A propósito de um javali

June 14, 2017 | Autor: Ana Godoy | Categoria: Political Science, Educação Ambiental, Filosofia
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A propósito de um javali Ana Godoy1

Nossa era torna-se a era das minorias. Vimos várias vezes que estas não se definiam necessariamente pelo pequeno número, (...) mas pelo desvio que as separa desse ou daquele axioma que constitui uma maioria redundante. (Deleuze e Guattari, 1997b:152)

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Ao privilegiar uma perspectiva minoritária não é para fazer valer esta ou aquela minoria no seu esforço de “entrar e de se impor no sistema majoritário, nem mesmo de reverter o critério necessariamente tautológico da maioria” (Idem:154), mas para afirmar o processo, sempre inacabado, por meio do qual uma minoria qualquer faz valer sua potência contra a força da maioria. Porém, não se trata também de desprezar as reivindicações das minorias, mas sim de atentar para aquilo que numa reivindicação apresenta-se como “um ponto que a axiomática não pode suportar” (Idem, ibidem) precisamente porque foge à possibilidade de tradução, conversão e contabilidade em elementos de maioria. Ponto que se exprime quando as gentes protestam reivindicando o direito de formular os próprios problemas desidentificando-se e desafeiçoando-se daquilo que a maioria enquanto tal define como problema, ao determinar-se a si mesma como a condição geral de sua formulação. Ao fazê-lo a maioria se confunde com a opinião ou o argumento vencedor que determinará a verdade do problema colocado. Não somente seria esta a verdade da maioria, mas mais do que isso, seria a maioria como verdade. A reluzente maçã democrática da opinião é assim disputada, trocada e negociada sobre a toalha do banquete que recobre o chão da democracia. A maçã, aquela do conhecimento que tanta polêmica provocou no jardim adâmico, nunca foi tão importante quanto o é hoje e, ao contrário do que se supunha, o verdadeiro paraíso parece ser aquele que Foucault chamou de reino da opinião e que Deleuze, por sua vez, chamou democracia consensual. Trata-se do reino onde tudo e todos estão igual e

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Dra. em Ciências Sociais, pesquisadora do Centro de Cultura Social de São Paulo, autora do livro A menor das ecologias. São Paulo: EDUSP, 2008.

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irremediavelmente vinculados e se tornam transparentes. Onde não vigora a ambigüidade e não há ruído, onde finalmente a contagem se realiza sem resto, sem sobra, sem excesso, onde a política se confunde com a polícia e finalmente o reino da opinião pouco se distingue do mercado e do marketing. Pois se produzimos opinião, é porque, igualmente, nos produzimos enquanto opinião, e, consumimos e nos consumimos como opinião sempre as voltas com a escolha entre possíveis já dados, mas mais ainda, sempre impelidos a escolher a escolha. A opinião cansa o pensamento, nos diz Deleuze, pois ao engajá-lo em esquemas distributivos previamente estabelecidos limita-o a justificar e a legitimar este ou aquele discurso que entra em relação de conhecimento. A opinião cansa a sensibilidade ao transformá-la num depósito de clichês em que só resta a ela ressentir. A opinião nada cria, pois ela é a imagem do que é e de onde se extrai a imagem do que deverá ser. Cabe a ela tão somente garantir e conservar uma certa distribuição do sensível. Assim, quanto mais cada um é incitado a ter e emitir a própria opinião, mais internalizada se torna a maioria como verdade, e mais impotentes se tornam o pensamento e a sensibilidade. Deste modo, ainda que por uma via enviesada, diría que a potência do pensamento (pensar) e a potencia da sensibilidade (sentir) apresentam-se inseparáveis de uma potência minoritária que se agita incessantemente tanto numa maioria quanto nas minorias que em relação a ele se definem. A maioria, nesse sentido, diz respeito à “determinação de um estado ou de um padrão que recai e recobre quantidades maiores e quantidades menores” (Deleuze; Guattari, 1997a:76) se exercendo sobre tudo e sobre todos sempre supondo como já dado o que precisa ser criado.

[2] Gostaria, agora, de retomar a afirmação de Deleuze e Guattari, citada no início deste breve artigo, sobre nossa era ter se tornado a era das minorias. Desta vez, no entanto, para colocá-la em ressonância com Foucault quando, reportando-se

ao

horizonte de análise das sociedades atuais, afirma: Tem-se, ao contrário, no horizonte, a imagem ou a idéia ou o tema-programa de uma sociedade na qual existiria a otimização dos sistemas de diferença, na qual seria deixado campo livre para os processos oscilatórios, na qual existiria uma tolerância acordada aos indivíduos e às práticas minoritárias (...). (Foucault, 2004:265).

