A propaganda no processo de sedução dos fiéis

July 13, 2017 | Autor: Denis Morais | Categoria: Sociology, Sociology of Religion, Teology of Religion
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A PROPAGANDA RELIGIOSA NO PROCESSO DE SEDUÇÃO DOS FIÉIS1

Denis de Sousa Morais

Resumo Este artigo trata sobre a propaganda religiosa no processo de sedução dos fiéis. Apresenta-se primeiro um panorama do cenário religioso, o bem de consumo da sociedade moderna e sua relação. Em seguida, o mito e seu caráter simbólico quando relacionado à religião, buscando explicar que o mito é uma forma de alienação. Finalmente, apresenta-se exemplos bíblicos que demonstram conscientizar contra a avareza corporativista que adequa as novas tendências das denominações eclesiásticas. Palavras-chave: Propaganda religiosa; Sedução dos fiéis; Mito; Alienação.

Abstract This Article deals with the religious advertisement in the process of seducing the faithful. It presents the following structure: First, it brings a survey about the Brazilian religious field, the consuming of goods in modern society and how they relate to each other. After that, it deals with the myth and its symbolic character when related to a religion in order to explain that the myth is a form or alienation. And finally, it presents biblical principles as a warning against the corporative greed that became part of many churches today. Keywords: Religious propaganda; Seduction of the faithful; Myth and alienation.

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Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Centro de Educação, Filosofia e Teologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie como requisito parcial para à obtenção do Título de Bacharel em Teologia. Orientador: Prof. Dr. Paulo Rodrigues Romeiro.

Introdução

Este artigo, procura analisar e apresentar – ainda que sinteticamente – um panorama da propaganda religiosa no processo de sedução dos fiéis. Primeiramente, busca relatar o cenário religioso e o bem de consumo da sociedade moderna. A produção mecânica nas fábricas, o surgimento da sociedade urbanizada, o crescimento da alfabetização e a aplicação do conhecimento cientifico, todas essas transformações abrangem os setores também da igreja. Em seguida, demonstra o mito e seu caráter simbólico quando relacionado à religião, explicando que o mito é uma forma de alienação. Os perigos de induzir o cumprimento de exigências na comunidade, a falta de abertura para dialogar com os preceitos institucionais ou até doutrinários. O segredo generalizado por trás do espetáculo, a mentira sem contestação, desaparecendo por definitivo a opinião. E por fim, faz um breve relato a respeito do corporativismo e as novas tendências de mercado na indústria e no comércio, que espelham à disputa mercadológica das denominações eclesiásticas. O religioso que trabalha em busca de resultados e o campo editorial no meio do mercado fonográfico. Os produtos para atrair o público religioso que cresce vertiginosamente e a propaganda em torno de exorcismo, cura, e de prosperidade. Se tratando de cristianismo, utiliza exemplos bíblicos que demonstram conscientizar contra a avareza corporativista que adequa as tendências religiosas.

O cenário religioso brasileiro

Ao longo dos séculos, a religião desempenhou um papel relevante na vida da sociedade. Enquanto o cristianismo consolida suas doutrinas e dogmas, as religiões passam por grandes mudanças. Após o advento da Reforma Protestante do século 16, o protestantismo contribuiu em grande parte para o desenvolvimento e as práticas dos processos da civilização moderna. As transformações futuristas eclodem no interior da sociedade tradicional e vários aspectos surgem, principalmente por causa das mudanças na economia motivados pela produção mecânica nas fábricas. Surge uma sociedade urbanizada com o crescimento da alfabetização e a aplicação do conhecimento cientifico à produção. Agora o consumo é o bem 2

