A Pré e Proto-História de Lisboa no Catálogo de Lisboa Subterrânea

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A PRE EPROTO- HISTORIA DELISBOA no Catálogo de Lisboa Subterrânea

por João Luís Cardoso (*)

As compreensíveis Ii mi• tações de espaço. que não permitem desenvolvimento e justificação das ideias apresentadas neste texto de opinião. são. porém. va ntajosamente superadas pela publicação. neste número. de ensaio obre a evolução da presença humana pré e proto-histórica na região lisboeta, texto que corpori za os resultados pessoais de mais de vinte anos de in vesti gações e escavações arqueológicas nesta região.

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2. No conjunto. os te xtos publicados no catálogo da exposição em epígrafe evidenciam marcada heterogeneidade quanto ao conteúdo, porque diferentes eram também os objecti vos: textos de carácter monográfi co ombreiam com textos de índole geral. o que prejudica a continuidade do di scurso do catálogo e impede uma leitura coerente das sucessivas ocupações humanas ve rificadas na região. para as épocas em apreço. 3. Com efeito, é notória a dicotomia ex istente entre textos de carácter ensaístico, ou monográfico, que preenchem a primeira parte do volume, e o catálogo propriamente dito, integrando a descri ção das peças expostas, acompanhada de textos especítlcos sobre alguns daqueles conjuntos, ou das jazidas donde provê m. A deiiberada separação. no catálogo, entre o registo material que constitui a essência de qualquer ex posição. e os textos que sobre ele se podem (e devem) construir, prejudicou a desejável compreensão, integrada e imediata. dos

n Arqueólogo. Centro de Estudos Arqueológicos do Concelho de Oeiras

próprios conjuntos ex postos, para além das lacónicas fichas descritivas que os acompanham. 4. A estratégia de abordagem global. estendida a toda a Estremadura ou mesmo para além dos seus lim ites, que prevaleceu nalguns textos. não foi seguida noutros. como o relati vo ao Paleolítico. que pri vilegiaram. efecti vamente, análise circunscrita ao âmbito citadino ou, quando muito, da área imediatamente adj acente. Este seri a, quanto a nós, o critério que deveria ter sido seguido nos restantes. Com efeito. a abundância de vestígios neolíticos e calcolíticos. da Idade do Bronze e da Idade do Ferro. é demonstrati va de que a opção por análise que ti vesse como fu lcro a caracteri zação, seguida da indispensável integração cultural, dos arqueossítios do aro citadino, era possível e desejável (ver arti go do autor neste número). Nalguns casos. não conseguimos perceber omissões a estações já clássicas da histori ografia arqueológica portu guesa. como Sete Moinhos. junto a Campo de Ourique (cujos materiais, recolhidos outrora por Vergílio Correia se guardam no próprio Museu Nacional de Arqueologia). Vila Pouca ou Montes Claros, ambos povoados com ocupação neolítica e calcolítica. situados no Parque Fl orestal de Monsanto. o último considerado como um dos mais importantes povoados com presença de cerâmicas campaniformes, avultando as do Grupo Inciso. E que pensar do esquecimento das célebres galelias de mineração pré-históri cas, destinadas à exploração do sílex, descobertas em Campolide aquando da abertura do túnel do Rossio e desde então internacionalmente conhecidas? Acresce que os materiais então ex umaC ENTRO

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dos se guardam no Museu do Instituto Geológico e Mineiro, que cedeu a esta exposição numerosas peças de arqueossítios longínquos. da gnIla da Fuminha ou da Casa da Moura. a cerca de 80 km de Li sboa, ou ainda de mais longe, das grutas da Bugalheira ou da nascente do rio Almonda. a mais de 120 km de distância da capital.. . O critéri o seguido - que não compromete os autores dos respecti vos textos, os quais, obviamente, terão respeitado plano previamente definido - é também ilustrado por alguns textos de carácter monográfi co incluídos na Uá de si dispensável) primeira parte do catálogo. Só a defi ciente organização do mesmo poderá explicar a apresentação de texto alusivo aos concheiros de Muge. a mais de 65 km em linha recta da capital- que não consta que, na época, se estendesse para aquelas bandas - depois do dedicado às sociedades camponesas. Enfim. a apresentação de texto monográfico sobre Vila Nova de S. Pedro merece também reparo. Ainda que o pretendido fosse a invocação de um grande povoado calcolítico - o que não dispensaria, como vimos, a menção aos numerosos arqueossítios neolíticos e calcolíti cos do aro citadino, alguns deles antes referidos - continuaria injustificado o realce conferido a Vila Nova de S. Pedro. situado a cerca de 65 km em linha recta de Lisboa. De facto. a apenas 12 km da capital situa-se o povoado fortificado pré-hi stóri co de Leceia. que forneceu, até ao presente, a mais completa e conclusiva sequência estratigráfi ca. construti va e cultural de toda a Estremadura, abarcando um intervalo de tempo único nesta região, do Neolítico fin al ao fim do Calcolítico. O texto res pecti vo. encontra-se.