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O tipo de sociedade que emergiu dessa mutação, Deleuze (2004) chamou de sociedade de controle ou de sociedade da comunicação na qual se investe nas modulações flexíveis. Intensificando-se a produção, pela fabrica social, de subjetividades aptas a responder criativamente as alterações do meio e à constante corrupção institucional. Haveria então uma mudança na lógica que preside este novo ‘programa’, visto que, o que importa já não é tanto “uma ação não sobre os jogadores do jogo, mas sobre as regras do jogo”, supondo-se, para tanto, uma modificação no tipo de intervenção que já não seria aquela “do tipo do assujeitamento interno dos indivíduos, mas uma intervenção de tipo ambiental”. (Foucault, 2004b:265). Esta lógica, antes restrita ao interior das instituições (das práticas), passa a se estender e disseminar por todo o campo social (Hardt, 2000:368369), incidindo sobre as “qualidades intensivas por meio das quais se produz o mundo de percepção e o mundo de ação; intervenção que supõe necessariamente a modificação incessante do meio2 ao mesmo tempo em que implica a modulação das tendências e disposições através das quais a regulação se efetiva e a partir das quais se produz uma norma de conduta social”. (Godoy; Avelino, 2009: 341) Nesta nova configuração os regimes pedagógicos tendem a ganhar em força e eficácia ao operarem intensivamente aquém e além dos currículos escolares. Pois se trata, agora, de rastrear padrões de comportamento (Costa, 2004, p. 163); regular a informação, o conhecimento e a comunicação – os instrumentos de acionamento e produção da opinião -, extraindo um máximo de criatividade a fim de modular “a maneira como o mundo se apresenta imediatamente a nós no curso de nossa existência”. Assim, a diferença, reduzida a expressão de uma minoria, não é aquilo que precisa ser incluído, mas é o critério a partir do qual nada é excluído como se o modelo ou o padrão que perfaz a maioria comportasse de saída, todos os desvios possíveis. Por conseguinte, a crescente inovação no âmbito das tecnologias informáticocomunicacionais eleva o agudo comentário de Foucault a uma potência jamais imaginada: O de uma sociedade transparente, ao mesmo tempo visível e legível em cada uma de suas partes, (...) que cada um do lugar que ocupa, possa ver o conjunto da sociedade; que os corações se comuniquem uns com os outros, que os olhares não encontrem

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O meio deve ser entendido não somente como meio natural, mas como meio cultural, profissional, político e social.

4 mais obstáculos, que a opinião reine, a de cada um sobre cada um. (Foucault, 1981: 215).

O reinado da opinião, todavia, se faz menos pela conexão dos corações do que pela comunicação entre cérebros, pela circulação de exemplos, de amostras de comportamento que mobilizam, capturam e fixam os fluxos de criação individual e coletiva. O modelo comunicacional, por meio do qual o controle se individua, articula assim, polícia e mercado; fundindo o cidadão no consumidor, produzindo a figura do Comunicador e constituindo uma subjetividade capitalística, tal qual a denominou Guattari (1987), que consome e produz identidades em redundância com uma maioria em nome da qual a opinião se faz falar. O Comunicador bem poderia ser dito como figura atual do Colonizador e do Inquisidor, espécie de pele que ainda nos serve quando se trata de dizer quem é o que, e o que é o que, e como os que são e os que não são serão igualmente distribuídos até porque no mundo, todo mundo é qualquer coisa, sem exceção3.

Trata-se, sim, de uma era das minorias, uma era em que todas as minorias já estão dadas e, portanto, incluídas como elemento de cálculo e de contagem onde, quer se fazer crer, nada resta4.

[3] Que importância, alguns perguntariam, tem tudo isso para a educação ambiental? Diria, então, que a profusão de imagens e palavras que delimitam o campo opinativo, no qual se realiza a performatividade democrática, é aquela que, pedagogicamente, nos conduz e convence a adotar um certo tipo de comportamento e pensamento e a revelar o desastre que seria não fazê-lo. Comportamento e pensamento considerados adequados para solucionar os problemas formulados por um terceiro que Viveiros de Castro (2006) tão agudamente apontou “como o Estado por excelência”, ou para eliminar suas causas; 3

