A POSSE DO DISCURSO

May 22, 2017 | Autor: Cassandra Veras | Categoria: Historia Social, Autoria, Antropologia
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A POSSE DO DISCURSO Cassandra Véras Doutora em Sociologia pela Universidade Federal da Paraíba [email protected]

Índios guerreiros [BN RES. 366 P.]1

para Fábio Bezerra in memoriam

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Resumo O objetivo deste trabalho é levantar algumas questões relativas ao autor e à autoria, dirigindo a elas um olhar contemporâneo, acatando e atacando o tema da “autoridade” como uma problemática recolocada pela pósmodernidade, tendo como base a bibliografia e as discussões travadas na disciplina História social e cultura: diálogos com a sociologia e a antropologia. Mais explicitamente, pretendo atacar a questão da autoridade em alguns flancos, usando como munição algumas ideias de Caldeira (1988). Ela me ajudará a perscrutar a presença do autor nos textos das ciências sociais, em especial a antropologia.

Abstract The objective of this work is to raise some questions related to the author and the authorship, driving them a contemporary look, obey and disobey the theme of “authority” as a problematic replaced by postmodernity, based on the literature and discussions in discipline Social History and Culture: dialogue with sociology and anthropology. More explicitly, I intend to approach the issue of authority in some flanks, using as ammunition some ideas of Caldeira (1988). It will help me to peer into the presence of the author in the text of the social sciences, especially anthropology.

Introdução Os textos antropológicos são especialmente sensíveis às questões relacionadas com a autoridade porque lidam (ou durante muito tempo, lidaram) com sociedades ágrafas, cujas culturas em muito se diferenciam das culturas de seus pesquisadores. Como então “dar voz” a esses indivíduos? É possível “dar voz” a alguém? Como um autor pode melhor representar o seu objeto de estudo, tendo esse objeto uma fala própria e carregando seus próprios sentidos? É possível fazer essa representação? Até que ponto a pesquisa etnográfica seria uma violação dessas culturas já que sabemos que o trabalho antropológico esteve, por vezes, ligado a colonizadores e conquistadores? Ou, aproveitando as colocações de Ginzburg (1989), quanto de inquisidor existe em cada antropólogo? Para além dessas questões políticas e éticas, há ainda algumas outras, relativas ao autor, que eu gostaria de (re)lançar: O que é um autor? Que tipo de autor é aquele que escreve obras históricas, antropológicas, sociológicas? E aquele que escreve teoremas matemáticos, fórmulas da Física ou tratados sobre oncologia? Esses autores são diferentes do autor que escreve “ficção”? Qual é a linha que separa literatura, obras poéticas e ficcionais da escrita que se diz “escrita sobre o real?” Não tenho a pretensão de nesse pequeno trabalho obter as respostas, mas provocar um momento de reflexão.

A presença de Teresa Caldeira

Especificamente com relação à presença do autor nas obras antropológicas, Caldeira (1988) buscou avaliar as modificações relativas a essa produção preocupando-se principalmente em observar para que novas alternativas as críticas apontam.

