A proclamação da República de Portugal noticiada aos imigrantes portugueses em Franca-SP.doc

May 30, 2017 | Autor: L. Oliveira | Categoria: Historia Social
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A proclamação da república de Portugal noticiada aos imigrantes portugueses
em Franca-SP (Brasil). In: OLIVEIRA, Lélio Luiz de; PORTUGAL, Ana Raquel
(Org.). Brasil e Portugal: reflexões sobre República. Franca: UNESP-FCHS,
2012. p. 61-67.







A proclamação da República de Portugal

noticiada aos imigrantes portugueses em Franca – SP (Brasil)



Lélio Luiz de Oliveira*





O vai e vem dos lusitanos em terras americanas, afeitas ao império
português e com o passar do tempo ao Brasil independente e depois
republicano foi uma constante.[1] Tanto que a imigração dos portugueses
advindos do velho reino para as terras brasileiras foi por vezes analisada
como estrutural.[2] Constante, também, foi o fluxo de notícias entre as
famílias e sobre a situação política do pequeno reino português deixado
para trás. Com as notícias relativas à proclamação da República em
Portugal, em outubro de 1910, não foi diferente.
Ao tratar somente das décadas finais do século XIX e as iniciais do
século XX, as razões das vindas, retornos e fixações dos portugueses podem
ser assim bem sintetizadas ao serem conjugados os fatores de expulsão e
atração.[3] Do lado de lá do Atlântico "a crise social ocasionada por más
colheitas e pela concentração fundiária em Portugal, acrescida pelo desejo
de fugir do serviço militar daquele país". Do lado de cá "o deslanche do
desenvolvimento essencialmente capitalista da economia brasileira depois da
abolição".[4] Junto a isso as políticas ora impeditivas ora facilitadoras
dos governos português[5] e brasileiro, via legislações e possibilidades de
subsídios que controlavam o trânsito das populações migrantes[6] e os
interesses comerciais entre os dois países.[7] Tudo somado aos elementos
tradicionais e facilitadores como a língua, a religião e os vínculos de
parentesco com grupos familiares já estabelecidos no Brasil.[8]
A população portuguesa radicada no município de Franca, localizada no
nordeste do estado de São Paulo, viveu a experiência de acompanhar de longe
os embrólios da proclamação da república em Portugal. Um dos principais
noticiadores dos fatos era o Jornal Tribuna da Franca.
O número de portugueses não era tão expressivo se comparado à
população total de Franca ou aos imigrantes italianos[9] e espanhóis[10].
Para que se tenha uma idéia, em 1920[11], foram recenseados 617 lusitanos,
sendo 392 homens e 225 mulheres (Tabela 1). Contudo, o número deste
imigrantes era razoavelmente proporcional ao dinamismo dos municípios da
região do nordeste do estado de São Paulo. Isso fica claro na Tabela 2. É
possível conferir, também, a predominância masculina.





Tabela 1
População do Município de Franca – SP,
segundo a nacionalidade – 1920
" "Homem "Mulher "Total "% "
"Brasileiros "19.237 "18.882 "38.199 "86,20 "
"Portugueses "392 "225 "617 "1,40 "
"Italianos "1.531 "1.358 "2.889 "6,52 "
"Espanhóis "1.275 "1.006 "2.281 "5,14 "
"Outros "247 "155 "330 "0,74 "
"estrangeiros " " " " "
"Total "22.682 "21.626 "44.308 "100,00 "


Fonte: BASSANEZI, Maria Sílvia C. Beozzo; FONSECHI, Gislaine Aparecida
(org.) São Paulo do passado. Dados Demográficos. Campinas: Unicamp/NEPO,
1998.



Tabela 2
População de migrantes portugueses - 1920
" "Homens "Mulheres "Total "
"Franca "392 "225 "617 "
"Batatais "245 "131 "376 "
"Ribeirão Preto "1.658 "1.048 "2.076 "


Fonte: BASSANEZI, Maria Sílvia C. Beozzo; FONSECHI, Gislaine Aparecida
(org.) São Paulo do passado. Dados Demográficos. Campinas: Unicamp/NEPO,
1998.



