A Relação de Interdependência entre Estados Unidos e China no período pós-crise de 2008 - Luis Renato Nogueira, 2015

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ESCOLA SUPERIOR DE PROPAGANDA E MARKETING

PROJETO DE GRADUAÇÃO INTERNACIONAL PLANO MONOGRÁFICO

LUIS RENATO NOGUEIRA DE SOUZA

A RELAÇÃO DE INTERDEPENDÊNCIA ENTRE ESTADOS UNIDOS E CHINA NO PERÍODO PÓS-CRISE DE 2008

São Paulo 2015-1

LUIS RENATO NOGUEIRA DE SOUZA

A RELAÇÃO DE INTERDEPENDÊNCIA ENTRE ESTADOS UNIDOS E CHINA NO PERÍODO PÓS-CRISE DE 2008

Projeto de Graduação Internacional apresentado como requisito parcial para a obtenção do diploma de graduação no Curso de Relações Internacionais com Ênfase em Marketing e Negócios da Escola Superior de Propaganda e Marketing – ESPM.

Professor orientador: Profa. Denilde Holzhacker

São Paulo 2015-1

“É muito melhor lançar-se em conquistas grandiosas, mesmo expondo-se ao fracasso, do que alinhar-se com os pobres de espírito, que nem gozam muito, nem sofrem muito, porque vivem numa penumbra cinzenta, onde não conhecem nem a vitória, nem a derrota” (Theodore Roosevelt)

RESUMO

O presente projeto de graduação internacional tem o intuito de analisar as relações de interdependência entre Estados Unidos e China após a crise de 2008. O levantamento histórico toma como principais nuances da relação a abertura econômica chinesa, a guerra contra o terror e a crise financeira de 2008. Após o levantamento dos perfis econômicos de ambos, por meio da análise das pautas de importação e exportação em relação ao mundo e em relação bilateral, pode ser identificada a existência de forte conexão entre os setores econômico, financeiro e socioambiental. Nesses aspectos, o setor econômico apresenta uma relação interdependente de ganhos mútuos, que tende à simetria, e de vulnerabilidades compartilhadas, por ambos demandarem e ofertarem produtos diferentes e complementares em suas economias. Em âmbito financeiro, nota-se forte assimetria na relação de interdependência, e alta vulnerabilidade por parte dos Estados Unidos, visto que grande parte da dívida americana foi financiada em títulos do governo pela China. Finalmente, em âmbito socioambiental,

especificamente

na

questão

energética,

destaca-se

uma

relação

interdependente assimétrica, em que a demanda crescente por energia e a falta de opções alternativas coloca a China em posição de alta vulnerabilidade.

ABSTRACT

The academic essay herein present has the objective of analyzing the relations of interdependence between United States and China after the financial crisis of 2008. The historical study takes as the main nuances of the relation: the open door economic policy, the war against terror, and the financial crisis of 2008. After mounting the economic profiles of both countries, through the analysis of imports and exports trades with the world and bilateral trade, it is possible to identify the existence of strong connections in the economic, financial and environmental sectors. In these aspects, the economic sector has an interdependent relationship of mutual gains, which tends to symmetry, and shared vulnerabilities, once both demand and offer different and complementary goods in their economies. In the financial field, there is strong asymmetry in the relationship of interdependence, and high vulnerability on the part of the United States, since a considerable amount of the US debt was funded in government bonds by China. Finally, in the environmental context, specifically in the energy issue, there is an asymmetrical interdependent relationship, in which the growing demand for energy and the lack of alternative options puts China in a highly vulnerable position.

LISTA DE FIGURAS E TABELAS Figura 1 – Orçamento Militar dos Estados Unidos entre 1996 e 2014....................................32 Figura 2 – Participação das Indústrias no PIB dos EUA em 2012..........................................38 Figura 3 – Principais Parceiros Comerciais dos Estados Unidos por volume de comércio em 2015...........................................................................................................................................42 Figura 4 – Déficit Comercial dos EUA de 2006 a 2012..........................................................43 Tabela 1 – Principais Produtos exportados dos Estados Unidos para o mundo......................44 Figura 5 – Fluxo de IED para os Estados Unidos de 2003 a 2013..........................................45 Figura 6 – Principais parceiros comerciais da China em 2012................................................54 Tabela 2 – Bens exportados dos EUA para a China................................................................56 Tabela 3 – Bens exportados da China para os Estados Unidos................................................56 Figura 7 – Detenção da dívida americana por parte da China entre 2002 e 2013...................61 Figura 8 – IED chinês nos Estados Unidos entre 2009 e 2013................................................72 Figura 9 – Comparação de importaçõ0es líquidas de petróleo entre Estados Unidos e China em barris por dia entre 2011 e 2015..........................................................................................74

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO.....................................................................................................................1

2. TEORIA DA INTERDEPENDÊNCIA...............................................................................7 2.1 PODER NAS RELAÇÕES DE INTERDEPENDÊNCIA..................................................10 2.1.1 Vulnerabilidade e Sensibilidade.......................................................................................11 2.2 INTERDEPENDÊNCIA COMPLEXA..............................................................................12 2.2.1 Características da Interdependência Complexa...............................................................13 2.3 PROCESSO POLÍTICO DE INTERDEPENDÊNCIA COMPLEXA...............................15

3. RELAÇÃO BILATERAL ENTRE ESTADOS UNIDOS E CHINA.............................19 3.1 HISTÓRIA DA RELAÇÃO ENTRE ESTADOS UNIDOS E CHINA.............................19 3.1.1 Cronologia das relações nos séculos XIX e XX..............................................................19 3.1.2 Abertura Econômica Chinesa...........................................................................................27 3.1.3 Guerra ao Terror e efeitos na relação sino-americana.....................................................29 3.2 CRISE FINANCEIRA DE 2008.........................................................................................35 3.3 CONJUNTURA POLÍTICO-ECONÔMICA.....................................................................37 3.3.1 Panorama Econômico dos Estados Unidos......................................................................37 3.3.1.1 Política Econômica dos Estados Unidos.......................................................................40 3.3.1.2 Relações Econômicas Internacionais dos Estados Unidos...........................................41 3.3.2 Panorama Econômico da China.......................................................................................46 3.3.2.1 Política Econômica da China........................................................................................50 3.3.2.2 Relações Econômicas Internacionais da China.............................................................53 3.4 COMÉRCIO BILATERAL................................................................................................55 3.4.1 Relações de Investimento Externo Direto........................................................................59

4. CANAIS MÚLTIPLOS DE CONEXÃO..........................................................................65 4.1 INTERDEPENDÊNCIA ECONÔMICA............................................................................67 4.2 INTERDEPENDÊNCIA FINANCEIRA............................................................................70 4.3.INTERDEPENDÊNCIA SOCIO-AMBIENTAL...............................................................73

5. CONCLUSÃO.....................................................................................................................78

6. REFERÊNCIAS..................................................................................................................82

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1. INTRODUÇÃO

O presente Projeto de Graduação Internacional tem como objetivo apresentar uma análise sobre as relações de interdependência entre China e Estados Unidos no período que antecede e perdura a crise financeira, entre 2006 e 2012. Para tanto, foram observados, primeiramente, os panoramas das economias de Estados Unidos e China com o objetivo de situar o leitor no que se refere a realidade econômica de cada país em determinado plano temporal. Em seguida, foram examinadas as principais características que delineiam a relação de âmbito bilateral sino-americana. Foram levadas em consideração, após a descrição da moldura político-institucional, as relações comerciais, o setor financeiro e a integração socioambiental. Em cada uma das vertentes de análise, foram analisadas as possíveis relações de interdependência considerando a vulnerabilidade e a sensibilidade apresentadas por ambos os países ao apreciar as ações e reações em determinadas situações dos países estudados em paralelo. Por meio da avaliação da existência de vulnerabilidade e sensibilidade expostas nos quesitos observados, é possível concluir em que parâmetros a interdependência entre Estados Unidos e China pode ser considerada uma realidade ou não, e se existe simetria entre as partes. Em decorrência de suas grandes proporções territoriais, populacionais, e recentemente econômicas, o poder de influência do gigante asiático tem se intensificado e, por isso, o cenário internacional tem se moldado, fazendo com que os olhares se voltem para o mundo oriental com maior interesse. É possível compreender a importância dada ao Oriente sob perspectivas receosas, preocupadas, que veem o crescimento chinês como uma ameaça política, militar, de mercado e intensificação competitiva. Por essas mesmas razões e ainda outras, olhares oportunistas veem o crescimento da China como uma chance de expansão de mercado, desenvolvimento de tecnologias, facilidade de produção e estabelecimento de parcerias. Sob essa perspectiva, nesse trabalho serão avaliados os representantes econômicos mais icônicos de seus respectivos continentes, hoje, as duas maiores economias no mundo: Estados Unidos e China e sua relação de crescente integração. O tema “A Relação de Interdependência entre Estados Unidos e China” foi designado para o projeto com o objetivo de avaliar até que ponto uma medida tomada por uma das partes afeta negativamente e positivamente a outra. Mais especificamente, em que setores os países se mostram sensíveis ou vulneráveis à atuação da contraparte. Tal discussão coloca em pauta o contraponto entre o discurso político de inimizade e a necessidade, por