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A função do autor não se dá sempre da mesma maneira em diferentes sociedades e em relação a distintos discursos, como afirma Foucault (1992). Na modernidade a presença do antropólogo profissional, tanto no trabalho de campo quanto no texto etnográfico, foi essencial para a constituição do conhecimento antropológico. O “estive lá” dava ao texto a necessária autoridade. Mas essa presença é ambígua, já que o autor precisa, ao mesmo tempo, mostrar-se, revelando sua experiência pessoal, e esconder-se, garantindo a objetividade. Esta ambiguidade é a marca da presença do antropólogo nos textos. Na antropologia clássica a presença do antropólogo é excessiva e a ausência que podemos notar é a do questionamento sobre a sua inserção no campo, no texto e no contexto em que escreve. A ambiguidade, portanto, repousa no fato de sua presença excessiva como autor e na sua ausência como autocrítico. No outro extremo desta postura, na crítica americana contemporânea, os “meta-etnógrafos” são aqueles que tomam como seu “outro”, como seu objeto de estudo, os próprios textos etnográficos. O modelo clássico, a partir dos anos 1920, possibilitado, inclusive pelo encontro colonial, ignorava o caráter da relação de poder que se estabelecia entre essas duas sociedades. Com o desmantelamento dos impérios coloniais e o surgimento das sociedades complexas o “Terceiro Mundo” passou a ser um objeto antropológico por excelência. A mudança foi também teórica: os antropólogos tiveram que aprender não só como representar ex-povos coloniais, mas também compreender a representação de si/em si. Antropólogos clássicos como Malinowski constituíram a figura do antropólogocientista, aquele que através da imersão no cotidiano de outra cultura pode chegar a compreendê-la. Nesse processo de legitimação do método elaboraram conceitos como o realismo etnográfico, onde as culturas eram totalidades que deveriam ser recompostas pelo antropólogo e descritas como tais, embora não se apresentassem à experiência dessa maneira. Cada uma dessas formas de abordagem de seus objetos construía uma figura de autor, do sujeito capaz que se imiscui em outras culturas e adquire autoridade para falar sobre elas, descrevê-las, interpretá-las. Os autores buscam, com as convenções textuais, imprimir autoridade aos seus textos. Podemos perceber, por exemplo, nas etnografias clássicas, técnicas como as que se seguem: o texto está, em geral, estruturado sequencialmente; o antropólogo se retirava do texto acreditando imprimir com isso mais neutralidade, e, portanto, cientificidade, ao seu texto; o uso da terceira pessoa coletiva e a exposição da própria figura relegada a posições marginais no texto (apêndices, prefácios, notas de rodapé fotos, mapas e desenhos); o indivíduo não tem lugar na etnografia realista sendo representado pelo “povo”, por “indivíduos típicos”; é enfatizado o caráter de realidade das vidas retratadas em detalhes da vida cotidiana; apresenta4

se não o ponto de vista do antropólogo, mas o ponto de vista nativo e faz-se uso constante das generalizações; o que era particular rapidamente vira típico e ocorre com frequência o uso de jargões; por fim podemos ainda citar a utilização da exegese de termos conceituais nativos como forma de reafirmar-se a competência linguística do antropólogo. Através dessas convenções técnicas ia-se construindo um tipo de autor. Segundo a crítica pós-moderna o uso das convenções, a re-elaboração da experiência de campo, levam a uma visão deformada tanto das culturas, quanto da experiência do antropólogo junto a outras culturas: o que era uma experiência de campo fragmentada e diversa acaba sendo retratado como um todo coerente e integrado. A experiência pessoal é simultaneamente, e paradoxalmente, evocada para legitimar os dados, e afastada para legitimar a análise. Para os críticos pós-modernos, esse distanciamento não é consequência desavisada ou aleatória na construção do conhecimento antropológico, mas parte do que se pretendia conseguir com esse conhecimento a partir dos anos 1920. Quanto poder tem um autor? O quanto o discurso escrito tem o poder de influenciar a sociedade onde ele é gerado? O que dá a alguém a “posse” de um discurso? Por que alguns discursos são mais “importantes” que outros? Por que alguns autores são mais “ouvidos”? Até que ponto as leis são capazes de “proteger” e de validar um autor? Enquanto faço, ao lado de Caldeira (1988), a análise do discurso antropológico, essas perguntas giram ao meu redor. Como exemplo das consequências de um discurso, podemos citar a antropologia de Malinowski, que criou um novo contexto para descrever “os outros”. O relativismo cultural advindo dessa postura dificultou que os antropólogos trabalhassem com o fato da diferença de uma maneira que não fosse para acentuar a distância entre as culturas. Contudo, ao avançar no tempo, a antropologia tem procurado ver na diferença não só um fato “positivo”, mas também um fator de enriquecimento cultural. De acordo com Caldeira (1988), as alternativas pós-modernas não se referem a discussões sobre o contexto político em que ela ocorre ou às possibilidades críticas da antropologia em relação às culturas das sociedades do antropólogo ou às culturas do “Terceiro Mundo” que ela continua a estudar. As alternativas são basicamente textuais: referem-se a como encontrar uma nova maneira de escrever sobre culturas, uma maneira que incorpore no texto um pensamento e uma consciência sobre seus procedimentos. Os pós-modernos vão tentar romper tanto o caráter de separação das culturas, quanto o de recriação da totalidade. Para eles a etnografia não deve ser uma interpretação sobre, mas uma negociação com, um diálogo, a expressão das trocas entre uma multiplicidade de vozes: plurivocalidade, “heteroglossia”, polifonia, autoria dispersa. Esse processo vem junto com uma mudança no conceito de cultura e do que é possível representar nas etnografias. A diversidade irredutível 5

