A produção fotográfica de Alair Gomes nos Estados Unidos

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A Produção Fotográfica de Alair Gomes nos Estados Unidos André Luís Castilho Pitol. Escola de Comunicações e Artes – Universidade de São Paulo Palavras-chave: Alair Gomes. Estados Unidos. Fotografia. Revistas. Resumo: Este texto mostrará e analisará a produção fotográfica de Alair Gomes realizada no Brasil e apresentada nos Estados Unidos nas décadas de 1970 e 1980. Especificamente, os trabalhos fotográficos publicados nas revistas Performance (1971), Gay Sunshine (1979) e The Advocate (1983); e também o projeto coletivo de livro de artista Artist Almanac (1975). Enquanto alguns desses trabalhos fotográficos foram veiculados no circuito impresso da arte, outra parte foi publicadas em revistas ligadas à homossociabilidade estadunidense e ao movimento político gay norte-americano do período. Keywords: Alair Gomes. United States. Photography. Publication. Abstract: This paper will show and analyze the photographic production of Alair Gomes realized in Brazil and presented in the United States in the 1970s and 1980s Specifically, the photographic work published in magazines Performance (1971), Gay Sunshine (1979) and The Advocate (1983); and also in the collective project of the artist book Artist Almanac (1975). While some of photographic work was publicated in the circuit of art, the other part was published in the magazines linked to homosociability and the American gay movement of the period. A produção fotográfica de Alair Gomes vem recebendo nos últimos anos o interesse de uma série de pesquisas preocupadas em contextualizar a vida e a obra do autor, ampliando o campo de investigação sobre arte e fotografia no Brasil entre as décadas de 1960 e 1980. Podemos citar, por exemplo, as contribuições pontuais de Paulo Herkenhoff, Tadeu Chiarelli (1999, 2002, 2005), João Luiz Vieira (2003 e 2005) e Wilton Garcia (2002), bem como a tese de doutorado escrita por Alexandre Santos (2006).1                                                                                                                 1

CHIARELLI, Tadeu. Fotografia no Brasil anos 90. In: Arte Internacional Brasileira. São Paulo: Lemos Editorial, [1997] 1999, pp.141-150; GARCIA, Wilton. Imagem & Homoerotismo: a sexualidade no discurso da arte contemporânea. 2002. 276f. Doutorado (Tese em Ciências da Comunicação) – Universidade de São Paulo, 2002.; ______. Alair Gomes e a fotografia. In: Homoerotismo & Imagem no Brasil. São Paulo: Wilton Garcia Editora, 2004; CENTRO CULTURAL BANCO DO BRASIL. Erótica: os sentidos da arte. São Paulo: Associação de Amigos do CCBB, 2005. Catálogo de exposição. Curadoria de Tadeu Chiarelli; MUSEU DE ARTE MODERNA DE SÃO PAULO. Alegoria: Arte Brasileira Século XX/ Museu de Arte Moderna de São Paulo. Concepção e edição Tadeu Chiarelli; coordenação editorial Margarida Sant’ Anna; coordenação executiva Rejane Cintrão; créditos fotográficos Fernando Chaves [et al.]. São Paulo: MAM, 2002; VIEIRA, João Luiz. O corpo do voyeur: Alair Gomes e Djalma Batista. In: NOJOSA, Urbano; GARCIA, Wilton. Comunicação & Tecnologia. Nojosa, 2003; ______. Alair Gomes, Djalma Batista e Pedro Almodóvar: o circuito do desejo. In: GARCIA, Wilton (Org.) Corpo & Arte: estudos contemporâneos. São Paulo: Nojosa, 2005, pp. 91-104; SANTOS, Alexandre. A fotografia como escrita pessoal: Alair Gomes e a melancolia do corpo-outro. 2006. 399f. Doutorado (Tese em Artes Visuais) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2006.

