A PRÁTICA ETNOGRÁFICA NA ESCOLA MÉDIA: UMA PROPOSTA METODOLÓGICA PARA A ABORDAGEM DE CULTURA NO ENSINO MÉDIO Tatiane Moura

June 4, 2017 | Autor: P. Bandeira de Melo | Categoria: Education, Social Sciences, Teacher Education
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IV Encontro Nacional sobre o Ensino de Sociologia na Educação Básica 17 a 19 de julho de 2015 Grupo de Trabalho: Metodologias e Práticas de Ensino de Ciências Sociais na Educação Básica A PRÁTICA ETNOGRÁFICA NA ESCOLA MÉDIA: UMA PROPOSTA METODOLÓGICA PARA A ABORDAGEM DE CULTURA NO ENSINO MÉDIO Tatiane Moura Fundação Joaquim Nabuco Mestranda em Ciências Sociais para o Ensino Médio [email protected] Patricia Bandeira de Melo Fundação Joaquim Nabuco Doutora em Sociologia [email protected] Anderson Duarte Fundação Joaquim Nabuco Mestrando em Ciências Sociais para o Ensino Médio [email protected] Resumo Em que medida é possível introduzir práticas de pesquisa no ensino médio? O objetivo deste artigo é trazer uma proposta para utilização de metodologias e práticas didáticas relacionadas com o tema da cultura no ensino médio. Essa ideia parte de duas experiências de pesquisa desenvolvidas no âmbito do Mestrado Profissional em Ciências Sociais para o Ensino Médio, da Fundação Joaquim Nabuco. Ambas tratam de manifestações culturais populares. Uma traz como pano de fundo a festa da Cavalgada à Pedra do Reino e foi desenvolvida na cidade de São José do Belmonte, Pernambuco, onde se realiza a festa. A outra aborda o oficio e as práticas dos Rezadores em Itapororoca, Paraíba. Essas experiências permitem uma aproximação teórica, metodológica e didática para o ensino de cultura, tendo por base a legislação vigente a respeito da sociologia no ensino médio. Do ponto de vista teórico, o trabalho mostra a diversidade do conceito de cultura, esclarecendo que isso deve ser apresentado ao discente de maneira ampla. Palavras-chave: cultura; pesquisa no ensino médio; ensino de sociologia.

Introdução Professor também é pesquisador. É nessa chave que pretendemos discutir aqui: não é preciso que a pesquisa fique restrita ao universo acadêmico, o ensino médio pode e deve iniciar os jovens no mundo da investigação. A partir de uma perspectiva antropológica, a intenção é mostrar exemplos de práticas didáticas de pesquisa, tendo o tema cultura como objeto para o ensino de sociologia na escola média. A escolha da abordagem pela antropologia se dá por ser a cultura um objeto clássico de estudo desse campo, fazendo parte da expectativa do ensino de ciências sociais dentro do conteúdo do ensino de sociologia (BRASIL, 2011). Entende-se que não há a intenção de formar antropólogos, mas fazer uma escolha da abordagem do conceito de cultura entre as várias possíveis dentro das ciências sociais. Para o estudo do conceito, tem-se por referencial Clifford Geertz (2013), compreendendo que os educandos poderão enxergar a possibilidade de vivenciar o mundo por outras chaves, outras teias de significados. Do aspecto metodológico, a abordagem que traremos procura aproximar metodologias de pesquisa da antropologia ao ensino médio. A intenção é mostrar que, com a nossa proposta, o estudante poderá compreender melhor a ideia de cultura, colocando-se a prática etnográfica, a observação participante e a elaboração de diário de campo como exercício de estranhamento do familiar (VELHO, 1978). A etnografia, enquanto método de pesquisa próprio da antropologia, requer um conhecimento teórico prévio, como indica Malinowski (1976), para depois visitar o campo. Dessa maneira, o antropólogo poderia apreender as vicissitudes da observação participante, não só fazendo mera descrição, mas atribuindo sentido às ações observadas. Sem desmerecer a etnografia, a nossa intenção é de que se leve à sala de aula uma perspectiva etnográfica básica, dado que os alunos de ensino médio não são antropólogos e, não estando embasados na teoria antropológica, tampouco farão descrição densa a respeito de objetos observados. Destarte, a perspectiva etnográfica como prática pedagógica, após as aulas que abordem o tema cultura, poderá fazer com que o aluno enxergue o mundo à sua volta de maneira estranhada e crítica. Ao final, o artigo traz em anexo uma proposta de sequência didática (ZABALA, 1998), baseada na experiência já realizada na festa da Cavalgada à Pedra do Reino, em São José do Belmonte (PE), para o estudo da prática de