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vezes traduzida como dependência econômica e financeira na questão problema “Quais as vulnerabilidades

e

sensibilidades

enfrentadas

nos

âmbitos

comercial,

financeiro,

socioambiental na relação entre Estados Unidos e China no pós-crise de 2008”. O ocidente tende a perceber na Ásia um mundo longínquo, de hábitos e culturas intocáveis, fechados social e economicamente, de políticas contrastantes e questionável cooperação. Principalmente para os parâmetros delineados pelos estadunidenses, o crescimento asiático se mostra uma ameaça à hegemonia histórica, econômica e militar, que se tornaram os Estados Unidos (SHAMBAUGH, 2012). Sob influência da mídia, por vezes tendenciosa, e da falta de informação, a população absorve a separação cultural e a propaga, sem conhecimento dos benefícios e necessidades presentes nessa relação. No entanto, o que se mostra na realidade, é o notável oposto. A China, foco principal no desenvolvimento asiático abriu suas portas para o mundo e, por meio de um discurso pautado na força e no potencial de sua posição, o chamado Dragão Chinês firma sua base no comércio internacional como uma alternativa viável e adotada por um número crescente de aliados. Aliados esses, sobretudo vizinhos, de políticas compatíveis e poder consideravelmente diminuto, mas não só (WRIGHT, 2013). Países ocidentais encontram cada vez mais possibilidade de crescimento e participação global no continente asiático. A China se destaca e se sobrepõe no cenário global como um meio necessário. Com raízes fincadas nas longínquas terras ocidentais, a China é requisitada e, em seu crescimento, alavanca o crescimento de seus aliados. Tal cooperação traz o interesse inclusive dos Estados Unidos que encontram na China, um número expansivo de potenciais consumidores, uma quantidade abusiva de capital e de empreendedores, e uma gama gigantesca de potenciais investidores. Os Estados Unidos que, por muito, têm a China como inimigo político, encontram nos mesmos, parceiros econômicos (KISSINGER, 2011). Assim, este projeto tem como foco alimentar a discussão sobre os efeitos da crise econômico-financeira de 2008 nas duas maiores economias mundiais no atual momento, Estados Unidos e China, e a emergente necessidade econômica, pautada na dependência do crescimento mútuo de ambas as partes. Tal discussão pauteia as ações de cautela em momento de crise, e seus efeitos, por vezes traduzidos como dependência econômica e financeira na questão problema “Quais as vulnerabilidades e sensibilidades enfrentadas nos âmbitos comercial, financeiro e socioambiental na relação entre Estados Unidos e China no pós-crise de 2008”.

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Faz-se, portanto, necessário apresentar uma análise sobre as relações de interdependência entre China e Estados Unidos, desencadeados principalmente no período da crise de 2008. Para tanto, devem ser observados, primeiramente, os panoramas das economias de Estados Unidos e China, com o objetivo de situar o leitor no que se refere a realidade econômica de cada país em determinado plano temporal. Em seguida, serão examinadas as principais características e perspectivas que delineiam a relação de âmbito bilateral sinoamericana. Serão levados em consideração, após a descrição da moldura político-institucional, as relações comerciais, o setor financeiro, a integração produtiva e o peso dos investimentos. Em cada uma das vertentes de análise, devem ser analisadas as relações que se mostram interdependentes e considerar se existe vulnerabilidade ou sensibilidade para ambos os países ao apreciar uma mudança acentuada na atuação ou posição do país estudado em paralelo durante os anos de crise. Por meio da avaliação da existência de vulnerabilidade e sensibilidade exposta nos quesitos observados, objetiva-se concluir em que parâmetros a interdependência entre Estados Unidos e China pode ser considerada uma realidade benéfica ou prejudicial, realizando a análise de sua simetria. O projeto de graduação em questão avalia certos pontos como de importância fulcral a serem debatidos a fim de responder à questão investigativa. Tais pontos são chamados de objetivos específicos e devem ser avaliados cronologicamente ao longo do trabalho. São eles: (a) descrever as principais características dos modelos político, econômico e institucional estadunidense e chinês em paralelo. (b) Entender a política externa adotada em relação à contraparte, baseado nos modelos supracitados. (c) Mapear os setores de maior participação na economia e os considerados estratégicos na relação bilateral sino-americana. (d) Compreender a atuação dos setores em âmbito global e regional considerando sua cadeia de produção e a participação dos principais atores internacionais. (e) Avaliar a atual conjuntura internacional sob influência da crise financeira em meados de 2008, e posicionar os dois atores em discussão. (f) Entender a teoria da Interdependência e como inferi-la no campo das relações internacionais, sobretudo na relação entre Estados Unidos e China. (g) Compreender os conceitos de sensibilidade e vulnerabilidade dos Estados e delineá-los em setores diversos. Neste trabalho, os setores econômico, financeiro e socioambiental. (h) elencar os principais pontos de conexão nas relações comerciais, no setor financeiro e na questão ambiental entre Estados Unidos e China. (i) Avaliar a existência de sensibilidade e vulnerabilidade enfrentada por Estados Unidos e China em âmbito comercial, institucional, financeiro e produtivo, por meio de cenários prospectivos de atuação internacional. (j)

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Concluir em que pontos existem relações de interdependência entre Estados Unidos e China. (l) Concluir em que pontos a interdependência surte efeitos benéficos, maléficos, simétricos ou assimétricos em ambos os países estudados. (m) Promover abertura para a discussão sobre a discrepância entre discurso político e atuação econômica, e abranger as relações de interdependência com outros países e setores. O referido Projeto de Graduação Internacional terá como base a avaliação teórica do conceito de interdependência e suas abordagens de sensibilidade e vulnerabilidade em setores que apresentam interconectividade na relação entre China e Estados Unidos. A Teoria da Interdependência, trazida por Joseph Nye em conjunto com Robert Keohane no livro Poder e Interdependência é também trabalhada por Gilberto Sarfati e merece menção. Os conceitos de interdependência, sensibilidade e vulnerabilidade serão inicialmente aprofundados e descritos, e posteriormente retomados constituindo o foco conclusivo deste projeto. Os livros Poder e Interdependência, de Nye e Keohane, e Teoria das Relações Internacionais de Sarfati são, portanto, considerados parte da bibliografia básica para dar início a este trabalho. Ao apresentar a teoria de interdependência, é necessário o seu posicionamento em relação às linhas de pensamento teórico das relações internacionais. Por isso, os conceitos da teoria realista de Hans Morgenthau e da neorealista de Kenneth Waltz, assim como a teoria liberal e a posterior neoliberal, serão relacionadas com a teoria de interdependência. Antes de aplicar a teoria apresentada por Joseph Nye, é preciso descrever os perfis políticos e levantar os dados econômicos que posicionam os atores objeto de estudo no plano internacional. A priori, o entendimento do sistema político e a definição da política externa de ambos os países situa o leitor ao que tange o posicionamento de cada nação ao considerar suas ações e medidas de adaptação frente ao andamento do sistema internacional. Para tanto, o posicionamento de ambos os governos deve ser estudado por meio de nota formal do próprio governo em questão, como fonte primária. Em seguida, a avaliação da posição explicitada nos principais jornais nacionais de ambos os países faz-se necessária como uma perspectiva nacional independente. Por fim, para examinar e concluir de forma justa o posicionamento político de determinado país, organizações (como a ONU e a OMC), fóruns e jornais internacionais independentes (Foreign Policy ou Foreign Affairs), assim como analistas locais devem ser consideradas fontes secundárias para a apreciação e entendimento da posição de cada país frente ao sistema internacional e em relação ao país estudado em paralelo, de forma plenamente qualitativa.