necessário da sociedade moderna que busca organizar o consumo ao invés da produção de bens. Todas essas transformações abrangem os setores da instituição religiosa. Explode uma pluralidade de novas denominações religiosas e as disposições morais de fé dos adeptos é incompatível com esse crescimento. Muitos pesquisadores buscam explanar o cenário religioso brasileiro a partir da década de 1950. Estudiosos dos fenômenos religiosos, até meados de 1960, afirmavam que a urbanização seria um processo irreversível e secular, com o mundo sendo progressivamente “desencantado” e tornando as explicações religiosas cada vez mais ausentes no contexto social. (BITUN, 2012, p. 99). O desaparecimento da religião não aconteceu como os estudiosos esperavam; tal fato é o crescimento do pentecostalismo. Segundo Pierucci (1997, p. 257): A forma plural de disseminação do que é tido como religiosos – com o consequente aumento da oferta de opções religiosas, sua diversificação interna e a crescente demanda por essas ofertas, configurando o que vem sendo chamado de trânsito religioso – resulta na autonomização do indivíduo, agora um “errante religioso”, liberto das amarras da cultura religiosa tradicional. A conquista da liberdade religiosa funciona como garantia e alternativa a qualquer megaencantamento, tradicionalismos e fundamentalismo e como conduto para uma condição – no limite – laica, atitude socialmente legitimada. Ou seja, a liberdade de opção por uma religião em detrimento de outras ensejada a liberdade de opção por nenhuma religião.

Compreendido como os migrantes que saem de suas terras, assim os religiosos brasileiros saem de suas comunidades em busca de satisfazer suas necessidades; isso parece ter ocasionado um crescente “colapso na fé”. (ANDERSON, 1990 apud BITUN, 2012, p. 23). Para Mariano (2005, p. 134) as instituições religiosas Igreja Universal do Reino de Deus e Igreja Internacional da Graça de Deus, distribuem aos fiéis objetos ungidos dotados de poderes mágicos, ato que se aproxima dos cultos afro-brasileiros e do catolicismo popular: Não obstante os meios pentecostais tradicionais se oponham ao uso de objetos sagrados (exceto a Bíblia) dotado de poder mágico e terapêutico para sucumbirem à idolatria , Universal e Internacional, mediante pagamento de ofertas estipuladas, distribuem aos fiéis rosa, azeite do amor, perfume do amor, pó do amor, saquinho de sal, arruda, sal grosso, aliança, lenço, 3

frasquinho de água do Rio Jordão e de óleo do Monte das Oliveiras, nota abençoada (fotocópia da cédula benzida), areia da praia do Mar da Galiléia, água fluidificada, cruz, chave, pente, sabonete. Tal como na umbanda e no catolicismo popular, recomenda-se que eles sejam ora colocados na comida, ora jogados num rio, ora passados no corpo, ora guardados na carteira, carregados no bolso e daí por diante.

O grande sucesso dessas igrejas vem da utilização da mídia que, em tempos de globalização é o recurso utilizado para ditar e regular comportamentos, o jornal, a rádio e a televisão. Cunha comenta: “o avanço do capitalismo globalizado, a partir dos anos 90 imprimiu uma nova ordem mundial na qual o investimento tecnológico é estratégia determinante”. É daí que então o campo religioso brasileiro experimenta o fenômeno do crescimento dos movimentos pentecostais; surgem também inúmeras igrejas autônomas organizadas em torno de seus líderes baseadas nas propostas de curas, exorcismos e de prosperidade. No pentecostalismo mais recente privilegia adepto da classe média e de faixa etária jovem e a música como recurso de comunicação. “O crescimento pentecostal passou a exercer uma influência decisiva sobre o modo de ser das demais igrejas cristãs”. (CUNHA, 2008, p. 49-50). Nas últimas décadas, há uma intensa movimentação dos fiéis que entram e saem dos templos religiosos em busca de pôr fim às suas angustias. Esses consumidores estão à procura de saciar suas necessidades na busca de possíveis milagres. É nesse momento que os bens religiosos se tornam bens de consumo.