de experiências é, então, o dado com que o antropólogo pós-moderno tem que trabalhar e achar meios de representar. O etnógrafo pode evocar, sugerir, provocar, ironizar, mas não descrever culturas. Essa teoria se opõe à etnografia clássica e nela o autor não se esconde para afirmar sua autoridade científica; ao contrário, se mostra para dispersar sua autoridade. A concepção do leitor também se transforma: já não é aquele que se informa, mas um participante ativo na construção do sentido do texto, e que os textos apenas sugerem conexões de sentido. Diante dessas afirmações surge a pergunta: a produção de um novo tipo de texto seria suficiente para produzir um novo enquadramento do autor e de seu conhecimento? Segundo Caldeira (1988, p. 143), para o antropólogo Paul Rabinow, não é possível prescindir de uma discussão específica da dimensão política; o autor deve, necessariamente, ter sob foco essa dimensão já que política, experimentação formal e epistemologia podem ser consideradas e utilizadas como variáveis independentes: experimentos textuais podem abrir novas possibilidades, mas nada garante que apenas essa experimentação amplie os horizontes da antropologia. Na análise dos autores ditos pós-modernos Caldeira (1988) inclui First-Time (1983) de Richard Price, Waiting (1985) de Vicent Crapanzano, e Shamanism, Colonialism and the Wild Man (1987) de Michael Taussig. Para ela são três textos experimentais onde a posição do antropólogo como autor do texto é o foco de questionamento e redefinição. Price afirma que só de um modo muito indireto – e que caberia aos leitores deduzir – a análise da memória dos Saramakas se constituiria em elemento para pensar as sociedades ocidentais. A crítica cultural não faz parte dos horizontes do texto. O que fica óbvio é o caráter seletivo e parcial da “verdade” histórica ou antropológica, o caráter social da memória e o caráter político das interpretações do passado. Crapanzano tem um objetivo semelhante ao de Price: transformar seus informantes em coautores através da reprodução de suas vozes. Com isso ele conseguiu em seu texto uma recriar uma cacofonia – que se aproxima mais da realidade que a voz única de um autor – através da justaposição de depoimentos de informantes; porém, paradoxalmente, nessa plurivocalidade há algo insuficiente: a voz do autor quase que não é ouvida, não determina o lugar a partir do qual fala. Talvez a confusão venha da estranha maneira pós-moderna pela qual ele resolveu ser “objetivo”. Caldeira, então, aproveita para colocar sua visão do que vem a ser o pós-modernismo, seguindo os passos de Jameson: afinal, o que mais caracteriza o pós-modernismo senão o pastiche dos comentários,

o

jogo de imagens,

o

achatamento

da história,

a

descontextualização, a neutralidade, a textualidade?

