A PRODUÇÃO DO ESPAÇO PELO DETOR IMOBILIÁRIO NAS CIDADES DA BR 163 - CASO DE SINOP

July 22, 2017 | Autor: G. Rosa de Almeida | Categoria: Geografia, Geografia Urbana
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OS EMPREENDEDORES IMOBILIÁRIOS E A PRODUÇÃO DA CIDADE NA AMAZÔNIA MATO-GROSSENSE: UM ESTUDO SOBRE SINOP

Guilherme Rosa de Almeida Mestrando pelo Programa de Pós-Graduação em Geografia da UFMT [email protected]

RESUMO O presente trabalho estuda a produção do espaço urbano pelas imobiliárias no norte mato-grossense, em especial analisando o caso de Sinop/MT. Cidade polo no norte do Estado que tem sua gênese ligada ao mercado imobiliário e possui forte influência deste mercado em sua dinâmica. O artigo é resultado dos estudos desenvolvidos pela disciplina “A produção do espaço urbano”, ministrada pela professora Sônia Regina Romancini no Programa de PósGraduação em Geografia da Universidade Federal de Mato Grosso - Mestrado. A discussão sobre o poder econômico e político exercido pelo setor imobiliário em Sinop segue todo o trabalho. Para entendermos como tal situação é possível, precisamos analisar como se apresenta a estrutura fundiária urbana de nossos país e ao processo histórico materialista de ocupação do território em estudo. Palavras-chave : Sinop; imobiliárias; espaço urbano.

1. INTRODUÇÃO

Não pode o Estado solucionar o chamado problema de transporte urbano? Pelo tamanho do excedente que maneja, pode; mas, se esse excedente provém em parte da produção automobilística, então não pode. Pode o Estado solucionar o chamado problema da poluição? Tendo tanto chão neste país, parece que se poderia descentralizar a indústria, principal poluidora; mas o chão da pátria não é chão, é capital. (OLIVEIRA apud MORERIA, 1982, p.15, grifo nosso)

Este artigo é resultado da disciplina “A produção do espaço urbano”, ministrada pela professora Sônia Regina Romancini no curso de mestrado em Geografia da Universidade Federal de Mato Grosso. O trabalho de campo da disciplina ocorreu entre os dias 17 e 21 de junho e teve como foco o estudo das

cidades de Sinop, Sorriso e Lucas do Rio Verde, todas no eixo da BR-163 no sentido norte do Estado. Cidades que têm neste eixo rodoviário e na política de ocupação do território amazônico a sua gênese. A escolha destes espaços nos leva a pensar sobre as estratégias e interesses na ocupação do território do estado de Mato Grosso, principalmente a partir do anos 60 do século XX. A parceria entre o poder público federal e empresários do setor imobiliário está na gênese da ocupação do norte do estado de Mato Grosso. Os planos de ocupação do território brasileiro por parte de uma geopolítica defendida pela Escola Superior de Guerra; aliada ao interesse de expansão do capital permitiu a criação do cenário ideal para a concretização destes planos. Estes objetivos foram estrategicamente alcançados através de diversos planos estabelecidos pelo governo federal de incentivos, das mudanças tecnológicas que permitiram cultivar as terras do cerrado, tornando-as atraentes aos investimentos capitalistas e da propaganda em massa de que os colonos seriam bem sucedidos. Muitos programas foram criados no governo militar, entre eles o Programa de Integração Nacional (PIN), com o slogan “integrar para não entregar”, teve como objetivos financiar obras de infraestrutura, entre elas a abertura de rodovias federais e realizar projetos de reforma agrária ao longo das rodovias construídas. Implantou-se, entre outras, as seguintes rodovias: BR 163, Cuiabá – Santarém e BR 364, Cuiabá – Porto Velho (MOURA, 2013). O contexto internacional dos anos 1960 e 1970 que envolvia a guerra fria, o alinhamento do país com a política externa dos Estados Unidos, a expansão do capital internacional em busca de terras para commodities, os conflitos de terras pelo Brasil gerando repostas em nome de uma possível reforma agrária e o desenvolvimento tecnológico em nível de mudanças profundas no solo, nas sementes e no maquinário. São todos importantes condicionantes históricos e materiais para compreendermos o clima que existia na época. Harvey ao analisar a produção do espaço pelo capital, coloca em evidência todas as condições que permitiram a ocupação do território norte mato-grossense:

A racionalização geográfica do processo produtivo depende, em parte, da estrutura mutável dos recursos de transporte, das matérias-primas e das demandas do mercado em relação à indústria, e da tendência inerente à aglomeração e à concentração da parte do próprio capital. No entanto, essa tendência exige, para sustentá-la, a inovação tecnológica (HARVEY, 2005, p. 52).