Mito e alienação

Os povos gregos utilizavam o “mito2” para explicar fatos da realidade e fenômenos da natureza. Nas palavras da Chauí (1994, p. 162) temos: “O mito conta algo que aconteceu e não é mais possível de acontecer, mas que serve tanto para compensar os humanos por alguma perda, como para garantir-lhes que esse erro foi corrigido no presente, oferecendo uma visão estabilizada da Natureza e do meio que a cerca”.

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Fábula que relata a história dos deuses, semideuses e heróis da Antiguidade pagã; Interpretação primitiva e ingênua do mundo e de sua origem; Tradição que, sob forma alegórica, deixa entrever um fato natural, histórico ou filosófico; Exposição simbólica de um fato; Coisa inacreditável; Enigma; Utopia; Pessoa ou coisa incompreensível. Dicionário on-line http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues. 4

Qualquer religião representa uma forma de alienação, uma patologia do espírito pela qual o homem projeta a sua humanidade fora de si mesmo, criando inconscientemente um ídolo ao qual se submete. A glória de Deus funda-se na diminuição do homem “não é Deus quem cria o homem, mas o homem quem cria Deus”. (NICOLA, 2005, p. 366 apud FEUERBACH). Para CAMPBELL3 os mitos foram concebidos para colocar a mente e todo sistema mental de acordo com o sistema corporal. A mente pode vaguear de mil formas estranhas e desejar coisas que o corpo não quer. O processo de transição desde a infância até morte, o mito pode auxiliar quanto à aceitação da natureza da forma como é. Se a forma de conhecer o mundo, varia de acordo com a postura do indivíduo diante do objeto do conhecimento, então, todo mito é uma forma de alienação. Na visão de Berger (1985, p. 93/113) é um paradoxo, pelo qual o homem tenta desumanizar-se do mundo sociocultural e trazer para si um universo vindouro que “humanamente” o satisfaça. Para Tobias e Lalich “não há perfil ou idade para atrair, seduzir ou recrutar uma pessoa a um determinado grupo religioso escravizador”. (apud ROMEIRO e MORATO, 2009, p. 45). Se em dado momento na vida o indivíduo está debilitado por circunstâncias adversas, então, torna-se forte candidato a ser envolvido por um grupo acolhedor. É nesse momento que a religião pode se tornar mágica em aceitação sem questionamentos. Alves (1981, p. 7) afirma: “todo mito é perigoso, porque ele induz o comportamento e inibe o pensamento”. Quando instituições religiosas utilizam literaturas atrativas ou apelativas, como no caso das Testemunhas de Jeová, torna-se evidente o agrupamento de novos adeptos. O que chama atenção neste processo de doutrinação é que, após associado, o adepto é encorajado a abandonar de vez toda e qualquer religião. O batismo é um ato de aceitação e um livramento para escapar do fim do mundo. Para ROMEIRO e MORATO (2009, p. 48/87), o fenômeno resultante da alienação nas Testemunhas de Jeová, pode ser compreendido como falta de consciência dos problemas políticos e sociais. Há na adolescência um período de preparação para a vida adulta e, tal afirmação doutrinária levarão à uma enorme lista de obrigações que causam tensões, ameaças de abandono, dor da desassociação e enorme dificuldade de reintegração social.

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Documentário: Joseph Campbell and the Power of Myth / Lançamento: 1988 (EUA) / Duração: 360 min / Elenco: Joseph Campbell e Bill Moyers 5

Quando o estudo do fiel se torna independente e, sem a devida orientação da instituição religiosa, ROMEIRO e MORATO (2009, p. 37) cita: Reuniões, maiores ainda, de distritos (englobam circuitos de uma cidade), são geralmente realizados em Estádios, que, superlotam, enchem de orgulho as Testemunhas de Jeová. Entendem que quantidade está em conformidade com a vontade de Deus e, nestas ocasiões, recebem as instruções inéditas do Corpo Governante. Qualquer estudo independente ou individual, sem interpretação da Torre de Vigia e suas publicações, é considerado atitude de rebeldia a Jeová e até apostasia (afastamento da verdade).