Sabe-se que os imigrantes foram atraídos para o município francano
devido a ampliação e diversificação das atividades econômicas promovidas
pela cafeicultura, que por sua vez dinamizou setores tradicionais como a
agropecutária e setores urbanos como o comércio e a indústria. A
prosperidade nas décadas finais do século XIX e iniciais do século XX
atraía novos trabalhadores.[12]
Ainda com a intenção de caracterizar a população portuguesa, verifica-
se nos arquivos da Cúria Diocesana, especialmente os documentos
relacionados aos batismos, a origem dos lusitanos que faziam morada em
Franca no início do século XX. Isto é, levando em consideração as pessoas
casadas que seguiam o rito de batizar seus filhos na igreja católica. Em
torno de 52,0% (115 indivíduos) tinham origem nos distritos mais centrais
de Coimbra (32,0%) e Leiria (20,0%). De Lisboa e Santarem foram anotadas 13
pessoas ou apenas 6,0% do total. Da região norte – incluindo os distritos
de Aveiro, Viseu, Guarda, Porto, Braga, Viana do Castelo, Vila Real e
Bragança – contavam-se 20,0%, que correspondia a 46 pessoas. Neste caso, o
destaque está para o Porto de onde se originaram 10 pessoas. Nada consta
sobre as regiões leste (mais ao centro) e sul, seguidamente: Castelo
Branco, Portalegre e Évora; Setúbal, Beija e Faro. Dos Açores e da Madeira
viviam 23 pessoas ou 11,0% dos imigrantes portugueses. Dos dois distritos
que mais contribuíram destacam-se os Termos de Cantanhede e Leiria,
seguidos de Marinha Grande e Coimbra (Tabela 3).
Ainda segundo as mesmas fontes – os batismos – percebeu-se que 22,0%
dos imigrantes (que fizeram registro dos ritos católicos) vieram já casados
de Portugal. Em contrapartida 74% realizaram seus enlaces matrimoniais
depois da chegada ao Brasil. Destes, a grande maioria que procederam os
batismos dos seus filhos – 75% - casaram-se em Franca ou localidades
próximas. Pode-se deduzir que predominavam os imigrantes jovens e
solteiros, que depois de estabelecidos e de ter acumulado algum pecúnio, só
assim realizavam os seus matrimônios. Eram consideravelmente diferentes as
porcentagens entre homens e mulheres que chegavam já casados ao Brasil.
Entre os homens somavam-se 22%, o que distoa das mulheres: 38%. Noutros
termos, a tendência era haver mais imigrantes solteiros do que
solteiras.[13]
Ao focar a composição dos casais nota-se que os homens prezavam menos
a endogamia. Entre 139 homens, 68 (49%) casaram-se com mulheres da
comunidade portuguesa, 57 (41%) com brasileiras, 7 (5,0%) com espanholas e
7 com italianas. Por outro lado, as anotações indicam que entre 79
mulheres, 68 (86%) casaram-se com portugueses, 8 (10%) com brasileiros,
havendo apenas 1 casamento com espanhol, 1 com italiano e outro com um
sírio.[14] Dos dados resulta que havia disparidade entre homens e mulheres
portugueses disponíveis para o casamento.