rezadores de Itapororoca (PB). Assim, é possível perceber como a pesquisa de campo pode levar o aluno a participar da práxis cultural a partir de experiências locais e que podem se reproduzir em outros contextos. Da legislação, podemos confirmar a possibilidade de utilização da pesquisa como ferramenta de ensino, prevista nas Orientações Curriculares para o Ensino Médio (2006). Assim, em função da legislação e das diretrizes nacionais para o ensino médio, vamos discutir uma proposta que atende ao objetivo da sociologia para apropriação de processos sociais e históricos que desconstruam o conhecimento do senso comum. A ideia apresentada é apenas uma alternativa possível para a abordagem didática do tema cultura no âmbito da sociologia no ensino médio, mas que a inovação estimulou o engajamento dos educandos às aulas da disciplina. A prática da pesquisa como metodologia de ensino Como defende Pimenta (2013), é preciso tornar indissociáveis o ensino e a pesquisa, fazendo o exercício de “livre trânsito” entre ambos. Os métodos básicos de pesquisa em sociologia são ferramentas necessárias para o desenvolvimento de estudos na área. A entrevista e a observação direta são trazidas como formas simples de se empreender estudos acadêmicos em ciências humanas e sociais. É preciso esclarecer para o estudante as variadas formas de se empreender a pesquisa, ressaltando, por exemplo, que a observação direta, para as ciências sociais, é a imersão do pesquisador no meio que pretende analisar, durante um período estabelecido de tempo. Por essa razão, a observação direta é também chamada de observação participante ou etnográfica. Já a entrevista qualifica o pesquisador como um “perguntador”, que deve antes de tudo conhecer os fatos sobre os quais está interrogando. Há, aqui, a questão da valorização da subjetividade e do senso comum, que devem ser postos em questão pelo professor no processo de mediação didática: em que medida aquilo que sei de fato contribui para entender aquilo que não sei? Não há ciências sociais sem teoria: isso é reforço do senso comum, porta de entrada para achismos e preconceitos. Isso porque o aluno deve ser levado a pensar que: i. a realidade social não é transparente; ii. os conceitos não são algo dado, é preciso exercitar a imaginação. Mas não é qualquer imaginação: é a imaginação sociológica (MILLS, 1975).

Esse exercício conecta-se com o seguinte preceito basilar da prática pedagógica do ensino de sociologia: a teoria é uma caixa de ferramentas; a metodologia é a forma de fazer; a realidade é o canteiro de obras. Nesse artigo, o canteiro de obras são duas manifestações culturais (festa da Cavalgada à Pedra do Reino em São José do Belmonte e as práticas dos Rezadores em Itapororoca). A forma de construir o conhecimento escolhida foi uma experiência etnográfica. A caixa de ferramentas que nos serviu de instrumento foram as bases conceituais acerca de cultura e mediação didática. A prática etnográfica Na prática etnográfica, observa-se uma enunciação, um ato de fala que se observa. A linguagem não é um meio neutro de refletir o mundo, mas um meio de construção da realidade. Logo, uma prática etnográfica consiste numa leitura possível da realidade, numa interpretação contextualizada das formas simbólicas. Esse processo não é particular da etnografia, mas concernente a toda análise de atos de fala, de narrativas e de discurso. Thompson (1998, p.17), por exemplo, destaca que a interpretação feita pela hermenêutica “ensina que a recepção das formas simbólicas sempre implica um processo contextualizado e criativo de interpretação, no qual os indivíduos se servem dos recursos de que dispõem, para dar sentido às mensagens que recebem”. Para ele, a apropriação da mensagem se dá em nível do indivíduo que possui uma formação social peculiar e, desta forma, define os sentidos “de sua história, de seu lugar no mundo e dos grupos sociais a que pertencem”. Assim, a prática etnográfica feita por alunos em sua própria realidade ajuda a contar a sua própria história e a sua posição nas relações em seu espaço social. Na etnografia, a coleta de informações é feita através do processo de observação participante, na qual os pesquisadores buscam imergir o máximo possível na vida da cultura estudada. Os detalhes das observações dos pesquisadores são registrados o mais próximo possível do que se possa chamar de "ponto de vista de um nativo", numa tentativa racional de não impor as suas próprias interpretações, o que claramente é impossível, concedendo ao processo uma dose de criatividade e subjetividade. Ainda assim, o exercício etnográfico busca lançar luz às realidades locais de modo a fazê-las compreensíveis em seus próprios termos.

A etnografia é uma técnica de estudo que introduz práticas subjetivas ao processo de pesquisa. A relevância da etnografia foi destacada pelos Estudos Culturais, especialmente para os estudos de mídia e de práticas culturais. Para Antonio La Pastina, é preciso, porém, reposicionar a condição da etnografia como prática de pesquisa de campo, que havia se tornado sinônimo de métodos qualitativos, restaurando a sua posição de método capaz de promover o acesso à dinâmica de recepção, o que “permite que pesquisadores compreendam a complexa dinâmica que existe entre consumidores e produtos culturais” (LA PASTINA, 2006, p. 28). Assim, é fundamental perceber a etnografia como uma forma de se chegar a conhecimentos concretos acerca das práticas culturais dos indivíduos. Ao se colocar o processo etnográfico como um processo de descrição densa, na medida em que o pesquisador ordena o que se apresenta de forma caótica para ele. Geertz salienta que: O etnógrafo „inscreve‟ o discurso social: ele o anota. Ao fazê-lo, ele o transforma de acontecimento passado, que existe apenas em seu próprio momento de ocorrência, em um relato, que existe em sua inscrição e que pode ser consultado novamente”, reduz, assim, a sua opacidade (GEERTZ, 2013, p. 14).