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Em seguida, torna-se necessária a análise quantitativa da relação bilateral entre Estados Unidos e China. O levantamento de dados do comércio bilateral explicita os principais setores de convergência produtiva, econômica e financeira entre a nação norteamericana e a República Popular, de forma que os interesses, as dificuldades e as oportunidades possam ser traçadas, dando espaço à utilização da teoria de interdependência. Novamente, a apresentação dos dados de importação e exportação deve ser avaliada por ambas as perspectivas: chinesa e estadunidense a fim de que os dados, ao final da análise, sejam complementares. Aqui, bases de dados internacionais como o Euromonitor e o MacMaps, além de escritórios nacionais de comércio como o Census Bureau, devem ser considerados de principal relevância. Os principais anos a serem avaliados serão 2006, 2008, 2010 e 2012, pois abrangem momentos que antecedem a crise financeira, durante, e pós-crise, quando a recuperação se mostrou franca. O ano de 2008, especificamente, o ano ápice da crise, salienta a ideia de interdependência porque se trata de um momento de ruptura no sistema internacional e aponta medidas estabelecidas pelos países em questão ao enfrentarem uma realidade internacional comum nos anos seguintes. A partir dessa ruptura, torna-se possível identificar medidas de adaptação à nova ordem e, consequentemente, avaliar as implicações dos atos, traduzidas em relações de vulnerabilidade e sensibilidade. Contudo, de modo que seja possível realizar uma análise mais completa, a análise não considerará apenas os anos supracitados, mas todo o período necessário para que haja um entendimento baseado em fatos dinâmicos, e não estáticos. Os planos de investimento externo direto podem ser considerados exemplos do fortalecimento da relação e da consequente interdependência a ser analisada em seguida. Após a classificação dos setores que expressam potencial de conectividade sinoamericana por meio da avaliação das importações e exportações, torna-se possível realizar a análise teórica apresentada por Nye no contexto oferecido por este trabalho. Uma vez tracejadas as linhas de abordagem econômica, financeira e socioambiental, a avaliação da existência de sensibilidade e vulnerabilidade pode ser inserida. Cenários hipotéticos, porém realistas, devem ser criados de modo que os graus de sensibilidade e vulnerabilidade em cada quesito possam ser explicitados de ambos os lados. Para tanto, valores econômicos quantitativos e custo de adaptação no tempo devem ser levados em conta ao considerar a profundidade da influência em medidas de sensibilidade e vulnerabilidade. Portanto, será avaliado com que velocidade uma mudança de um lado traz custos no outro; e quais as

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alternativas e quais os custos da mudança em cada país, em cada setor, decorrente nos anos de análise. Por final, supõe-se que seja possível concluir que os países apresentam uma relação de interdependência clara, mas com graus de sensibilidade e vulnerabilidade diferentes, sobretudo assimétricos. O trabalho apresenta como hipótese a ideia de que a relação de interdependência entre Estados Unidos e China existe desde os anos 90, com a intensificação da abertura econômica chinesa. Posteriormente, como foco temporal deste projeto, entende-se que a crise financeira de 2008 promove a intensificação da interdependência no que tange maior grau de trocas comerciais que suportam os respectivos PIBs, maior conexão das cadeias de produção, maior presença de empresas nacionais em território internacional, necessidade de aprofundamento do diálogo político em fóruns e organizações internacionais, a importância decrescente do poderio militar e o crescente número em valor das reservas internacionais. Resta saber em que aspectos existe vulnerabilidade e sensibilidade nos setores elencados, e se essas relações podem ser consideradas benéficas ou não para ambos. Por se tratar de um tema de interpretação e análise de cenários baseados na realidade atual, a análise quantitativa terá força primária, principal, e se dará por meio de levantamento de dados históricos, enfoques políticos e estudos de casos como estratégia de pesquisa. Dados numéricos como balança comercial, exportação e importação, e investimento servirão como dados quantitativos utilizados para uma avaliação final qualitativa. A aplicação da teoria na relação entre Estados Unidos e China visa, portanto, responder em que setores existe maior interdependência e apontar os riscos de vulnerabilidade e sensibilidade por meio da avaliação de simetria da relação.

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2. TEORIA DA INTERDEPENDÊNCIA

A teoria de interdependência nasceu de uma abordagem de pensamento neoliberalista trazida por Joseph Nye e Robert Keohane no livro Poder e Interdependência (1977), como uma análise crítica à linha de pensamento realista. O objetivo da obra é de analisar como a política internacional é transformada pela crescente conectividade entre nações e sociedades, pela intensidade e complexidade das relações transnacionais, e a diminuição da necessidade e eficácia do uso da força militar. A linha de pensamento neoliberal reconhece o Estado como principal ator das relações internacionais, mas não somente, apresenta demais atores transnacionais que podem ser comparados e nivelados aos Estados em questão de influência, importância e participação na agenda internacional (NOGUEIRA; MESSARI, 2005). São eles as organizações não governamentais, grupos de interesse e órgãos públicos e privados, como bancos, associações e organizações intergovernamentais como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o a Organização Mundial do Comércio (OMC). Apesar da base de pensamento neoliberal, a teoria de interdependência abrange aspectos que convergem com a teoria neorrealista de Kenneth Waltz, sobretudo quando tratadas as relações de poder entre os atores. A linha de pensamento realista, doutrina de ciência política trabalhada por Hans Morgenthau, toma o Estado como principal ator das relações internacionais, presente em um sistema anárquico (em que não existe poder soberano), que tem como principal objetivo lutar pelos seus interesses singulares, ao mesmo tempo em que preza pela segurança nacional, garantindo a sua sobrevivência no sistema internacional (NOGUEIRA; MESSARI, 2005). Segundo a teoria realista, sobrevivência é o principal fator que determina o comportamento dos Estados. Por isso, o Estado deve procurar desenvolver recursos que o tornem mais poderoso no sistema, de modo que a linha de pensamento é definida em termos de poder: quanto maior seu poder relativo, maior é a sua chance de sobrevivência. Na teoria realista, como o maior objetivo é a sobrevivência do Estado, conclui-se que a maior ameaça seja a intimidação da segurança nacional, traduzida como intervenção militar. A pauta de interesses e discussões tem como base a segurança nacional. Por isso, tendo a segurança nacional como principal questão determinante das pautas domésticas e internacionais, é sensato concluir que quanto mais tangente a linha de pensamento realista, maior será o seu gasto com o desenvolvimento estratégico e aparato militar (SARFATI, 2011).

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Por outro lado, segundo os pensadores neoliberais, a teoria neoliberal parte de uma lógica mais multifacetada, que envolve diversos atores em níveis assimétricos, e abrange uma linha de preocupações sociais, mais construtivistas e abordagens econômicas. A teoria, portanto, propõe total liberdade às leis de mercado, limitação do Estado na economia, maior privatização empresarial, e que a regularização do sistema deve ser realizada por atores transnacionais, atuando de forma livre, em prol do desenvolvimento conjunto (NOGUEIRA; MESSARI, 2005). Uma vez que aumenta a liberdade de atuação dos demais atores, e dada a premissa de que o Estado procura intervir cada vez menos no desempenho da economia ou na sociedade, o Estado passa a dividir seu espaço de atuação com outros atores transnacionais de crescente participação, agindo em um ambiente mais cheio e complexo, de forma que a política desempenhada por um dos órgãos afeta uma quantidade maior de atores. O efeito cascata, dominó ou bola de neve no sistema internacional, que corrobora que a política externa de um Estado afeta diversos outros órgãos e atores direta e indiretamente, pode ser entendido como uma forma de dependência (HENDLER, 2012). Dependência, no sentido literal da palavra, exprime um estado de determinação ou influência, significativamente afetado por forças externas. Subordinação. Sujeição. Proteção, amparo. Relação necessária, conexão, correlação, interação (HOUAISS, 2014). Com base na definição literária de dependência, é possível distinguir que as relações de interdependência podem ser tanto positivas como negativas, em setores e níveis diferentes. “A agenda tradicional das relações internacionais – a balança de poderes, a segurança das nações – não mais define nossos riscos ou possibilidades. Agora, entramos em uma nova era. Antigos padrões internacionais estão desmoronando; antigas propagandas são vagas; antigas soluções são inúteis. O mundo se tornou interdependente na economia, na comunicação, nas aspirações humanas” (KISSINGER, 1996). O conceito de interdependência é utilizado por estudiosos e leigos com conotação diversa, por vezes ambígua e freqüentemente falha. A gafe é compreensível uma vez que a teoria da interdependência pode e deve ser aplicada de diferentes formas, em diferentes situações, sob diferentes pontos de vista (NYE, 2009). No campo das relações internacionais a teoria apresentada por Nye (1978) trata do que pode ser compreendido como dependência mútua. Para que haja a interdependência, portanto, são necessários dois atores inseridos em uma situação semelhante, na qual existam forças tangenciais que afetem ambos os lados. A interdependência se refere a situações