Jovens quando induzidos a cumprir uma série de exigências para ser aceito na comunidade e, quando falta abertura para dialogar com os preceitos institucionais ou até doutrinários, então, o adepto pode se tornar uma vítima à alienação. Barbara Axt cita as principais características do trabalho realizado pelo psiquiatra americano Robert P. Lifton, professor da Harvard e Yale, descreve4: Não é permitido ler material ou falar com pessoas que tenham ideias contrárias às do grupo. Em alguns casos, a vítima é geograficamente isolada da família e dos amigos. São criados modos uniformizados de agir e pensar, desenvolvidos para parecer espontâneos. A vítima é convencida da autoridade absoluta e do caráter especial - às vezes, sobrenatural - do líder. O mundo é divido entre "bons" (o grupo) e "maus" (todo o resto). Não existe meio-termo. É preciso se policiar para agir de acordo com o padrão de comportamento "ideal". Qualquer atitude errada, ainda que cometida em pensamento, deve ser reportada ao líder. Também se deve delatar os erros alheios. Isso acaba com o senso de privacidade e fortalece o líder. O grupo explica o mundo com regras próprias, vistas como cientificamente verdadeiras e inquestionáveis. A vítima acredita que sua doutrina é a única que oferece respostas válidas. O grupo cria termos próprios para se referir à realidade, muitas vezes incompreensíveis para as pessoas de fora. Uma linguagem muito específica ajuda a controlar os pensamentos e as ideias. O grupo passa a ser a coisa mais importante - se bobear, a única. Nenhum compromisso, plano ou sonho fora daquele ambiente é justificável. A vítima se sente presa, pois não pode imaginar uma vida

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Parte do texto foi extraído do site: http://super.abril.com.br/ciencia/lavagem-cerebral-616672.shtml. Trabalho realizado pelo psiquiatra americano Robert P. Lifton - Título “Reforma do Pensamento – Lavagem em 8 passos. 6

completa e feliz fora do grupo. Isso pode ser usado por políticos e militares para justificar execuções.

Marilena Chauí (1994, p. 275) define alienação social: Alienação social é o desconhecimento das condições histórico-sociais concretas em que vivemos, produzidas pela ação humana também sob o peso de outras condições históricas anteriores e determinadas. Há uma dupla alienação: por um lado, os homens não se reconhecem como agentes e autores da vida social com suas instituições, mas, por outro lado e ao mesmo tempo, julgam-se indivíduos plenamente livres, capazes de mudar suas vidas individuais como e quando quiserem, apesar das instituições sociais e das condições históricas. No primeiro caso, não percebem que instituem a sociedade: no segundo caso, ignoram que a sociedade instituída determina seus pensamentos e ações.

Guy Debord (2009, p. 24) define a alienação do espectador: A alienação do espectador em favor do objeto contemplado (o que resulta de sua própria atividade inconsciente) se expressa assim: quanto mais ele contempla, menos vive; quanto mais aceita reconhecer-se nas imagens dominantes da necessidade, menos compreende sua própria existência e seu próprio desejo. Em relação ao homem que age, a exterioridade do espetáculo aparece no fato de seus próprios gestos já não serem seus, mas de um outro que os representa por ele. É por isso que o espectador não se sente em casa em lugar algum, pois o espetáculo está em toda parte.