É interessante, porém, não nos afastarmos da perspectiva subjetiva do pesquisador, que assume a condição de um observador que constrói o conhecimento a partir das informações obtidas segundo as suas próprias limitações. Se o pesquisador está consciente se sua própria condição no ato de pesquisar, ele também precisa ir além ao analisar cultura. Para isso, é preciso que estabeleça a cultura como um sistema aberto e em constante movimento. Assim, se em alguma medida o indivíduo está emoldurado pela cultura como uma estrutura que o determina, não podemos esquecer a capacidade ativa do mesmo indivíduo de ser movido pela paixão, pela alegria, pela espontaneidade e pelo improviso. Não devemos, assim, encarcerar o Outro que investigamos na condição de um ser que está distante no tempo e no espaço: ele tem direito à fluidez de fronteiras. La Pastina destaca que a própria coleta de dados se constitui num processo de representação, uma vez que fica estabelecido, neste processo, que o que se apresenta é uma versão da cultura do grupo investigado, pois “decidimos

contar uma coisa e ignorar outra” (LA PASTINA, 2006, p. 30), o que nos faz concordar

com

Schepper-Hughes

quando

afirma

que

“o

conhecimento

antropológico é necessariamente parcial e sempre hermenêutico” (SHEPPERHUGHES, 1992, p. 23, apud LA PASTINA, 2006, p. 30). Portanto, é necessário ter cuidado com as generalizações, que precisam ser sempre reavaliadas. O valor da etnografia é percebido justamente pelo fato de analisarmos as práticas em seus contextos sociais, permitindo o envolvimento do pesquisador nas condições em que a prática cultural se dá. Além disso, também estabelece a identidade do grupo que está sendo investigado. A pesquisa, aliás, deve informar que público foi investigado para dar detalhes desse contexto. Podemos estabelecer quatro formas de interação entre o pesquisador e o texto (entendido aqui como algo amplo, qualquer produto cultural): leitura, interpretação, apropriação e mudança. Essa interação é multidimensional e estratificada. A sua significação, logo, é um processo negociado com o grupo do qual o indivíduo faz parte: há sentidos rejeitados, aceitos e parcialmente acatados, processo esse que se dá continuamente nas interações sociais. Na condução didática da experiência etnográfica, o professor lança as bases teóricas mínimas para que o estudante de ensino médio possa, no exercício de pesquisa, estranhar as práticas culturais as quais vai observar, e a partir daí construir uma compreensão que transcenda ao senso comum existente. É importante salientar que esta proposta pedagógica de incorporação da etnografia ao ensino de sociologia faz com que a realidade e a teoria transitem um dentro do outro: ler sobre cultura, assistir à festa popular, conversar sobre ela, entrevistar participantes, relembrá-la. Ou seja, a proposta conduz a uma forma complexa de apropriação de um produto cultural pelo aluno, que não se esgota no produto em si, mas nas diversas experiências. O método etnográfico é, porém, uma prática de profundidade: Um bom estudo etnográfico deve fornecer evidência de que os dados relatados, a análise e os processos descritos são resultado de um processo longo e cuidadoso de maturação da informação coletada. A impossibilidade de generalizações a partir de dados etnográficos não deve ser vista como uma limitação, mas sim como parte de um processo metodológico que permite que os pesquisadores alcancem compreensão maior de processos específicos (LA PASTINA, 2006, p. 41).

Por isso, numa prática de ensino na escola média, a mediação didática conduz ao que chamamos de uma experiência etnográfica, o vislumbramento de um aprendizado que conduz ao exercício da apreensão crítica da realidade sem, contudo, consistir na aplicação do método em sua forma dura. É, assim, a sociologia como caixa de ferramentas que conduz os alunos à construção de conhecimento acerca do canteiro de obras de suas próprias vidas. O caminho para o aprendizado em ciências sociais: a Cavalgada à Pedra do Reino Apesar de a disciplina no ensino médio chamar-se sociologia, é indicado que as ciências sociais, antropologia e ciência política também deem suas contribuições. Nesse sentido, como a etnografia é um método de estreita relação com a antropologia, servirá de caminho ao aprendizado da cultura. Como a intenção não é formar cientistas sociais, o trabalho do professor de sociologia consiste em fazer recortes e mediar o saber acadêmico para ser ensinado. A teoria antropológica no que toca ao conceito de cultura é vasta e, muitas vezes se confunde com a legitimação científica do campo antropológico. Portanto não é possível trabalhar em sala de aula toda a gama de autores e teorias que a ideia de cultura envolve. Esse é o papel do educador: assimilar o conteúdo, depois remodelá-lo para que o saber tenha um sentido para o aprendiz e possa provocar a ampliação do conhecimento. Dessa forma, compreender a cultura pode ajudar o discente a enxergar o mundo a sua volta. Os estudantes serão incentivados a olhar as teias que lhe constituem (GEERTZ, 2013) pelas lentes da sociologia, despertando sua curiosidade científica: “ensinar e aprender a partir da própria cultura em que se está inserido” (BRANDÃO, 2009, p.741). Tendo como conceito a cultura, a teoria interpretativa de Geertz e a metodologia etnográfica, o tema a ser observado pode ser diverso. Nesse caso, a festa da Cavalgada à Pedra do Reino, que acontece em São José do Belmonte-PE, serviu de experiência empírica. Contudo, propõe-se replicar a ideia para observar os rezadores de Itapororoca, Paraíba. O olhar guiado pela perspectiva etnográfica é capaz de promover uma criticidade do aluno quanto à sua vivência. Evidente que alunos de ensino médio não são antropólogos e não irão elaborar densas etnografias. Contudo, a pesquisa etnográfica é um modelo de pesquisa diferenciado do que é feito