As cidades de Sinop, Sorriso e Lucas do Rio Verde surgiram no processo de ocupação das terras do Cerrado e Amazônia. Enraizada em uma visão voltada para o mercado imobiliário, onde a terra tem seu valor de troca acima do valor de uso. Ao analisarmos o espaço urbano destas cidades hoje, podemos constatar o quanto estas cidades têm a sua identidade vinculada ao mercado imobiliário. Este vínculo se manifesta nas práticas adotadas pelos agentes do setor imobiliário em estreita parceira com o setor público. Sua leitura espacial pode ser vista nas formas escolhidas para delimitar os loteamentos, nas estratégias de negociação com o poder público, na ocupação dos cargos públicos, nos discursos dos moradores e empresários, na falta de legislação urbana específica e/ou a sua confecção de tal forma que permita um grande leque de interpretações, na falta de infraestrutura em boa parte da cidade, no loteamentos irregulares, entre outras. Entendendo que as Ciências Humanas e Sociais têm um propósito interpretativo do mundo, visando com isso a compreensão da sociedade e da cultura. Vamos neste trabalho nos fundamentar em uma leitura crítica do espaço geográfico. Imbuídos

do

método

materialista-histórico,

onde

as

relações são complexas e devemos partir das realidades material e historicamente determinadas.

O método histórico é um dos procedimentos

adotados, historicizando os fenômenos de ocupação do espaço nas cidades. O presente estudo tem como procedimentos metodológicos o estudo da bibliografia citada, os sites relacionados, a legislações municipais pertinentes, a consulta aos jornais, revistas e matérias de divulgação sobre o setor imobiliário e principalmente na visita de campo realizada durante a citada disciplina.

2. ESTRUTURA FUNDIÁRIA

Ao estudarmos as cidades, a sua paisagem e morfologia devemos nos ater também a sua estrutura fundiária, esta determina as formas em que o solo da mesma se divide e quem a possui. A forma de divisão dos lotes, a lógica de como são pensados: suas dimensões, localizações e todo o rol de legislações. Incluindo as possíveis infrações à legislação que alguns podem legitimar, tudo faz parte de um mesmo paradigma. Pensar como os imóveis (residenciais, comerciais, mistos ou institucionais) estão configurados no espaço da cidade nos auxilia a entender a lógica que impera nesta cidade. Nas palavras de Rossi (2001, p. 36): A forma dos lotes na cidade, formação, sua evolução, representa a longa história da propriedade urbana e a história das classes profundamente ligadas à cidade. Disse Tricart, muito lucidamente, que a análise do contraste no desenho dos lotes confirma a existência da luta de classes. A modificação da estrutura fundiária urbana que podemos seguir com absoluta precisão através dos mapas cadastrais históricos indica o surgimento da burguesia urbana e o fenômeno da concentração progressiva do capital.

O espaço registra e materializa a forma de produção econômica que possuímos, para entendermos este complexo sistema de estrutura fundiária deveríamos incluir neste debate uma série de elementos que permitam pensar a terra não apenas pelo seu viés de mercantilização no qual o capital a transforma, mas outras perspectivas que fazem parte da nossa sociedade: a história de formação do nossos país, a divisão de classes, a divisão racial, o desemprego, a pobreza, os direitos humanos, a exclusão social, a invisibilidade de sujeitos e instituições sociais, a criminalização da miséria, a delinquência etc. Todas estas questões estão presentes nos conflitos diários pela ocupação do solo e na valorização imobiliária da terra. As consequências do nosso modelo de produção econômica estão presentes na nossa estrutura fundiária e que se apresenta a nossos olhos de muitas formas entre elas: a fragmentação do espaço, os conflitos e as pressões políticas por privilégios. Ao tratar da relação espaço-capital Moreira traz:

O que afirmamos, então, é que o arranjo espacial brota tanto do processo de produção e distribuição, quanto do controle que

se exerce sobre as relações existentes entre as classes. Como o processo de produção-distribuição se faz sob o condicionamento das formas como se travam as relações entre as classes, pode-se afirmar que o arranjo espacial, na verdade, numa sociedade de classes, reproduz em síntese as relações de classes da formação econômico-social (MOREIRA, 1982, p. 3, grifo do autor).