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caracterizadas por efeitos recíprocos entre os países ou atores em diferentes países (NYE, 2009). É importante ter em mente que a dependência mútua não significa simetria, ganhos ou perdas paralelos. A maior realidade da interdependência é corroborada por relações assimétricas em que um tem ganhos, e outro tem perdas em dada situação. Por outro lado, ao construir estratégias de atuação e posicionamento internacional, limitam o poder e a atuação da contraparte para mitigar suas próprias falhas e ressaltar suas vantagens (NYE, 2009). É necessário considerar que em uma relação de interdependência, por mais que possa haver lucro e prejuízo constante, os laços não devem ser considerados conflitantes ou adversários. O conflito toma novas formas mais pacíficas de expressão, o que torna a interdependência, por vezes benéfica e procurada por ambos os atores em questão como meio estratégico de atuação frente ao sistema internacional (KEOHANE; NYE, 1978). A interdependência foi e ainda é muito utilizada como retórica para alinhar interesses políticos domésticos e de política externa, como uma necessidade ou conseqüência natural com a qual a política de um país deve se ajustar, em vez de uma situação parcialmente criada pela própria política desempenhada. O discurso de proteção à segurança nacional é recorrente e atinge a opinião pública com precisão, por isso a adequação de qualquer política à determinada situação por vezes é justificada pela retórica de segurança nacional (KEOHANE; NYE, 1978). É preciso entender que a interdependência, mais do que um processo natural, é uma estratégia de atuação política, econômica, financeira e institucional cujo resultado pode representar poder de barganha, expansão da rede de contatos e raio de influência, diversidade produtiva com valor agregado e, sobretudo, maior participação no sistema internacional (SARFATI, 2011). Da

mesma

forma,

interconexão

não

pode

ser

caracterizada

como

interdependência. Na interconexão os efeitos custosos ou limitantes não são levantados, mas é apenas considerado o fato de que ambos estão inseridos em uma realidade semelhante, uma cadeia, ou meramente fazem parte de um grupo comum. (NYE, 2009). Sob essa perspectiva, é sensato concluir que no sistema internacional atual, ao considerar a rápida globalização e o desenvolvimento dos meios de comunicação, todos os países estão interconectados, mas é claro que nem todos são interdependentes uma vez que tal interconexão não envolve custos ou limitações vigentes. Os efeitos das transações na interdependência dependem das limitações ou custos associados a uma dada situação. Sob esse ponto de vista, fica claro que todas as relações de interdependência necessariamente envolvem custos, apreciando que a situação

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restringe a autonomia dos atores, e intensifica suas linhas de influência, mas é impossível determinar de início se os benefícios de uma relação superam os custos da mesma. O resultado depende dos valores trocados na relação assim como da natureza do relacionamento. Para tanto, duas perspectivas devem ser avaliadas com foco em ganhos conjuntos ou perdas conjuntas, e ganhos relativos e a distribuição dos problemas (KEOHANE; NYE, 1998). Dada a natureza realista de atuação dos atores no sistema internacional, é possível compreender que organizações governamentais ou não-governamentais, quando em uma relação de interdependência vão lutar por aumentar sua parcela de ganhos nas transações, mesmo quando ambos lucram enormemente na relação. Portanto, mesmo que grandes benefícios líquidos sejam esperados na relação de cooperação, ambas as políticas econômicas envolvem competição estrutural. A atuação competitiva se baseia no fato de que as assimetrias da interdependência são mais susceptíveis de fornecer fontes de influência entre os atores. A interdependência, portanto, pode ser trabalhada e considerada uma forma de disseminação de influência e imposição de poder direto ou indireto. (KEOHANE; NYE, 1978).

2.1 PODER NAS RELAÇÕES DE INTERDEPENDÊNCIA

Poder sempre foi um conceito elucidativo na análise das relações internacionais. Sob uma visão ortodoxa, o poder estava nas mãos daquele que detinha maior poderio militar, maiores instrumentos de destruição e por meio da imposição do Hard Power, delineava as relações de hierarquia no sistema internacional. A Guerra Fria salientou a ineficiência da habitual corrida armamentista a tal ponto em que a perspectiva realista que fazia imperar o armamento bélico deu espaço a ideais construtivistas e liberais, de foco econômico e social em detrimento do militar, quando colocada em questão a sobrevivência do ser (SARFATI, 2011). Hoje essa realidade se transforma e toma formas mais complexas. A abundância bélica atualmente só se mostra relevante se legitimada por um poder político franco, um posicionamento econômico de expressividade, e participação ativa em instituições internacionais, quando apoiada pela opinião pública e suportada por diversos atores internacionais. A ideia de poder, portanto, passa a ser mais nebulosa e abrange diferentes abordagens, sobretudo na forma de meios de influência (NYE, 2009). O conceito de poder pode ser entendido como a habilidade ou potencial de influência, ou ainda, compreendido como controle sobre possíveis adversidades, recursos e

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resultados. Assim, barganha política, como forma de imposição de poder de influência e controle, deve ser considerada um meio de traduzir potencialidades em efeitos. A interdependência assimétrica, portanto, pode ser uma fonte de poder, entendido em termos de controle sobre os recursos ou potencial em afetar os resultados de uma relação (KEOHANE; NYE, 1978). O resultado sobressalente em uma relação ou situação pode ser salientado ao considerar os custos advindos de uma adversidade no sistema, ou os custos de execução de uma alternativa que promova a adaptação frente à adversidade (KEOHANE; NYE, 1978). Para entender o papel do poder nas relações de interdependência, é necessário distinguir a situação em duas dimensões: sensibilidade e vulnerabilidade.

2.1.1 Vulnerabilidade e Sensibilidade

Vulnerabilidade e sensibilidade devem ser entendidas como dimensões de análise de poder para avaliar seus respectivos ganhos e perdas em uma relação de potencial interdependência. Sensibilidade envolve graus de capacidade de resposta dentro de um quadro político. Ou seja, com que rapidez as mudanças em um país trazem transformações custosas em outro e o quão altos são esses custos. A medição é feita não somente pelo levantamento do volume de trocas entre fronteiras, mas também pelos efeitos advindos das mudanças nas transações nas sociedades ou governos. Sensibilidade é criada pela interação dentro de um quadro político, levando em consideração o fato de que o quadro mantém-se o mesmo. A manutenção de um conjunto de políticas pode refletir a dificuldade em formular novas políticas em curto período de tempo, ou mesmo o compromisso com algum padrão doméstico ou internacional (KEOHANE; NYE, 1978). Por outro lado, faz-se necessário considerar como seria a situação se o quadro político pudesse ser modificado, se houvesse alternativas disponíveis, levando em conta quais seriam os custos de adaptar-se a uma nova realidade. Nesse caso, tange a vulnerabilidade na avaliação dos custos após a mudança do quadro político. Por exemplo, na questão energética, o que importa não é necessariamente a quantidade necessária de petróleo, mas as diferentes alternativas de importação, e o custo de chegar até elas (SARFATI, 2011). Vulnerabilidade se aplica às relações sociopolíticas e político-econômicas. A vulnerabilidade das sociedades aos movimentos transnacionais radiais depende da sua

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habilidade para ajustar políticas nacionais para lidar com a mudança no sistema e reduzir custos de ruptura. Ao considerar os custos de dependência, sensibilidade significa susceptibilidade aos efeitos custosos impostos pelo meio externo antes das políticas internas serem alteradas na tentativa de reverter a situação. Vulnerabilidade é definida como a susceptibilidade de um ator a efeitos custosos mesmo após a alteração do quadro político interno (NYE, 2009). Nesse caso, no entanto, a relação entre interdependência e poder tende a ser mais forte para o lado da vulnerabilidade do que para a sensibilidade uma vez que nessa avaliação são levantados custos imediatos, de uma relação estável (sensibilidade) e a apreciação de alternativas estratégicas e adaptação em um quadro de mudança política. A adaptabilidade, portanto, passa a ser um peso mais relevante na relação em questão (KEOHANE; NYE, 1978). Sarfati (2011) exemplifica que se dois países dependem de forma idêntica da importação de petróleo, isso significa que eles possuem uma sensibilidade idêntica. No entanto, se um deles tiver uma fonte alternativa de energia a custos moderados, será menos vulnerável que aquele que não possui alternativas. A interdependência da vulnerabilidade inclui dimensões estratégicas que a sensibilidade tende a omitir. Os padrões de sensibilidade podem salientar em que ponto uma questão merece maior atenção, mas a adaptação de políticas coerentes com uma realidade inerente deve ser tomada a partir da avaliação de vulnerabilidades potenciais e reais.