 

2   Após a realização da revisão bibliográfica sobre o fotógrafo,

verificamos a necessidade de um aprofundamento em alguns aspectos de sua produção, principalmente no que diz respeito à circulação do trabalho de Gomes. O ponto que nos instigou para um maior aprofundamento no tema foi o trânsito que o fotógrafo estabeleceu a partir da década de 1960 com os Estados Unidos (EUA) e cujos relações resultaram na apresentação de trabalhos fotográficos para o público norte-americano. A respeito das viagens, Alair Gomes foi vencedor da bolsa da Fundação Guggenheim em 1961.2 Mas, ao contrário de muitos artistas, a bolsa Guggenheim concedida à ele não se destinava a pesquisas no campo das artes. A bolsa era destinada à pesquisas no campo da História da Ciência e Tecnologia e foi concedida a Gomes durante a atuação do fotógrafo, engenheiro de formação, no quadro de pesquisa no Curso de PósGraduação em Biofísica na Universidade Federal do Rio de Janeiro, até então Universidade do Brasil. A pesquisa de Gomes versava sobre a filosofia das ciências, na mesma época da pesquisa que vinha desenvolvendo em torno das propriedades neurológicas ligadas ao comportamento voluntário no homem. 3 Por isso, a estadia de Gomes, que durou entre 1962 e 1963, ocorreu no Departamento de Física da Universidade de Yale.4 Embora a bolsa não fosse da área de artes plásticas, podemos indagar como este intercâmbio, e outros posteriores aos EUA, exerceram influências na produção fotográfica de Gomes, que se iniciaria em meados daquela década de 1960. Já no período de 1975 e 1976, Gomes foi professor convidado do Departamento de Recepção de Estado dos EUA (em Nova York, Washington e São Francisco).5 No mesmo período, Alair Gomes foi convidado a participar como conferencista da Quarta Conferência Internacional para a Unidade das Ciências em Nova York, em novembro de 1975.6 Este período coincide com alguns trabalhos fotográficos como, por exemplo, a série “Glimpses of                                                                                                                 2

Disponível em: http://www.gf.org/fellows/5558-alair-de-oliveira-gomes, último acesso em 03/10/2014. Cf., por exemplo, o texto “A vida emotiva e as extensões do controle voluntário”, publicado em 1969. 4 Alair Gomes foi recebido pelo pesquisador Henry Margenau, conforme troca de correspondência de 31 de agosto de 1962. Fundação Biblioteca Nacional – Brasil. Arquivo Alair Gomes. 5 FONDATION CARTIER POUR L’ART CONTEMPORAIN. Alair Gomes, 2001, s.p. 6 Em carta ao Sr. Consul Geral dos Estados Unidos no Brasil, o então diretor do Instituto de Biofísica da UFRJ, Prof. Eduardo Penna Franca, pede o visto para Alair Gomes. Fundação Bilbioteca Nacional. Arquivo Alair Gomes/RJ, Pasta 50 – ICUS NY 75 – I. 3

 

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America: a sentimental Journey”, que faz parte do diário escrito por Gomes, de mesmo título, sobre a estadia nos EUA entre 1962-63. O objetivo do fotógrafo era que a publicação das imagens dialogassem com os escritos feitos na década anterior. Os exemplos apresentados podem ser inseridos em um movimento maior de trânsitos de artistas entre Brasil e Estados Unidos, em um contexto de alterações do campo artístico no período pós-guerra, contexto de complexas interações diplomáticas norte-americanas na América Latina. Essas alterações não são apenas de ordem política ou econômica, mas envolveram também as esferas da arte e da cultura. 7 O fluxo de profissionais de diversas áreas para os EUA foi dinamizado por ações de diversas organizações que foram responsáveis pelo financiamento de inúmeros intercâmbios acadêmicos e artísticos. 8 Essas viagens aos Estados Unidos serviram aos artistas brasileiros como uma das estratégias de aproximação, próprias da diplomacia cultural, com o propósito de contribuir ao impulso econômico e cultural entre os países.9 Por meio de bolsas de estudo e pesquisa, nomes como Antonio Henrique Amaral, Antonio Maia, Antonio Dias, Rubens Gerchman, Raymundo Collares, dentre outros, viajaram para o exterior e criaram uma rota alternativa de trânsito e, para alguns, de exílio à situação política pela qual passava o Brasil.10 Alair Gomes foi mais um pesquisador que, entre as décadas de 1960 e 1980, transitou entre o Brasil e os EUA. Foi através de uma série de viagens e contatos realizados, não relacionados especificamente ao campo artístico, que alguns de seus trabalhos fotográficos foram primeiramente apresentados ao público norte-americano. Seja na procura de referências visuais, seja no                                                                                                                 7