Para Debord (2009, p. 24-25), “o espetáculo na sociedade corresponde a uma fabricação concreta da alienação” e, “quanto mais sua vida se torna seu produto, mais ele se separa da vida”. Segundo Debord (2009, p. 175-176), o ser humano na “sociedade modernizada rumo ao espetacular”, seus efeitos diretos da dominação, se dá: no segredo generalizado, na mentira sem contestação e no presente perpétuo. “O segredo generalizado mantém-se por trás do espetáculo, onde [...] a mentira sem contestação consumou o desaparecimento da opinião pública e, o presente [...] quer esquecer do passado e dá impressão de já não acreditar no futuro”. Souza (2011, p. 177) comenta que: Até a Época Medieval o pensamento corrente era de que o ser humano para alcançar a felicidade e viver uma vida que agradasse a Deus deveria se ausentar do convívio social, pois, assim, estaria livre da contaminação da 7

sociedade. Para que o homem pudesse viver uma vida de pureza, ele se refugiava nos mosteiros, local destinado para se viver uma vida de contemplação e consagração, longe do convívio social. De acordo com João Calvino não é a sociedade que influencia o homem, mas o inverso.

Para Souza (2011, p. 177), com base nessa lógica, o homem não deve viver uma vida de alienação e ausência da sociedade, mas influenciá-la: O homem, por natureza, só é verdadeiramente homem na medida em que vive com outros homens. É nas relações com o outro que o homem se realiza. O homem foi criado por Deus para ser uma criatura em sociedade (SOUZA apud BIÉLER, 1970, p. 19).

Ao observar os estudos demonstrados no livro “Mochileiros da fé” (BITUN, 2011, p. 27-28), a sociedade sofreu em curto espaço de tempo diversas transformações e, assim como o corporativismo adequa as novas tendências de mercado na indústria e no comércio, também as denominações eclesiásticas se envolvem na disputa mercadológica. Neste momento, o líder religioso trabalha em busca de resultados, pois há uma nova força e forma do mercado de consumo de grande presença na mídia. Esse mercado avança no campo editorial e no meio do mercado fonográfico, estimulado pelo movimento gospel. Há um número expressivo de cantores independentes que comercializam seus CDs, que passaram a ser profissionais da música com a realização de espetáculos para promover seu trabalho com cobrança direta ou indireta de cachês elevados para apresentação dentro ou fora das igrejas. Com a demanda desse mercado os grandes magazines também descobriram os seus consumidores cristãos, que procuram fornecer para os seus clientes artigos cristãos de diversos estilos, camisetas, discos, livros, com palavras Jesus ou versículos bíblicos. E tantas outras empresas de olho no crescimento do consumismo evangélico. Para Cunha (2008, p. 46-68), “o avanço do capitalismo globalizado, a partir dos anos 90 imprimiu uma nova ordem mundial na qual o investimento tecnológico é estratégia determinante”; é daí que o campo religioso brasileiro experimenta o fenômeno do crescimento dos movimentos pentecostais, principalmente nas mídias. Há uma disputa entre os líderes em busca dos fiéis. Novos produtos são criados para atrair o grande público e cresce vertiginosamente o número de igrejas. Na mídia a propaganda gira em torno de exorcismo, cura, prosperidade, o emprego do show da fé, onde o desafio aos novos adeptos é constante. Nesse contexto, o líder religioso busca maneiras de conquistar sua clientela, usando de diversos bens de consumo como a rosas, óleos, fronhas de travesseiros, copo com água salgada, lenços, a fim 8

de trazer sensação de cura, alívio, proteção e segurança à busca da cura divina um produto religioso. Com isso o movimento pentecostal5 passou a ter uma influência decisiva sobre o modo de ser das demais igrejas cristãs. O pentecostalismo mais recente privilegia a classe média, o jovem e a música como recurso de comunicação. A secularização está em cena em muitas das igrejas neopentecostais trazendo consigo até os demônios para fazer parte do espetáculo. A respeito do “mundanismo”6 Cunha (2014)7 comenta: Niehbur classifica como "mundana" a atitude de igrejas e lideranças que, em nome de poder, prestígio e acomodação na ordem social, assimilam valores deste mundo (competição, violência, intolerância, injustiça, mentira), incompatíveis com os valores do Evangelho de Jesus Cristo (amor, a misericórdia, a paz, a reconciliação, a justiça, a verdade). Niehbur relaciona a esta reflexão sobre irresponsabilidade cristã, por exemplo, as igrejas alemãs que se renderam à ideologia nazista no período. O mundanismo, para o teólogo

