A (re)construção do lugar a partir da qualificação de espaços públicos com corredores culturais.

June 1, 2017 | Autor: R. Fabre Feltrin | Categoria: Urban History, Architecture and Public Spaces, Places of memory (les lieux de mémoire)
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A (re)construção do lugar a partir da qualificação de espaços públicos com corredores culturais Aline Eyng Savi (1) Rodrigo Fabre Feltrin (2) (1) Departamento de Arquitetura e Urbanismo, UNESC, Brasil. E-mail: [email protected] (2) Pós-graduando do Departamento de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão, UNESC, Brasil. E-mail: [email protected] Resumo: O presente artigo apresenta o processo de transformação dos centros urbanos com condicionantes pré-existentes, apresentando os Corredores Culturais como alternativa para promover a conexão de equipamentos públicos ligados à cultura e/ou espaços públicos e arquiteturas de interesse histórico patrimonial fomentando a criação de lugares de memória. Destaca o Corredor Cultural de São Paulo como um referencial de projeto. A pesquisa apresentada serve de embasamento teórico para a proposta de implantação de um sistema de corredores culturais, na cidade de Criciúma/SC, que reforçam a conexão entre passado e presente através da identificação das edificações patrimoniais existentes e classificação das principais vias de conexão. O resultado é a proposição de diretrizes para a interligação dos equipamentos públicos através do corredor cultural. Palavras-chave: Centro Urbano; Memória; Corredor Cultural. Abstract: This article presents the process of transformation of urban centers with pre-existing conditions, presenting the Cultural Corridors as an alternative to promote the connection of public facilities related to culture and/or public spaces and architectures of historical patrimonial interest, fomenting the creation of places of memory. It highlights the Cultural Corridor of São Paulo as a design reference. The research presented serves as a theoretical basis for the establishment of a system of cultural corridors in the city of Criciúma/SC, which reinforces the connection between past and present by identifying the existing heritage buildings and classification of the main connecting roads. The result is the proposal of guidelines for the interconnection of public facilities across the cultural corridor. Key-words: Urban Center, Memory, Cultural Corridor. 1. INTRODUÇÃO O excesso de informações do mundo contemporâneo resulta num perfil de cidade em progresso repleta de largas avenidas, altos edifícios, anúncios publicitários espalhados e a ideia de que tudo que é antigo deve ser substituído. É comum perceber contrariedade dos usuários em relação às edificações históricas e aos espaços públicos como elementos importantes para a vivência da cidade. A contemporaneidade é marcada pela diversidade de classes sociais, de atividades cotidianas, e também de novas tecnologias. Isso traz benefícios para a cidade, mas também, algumas consequências principalmente na preservação do patrimônio cultural, arquitetônico e na expansão da cidade. A expansão urbana não é só o resultado da aplicabilidade de um conjunto de aspectos sociais, físicos, econômicos e legislativos em um determinado local. Além dos edifícios e das ruas, fazem a composição da cidade os vazios originados pelas edificações também geram espaços que podem ter mais identidade do que qualquer edificação. “A articulação entre espaços livres e edificados configura e qualifica a forma urbana, organizando seus diversos tecidos” (HIJIOKA, 2007, p.119), como é o caso dos espaços públicos, parques urbanos e corredores culturais, que trabalham o espaço vazio de modo que ele seja apropriado pela população, tenha relação com o seu entorno e seja agente. Para 1|7

Kohlsdorf (1996, p.22), “[...] a configuração dos espaços possui desempenhos diferentes relativos a expectativas sociais de diversas naturezas”. O ponto de partida dessa expansão são os centros urbanos. Os centros são procurados por possuírem a concentração dos principais usos de uma cidade e uma variedade de opções que num bairro isso não é tão evidente. É no centro que se identifica o lugar mais dinâmico da vida urbana, e também é onde geralmente encontram-se os espaços públicos de maior relevância, os edifícios mais antigos, as referências de identidade, instituições públicas, religiosas e culturais, entre outros equipamentos urbanos com potencial de preservação (VARGAS; CASTILHO, 2009). Porém, a preservação não deve ser somente de edifícios monumentais, mas, de edificações de diversas proporções e sem distinção de nível social, que fazem parte da memória coletiva. E que essa concepção não seja um instrumento que dificulte a evolução da cidade (MARCUSE, 1998). Os projetos de intervenção em centros urbanos geralmente são reforçados com a proposta de um corredor cultural que serve de elemento integrador dos equipamentos principais da cidade que, na grande maioria, localiza-se no mesmo ponto desde a sua fundação. A ideia é: [...] se espalhar por novos eixos cuja latência e interesse já são sentidos, mas ainda encontram-se insuficientemente bem programados devido às descontinuidades desses circuitos locais de tímida política pública ou interesse privado [...] (FUREGATTI, 2011, p.03).

