A PROCISSÃO DO SENHOR DOS PASSOS DA SAPATARIA FUNÇÃO ECONÓMICA E REORGANIZAÇÃO DA ORDEM SOCIAL

June 13, 2017 | Autor: M. Mascarenhas | Categoria: Antropología Social, Antropología, Antropología económica
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Portuguese Literary & Cultural Studies 23/24

ECONOMIES OF RELATION MONEY AND PERSONA uSM IN THE LUSOPHONE WORLD

Roger Sansi Guest Edrtor

Tâgus Press UMass Dartmourh

Dartmouth, Massachusetts

Tagus Press at UMass Dartn-routh www. po rtstudies. umassd. edu

O 2013'lagus

Press at

UMass Dartr.t.tourh

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This volume was made possible,

ir.r

p:rrt, by a generor-rs granr fiom sovereign

Rank/S:rntander Universit ie'. Cover image: Stacks of Golden Coins O Gregor Schuster/Iconica/(ictty Images.

ISSN: 1521-804X ISBN: 978-1-933227-14-6 Library of congress cataloging-in-Publication Data available upon request.

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t'( ,li trJ( iUÍ:5L

Lt TERARY

& CULTURAL § \)t)tES 2_3/24

do Senhor dos Passos da Sapataria: económica e reorganização da ordem social

John F. Collins receivccL his l,[rD from the University of Michigan in 2003 and is professor of anthropology ar Queens College and the Graduate Center of the Universiry of New York. His first book, The Reuoh of the Saints: Memory and in the Twiligfu oJ'Brazilian "Racial DemocraqT" is forthcoming from Duke Press. He is currently at work on new projects on rhe exringuishing of the slave nineteenth-century Brazil and the cultural politics ofdeer hunting in the modern u states. Please do not hesitare ro conracr the aurhorwith commenrs or suggesrions at

j

[email protected]

Maria Margarida Paes Lobo Mascarenhas

Âllrtr*r"t.'fhe Catholic procession ofNosso Senhor dos Itt [.islx,n is

a

Passos

ofsapataria

yearly ceremony of penitence and prayer for the local

Frtltrtrrurrity, This article shows how money, exchange, and the capitalization

ill tLrtrrrions

are integral

Itllr'ttllltion

between religious and economic values.

to the organization of this ceremony, building an

Fltfcurlirnento do comportamento social, enquanto forma de interacçáo ou r, trrnduz a uma visão dinâmica do modo como os indivíduos integraFltt grupos vão resolvendo os problemas com que se depâram, numa adapr\s nrudanças

o (luc

se

temporais sofridas pela conjuntura social. É neste conrexto

justifica esta análise da função económica do ritual da procissão

§t,ttlrol dos Passos da Sapataria, bem como do seu sistema de prestação de

()s dados utilizados foram obtidos através de entrevistas, conversâs ttitis, cla observação directa dos preparativos e dos ritos propriamente (ron1 base em

apoio teórico obtido âtravés de bibliografia.

 Íi'cguesia da Sapataria pertence ao Concelho de Sobral de Monte Agraço,

Itluir pcrlueno do distrito de Lisboa, e integra a denominada região Oeste. (r)rltexto, realiza-se anualmente no quarto Domingo da Quaresma,

hí r

ccrca de 400 anos, a procissão do Senhor dos Passos, numa reconsri-

rlos I)assos do Calvário (O trabalho

l.i r e ra ry ú C u lt u ra I St u dies 23 / 24 (20 litgrr* l'r'css irt UMnss Darunouth

1

2)

e as

tradições...453).

: 93-l 02.

SÍUDIES 23124 PORTUGUESE LITERARY & CULTURAL

ficou apurado que em tempos a No que respeita à intençáo deste ritual' obter a chuva indispensável " "tir"-*rt1: comunidade da Sapataria pretenderia culturadesubsistência,acreditando'comestesritos'suprirasnecessrdades economia de mercado' a maior dos produtores' Com o início da económicas

partedoshabitantesdaSapataria'algunsproprietários'outrostrabalhadores terra

totâlmente dependentes da agrícolas assalariados, ainda se encontravam Hoje' a população já náo vive da agricultura e, por consequência, do clima' outros sectores de pro(sobretudo d,a de subsistência)' tendo-se desenvolvido de produtos agrícolas e pecuá-