BULHÕES, Maria Amélia; KERN, Maria Lúcia Bastos (Org.). Artes Plásticas na América Latina contemporânea. Porto Alegre: Ed. Da Universidade/UFRGS, 1994. E MOURA, Gerson. Tio Sam chega ao Brasil: a penetração cultural americana. São Paulo: Ed. Brasiliense, 1984. 8 JAREMTCHUK, Dária. Experiências em Nova Iorque na década de 1970. IN: ARS – Revista do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais/ Departamento de Artes Plásticas da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo, Ano 6, n. 12. São Paulo: O Departamento, 2008, pp. 104 – 113. 9 JAREMTCHUK, Dária. A Bienal de São Paulo no contexto da Guerra Fria. Texto apresentado no XXXII Colóquio do Comitê Brasileiro de História da Arte, 2012, Brasília. Direções e Sentidos da História da Arte, 2012b. 10 JAREMTCHUK, Dária. Trânsitos e política: artistas brasileiros em Nova York durante a ditadura civilmilitar no Brasil. Texto apresentado no Congresso da Associação de Estudos Latino-Americanos, São Francisco, Califórnia, 2012a.

 

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contato de interlocutores do meio artístico e do mercado editorial e movimento político gay norte-americano, visto que parte importante do trabalho do artista se deu no cenário cultural estadunidense. No arco cronológico que abarca as viagens realizadas aos Estados Unidos pesquisadas até o presente momento, é possível afirmar que Alair Gomes publicou 4 ensaios fotográficos nos EUA. A seguir, exporemos cada um dos trabalhos: 1 - Performance (1971). O primeiro trabalho fotográfico foi um ensaio chamado “The Balcony: a photo portfolio”, publicado no primeiro número da revista Performance, em 1971. O ensaio registra a peça de teatro O Balcão, escrita por Jean Genet e que recebeu um montagem brasileira dirigida pelo diretor argentino Victor Garcia e encenada na sala Gil Vicente do teatro Ruth Escobar entre 1969 e 1971. A publicação do ensaio de Alair Gomes na revista aconteceu apresentação da peça no New York Shakespeare Festival, da organização cultural The Public Theater de Nova York. As imagens apresentam o cenário da peça, um dos elementos da montagem teatral mais comentados na época. Destruindo a plateia e o balcão do teatro, a peça foi encenada em um vão livre de 20 metros de altura, onde foi construído um cilindro de ferro para os assentos do publico, e vazado no centro, com plataformas e passarelas suspensas para os atores. Os aspectos apresentados neste trabalho fotográfico são, a nosso ver, importantes para a compreensão do objeto de arte. O fato de ser um trabalho impresso, faz com que a sua materialidade seja evidenciada e questionada quanto ao materiais artísticos possíveis, tanto quanto pode ser constatado sobre a circulação da revista, movida de acordo com os interesses e demandas do festival de teatro, ressignificando o material apresentado. A circulação do trabalho é crucial para o entendimento de outros trabalhos de Alair Gomes escolhidos para esta pesquisa. 2 – Artists Almanac (1975).

 

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O segundo trabalho de Alair Gomes é a participação do fotógrafo no Artists Almanac, em 1975, uma proposta de livro/publicação coletiva organizada pelo artista alemão Uli Boege. Dividido em duas edições, publicadas nos solstícios de verão (22 de julho) e de inverno (22 de dezembro), para Boege: o Artists Almanac reconhece as mudanças sazonais da mesma maneira que agricultores reconhecem o processo de crescimento de acordo com a órbita de nosso planeta. O tema ou objeto de reflexão para cada questão incidirá sobre os fenômenos sociais e vai refletir a experiência acumulada da edição anterior. 11

Em cada uma das edições, o organizador, cuja posição fica entre o artista e o editor, propunha um tema gráfico para que os artistas que desejassem

participar.