Toda intervenção em um centro urbano deve ser avaliada de forma individual, pois as manifestações sociais são de extrema importância em regiões edificadas (LYNCH, 1997). Cada lugar “exige a convergência de atitudes e de ações de uma grande variedade de sujeitos sociais, que produzem, usam ou contemplam o espaço urbano” (MORA, 2002). Para Jacobs (2000), o objetivo das intervenções deveria ser costurar novamente esse retalho da cidade na trama urbana e, ao mesmo tempo, fortalecer toda a trama do entorno. Uma boa intervenção é aquela que consegue trabalhar todos esses critérios a fim de propor uma melhor apropriação do espaço público, da memória e da identidade. Dessa maneira, o artigo apresenta a discussão de referencial teórico realizada para elaboração do projeto de corredor cultural na cidade de Criciúma, sul de Santa Catarina. Os temas abordados enfatizam o potencial de reconstruir a memória de lugar nos centros históricos a partir da qualificação dos espaços públicos através de corredores culturais. 2. LUGARES DE MEMÓRIA Primeiramente, para entender a definição de lugar é necessário avaliar alguns conceitos. Aqui e ali são lugares diferentes, que ocasionalmente podem estar em um mesmo espaço. Segundo Tuan (1983), o conceito de lugar nada mais é do que a fusão entre o valor e as necessidades biológicas de um determinado espaço, que o caracteriza como lugar. As relações existentes estão condicionadas à percepção ambiental e ao modo como o homem reage aos estímulos. A partir disso, o indivíduo expressa ou não laços afetivos com os locais, determinando o que é espaço e lugar. O significado de espaço, frequentemente, se funde ao lugar. No entanto, todo local, construído ou não, ordenado e dominado por uma estrutura lógica é um espaço, mas quando há atração, identificação, personificação, ele se torna um lugar (RELPH, 1980). Ainda, lugares “[...] são a fusão da ordem humana e natural e o significado central é dado pelas nossas experiências com o mundo” (RELPH, 1980, p. 141, tradução nossa). Segundo Norberg-Schulz (1998), são nos lugares que se experimentam os acontecimentos mais significativos da existência. Não se trata apenas de um espaço ocupado ou uma simples localização geográfica, mas o resultado da interação recíproca entre homem e contexto. A produção em massa, processos de industrialização, avanços tecnológicos no transporte e uma série de outros fatores, criaram uma sociedade excessiva. Para Augé (1994), esses acontecimentos 2|7

estimulam a individualização de referenciais, a superabundância espacial e o excesso de informações, resultam na produção de não lugares. Para Ibelings (1998, p.64, tradução nossa), “[...] as telecomunicações, a mídia e o aumento da mobilidade, que têm desempenhado um papel importante no processo de globalização, também afetam o planejamento urbano e arquitetura”. As referências do termo não lugar (AUGÉ, 1994) o define como um espaço sem identidade. Ao contrário de lugar, que é um espaço acrescido de valor, com códigos de memória e identidade que permitem o sentido de pertencimento. Em algumas cidades, a produção de não lugares surge pela transformação de espaços públicos que possuía apropriação das pessoas, mas ganhou a informalidade por influência dos equipamentos do entorno. Pode-se pensar na memória como um aspecto individual. Porém, ela também deve ser compreendida como um fenômeno coletivo e social (POLLAK, 1992), definindo-a como uma “[...] constituição gigantesca e vertiginosa do estoque material daquilo que nos é impossível lembrar” (NORA, 1993, p.15). A sociedade e os indivíduos que a formam são geradores de memória. A memória é um elemento essencial do que se costuma chamar identidade, individual ou coletiva, cuja busca é uma das atividades fundamentais dos indivíduos e das sociedades de hoje, na febre e na angústia. Mas a memória coletiva é não somente uma conquista, é também um instrumento e um objeto de poder. São as sociedades cuja memória social é sobretudo oral ou que estão em vias de constituir uma memória coletiva escrita que melhor permitem compreender esta luta pela dominação da recordação e da tradição, esta manifestação da memória (LE GOFF, 1990, p.477).

