai além do fato de ser estrangeiro; ela expressa de alguma maneira aquele que é reconhecidamente diferente “dos brasileiros”. Interessante é que eles utilizam essa palavra para referirem-se a si mesmos, e para fazer referência a outros argentinos também. Um achado interessante foi o fato de que os argentinos radicados em Balneário Canasvieiras, expostos às dificuldades e incomodidades provocadas pelos outros argentinos, mobilizam o termo “gringo” em chave pejorativa para se referir a outros argentinos e,

16 Nos chamados “momentos difíceis ou tristes” alguns argentinos se encontram, se acompanham e ajudam. Em momentos de muita atividade econômica eles se procuram, se indicam para dar prioridade à contratação de outro argentino 17 É possível aqui citar o caso do CTG (Centro de Tradições Gaúchas) fundado em Novembro do ano 2000, no bairro de Balneário Canasvieiras, que gerou uma série de atitudes reacionárias por parte dos “nativos” de Canasvieiras e Florianópolis, que se traduziu em parte em uma série de debates no jornal A Notícia. Teve lugar uma contínua publicação de opiniões que rejeitavam não só ao gaúcho “de chapéu e bota” senão a todos aqueles que tinham costumes culturais diferentes aos autodefinidos manezinhos. Foi evocado um passado em comum, hábitos alimentares, preferências musicais, entre outros. Esta onda de reações culminou na definição binária entre açorianos e gaúchos (LARENTES DA SILVA, 2003, p. 211-223).

10

inclusive, a outros brasileiros que migraram para o espaço do bairro. O recurso ao termo “gringo” esta sempre presente, inclusive, em casos de pessoas altamente integradas. Considerando as maneiras reflexivas de constituição das identidades, é interessante considerar como elas podem (ou não) funcionar como fatores que podem levar à constituição de grupos ou comunidades étnicas (HALL 2008; ELIAS E SCOTSON 2000; DA SILVA 2003). Estes desdobramentos encontram-se ausentes 18 no caso dos argentinos que participaram da presente pesquisa. É possível estabelecer que não existe entre estes argentinos tendências a formar grupos ou instituições como no caso de Balneário Camboriú, que poderiam funcionar como fontes geradoras de sociabilidade, ajuda e auxílio. Não devemos enganar-nos, como afirma Hall (2008), não devemos supor que a formulação de comunidades é um resultado mecânico da existência de imigrantes em um determinado espaço. Isto destaca os limites da lógica de constituição da identidade como “nós” e “eles” (DA SILVA 2003). Aparecem formas de distinção binária, que auxiliam na hora de “escolher” os elementos com os quais os entrevistados vão se identificar, e até estabelecem uma hierarquização e normalização de traços culturais expressados em juízos de valor e rejeições. Mas a afirmação positiva da identidade não alcança para gerar laços e vínculos necessários para caminhar em direção a uma integração mais profunda entre “os argentinos”. Os tipos de atividades compartilhadas, as razões pelas quais eles se encontram e os motivos que os levam a entrar em contato não fornecem um solo fértil para a constituição de grupos consolidados. Porém emerge outro aspecto importante: as diferenças entre brasileiros e argentinos passam eventualmente a segundo plano na cotidianidade e nas interações rotineiras do contexto do bairro. As relações sociais que se tecem no espaço geográfico circunscrito, as amizades, os empregos compartilhados, fazem com que o pertencimento seja um sentimento definido em termos do bairro, sustentadas na rotina e as interações cotidianas. O coletivo ao qual os entrevistados pertencem é estritamente falando: o bairro, sem diferenciar entre brasileiros e argentinos. O bairro é o que outorga reconhecimento e trajetória, esta referência de pertencimento responde diretamente ao emprego (aqueles que trabalham no turismo) e ao tempo de residência (os que moram há mais tempo se sentem mais reconhecidos e parte do bairro que aqueles que moram há menos tempo).