Todos

os

artistas

que

enviaram

trabalhos

incorporando o motivo geral do livro receberam uma página para a publicação, assim como uma cópia. Participaram cerca de 237 artistas, divididos nas duas edições, nomes tais como Richard Avedon, Robert Crumb, David Hockney, Anne Lebowitz, Duane Michals, Helmut Newton, Claes Oldenburg, Lucas Samaras, Saul Steinbeg, Otto Stupakof e tantos outros. O tema da edição do solstício de inverno foi uma parede de tijolos preto e branco e que para o organizador: simboliza a amarra linear, bidimensional da nossa civilização; isso não parece refletir processo orgânico e tridimensional de crescimento. Se este projeto aparenta ser rígido pra você, em qualquer modo, considere que o ponto desde começo experimental não é somente nossa auto expressão como planetas individuais, mas ao mesmo tempo o reconhecimento e a energia de nossa órbita comum.12

Alair Gomes participou colocando uma imagem do grupo de carnaval carioca Cacique de Ramos, recortando-a de modo que ficasse dentro dos limites da parede de tijolos, inclusive recortando um triangulo na parte superior da imagem, de modo que possamos ver o grupo de tijolos escuros desenhados por Boege. 3 – Gay Sunshine - Journal of Gay Liberation (1979).                                                                                                                 11 12

BOEGE, Uli (Ed.) Artists Almanac. Nova York: winter, 1975, s.p. Idem, ibidem.

 

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O terceiro trabalho, denominado “Carnival in Rio: a photo essay”, é um ensaio fotográfico realizado por Alair Gomes sobre o carnaval de rua do Rio de Janeiro, publicado no jornal Gay Sunshine de São Francisco, em 1979. A edição n. 38/39 do jornal foi um número especial sobre o Brasil e o dossiê principal ocupou metade das 40 páginas do jornal. Dentre os autores publicados, cujos textos e histórias foram traduzidos para o inglês, estão: Gasparino Damata, Darcy Penteado, Caio Fernando Abreu, João Silvério Trevisan, Aguinaldo Silva, Ediberto Coutinho. A parte dedicada ao Brasil contou ainda com dois textos: “Os entendidos: a vida da classe média gay em São Paulo”, do sociólogo norte-americano Frederick L. Whitman e “Homossexualidade e a Inquisição no Brasil: 1591-92”, de Stephen W. Foster. Após os textos, segue o ensaio de Alair Gomes, composta por 14 imagens (incluindo a imagem da capa). O ensaio ocupa 7 páginas centrais do periódico, diagramado no formato tabloide (44,5 x 28,5 cm). O ensaio fotográfico é precedido por um pequeno texto escrito pelo próprio fotografo.13 Um pequeno trecho diz o seguinte: Dziga Vertov que pode ter sido o maior teóricos do documentário fotográfico, cometeu uma falha teórica enorme quando ele disse que o olho da câmera controla o olho do cameraman. A verdade é, pelo contrário, que a câmera se mantém completamente subserviente aos olhos do fotografo – e às suas preferências. Vertov trabalho com cinema; porém ele frequentemente pensava em termos tão amplos que a sua aplicação ao médio fotográfico foi grande. E ele estava, na realidade, em uma posição excepcional para saber que a câmera nunca foca, força objetividade: sua principal atividade foi a de editor, no sentido de compositor, com imagens fotográficas, concepções com as quais ele se entretinha. O que saiu do seu trabalho foi uma visão particular dos eventos aos quais ele prestou atenção. Isto é quase como eu considero esse pequeno retrato do carnaval do Rio. O fato de colocá-lo nas páginas do Gay Sunshine fez com que fosse mais parcial do que eu, propriamente, teria desejado. Foi porque Winston Leyland me deixou um pouco de espaço na decisão na composição, o que foi muito mais do que os editores normalmente

                                                                                                                13

O original datilografado foi encontrado nos Arquivo Alair Gomes/Fundação Biblioteca Nacional. O documento de duas páginas é datado de outubro de 1977 e intitulado “Carnival in Rio: A Feast for Gay Eyes – and more”.

