A Primavera Brasileira e as Plataformas Digitais de Mobilização e Organização

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Artigo originalmente publicado no Le Monde Diplomatique Brasil de julho de 2013, página 08, sob o título de “As Plataformas de Organização”. Disponível em: http://www.diplomatique.org.br/artigo.php?id=1451

A Primavera Brasileira e as Plataformas Digitais de Mobilização e Organização Luis Eduardo Tavares, 26 de junho de 2013

Em meio ao amplo processo de mobilizações sociais que vive o Brasil, muito se exalta o papel da internet e das redes sociais, sobretudo, o Facebook e Twitter em possibilitar uma comunicação horizontal, contrapor informações da “grande mídia” e conectar iniciativas. Contudo, como qualquer outra mídia é preciso reconhecer que tais plataformas apresentam vantagens e desvantagens e a medida que as mobilizações avançam para a organização de assembleias populares, é necessário avaliar criticamente a escolha da plataforma de comunicação adotada para auxiliar nestes processos. Apesar de ainda recente, o que se vê é um momento político como raras vazes já houve na história do Brasil, com uma intensidade de debates, discussões e ações diretas, fato que trouxe à tona a ideia de uma Primavera Brasileira. Todavia, o processo segue em disputa entre setores democráticos e conservadores, uma disputa que atravessa as ruas, a internet e as mídias de massa televisivas e impressas, ou “grande mídia” como costumam ser chamadas. A despeito das particularidades locais, tal processo se apresenta ao mesmo tempo em consonância com outros ocorridos em outras partes do mundo e podemos considerar alguns aprendizados em relação ao uso da internet experimentados por movimentos como Occupy e 15M no ano de 2011. Pode-se distinguir dois momentos na apropriação do uso das plataformas de comunicação digitais por esses movimentos. Num primeiro momento, das mobilizações em massa, deu-se um uso intensivo das redes sociais como Facebook e Twitter. E num segundo momento, de organização de assembleias e grupos de trabalho, percebeu-se a necessidade da criação de suas próprias plataformas de comunicação e uma diversidade de plataformas em código-aberto foram desenvolvidas. No Brasil, estamos transitando para este segundo momento, o da organização, e deve-se tomar algumas lições tiradas de experiências passadas sobre o uso de plataformas corporativas. Estas lições dizem respeito aos aspectos políticos e funcionais

que são inseparáveis na arquitetura informacional. Primeiro, a medida em que o movimento cresce e produz informações, ele conforma uma memória coletiva que é patrimônio de todos deve ser livre. Quando se coloca esta memória em plataformas corporativas, este conteúdo passa a ser propriedade destas empresas e perde-se o controle sobre a própria informação. Facebook e Twitter tem políticas de remover conteúdos quando solicitados por governos, isto é, rompem com os princípios da neutralidade da rede. No que se refere à funcionalidade, percebe-se que as plataformas corporativas tem como estratégia principal entreter seus usuários com conteúdos novos todo o tempo, não diferenciando o que seja mais ou menos relevante, o que não funciona bem para finalidades político-ativistas não tão imediata. Quanto mais membros ativos tem um grupo do Facebook, mais rápido as informações se perdem em meio a constantes atualizações. Tampouco se pode separar o conteúdo postado por assuntos, sendo todos dispostos sequencialmente numa coluna, do mais recente para o mais antigo. Por um lado, é imprescindível a utilização de Facebook e Twitter para efeito de difusão de informações, haja visto a quantidade de usuários que estas possuem. São 73 milhões de usuários brasileiros no Facebook e 32 milhões no Twitter, segundo dados de março de 2013. Por outro, um movimento que se constrói de forma auto-organizada e autônoma deve ser protagonista de sua própria arquitetura informacional e isso será conseguido com a criação de plataformas de código-aberto, desenhadas para facilitar o trabalho colaborativo e não para acumular amigos.

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