18 Este dado contrasta diretamente com os resultados obtidos por Lopes e Vasconcellos (2005) já que no caso de Camboriú existem sim duas instituições grande importância: o Círculo Argentino e a Fundação República Argentina. É preciso destacar aqui que, nas eleições presidenciais do ano 2011, o Consulado Argentino em Florianópolis conseguiu constituir uma mesa eleitoral na cidade de Camboriú, sendo uma exceção ao regulamento estabelecido. Segundo dados extraoficiais, o Consulado requereu a ajuda do Círculo Argentino para organizar uma mesa eleitoral nessa cidade, devido à grande presença de argentinos ali radicados. Estas instituições funcionam como redes de sociabilidade que ajudam a conseguir moradia, emprego, ajuda financeira, consultoria sobre vistos, contatos familiares (LOPES; VASCONCELLOS, 2005, p. 16).

11

Devemos refletir sobre a importância do espaço geográfico próximo e reduzido aonde se inserem as interações rotineiras, permanentes, reduzidas e locais. Resgatando a Granovetter (2007) são: “[...] laços que são pensados como fracos, porque são pessoais, reduzidos e intermitentes, acabam gerando uma integração mais forte ou com maior presença que os laços que são pensados em termos macro. Estes laços, às vezes, acabam sendo os únicos existentes; são estabelecidos a partir do conhecimento pessoal e seu alcance só consegue conectar até uma terceira ou quarta pessoa. Os laços definidos como fortes são aqueles gerados a partir de um conhecimento pessoal profundo, por uma quantidade generosa de tempo compartilhado e por uma intensidade emocional significativa (GRANOVETTER, 2007, p. 1361).

Aos laços fortes/ macro – a identidade nacional – contrapõem-se os laços fracos. Estes permitem por sua vez um conjunto de interações que, pela sua curta duração, pela falta de conhecimento profundo, contribuem em certo grau a uma integração social diferente mas não menos importante. Elias e Scotson (2000) também insistem na importância de considerar as relações sociais numa escala comunitária, entendida por eles como os laços definidos pela proximidade entre as pessoas, no espaço geográfico reduzido e a cotidianidade 19. A partir das dinâmicas de interações específicas de Balneário Canasvieiras, é possível identificar lógicas de diferenciação identitária – “nós” e “eles”. Mas também permite observar que esta diferenciação em grupos não avança em direção a uma constituição efetiva dos mesmos. Pelo contrário, os vínculos caracterizados por uma gestação “comunitária”, como eles a definem, são os cimentos de uma integração significativa sentida por alguns dos entrevistados em relação ao bairro. Em outras palavras, “[foram] as atividades sociais as que vincularam as pessoas juntas em relações íntimas, e as que também as ligaram a terra; as que deram à localidade sua identidade e lugar particular” (SORENSEN, 1997, p. 149). Trata-se de compartilhar o espaço, empregos semelhantes e experiências específicas. Este sentimento de pertencer ao bairro, e não a um coletivo maior, tem um grande valor já que permite compreender de que maneira estes entrevistados estão integrados a um espaço social. Sendo assim, eles contribuem à reprodução dos contextos e sociabilidades próprios desse espaço local. Como explica Appadurai (1996), a localidade é o espaço e o conceito que nos permite compreender a importância das relações sociais de escala reduzida, na reprodução de representações sociais e suas cargas valorativas.. Eles respondem ao influxo histórico de determinados eventos (o turismo argentino) 20 e, inseridos dentro dessas relações sociais definidas e caracterizadas, acabam fazendo parte do contexto social, da vizinhança (neighborhoods) e de uma dinâmica que, por sua vez, os 19

“O que importa é reconhecer que os tipos de interdependências, estruturas e funções encontrados nos grupos residenciais de famílias que constroem lares com um certo grau de permanência suscitam problemas próprios, e que o esclarecimento desses problemas é central para a compreensão do caráter específico da comunidade” (ELIAS; SCOTSON, 2000, p. 166). 20 “Yet this dimensional aspect of locality cannot be separated from the actual settings in and through which social life is reproduced [...] the production of neighborhoods is always historically grounded and thus contextual” (APPADURAI, 1996, p. 182).