 

7   concedem aos fotógrafos, e eu posso dizer que essa visão é basicamente minha.

Na nota do editor, o mesmo - Winston Leyland – informa o leitor de que a presente edição é resultado de sua visita ao Brasil em 1977, viagem cujo objetivo principal foi a coleta de material literário e artístico para a publicação de uma antologia sobre literatura gay latino-americana. Mais especificamente, a visita de Leyland foi resultado de um projeto que o editor havia mandado para o National Endownment for the Arts 14 , para a compilação de escritores e artistas plásticos gays brasileiros.15 Por conta da antologia de literatura homossexual latino-americana, Leyland entrou em contato e foi recepcionado no Brasil por João Antonio Mascarenhas16, que era assinante da revista Gay Sunshine desde 1972 e mantinha correspondência regular com o editor do jornal.17 Segundo James Green, Mascarenhas este aproveitou a visita do editor da Gay Sunshine “[...] para organizar uma série de entrevistas com a imprensa, nas quais ele falaria sobre o movimento internacional pelos direitos gays”.18 Leyland afirma que foi entrevistado por jornais e revistas de grande circulação e também por revistas alternativas, como o Pasquim.19 Howes aponta que Mascarenhas “[...] anunciou que o livro [de Leyland] era apoiado pelo governo norte-americano, suscitando assim grande interesse da imprensa brasileira”.20 Desta forma, ele apagava temporariamente a divisão dos poderes do edital ganho por Leyland, já que o National Endowment for the Arts é um órgão cultural independente do Congresso dos EUA. Dado o volume elevado de textos e imagens pesquisados, Leyland publicou o Jornal e mais duas antologias: também em 1979 publicou o livro                                                                                                                 14

O National Endowment for the Arts é uma agência independente do governo norte-americano que financia projetos aprovados no campo das artes: teatro, cinema, música e literatura. 15 HOWES, Robert. João Antônio Mascarenhas (1927-1998): Pioneiro do ativismo homossexual no Brasil. In: Cad. AEL, v.10, n.18/19, 2003, p. 294. 16 Mascarenhas era advogado, jornalista e foi também personagem importante como fundador do grupo Triângulo Rosa que, no contexto dos anos 1980, militou no esclarecimento e no combate à epidemia da HIV-Aids. 17 SILVA, Cláudio Roberto da. Reinventando o sonho: História Oral de vida política e homossexualidade no Brasil Contemporâneo. 674f. MESTRADO (Dissertação em História Social) – Universidade de São Paulo, 1998. 18 GREEN, James N. Além do Carnaval: A homossexualidade masculina no Brasil do século XX. Trad. Cristina Fino e Cássio Arantes Leite. São Paulo: Editora UNESP, 2000, p. 430. 19 FACCHINI, Regina; SIMÕES, Júlio A. Na trilha do arco-íris: do movimento homossexual ao GLBT. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2009. (Coleção História do Povo Brasileiro). 20 HOWES, 2003, p. 294.

 