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Taussig por sua vez, nega a possibilidade de dizer o que os outros são. O autor não vai para segundo plano, não dispersa a sua autoria, não a compartilha com outros: se dirige para o centro da cena e domina a produção de enunciados. Porém, não há nada aqui semelhante ao autor que ocupa o centro da cena para revelar a verdade do Outro, o que eles são: seu discurso é apenas sobre o reflexo dos outros no antropólogo e sobre o processo de crítica à sua própria sociedade. Além disso, cabe perguntar se, ao manter intactas as ambiguidades e ao reproduzir em seus textos o clima fragmentário, de sentido incerto, angustiante e oscilante do terror e da violência, não estará, ao invés de construindo um contradiscurso, apenas se mantendo preso dentro do mesmo círculo, e ajudando a reproduzi-lo. Pode-se dizer que não estará fazendo isso se conseguir produzir em nós, seus leitores, o estranhamento, o distanciamento crítico em relação ao terror e à violência – mas que seja esse o feito de seus textos, é pelo menos discutível. Para arrematar seu texto Caldeira (1988) se volta para Geertz com uma questão: dispersão ou responsabilidade? De acordo com Geertz é possível conhecer e interpretar outras culturas, produzir inscrições. Há necessidade de o autor assumir maior responsabilidade por seu texto e pelas interpretações que produz. No entanto, apesar de se colocar responsavelmente, Geertz continua ignorando o fato de que as interpretações se formulam em um campo intelectual específico, marcado por relações de poder, e dentro das quais se definem as condições para a formulação de enunciados de verdade e deixa de fora considerações sobre o posicionamento político do autor e sobre a sua possibilidade de formular críticas culturais. Não considera como parte do burden of authorship o fato de o autor definir como ele quer que a sua voz seja ouvida politicamente. Finalmente chegamos ao fim da análise de Caldeira (1988), e, finalmente, sua fala terá direito às aspas que até então eu lhe havia negado: Do meu ponto de vista, para se repensar, com quer Geertz, o aumento da responsabilidade do antropólogo/autor no mundo contemporâneo é impossível restringir as referências ao processo de produção de textos, como tende a fazer a maioria dos pós-modernos. É necessário incorporar questões como as que Taussig enfrenta, ou seja, não apenas pensar que tipo de representação é possível criar sobre os outros e quais os nossos procedimentos ao construir interpretações, mas que tipo de crítica e de política nós queremos fazer. E essas questões obviamente não se decidem de um modo genérico. Não consigo imaginar o antropólogo crítico se referindo a um paradigma textual apenas, seja ele dialógico, monológico, polifônico ou qualquer outro, do mesmo modo que não é possível pensar em um modelo único em relação com os objetos ou em um único modelo de crítica. O estilo do texto se define em função do objeto e do tipo de análise que se pretende – e talvez seja da consciência dessa flexibilidade mais do que de receitas textuais que nós precisamos. Segundo eu o vejo, faz parte do novo papel do antropólogo/autor a busca do estilo que melhor se adapte aos seus objetivos, a definição crítica desses objetivos, e a responsabilidade pelas suas escolhas (p. 156).

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A minha presença Propositadamente, ao pegar carona no texto de Caldeira para analisar a presença do autor nos textos etnográficos, deixei que nossos discursos se entrelaçassem, repeti literalmente suas falas sem lhe dar o direito às aspas. A quem pertence então esse texto que você, leitor, agora percorre? Que proporção dele me pertence e quanto dele pertence à autora que deliberadamente «plagiei»? Eu poderia ter dito as mesmas coisas, feito as mesmas observações, abordado as mesmas questões que ela, com outras palavras. Poderia ter invertido a sequência do texto, ter maquiado seus pensamentos até torná-los irreconhecíveis. Mas, qual o sentido em fazer essa espécie de “brincadeira” a que me propus? Foi a forma que encontrei para colocar a questão da autoridade e da posse do discurso: o texto de Teresa, além de tocar em pontos nevrálgicos relacionados a essa questão, serviu como artifício para enfocar a problemática dos direitos autorais que atualmente se reflete na legislação reguladora dos meios eletrônicos. Na contemporaneidade, que alguns preferem chamar de tempos pós-modernos, a autoria sofre mais um abalo, como aconteceu quando da invenção da imprensa e da cópia xerográfica. Com o advento da internet, o uso generalizado dos editores de texto e seus recursos – a exemplo do copiar/colar – a cada dia encontramos colagens, pastiches, cópias, releituras e re-escrituras de textos que muitas vezes, simplesmente mudam de “dono”. Eis a reclamação de uma internauta: Quando o assunto é Internet, parece que já se institucionalizou um mau costume de simplesmente desprezar a autoria de qualquer tipo de texto, qualquer tipo de imagem, de idéia. Mexer no computador, depois de superados os estranhamentos iniciais, é uma coisa muito fácil e muito rápida, quase não dá tempo de pensar. É possível passar de uma idéia pra outra em segundos, mudar de site, de idéia, de autor em um espaço curtíssimo de tempo. No caso dos textos escritos, as pessoas recebem por e-mail e lêem em sites todos os dias milhares de textos que as emocionam - pelo menos enquanto estão lendo. Com menos de meia dúzia de cliques, elas podem copiar, colar, reencaminhar esses textos para outras tantas milhares de pessoas. Até aí, tudo bem, nada mal; a intenção de quem escreveu, aposto, era essa mesma: atingir a quantas pessoas fosse possível. O problema é quando aquele texto, aquele pedaço de alma que está ali, é repassado adiante sem o nome de seu pai ou sua mãe, ou o que é pior: maldosamente, com o nome de outros pais e outras mães. Isso dói em um autor. Não porque se deixe de ganhar algum retorno financeiro (em alguns casos, pode até ser) com isso, mas porque os nossos filhos têm dono; antes de ser de todos, eles são nossos, nasceram em nós. E temos orgulho deles. Gostaríamos de ser reconhecidos como produtores das palavras que escrevemos.2