12

define. É a vizinhança o que atribui valor a determinadas práticas, identidades e valores dos sujeitos que ali residem, o que faz compreensível que alguns destes entrevistados se sintam identificados e próximos ao bairro e, paralelamente, longe e diferente das pessoas brasileiras que conhecem e ali moram. Segundo Sorensen (1997) a alternativa é privilegiar a capacidade dos imigrantes de construir um sentimento de pertencimento ao lugar aonde eles tenham migrado, em detrimento da clássica ideia de nostalgia pela terra perdida. Os imigrantes são pensados, então, como sujeitos ativos capazes de gerar laços com o espaço e vínculos entre eles. Mas esta possível aproximação entre os imigrantes não se deve necessariamente ao fato de que eles provenham do mesmo país, é preciso que eles tenham compartilhado muito mais. É preciso a existência de um passado comum, de identidades definidas e lugares em comum 21. Pensando em termos de Sorensen é possível deduzir que a ausência de proximidade entre os argentinos de Balneário Canasvieiras derive do fato de que anteriormente, ou seja, antes de migrar, existiam laços fracos, em termos de identidade compartilhada ou sentido de pertença. Uma maneira de explicar a fraqueza desses vínculos preexistentes no país de origem é avaliar as imagens ou percepções que os entrevistados têm sobre a Argentina. Poderia se pensar que a identidade argentina sofreu um afrouxamento anterior à migração a partir da deterioração percebida do país em algumas dimensões. Em outros termos, se o sujeito avalia de maneira negativa a Argentina, e considerando o grau de escolha e uso reflexivo dos elementos identitários, ele pode escolher se afastar dessa identificação nacional. Ou seja, ele não vai querer se identificar com uma coisa que ele concebe como ruim. Isso deve ser acompanhado por outro aspecto importante: o momento – e as possíveis causas – que levou ao sujeito a migrar. Estas podem ajudar a compreender essas percepções do país, e contribuir a identificar se existe, a partir disso, um afrouxamento da sua identidade em termos de nacionalidade.

4.4 As percepções do país de origem como recurso explicativo.

A análise das “imagens” da Argentina nas narrativas dos entrevistados tentou compreender de maneira mais profunda aquela comparação feita pelos argentinos no questionário. Tentou-se verificar se estas imagens do país estariam influenciadas pelo último momento em que se morou no país, ou seja, se o último contato condicionou de alguma maneira o que os entrevistados pensam da 21

“[...] eles não sofreram um deslocamento como uma perda de sentido [...] eles não compartilham nenhum passado ou lugar de procedência. Devido ao fato deles terem vindo de diversos lugares, faz com que eles não compartilhem experiências [...] e por isto eles não podem facilmente transformar as suas experiências individuais em uma narrativa coletiva e estandardizada do passado” (SORENSEN, 1997, p 153, tradução nossa).

13

Argentina e como explicam estas características. Isto é importante no caso de pessoas que migraram sob a pressão de um momento de crise, aonde a melhor (ou talvez a única) escolha era sair do seu país. Mas também foi considerado o fato de que vários deles conseguem viajar com diferentes frequências à Argentina, o que fornece um contato que pode atualizar as representações sobre o país. O principal resultado é uma caracterização da Argentina constante e atemporal. A instabilidade econômica e/ou política foi o aspecto que teve mais presença e que implica para estes entrevistados que crises institucionais fortes, golpes de Estado, panelazos, podem se repetir em qualquer momento no país. A sensação de esgotamento, conflitos e enfrentamentos na esfera política é considerada por alguns entrevistados como um aspecto estrutural da Argentina, exemplificado pela confrontação de facções e a incapacidade de formular e efetuar políticas e planos em longo prazo. Os casos de argentinos que migraram como consequência da crise do ano 2001 exibem uma imagem muito forte dela, dos problemas e do alto nível de dificuldade que tiveram para sobreviver àquela crise. Os conflitos que acompanharam o desenvolvimento da crise ajudam a compreender porque para estas pessoas emigrar a outro país pareceu a melhor escolha, considerando especialmente que os efeitos da crise atingiram o país em toda sua extensão. A lembrança desta crise se traduz claramente na suspensão de contratos e a falta das garantias básicas por parte das instituições públicas. Um aspecto que ganha importância aqui é a maneira na qual os entrevistados relacionam as características enunciadas dos governos e do país com a sociedade argentina, vínculo reforçado pela democracia que acaba fazendo com que esse seja “o governo que o povo merece”. Esta questão é significativa já que funciona como uma identidade negativa, eles não estão lá, eles não participaram das eleições, e como resultado, aquelas características ruins do governo e do país não estão ligadas a eles senão aos argentinos que moram lá. Em termos de pertencimento isto aparece como um divisor de águas porque enquanto se trate de aspectos negativos se observa um afastamento identitário por parte destes entrevistados. Para estes argentinos não existe um passado ao qual eles gostariam de voltar; pelo contrário, o que eles descrevem é uma situação do país atualmente negativa e historicamente instável. Ou seja, que não se trata de esperar até o momento passar, até a crise terminar, a maior parte dos aspectos mencionados se mantém no tempo e acabam sendo estruturais. Não existe então uma nostalgia que alimente um sentimento de voltar ou um sentimento de perda do lar ou da origem. Como bem colocou Sorensen (1997) não devemos pensar nos imigrantes somente como sujeitos que têm perdido a sua origem e que vivem reproduzindo e evocando um lugar e um passado que tragicamente perderam. Reincidir em pensar a disjunção do presente e do passado de maneira 14