Aproveito-me aqui de um percurso traçado por Eduardo Viveiros de Castro (2006). Como aponta Jacques Rancière ao problematizar a articulação entre mídia e conhecimento científico o que se tem não é a efetividade da contingência igualitária, mas sua perda por meio de um jogo de equivalências que transforma tudo em todos, desta forma o povo é a somatória de todas as tendências expressas pela opinião, ele “é idêntico à soma de suas partes. A soma de suas opiniões é igual à soma das partes que o constituem. (...) Nada por conseguinte pode ocorrer sob o nome de povo a não a ser a apuração das opiniões e dos interesses de suas partes enumeráveis com exatidão”. Cf. O Desentendimento. Política e filosofia, p. 107-108. O que se depreende daí, do ponto de vista dos efeitos conceituais no âmbito da produção acadêmico/escolar é que a educação é sempre conservadora quando insiste, deste ou daquele modo, em que a democracia é o bom remédio que faria da opinião algo mais do que o “cada um seu lugar” ocupando-se dos próprios negócios em nome da virtude da participação democrática e dos ideais do liberalismo visto que, cuidar dos próprios negócios é cuidar dos negócios de todos, é garantir que cada um ocupe precisamente o lugar que lhe cabe e que é igual à opinião que o produz e certifica. 4

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soluções que passam necessariamente pela produção do inimigo qualquer cujo rosto se dá a ver na prevenção de riscos de adoecer, de morrer, de engravidar, de se viciar, de engordar, ser reprovado, não entrar na faculdade, não ter emprego, sucesso, namorada ou namorado, de não ter turma, de ter a turma errada, de querer o que ninguém quer, de ser reprovado em alguma etapa da vida e finalmente de que o mundo acabe. Mas então já são nossos mundos próprios que chegaram ao colapso. Emerge assim a dimensão da imagem como a marca de um grupo constituído “que determina ele mesmo o modelo perceptivo e afetivo (...) que cada um deve adquirir” (Deleuze; Guattari, 2000: 190). Ali onde o pensamento e a sensibilidade se vêem embotados por esse comunicativismo em torno das identidades, tem-se a ilusão de estar mais vivo e potente. Ilusão que se confunde com a “impressão de ser visado, procurado, querido, bajulado, noticiado, engrandecido, justiçado, cuidado etc. (...) aliciado por linhas que me tecem como meu próprio inimigo ou aliado” (Orlandi, 2002:25), perfazendo o gosto dominante e paranóico em que a consciência não para de tomar a si mesma como referente, e o mundo, as coisas no mundo, não param de segui-la para justificar suas intenções (Lapoujade, 2009). Assim, cada tema, assunto, tópico faz da opinião a grosseira coincidência entre conhecimento e informação, cabendo a ela (opinião) revelar o modo pelo qual cada um se produz e se consuma enquanto articulação, igualmente grosseira, entre conhecimento e informação estando aí implicada certa compreensão do que seja o conhecimento e o conhecer. Desta maneira cada um, ao emitir opinião se constitui, a um só tempo, na imagem do que há a conhecer e na imagem de quem conhece; no juízo sobre si e no juízo sobre o outro.

[4] O que devo fazer? Como devo agir nessa situação? Como devo me comportar diante disto ou daquilo? Tais perguntas e outras parecidas, que se nos colocam quotidianamente, supõe um conhecimento pré-existente que, bastando ser invocado, aplica-se sobre a experiência. Constitui uma sorte de linha geral que recobre as condutas articulando a percepção, o pensamento e a sensibilidade num conjunto de hábitos a que chamamos verdade – a nossa em particular, mas aplicável ao mundo em geral. A participação e a comunicação, alavancadas pela opinião, não exigem outra coisa que não o exercício permanente do conjunto de hábitos que somos levando-nos a percorrer diariamente o universo do já sabido, já visto e sentido, do já pensado; o universo do familiar. Universo do qual nos cabe extrair, quotidianamente, a inovação que irá ampliá-

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lo sem, contudo, perturbá-lo; em que a criatividade é a boa palavra para indicar o caminho diferente pelo qual se chega à mesma coisa. Razão pela qual, ao final de um dia, encontramo-nos cansados, pois tudo nos diz respeito e sobre tudo devemos ter algo a dizer dando provas de nossa existência como parcela a ser contada. Mas, de súbito, nesse mundo tão familiar, emerge alguma coisa não calculada, não prevista. Alguma coisa frente a qual não se sabe nem o que fazer, nem o que pensar. Alguma coisa que escapa à generalidade, muito embora nos “acerte” como se um pedaço do céu nos caísse sobre a cabeça nos desorganizando e ao mundo que chamávamos nosso. Um encontro para o qual nada nos havia preparado e frente ao qual não podemos mais reagir. Aqui, diferente do parágrafo anterior, o conhecimento não se confunde com o possível já realizado, mas se associa a uma idéia de impossível, de improvável, se associa precisamente àquilo que só pode ser criado. O mundo familiar das questões cujas respostas já estão dadas, dos problemas objetivados pelo Estado cujas soluções equivalem à soma das opiniões e que a experiência somente as certifica comportaria, então, uma espécie de franja cujos fios soltos lhe escapam e que cabe a nós decidir puxá-los, segui-los inventando os modos de fazê-lo e o meio que percorrem.