2.2 INTERDEPENDÊNCIA COMPLEXA

Se as principais características preconizadas pela teoria realista forem contestadas, será possível apresentar um mundo em que atores diversos ao invés de somente Estados participam diretamente em políticas globais, em que a hierarquia clara não existe, e em que a força se tornou um instrumento ineficiente de se fazer política. Nesse mundo, torna-se possível identificar as características da interdependência complexa: canais múltiplos de conexão; ausência de hierarquia entre os assuntos em pauta; papel decrescente da força militar (KEOHANE; NYE, 1978). É perceptível que no mundo contemporâneo a participação de atores extrínsecos àqueles representados por governantes é crescente e necessária. As atenções são voltadas para grandes empresários, grandes companhias, participação em fóruns, grupos, blocos,

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organizações e atores randômicos que, ao se posicionarem em favor de um ideal comum, englobam seguidores e ganham força no sistema internacional. A participação de tais atores exprime a variedade de opiniões e a diversidade de interesses que se mostram necessários ao se fazer política, desenvolver linhas de conexão e pontos de influência em âmbito internacional (SARFATI, 2011). 2.2.1 Características da Interdependência Complexa – Canais, Hierarquia e Força Militar:

Canais múltiplos conectam sociedades incluindo laços informais entre elites governamentais, não-governamentais e organizações transnacionais, e promovem a intensificação das relações inter-estatais, trans-governamentais e transnacionais. Nesse ponto, as relações internacionais atuais são caracterizadas pela maior troca de contatos, seja em sentido doméstico como também de maior participação de agentes como empresas multinacionais e bancos internacionais que afetam as relações políticas domésticas, bem como as relações inter-estatais (SARFATI, 2011). A participação dos atores inter-estatais se mostra de suma importância, pois estes afetam profundamente a sensibilidade da interdependência entre os Estados. Dessa forma, ao passo em que as relações internacionais passam a apresentar maior número de atores interconectados, cada vez mais os Estados se tornam mais sensíveis em relação à proliferação desses canais múltiplos de relacionamento social internacional. Os canais passam a ser uma forma de compartilhar ideais e alinhar objetivos, assim como passam a ser vistos como atores estratégicos a fim de atingir maiores círculos de influência (NYE, 2009). Esses canais são formados também por grupos de interesse que têm franca participação e força no sistema internacional, se mostram mais ativos, empíricos e burocraticamente mais livres, e justamente por isso podem ser considerados grandes aliados. Pelo fato dos interesses serem diversos, pelos grupos representarem de forma mais empírica aquilo que os próprios países não podem representar e, assim, cobrirem as lacunas de interesses que formam conexões além das fronteiras determinadas, as reivindicações vêm de inúmeros vieses. Também pelo fato dos interesses serem diferentes, as vantagens competitivas, o foco político ou, ainda, o meio no qual cada país ou ator tem mais influência serem únicos de cada ator, é impossível determinar uma hierarquia clara de poder ou influência. Assuntos diferentes discutidos por países diferentes com vantagens e interesses diferentes tornam a análise hierárquica próxima do impossível (KEOHANE; NYE, 1978).

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A ausência de hierarquia entre os assuntos determina que a agenda internacional abrange temas diversos que tangem cada vez menos os temas militares com prioridade. A agenda, portanto, passa a se tornar gradativamente mais complexa à medida que assuntos como cooperação comercial, financeira, ambiental e tecnológica passam a assumir papéis de maior destaque nas relações entre os Estados. As agendas de discussão tornam-se mais cheias, e isso faz surgir a necessidade da criação de agendas pontuais, fóruns de discussão voltados para fins específicos, e maior autonomia de autores de setores domésticos como é o caso de ministros de agricultura, educação e fazenda. A OECD, o FMI e o Banco Mundial são exemplos de instituições internacionais que vêem a necessidade e promovem cada vez mais oportunidades de discussão e aprimoramento de relações específicas por área. Trabalho, saúde, direitos humanos são colocados como pontos primordiais no lugar de defesa. Por outro lado, o sistema urge por maior transparência, maior abertura, maiores relações. Novamente, o poderio militar perde efeito (NYE, 2009). Os custos advindos de uma ação militar envolvem não só o país que faz a ação e o que a recebe, mas todos os outros relacionados, o que torna ainda mais difícil a aceitação e o suporte internacional. A consideração de um ataque militar passa a ser vista com ceticismo, dado que passa a ser claro o quanto todos têm a perder com tal ação. O papel decrescente de força militar delimita que as fontes de poder tornam-se mais diversas, inclusive pela atuação das próprias empresas multinacionais, dando maior espaço a pautas de cunho mais econômico ou ambiental. As ameaças, conflitos e discussões de âmbito militar se tornam irrelevantes quanto trocadas entre atores da mesma região, sobretudo (SARFATI, 2011).. Claramente, existe ainda o receio quanto ao uso de poderio bélico e, para certos fins, determinados países ainda encontram na força militar uma estratégia válida, por vezes até primária. O fato de que o a mudança do papel da força bruta ou hardpower tem efeitos desiguais em países diferentes torna a questão mais complexa no que tange a utilização de aproximações específicas para fins determinados. O que fica claro, portanto, é que o poderio militar é ainda importante, mas apresenta maior especificidade, burocracia e ceticismo quanto ao seu uso, em que agora, deixa de ser colocado como fonte única ou primária na resolução de conflitos. Trata-se das diferenças quanto ao uso da força em áreas de interesse. O uso do poderio militar se limita a ocasiões em que a vidas são colocadas em jogo, explicitamente e somente (NYE, 2009). Para os outros casos, a interdependência pode ser um conceito de

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análise valioso quando colocado frente à mudança de processos políticos e a tomada de decisões (KEOHANE; NYE, 1978).

2.3 PROCESSO POLÍTICO DE INTERDEPENDÊNCIA COMPLEXA

A interdependência complexa destaca os principais pontos que revelam a intensificação da globalização e a maior participação de diferentes atores dentro de um sistema interconectado, com inúmeras influências, diversos assuntos, e uma definição nebulosa de poder. Mais do que o entendimento da situação atual de interdependência, a forma de atuar dentro do sistema de sensíveis relações é o que torna importante a análise da interdependência complexa. Adequar interesses e objetivos políticos com um plano de ação estratégico frente a um sistema interconectado como forma de exercer poder. Tais características principais da interdependência complexa desencadeiam distintos processos políticos de atuação e posicionamento, e transformam o conceito de poder. Dessa forma, Nye (1978) traduz recursos de poder em poder como controle dos recursos. O poder, ou a forma de exercê-lo, dada a sua forma de controle, pode ser obtido de quatro formas: ligação de estratégias; formação de agenda; relações transnacionais e transgovernamentais; e o papel das organizações internacionais. 2.3.1 Vínculos Estratégicos, Agenda, Relações Transnacionais e o Papel das Organizações A perspectiva é que atores transnacionais vão criar diferentes metas para diferentes grupos de assuntos. Os atores devem traçar objetivos distintos levando em consideração cada assunto de forma separada, dado que os níveis de poder e influência são desiguais e dependem do controle sobre adversidades em cada situação (SARFATI, 2011).. Uma vez que os objetivos variam de acordo com a área de atuação, a distribuição de poder e os processos políticos de adequação, da mesma forma, variam. Sob uma perspectiva analista tradicional, os Estados vão procurar criar uma linha de influência com vínculos estratégicos de dominância de forma que um ideal seja disseminado ao longo da cadeia, criando mais adeptos e maior peso. Um Estado com vasto poder militar e econômico, por exemplo, deve dominar uma variedade de organizações e liderar uma diversidade de assuntos ao difundir seus ideais políticos para outros Estados mais fracos, com o discurso impositivo de ameaça do uso da força ou embargo econômico, em âmbito primariamente bilateral. Em uma situação em que o conceito de interdependência complexa se consagra, essa realidade é menos aplicável. Ao considerar que a importância dada ao poderio militar diminui