dramática acaba colocando necessariamente uma ênfase no passado que pode obliterar a riqueza de um processo de integração e de pertencimento no presente. Os fatores que definem a “realidade” argentina acabam funcionando como mecanismos para afastá-los da Argentina, considerada como uma totalidade. A instabilidade política e econômica não são somente elementos que atrofiam as projeções ao futuro, individuais e familiares, senão também a causa da crise do ano 2001, de desrespeito às garantias básicas dos indivíduos, dissolvendo a importância e as capacidades das instituições. Paralelamente, a corrupção e o esgotamento da esfera política, a agressividade e os conflitos, são vistos como características gerais, mas alheias a eles. Assim os governos definidos como negativos se derivam necessariamente das escolhas realizadas pelos outros argentinos, os que moram no país e os que votaram.

4.3 Sobre a escolha da cidadania e a naturalização.

Como último aspecto analisado aqui é preciso refletir sobre a escolha da naturalização, considerando que a maior parte dos entrevistados encontra-se em condições de requerer este procedimento. O interrogante refere às razões para procurá-la ou não. Da pesquisa resultaram três posições gerais dos entrevistados: 1) a primeira posição aparece como uma relação instrumental, de um meio para um fim, aonde a nacionalidade brasileira parece uma boa escolha para conseguir um emprego melhor ou passar um concurso; 2) a segunda posição é a rejeição da naturalização a partir da afirmação da identidade argentina essencialista, não é possível escolher ser outra coisa do que se é; 3) a terceira posição, o único caso de um naturalizado, exibe a hibridez da identidade expressada na dupla pertença 22. Existem então diversas relações entre o sentimento de identidade e a sua tradução em um status formal de pertencimento, neste caso, a naturalização. A primeira posição em relação a isso talvez seja a que gere mais conflito, já que se encontra afastada do ideal normativo de relação direta entre estes dois polos. Há uma mediação entre o polo da identidade e o status legal, que se desdobra naqueles fins ponderados pelos entrevistados. Isto traduz aquela afirmação de que “parte da particularidade dos indivíduos resulta das maneiras nas quais eles integram, refletem e modificam sua própria herança cultural” (GUTMANN, 1994, p. 7). Em outras palavras, estas pessoas reconhecem a sua procedência e herança cultural, mas a modificam, segundo os benefícios e as perdas. Em contraste, a segunda posição não consegue fugir da relação direta entre a identidade e status legal, é o fato das entrevistadas explicarem que elas não vão se naturalizar como brasileiras pelo simples fato de serem outra coisa, “argentinas”. 22 Dario avalia como importante a opção de participar politicamente que a nacionalidade brasileira lhe proporciona, mas ele define a sua identidade como argentino e só aceitou a nacionalidade brasileira quando soube que não perdia a argentina.

