A produção de histórias de quadrinhos, em Natal/RN: pesquisa qualitativa sobre Economia Criativa

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GT: Estudos e Pesquisas em Espaço, Trabalho, Inovação e Sustentabilidade A PRODUÇÃO DE HISTÓRIAS DE QUADRINHOS, EM NATAL/RN: PESQUISA QUALITATIVA SOBRE ECONOMIA CRIATIVA Maria Carolina Cavalcante Dias e-mail: [email protected] Aluno de graduação em Turismo da UFRN, Natal/RN - Brasil Fernando Manuel Rocha da Cruz e-mail: [email protected] Professor do Departamento de Políticas Públicas da UFRN, Natal/RN - Brasil A produção de História em Quadrinhos ou “HQs” se constitui como mídia que explora ao mesmo tempo literatura e ilustração não se limitando às características de uma ou de outra. É classificada pelo Plano da Secretaria da Economia Criativa como setor criativo e enquadrado no âmbito da Economia Criativa. Seus elementos primordiais são o empreendedorismo e a criatividade que as Políticas Públicas procuram fomentar em todo o ciclo econômico dos setores criativos e culturais. Trata-se de um campo complexo que alia cultura, economia e gestão tendo em vista o desenvolvimento social, cultural e econômico. Este estudo procura refletir – na perspectiva da Economia Criativa – sobre a dimensão organizacional, bem como sobre a relação da produção de Histórias em Quadrinhos com a cidade de Natal, no estado do Rio Grande do Norte (RN). O presente artigo foi desenvolvido no âmbito do projeto de pesquisa intitulado “Estudo de caso e mapeamento das indústrias criativas no Rio Grande do Norte, de acordo com o Programa Nacional da Economia Criativa (Brasil)”, aprovado pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN e foi desenvolvido entre os meses de junho e agosto de 2014. Para tanto, se optou pela metodologia qualitativa, uma vez que foram realizadas entrevistas semiestruturadas com sete produtores de Histórias em Quadrinhos na cidade de Natal/RN. Através de análise de conteúdo e de forma comparativa foi possível identificar que embora não haja uma ligação direta entre o trabalho dos produtores de Histórias em Quadrinhos com a cidade de Natal/RN, a mesma exerce influência no processo de produção, por meio de vivências pessoais dos profissionais de HQs, pelas características positivas e negativas da cidade, e por causa da própria dinâmica urbana local. É perceptível ainda na produção de HQs, a existência de características peculiares, a importância das tecnologias de informação e comunicação, o trabalho em equipe com outros quadrinistas e o crescimento do público consumidor. É finalmente, constatado neste estudo, a necessidade de desenvolver ações de caráter inovador que possam acompanhar a dinamicidade do setor e que compreendam além do estímulo à produção, uma atenção especial ao fomento do consumo. Palavras-chave: Economia Criativa, Histórias em Quadrinhos, Natal/RN.

INTRODUÇÃO O crescente debate sobre Economia Criativa exige o conhecimento das atividades e setores que nela se incluem. Com alicerce na cultura, gestão e economia, a reflexão sobre os seus setores é transversal e, nesse sentido a cidade e os setores criativos mantém influência recíproca. Nesse sentido, dois elementos assumem

destaque

na

Nova

Economia,

que

são

a

criatividade

e

o

empreendedorismo aliados à exigência de crescente domínio das Tecnologias de Informação e Comunicação. Nesse sentido, são objetivos deste estudo compreender a dimensão organizacional, quer ao nível da estrutura, quer do ambiente na produção de Histórias em Quadrinhos e sua relação com a cidade de Natal, no estado do Rio Grande do Norte (RN). Os

setores nucleares

da

Economia Criativa

incluem

desde

as

manifestações populares e os setores culturais até às criações funcionais. No Brasil, os setores criativos estão agrupadas em cinco categorias sendo elas: Patrimônio (patrimônio material, patrimônio imaterial, arquivos, museus), Expressões culturais (artesanato, culturas populares, culturas indígenas, culturas afro-brasileiras, artes visuais, arte digital) Artes do espetáculo (dança, música, circo, teatro), Audiovisual, livros, leitura e literatura (cinema e vídeo, publicações e mídias impressas) e Criações culturais e funcionais (moda, design e arquitetura). A pesquisa sobre as Histórias em Quadrinhos ou HQs que levamos a efeito se enquadra, por conseguinte, no campo das mídias impressas e publicações. Em termos metodológicos, optou-se pela metodologia qualitativa, de modo a se aprofundar o conhecimento sobre este setor criativo e cultural. Desse modo, foram realizadas entrevistas semiestruturadas com sete produtores de histórias em quadrinhos. Os entrevistados foram escolhidos independentemente da função que desempenham no processo produtivo das HQs (roteirista, desenhista, arte finalista, etc.) e de sua naturalidade. Todos eles, no entanto, exercendo sua atividade profissional em Natal/RN. Procedeu-se ainda à análise de conteúdo das entrevistas de forma comparativa, tendo em vista a compreensão da atividade profissional de HQs e a influência que a cidade exerce ou pode exercer sobre os mesmos. As conclusões deste estudo enquadram-se no âmbito do projeto de pesquisa “Estudo de caso e