comumente nas escolas brasileiras, e com a condução do professor, uma experiência do senso comum pode se converter numa experiência etnográfica, fazendo da pesquisa escolar uma vivência elaborada. Como diz Oliveira (2012, p.89), “[...] a ida a campo não pode ser uma ida destreinada, sem uma discussão prévia sobre a realidade que iremos acessar”. No caso dos alunos de Belmonte, as aulas tiveram que preceder a festa da Cavalgada, que ocorre na última semana de maio. Em seguida, os estudantes, munidos de um arcabouço conceitual sobre cultura e cultura popular e de elementos básicos acerca da prática etnográfica – passados numa sequência didática de quatro aulas –, vivenciaram a festa não apenas como moradores, mas como jovens pesquisadores capazes de promover um estranhamento em sua observação do campo. Na asserção sobre os rezadores de Itapororoca, não há uma determinação temporal, o que facilita o trabalho do educador. Em Belmonte, foram lecionadas quatro aulas em turmas definidas pelos professores da escola selecionada1. Das duas turmas, uma do turno vespertino e outra do noturno, somente quatro alunos se dispuseram a fazer o trabalho de perspectiva etnográfica. Esse número reduzido foi motivado pela necessidade de autorização prévia dos pais para a ida à festa como atividade escolar. Não houve adesão ao projeto por parte de alunos do turno da noite. Como pesquisa escolar, a ida à festa foi acompanhada pelo professor (OLIVEIRA, 2012), o que é um ponto importante, uma vez que é a condução direta dos educandos no trabalho de campo que permite medir se a experiência foi positiva em termos de prática pedagógica. Na orientação prévia dos estudantes em sala de aula, foram abordados os conceitos a serem manejados e as informações básicas acerca do método etnográfico. Esse percurso seguido não deve ser considerado como uma amarra em experiências semelhantes, mas um apontamento para o ensino de sociologia. Além disso, o recorte teórico implica em escolhas que devem estar afinadas com a realidade dos discentes. Se o professor tem o dever de expandir o conhecimento do educando, então, ele deve fazê-lo a partir do arcabouço cultural prévio do estudante. 1

A escola foi escolhida com base no menor Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) da cidade, compreendendo que um menor índice indica a necessidade de novas abordagens educativas.

Cultura, mas que cultura? Entre a aula e a experiência do campo Quando leciona, o docente deve apontar que há outros caminhos para além daquele apresentado, pois pode aguçar o interesse do aluno mais curioso. Assim, com o objetivo de fazer com que o discente estranhasse as suas teias de significado, o conceito de cultura foi recortado e mediado para uma aula de ensino médio. A mediação didática não é o mesmo que simplificar um conteúdo acadêmico para o conteúdo escolar. É a maneira como o educador encontra para fazer com que o seu conhecimento seja apreendido pelo educando, fazendo transformar, ampliar o seu saber. O modo como a mediação é feita está em consonância com a perspectiva de educação do professor. Nesse sentido, Leodoro contribui: Se definirmos que educar não é somente transmitir conceitos e que no ato educativo os atores envolvidos utilizam a linguagem para ensinar e aprender, enfim, para formar a rede sinérgica de reflexões, então a mediação pedagógica pode ser definida como um conjunto de práticas adotadas pelo professor [em detrimento de outras] para facilitar todo este processo (LEODORO, 2009, p. 116).