A memória é constituída de acontecimentos vividos diretamente ou indiretamente por um indivíduo ou pela coletividade. Quando se trata de acontecimentos indiretos, pode-se definir como fatos dos quais a pessoa nem sempre participou, mas que são acontecimentos vividos pelo grupo, de modo que a pessoa se sente pertencente (POLLAK, 1992). Muitas vezes, essas memórias estão atribuídas a alguns lugares que, geralmente, foram palco ou ”cenário” para o acontecido. As memórias oficiais e monumentos são exemplos disso. Ao falar de apropriação dos lugares e a associação à memória, surge o conceito de lugares de memória (NORA, 1993). “Existem lugares de memória, lugares particularmente ligados a uma lembrança, que pode ser uma lembrança pessoal, mas também pode não ter o apoio no tempo cronológico” (POLLAK, 1992, p.202). Nora (1993, p.21) define que, [...] lugares de memória pertencem a dois domínios, que a tornam interessante, mas também complexa: simples e ambíguos, naturais e artificiais, imediatamente oferecidos a mais sensível experiência e, ao mesmo tempo, sobressaindo da mais abstrata elaboração. São lugares, com efeito nos três sentidos da palavra, material, simbólico e funcional, simultaneamente, somente em graus diversos. Mesmo em lugar de aparência puramente material, como um depósito de arquivos, só é lugar de memória se a imaginação o investe numa aura simbólica. [...] Mesmo um minuto de silêncio, que parece que o exemplo extremo de uma significação simbólica, é ao mesmo o recorte material de uma unidade temporal e serve, periodicamente, para uma chamada concentrada da lembrança. [...] É material por seu conteúdo demográfico; funcional por hipótese, pois garante, ao mesmo tempo, a cristalização da lembrança e sua transmissão; mas simbólica por definição visto que caracteriza por um acontecimento ou uma experiência, vividos por um pequeno número uma maioria que deles não participou.

Os “lugares de memória”, como Nora (1993) classifica, possuem fundamental papel para estimular a vivência urbana. Já dizia Jacobs (2003) que se uma área da cidade tiver apenas prédios novos, ela

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acaba selecionando as empresas que venham a existir nessa área e, elas estarão automaticamente limitadas àquelas que podem arcar com os custos dos novos edifícios. É através desse conceito que definimos a apropriação do indivíduo como forma de identificação com o lugar. Para Pollak (1992, p. 204), [...] podemos [...] dizer que a memória é um elemento constituinte do sentimento de identidade, tanto individual como coletiva, na medida em que ela é também um fator extremamente importante do sentimento de continuidade e de coerência de uma pessoa ou de um grupo em sua reconstrução de si. [...] A construção da identidade é um fenômeno que se produz em referência aos outros, em referência aos critérios de aceitabilidade, de admissibilidade, de credibilidade, e que se faz por meio da negociação direta com outros. Vale dizer que memória e identidade podem perfeitamente ser negociadas, e não são fenômenos que devam ser compreendidos como essências de uma pessoa ou de um grupo.