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significativamente, a profundidade dos vínculos estratégicos e sua relevância também diminuem uma vez que a influência dentro da cadeia se torna menos efetiva em assuntos cuja percepção sobre a relevância é diferente (KEOHANE; NYE, 1978). Em certas questões, Estados dominantes tendem a procurar estabelecer certa interconexão entre os assuntos em pauta. Em uma questão econômica, por exemplo, é possível que um vínculo estratégico dos assuntos seja efetivo, já que é preciso reconhecer que objetivos econômicos têm implicações políticas. Contudo, o vínculo estratégico entre os assuntos nem sempre é palpável. De distinta relevância é o fato de que os atores internacionais são singulares em diferentes assuntos, e possuem interesses distintos em assuntos díspares, e complexos, o que faz necessário que os assuntos tratados em instituições internacionais sejam abordados separadamente. A separação de assuntos em agendas, fóruns e comitês distintos tornam as relações de vínculo estratégico entre os assuntos pouco efetivas. Assim, a influência econômica em um assunto de abordagem ambiental se mostra pouco compatível. Da mesma forma, levantar a questão do poderio militar em um fórum de interpelação social passa a ser irrelevante. Portanto, ao passo em que a utilidade da força bruta declina, e ao mesmo tempo em que assuntos de natureza diversa tomam maior equilíbrio de importância, a distribuição de poder dentro de cada assunto torna-se um aspecto singular e mais disseminado. Se essas conexões se tornam menos efetivas como um todo, o espaço para barganha política vem a ser maior. A diferenciação entre as áreas de discussão na interdependência complexa significa que as conexões entre os assuntos tenderão a se tornar mais problemáticas, promovendo um maior equilíbrio na hierarquia internacional difundida entre diversos assuntos (KEOHANE; NYE, 1978). O papel diminuto da influência entre as áreas de discussão enaltece o fato de que passa a ser incerta a hierarquia entre os atores e imprecisa a hierarquia entre os assuntos tratados. Com isso, os Estados tendem a confiar mais em instrumentos públicos tendo em vista que lá, o poder é descentralizado (SARFATI, 2011). Dessa forma, a formação da agenda de discussão determinando os assuntos e a ordem de abordagem pode ser visto como um ato inicial de barganha e luta pelos interesses vigentes. A formação da agenda, ou a consideração dos assuntos mais importantes a serem discutidos por parte dos atores pode ser influenciada por problemas de expressividade internacional ou doméstica, desencadeados por questões como crescimento econômico,

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adversidades ambientais, ou qualquer tipo de efeito na interdependência sensitiva. Mesmo que as capacidades ou vantagens competitivas dos atores se mantenham em níveis constantes, a agenda é mais flexível e varia de acordo com a importância dada a assuntos discutidos publicamente, de visibilidade internacional. Levar um problema doméstico para ser discutido em plano internacional depende das características políticas, técnicas e burocráticas de cada país. O sistema político, a liberdade de expressão e a participação da imprensa afetam diretamente a forma com a qual um assunto é exposto ou tratado por órgãos governamentais e, conseqüentemente, afetam o modo como o assunto é levado ao internacional. No nível internacional, portanto, é de interesse dos Estados levarem seus problemas e fazer com que eles sejam discutidos. De forma conjunta, o objetivo é fazer com que eles possam ser tratados com relevância e participação internacional. Definir a agenda em plano internacional pode ser considerado um meio de exercer e adquirir poder e notoriedade. A intensificação dos canais de conectividade gradativamente ofusca a diferenciação entre políticas domésticas e internacionais. Quanto mais próxima é uma situação da interdependência complexa, mais se espera que os resultados da barganha política sejam afetados pelas relações transnacionais. As relações transnacionais se mostram mais intensas e concretas por transcenderem as relações governamentais, políticas e partidárias. As relações de cunho transnacionais são formadas tendo como base uma comunicação mais próxima, mais direta e de longo prazo. Corporações multinacionais podem ser significativas tanto como atores independentes quanto instrumentos manipulados pelo governo. As políticas e atitudes desempenhadas por uma companhia podem ser altamente influenciadas pela comunicação e pelos objetivos traçados em solo nacional e desempenhados em solo internacional. Algumas organizações ou grupos podem interagir diretamente com atores em diferentes sociedades ou diferentes governos com o objetivo de aumentar seus benefícios em uma rede internacional de interação, tornando-os assim, menos vulneráveis e menos sensíveis a mudanças que envolvem partes da rede. Essa interconexão é de interesse das companhias que aumentam sua área de atuação e também dos governos que, por meio das companhias, adquirem informações e estreitam maiores relações com o país destino (KEOHANE; NYE, 1978). A ideia de que Estados agem de acordo com seu próprio interesse se quebra quando colocada frente à teoria de interdependência complexa. Pode existir incoerência entre os interesses nacionais e os interesses corporativos. Tal ambigüidade impossibilita a sinergia entre as partes, dificultando a participação internacional e o posicionamento estratégico da

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relação. Estados que apresentam um posicionamento político, institucional e transnacional coerente são mais passíveis de conseguir manipular, influenciar e exercer poder em uma relação de interdependência desigual.

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3. RELAÇÃO BILATERAL ENTRE ESTADOS UNIDOS E CHINA

Historicamente, a relação entre Estados Unidos e China foi, sobretudo, pontuada por momentos de conflito e discórdia. Ao comparar os dois países, de um lado emerge a federação mais antiga do mundo, uma república constitucional federal, de regime democrático-representativo, e maior economia do mundo, cujo produto interno bruto (PIB) nacional de 16,1 trilhões de dólares representa 21% do PIB mundial em 2012 (FMI, 2015). Do outro lado, uma nação de histórico milenar, dinastias antiquíssimas, uma república socialista, e a segunda maior economia do mundo, cujo PIB nacional de 8,4 trilhões de dólares representa 11% do PIB mundial em 2012 (FMI, 2015). Juntos, os dois países são responsáveis por um terço do PIB mundial de 2012. Mais do que duas economias pungentes, o desenvolvimento das relações entre Estados Unidos e China constitui uma das principais engrenagens que podem definir o sistema internacional no século XXI (Martin, 2010). Do lado ocidental, por mais que os Estados Unidos exerçam uma política claramente orientada para impedir o surgimento de qualquer rival que possa desafiar sua supremacia absoluta em questões econômicas e militares, nota-se o reconhecimento do aumento do poder chinês, e maior preocupação em definir orientações estratégicas perante o oriente. Do lado oriental, a China, consciente das suas debilidades em certos aspectos como poluição, energia e desigualdade social (PETTINGER, 2009), multiplica os esforços por minimizar qualquer tipo de enfrentamento direto, assim como estimular o diálogo setorial multilateral e regional com o ocidente.