O conceito de cultura está entre os mais amplos e disputados dentro das ciências sociais. Para Brandão (2009, p.716), “a palavra „cultura‟ e a pluralidade de ideias que ela sugere, assim como as teorias que a fundam, nunca foram consensuais na antropologia”. Todavia, não é possível dar conta de sua imensidão em uma aula de ensino médio, tampouco esse é o propósito de uma aula. Da mesma maneira que numa pesquisa acadêmica, o professor deve fazer um recorte teórico em seu planejamento didático. Aqui, o enquadramento dá-se trazendo Geertz e o seu conceito de cultura. Dentro da antropologia, esse conceito já variou bastante de sentido. Um dos primeiros estudiosos a pensar o termo, E.B. Tylor, o cunhou colado à ideia de civilização, sendo possível “ter ou não” cultura. Nas palavras do próprio Tylor “culture [...] is that complex whole which includes knowledge, belief, art, morals, law, custom, and any other capabilities and habits acquired by man as a member of society” (TYLOR, 1920, p.1). Essa ideia ainda faz parte do senso comum e por esse motivo é interessante explorar a aula a partir do saber prévio da turma. A dinâmica de explosão de ideias foi a via escolhida para iniciar a aula. Técnica usada em dinâmicas de grupo, a explosão de ideias leva os jovens à explorar habilidades, potencialidades e criatividade. Perguntas e respostas,

exposição de vivências anteriores e ideias que culminam em trocas que ampliam o leque de significados conduzem à apreensão dos conceitos em debate. Essa dinâmica precisa ser cuidadosamente conduzida, saindo do contexto do “eu acho”, que pode transformar a aula de sociologia num debate de lugares-comuns (PIMENTA, 2013). A festa da Cavalgada à Pedra do Reino ocorre na última semana de maio, desde 1993, na cidade de São José do Belmonte. Inicialmente, tratava-se de uma cavalgada simples, na qual um grupo de amigos se reunia para andar a cavalo. Aos poucos, a cavalgada foi se transformando, tomando emprestado e criando elementos próprios. Hoje, a festa dura nove dias, e tem o ápice no nono dia, último domingo de maio, quando ocorre a cavalgada. E não é uma cavalgada comum; é um cortejo que sai do centro da cidade em direção ao Sítio Histórico Pedra do Reino, zona rural. Um rei e uma rainha vão à frente da cavalgada; de cada lado, doze pares de França2, seguidos de cavaleiros levando bandeiras. A cavalgada conta ainda com os personagens de Lampião, Maria Bonita e Padre Cícero. Ainda, participam pessoas em suas montarias, sem representarem nenhum papel. Depois que os alunos colocaram suas perspectivas sobre o que seria cultura, foi possível perceber que eles relacionavam cultura a expressões artísticas, como dança, música, artes ou comidas. A essa compreensão foi acrescentada a informação de que esses itens também constituem a cultura, contudo, ela não é algo somente externo, expresso somente em coisas, estando ainda na maneira como se compreende o cotidiano, a si e ao outro, a visão de mundo. Para Geertz: O conceito de cultura que eu defendo, e cuja utilidade os ensaios abaixo tentam demonstrar, é essencialmente semiótico. Acreditando, como Max Weber, que o homem é um animal amarrado a teias de significado que ele mesmo teceu, assumo a cultura como sendo essas teias e a sua análise; portanto, não como uma ciência experimental em busca de leis, mas como uma ciência interpretativa, à procura do significado (GEERTZ, 2013, p.4).

2

Para Newton Júnior (2003, p.71): “[...] doze cavaleiros caracterizados de „Pares de França‟, sendo seis „cristãos‟ e seis „mouros‟. Eram membros da „Ordem dos Cavaleiros da Pedra do Reino‟, e ficaria claro, pouco depois, quando a Cavalgada partiu, que eles formavam um a espécie de „Guarda de Honra‟, cavalgando, dois a dois [...]”.

Após a apresentação dessa ideia de Geertz, mostrou-se como cada um lida com a cultura e nem ao menos percebe. Para que os alunos percebessem em que medida os significados são construídos e podem ser refeitos, foi rasgada na sala de aula uma cédula de R$ 10,003 e uma folha de caderno. Enquanto no segundo caso não houve reação, no primeiro, toda a turma gritou. Esse grito expressa o estranhamento de perceber como algo tem um significado tão arraigado e, ao mesmo tempo, não há reflexão sobre isso. Essa vivência foi apreendida e percebida quando os alunos estavam em campo e visitaram a Casa da Cultura de Belmonte. Um deles, ao ver cédulas antigas de dinheiro em exposição, percebeu que o valor dado ao objeto muda ao longo do tempo e afirmou: “o dinheiro de antigamente já não tem sentido pra gente”. Ainda na abordagem teórica acerca do conceito de cultura, foi trabalhada a ideia de cultura popular. Como parte das teias da cultura, a cultura popular deve ser percebida como tal: simbolicamente, ela se amarra a novos fios, aperta nós, se refazendo continuamente. A ideia era que os educandos percebessem que a cultura popular não deve ser padronizada e que nela também há intenções em disputa. Para Ortiz: A cultura popular é heterogênea, as diferentes manifestações folclóricas – reisados, congadas, folias de reis – não partilham um mesmo traço em comum, tampouco se inserem no interior de um sistema único. [...] A cultura popular é plural, e seria talvez mais adequado falarmos em culturas populares. [...] A memória de um fato folclórico existe enquanto tradição, e se encarna no grupo social que a suporta. É através das sucessivas apresentações teatrais que ela é realimentada. [...] como coloca Carlos Brandão ao estudar os congados do ciclo de São Benedito, este saber popular não existe fora das pessoas, mas entre elas (ORTIZ, 1985, p.134).