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O movimento pentecostal surgiu no ambiente religioso dos Estados Unidos no século 19. Nas décadas de 1730 e 1740, a ocorrência do Primeiro Grande Despertamento, liderado por Jonathan Edwards e George Whitefield – teve maior afinidade com a tradição reformada –, trouxe revitalização às igrejas protestantes e produziu um tipo diferente de cristianismo, mais emocional, mais independente das antigas estruturas e tradições, mais desejoso de novas formas de experimentar o sagrado. Essas ênfases se intensificaram em muito com o surgimento do Segundo Grande Despertamento, sob a influência de pregadores como Charles G. Finney, Timothy Dwight, Barton Stones – não só privilegiou o tipo mais emocional de experiência religiosa, mas lhe deu um forte conteúdo sinergista, arminiano –, na promoção de uma vida espiritual mais intensa e fervorosa. A Missão da Fé Apostólica serviu como nascedouro do Movimento Pentecostal internacional de 1906 a 1931. O pastor William J. Seymour pregou uma mensagem de salvação, santidade e poder, recebeu visitantes de todo o mundo, transformou a congregação em um centro multicultural de adoração e comissionou pastores, evangelistas e missionários para levaram ao mundo a mensagem do Pentecoste (Atos 2.1-41). Portanto, o movimento pentecostal tem dois fundadores: Charles Parham e William Seymour. Parham foi o primeiro a fazer a afirmação fundamental de que o falar em línguas era a evidência visível e bíblica do batismo com o Espírito Santo. A importância de Seymour, o discípulo de Parham, reside no fato de que sob sua liderança, através do Avivamento da Rua Azusa, o pentecostalismo se tornou um fenômeno internacional e mundial a partir de 1906. Parte do texto extraído do site: http://www.mackenzie.br/6982.html, de Alderi Souza de Matos. 6 "Mundanismo" é um termo comum no mundo evangélico brasileiro. Diz respeito à atitude de pessoas que não são evangélicas e se rendem aos prazeres da vida como beber, fumar, cultivar uma sexualidade fora da moralidade religiosa, frequentar baladas/barzinhos/shows seculares. 7 Parte do texto foi extraído do site: http://midiareligiaopolitica.blogspot.com.br/2014/10/a-propositodas-eleicoes-o-mundanismo.html. Extratos do texto publicado no capítulo 5 de Latourette, Kenneth Scott (ed.). The Gospel, The World and the Church [O Evangelho, o Mundo e a Igreja]. Harper Bros, 1946. Tradução do inglês por Magali do Nascimento Cunha. 9

norte-americano, ao contrário do senso comum evangélico, é uma traição ao Deus que a igreja serve, pois substitui Deus pelo "lugar ao sol" na sociedade.