duçáo (industrial, sobretudo de transformaçáo modifrcaçáo da conjuntura económica' rios), assim como o comercial' numa sociais com consequências no o que prod"uziu, como é evidente' alterações ao, rituais desenvolvidos pela comunidade'

a-ii.o

oitineráriodesteritual.í.licotemsofridoalteraçóes,consistindo,ctual-

dos ponteinoutra trajectória circular' no sentido à igreja' a volta à freguesia regressa Posteriormente têm sido desem' ritual e as tarefas respeitantes à igreja

mente numa volta à igreja ros do relógio, q*t d"táo

A

organizaçíodo

e

penhadaspelocasalconstituídopelosacristáoesuâesPosa'funçáopassadade Comissáo tabttO":t:"' geraçáoem geraçáo, e po r uma -"::::lt:tT:: :i::: o§ do trabalho-enquanto ãrefas distribuídas numa divisáo sexual Ir.ri,

"o* financeira' às quatro '"ithtt:: homens se responsabilizam pela gestáo lin:::: loigo dt todo o ano' no que respeita a da ig"i" pete â mânutençáo e às

flores. Esta comissão

'o tt* t'- i'"t'd"to

de cinco anos' devendo cada

d1 entre os Parentes e vizinhos' que sai encontrar outro Pârâ o substituir' Comissáo Fabriqueira arranja q No terceiro dot"irrgo da Quaresma' a (peditório) por toda a freguesia' excePto üo homens para fazer a "pedidd' mantêm uma grande rivalidade' estando lugar de Pêro Negro, com o qual dirp.rt" o lugar ideal para sede da freguesia'

.,--^^)^- i^taor que pretendem integrar É na "pedida' que os homens da comunidade donativo' cujo valor procissáo devem f*"t T'"1-t--t^t:t:^,2;::^:'r:'?, "* d'e mordomo' recebendo em tÍoca' de imediato' o título

I

I

ilü".;;; título de ;;.".. de amêndoas de 200g;.o it:"t:td:i:Í:t*"r::::] então 100g de amêndoas' Tbdos os

il;;;rr"

q.,'"ti", "Jtbtt'do

opâ (capa) roxa e antigamente quem domos recebem, ainda hoje, uma a vara de juiz' mas hoie tinha hot"" dt ltt"' na procissão d

maior donativo " clê'" Toclas as dádivas tu" :t*Ut^1:t-,:^' dia 'aré iâ é drflcrlencontrâr quem quân nol'nc clo ofcrttnte e respectlvo Iista com referência ao lugar, ao recebiclo Pela cornissáo'

Para Mauss, a recusa de se receber mais náo é do que recusar a aliança entre

homens: "[...] les échanges de cadeatx entre les hommes, [...] incitent [...] lcs dieu à être généreux envers eux' (165).

os

A contra-dádiva

das amêndoas, que só é excepçáo

no caso das ofertas feitas

I Z

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o m

lx)[ promessa, é realizada "há um número de anos desconhecidos," constirrrindo sem dúvida uma marcação cerimonial deste ciclo, intervindo na reite-

o

"O modo como, em mui-

ô

rirção periódica das relaçóes sociais. Leal afirma-o:

los casos, estas dádivas (refeiçóes cerimoniais) se estendem informalmente a orrtras unidades domésticas de parentes, vizinhos ou amigos, deve ser olhado r\ lrrz

da mesma perspectiva, [...] liga-se também, por intermédio do compasso

1r,rscal, a

ideias de reafirmaçáo de laços sociais mais amplos, como aqueles que

rt' prendem com a pertença à comunidade" (264). I)ara além da comissão, o sacristão e a mulher têm competências especí-

li,rrs neste ritual, tratando de todos os prepârarivos de 40 a6^ feirada última slnrlna, nos quais se incluem o arranjo dos fatos dos anjinhos, os cânticos das vilgr:ns e da Verónica, o tapar dos altares com panos roxos, o arranjo ritual das itnrrgens, bem como o "escangalhar" daigreja.l Ao sacristáo compete, devido

cargo, dar o nó ritual na túnica do Senhor dos Passos, segundo um rrrl)('r'transmitido pelo antigo sacristáo, pai de sua mulher. d() scLl