É para que as consequências da globalização não interfiram nos espaços públicos acrescidos de memória, ou seja, nos lugares, que se conclui a necessidade da criação de instrumentos de estímulo a preservação da memória e da identidade. No caso dos centros urbanos históricos que se desenvolvem de maneira desordenada e que sofrem da apropriação comercial e da mídia, podem ser considerados não lugares, pois se enquadram nos conceitos de Augé (1994) e que Ibelings (1998) reforçam. É importante que se considere não só uma edificação ou um espaço isolado, mas todo o contexto em que o centro urbano se encontra. 3. OS CENTROS URBANOS E A RELAÇÃO COM A CIDADE O patrimônio cultural vem se perdendo em algumas cidades que possuem grande potencial e bagagem histórica para ser preservada. Além do diálogo entre a história e o presente, os avanços da indústria, da tecnologia, a monumentalidade dos espaços e dos edifícios, a especulação imobiliária e comercial também apresentam deficiências, como por exemplo, os shoppings e edifícios monumentais, que excluem o comércio local, a cultura e o cotidiano da cidade (JACOBS, 2000). Os centros urbanos estão presentes em todas as cidades e são considerados como os pontos onde a vida urbana acontece com mais intensidade e dinamismo. Nas cidades coloniais, o centro era o ponto onde os equipamentos importantes da cidade como as igrejas e capelas, e os edifícios de poder público. O caráter de centro “[...] têm sua centralidade fortalecida pela somatória de todas essas atividades, e o seu significado, por vezes, extrapola os limites da própria cidade” (VARGAS; CASTILHO, 2006, p.01). O crescimento das cidades e expansão da mancha urbana resulta no surgimento da subcentros, que se desenvolvem através de vias coletoras que levam até o centro, porém, resultam em uma competição de usos que acaba setorizando os tipos de mercado em cada subcentro. Para Vargas; Castilho (2006), este processo foi o agente que acelerou e intensificou a deterioração e degradação dos centros urbanos. Atualmente, a noção que se tem de centro urbano como ponto de convergência ou como espaço de encontro, descanso e abastecimento da população, identificamos um centro de mercado. Além disso, outras atividades urbanas como manifestações políticas, religiosas, culturais e até atividades financeiras acontecem nesse centro, dando um caráter de centro de negócios (VARGAS, CASTILHO, 2009). “[...] é no centro que a cidade tem sua maior concentração de atividades e maior interação dos elementos constituintes da estrutura urbana [...]. É o espaço que busca caracterizar e identificar a sociedade” (BALTHAZAR, 2001, p.10). Se tratando do conceito de centro histórico, falamos do núcleo urbano inicial da cidade e do vínculo com o patrimônio, a identidade e a memória local. Logo, define-se a temporalidade mais complexa

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que a do restante da cidade. Precisa-se valorizar a preservação da história e estimular a heterogeneidade das atividades de um centro. A reabilitação dos centros históricos deve ser fundamentada com a premissa de incrementar e não de regressar no tempo, como muitas vezes é o que acontece (CARRION, 2002). Segundo Lapa e Zancheti (2002, p.35), “a grande questão que se coloca é como manter um processo de transformação do território que não cancele essa herança e que inclua o novo numa relação de „harmonia‟”. Os projetos de intervenção nesses centros precisam considerar uma análise na herança histórica e patrimonial, bem como a sua funcionalidade e a inserção urbana do espaço. Mas, o principal critério a ser avaliado é a necessidade de se fazer a intervenção. Atualmente, a recuperação dos centros significa melhorar a imagem da cidade a fim de promover o sentimento de pertença, a reutilização de edifícios e consequentemente a valorização do patrimônio construído (VARGAS; CASTILHO, 2009). É importante compreender o Centro histórico como um objeto mutante, onde a funcionalidade vai depender da modalidade de inserção no processo. Uma das formas de intervenção vem sendo os Corredores Culturais. Utilizar o corredor cultural tirando partido do patrimônio histórico como elemento de integração é uma boa proposta conceitual, pois nem todas as pessoas valorizam a arquitetura, as artes e os costumes locais. Contudo, é preciso aliar-se às intervenções urbanas mais significativas na paisagem das cidades porque só assim irão efetivamente proporem recuperação e nova costura dos centros históricos.

4. CORREDORES CULTURAIS: o exemplo de São Paulo A definição do termo pode ser identificada no texto “Corredor Cultural” assinado por Rachel Jardim, e que foi publicado em partes por Carvalho (1983), na Revista Módulo, número 77. No texto, a área central da cidade do Rio de Janeiro é exemplo de espaço simbólico e histórico, repleta de construções de beleza inestimável e de usos diversificados como comércio, serviços, atividades culturais e de lazer que lhe conferem características inigualáveis que podem ser relacionadas. A preocupação de relaciona-las reside na preservação do que ainda resta da “ambiência”, a verdadeira alma daquele espaço, que se queria preservar: um conjunto de elementos físicos e os espaços entre eles que dão verdadeira vida ao local. A partir de modelos como o carioca, os Corredores Culturais se perpetuam no Brasil como forma de ligar equipamentos públicos ligados à cultura e/ou espaços públicos e arquiteturas de interesse histórico patrimonial. Contudo, o resultado ainda não aparece de maneira satisfatória, porque fica restrito a roteiros culturais que interessam a poucos. Um exemplo disso é o projeto proposto pelo Programa Monumenta em São Paulo. Nele, os principais edifícios do centro da capital foram ligados num roteiro que incluiu intervenções na infraestrutura urbana, como o alargamento de passeios. Com o intuito de revalorizar o conjunto do centro histórico de São Paulo1, o projeto Corredor Cultural na capital paulista aconteceu em parceria com o projeto Ação Centro, onde “[...] previa valorizar a qualidade do projeto de desenho urbano e aproveitamento de dinâmicas pré-existentes” (OLLERTZ, 2007), a fim de organizar em único projeto, todas as iniciativas privadas e publicas que, pontualmente, estavam sendo concretizadas, porém, sem relação alguma. Jacobs (2000) já dizia que a cidade precisa dos prédios antigos para que o espaço seja apropriado, ou seja, a adoção de conservar as edificações presentes no recorte é o elemento chave do projeto.