Tabela 3
Origem dos imigrantes portugueses
conforme os registros de batismos (1913-1917)
"Regiões "Distritos "Nº de pessoas "% de pessoas "
"Norte "Viana do " " "
" "Castelo, Braga, "46 "20,0% "
" "Porto, Aveiro, " " "
" "Vila Real, " " "
" "Bragança, Viseu " " "
" "e Guarda " " "
"Centro "Coimbra e Leiria"115 "52,0% "
" "Lisboa e "13 "6,0% "
" "Santarem " " "
"Centro-Leste e "Castelo Branco, " " "
"Sul "Portalegre, "- "0,0% "
" "Évora, Setúbal, " " "
" "Beja e Faro " " "
"Ilhas "Açores e Madeira"23 "11,0% "
"n/c "- "- "11,0% "
"Totais " "197 "100,0% "


Fonte: Arquivo Diocesano de Franca, Batismos, 1913-1917, livros 34-38.
SILVA, Ewerton L. F. M. da. Presença portuguesa em Franca: um olhar a
partir de fontes paroquiais (1913-1917), p.62-3.


Apesar da precária alfabetização dos portugueses no início do século
XX[15] (entre os brasileiros não era diferente), as boas novas do cotidiano
e os lamentos de saudade atravessavam o Atlântico, sem parar, através de
cartas e missivas. O tempo de trânsito entre as comunicações pessoais e
familiares era lenta se comparada ao tráfego das mensagens de poucas linhas
dos telégrafos. Os telégrafos alimentavam em maior escala as comunicações
comerciais e governamentais. Os jornais, não só das maiores cidades, mas
também aqueles das localidades interioranas (especialmente as ligadas por
ferrovias) tinham suas matérias alimentadas por notícias telegráficas. A
cidade de Franca, localizada no nordeste do estado de São Paulo, próximo às
fronteiras de Minas Gerais, possuía O Jornal Tribuna da Franca, que
continuamente fez uso dos recursos telegráficos para divulgar as notícias
nacionais e internacionais.
Os portugueses radicados no município de Franca recebiam as notícias
sobre os acontecimentos imediatamente anteriores e durante a proclamação da
república em Portugal, via Jornal Tribuna da Franca. O jornal relatava as
notícias advindas diretamente da Europa ou reproduzia os telegramas
publicados nos jornais da capital do estado – São Paulo, com os textos
estampados em primeira página.
Publicadas as edições, corriam as notícias entre os leitores assíduos,
entre os comerciantes da Praça Nossa Senhora da Conceição, entre os
comentadores nos botequins (entre xícaras de café ou aguardentes), nas
estações ferroviárias que serviam o município, e de lá para as fazendas. De
mão em mão o jornal corria, de boca em boca as notícias eram relatadas mais
ou menos. Aos nascidos em terras brasileiras servia mais as crônicas sobre
o cotidiano e os embates políticos locais. Mas, nos dias próximos a 5 de
outubro de 1910 (Proclamação da República em Portugal) a atenção
notadamente dos portugueses voltou-se para os trâmites políticos
desenrolados em Portugal. Leitores e analfabetos, aparentados ou não,
partilhavam as notícias oriundas da velha terrinha.
As versões que os francanos tiveram acesso – as especulações ou os
fatos confirmados – foram transcritos pelo jornal respeitando muito os
dizeres dos telegramas. Parece que a redação do periódico não era capaz de
emitir opiniões ou fazer adendos. Mesmo porque as narrativas perpassavam a
idéia de que a república era algo inevitável em Portugal, e não decorrentes
de um complexo processo histórico, incluindo os interesses de parte da
elite portuguesa.[16]


"Assim, o que acaba de se passar nesse velho e glorioso paiz, onde
desde a sua formação imperou o regimen monarchico, é o resultado
lógico da evolução democrática que, fatalmente, há de ir aos poucos
tudo conquistando, desde os menores centros oligarchicos até as mais
poderosas monarchias."[17]




Tudo se resumia, didaticamente, no discurso republicano, à posição
subalterna do reino aos interesses ingleses – notadamente no que tange às
questões coloniais -, aos gastos desproporcionais da família real, o poder
e a interferência da igreja nas questões políticas e sociais, além da
incapacidade da monarquia promover o progresso econômico e o alcance da
modernidade. A constante instabilidade política era bradada pelos
republicanos:


"De ha muito que lavrava no seio de todos os partidos de Portugal os
maiores desgostos e desharmonias, podendo-se dizer que desde o
momento do assassinato de D.Carlos, Portugal não teve mais governo.
De facto, os diversos ministérios organisados duraram desde então
poucos dias, porque nenhum conseguira ver-se apoiado por maioria
estável, tendo, por isso, de sucumbir sem que conseguissem solver as
gravíssimas questões político financeiras que importavam na
organisação moral dos negócios públicos e necessitavam á garantia da
monarchia, seriamente ameaçada pelos ideais republicanos que, com
impetuosidade assombrosa, se alastram de norte a sul do paiz."[18]

As notícias sobre o golpe de estado implementado pelo Partido
Republicano, com êxito final em 5 de outubro de 1910, que destituiu a
monarquia, chegavam desencontradas. Se por um lado havia afirmações que em
"Lisboa continuavam a ferir-se combates encarniçados", e na cidade do
Porto "quando os republicanos faziam uma manifestação de sympathia [ao novo
regime] se deram graves conflitos. Política e populares trocaram muitos
tiros. Grande número de paisanos e agentes [ficaram] feridos." Ainda sobre
a maior cidade do norte do país "o exército auxilia[va] a polícia na
repressão das desordens (...) acreditando-se que a situação nesta praça
[era] crítica." Por outro, dizia-se que a calma prevalecia e "á última
hora, há notícias de que a revolução triumphou tendo havido pouco
derramamento de sangue" e mais, que foi mencionado por "jornalista que o
número de mortos não excedeu de sessenta".[19]
Poucos e fragmentados foram os relatos sobre os movimentos das forças
monarquistas e republicanos. Oriundo de Madri veio um telegrama que
informava pontualmente:




"O movimento revolucionário em Portugal foi dirigido por um almirante
e por um general. A esquadra rebelde compunha-se de três navios,
cujas equipagens desembarcadas auxiliaram os revolucionários. Estes
utilizaram-se da dynamite, mataram um coronel e vários officiaes.
Vários regimentos e um navio de guerra permaneceram fiéis à
monarchia."


Os republicanos providenciaram um aceiro entre o que se passava nas
principais cidades litorâneas e as províncias . Bloquearam as comunicações
com as cidades interionas e aldeias que em parte defendiam a monarquia. Uma
das providências foi o corte imediato de comunicações que desnorteou as
tropas das províncias.[20]
Propagandas divulgadas pelos republicanos exaltando seus feitos e
enumerando adeptos ao novo regime procuravam reafirmar a vitória e
desencorajar reações:


"Apesar dos insistentes e absurdos boatos relativamente á reacção nas
províncias portuguesas contra a República, póde-se garantir que em
virtude do franco apoio das forças de mar e terra ao novo regimen e
da adhesão a este não do povo como de innumeros e minentes
monarquistas, esta a República definitivamente implantada no velho
reino, sendo certo ainda que a mesma vae aos poucos conquistando a
confiança e o reconhecimento das nações europeias e americanas."[21]