O espaço aqui é entendido como espaço social, aquele produzido e reproduzido socialmente, através de seus agentes, das políticas públicas envolvidas e todo o rol de condições históricas a que este espaço foi submetido. Neste estudo nosso foco se detém sobre o mercado imobiliário, mas ressaltamos que estes não são os únicos agentes que produzem o espaço. Como bem coloca Corrêa (1989), os agentes são muitos: os proprietários fundiários, os proprietários dos meios de produção, os promotores imobiliários, o Estado e os grupos sociais excluídos. Grupos que entram em conflito e também estabelecem parcerias. Não existe ocupação neutra do espaço e tampouco espaço sem algum grupo exercendo poder sobre ele. Sempre que se ocupa, que se edifica é para alguém, com recursos de alguém e para determinadas finalidades e interesses. Mesmo a aparente desordem das cidades dos países periféricos, está compreendida dentro de uma lógica de produção do espaço e de uma perspectiva sobre o mundo. Quando tratamos de um tema tão importante como a ocupação da terra, sua utilização e colonização é impossível não deixar transparecer juízos de valor. Nós sabemos que esta é uma questão que gera fortes debates e está marcada por uma divisão ideológica muito clara. Entre aqueles ligados aos ruralistas e proprietários de terra urbana que entendem que é pela mercantilização de todas as relações entre as pessoas e pelo liberalismo econômico que se deve seguir. E outros ligados às entidades de trabalhadores rurais e aos excluídos das habitações urbanas que lutam pelas mudanças conceituais e pela predominância da coletividade, pelo cooperativismo, pelo associativismo, por medidas que visem o coletivo acima do individual. É no processo de transformação solo em glebas, as glebas em lotes, os lotes em mercadoria cobiçada que vivem as imobiliárias. Apoiadas na estrutura fundiária rural e urbana falida de nossa sociedade, que permite a expansão

urbana em solo rural a custos mínimos para os investidores e com retornos privados imensos, os planejamentos coletivos não são seguidos. Segundo Carlos: Assim, o espaço-mercadoria se propõe para a sociedade como valor de troca, destituído de seu valor de uso e, nessa condição e meio da realização da vida social, às necessidades da reprodução da acumulação como imposição para a reprodução social (CARLOS, 2011, p. 62).

Quando falamos em setor imobiliário e produção do espaço através das imobiliárias, estamos falando em como estas moldam a paisagem das cidades, controlam territórios, criam valores simbólicos, moldam a legislação e os eixos de expansão conforme os seus interesses, vendem terrenos, constroem casas e edifícios, exigem a logística do poder público e mantém uma especulação da terra. Nos discursos dos moradores e pesquisadores que encontramos na viagem de estudos, podemos notar o papel crucial que as imobiliárias exercem na dinâmica de vida das cidades da BR 163, especialmente em Sinop. O professor e pesquisador Edison Souza (UNEMAT), se posiciona sobre a questão da expansão da cidade e coloca que a cidade está envolvida prioritariamente para o setor imobiliário, apresentando forte especulação imobiliária principalmente com a chegada da Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT) e da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), além do setor do agronegócio. Através dos depoimentos dos entrevistados, das observações sobre o número de loteamentos à venda, das revistas com divulgação de lotes e dos artigos específicos sobre a região, podemos concluir que o mercado imobiliário de Sinop possui um poder de decisão muito grande na dinâmica da cidade. Isso ocorre pelo controle do uso do solo e pela influência econômica e política que exerce, tornando-se desta forma um aspecto importante para entendermos a vida da cidade.