Algumas correntes religiosas se destacam como “teologia da prosperidade”, “a cura divina” e “guerra espiritual”, estreitamente relacionadas as novas mudanças sociais. Essas correntes pregam a inclusão social com promessas de prosperidade material com uma vida abençoada, condicionada a fidelidade material e espiritual a Deus; seu novo termo é “destruir o mal que impede as pessoas de alcançar as bênçãos”. O homem na sociedade moderna é virtual e perde a noção da realidade. Agora, como um personagem, perdeu sua identidade real. Na realidade, força “ser” o que na verdade não o é. A Bíblia chama esse homem de hipócrita, pois vive dominado pelas coisas deste mundo. Instituições religiosas compram emissoras de televisão e perdem o sentido real que a Bíblia sugere como regra de fé e prática. Quando no reino de Deus o evangelho não é mais essencial, isto é, quando se torna secundário a missão da igreja ou quando substituídas pelas ferramentas do marketing, “facilmente a denominação se transforma em empresa, consultório terapêutico ou agência de publicidade”. (LOPES e REZENDE, 2009, p. 109). O ser social clamou pela liberdade, e essa o levou ao individualismo; mas o individualismo é morte. Essa é a nova mensagem de liberdade cheia de individualismo e, com a justificativa de que a bênção é para os que tem fé, pois ela é inalienável e intransferível. Para Weber (1987, p. 299) a igreja que a modernidade criou é pura fantasia hollywoodiana, oca e estagnada quanto aos valores e aos princípios do reino. Assim, “quando a calculabilidade penetra no seio das associações tradicionais, decompondo as velhas relações de carácter piedoso, e já não se vive em um regime estritamente comunista, cessa a piedade simples e desaparece toda limitação do afã pelo lucro”. Para Aristóteles (1999, p. 71/89), a riqueza é algo útil, e, como tudo o que é útil, pode ser bem ou mal usado. As características do avaro – deficiência de liberalidade – são: excesso no obter riquezas, cálculos rigorosos, obter recursos de fontes erradas, sofrer privações sem utilizas seus próprios recursos, protetor demasiado de seus bens, individualista, disposto a enganar o próximo, interesseiro, egoísta, insensível; o avaro é incurável por ser inerente à natureza humana. Já o extremo do avarento é o pródigo – excesso de liberalidade – e suas características são: excesso no liberar riquezas, não sabe doar nem receber, propenso a obtém 10

recursos de fontes erradas, sem moderação, arruína a si mesmo; o avarento é curável tanto pela idade quanto pela pobreza.

Avareza

Para o cristianismo a prodigalidade é pecado. Tanto o avaro quanto o pródigo vivem sem a direção de Deus. Na parábola do filho pródigo (Lucas 15.11-32) percebe-se no jovem uma ideia superficial da vida; não há projeto nem causa nobre, mas uma forma de arruinar a si mesmo. Os bens materiais muitas vezes tomam conta da vida e dos pensamentos. O desejo pelas coisas leva a dedicar tempo e trabalho demais para comprar a prestação, ser mal pagador e murmurador que não se pode obter tudo. Certa vez alguém dentre a multidão pediu a Jesus que interferisse num caso de repartição de herança (Lucas 12.13-34). Jesus adverte contra a ganância (v.15), distingue valores materiais do espiritual (v.16-21) e prega a respeito da preocupação excessiva pelos bens materiais (v. 2233). Os ensinos de Jesus acerca da riqueza devem ser aplicados a todos os homens. Jesus afirma “Onde estiver o seu tesouro, ali estará também o seu coração” (v. 34). Comenta Schrage (1994, p.108) a respeito da riqueza: Jesus exerce uma crítica radical à riqueza, promete o senhorio de Deus aos pobres empurrados para a margem e faz valer o direito deles. [...] Pelo fato de a prosperidade só poder alienar a pessoa de Deus, ela não é mais sinal e penhor de benção divina; antes é aos pobres que é prometida a salvação.

A Bíblia adverte que “os avarentos não podem herdar o reino de Deus” (Colossenses 3.5; Efésios 5.5, Mateus 6.24); “o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males: mentira, enganos, subornos, injustiças, roubos, rixas, inimizades” (1 Timóteo 6.6-10); “e impede o homem de usar tranquilamente, com liberdade e com alegria os bens que possui” (Eclesiastes 1.3-10).

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No iluminismo8 muitos foram os esforços para a plena libertação do homem no campo das ciências históricas e humanas, destacando a abolição da escravatura e a busca pela libertação das superstições. A liberdade é uma das mais importantes garantias da plenitude, intrínseca ao ser humano criado por Deus. Então disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança. Domine ele sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os animais grandes de toda a terra e sobre todos os pequenos animais que se movem rente ao chão (Gênesis 1.26). No Antigo Testamento percebe-se a orientação divina aos homens em busca da vida harmoniosa, a busca da paz e a preocupação com o órfão, a viúva e o estrangeiro. No novo testamento, Cristo proclama “A verdade vos libertará” (João 8.32), indicando a redenção realizada por Jesus contra o pecado e a morte. O ser humano não é qualquer um, mas, filho de Deus. Tem em si a natureza de Deus, portanto, deve ser imitador de Deus como filho amado. Sede meus imitadores, como também eu de Cristo (1 Coríntios 11.1).