No próprio dia da cerimónia, na estrada à saída do adro da igreja, etp,rridas duas tendas toscas, uma de venda de bebidas, explorada

são

por um

lr.rticulâr, que no caso do negócio lhe render deverá pagar duas mordomias ( | \( ,), caso contrário só paga metade. A segunda tenda, que vende produtos llltnctrtares (amêndoas, mel, bolos), é explorada por um padeiro da regiáo a tfu('nr compete pagar 25€ pelo espaço que utiliza.2 manhá é aproveitada, por muitas pessoas das redondezâs, para Ílolcs e tratar das campas no cemitério da freguesia, localizado por detrás ff1r d* ip,,rcja, lugar para onde se dirigem posteriormente, a fim de fazer o seu Ir,isa mesma

lllrrtivo ao Senhor dos Passos. Estas yerbas sáo recebidas directamente por t rkrs clementos masculino da comissão, que regista o nome e o valor da trr,

rr:tribuindo com um pacote de 100g de amêndoas (à excepçáo das ofer-

lritrrs clevido a promessa, pois estas sáo iá a contra dádiva do favor obtido). tlrla trir parte da manhã, dois mordomos acompanhados pelas mulheres da

irr;ro, juntamente com o sacristão e a sua mulher, váo "fazer os Passos." tler palmeira, quadros (com pinturas represenrando os Passos do Cal's lrr) r'r'tirac{os das paredes daígreja, flores para enfeitar e para cada Passo, tlr('sr corn uma jarra cle flores e uma bancleia para receber as ofertas-são

U

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STUDIES 23124 PORÍUGUESE LITERARY & CULTURAL

horas construçáo dos sete Passos' Pelas onze tfansPortaram opas (capas) vesddas, da manhá, seis homens, já com as suas local pre"ia-ente prepa*rlo' onde o andor da Senhora d*, bor", para um o sacristáo toca p..-"t....á escondido até ao sermão do Encontro' enquanto "só ele toca bem'") À p"ss"gem do andor' o sino sem parar (é um saber ritual' Na venda dos bolos' tapam-nos os homens d,escobrem a cabeça e benzem-se' com uma toalha branca' missa' o padre' escolhido pelo À tarde, por volta das 16 horas' d'epois da inicia-o com o primeiro sermáopároco para ser o Pregador deste ritual' Passo o Pregador faz o --o Pretório,-a que se segue a procissáo; no terceiro das f)ores com o seu filho)-e é um (da

como: a volta à igrqa; a volta à freguesia; a volta ao andor; a roda do círculo cle vizinhos, para realizar as pedidas e consriruir nova comissão.

a reorganizaçáo do cortejo e a pas§amomento de enorme dramatismo' Após sétimo e último a procissão regressa à igreja para o

tica.5 Neste tempo, as situações de silêncio e eviramenro quotidiano entre

â estes os objectos essenciais Para

Senhora

segundo sermão-o E'n"o"i'o gem pelos restantes Passos, Passo,

em que

se

ouvirá o

tttttito sermão-o

Calvário' No final os penitentes

circulamàvoltadaimagemdoSenhordosPassos,fazendoofertasemdinheiro.3 já possibilita a análise.de várias Esta apresent"çao át carâcteretnográfico se salienta a problemática da manuquestões pertinentes, de entre as quais de anos' Para além da funçáo essencialtenção do ritual ao longo d" ttttttt" um lado' pela crença e necessidade mente econó-i.r, .,tt"*antém-se' por devido ao interesse da comunidade de satisfaçáo de promessas e, por outro' No que respeita à crença' que tem pÔr em manter esta tradiçáo antiquíssima. e reconciliação com a é sustentada por ideias de perdáo devoçáo, esta @ ulYvYÉ base u.ÕL a

' 'tual' Também o ritual esptrt divindade, num processo de regeneraçáo

afecta

*t:tYtdidt: t:,1:,,':

revestindo-a a relaçáo entre o crente e a divindade' * Senhor" de expressões como: a "roupinha do fod" ,.rifi."r pela utilização procissi na usadas para serem o'vestidinho de sair," ao referirem as vestes das Dores' imagens do Senhor dos Passos e da Senhora pelas

actuoJizaçáo indispe

A reformulaçáo permanente das normas' numa àcontinuidadedoritualaolongodosanos,étealizadapelamulherdo táo, apesar de lhe compttit