mapeamento das indústrias criativas no Rio Grande do Norte, de acordo com o Programa Nacional da Economia Criativa (Brasil)”, que é desenvolvido no Departamento de Políticas Públicas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN. As entrevistas foram realizadas entre os meses de junho e agosto de 2014. O presente artigo encontra-se estruturado em duas partes. Na primeira, de contextualização teórica sobre a Economia Criativa no Brasil e a classificação das Histórias em Quadrinhos,segundo o Plano da Secretaria da Economia Criativa. Na segunda parte, parte-se da reflexão sobre a dinâmica organizacional da produção de HQs e sobre a sua relação com a cidade de Natal/RN, sob a ótica da economia criativa. A ECONOMIA CRIATIVA E O ENQUADRAMENTO DAS HQS Para Howkins (2013, p. 18), existem fortes razões para a economia criativa vir a ser a forma econômica dominante no século XXI. Entre elas, a mais relevante e convincente é o modo como evoluímos como seres físicos e sociais. Ela é fortemente influenciada pelas mudanças socioculturais e econômicas ocorridas a partir da segunda metade do século XX, e auxiliada pelas tecnologias da informação e comunicação na geração de novos produtos e conceitos. Em países desenvolvidos, as indústrias criativas já são importantes contribuintes para o rendimento econômico chegando até 6% do PIB nacional, como é o caso norteamericano e consequentemente com a geração de empregos e renda para a comunidade (UNCTAD, 2010, p. 28-29). Muitas nações, inclusive, têm adotado políticas públicas para o setor. Nacionalmente, os estudos sobre Economia Criativa surgem a partir do ano 2000, com destaque para o relatório da FIRJAN – Federação das Indústrias do Rio de Janeiro com a pesquisa “A cadeia da Indústria Criativa no Brasil”, publicado em 2008. No entanto, internacionalmente, os debates e estudos sobre a Economia da Criativa datam da década de 1990. Em 1994, a Austrália foi a primeira nação a lançar uma política cultural denominada “Nação Criativa” (CRUZ, 2014, p. 16), seguida pelo Reino Unido, onde o então Primeiro-Ministro Tony Blair criou, durante o seu governo em 1997, o “Creative Industries Task Force” uma força tarefa multissetorial com o objetivo de estudar estratégias para o desenvolvimento sustentável do setor. Em 2011, o Ministério da Cultura institucionalizou a Secretaria

da Economia Criativa (SEC) e

aprovou o Plano Nacional de Economia Criativa

2011-2014. Miguez (2007, p. 96-97) e Reis (2008), respectivamente, ressaltam a importância do valor simbólico e intangível da Economia Criativa, além de atentarem para a sua totalidade, que ultrapassa as atividades da chamada “indústria cultural”. Reis (2008) ainda acrescenta o caráter econômico, outro aspecto basilar, gerador de valor das atividades criativas. Ambos apontam para a criatividade como elemento principal. (...) trata dos bens e serviços baseados em textos, símbolos e imagens e refere-se ao conjunto distinto de atividades assentadas na criatividade, no talento ou na habilidade individual, cujos produtos incorporam propriedade intelectual e abarcam do artesanato tradicional às complexas cadeias produtivas das indústrias culturais. (MIGUEZ, 2007, p. 96-97) A economia criativa compreende setores e processos que têm como insumo a criatividade, em especial a cultura, para gerar localmente e distribuir globalmente bens e serviços com valor simbólico e econômico”. Reis (2008, p.24)