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porém, remetido para a segunda parte do catálogo. Diferentes critérios, que denunciam a deficiente organi zação do catálogo ou de quem acompanhou a respectiva impressão ... 5. Tal como para o Neolítico e Calcolítico. também para as Idades do Bronze e do Ferro os vestígios da região citadina são expressivos e abundantes, tomando muito desejável a sua caracterização detida e cuidada. Que di ze r da omissão aos resultados consubstanciados em copiosa colecção de artefactos recuperados. desde há vários anos. em di versos locais do subsolo citadino, através de acções promovidas pelo IPPAR e pela CML, bem como por outras entidades, além dos recolhidos outrora por Vergílio Correia no recinto da Sé e na baixa pombalina, os quais se conservam no próprio Museu Nacional de Arqueo l og i a~ Registe-se, também, a não representação do importantíssimo povoado do Almaraz, fronteiro a Lisboa, no mOITOde Cacilhas, onde uma única fossa de acumulação de detritos fomeceu mais de vinte mil fragmentos de cerâmica fenícia de vemiz vennelho, o mais importante conjunto até hoje registado em Portugal. Em compensação, encontram-se representadas jazidas que pouco ou nada têm a ver com a área lisboeta, de Sesimbra ao Bombaml, de Torres Vedras a Santarém, passando por Alpi arça. Resultará a ausência de peças daquelas jazidas de dificuldades surgidas na respecti va cedência, ex plicação que seria ex tensiva à falta de alguns conjuntos mais antigos, neolíticos e ca lc o l íti cos~ Ei s uma resposta que só poderá ser dada pelos organi zadores.

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lisboa 6. Esta exposição constituiu, pois, excelente oportunidade, não totalmente ex plorada. de fazer o ponto da situação sobre a ocupação pré e proto-histórica da região citadina e áreas imediata mente adjacentes, aproveitando os meios agora prodigamente postos à disposição, tanto mais que os autores dos textos são arqueólogos conceituados e com bibliografia importante sobre tais épocas; alguns daqueles escritos bem o provam, cheios de vitalidade e de leitura estimulante, como o relati vo às sociedades camponesas. 7. Ainda um comentário para a mais que deficiente produção do catálogo; além de pouco nítidos os critérios que presidiram à sua estru-

turação, como atrás ficou referido, multiplicam-se faltas de referências bibliográficas citadas nos textos, outras mostram-se erradas ou insufi cientes: avultam gralhas conduzindo a situações caricatas ou a disparates múltiplos, como o daquela ânfora que tin ha tanto de altura como de largura, fo tografias de peças a cores no catálogo que não constam da exposição, outras alegremente in vertidas. trocas de legendas de figuras. numerosas imprecisões nas legendas das peças, etc., etc.. 8. Sabemos que não terá sido fáci l pôr de pé uma exposição desta envergadura. Estamos conscientes das possíveis contrariedades que ti veram

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de ser ultrapassadas. Reconhecemos o esforço dispendido e admitimos que o resultado fo i globalmente positivo. Apesar do que ficou dito, dignificou-se a Arqueologia, tornando-a familiar e atraente à faixa etália em que, no nosso entender, mais importa in ves tir: a da popu lação escolar. Quantos jovens não terão tido, como nós próprios, naquele mesmo Museu, há mais de tri nta anos, um primeiro contacto, inesquecível, com objectos de estranho fascínio, emergindo da noite dos tempos, fragme ntados, incompletos, impenetráveis, conservando parte do nosso próprio passado comum, definitivamente inacessíveL.. mas que falam por si, dispensando ex-

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plicações supérfluas, como bem entenderam os organizadores. É, pois, de justiça, nesta rápida apreciação, relembrar as sempre actuai palavras do fundador da casa que albergou esta exposição, na sua História do Museu Etnológico Português (Lisboa, 1915, p. I): "...sei, por experiência, que é cousafacil zombar das obras alheias, descortinar defeitos no seu delineamento. ou preencher lacunas que a cOllcepção inicial deixou aberras; o dificil é innovar, impôr ao público a innovação, e num conjunto de materias, que ao primeiro exame aparecem confusas, coordenaI' o que tiver coordenamento".

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