Conclusão

A propaganda religiosa se identifica nas estratégias das instituições para induzir o consumidor fiel adquirir produtos – discursos, serviços, ritos e práticas – e mercadorias – mídias audiovisuais, vestimentas, adesivos – através de formas de espetacularização e midiatização.

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O Iluminismo: foi uma tendência da cultura europeia que vigorou desde meados do século XVII até o fim do século XVIII. Essa nova atitude intelectual foi marcada por três ideias: o poder da razão – para descobrir a verdade sobre a humanidade e o mundo; uma atitude de ceticismo quanto às antigas instituições e tradições; a ascendência da mentalidade científica em contraste com a abordagem medieval. O desenvolvimento da ciência e da tecnologia através de pesquisas e inventos, se deu com os precursores Galileu Galilei (1565-1642) e Francis Bacon (1561-1626). No século XVII surgiram importantes correntes: a primeira no campo da metafísica conhecida como racionalismo ou idealismo – os principais representantes dessa corrente René Descartes (1596-1650), Nicolas de Malebrabche (16381715), Baruch Spinoza (1632-1677), Gottfried W. Leibniz (1646-1727); A segunda foi o empirismo britânico que deu preferência ao método indutivo de experimentação e observação que conduz a leis ou princípios gerais – seus expoentes foram Thomas Hobbes (1588-1679), John Locke (1632-1704), Isaac Newton (1642-1727) e David Hume (1711-1776). Agora ao contrário da mentalidade predominante por muitos séculos, os lemas a serem seguidos eram “creio somente no que posso entender” e “a fé segue a compreensão”. 12

Há por de trás desta espetacularização um sistema de dominação que Campos (1999, p. 392) define: Os mecanismos de dominação são necessários para a sobrevivência de qualquer tipo de organização. A dominação entre os protestantes históricos, presbiterianos, metodistas, luteranos, congregacionais e outros, se dá através de um quadro administrativo burocrático, no qual todas as manifestações de carisma são eliminadas ou, no mínimo abafadas. Entre eles prevalecem a “autoridade institucional”, cuja competência se estabelece por regras racionalmente elaboradas. Desse modo, as inconstâncias e riscos de surpresa, vindo da presença do carisma e de um sagrado “não-domesticado”, são contidos e circunscritos dentro de esferas controláveis pelas autoridades religiosas.

Tendo em vista o sistema controlável das instituições e, por conseguinte a dominação do fiel, percebe-se a ausência da verdade e uma manifestação maligna, conforme exposto pelo apóstolo Paulo: Por isso, tendo este ministério, segundo a misericórdia que nos foi feita, não desfalecemos; Antes, rejeitamos as coisas que por vergonha se ocultam, não andando com astúcia nem falsificando a palavra de Deus; e assim nos recomendamos à consciência de todo o homem, na presença de Deus, pela manifestação da verdade. Mas, se ainda o nosso evangelho está encoberto, para os que se perdem está encoberto. Nos quais o deus deste século cegou os entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus (2 Coríntios 4.1-4).

Ao observar o campo religioso brasileiro, cabe ressaltar que este artigo não esgota os trabalhos uma vez que sua contribuição estimula a compreensão dos fenômenos religiosos e seus processos midiáticos. Sendo este um trabalho introdutório, ainda há muito a se refletir e discutir sobre o processo de sedução dos fiéis e suas diversas maneiras, através de pesquisas e análises dos fiéis-consumidores. Espero que este seja uma fonte encorajadora de novas investidas neste campo que, por ser tão contemporâneo, carece de novos debates.

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