Sobre a centralidade da criatividade no conceito de Economia Criativa, Cruz (2015), acrescenta a questão do empreendedorismo que juntamente com o primeiro (criatividade) são elementos primoridais que o Ministério da Cultura brasileiro tenda promover em suas Políticas Públicas. Se a criatividade é o elemento comum a todos os setores criativos, o empreendedorismo explica a reunião da categoria das Criações Funcionais com os setores culturais, artísticos e patrimoniais. Quanto ao conceito de Economia Criativa, compartilhamos a posição de Cruz (2015) sobre o mesmo: propomos que a economia criativa seja definida pelas atividades econômicas que têm objeto a cultura e a arte, ou que englobam elementos culturais ou artísticos de modo a alterar o valor do bem ou serviço prestado. Deste modo, compreendemos o ciclo econômico de criação, produção, distribuição, difusão, consumo, fruição de bens e serviços que têm por objeto a arte e a cultura ou que incorporam elementos culturais ou artísticos. Afastamos desta concepção as atividades culturais e artísticas que não têm intuito econômico. (CRUZ, 2015)

Para Wyzomirski (2004, p.30), a classificação de atividades como criativas depende em grande parte do direcionamento trazido pela definição adotada para a

atividade criativa. Para a autora, podem ser utilizados quatro critérios para selecionar uma atividade e incluí-la no setor criativo: produtos e serviços, organização produtiva, processo produtivo central e grupos de trabalho/ocupação. (WYSZOMIRSKI, 2004, p.30). Assim, em vez de uma única perspectiva, pode ser usada mais de uma abordagem para ajudar a explicar e definir que setores devem ou não ser incluídos no setor criativo ou cultural, como devem ser incluídos e como esse processo ocorre nos diversos campos onde a criatividade pode ser identificada, gerando um mapa mais preciso das atividades do setor. (WYZOMIRSKI, 2004, p.35). No Brasil, a Secretaria de Economia Criativa (SEC) adotou o modelo com cinco categorias para setores criativos, como referimos anteriormente. O Plano da SEC apresenta a Economia Criativa como a “economia do intangível e do simbólico” organizada individual ou coletivamente para produzir bens e serviços criativos (BRASIL, 2011, p. 23-24). O presente estudo utiliza essa categorização e coloca sua ênfase na categoria do “Audiovisual, livros, leitura e literatura”, na classificação do setor de produção de Histórias em Quadrinhos. Além de distintas de outras atividades econômicas, as atividades criativas distinguem-se entre si. Florida (2002) afirma que os trabalhadores da classe criativa possuem uma ampla noção sobre as necessidades e os desejos pessoais, culturais e sociais. Ao encontro deste pensamento, Landry (2008) defende que eles tendem a buscar pelo modelo de cidade que possua uma “cultura para a criatividade” (FLORIDA, 2002; LANDRY 2008). A Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento aponta que as cidades que contam com a presença destas atividades tendem a cultivar aspectos subjetivos comuns ao setor e podendo se tornar mais competitivas e atrativas à medida que abriga fatores como a capacidade de inovação, relações de setores produtivos locais, força de trabalho mais qualificada e diferenciada, e uma localização geográfica no território onde há concentração do insumo principal para a sua manutenção. E, embora não se restrinja ao espaço urbano, o crescimento da produção criativa dentro deste contexto deriva parcialmente da existência de externalidades provenientes da aglomeração e, por isso, benéficas às empresas devido a sua proximidade (UNCTAD, 2010, p.16). A contribuição do setor criativo para a vitalidade econômica das cidades pode ser medida em termos da contribuição direta do

setor para rendimento, valor agregado, rendas e emprego, e ainda mais através dos efeitos indiretos e induzidos causados, por exemplo, pelos gastos dos turistas que visitam a cidade para conhecer as atrações culturais. Além disso, as cidades que têm uma vida cultural ativa podem atrair investimento estrangeiro em outras indústrias que estejam procurando se estabelecer em centros que proporcionem um ambiente agradável e estimulante aos funcionários.” (UNCTAD, 2010, p.12)