Na perspectiva dos alunos, a cultura popular tem como característica o fato de que as pessoas podem participar dela, sem restrições. O carnaval foi colocado como exemplo, mas, como enfatizou uma estudante, é preciso considerar que a mesma festa tem aspectos diferentes em vários lugares, como exemplo, Olinda e São José do Belmonte. E na compreensão dos alunos, a festa da Cavalgada à Pedra do Reino estava entre os festejos de cultura popular. Quando observaram a festa da Cavalgada à Pedra do Reino, os discentes foram orientados a preencher um caderno como diário de campo. Nele, anotaram 3

A nota pertencia a um jogo e não era verdadeira.

suas observações, dúvidas, dilemas. Aqueles que participaram, receberam cadernos, canetas e máquina fotográfica analógica. Com essas ferramentas, registraram suas observações. Quatro alunos participaram e cada um mostrou um olhar diferenciado para o campo. Eles não voltaram à escrita desse trabalho, procurando dar consistência teórica, pois esse é um exercício para o etnógrafo. A etnografia implantada na sala de aula é mediada, portanto não pode ter o mesmo rigor científico da etnografia clássica. Contudo, os diários de campo, se forem frutos de trabalhos bem orientados pelo professor, revelam as aprendizagens que os educandos expandiram. Como cada aluno produziu seu próprio diário de campo, os resultados foram únicos e, assim como na etnografia, cada estudante imprimiu ao seu trabalho a sua perspectiva (GROSSI, 1993). Uma das meninas, por exemplo, direcionou seu olhar para o papel da rainha dentro da festa, buscando conhecer melhor como funciona a escolha, a decisão sobre as roupas e os sentimentos daquelas que estiveram interpretando o personagem. Um menino, por outro lado, buscou conhecer sobre os integrantes das apresentações de bacamarte, o que simbolizavam, qual seria o treinamento etc. Assim, é possível perceber através dos diários de campo elaborados, que cada um teve um enfoque, mas que eles buscaram o conhecimento. Ao elaborar o trabalho de perspectiva etnográfica, os alunos construíram seus conhecimentos, foram autônomos nas escolhas dos entrevistados, das observações, colocando muitas questões interessantes. Por exemplo, um dos jovens, quando montava o questionário, colocou que seria interessante entrevistar o prefeito para saber como ele percebia a festa, uma vez que a prefeitura era uma das financiadoras da festa. Esse mesmo estudante, que se mostrou um dos mais interessados no trabalho, era considerado um aluno problemático pelos professores no cotidiano escolar. Algumas vezes é necessário levar práticas didáticas diferenciadas para despertar o interesse do aprendiz. A sociologia não está restrita à sala de aula e os alunos precisam enxergar isso. O diário de campo pode ser um instrumento no qual o estudante vai expressar-se, sem a tensão de uma prova. Nele, há espaço para exercer a criatividade, e, mais importante, colocar as inquietações, pois a dúvida é o princípio do conhecimento. É investigando sobre suas curiosidades que os educandos podem aprender.

Sobre a participação popular na festa da Cavalgada à Pedra do Reino, a observação de uma estudante, quando fazendo trabalho de campo, chamou atenção. Ela verificou que, apesar de a participação ao festejo ser aberta à população em geral, há os lugares de destaque: no caso da festa de Belmonte, o que a aluna observou foi o lugar da rainha, restrito às pessoas com maior poder econômico da cidade. Portanto, sua interpretação foi de que ela não poderia estar naquela posição e, mesmo fazendo parte da mesma sociedade, havia barreiras na festa. Essa colocação entra em consonância com Brandão (1974), ao falar das Cavalhadas de Pirenópolis. Assim como observou o antropólogo, ao falar que os lugares de prestigio estão reservados, a jovem foi capaz de ter um estranhamento sobre uma festa que cresceu participando, sem, contudo, ter até então produzido um novo olhar sobre ela. O exercício feito por essa discente é de estranhamento do mundo. Após a aula sobre cultura, cultura popular, festas, festa da Cavalgada à Pedra do Reino e etnografia, ela percebeu, assim como Velho (1978, p.38), que “o fato de dois indivíduos pertencerem à mesma sociedade não significa que estejam mais próximos do que se fosse de sociedades diferentes [...]”. Assim, os alunos compreenderam uma das dinâmicas feitas na aula, em que a cultura é apresentada como se fosse uma mão: próxima demais dos olhos impossibilita a visão, longe, fica fora do campo de visualização. Os alunos tiveram a destreza de afastar essa mão para poder enxergar os dedos, unhas, cicatrizes. Ao contrário do que se previa antes de lecionar as aulas, alguns discentes não conheciam a festa da cidade, tampouco o Sítio Histórico da Pedra do Reino. A formação geológica da paisagem interessou uma das alunas, e ela explicitou em seu caderno de campo a inquietação sobre as rochas que compunham o lugar. Seu olhar se aguçou, por outro lado, para a compreensão da história que influenciava na formação da festa, tanto que a estudante buscou livros de autores locais para embasar suas falas. Outro aluno buscou observar como os personagens que participam da cavalgada se sentiam, e registrou as pessoas que fotografavam a cavalgada. Para esse aluno, o sentido de prestígio que os personagens de rei e rainha disseram sentir quando entrevistados sobrevinha do fato de que, quando o cortejo adentra o Sítio Histórico, todos paravam para ver, fotografar, aplaudir.