3. CONTEXTO NACIONAL E REGIONAL

O Brasil é um país essencialmente urbano nos dias de hoje, segundo o IBGE temos 82% das pessoas vivendo em cidades (IBGE, 2010). Lembramos que alguns autores questionam o método de avaliação do IBGE, pois muitas das “cidades” que temos no Brasil não apresentam vida urbana. Mas superando este debate, o país se apresenta hoje em um cenário de notória expansão urbana e com rápidas transformações na paisagem das cidades. A criação do Ministério das Cidades (2003), do Plano Nacional de Habitação (2009), do Programa Minha Casa, Minha Vida (2009) que já contratou mais de 2,7 milhões de unidades, e construiu 1,1 milhão de unidades, foram importantes ações de políticas públicas de habitação no país. Nosso país apresentava um déficit de 7 milhões de habitações em 2007 (CUNHA, 2007), sendo que 90% desta demanda concentra-se na faixa salarial de 0 (zero) a 3 três salários mínimos. Os planos federais de habitação são importantes para uma mudança no quadro geral de produção habitacional no país que conta quase sempre com a inciativa privada agindo em prol de seus interesses. Desde o fim do BNH (1986) não existiam ações conjugadas ao plano de ação do governo neste sentido. O mercado é quem regulava isso seguindo sua lógica, na prática o mercado atende a quem pode pagar e quem não pode, não lhe interessa, está excluído. Ainda há muito o que se fazer para romper definitivamente este processo, pois ele concentra a estrutura fundiária, mantém um alto número de pessoas que compromete sua renda com aluguéis, e gera uma ocupação do solo urbanizado desorganizado e sem condições mínimas de urbanidade. O Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de Mato Grosso (SINDUSCON-MT) anunciou em seu site (julho/2013) que estão previstos para construção em Cuiabá, 200 torres de apartamentos, totalizando 11.560 apartamentos novos para os próximos cinco anos. O significado de um plano desta magnitude é imenso, demonstra um grande potencial no estado de Mato Grosso para investimentos e, consequentemente, o que acontece na capital se propaga para as cidades polos do Estado. Neste projeto estão incluídas edificações de alto, médio e baixo padrão.

4. SINOP E O MERCADO IMOBILIÁRIO

O processo de especulação imobiliária sempre foi muito forte nas cidades da BR 163, afinal suas origens estão relacionadas a este tipo de relação com a terra. Sempre foi uma relação extremamente mercantilizada, onde a terra tem um valor claro de mercado. O mercado imobiliário oferece um produto para as pessoas. A produção de bens na sociedade atual não foge a uma lógica de busca de lucros certo e para isso utiliza-se de estratégias bem elaboradas. Entre elas a manipulação dos desejos e criação da demanda por determinas formas de bens ao invés de outras. Desta forma as imobiliárias se colocam como as responsáveis por solucionar o problema da habitação, quando na verdade escondem a manipulação que exercem. Primeiro controlam o solo, através de uma estrutura fundiária que permite isso, depois criam a publicidade sobre uma forma de produzir o espaço e depois modelam a produção conforme a sua conveniência. Sob esse prisma, Santos esclarece:

Daí, o império da informação e da publicidade. Tal remédio teria 1% de medicina e 99% de publicidade, mas todas as coisas no comércio acabam por ter essa composição: publicidade + materialidade; publicidade + serviços, e esse é o caso de tantas mercadorias cuja circulação é fundada numa propaganda insistente e enganosa. Há toda essa maneira de organizar o consumo para permitir, em seguida, a organização da produção. Tais operações podem se tornar simultâneas diante do tempo do relógio, mas, do ponto de vista da lógica, é a produção da informação e da publicidade que precede (SANTOS, 2012, p. 48-49).

O plano urbanístico inicial de Sinop segue um rigoroso traçado geométrico, proposta que não foi seguida à risca, pois os rumos que os agentes tomaram foram outros. A realidade material é sempre mais complexa que os planos urbanísticos. Dentro deste plano foram criadas zonas para a cidade: residencial, comercial e industrial, conforme o passar do tempo e das decisões políticas e econômicas estes setores se mixaram de alguma forma. A cidade apresenta ainda uma separação segundo os critérios de zoneamento. Porém muitas mudanças aconteceram, seja pela ação dos sujeitos excluídos

do mercado imobiliário ocupando lotes não edificados próximos às indústrias; ou através dos sujeitos que possuíam grandes lotes e os desmembraram irregularmente; outros agentes buscaram no distanciamento da cidade a criação de seus loteamentos. A cultura de não se seguir a legislação é notória.

