A psicanálise como estratégia de cura.

July 23, 2017 | Autor: I. Costa | Categoria: Psychoanalysis
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A PSICANÁLISE COMO ESTRATÉGIA DE CURA







Iraci del Nero da Costa
São Paulo, fevereiro de 2001








I. A SUPERAÇÃO COMO CURA

O inconsciente coloca-se aquém da consciência, portanto aquém do
conhecimento. Será um algo que existe efetivamente? É possível. Será
apenas uma quimera que denota (representa) o que não sei de mim? É
possível. De toda sorte seu reconhecimento e sua "racionalização" são
uma construção da mente, uma construção no plano do real. Nesse plano
definimos como objeto – portanto passível de ser conhecido e
"manipulado" – aquele algo posto aquém do conhecimento.

Talvez o inconsciente seja, apenas, o conjunto de minhas
insuficiências, ou de um algo indefinível que tomo como sendo minhas
insuficiências. Ao tornar este algo objetivo, ao transportar para o
plano real um algo que se coloca aquém do conhecimento, torno este algo
racionalizável e, portanto, passível de ser "manipulado" (dirigido,
domado) por mim.

Não importa qual seja a racionalização, não importa o caráter do
"complexo" (da insuficiência efetiva ou presumida), o que importa (o
que importa para minha "cura") é a possibilidade de superar a
insuficiência. E talvez o que importe efetivamente seja a mera
efetivação da superação. Ao superar (considerar que superei) um algo,
reconheço-me como capaz; e poder reconhecer-me como capaz representa
superar-me. Aí está a cura: sentir que sou capaz de superar-me; por
saber-me capaz de superar-me, eu efetivamente me supero, gerando um
novo quadro vivencial e redefinindo-me perante mim e ante o mundo (os
outros). Ao "achar" que me superei, eu efetivamente me supero, criando,
assim, uma nova realidade. Da mesma sorte, ao me sentir incapaz de
superação, torno-me incapaz, gerando uma situação na qual estou (por
minha fraqueza) condenado (condeno-me) a grande sofrimento.





II. A ESTRATÉGIA DE CURA

A psicanálise parece-me algo muito particular no que tange à sua
ação como processo curativo. Isto porque, efetivamente, oferece a
possibilidade de enfrentamento e superação de um conjunto (que não
conheço, mas cuja existência admito) de limitações psíquicas. E isto
com base no que se poderia chamar processo de autorreconhecimento
assistido, o qual, por seu turno, dá-se exclusivamente no plano do
pensamento com base na interação paciente/terapeuta. De certa forma o
"conhecimento" de um "algo" leva o paciente à superação de sua
limitação. E este processo de superação dá-se mediante a elaboração de
um constructo mais ou menos sofisticado que representa a "criação"
(geração) da "doença" (que expressa no plano do consciente a limitação
em questão) dando-se, correlatamente, o desenvolvimento (criação,
geração) de um processo curativo que leva à superação daquela limitação
(admitida, sempre, como efetiva, pois não importa se ela é, como se
diria em termos do senso comum, "verdadeira ou não" uma vez que,
sempre, será "verdadeira"). Assim, ao mesmo tempo em que se dá a
"construção" da "doença", desenvolve-se, justamente porque a doença
assim gerada é reconhecida e conhecida conscientemente, o processo
curativo.

A coisa se passa como se houvesse uma "disfunção limitativa"
inalcançável (inconsciente) que é elaborada como "doença" reconhecível
(detectável) pela consciência (como se houvesse uma galeria de
"capuzes" a serem adotados pelo paciente), tornando-se, portanto,
"manipulável" (trabalhável, domesticável). À medida, pois, que se dá a
"construção" deste algo ("doença") manipulável, ocorre o processo
curativo (processo de domesticação) do qual resulta a "cura"
(superação) da doença criada e, por estar esta última associada àquela
"disfunção limitativa", a superação de tal disfunção. A cura não é,
pois, imediata, o desconhecido (disfunção limitativa) vê-se mediado
pela consciência que elabora (constrói) a "doença" e, correlatamente,
constrói (elabora, desenvolve) o processo de cura de tal doença
(manipulável por ser conscientemente reconhecida). Ao "curar-se" de tal
"doença criada", chega o paciente à superação da limitação que fugia
(escapava) à consciência por colocar-se aquém dela.



"PROCESSO CURATIVO"







Trata-se, pois, de uma estratégia de cura; de um sofisticado e
efetivo procedimento terapêutico de autoajuda assistida, pois, durante
todo o processo de "cura", exige-se a presença do terapeuta que,
juntamente com o paciente, orientará o processo de construção/superação
acima descrito.
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