3.1 HISTÓRIA DA RELAÇÃO ENTRE ESTADOS UNIDOS E CHINA

3.1.1 Cronologia das relações nos séculos XIX e XX Estados Unidos e China representam, respectivamente, a primeira e a segunda maior economia do mundo. O sistema econômico de caráter liberal por parte dos Estados Unidos, caracterizado por forte investimento em infraestrutura, logo após a guerra civil, além do posicionamento estratégico no que diz respeito às duas grandes guerras, podem ser considerados os responsáveis pelo crescimento notório dos Estados Unidos no sistema internacional (BADEN, 2013). Por outro lado, também é justificável que o sistema político sólido da China, que determina áreas e instituições voltadas para a produção e o desenvolvimento comercial, e as reformas sistêmicas corroboradas pela abertura econômica

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em meados dos anos 70, suporte o que hoje é a segunda economia mundial, economia que mais cresceu nos últimos 10 anos (BADEN, 2013). As primeiras relações de compra e venda entre Estados Unidos e China têm registro ainda no século XIX. O primeiro produto comercializado, embora inicialmente ilegal, foi o ópio, iguaria asiática que fez emergir o interesse ocidental – inicialmente britânico – no território chinês pela possível margem de lucro do comércio estrangeiro (KISSINGER, 2011). O crescente número de comerciantes britânicos e norte-americanos que adentravam os portos de Guangzhou e seu crescente poder de barganha alarmou as autoridades chinesas, lideradas pela dinastia Qing que, em resposta, na tentativa de afastar os comerciantes ocidentais, cortaram o suprimento de ópio e exigiram a destruição do produto em posse dos britânicos. O conflito gerou a chamada Guerra do Ópio, entre 1839 e 1842, e resultou no primeiro tratado estabelecido entre o Ocidente (Grã-Bretanha) e o oriente (China) visando a manutenção pacífica das relações comerciais. O Tratado de Nanking representa o momento em que a presença americana na China teve significativo impacto sobre as relações comerciais entre ambos os países e tendia a aproximar os dois atores (GUO, 2010). O tratado estabelecia que o sistema de trocas vigente, em que apenas os comerciantes licenciados tinham o direito de vender em áreas estabelecidas, seria substituído por um mais liberal. Além disso, instituía que outros quatro portos seriam abertos (incluindo Shangai), solidificando a base para a expansão das trocas comerciais, e garantia o status de Nação Mais Favorecida aos britânicos. O Tratado de Nanking, portanto, passou a ser considerado um modelo para os subsequentes tratados entre o ocidente e o oriente (HISTORY OFFICE, 2006). Dois anos depois, em 1844, o mesmo tratado foi estabelecido com os norte-americanos (assim como o status de Nação Mais Favorecida), o que marca, oficialmente, o começo das relações diplomáticas entre Estados Unidos e China (KISSINGER, 2011). Em 1862, seria estabelecida a primeira embaixada norte-americana em solo chinês, comandada pelo ministro Anson Burlingame e, em seguida, em 1868, Chen Lanping comandaria a primeira missão diplomática chinesa nos Estados Unidos. A missão chinesa foi responsável pelo firmamento do Tratado de Burlingame. O tratado previa, sobretudo, a livre circulação de pessoas entre as duas nações. Dez anos depois, em 1878, seria estabelecida a primeira embaixada chinesa em solo estadunidense (HISTORY OFFICE, 2006). Logo após o firmamento do tratado de Wang-Hsia, o fluxo de pessoas aumentou consideravelmente. Especialmente durante a corrida do ouro na California, em 1849, trabalhadores estrangeiros se encaminhavam aos Estados Unidos para trabalharem em minas e

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estradas de ferro com a esperança de se beneficiarem dos pontos de extração recémdescobertos. O aumento do fluxo de pessoas, assim como o fluxo de capital, além de ressaltar as diferenças culturais e laborais, destacou a necessidade de regularizar as relações entre os dois países, que se mostravam cada vez mais integrados. O fluxo era majoritariamente relacionado ao crescimento do desenvolvimento comercial entre as duas nações. No entanto, muitos dos chineses que embarcavam com destino aos Estados Unidos tinham objetivos acadêmicos, de estudar nas universidades norte-americanas (KISSINGER, 2011). A questão da imigração foi levada ao congresso dos Estados Unidos que estabeleceu pela primeira vez em 1875, restrições ao deslocamento dos imigrantes chineses. O ato, futuramente chamado de Ato de Exclusão Chinesa, visava suspender a imigração chinesa nos Estados Unidos, com o intuito de proteger a mão de obra local, e assegurar maior participação de comerciantes norte-americanos, mesmo que violando o espírito dos tratados firmados até o momento (HISTORY OFFICE, 2006). Paralelamente aos atos discutidos no congresso, a população sentia os efeitos do crescente número de imigrantes chineses, principalmente no aumento das taxas de desemprego, o que gerou atos xenófobos de revolta da população estadunidense. Nas grandes cidades norte-americanas, a população reprimia os imigrantes chineses e, em determinados locais, houve casos de agressão em massa, e depredação de patrimônio que se tornavam frequentes. O Ato de Exclusão e a revolta da população compeliram as autoridades americanas e chinesas a assinarem o Tratado de Bayard-Zhang, em 1888, que reiterava a proibição total da migração de chineses aos Estados Unidos até 1902 (ERHART, 2011). Logo após, em 1894, as forças japonesas de Meiji e chinesas de Qing entraram em conflito sobre controle e influência na Coreia, resultando na primeira guerra sino-japonesa. A vitória japonesa trouxe pela primeira vez, uma mudança no domínio regional no leste asiático, passando da China para o Japão. O Japão tomou controle de Taiwan e, assim como os Estados Unidos, foi privilegiado com direitos de entrada e produção em solo chinês. O prestígio da dinastia Qing foi questionado, ao passo em que a China mostrava pontos de fraqueza em sua frota militar antiquada, e desequilíbrios nos sistemas político e de educação (KISSINGER, 2011). Com a derrota chinesa, diversas nações tiveram seus interesses multiplicados na região e procuraram se tornar parte de maiores esferas de influência na China. Com maior participação do sistema internacional, os Estados Unidos viram sua influência e exclusividade ameaçada. Além disso, com maior participação e interesse internacional, a probabilidade de

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projetar mudanças no sistema econômico e político chinês parecia maior, o que colocava a nação chinesa em risco. Com medo de que o sistema de livre comércio chinês fosse comprometido, e com receio de que uma China enfraquecida pudesse desestabilizar toda uma região até então controlada, os Estados Unidos se posicionou a favor da manutenção da integridade territorial chinesa, e da preservação do livre comércio com oportunidades iguais para todas as nações (GUO, 2010). Pela primeira vez, no ano de 1900, os Estados Unidos articulou um pronunciamento sobre a China em assuntos oficiais de política externa (KISSINGER, 2011). A crescente presença estrangeira na enfraquecida China fez emergir um sentimento nacionalista chinês que priorizava a reconstrução da nação, independente de auxílio ou qualquer influência externa. A reconstrução envolvia a expulsão de estrangeiros em solo chinês, e a consequente diminuição drástica das importações. Urgiam movimentos xenófobos nas grandes cidades e diversos boicotes contra mercadorias e comerciantes norteamericanos. O principal movimento a chamar a atenção das autoridades chinesas e fazer emergir a necessidade de reforma foi a chamada Revolta dos Boxers. Tratava-se de uma rebelião anticolonialista e pró-nacionalista, formada inicialmente por lutadores de artes marciais que se mostravam indignados com os privilégios fornecidos aos estrangeiros em solo chinês. Os manifestantes ocuparam a capital Pequim, onde realizavam atentados contra estrangeiros e chineses convertidos aos ensinamentos e à cultura ocidental, com o intuito de exigir reformas administrativas na dinastia, maior devoção à cultura e às tradições locais, e a expulsão dos estrangeiros. O movimento foi contido com a investida conjunta de nações ocidentais como a França e a Alemanha, mas abriu precedente para a insatisfação da população em relação aos seus governantes (KISSINGER, 2011). No início do século XX, em meio à crescente desordem civil na China, Qing aprovou e pôs em prática novas medidas políticas de desenvolvimento da nação. As medidas foram chamadas de “Reformas Tardias de Qing”. Tardias, principalmente pelo fato dos cofres públicos terem sido severamente reduzidos após a guerra sino-japonesa e a formalização de dívidas financeiras com diversas nações (HISTORY OFFICE, 2006). As medidas incluíam em linhas gerais a reconstrução de um sentimento de nacionalização e devoção à dinastia e a modernização física do espaço e das instituições, sobretudo no campo militar (HISTORY OFFICE, 2006). As reformas políticas priorizavam também a reestruturação do sistema político, com novos escritórios, promovendo maiores poderes e centralização decisória aos