A equipe de

planejamento e fiscalização do município é pequena (PRODEURBS). E não conta com uma legislação adequada, embora exista o plano diretor, as leis complementares para sua efetivação nunca foram aprovadas, os interesses impedem. Todo este cenário leva ao fato de que o mercado imobiliário consegue ir produzindo e reproduzindo praticamente tudo o que quer. O poder público encontra-se desarticulado, desestruturado e sem as normas e regras adequadas para cumprir sua função de manutenção da justiça social. As imobiliárias, empresas que trabalham com a venda e administração de imóveis, são hoje os principais agentes de negociação do mercado de imóveis, através de acordos com as construtoras, com os poderes públicos constituídos, com a criação de demanda pela especulação da terra, entre outras estratégias de controle e domínio do solo urbano. Segundo dados divulgados pela revista Notícias (edição 110 de julho de 2012) existem 15 loteamentos em andamento na cidade de Sinop, prevendo um acréscimo de 5 milhões de metros quadrados de área urbana. Neste processo apresenta-se vários modelos de condomínios para as classes A e B prioritariamente. Em relação às classes C e D, começam a ser atendidas pelos projetos habitacionais do governo federal - Minha Casa, Minha Vida. Hoje existem várias imobiliárias e construtoras em Sinop, apresentando à sociedade vários loteamentos, alguns apenas com a infraestrutura básica: energia, pavimentação, água, drenagem pluvial. Outros loteamentos e condomínios com estruturas complementares de entretenimento como o Carpe Diem Resort Residencial que vem com um conceito de resort, nele podemos encontrar: 06 quadras de tênis; 01 campo de futebol com grama sintética, iluminado e com tamanho suíço oficial para uso 24 horas; 01 quadra de basquete, vôlei, futsal; 02 quadras de areia; 01 quadra de spiribol; 01 pista de bicicross; 01 pista de caminhada; 01 complexo de SPA com piscina aquecida, hidromassagem, ofurô, sala de massagem, pilates, yoga e academia. 01 complexo social com restaurante, pizzaria, bar, pub, salão de festas infantil,

playground, adega climatizada; 01 parque aquático com mais de 1000m² de piscina, bar molhado, piscina desde bebê a adulto, com bangalôs, ofurôs e hidromassagem em algumas das piscinas; 02 espaços gourmet. Na tabela 1 (em anexo) apresentamos uma classificação de alguns dos loteamentos da cidade, indicando seus valores médios. Na tabela 2 (em anexo) indicamos uma relação de condomínios verticais que a cidade está construindo. A cidade de Sinop apresenta alguns “atratores gravitacionais”, são assim como sol que mantém os planetas em suas orbitas. Determinados empreendimentos, concentram ao seu redor e sob sua influência investimentos imobiliárias de alto valor. Como exemplo, podemos citar em Sinop a recente implantação da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) que criou um campo de forças ao seu redor valorizando espaços não edificados e que, agora, começam a ser loteados com uma valorização mercantil do terreno em alta escala. Todos estes loteamentos são classificados segundo uma série de critérios entre eles destacamos: localização, estrutura interna de equipamentos comunitários e de entretenimento, material de acabamento, acessos, parcelamentos, paisagismo, etc. As edificações possuem seus preços atrelados a estes condicionantes e conseguem ser construídos e privilegiar determinados grupos em função de várias ações e estratégias. Conforme ensinam Vilarinho Neto e Siqueira (2012, p. 137):

As ações e estratégias contidas nos planos e projetos, valores de tributos e preços de imóveis, as leis de acesso ao solo e a publicidade dos empreendimentos imobiliários são importantes para compreensão do processo de valorização empreendido na área. O resultado deste processo de valorização e especulação imobiliária é uma acentuada segregação residencial e social que vão de encontro à proposta de justiça social e “direito à cidade” como condições para se democratizar o ambiente urbano.

A maior imobiliária da cidade, a Colonizadora SINOP, encontra-se em processo de diversificação de empreendimentos, possui fazendas, está atuando como imobiliária em outras cidades (incluindo Cuiabá), faz parcerias