15

O raciocínio que devemos tentar reconstruir aqui é aquele que coloca em diálogo a ideia de pertencimento traduzido em uma identidade nacional, com a categoria de cidadania como o status baseado na nacionalidade. Tratando-se de definir o pertencimento de uma pessoa, é preciso voltar sobre a definição de nação, que classicamente tem sido pensada como: [...] uma comunidade política imaginada – e que é imaginada ao mesmo tempo como intrinsecamente limitada e soberana. É imaginada porque até os membros da mais pequena nação nunca conhecerão, nunca encontrarão e nunca ouvirão falar da maioria dos outros membros dessa mesma nação, mas, ainda assim, na mente de cada um existe a imagem da sua comunhão [...] Em última análise, é essa fraternidade que torna possível que, nos últimos dois séculos, tantos milhões de pessoas, não tanto matassem, mas quisessem morrer por imaginários tão limitados (ANDERSON, 2005, p 25- 27, TRADUÇÃO NOSSA).

A questão central aqui é o caráter imaginado da nação. E por ele devemos compreender: construída, mantida e atualizada constantemente por uma série de mecanismos exercidos ao longo do tempo em âmbitos simbólicos e culturais. Neste sentido, como expressa Smith (1993), alguns componentes devem ser reconhecidos na constituição dos Estados nação de ocidente, definidos como “[...] uma população humana nomeada que compartilha um território histórico, mitos e memórias históricas comuns, uma cultura pública e massiva, uma economia e direitos legais comuns assim como obrigações para todos os membros” (SMITH, 1993, p. 14, tradução nossa). Assim as gerações de cidadãos são as responsáveis por continuar e reproduzir aquela memória coletiva, por meio de uma história comum, língua, costume, valores, etc. Considerando isto, é necessário voltar sobre a etnicidade entendida como um sentimento de pertencimento a um grupo a partir de elementos como origens, história e cultura. Em outras palavras, se trata do sentido sociológico da nacionalidade que se justifica e emana dessa bagagem cultural compartilhada que se reproduz e atualiza de maneira cotidiana, alimentando a identidade das pessoas. Então, referente à primeira posição detalhada, os entrevistados manifestam que poderiam tranquilamente se desprender da sua identidade argentina e assumir a brasileira se isto fornecesse algum beneficio para eles. Isso não só traduz um afrouxamento da sua identidade argentina, da qual dispensariam por um objetivo determinado, como também implica uma identidade brasileira fraca que careceria de sustento, já que os motivos que levariam a adotá-la são instrumentais e não derivam de uma definição individual da identidade. Por isso, eles se contrapõem ao segundo grupo, que manifesta um status legal escolhido a partir de um critério identitário, ou seja, que seu grau de pertencimento encontra-se sustentando pela apropriação dos elementos culturais mencionados no conceito de nacionalidade. O último, e único, caso apresentado se encontra em consonância com a segunda posição definida, já que também mantém uma relação direta entre o polo da identidade e o status legal. Embora ele tenha se decidido a optar pela naturalização brasileira para obter um emprego público, 16

manifesta com muita intensidade o seu desejo de participação política, compreende o voto como um direito e acredita que a participação é uma obrigação de todos. A sua identidade argentina é definida por meio de sentimentos, de manter uma língua, práticas e conhecimento sobre o país que são até ensinados para seus filhos. Dario (nome de fantasia) pertence a dois países porque se sente parte dos dois, ele sente a necessidade e o direito de participar em ambos os espaços nacionais, porque acredita fazer parte deles. A importância de destacar a primeira posição é o fato de que demonstra a dissolução dos fundamentos que levam a um Estado-nação, neste caso o brasileiro, a integrar a um estrangeiro que cumpre com os requisitos estipulados. Estes mecanismos são os que, na perspectiva de Habermas, sustentam o controle do Estado da expansão da comunidade política o que, em última instância, visa gerar uma base de lealdade por parte dos cidadãos para a manutenção das instituições (HABERMAS, 1994, p. 137 - 138). Em outros termos: o estrangeiro que está em condições de conseguir a naturalização é aquele que cumpre com os requisitos que, segundo o Estado e a Constituição, garantem um mínimo de conhecimento e tempo de residência que lhe permite o status de cidadão. Aquela garantia mínima derivada dos complexos critérios estipulados pelo Brasil para conceder a nacionalidade se dissolve frente a estes casos de entrevistados que decidem de maneira instrumental sobre uma condição que hipoteticamente deveria traduzir um vínculo de pertencimento.

