A proximidade das distâncias

July 18, 2017 | Autor: Pedro Vaz Serra | Categoria: Sociology
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A proximidade das distâncias (publicado no Diário de Coimbra, a 24 de Dezembro e 2010).

Esta altura do ano é propícia à elaboração de balanços. Olhamos para trás, constatamos o que fizemos, o que gostaríamos de ter feito. Olhamos para a frente, perspectivamos o futuro. Os nossos projectos. O que gostaríamos de executar. Mas também é uma época em que olhamos, de uma forma ainda mais especial, para todos aqueles que nos estão mais próximos ou mais distantes. Em boa verdade, ao longo do ano que agora termina, todos nós, de alguma forma, partilhámos experiências. Cruzámos conhecimentos. Potenciámos competências. Às vezes, num ambiente mais formal. Outras vezes, de uma forma mais descontraída. Hoje, o conceito de globalização e a velocidade da informação impõem o ritmo. E procuramos ajustar-nos. Durante este ano, ouvimos testemunhos. Emitimos a nossa opinião. Fomos saudavelmente confrontados com o contraditório. Houve, certamente, espaço para a afirmação. E para a questão. Participámos em debates. Tivemos, muitas vezes, de olhar para o passado. Mas, muitas outras, tivemos uma visão sobre o futuro. Sentimos que precisamos de estímulos renovados. Precisamos de caminhos redefinidos. Precisamos de instrumentos reconstruídos. Precisamos de ajustar os nossos conceitos às novas realidades. Há novos modelos. Por vezes, discutíveis. Há novos paradigmas. Por vezes, quetionáveis. Há novos equilíbrios. Por vezes, instáveis. Há muitas dúvidas. E muitas certezas. Há muitas perguntas. E muitas respostas. E temos consciência que é a diversidade de pontos de vista que enriquece o mundo e obrigam-no a evoluir. É bem verdade. É na construção positiva, assente na diversidade que complementa, no contraditório que não exclui, na diferença que não anula, que somos capazes de, sempre, fazer mais, fazer melhor e fazer diferente. E temos aquela sensação de que existe uma mistura entre a alegria que temos porque existimos e a forma como, muitas vezes, interagimos com o meio envolvente. No entanto, está na hora de relembrar que, para cada direito há um dever; que para cada liberdade há um cidadão que tem de crescer e formar-se; que para cada garantia há uma sociedade que tem de ser (re)construída. E a essa re(construção) está inerente a necessidade de ligarmos os saberes. O imperativo de transferirmos os saberes. Sabemos e sentimos, a cada dia que passa, os efeitos extraordinários da interacção entre competência, conhecimento e desenvolvimento tecnológico. Hoje, a existência de compartimentos estanques, para além de indesejável, é praticamente impossível. Trabalhamos em rede. Concebemos conhecimento. Produzimos soluções. A qualidade dos canais de comunicação, na transferência de saberes, mais do que a sua simples existência e abordagem quantitativa, passa a ser factor de competitividade e de afirmação de um país como o nosso, no mercado global. Precisamos deste saber produtivo, que antecipa tendências e que procura resultados. Precisamos de desígnios. Precisamos de ser depositários de uma ambição saudável. Precisamos de potenciar novos e estimulantes desafios, onde a atitude face ao risco e os instrumentos face à realidade, constituem os eixos de um percurso que não é direito, mas é transitável. Um percurso feito de razões e de emoções. Um percurso onde, por vezes, temos de dar um passo atrás para, logo de seguida, dar dois em frente. A vida não é uma soma simples. É um balanço. Um balanço de experiências e convivências, com critérios tangíveis e intangíveis, com variáveis endógenas e exógenas, controláveis e incontroláveis. A vida é uma sequência (preferencial e desejavelente feliz) de factos e circunstâncias, construídos por nós e para nós, enquanto cidadãos que partilham um espaço cada vez mais curto, pela proximidade das distâncias.

Torna-se, desta forma, incontornável que o total seja superior à soma das partes. Querendo, todos nós podemos fazer a diferença. Precisamos de construir o ambiente ideal, as condições indicadas, para que as boas ideias surjam. E, depois, temos de saber transportar as boas ideias que surjem para os bons mercados que sabemos que existem. E temos de efectuar este processo, utilizando os instrumentos adequados. Temos de inovar para criar. Temos de gerir para alcançar. Os caminhos são múltiplos. Os desafios são imensos. Óptimo! Sabemos, agora, que à distância de um “clique” está uma parte do mundo ao nosso alcance. Sentimos alguma vulnerabilidade. Mas somos portadores da confiança que potencia o crescimento e o desenvolvimento, dos sistemas e dos processos. Precisamos de associar a criatividade à inovação. Não é uma moda, ou capricho. É algo de incontornável. Por vezes, no próprio mundo das empresas, que é também o mundo das pessoas, a capacidade de iniciativa, a capacidade de criar e de inovar, são limitadas à nascença. Daí a importância de estabelecermos estímulos ao aparecimento de novas ideias, de criarmos métodos para a sua apresentação, de construirmos processos – simples e eficazes – para a sua divulgação e aplicação. Hoje, não gerimos pessoas. Gerimos talentos. Hoje, não temos propriamente carreiras. Temos percursos profissionais. E temos equilíbrios, por vezes, instáveis. E temos bases, por vezes pouco sólidas. Mas são estes alguns dos ingredientes que, a cada dia, obrigam-nos a fazer mais e melhor, fazendo diferente. E olhar em frente não é só potenciar a inovação ciêntifico-tecnológica. Precisamos de inovação política, de inovação social e, acima de tudo, de inovação nas mentalidades e atitudes. Convido os meus estimados leitores a efectuarem um balanço do ano que agora termina e a perspectivar o futuro próximo. Vamos procurar viver o Natal com um espírito de proximidade, de entreajuda e de dedicação – à família, ao trabalho, à sociedade. Todos nós, todos sem excepção, constituímos um fio-condutor, conduzido entre pessoas que, no seu conjunto, formam a sociedade e a realidade. A nossa sociedade e a nossa realidade. É bom que aproveitemos estes dias para dar coerência aos significados e consistência às acções, tornando mais próximas as distâncias. Desejo, a todos, um Feliz Natal e um Ano de 2011 com mais esperança e confiança no futuro!

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