"

ã"t""ençáo do cumprimento tradicional

ritos e das suas interdiçóes'a para esta A problemática espaço-tempo é também fundamental tarde, o espaço onde vai Drrrrrra. todo o dia, sobretudo na Parte da Os caminhos' irreconhecÍ p.o.irrao sofre uma alteraçáo, transfigura-se'

converg': p.':.'a Sapataria' com a marcaçáo do, P""ot, Parecem todos direcçáo daig'reja,também

t'á p"ui"*tnte

"desmanchada" e preparada

oritual.Podem-seconsiderar.l,iu*.,*,circtrlaricladesemtodoaqueleesl

Também é possível ver a circularidade do tempo, na repetiçáo anual da procissáo. O andar de todos os penitentes, vestidos de cores escurâs num pro-

de identificação da sua dor com a da divindade, é cadenciado, lento, r.ompassado pelo som da banda e pelo toque repetido do sino. O ritual é cesso

tcmpo de reencontro de parentes, amigos e vizinhos; há uma paragem do rluotidiano, pois as rivalidades são ignoradas (também cá estão as gentes de ltôro Negro) e opera-se como que uma ruptura nas relaçóes complementares cntre os dois sexos, ficando reservado para as mulheres o papel de penitentes orr assistentes, numa clara inversáo das relaçóes em termos de unidade domés-

llirrentes sáo anuladas e substituídas por outras opostas, caracterizadas pelo rliílogo e pela aproximação, reformulando as relaçóes sociais.

'lambém é possível analisar o ritual da procissão do Senhor dos Passos r'rlqrrndo a sua função económica, função esrâ que o ritual sempre teve e ainda lcrrr hoje, efectivamente: se, por um lado, a Comissão Fabriqueira movimenra

de carácter religioso,6 por ourro, ela própria dinheiro, tanto directamente junto dos penitentes e de toda a comuttitl;rcle (durante a "pedida" de porta em porta), como recebendo-o indirectalrcrrs, quer monetários, quer *rr1,,rrria

Ittcttte das vendas. Poder-se-ia pensar que náo há excedentes desses bens, mas

* ritrurção é exactamente a opostâ, pois o objectivo de todas as comissões lrtrscguir que após

as despesas pagas,

é

todos os anos, haja capital que possa ser

llel,,rsitado numa instituiçáo bancária, a fim de que possa voltar, mais tarde, à trtttrrrrridade, acrescido de juros, sob a forma de novos bens (arranjos e obras

lle tttlrrutenção da igreja). Recorde-se o significado do adjectivo fabriqueiro: r'f ,,,1 rliz-se da igreja que tem fábrica de sacristia ou de igreja, isto é, rendas lftlir Ívcis às despesas de culto e de reparações" (Machado 63)-é isro mesmo

A comissáo, numa funçáo inequivocamente eco,idttticl, obteve no ano 2000 um lucro de 2850€, depois de pagar rodas as dil1n'*,,., depositando o dinheiro num banco, a fim de render juros.T QHe

irrrrntece na Sapataria.

lr;rrrr compreender este

circuito, é pertinente questionar se, na verdade, sáo

;S rrt hirllitantes da Sapataria que "mandam na sua igrejai' como afirmam o lkt'lttito c a mulher. A investigaçáo mosüou que o facto de o Pároco não residir S Ít'e6rrcsia contribui em muiro pâra o seu afastamento da comunidade, tendo

fllrrl

(!)lrsequência directa uma desresponsabilizaçáo da igreja sobretudo em ter-

S*» lirrnncciros, visto o templo ser gerido auronomamente pela Comissáo Fabri-

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o

23124 PORTUGUESE LITERARY & CULTURAL STUDlES

pelo pároco da freguesia' aquando da queira. Esta situaçáo pôde ser confirmada

(dinheiro, objectos religiosos ou certos sacriffcios como fazer o "perambulatio" clescalço) e que se destina a retribuir uma graça concedida, normalmente em

I Z

entrevistaquelhefoifeita,escusando-seadarinformaçóesacercadeumritual

circunstâncias grâves da vida, insere-se num sistema de dívidas que nunca pode-

U

nunca ter estado presente' Estas afirque dizia desconhecer por completo' visto quando se sabe que este mesmo padre maçóes assumem particular i"'pottâ"cia estabelece proibiçóes (como o afixar