5 Conclusão

Até aqui se tentou resgatar alguns dos elementos centrais de uma ampla pesquisa desenvolvida ao longo de dois anos. Colocou-se especial ênfase na dimensão política por dois motivos centrais: a) por uma parte foi um aspecto emergente ao longo do trabalho de campo que, graças às metodologias ascendentes, ganhou um destaque nas explicações em relação aos mecanismos de identificação e diferenciação dos imigrantes argentinos no Brasil. b) geralmente é uma dimensão que necessariamente acaba por ser pouco trabalhada nos estudos migratórios devido à existência de grandes quantidades de indivíduos em condições de indocumentados ou irregulares. Considerando que a cidadania é a expressão política do vínculo de um nacional com seu Estado, a primeira vista parece pouco produtivo pesquisar sobre a dimensão política em estrangeiros que não têm obtido a cidadania. Porém, neste caso acabou sendo o principal eixo estruturador das dinâmicas de constituição e atualização da identidade. Em relação ao pertencimento entendido como fenômeno que excede as categorias formais de definição (cidadania, direitos, residência, etc.) foi possível identificar uma serie de aspectos 17

interessantes. No caso dos argentinos residentes em Balneário Canasvieiras o pertencimento é nutrido principalmente por um sentimento local, engajado no espaço geográfico restrito do bairro, e não em termos nacionais ou culturais. A existência de um grande número de imigrantes argentinos não tem resultado um solo fértil para a conformação de comunidades, grupos constantes ou instituições de apoio e auxilio, como nos casos de outros espaços ou grupos migratórios. Esta tendência inexistente é explicada pelo afrouxamento das identidades nacionais prévias à migração, devido às experiências de crises, esgotamento da esfera política e a herança de uma história socioeconômica e política que define estas características como constantes e estruturais no país de origem. Adicionam-se a isto complexas dinâmicas de constituição de estereótipos sobre argentinos, nutridos e atualizados pelas experiências históricas do turismo. E sobre brasileiros, sustentados principalmente em características reconhecidas pelos imigrantes do “povo brasileiro”, julgadas negativas desde uma perspectiva moral, das quais eles se afastarão. O caráter lábil, dinâmico, valorativo e deliberado da identidade emerge como a principal conclusão deste trabalho. É possível observar um critério moral que determina e autoriza as escolhas dos elementos que passarão a definir as identidades dos indivíduos, que, por sua vez, se sentem autorizados para avaliar e escolher elementos e representações. Existe claramente uma defasagem entre representações e práticas que o leitor poderá identificar. No caso da etapa quantitativa um dos aspectos que emergiu claramente foi o declarado desinteresse na política (expressado especialmente nos consumos culturais). Em contraposição apareceu um amplo conhecimento sobre a atualidade política do país de origem; mas também as características de participação e comprometimento político são os principais diferenciadores entre argentinos e brasileiros. Esta discussão, como menciona Cortina (1998) permite refletir que “[...] a atual proposta filosófica do multiculturalismo vem muito marcada por um caráter reivindicativo, mas referido à dimensão legal e política do conceito de cidadania que à dimensão social e civil” (CORTINA, 1998, p 192). Em outras palavras, a autora chama a atenção para que a problemática referida ao multiculturalismo tenha mais a ver com a afirmação dos direitos do que com uma questão de identidades coletivas, diferenciadas a partir de critérios étnicos e culturais. Isto leva a considerar a importância de compreender os processos por detrás das categorias formais que necessariamente definem as populações dos estudos migratórios. A primeira vista poderíamos descartar a importância da dimensão política no caso destes imigrantes, devido ao fato do status de residente. Porém ela se demonstra uma fonte de significados indispensável para compreender não só as questões identitárias, senão as escolhas e adoções de diversos status por parte dos imigrantes. 18

Reconhecendo as limitações deste estudo e as necessárias pesquisas futuras, o principal objetivo da pesquisa conseguiu ser satisfeito a partir da compreensão da natureza dos laços identitários estabelecidos entre imigrantes argentinos e a sociedade brasileira. Compreendendo que os aspectos políticos têm neste cenário uma centralidade unívoca e uma ubiquidade indiscutível, tal vez seu principal aporte seja arguir não só o uso de categorias formais para futuros estudos. Senão a necessidade de pensar os atuais paradigmas, como o multiculturalismo, para a compreensão de fenômenos característicos da globalização, como são as migrações internacionais.