Uma preocupação foi constante: o paradeiro da família real.
Apontamentos oriundos de Madri que na madrugada do dia 5 "o rei D.Manuel
achava-se no palácio das Necessidades; e o presidente do Conselho e outros
membros do ministério aconselharam-no que fugisse (...). Assim fez sua
majestade ignorando, todavia, onde ficou escondido." Em contrapartida, "um
telegrama de Lisboa expedido ás tres horas e vinte e cinco minutos da tarde
do dia 5 e recebido no Rio de Janeiro á uma hora da madrugada no dia 6,
di[zia] que o rei D.Manuel e a rainha d.Amélia e d.Maria Pia partiram
precipitadamente para o palácio de Mafra." A seguir cogitou-se que estavam
"asylados a bordo do couraçado 'São Paulo', outros que o soberano [e
família] estavam escondidos em Cintra. Outros, finalmente, affirmama[vam]
que a família real fugira de Lisboa a bordo de uma torpedeira portuguesa".
Adiante, sem maiores detalhes, o periódico francano esclareceu – a partir
de notícias advindas de Londres – que os nobres, a bordo do hiate d.Amélia
teriam por volta do dia 9 ancorado em Gibraltar e depois tomado "destino
ignorado". Contudo, rapidamente o novo governo republicano fez questão de
decretar o banimento do território português a dinastia de Bragança. "A
proscripção da família real abrange os ascendentes e os descendentes
collacteraes até o quarto grau."[22]
Outras providências do gabinete republicano foram em relação à igreja
católica. Aproveitando que diante de ameaças muitos "religiosos de ambos os
sexos começa[vam] a deixar o paiz, por terra e mar" preparava-se a expulsão
do "cardeal Netto, franciscano, e do bispo de Beja, d.Sebastião Leite de
Vasconcellos, que [seriam] postos na fronteira". Em tom de anedota foi
noticiado que durante as perseguições foram presos dois padres, um
disfarçado em trajes de artilheiro e o outro em trajes femininos. Contudo,
no dia 10 o "'Diário do Governo' publicou o decreto de expusão dos
religiosos estrangeiros e nacionaes que não queiram deixar de pertencer ás
Ordens." Passo seguinte, "começou a ser executada com todo rigor a lei de
expulsão [de religiosos] do território portuguez, sendo esta medida
recebida pela população com satisfação e enthusiasmo".[23] Neste último
caso, a afirmação é questionável diante da religiosidade impregnada no povo
português. Outras questões relacionadas foram a entrega das crianças dos
"collegios católicos" às respectivas famílias, bem como a secularização das
instituições de caridade. Apesar de tudo, "o patriarcha de Lisboa,
monsenhor António Mendes Bello, escreveu uma carta ao Sr. Affonso Costa,
ministro da justiça, declarando adherir á República."[24]
Atitudes dos republicanos, de cunho político, visando a afirmação do
novo regime foram adotadas quase que imediatamente. Londres teria recebido
as notas: "Telegrapham de Lisboa aos jornaes desta capital communicando que
foram publicados os decretos de suppressão da Camara dos Pares, do Conselho
de Estado e dos títulos nobiliarchicos." [25] No mesmo sentido, o jornal em
tom de exaltação que "o Dr. Euzébio Leão, chefe republicano e novo
governador civil, pronunciou um bello discurso, dizendo que confiava á
guarda dos cidadãos a polícia e ordem da cidade". Indo além afirmou:
"Respeitae todas as propriedades públicas e particulares e a vida de todos,
quaesquer sejam. A república é generosa e magnânima". Ao mesmo tempo todas
as bandeiras, escudos e emblemas das instituições monárquicas foram
arrancadas, sendo substituídas pela bandeira republicana "com suas novas
cores vermelha e verde (...) que fluctuava nos edifícios do Arsenal da
Guerra, da Câmara Municipal e em todos os edifícios públicos." [26]
A burocracia tinha que ter seus ajustes. Exemplo disso é que "todos
os tribunaes, incluindo o administrativo e o de contas, acceitaram o novo
regimen, promettendo os respectivos magistrados cumprir com lealdade os
deveres de seus cargos." De cunho simbólico, mas também prático, "os
ministros do governo provisório da república, resolveram sobre o novo
formulário a empregar [na administração pública], accordando que os
offícios deveriam terminar com a fórmula: 'saudade e fraternidade'." Além
disso, o governo provisório propunha "supprimir as legações portuguesas em
diversos paizes, as quaes serão substituídas por consulados geraes ou por
encarregados de negócios".[27]
A diplomacia entrou em ação. Os funcionários consulares notificaram
às nações que mantinham relações diplomáticas com Portugal visando o breve
reconhecimento da república. No dia 12, "a Suíça, a exemplo do Brasil,
Inglaterra e Estados Unidos, autorizou o seu representante em Lisboa a
entrar em relações com o governo provisório da República e a proteger os
interesses nacionaes". Sabendo-se que, no dia 17, o "Sr. Nilo Peçanha,
presidente da república,enviou ao Congresso Nacional uma mensagem sobre o
pedido de urgência para o Brasil reconhecer a república portuguesa."[28]
Estas notas tranquilizavam os imigrantes quanto a manutenção dos vínculos
cordiais entre Brasil e Portugal.
As notícias sobre proclamação da república em Portugal foram
divulgadas pelo Jornal Tribuna da Franca de forma muito fragmentada. A
transcrição de telegramas foi a quase totalidade das informações. Parece
que o periódico pretendia passar a imagem de uma certa isenção em relação
aos acontecimentos ou não tinha pessoal qualificado que pudesse fazer boas
análises. O fato é que, muito provavelmente, os portugueses moradores em
cidades como São Paulo e Rio de Janeiro (esta então capital do Brasil)
foram melhor informados. Contudo, em uma cidade no interior do estado de
São e situada longe da capital, foi possível aos imigrantes portugueses
acompanhar alguns aspectos relativos às lutas entre monarquistas e
republicanos, as especulações em torno do destino da família real, bem como
as atitudes políticas imediatas do governo provisório. Por fim, cabia aos
portugueses, radicados ou de passagem, após ter a oportunidade de ler os
relatos ou ouvir dizer fazer a interpretação conforme seus interesses.
