Afinal, como trabalhado com os alunos em sala de aula, a etnografia tinha como pressuposto longas viagens para visitar Outro distante. Agora, eles, como membros de sua sociedade, puderam estranhá-la, através da anotação sistemática em cadernos de campo, fotos e entrevistas. O resultado de seus trabalhos tinha como objetivo o estranhamento do olhar: a observação da festa através da perspectiva socioantropológica. O êxito foi atingido: os alunos entenderam no sentido da festa o sentido de cultura, aquela mesma de sua história de vida, mas que somente agora puderam observar sociologicamente. Uma proposta para o estudo de cultura: rezadores de Itapororoca A exemplo da festa no interior de Pernambuco, a presença de rezadeiras e rezadores no interior da Paraíba, no município de Itapororoca, é uma manifestação cultural das crenças religiosas, práticas de rezas de agentes populares de cura que persiste nos dias atuais. Eles possuem notável respeitabilidade entre diversos segmentos da população, sobretudo, em virtude da forma peculiar que tem de lidar com a doença e o corpo, sendo caracterizado como agentes sociais que se destacam por sua assistência à população local. O ritual da reza faz parte das práticas de cura dos rezadores, que utilizam plantas e ervas como instrumentos para a “retirada” da doença de seus corpos. A constituição das práticas da reza culmina dentro de uma lógica que seria de formação cultural do país, com a miscigenação das culturas e etnias. “Nessa perspectiva, vem à tona um emaranhado de crenças, tradições e valores provenientes

das

concepções

cosmogônicas

de

negros/as,

índios/as

e

europeus/ias” (CONCEIÇÃO, 2012). Percebemos que, dentro da miscigenação da formação cultural e étnica do povo brasileiro, o ritual da reza recebeu uma variedade de influências. Para Rabelo (1994), a importância dos cultos religiosos na interpretação e tratamento da doença tem sido amplamente reconhecida na literatura antropológica, e no Brasil tem-se uma pluralidade de cultos religiosos que oferecem serviços de cura. Seguindo metodologia didática já apresentada no caso da festa da Cavalgada, a cultura pode ser também estudada a partir do tema dos rezadores. A sequência didática exposta em anexo serve de referência para a prática de ensino e pesquisa para que os alunos idealizem o que irão observar e descrevam o universo escolhido a partir da prática etnográfica. Após trabalhar o conceito de

cultura e cultura popular, o professor entrará na discussão socioantropológica do lugar dos rezadores na sociedade. A partir disso, a etnografia vem, novamente, como ferramenta de estranhamento para que os alunos pensem sobre as práticas dos rezadores, dando-lhes autonomia na construção do saber. Considerações finais O aprendizado conceitual deve preceder o trabalho de campo para que o estudante saiba direcionar seu olhar. Tanto na experiência aqui relatada sobre a Cavalgada à Pedro do Reino como na prática dos rezadores, uma sequência didática deve preceder a ida a campo. No caso da festa, foram lecionadas quatro aulas; na proposta da pesquisa sobre os rezadores, apresentamos duas em anexo. Nos dois casos, as aulas englobaram a discussão sobre cultura, cultura popular e a manifestação cultural que seria tema da pesquisa de campo, além de elementos básicos sobre observação participante e prática etnográfica. Em Belmonte, após as aulas, os alunos foram convidados a fazer um trabalho de perspectiva etnográfica. Como a festa dura nove dias e conta de diversos momentos, a presença dos estudantes variou, dado que eles tinham compromissos na escola e pessoais. O modelo de abordagem em Itapororoca, por sua vez, tem uma possibilidade de pesquisa de campo mais livre, uma vez que não está restrito a um período específico do ano. Em um e outro exemplo, o que trouxemos foram relatos de prática didática que podem contribuir para o processo pedagógico. É fundamental, porém, preparar os alunos para a prática da pesquisa como processo de apreensão do conhecimento, do contrário, servirá apenas como animação de aula, mero ornamento do planejamento didático, que em nada contribui para transformar a pesquisa em “fio condutor da sociologia no ensino médio” (PIMENTA, 2013, p. 09). Fazer, enfim, da ida a campo um ofício da prática de ensino é o que propomos aqui, sem duvidar da capacidade dos alunos em fazer experimentos etnográficos, retirando a opacidade dos fenômenos sociais a partir de um novo olhar.