.,.,tt 'itt"l,

intervém directamente

pois

a fazet altetaçles (como a mudança e designa o Pregador' É evidente que' da ordem no desfile das alfaias religiosas) todos os lucros decorrentes da realizaçío desta forma, o Patriarcado 'ptot"it" com as verbas necessárias à manutençáo da procissáo, abstendo-se de participar "["'] em 80 anos' só uma vez fo\ como é d' *" tornpttência:

nous

na vesre do Senhor dos Passos), obriga

e obras da igreja

para câ"' informou o sacristáo'8 preciso os de Lisboa mandarem dinheiro

não se caracteriza somente por uma Constata-se deste modo que este ritual e sobretudo' por uma economia economia de bens simbólicos, mas também' pagamento, medindo o valor dos a moeda funciona como meio de

rãro

deixar de ser saldadas; segundo nos informaram: tem que ser, é promessa.

Mas a verdade é que, na prática, nem sempre se observa esta obrigatoriedade, pois, curiosamente, muitas promessâs não sáo cumpridas, ficando em "dívida." rnesmo em vida deles, se sentem obrigados afazê-lo, como que numa extensão

o

das relações familiares.

O pároco, o mesmo que afirma desconhecer

form .,.tt" ti'"t'l'çáo ["'] produz-': t-i:]::t'-se uma

p"rti",rlu d. capitd a que chamei capital simbólico l"'1"(132)' de prestação de dádi Outro dos objectos em análise deve ser o sistema "dar é insti

dizem: Godelier diz que presente neste ritual; veja-se o que nos dá e quem recebe' simultaneamente uma dupla relação enüe quem

U1a

reL

a dádiva ap urna relaçáo de superioridade. [...] fA]ssim do vâ acerca Godbout xima [,..] e afasta (os protagonistas) socialmente"(21); relacional (por oposição ao valor de t da dádiva considera qrr..rá é de nível

de solidariedade

[...]

e

protagoni le don enrichit le lieu et üansforme les que la gratuité essaie de nc Le don contient [.-.] quelque chose de plus d'une valeur de lieu en

de

troca)-"En circulant,

[...] L" plus-value ..,t ["'] la transformation que à'é.h".rg." (24). O pagamento de pronrcssas'

asstrme inúmeras

ritual,

incumprimento das promessas como por exemplo o Paga' rnento de missas, a compra de ex-votos à igreja (vê-se que o lucro náo está muito

rrrredado destas sugestóes) ou a prática de oraçóes.

Podemos considerar aqui duas situaçóes diferentes: a primeira é o pagarrrcnto da promessa que Êca cumprido no momento em que se vai na pro-

[,irn concluir a tÍoca.. Mas, na verdade,

Têrceira propriedade:

este

strgere alternativas ao

ocustodasmordomias,dasmeias-mordomiasedodireitodevendadascomi. obtenção de lucro, sendo tudo registado das e bebidas), com a finalidade da o tganízada' a uma Comisrazáo eao real interesse em se Pertencer verdadeira Quanto da sua inteira competência a gestão do§ sáo Fabriqueira, o facto é que, sendo de cada ano e sobretudo no frnal do fundos, consoante o capitalobtido no fim aferido por toda a comunidade' mandato, os seus membros veráo o seu valor sociais, a que Bourdieu denomi' forma esta de reconhecimento dos ind,ivíduos correlativa (da economia pré' nou de capital simbólico: 'A segunda propriedade económicos em actos simbólicos ["'] -capitalista) é a transfigur*çãoão' actos

í

ô

t issão;