1 O centro de São Paulo é formado pelos distritos da Sé, República, Bom Retiro, Pari, Brás, Cambuci, Liberdade, Bela Vista, Consolação e Santa Cecília. 5|7

O projeto do corredor propôs a interligação de equipamentos de atividades relevantes, por meio do espaço público redesenhado de forma a funcionar como “elemento integrador” desses edifícios. Foi adotada a ideia do desenho urbano “abrangendo uma poligonal formada por uma malha de espaços públicos – ruas e praças – com os respectivos lotes e edificações, tratados como um conjunto” (VARGAS CASTILHO, 2006, p.120). Contudo, quando se visita o local, poucos são os que identificam esse Corredor, a maioria percebe cada equipamento de maneira individual. As consequências desse projeto foram classificadas por Ollertz (2007) em um aspecto negativo e três positivos, sendo respectivamente: a presença do rodoviarismo, que compõe a cultura política de São Paulo e entra em conflito com o pedestre, que é um gerador de importantes fluxos no centro da cidade; a implantação de espaços públicos que proporcionem uma continuidade espacial, a valorização das atividades urbanas, dos fluxos da rua e não concentrar o projeto somente na restauração de edifícios históricos, além de reforçar e valorizar a relação da área central e sua articulação com o centro novo. Porém, um fator bastante importante que deve ser levado como ponto positivo que é resultado do projeto Corredor Cultural em São Paulo, é a maneira que esse tipo de projeto de requalificação, pode estreitar laços entre setores da iniciativa pública, privada e ainda a sociedade civil e como o relato desses projetos pode gerar discussões também muito bem vindas nesse sentido.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS O patrimônio cultural urbano-arquitetônico vem se perdendo em algumas cidades que possuem grande potencial e bagagem histórica para tal conservação. A arquitetura da cidade reduziu-se a seu aspecto funcional, colocando um fim a relação entre forma e função que configurava a imagem singular das cidades e compunha a história das sociedades urbanas (Kohlsdorf, 1996). Destaca-se que os prédios antigos ainda serão necessários quando a passagem do tempo fizer as novas edificações se tornarem velhas. É o diálogo entre os tempos e a adaptação que permitem a nova costura desses territórios ao cenário das cidades. “Uma das coisas mais admiráveis e agradáveis que podem ser vistas ao longo das calçadas das grandes cidades são as engenhosas adaptações de velhos espaços para novos usos” (Jacobs, 2009, p.215). O maior mal dos centros históricos, no entanto não está na idade, mas na recuperação de sua natural deterioração. O abandono transforma essas áreas em improdutivas e coloca uma falsa compreensão que a construção do novo é economicamente mais viável do que a recuperação e reforma do antigo. As propostas de intervenção urbana através de um corredor cultural visam valorizar e relacionar o patrimônio consolidado e as novas edificações, de modo que conecte os equipamentos culturais criando uma rede de espaços públicos distintos e variados que permitam a formação de vizinhanças com caráter único e que as diferentes manifestações culturais ocorram no espaço público, dando suporte às atividades em uma variedade de escalas que irão atender e acolher as pessoas de diversos níveis sociais e culturais. Essa mistura entre o novo e o antigo é necessária para cultivar a diversidade necessária no cenário da cidade. A prática permitirá vida mais longa e sem estagnação, necessária à sustentabilidade das partes e do todo urbano. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AUGE, Marc. Não Lugares. Introdução a uma antropologia da supermodernidade. 3ed. ; Coleção Travessia do Século. Campinas: Papirus, 1994. BALTHAZAR, Luiz Fernando. Criciúma - memória e vida urbana. Florianópolis, SC: Ed. do autor, 2001. 186 p. Dissertação (Mestrado), Universidade Federal de Santa Catarina, 2001 6|7

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