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* Doutor em História Econômica pela USP-SP. Docente do Departamento de
História da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais – FCHS – da
Universidade Estadual Paulista – UNESP – Camus de Franca.

[1] ALVES, Jorge Fernandes. Os brasileiros. Emigração e retorno no Porto
oitocentista. Porto: Gráficos Reunidos, 1994. ALVES, Jorge Fernandes.
Brasil, terra de esperanças. Utopia e realidade na emigração portuguesa.
Vila Nova de Famalicão: Edições Quasi, 2007.
[2] Vitorino Magalhães Godinho, L`émigration portugaise (xvème-xxème
siècles), une constante
structurale et les réponses aux changements du monde. Revista de História
Económica e
Social, Lisboa, n. 1, jan./jun.1978. p. 12.
[3] SERRÃO, Joel. A emigração portuguesa. Lisboa: Livros Horizonte, 1977.
KLEIN, HERBERT S. A integração social e econômica dos imigrantes
portugueses no Brasil no fim do século XIX e no início do XX. Análise
social, v.28, p.235-265, 1993.
[4] SZMRECSÁNYI, Tamás. Resenha de Migração portuguesa no Brasil de Eulália
Maria Lahmeyer Lobo. Revista Brasileira de História, São Paulo: Associação
Nacional de História, n.45, v.23, julho, p.313-316, 2003. p.313.
[5] REIS, Jaime. O atraso econômico português em perspectiva histórica
(1860-1913). Análise Social, v.20, p.7-28, 1984. REIS, Jaime. A
industrialização num país de desenvolvimento lento e tardio: Portugal, 1870-
1913. Ver também: CORDEIRO, José Manuel Lopes. Empresas e empresários
portuenses na segunda metade do século XIX. Análise Social, v.31, p.313-42,
1996.
[6] PEREIRA, Miriam Halpern. Algumas observações complementares sobre a
política de emigração portuguesa. Análise Social, v. 25, p.108-109, 1990.
PEREIRA, Mirian Halpern. A política portuguesa de emigração (1850-1930).
São Paulo, 2002.
[7] BUENO, Clodoaldo. História da política exterior do Brasil. São Paulo:
Ática, 1991.
[8] FERREIRA, Marie-Jo. Identité et immigration : Les Portugais du Brésil,
acteurs dês relations luso-brésiliennes, fin 19ème- début 20ème siècle.
ROLLAND, Denis (Coord.). Archéologie du sentiment en Amérique latine.
L'identité entre mémoire et histoire 19e-20e siècles. Paris, L'Harmattan,
2005, p. 61-76. FLORENTINO, Manolo; MACHADO, Cacilda. Ensaio sobre a
imigração portuguesa e os padrões de miscigenação no Brasil (séculos XIX e
XX). Portuguese Studies Review, n.10, v.1, p.58-84, 2002. PASCKES, Maria
Luisa Nabinger de Almeida. Notas sobre os imigrantes portugueses no Brasil
(sécs. XIX e XX). Revista História, São Paulo, n. 123-124, p.35-70,
ago/jul., 1990/1991.