O tom compungido da fala da internauta – “Isso dói em um autor” – me leva a pensar em quantos parâmetros estão envolvidos na questão da autoridade: o aspecto econômico (o setor editorial movimenta cifras da ordem dos bilhões de reais, somente no Brasil, que é sabidamente um país de poucos leitores); o aspecto sócio-político (é inegável impacto, inclusive e principalmente da imprensa, do discurso escrito na sociedade de mídia); e o aspecto psíquico (como esquecer o glamour que envolve a pessoa do autor?). O aspecto da vaidade que acompanha a posse do discurso seria um assunto para ser abordado sob uma ótica 8

freudiana, psicanalítica, e esse não seria o momento menos importante se comparado às implicações econômicas, políticas e sociais. A civilização está associada à leitura, ao nível de alfabetização. A própria história se diz assim em contraponto à pré-história como um período onde a escrita ainda não estava desenvolvida. O fato de ser alfabetizado e, além disso, ser capaz de um discurso de autoridade dá ao indivíduo um status diferenciado. Ao fazer essas observações não posso deixar de mencionar a importância que o sujeito adquiriu na modernidade e que perpassa de um lado a outro a questão do autor. Para o prefaciador de Foucault (1992), autor é um dos nomes da categoria sujeito; o autor é o sujeito em relação à escrita. No entanto a categoria sujeito é uma categoria recente, moderna, bem como a categoria de autor. Os discursos nem sempre pertenceram a alguém exclusivamente, só começaram a ser assinados, a ter autores quando o autor se tornou passível de punição, isto é, quando os discursos se tornaram transgressores. Mas a modernidade não pode durar para sempre, nem os conceitos que nela se desenvolveram são imóveis, imutáveis ou perpétuos. Fue precisamente en este período en el que el concepto de autor alcanzó el punto culminante de individualidad en la historia de las ideas, del conocimiento, de la literatura, en la historia de la filosofía y en la historia de las ciencias. Así, el autor vino a representar la realización del proyecto de la modernidad producto de la identificación del sujeto con su obra, con su unidad estilística, su coherencia conceptual y su originalidad. Estos elementos son tan auténticos y se han eraizado de tal modo, que aún hoy día tienen una considerable aplicación en la crítica literaria y, sobre todo, en la evaluación científica a cualquier instancia. Por otra parte, es posible identificar en ellos los ideales de la modernidad, como la univeralidad, la armonía, la existencia de ideas únicas, la verdad y la razón. (ANTONIO, 2001, p.92)

A presença on-line: em cada um, um virtual autor O que podemos observar na atualidade é, no mínimo, uma fissura na figura do autor, bem representada na cultura dos blogs, dos e-mails, da internet de forma geral. Não são poucos os internautas indignados com o que acontece aos textos e obras que eles lançam na rede, e denunciam o ocorrido também com textos de “autores famosos”, que no torvelinho da informação eletrônica perdem sua paternidade, são modificados e alterados, num “desrespeito” à propriedade privada do discurso. Como todo mundo sabe, circulam pela internet muitos textos – quase sempre bem intencionados, politicamente corretos, mas fracos estilisticamente – assinados por jornalistas famosos, cronistas e escritores prestigiados. As “vítimas” deste estelionato autoral são quase sempre as mesmas. Luis Fernando Verissimo, Arnaldo Jabor, Clarice Lispector, Vinícius de Moraes, Martha Medeiros, Caio Fernando Abreu – e ainda José Saramago, Jorge Luiz Borges, Gabriel Garcia Márquez...3