Segundo Scott (apud JUNIOR; JUNIOR; FIGUEIREDO, 2011, p. 12), a aglomeração decorre do fato de cada unidade de produção se prender a uma rede de interações, da qual sua sobrevivência é dependente. Primeiramente, os setores criativos demandam capital humano para a manutenção do seu principal elemento e este é também um dos principais ativos da cidade. Em seguida, é o fator cultural que atua como um elemento identitário e distintivo exercendo influência na atividade criativa, seja de forma direta ou indireta (LANDRY, 2008). As redes de interação são identificadas durante todo o processo produtivo, onde os fornecedores, colaboradores e consumidores estabelecem conexões cada vez mais dinâmicas e estimulam mutuamente o desenvolvimento. Como afirmado por Reis (2011) a prevalência destes três elementos (inovações, cultura e conexões) expõe o conceito de “Cidades Criativas”. Aí se apresenta um ponto de transição ao qual este estudo não pretende ultrapassar, tendo em vista que a problemática das “Cidades Criativas” configura-se como uma problemática, bem ampla. A PRODUÇÃO DE HQS E A RELAÇÃO COM A CIDADE A produção de HQs pode acontecer de forma fragmentada, de forma coletiva ou ser executada individualmente. O setor das HQs está organizado de forma global por não existir uma separação nítida entre o mercado local, nacional ou mesmo, internacional. Acresce que, localmente, o mercado não se encontra consolidado. A maioria dos produtores de HQs desempenha mais de uma função no ciclo produtivo, atuando em vertentes distintas e desempenhando trabalhos como a produção de charges, roteiros, editoração e ilustração. Todos eles exercem a atividade criativa na cidade de Natal/RN. A estrutura organizacional resume-se ao trabalho individual desempenhado por cada um deles, em seus próprios espaços,

ainda que, por vezes, integrem agências de divulgação ou editoras parceiras para a edição e publicação. É, todavia, usual a formação de parcerias para o desenvolvimento de um HQ, ou mesmo, de coletâneas. Já o ambiente organizacional é descrito de acordo com as preferências pessoais, apontando para espaços que lhes sejam convenientes, que lhes ofereçam referências e não tenham restrições. As referências contidas no ambiente também são apontadas como uma forma de atualização de conhecimentos sobre o setor. Elas são obtidas tanto pela leitura como pela convivência com outros quadrinistas. A internet ganha destaque pela facilidade e velocidade que oferece em relação ao acesso à informação. Constitui-se como ferramenta de comunicação e todos eles a utilizam para divulgação e promoção das suas Histórias em Quadrinhos, ou para manterem-se atualizados com o que surge a cada dia no mercado. Destaca-se ainda a necessidade de dominar outras técnicas de trabalho e de considerar o conhecimento de outras áreas que possam enriquecer a produção das HQs visto que qualquer elemento que possa diferenciar o produto final pode torná-lo mais competitivo. No setor, identifica-se a busca e exploração de conhecimento multidisciplinar em um processo de constante troca entre os indivíduos envolvidos na sua produção e distribuição, embora cada um possa desenvolver a sua função separadamente. Não há restrições espaciais no mercado dos quadrinhos, tanto que todos os entrevistados desenvolvem ou já desenvolveram trabalhos em parcerias com quadrinistas de outras localidades, seja em âmbito nacional ou internacional. Isso se deve principalmente às características embrionárias do mercado local e pelo uso intensivo da internet. Para a maioria destes profissionais, o trabalho que desempenham não possui uma ligação direta com a cidade de Natal ou com o Rio Grande do Norte. Às vezes a gente só ambienta o nosso trabalho, não tem uma ligação muito regional (Wendell Cavalcanti, Quadrinista) Meu trabalho na cidade de Natal (...) não tem muita ligação não. Como minha vida se passa em Natal, talvez alguma pessoa se identifique em alguma coisa que seja, mas é muito mais,…não tem uma (…) localização não. É mais universal mesmo. (Aureliano Medeiros, Quadrinista)

No entanto, a influência que a cidade de Natal/RN exerce no trabalho criativo, seja de forma direta ou indireta, advém das vivências pessoais e da própria dinâmica local: Eu não posso dizer que não influencia porque assim, apesar de eu já ter morado em São Paulo, morado em Brasília, Rio Grande do Sul, mas foi aqui que eu nasci, foi aqui que eu passei boa parte dos meus trinta e sete anos, né. E, às vezes, influencia diretamente, como essas histórias que eu fiz, pegando como referência o meu histórico de historiadora e também às vezes influencia inconscientemente, as vezes eu tô fazendo alguma coisa, que sei lá (…) é alguma coisa que ficou na lembrança e daí aquilo ali apareceu, daquela forma. (Milena Azevedo, Quadrinista) Na charge sim, não tem como fugir disso não. Agora no quadrinho não influencia em nada não até porque no caso da tirinha que eu tenho publicado hoje como é no Rio [de Janeiro], então procuro pegar mais uma realidade carioca mesmo (Rodrigo Brum, Quadrinista)