[5] Seguir, estes fios, estas linhas se torna mais preciso se colocado como seguir as relações que uma coisa, qualquer coisa, qualquer corpo envolve5. É tornar-se disponível para o mundo que qualquer coisa exprime, e, que se dirige em nós àquela extremidade que chamamos ignorância, ali onde não se sabe o que dizer e fazer. Desta perspectiva, conhecer não diz respeito ao que o nosso tempo, o tempo presente reconhece como útil e necessário. Pouco diz respeito a engajar-se num projeto a ser realizado na medida daquilo que o presente comporta, ao contrário o conhecimento diz respeito a um processo sempre incerto e inacabado que consiste em seguir as linhas, “as relações que fazem de qualquer coisa um material, um ponto de cruzamento mutante e instável”. (Ferraz, 2005:89) Todavia não é um eu que segue, mas a própria sensibilidade quando liberada dos constrangimentos que o reconhecimento e a opinião lhe impõem. E o que há de 5

A este respeito cf. David Lapoujade em Do campo transcendental ao nomadismo operário – William James, p. 267-278.

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inquietante e perigoso, de vital no conhecimento é precisamente seu caráter experimental, processual e singularizante por meio do qual não paramos de criar a nós mesmos e ao mundos que nos habitam trazendo-os existência como mundos que habitamos contra a crença moral, política e social produzida a medida do nosso tempo.

[6] Uma perspectiva minoritária não concerne aquilo que é, mas em consideração e contra o que é ativa e alimenta os processos que o transbordam multiplicando nosso mundo, povoando-o de todos os mundos que cada coisa envolve e exprime, e que não existe fora de sua expressão. Caberia então a uma perspectiva minoritária problematizar tudo que se nos oferece a sensibilidade e ao pensamento como já dado, invocando seu sentido e seu valor, o que nele é relevante, o que interessa para a vida, isto é o que em cada coisa aumenta nossa potência de agir liberando o pensamento e a sensibilidade dos lugares que a opinião perfaz e da referência identitária sem a qual ela não se efetua. Numa era de minorias uma perspectiva minoritária não é aquela que se reporta a este e aquele grupo, mas a que se coloca desde os processos que os atravessam e cuja potência coincide com aquela da vida: desviar, se insurgir, criar e desse modo fugir a tudo que aprisiona (Godoy, 2008). Uma perspectiva minoritária não é aquilo que se tem, mas aquilo que se experimenta no encontro com as coisas, com as forças no mundo. Ela não é o que já sabemos e somos, mas sim a expressão daquilo que no presente são as forças de futuro que nos arrancam de nós mesmos e fazem calar em nós a balburdia da opinião. Havia dito, em outra ocasião, que a educação tomada pelas forças que constituem o ambiente, experimentando as variações do meio poderia, enfim, ser afirmada como movimento insubmisso e desestabilizador. Como ato de criação. Haveria, assim, talvez, uma certa extemporaneidade na educação, pois ela não estaria ao lado daquele que determina o que há para conhecer, o que para pensar e sentir, mas ao lado daquele para quem conhecer é percorrer as linhas que traçam um meio. Nesta perspectiva a educação – não mais confundida com a escolarização -, assim como a política – não mais confundida com a polícia -, seria, então, da ordem do raro e do problemático, pois afirmaria as relações, os encontros e as circunstâncias de luta das quais nenhum sujeito, nenhum indivíduo pode ser proprietário, rachando os clichês, arrancando-nos do habitual, do já dado num processo de “desidentificação e

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desclassificação” (Rancière, 2003: 119) e, deste modo, enfrentando a opinião e o regime de equivalência que ela suporta. [7] Há uma fala de Dersu Uzala no romance de Vladimir Arsenyev, que deu origem ao filme de mesmo nome de Akira Kurosawa, que pouco antes de iniciar este texto, tive a oportunidade de reler alguns trechos. Foi a partir dessa fala, transcrita abaixo, que a minha se configurou. Dela se poderiam extrair, com certeza, os mais redundantes clichês, e ao mesmo tempo nela se poderia encontrar a mais inusitada perspectiva de educação. Uma educação que já não seria mais o exercício recorrente do reconhecimento do lugar que cada um ocupa num mundo dado, mas a prática incessante da criação dos meios pelos quais se afirma a existência daquilo que não coincide com as prerrogativas do nome e nem do lugar. Uma educação para a qual aquilo que se diz, não diz nada sobre quem diz, mas diz tudo sobre o modo de existência de quem diz6.