[9] DI GIANNI, Tércio Pereira. Italianos em Franca. Franca: Faculdade de
História, Direito e Serviço Social, 1997. 132p. Dissertação (Mestrado em
História)- Universidade Estadual Paulista, 1997.
[10] DIAS, Vanessa Martins. Inserção às avessas. A imigração espanhola em
Franca-SP (1900-1955). Franca: Faculdade de História, Direito e Serviço
Social, 2010. 145p. Dissertação (Mestrado em História) – Universidade
Estadual Paulista, 2010.
[11] Não há dados sobre a população portuguesa em Franca no ano de 1910.
[12] TOSI, Pedro Geraldo. Capitais no interior: Franca e a história da
indústria coureiro-calçadista (1860-1945). Campinas: Instituto de Economia,
1998. 276p. Tese (Doutorado em História Econômica) – Universidade de
Campinas, 1998. FALEIROS, Rogério Naques. Homens do café: Franca, 1880-
1920. Ribeirão Preto: Holos Editora, 2008. OLIVEIRA, Lélio Luiz de.
Heranças guardadas e transições ponderadas: história econômica do interior
paulista, 1890-1920. Franca: UNESP/FACEF, 2006.
[13] SILVA, Ewerton Luiz Figueiredo Moura da Silva. Presença portuguesa em
Franca: um olhar a partir de fontes paroquiais (1913-1917). Franca: UNESP-
FHDSS. Monografia. 2008. p.66-7.
[14] Idem, p.67-8.
[15] CARVALHO, R. História do ensino em Portugal. Lisboa: Fundação Calouste
Gubenkian, 1986; NODOA, A. A educação nacional. In: Serrão, J.; MARQUES, A.
H. De Oliveira. Nova História de Portugal. Portugal e o Estado Novo.
Lisboa: Editorial Presença, 1992. V.XII. p.455-519. CANDEIAS, António;
SIMÕES, Eduarda. Alfabetização e escola em Portugal no século XX: Censos
nacionais e estudos de caso. Análise Psicológica, n.17, v.1, p.163-194. Os
autores citados espelham as condições da alfabetização em Portugal que,
consequentemente reflete a realidade da escolaridade dos imigrantes que
tiveram o Brasil como destino.
[16] MATTOSO, José (Dir.) História de Portugal. Lisboa: Editorial Estampa,
s/d.
[17] Jornal Tribuna da Franca. 9 out. 1910, ano XI, n.918, p.1.
[18] Jornal Tribuna da Franca, 9 out. 1910, ano XI, n. 918, p.1.
[19] Idem.
[20] Jornal Tribuna da Franca, 9 out. 1910, ano XI, n. 918, p.1.
[21] Jornal Tribuna da Franca, 13 out. 1910, ano XI, n.919, p.1.
[22] Jornal Tribuna da Franca, 20 out. 1910, ano XI, n.921, p.1.
[23] Jornal Tribuna da Franca, 13 out. 1910, ano XI, n.919, p.1.
[24] Idem.
[25] Jornal Tribuna da Franca, 20 out. 1910, ano XI, n.921. p.1.
[26] Jornal Tribuna da Franca, 20 out. 1910, ano XI, n.919, p.1
[27] Idem.
[28] Jornal Tribuna da Franca, 20 out. 1910, ano XI, n. 921, p.1.
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