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Now the Volcano: um antologia de literatura gay latino-americana 21 , com textos de autores mexicanos, brasileiros e colombianos e em 1983 My deep dark pain is love: a collection of Latin American Gay Fiction, com textos de escritores da Argentina, Brasil, México, Cuba e Chile. Apostamos nessas informações como pertinentes, especialmente em análises que ainda serão mais bem desenvolvidas, e que dizem respeito a uma série de questões sobre as buscas de referências visuais e a viabilização para os trabalhos por parte de Alair Gomes, por um lado, e por outro lado sobre os objetivos e as formas de entendimento a respeito da arte, da sexualidade, da América Latina, do Brasil, tidos pela Gay Sunshine na figura de seu editor. 4 – The Advocate: the national gay newsmagazine (1983). O quarto trabalho de Alair Gomes foi apresentado na revista The Advocate: the national gay newsmagazine, publicado em São Francisco e Los Angeles, 7 de julho de 1983. Surgida como jornal em Los Angeles em 1967, The Advocate é considerada a principal revista de grande circulação sobre temas gays no ambiente de homossociabilidade estadunidense. A fotografia passa a desempenhar um papel importante na revista na década de 1970, principalmente durante as diversas lutas contra as leis de proibição de material impresso tido como pornográfico. 22 No caso de Gomes, seu trabalho foi disposto na forma de uma página dupla na parte central da revista, num espaço intitulado portfólio. Foram publicados três trabalhos: duas partes de uma série chamada “Serial Composition” (opus 21, n. 2 e outra opus 22, n. 1) e um “Beach Triptych”. O pequeno relato publicado junto às imagens informa o leitor de que Alair

Gomes

é

um

professor/palestrante

fotógrafo (lecture).

brasileiro, No

tocante

mas à

também sua

escritor

poética,

e

está

                                                                                                                21

Na folha de rosto da edição, consta a informação de que a publicação foi realizada por meio do National Endowment for the Arts em Washington D.C. 22 RODRIGUES, Jorge Caê. Impressões de Identidade: um olhar sobre a imprensa gay no Brasil. Niterói: EdUFF, 2010, p. 34-35.

 

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majoritariamente construída no procedimento de sequencia fotográfica, bem como uma extensa documentação sobre o carnaval carioca. Considerações Em resumo, depois da apresentação de cada um dos quarto trabalhos, podemos afirmar que Alair Gomes optou por veicula-los em revistas e jornais. Se duas estavam ligados ao circuito artístico, como na revista Performance (1971) e no livro de artista Artists Almanac (1975), já outros estavam principalmente

inseridos

em

um

circuito

impresso

ligado

à

homossociabilidade estadunidense e ao movimento político gay norteamericano, como nos ensaios fotográficos publicados no jornal Gay Sunshine - Journal of Gay Liberation (1979) e na revista The Advocate: the national gay newsmagazine (1983). Podemos supor, talvez, que este recurso estava inserido na vontade de que os trabalhos extrapolassem os limites de recepção apenas do público de arte e também, porque aqueles trabalhos correspondiam aos interesses de outras áreas e de públicos específicos, como o movimento de liberação gay norte-americano e brasileiro, como o caso dos ensaios publicados em Gay Sunshine (1979) e na The Advocate (1983). Esse ponto nos permite indagar sobre relação que os trabalhos fotográficos tiveram com os meios oficiais de apresentação (como galerias e exposições de arte) e outros locais propostos por artistas para exibição de suas produções (como livros de artista, jornais e revistas). O suporte revista abriu espaço para a divulgação de trabalhos de artistas que não reivindicavam uma participação no circuito artístico de museus e galerias. Desta forma, é possível discutir os trabalhos de Gomes a partir de suas possibilidades de concretização nos suportes nos quais foram construídos, considerando a dimensão física da fotografia. As décadas de 1960 e 1970 foram anos nos quais diversos artistas investigaram o suporte onde desenvolveriam seus trabalhos como uma maneira de ressignificação de sua poética. O período pode ser entendido como um momento onde as obras de arte não podiam ser determinadas por uma estrutura formal padronizada e onde as estruturas narrativas mestras da

 

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história da arte tradicional – baseados no critério de “imitação” – e da arte modernista desgastaram-se

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, deixando de desempenhar um papel

onipresente na produção contemporânea. Finalizando, é importante lembrar ainda que as relações artísticas possíveis no período entre Brasil e EUA entre as décadas de 1960 e 1980, que possibilitou a uma série de artistas brasileiros transitarem entre os dois países. Alair Gomes foi um deles.

                                                                                                                23

DANTO, Arthur C. Após o Fim da Arte: A Arte Contemporânea e os Limites da História, trad. Saulo Krieger. São Paulo: EDUSP/ Odyssues Editora, 2006.

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