- Vejo gente Que classe de gente? - Um javali7. [P. S. Todavia se o leitor, finda a leitura do breve trecho acima, se ver acossado por palavras como ‘igualdade’, ‘direitos’, ‘diversidade’, ‘identidade’, ‘cultura’ ou simplesmente reconhecer aí uma outra compreensão da natureza (sempre a mesma, a nossa), mais uma vez estaremos às voltas com uma educação que, ocupada em esclarecer sobre as questões sociais, não para de fazer dizer quem é o quê segundo categorias pretensamente auto-evidentes. Categorias que perfazem o mundo único que garante a equivalência entre aqueles que dizem que os javalis são gente e aqueles que, porventura, dizem que não são: o único mundo possível da nossa humanidade comum. Ocupados demais em fazer com que tudo esteja engajado com o todo, deixou-se escapar – para infelicidade dos javalis, das gentes - aquilo que interessa para a vida, na perspectiva da vida... Perspectiva sempre minoritária.]. 6

“Há muito que pensadores como Espinoza e Nietzsche mostraram que os modos de existência deviam ser pesados segundo critérios imanentes, segundo aquilo que detêm em “possibilidades”, em liberdade, em criatividade, sem nenhum apelo a valores transcendentais” e me atrevo a dizer sem apelo a categorias pré-existentes. Cf. Gilles Deleuze em “O que é um dispositivo”, s/p. 7 No filme de Kurosawa esta passagem corresponde ao seguinte diálogo: Smells! Men here!- What men? Boars!

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Bibliografia: COSTA, R. da. (2004). “Sociedade de controle”. São Paulo em Perspectiva, 18(1), São Paulo. DELEUZE, G.; GUATTARI, F. O que é a filosofia? (Trad.: Bento Prado Jr., Alberto Alonso Muñoz). São Paulo: Editora 34, 2000. ____. Mil Platôs. Vol. 4 (Trad.: Suely Rolnik). São Paulo: Editora 34, 1997a. ____. Mil Platôs. Vol. 5 (Trad.: Peter Pál Pelbart e Janice Caiafa). São Paulo: Editora 34, 1997b. ____. “O que é um dispositivo”. (Extraído de Gilles Deleuze. O mistério de Ariana. Lisboa: Ed. Veja/Passagens , 1996. Disponível em: http://www.prppg.ufes.br/ppgpsi/files/textos/Deleuze%20%20O%20que%20%C3%A9%20um %20dispositivo.pdf FERRAZ, S. O Livro das sonoridades [notas dispersas sobre composição]. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2005. FOUCAULT, M. “Sobre a história da sexualidade”. In: ____. Microfísica do poder. (Trad.: Roberto Machado). Rio de Janeiro: Graal, 1981. ____. Naissance de la biopolitique. Cours au Collège de France, 1978-1979. Paris: Gallimard/Seuil, 2004. GODOY, A. A menor das ecologias. São Paulo: EDUSP, 2008. GUATTARI, F. A revolução molecular. Pulsações políticas do desejo. São Paulo: Brasiliense, 1987. HARDT, M. “A sociedade mundial de controle”. In: ALLIEZ, É. (Org.). Gilles Deleuze: uma vida filosófica. (Tradução Ana L. de Oliveira). São Paulo: Ed. 34, 2000. LAPOUJADE, D. “Do campo transcendental ao nomadismo operário – William James”. In: ALLIEZ, É. (org.). Gilles Deleuze: uma vida filosófica. (Tradução Ana L. de Oliveira). São Paulo: Ed. 34, 2000. _____. “Simpatia e conhecimento”. Palestra proferida no Instituto Tomie Othake. São

Paulo, 18/09/2009. ORLANDI, L.B.L. “Marginando a leitura deleuzeana do trágico em Nietzsche”, in: Revista Olhar, 4(7), jul-Dez, 2003. RANCIÈRE, J. Aux bords du politique. Paris: Gallimard, “Folio”, 2003. ____. O desentendimento. Política e filosofia. (Trad.: Ângela Leite Lopes). São Paulo: Editora 34, 1996.

______________________________________________________________ Para citar este texto utilize a seguinte referência: A propósito de um javali. In: HENNING, P. C.; RIBEIRO, P. R. C.; SCMIDT, E. B. (Orgs). Perspectivas de investigação no campo da educação ambiental & educação em ciências. Rio Grande do Sul: FURG, 2011, p. 22-30.

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