com empresas para loteamentos fechados, tem áreas ainda a lotear na cidade e nas cidades vizinhas fundadas pela mesma. Os preços praticados em Sinop são em muitas ocasiões os mesmos de Cuiabá e muitas vezes mais caros como, por exemplo, podemos citar apartamentos de um milhão de reais, terrenos comerciais de 600 m2 no valor de quinhentos mil reais, sendo que o valor mínimo do metro quadrado do terreno é de cento e trinta e três reais, nas áreas menos nobres. Os lotes residenciais variam muito de preço começando em sessenta mil reais, no bairro Belo Horizonte até valores de trezentos e noventa mil reais, no condomínio horizontal Cidade Jardim (valores referentes ao mês de junho de 2013). Os valores são em geral bem altos para o público em geral, muitos dos compradores destes imóveis são de fora de Sinop, são aquisições de terrenos e casas visando a valorização, outros compram para que os filhos e esposas vivam em uma cidade com acesso a serviços, como educação e saúde. Os loteamentos estão sendo construídos, muitas vezes sem os cuidados ambientais necessários. A solução para a rede de esgoto e o aterro sanitário não é colocada como pauta prioritária. As legislações sobre o potencial construtivo, a expansão do perímetro urbano, entre outras, são deixadas com várias interpretações e nunca solucionadas. Neste processo os incorporadores vão expandindo seus negócios.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS A cidade de Sinop é classificada pelo Plano Nacional de Habitação como: “Centros urbanos em espaços rurais prósperos - Municípios que estão crescendo moderadamente, situados nas microrregiões mais ricas do país. Têm mais condições de enfrentar o déficit com recursos próprios.” Cidades de 20 a 100 mil habitantes. Esta caracterização é simples, mas podemos ler nisso uma característica de ser uma cidade que está se expandindo pela iniciativa privada. Quando fala em “centros urbanos em espaços rurais” podemos associar as cidades que existem para atender às demandas do espaço rural (SPOSITO, 2010).

Esta cidade apresenta um índice de crescimento elevado, o setor imobiliário está em ascensão, concentra grande poder econômico, que o transforma em um dos principais agentes de produção do espaço da cidade de Sinop. Contudo não atende a todos, nunca atendeu, mesmo durante a colonização da cidade, quando o foco se voltava para os lotes rurais. Este processo de loteamento na cidade foi possível graças a um conjunto de fatores. Sobre isso ensina Santos: Isso aconteceu sob a influência do capital subsidiado pelo poder público, acarretando em uma nova organização socioespacial das cidades, motivadas pela especulação imobiliária, onde seus agentes utilizam vários meios para obter lucro sobre o solo urbano, provocando a segregação sócio espacial e impossibilitando as classes de baixo poder aquisitivo de usufruir de espaços bem estruturados (SANTOS, 2009, p. 256).

Podemos observar que os loteamentos e condomínios horizontais fechados ou verticalizados que estão sendo desenvolvidos para os habitantes da cidade reproduzem a noção de exclusão e segregação. Estão vinculados a uma referência estética e funcional das grandes cidades do país, onde a sensação de medo e falência da segurança pública reclama habitações fechadas, as novas fortalezas. O mercado imobiliário de Sinop é sem dúvida um dos mais aquecidos do estado de Mato Grosso, mantém relações diretas com as cidades sulistas, com empresas que de lá investem diretamente em Sinop. A cidade investe esforços no sentido de conseguir uma expansão da logística e da capacidade de fluxo de pessoas e veículos, com investimento em aeroportos, estradas, políticas de incentivo fiscal e confiante na expansão imobiliária como um ponto sólido da economia regional. Mas estes benefícios são claramente para um grupo específico de moradores da cidade e das cidades vizinhas que possuem, em geral, alta renda. Os sujeitos desprovidos de renda para aquisição de lotes e casas ainda não são objeto de uma forte política pública municipal de inclusão.