à

o ú o l u

Nestes casos, por vezes são os familiares quem, após a morte dos parentes ou

mefcandl: constam de tabelas (estas estabelecem bens que circulam segundo Preços que

numa contabilidade

u

a segunda consiste no aluguer dos fatos para o ritual, que é feito em

rrroeda, ao preço da tabela e que no futuro será contabilizado, devendo tamse se

trata de uma simples relação de

troca (ainda que temporária) de moeda por bens (cargos ou fatos), donde vem ;r

obrigatoriedade de se receber um pacote de amêndoas? Porque náo basta dar

l

rcceber o que está estabelecido? As amêndoas que se recebem fazem exceder

os termos da troca. Náo poderão constituir como que uma mais-valia? Neste r

lso

a relaçáo

não fica equivalente e se o dador recebe mais do que os bens que

llilgrrra, fica em "dívida." Outra das hipóteses é ser necessário receberem-se as iruôudoas pois constituem a verdadeira contra-dádiva, visto que os fatos têm rlt'scr devolvidos. Mas, os cârgos e as honras que eles trazem aos indivíduos (o r

irpital simbólico) não podem ser considerados como contra-dádivas?e

(]uando a comissáo

realíza a pedida

(peditório), náo o faz na aldeia

de

lrôxr Negro devido a um antigo litígio acerca dalocalizaçáo da sede da fregueriir, situada na Sapataria. Mas, sendo o objectivo a angariaçáo de fundos, porrlrrc não os iráo aí recoiher? Será porque a comunidade da Sapataria náo quer dt cit

rr

r o dinheiro ou náo quer ser obrigada a retribuir a oferta? É

i.tt.t.tt"r-tt.

rttr,rlisrtr o que acontece por ocasiáo das Festas de Verão de Pêro Negro, altura ulr (luc a aldeia necessita para uma procissão de pedir emprestadas à Sapataria

Élprrrrns alfaias religiosas, solicitação que é aceite anualmente, talvez devido a

rr'tt'trr objectos sagrados, contrariamente ao dinheiro recebido na colecta para

d lrror:issáo do Senhor dos Passos. Pensamos que a comunidade da Sapatatlr rq'tlc os bens (sagraclos), mas não pretende permitir qualquer retribuiçáo

É

ECONOIVIES OF RELATION SÍUDIES 23124 PORTUGUESE LITERARY & CULTURAL

a ficar Deste modo' obriga Pêro Negro aquando do peditório para o riruâl' povoaçóes' duas àí"id"' acentuando a ruptura entre as nir."rrr.rr,.*ente em de rivalidade' como que numa renovaçáo da relaçáo uma das bases funa divisão social do trabalho' Consid.ere-se, dt ou "g'id"' 'verdadeira funçáo é criar' entre duas damentais da ordem social' cuja serão Mas' de solidariedade" (Durkheim 71)' várias pessoas' um sentimento pelo ritual caÍacteÍizadas pela igualdade? âs relâções d.,o1id..i"d"de criadas Apesar de qualquer indivíduo poder Certamente que â resPosta é negativa' a comunidade de Pêro *t:::-:,:-" otd" integrar a procissão a"i'p"t*ii e que de adquirir os cârgos que o Permltem fazer, pois náo tem possibilidade

dáoprestígio.l0Ficamassimcomdeficitdecapimlsocial'ouseia'Permâneda fre-

em relaçáo aos habitantes do resto cem numa posiçáo de inferioridade neste ritual' náo é um factor que este'a Presente guesia. De facto, a igualdade segundo os diversos graus do saber pois existe uma hierarquizaçáo estabelecida Se' Por um lado' os-mordomos ritual e consoante o' *ro' desempenhados' nâ base da hieeconómica do ritual' situando-se

proporcionâm a subsistêIcia os fundos e da Comissáo Fabriqueira gerem rarquia, por outro, os membros uma divisáo sexual das târefas' os velam pela manutenção daigteia'(segundo igreja)' da dinheiro' as mulheres pela limpeza homens responsabilizam-se ú1o constiilído hierárquica' Por seu lado' o par mantendo-se a meio da pirâmide

pelosacristão.rrr"-.,lht"aodeteremasfunçótsprincipais'ouseja'todoo . poder ritual, posiciona-se no toPo da referidaht"tit9ll-1^^ Àã.+ê ."b., têat6. '"";;:;;;",1" desre texro,

.*.r,

foram realçad^,

Ao longo algumas conclusóes desta análise.

propo'it'dátnte

noçóes como drvida' rupt.uâ

i**ntu ::ffiiâll.'il,ã;*'i a* if"ia*' d" buiçóes mas também

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'olid"'itd"d*',t,tTbn3

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sobretudo de desigualdades e hierarquias' determinadas paridades, Porém havia interesse na circulação Detectou-se tt"ip'o
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