Em relação ao exercício da atividade de quadrinista na cidade de Natal/RN é ressaltado de forma positiva as características que favorecem o desenvolvimento pessoal e a amplitude que a produção de uma história em quadrinhos pode ter. Os fatores negativos apontados podem, entretanto, dificultar o alcance dos objetivos idealizados e influenciar o produto final como o preconceito com a atividade, o distanciamento do público local com os produtores locais de quadrinho, a baixa remuneração e a falta de visibilidade para o trabalho desenvolvido. A estes fatores aliam-se políticas culturais no estado e no município que oferecem editais que normalmente não abrangem o trabalho desenvolvido pelos quadrinistas. A maioria dos quadrinistas aponta a dificuldade na participação dos editais públicos devido a experiências insatisfatórias anteriores ou pela própria proposta do edital. Como alternativa às barreiras locais do setor destacam-se as ações empreendedoras e criativas que estes profissionais colocam em prática no exercício da atividade como quadrinista. Entre elas, encontram-se apostas em novos segmentos como a produção do quadrinho institucional, a divulgação da produção pelo próprio autor nas redes sociais ou em eventos locais e nacionais, a busca por novas formas de financiamento (financiamento coletivo e parcerias) e a profissionalização da atividade com apostas na qualificação e regulamentação de

mecanismos de produção como a aquisição de selos próprios para a publicação dos volumes produzidos. Por último, há ainda a referir que os entrevistados possuem produção expressiva com trabalhos de alcance internacional. CONSIDERAÇÕES FINAIS A proposta de economia criativa, a nível internacional e nacional, parte de duas premissas: a insuficiência do Estado no apoio financeiro de todas as iniciativas culturais e a possibilidade de através do empreendedorismo, as industrias culturais gerarem recursos próprios à semelhança das industrias criativas abrangidas pela categoria das Criações Culturais e Funcionais. A produção de História de Quadrinhos é, em si, uma atividade cultural e criativa complexa, ao reunir literatura e ilustração. Como industria criativa recente, a atividade é muitas vezes excluída ou ignorada dos editais de apoio a iniciativas locais.Daí o papel dos profissionais dos quadrinhos em demandar a nível municipal e estadual os mesmos apoios financeiros que são concedidos a outras disciplinas culturais. Quando procuramos relacionar a cidade com a produção de quadrinhos verificamos que ela pode nem estar presente na história que é contada ou nos personagens que nela participam, mas não deixa de se poder inferir que ela permite aos profissionais – com maior ou menor dificuldade – exercer a sua atividade profissional. A cidade concentra produtores, fornecedores e consumidores de produtos criativos. As redes de interação da produção de quadrinhos na cidade de Natal/RN caracterizam-se pelo uso intensivo da Web como ferramenta de divulgação e promoção do trabalho dos quadrinistas como também fonte de conhecimento e informação. Através dela é possível expandir o horizonte mercadológico e atingir novos públicos, bem como novas fontes de informação e conhecimento. Por outras palavras, criatividade e empreendedorismo associadas às novas tecnologias de informação e comunicação têm permitido aos quadrinistas criar a produzir a partir da cidade de Natal, ainda que tenham que procurar trabalho em outros mercados como o nacional e o internacional. Na criação e produção têm desenvolvido estratégias em que seu trabalho não se tem limitado à existência de apoios institucionais. Por outro lado, têm desenvolvido estratégias de distribuição e de constituição de mercados,

quer via internet, quer mesmo de mercados locais com a organização e participação de feiras e exposições. Em conclusão, a cidade surge como um desafio a vencer para os quadrinistas e não como um obstáculo ao seu desenvolvimento e exercício profissional, através da criatividade, do empreendedorismo, das novas tecnologias e pelo seu olhar do ciclo econômico como um todo e sem limitar o exercício da produção de quadrinhos à criação ou mesmo à produção. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CRUZ, Fernando Manuel Rocha da. Ambiente Criativo: estudo de caso na cidade de Natal/RN. Natal, RN: UFRN, 2014. CRUZ, Fernando Manuel Rocha da. Políticas Públicas e Economia Criativa: subsídios da Música, Teatro e Museus na cidade de Natal/RN. In: Anais do IV Encontro Internacional de Ciências Sociais. Pelotas, RS: UFPel, 2015 JOHNSON, S. The Government and the Entrepreneurs. Disponível em: < http://economix.blogs.nytimes.com/2013/08/22/the-government-and-theentrepreneurs/?_php=true&_type=blogs&_r=2 > Acesso em: 17 mar. 2014. JUNIOR, Helcio de Medeiros; JUNIOR, João Grand; FIGUEIREDO, João Luiz de. A importância da economia criativa no desenvolvimento econômico da cidade do Rio de Janeiro. Rio de janeiro: Coleção de Estudos cariocas. 2011.

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