6. REFERÊNCIAS

CARLOS, A. F. A. Da "organização" à "produção" do espaço no movimento do pensamento geográfico. In: CARLOS, A. F. A.; Souza, M. L.; SPOSITO, M. E. B. (Orgs.). A produção do espaço urbano: agentes e processos, escalas e desafios. São Paulo: Contexto, 2011. p. 53-73. CARLOS, Ana F. A. (Orgs.) A produção do espaço urbano. São Paulo: Contexto, 2011. p. 41-73 CORRÊA, Roberto. O espaço urbano. Ática: São Paulo, 1989. CUNHA, Eglaísa Micheline Pontes Cunha; ARRUDA, Ângelo Marcos Vieira; MEDEIROS, Yara. Experiências em habitação de interesse social no Brasil (Orgs.). Brasília: Ministério das Cidades, Secretaria Nacional de Habitação, 2007. HARVEY, David. A produção capitalista do espaço. São Paulo: Annablume. 2005. IAB. Instituto de Arquitetos do Brasil. Departamento Rio Grande do Sul. Manual para a Implantação da Assistência Técnica Pública e Gratuita a Famílias de Baixa Renda para Projeto e Construção de Habitação de Interesse Social. Grupo de Trabalho – Manual de Assistência Técnica. 2010. Jornal “$ónegócio$”. Ano 11. n. 431. Sinop. Junho de 2013 MOREIRA, R. A Geografia serve para desvendar máscaras sociais. In: MOREIRA, Ruy (Org.). Geografia: teoria e crítica. O saber posto em questão. Petrópolis: Vozes, 1982. MOURA. Edenilson Dutra de. Reflexões urbanas e culturais da cidade de Sinop (MT). Trabalho de Conclusão de Curso de Geografia. Universidade Federal de Mato Grosso. Cuiabá, 2013. NYGAARD, Paul Dieter. Espaço da cidade; segurança urbana e participação popular. Porto Alegre: Livraria do Arquiteto, 2010. 192 p. Plano Nacional de Habitação. Versão para debates Brasília: Ministério das Cidades/ Secretaria Nacional de Habitação. Primeira impressão: maio de 2010. Revista Notícia do Estado de Mato Grosso. Julho/2012.

Edição 110. Ano XVIII.

ROSSI, Aldo. A arquitetura da cidade. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

SANTOS, Milton. Por uma outra globalização (do pensamento único à consciência universal). Rio de Janeiro: Record, 2012. 174 p. SANTOS, Ronaldo B. A questão urbana em Sinop-MT: o mercado imobiliário. In: ROMANCINI, Sônia Regina (Org.). Novas Territorialidades em Mato Grosso. Cuiabá: EdUFMT, 2009. p. 255-273. SIQUEIRA, Frankes Marcio Batista; NETO, Cornélio Silvano Vilarinho. O capital Imobiliário e a cidade – uma análise do espaço urbano de Cuiabá como resultado da preparação para a Copa do Mundo de 2014. ACTA Geográfica. Boa Vista, v. 6, n. 13, set./dez. de 2012. p. 137-154. BERNARDELLI, Mara Lúcia; SOBARZO, Oscar. Contribuição ao debate sobre o urbano e o rural. O urbano e o rural em Henri Lefébvre. In: SPOSITO, Maria Encarnação Beltrão; WHITACKER, Arthur Magon (Orgs.). Cidade e campo: relações e contradições entre urbano e rural. 2. ed. São Paulo: Expressão Popular, 2010. Sites Visitados http://www.sindusconmt.org.br. Acesso em 04 jul. 2013 http://www.gruposinop.com.br. Acesso em 04 jul. 2013

ANEXO

Tabela 1- Classificação dos Loteamentos Horizontais (2013) Nome do loteamento Carpe Diem

Padrão Alto

Valores médio dos lotes R$116.000,00

Dimensão dos lotes 750 a 1500 m2

Jardim Itália

Alto

R$160.000,00

800m2

Jardim Maringá

Alto

R$410.00,00

653m2

Cidade Jardim

Alto

R$393.300,00

?

Jardim Paraíso

Alto

R$202.000,00

656m2

Jardim Celeste

Alto

R$100.000,00

600m2

Residencial

Alto

R$100.000,00

420m2

Jardim das Itaúbas

Médio

R$40.500,00

?

Terra Rica 2

Médio

R$59.900,00

?

Loteamento

Médio

R$63.000,00

?

Residencial Flamboyans Jardim Viena

Baixo

R$65.000,00

576m2

Baixo

?

?

Residencial Lisboa

Baixo

?

?

Jardim Vindilina

Baixo

?

?

Florença

Oliveiras

Obs: Os dados disponíveis em site, por telefone e pelos jornais consultados estão aqui sintetizados. Não conseguimos todos os dados para completar a tabela.

Tabela 2 - Classificação dos Condomínios Verticais (2013) Nome condomínio

Padrão

Bosque Village

Alto

Valores mínimos dos aptos R$400.00,00*

Dimensão dos aptos

117m2* e de 203 m2 | Elevador

Volare

Alto

R$230.000.00*

64m2* e 79m2 |Elevador

Itaverá

Médio

R$190.000,00*

64m2* e 79m2 | Sem elevador

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