Na internet existem incontáveis sites onde podemos encontrar essa indignação, em alto grau. Citarei, apenas como exemplo, o site de Alexandre Lourenço, http://www.microbiolo gia.vet.br/Plagio.htm, onde ele expressa seus ressentimentos e procura dar aos internautas indicações de como agir para não incorrer nos crimes eletrônicos. 9

Mas os processos que se desenrolam na contemporaneidade vão de encontro a tais entraves: aos poucos corroem as muralhas impostas pela modernidade e vão lentamente rompendo as armaduras racionalistas com golpes de heterogeneidade, relativismo cultural, pluralismos, ambiguidades, localismos globais e globalismos locais, informalidade, subjetividade e verdades multifacetadas. Maneiras de pensar mais livres e flexíveis apontam para novos enunciados que ao invés de colocar o ser humano acima da natureza, transcendente a ela e a ela superior, invocam outra ética, inclusive para o conhecimento. O experimentalismo já não é um pecado cometido por uns poucos indivíduos excêntricos, mas está por toda parte nos meios eletrônicos que abrem uma nova fronteira para as falas e discursos de toda espécie. Não só os “artistas” podem expor seus textos, suas fotos, sua arte, mas também os novos anticristos, os terroristas, fazem uso desse veículo. Como contornar tantas novas possibilidades, problemáticas e solucionadoras, como enfrentar os novos desafios que se descortinam para as ciências sociais é uma tarefa, mais do que nunca promissora, delicada e difícil. O que nossos autores cientistas sociais têm a dizer sobre mais essa etapa do mundo? E de que forma intentam dizê-lo? A integração entre as várias disciplinas está ligada, no meu entender, à escrita. É necessária uma maior liberdade, no mínimo uma renovação dos métodos científicos para que não tenhamos que estar presos a convenções mesquinhas e possamos dar asas a esse discurso pesado de posse, pompa e vaidade que ainda circula nas academias. Para finalizar gostaria de citar Davis (1991). Concordo plenamente com ela quando diz que o estilo, a forma, e não somente o conteúdo dos textos das ciências sociais, é responsável por uma mudança na maneira em como se faz essas ciências. Probablemente, el paso más creativo que podamos dar hacia delante no sea menos literario que analítico, es decir, quizás consista en encontrar formas expositivas o narrativas que pongan de manifiesto la interacción y las tensiones entre lo grande y lo pequeño, entre lo social y lo cultural. Si así sucede, a lo mejor los desenlaces no son siempre felices, pero la lectura nunca habrá sido tan gratificadora (p. 181).

Bibliografia

ANTONIO, Irati. 2001 “Autoría y cultura posmoderna”. ACIMED, Havana, v. 9, supl.4, pp. 92-95. CALDEIRA, Teresa Pires do Rio. 1988 “A presença do autor e a pós-modernidade em antropologia”. Novos Estudos CEBRAP, São Paulo, n. 21, pp. 133-157. DAVIS, Natalie Zemon. 1991 “Las formas de la historia social”. Historia Social, Barcelona, n. 10, pp. 177-182. 10

FOUCAULT, Michel. [1969]. 1992. O que é um autor? Lisboa, Vegas. GINZBURG, Carlo. [1989]. A micro-história e outros ensaios. Lisboa, Difel, 1989. Notas 1

BIBLIOTECA NACIONAL DIGITAL. Portugal. Disponível em: . Acesso em: 21/06/2016.

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CABRAL, Karina. Filhos sem dono. Disponível em: . Acesso em: 21/06/2016.

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SILVA, José Antonio. Estelionato autoral na rede. Disponível em: . Acesso em: 21/06/2016.

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