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Anexo Eixo Temático: Tema: Disciplina: Tempo estimado: Série/Ano:

Cultura Pesquisando as manifestações culturais dos rezadores Sociologia duas aulas de 50 Minutos 2º Ano do Ensino Médio

O que o (a) aluno (a) poderá aprender com esta aula O aluno irá aprender sobre uma breve introdução do conceito de cultura popular e sobre o universo das manifestações culturais sobre os rezadores. Introdução O conceito básico que está imbricado com o de cultura popular é o de cultura, partindo do principio de uma natureza simbólica, como, por exemplo, o molho de tomate dado por Mary Douglas (1976): se o molho está no macarrão terá um sentido (suculento), mas se o mesmo molho cair numa blusa terá sentido contrário ao primeiro (sujeira). Assim são as manifestações culturais, a cultura de um povo carregada de simbolismo e de significados para quem faz parte desse jogo cultural. Segundo Ortiz (1985), a temática da cultura popular e o nacional é uma constância na história da cultura brasileira e estão sempre vinculados à identidade nacional. Os rezadores fazem parte da cultura popular de determinadas regiões do país, principalmente do Nordeste. Aula 1 Na primeira aula, o professor deverá, como forma de iniciar o assunto para os alunos, relembrar ou apresentar o do conceito de cultura popular, um estudo que pretende entender o homem interligado com o seu meio, com as maneiras de agir, os ritos e significados que fazem parte do seu cotidiano. Após a apresentação, o professor deverá esclarecer que essa área de conhecimento se desenvolveu no Brasil e que a manifestação cultural dos rezadores é de suma importância para a compreensão da cultura popular. Nessa aula, princípios sobre observação participante e etnografia devem ser dados. Os alunos devem ser preparados para uma pesquisa de campo, para que possam buscar relatos sobre as experiências dos rezadores, tentando apreender os inúmeros sentidos de tais práticas culturais, com a perspectiva de que esses alunos não farão uma descrição densa sobre o universo dos rezadores, e sim, o exercício de pesquisar como ferramenta de ensinoaprendizagem sobre o mundo fora dos muros escolares. A divisão dos alunos em grupos permite que trabalhem quatro aspectos da prática dos rezadores: um grupo trabalhará o perfil dos rezadores; o segundo, as influências religiosas; o terceiro, a aquisição e a transmissão da reza e o quarto grupo as práticas das rezas para a cura. O objetivo para a formação destes grupos é a investigação no campo, uma vez que a reza é ritual doméstico, praticado em geral dentro da sala de estar. A divisão em grupos evita problemas no espaço a ser observado, além de facilitar a avaliação do professor, fazendo com que os alunos apresentem para toda a sala as perspectivas e os relatos que surgirão no decurso da pesquisa/observação e a aprendizagem de cada um. As orientações do

professor para a pesquisa como ferramenta de aprendizagem para cada grupo e o manejo dos instrumentos do diário de campo são fundamentais no fazer da pesquisa. Materiais a serem utilizados: Aula expositiva; data show para apresentações de slides e imagens dos rezadores. Avaliação Participação dos alunos, os debates levantados acerca do tema serão pontuados como participação e parte integrante da avaliação. Aula 2 Nesta aula, o professor apresentará informações sobre a prática dos rezadores. O perfil dos rezadores e as influências religiosas. Os rezadores em sua maioria são pessoas idosas que não sabem ler nem escrever e para aprenderem a reza utilizam dos recursos da memória, e na pesquisa de campo os alunos irão perceber que os rezadores combinam palavras e recitam suas rezas como uma música que um dia aprenderam e não esqueceram, e se por ventura advir um lapso da memória, combinam, encaixam outras palavras nas rezas suprindo aquelas palavras eventualmente esquecidas. Esses ritos dos rezadores são considerados mágicos e estão relacionados às práticas da magia, tendo como pressuposto a repetição, atos praticados que envolvem uma crença na sua utilidade, funcionalidade com o viés tradicional, assim como a própria magia. Os alunos terão que observar que os rezadores e fazer pequenos registros gravados ou escritos sobre os rituais. O professor apresenta os possíveis perfis e as influências religiosas que poderão encontrar no decorrer da pesquisa: pessoas religiosas, da terceira idade, que trabalharam por um longo tempo de suas vidas como agricultores, a maioria analfabetas. Aparentemente, rezadeiras e rezadores se enquadram num grupo social e cultural bem definido: em grande parte dizem respeito a trabalhadores, sobretudo trabalhadores rurais e/ou dos armazéns de fumo. Inserem-se num universo religioso semelhante ao agregarem devoções, buscando o amparo e a intercessão das diversas entidades sobrenaturais, atreladas ao conhecimento de um vasto receituário de ervas e emplastos para conduzir os enfermos à cura de doenças na esfera orgânica e espiritual (CONCEIÇAO, 2011, p.103). Após essa aula, faz-se a programação de saídas para a pesquisa de campo. Materiais a serem utilizados: Distribuição de cadernos para anotações da pesquisa; câmera fotográfica ou celular para o registro; data show para apresentações dos dados coletados. Avaliação Análise dos relatos dos alunos das experiências observadas na pesquisa para a turma, as descrições sobre o ritual e os aspectos que foram requeridos previamente para serem registrados. Avaliação contínua na medida em que as participações e os cumprimentos das atividades sejam realizadas.

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