19

Referencias bibliográficas: ANDERSON, Benedict. Comunidades imaginadas: Reflexões sobre a origem e a expansão do nacionalismo. Portugal: Perspectivas do Homem, 2005. APPADURAI, Arjun. Modernity at Large. U.S.A: Minnesota University press, 1996 BAUMAN, Zigmund. Identidade: Entrevista a Benedetto Vecchi. Rio de Janeiro, Zahar. 2005 BURGOS, Nadia. Trajetórias migratórias e redes sociais: a mobilidade espacial de professores universitários argentinos para Florianópolis(SC). Dissertação em Geografía. UFSC. Florianópolis SC Brasil. 2009 CORTINA, Adela. Ciudadanos del mundo: Hacia una teoria de la ciudadania. Espanha: Alianza, 1998. DA SILVA, Tomaz Tadeu (Org). Identidade e diferença: A perspectiva dos estudos culturais. Petrópolis: Editora Vozes, 2003. p. 73 – 102. ELIAS, Norbert; SCOTSON, John. Os estabelecidos e os outsiders. Rio de Janeiro: Zahar, 2000. FRIDMAN, Anália; IÓRIO, Érika. Argentinos em Florianópolis: processos singulares na significação do “ser estrangeiro”. Complexo superior de Santa Catarina. CESUSC. Faculdade de Ciências Sociais de Florianópolis. FCSF. Curso de Graduação em psicologia. 2010 HABERMAS, Jùrgen. Struggles for recognition in the Democratic Constitutional State. In TAYLOR, Charles. Multiculturalism. New Jersey : Princeton University Press, 1994. p. 107 – 148 HALL, Stuart. Da diáspora: Identidades e mediações culturais. UNESCO. Brasil: Editora UFMG, 2008. GRANOVETTER, Mark. The strength of weak ties. The American Journal of Sociology. v. 78, n. 6, 2007, http://links.jstor.org/sici?sici=0002p. 1360-1380. [on line] Disponível em: 9602%28197305%2978%3A6%3C1360%3ATSOWT%3E2.0.CO%3B2-E Acesso em: 10 out.2010 GIDDENS, A Modernidad e identidad del Yo. Barcelona: Península, 1994. GUTMANN, Amy. Introduction. In TAYLOR, Charles. Multiculturalism. Princeton University Press: New Jersey, 1994. p. 3 – 24. LOPES, Stella Maris; VASCONCELLOS, Maria. Trajetórias na cidade: experiências de migrantes argentinos na cidade de Balneário Camboriú, SC. Encontro Anual da ANPOCS, 29. 25 – 29 out. 2005. SCHMEIL, Lilian. Alquila-se uma isla: turistas argentinos em Florianópolis. Dissertação em Antropologia. UFSC. Florianópolis SC Brasil. 1994. __________, Lilian. Aquila-se uma isla. In FRIGERIO, A ;RIBEIRO, G.L (orgs.) Argentinos e brasileiros: encontros, imagens e estereótipos. Petrópolis: Vozes, 2002. p. 71-94. SMITH, Anthony. National idetity. U.S.A.: Nevada University Press, 1993. SORENSEN, Birgitte. The experience of displacement. In FOG OLWIG, Karen; HASTRUP, Kirsten (Org) Siting culture: the shifting anthropological object. London: Toutledge, 1997. p. 142 – 164 WOODWARD, Kathryn. Identidade e diferença: uma introdução teórica e conceitual. In DA SILVA, Tomaz Tadeu (Org). Identidade e diferença. A perspectiva dos estudos culturais. Petrópolis: Editora Vozes, 2003. p. 7 – 72.

20

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.