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governantes. Foram criados a superintendência de relações políticas, o ministério de política externa, o ministério do comércio, o escritório de treinamento militar, e o ministério da educação, que tiveram, separadamente, responsabilidades de criação e reformulação dos sistemas de sua alçada (HISTORY OFFICE, 2006). Apesar das fracas condições financeiras da dinastia Qing no início do século, os gastos para a implementação das reformas dobraram, ao passo em que as contas públicas, já deficitárias, tornaram-se ainda mais negativas. Como resultado, Qing enfrentava crescentes dificuldades para realizar reformas de longo-prazo. As medidas legais, como a criação de cortes regionais e medidas educacionais, como a modernização das escolas não puderam ser realizadas. O exército havia crescido de forma descentralizada, e se tornaram praticamente independentes do controle da capital. Ao final de 1911, por não conseguir realizar as medidas apresentadas, a dinastia sofria com contínuas revoltas por parte da população comandadas por Sun Yat-sen, e investidas militares tomaram a capital. Isolada e enfraquecida, a dinastia Qing abdicou de seu poder com a proclamação da República da China (KISSINGER, 2011). Os militares tomaram o governo chinês e, de imediato, adotaram medidas protecionistas, com o objetivo primário de refazer os cofres públicos. A queda da dinastia deixou o país enfraquecido e vulnerável, e tornou-se alvo potencial de outras nações que procuravam assim, desenvolver relações mais próximas que pudessem resultar em benefícios comerciais. No leste asiático, a balança de poder entre o Japão e a China apresentava uma nova fachada. Ambos disputavam espaço territorial e de poderio regional, mas o Japão apresentava uma frota militar mais moderna, e infraestrutura logística mais avançada, se tornando, assim, maior foco de investimento internacional da região. A nova ordem de poder no leste asiático alarmou as forças norte-americanas, que viam o Japão se fortalecer no desenrolar da primeira guerra mundial. Em Washington, assuntos relacionados ao leste asiático eram cada vez mais colocados em pauta como, a manutenção da soberania territorial chinesa e tamanho da frota naval (KISSINGER, 2011). Com o final da primeira guerra e o estabelecimento do Tratado de Versailles, em 1919, a China, que havia se juntado aos aliados, tinha esperanças de retomar o controle sobre diversas concessões germânicas incorporadas pelo Japão. No entanto, as expectativas chinesas não foram supridas, gerando, novos movimentos nacionalistas urbanos, que combinavam a urgência de reformas culturais e educacionais na nação, além de trazerem, novamente, uma nova energia necessária para efetuar as aclamadas transformações políticas e sociais.

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Com o objetivo de discutir as reformas necessárias para o desenvolvimento chinês, em meados de 1921, grupos políticos extremistas se reuniram em Xangai, onde estavam presentes também os atuais conselheiros partidários da União Soviética, e Sun Yatsen, representante do Partido nacionalista. Em julho de 1921, em contrapartida, foi formado o Partido Comunista Chinês (HISTORY OFFICE, 2006). Quatro anos depois, em 1925, com a morte de Sun, o Partido Nacionalista foi deixado aos comandos de Chiang Kai-shek. Chiang lutava pelo desenvolvimento de uma ideologia nacionalista que, em sua perspectiva, só poderia ser alcançada por meio da criação de um governo de viés militar. Com o crescimento da base aliada de Chiang, as forças do Partido Nacionalista tomaram Pequim e Nankim, isolando e enfraquecendo os aliados Comunistas. Os movimentos de tomada das cidades e o isolamento do partido Comunista iniciou um estado de guerra civil que perduraria pelos próximos 30 anos. Os Estados Unidos, por sua vez, reconheceram o novo regime chinês, conduzido pelo Partido Nacionalista. Poucos anos depois, em 1933, Chiang coloca os planos da reforma chinesa em prática, inicialmente no setor da agricultura. A reconstrução rural teve considerável auxílio de nações ocidentais, sobretudo dos Estados Unidos e focava a reestruturação das áreas antes ocupadas pelos seguidores do Partido Comunista que, em paralelo, se reorganizavam na cidade de Xi’an, sob comando de Mao Zedong (GUO, 2010). Ao passo em que a China vagarosamente procurava implementar seus planos de reconstrução, embora ainda enfraquecida em termos financeiros e recém reformada em questões políticas, do outro lado da Manchúria, o Japão encarava um crescimento econômico e de influência na região. Com fortes pretensões imperialistas, em 1937, o Japão invade a China e inicia a ocupação do território chinês, iniciando a invasão pela Manchúria, até a costa de Xangai. Com o avanço das tropas e a ocupação de Nankim marcando o ponto ápice dos ataques japoneses, o governo Nacionalista se viu ameaçado pelas largas proporções que tomava a então chamada segunda guerra Sino-Japonesa (KISSINGER, 2011). Os Estados Unidos, por sua vez, preocupavam-se com o crescimento do poderio japonês, sobretudo com o ideal imperialista, que lutava pela conquista territorial regional, e o status de superpoder. Com o intuito de frear a invasão japonesa e fortalecer as defesas chinesas, os Estados Unidos enviou pacotes de auxílio financeiro superiores a US$ 100 milhões. Não somente financeiras, as contribuições visavam o desenvolvimento da infraestrutura local fabril. Foi assim instituída a organização Indusco (Industrial Cooperatives), responsável pela criação de pequenas fábricas que auxiliariam a oferta de

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suprimentos alimentícios e militares às forças chinesas (GUO, 2010). Tal contribuição foi direcionada e abraçada por ambos os partidos, nacionalista e comunista, enquanto cooperativas eram criadas por todo o território chinês. Concomitantemente, os Estados Unidos realizavam embargos frequentes contra a nação japonesa, pressionando-a a suspender as ofensivas na China. Os pontos terrestres onde foram instituídas as cooperativas, futuramente foram utilizados pelas forças aliadas na segunda guerra como pontos estratégicos nos ataques contra o Japão pelos Estados Unidos. Em meados de 1941, esquadras de aviões americanos foram enviadas à China para aumentar as chances de defesa contra os ataques aéreos do Japão. No final do mesmo ano, com o ataque à baía de Pearl Harbor, os Estados Unidos entraram oficialmente na guerra ao lado da China. Foi formada uma aliança de guerra, e estabelecido um acordo que visava que a soberania chinesa sobre as terras conquistadas pelo Japão seria reconhecida, incluindo a Manchúria e Taiwan. A aliança foi base para a assinatura de tratados amistosos como o término formal da extraterritorialidade, depois de 100 anos; e a permissão da imigração chinesa depois de 60 anos proibida (KISSINGER, 2011). Com o final da Segunda Guerra Mundial, dada a devastação japonesa em solo chinês, o conflito civil entre nacionalistas e comunistas, que havia sido amenizado, foi retomada. Os ataques contra o governo tinham maior efeito dadas as sequelas deixadas pela guerra contra o Japão. Ao final da década, em 1949, o Partido Comunista Chinês derrota o governo nacionalista e proclama o controle do país, e institui o nascimento da República Popular da China (GUO, 2010). Os representantes e seguidores do partido nacionalista foram afastados e recuaram para Taiwan, onde restituíram a República da China. Os Estados Unidos manteve relações com Chiang e o partido nacionalista, que programava reformas econômicas no recéminstituído governo em Taiwan. Além do auxílio financeiro, foram enviadas tropas navais à costa taiwanesa, de modo que os representantes nacionalistas pudessem se manter ativos, protegendo Taiwan. Dessa forma, os Estados Unidos confirmavam seu comprometimento em defender Taiwan das forças comunistas, intensificando o desequilíbrio ideológico entre a República Popular e as nações ocidentais (KISSINGER, 2011). Em busca de um rápido desenvolvimento econômico embasado nos alicerces soviéticos, Mao Zedong iniciou, em 1958, o movimento chamado de Grande Salto Adiante. O movimento visava a organização da costa rural em grandes comunas e indústrias de trabalho intensivo voltadas somente à produção de matéria-prima como alimentos, ferro e aço, onde a terra utilizada seria coletivizada. Apesar da alta produtividade, a qualidade do produto final

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era baixa e frequentemente inutilizada, gerando períodos de fome e miséria, ao passo em que a República Popular enfrentava um de seus maiores colapsos econômicos até o momento (NYE, 2009). Em paralelo, ocorria a guerra do Vietnam. Com o intuito de conter a disseminação do comunismo, os Estados Unidos davam suporte a FLN (Frente de Liberação Nacional), no Vietnam do Sul, enquanto as forças de Mao e da União Soviética suportavam as forças do ENV (Exército Nacional do Vietnam), no Vietnam do Norte. Iniciava-se, então a corrida armamentista pelo desenvolvimento de poderio bélico, com frequentes ameaças de ataques nucleares, sobretudo entre Estados Unidos, China e União Soviética, que resultaria na Guerra Fria. A presença norte-americana e chinesa tomou grandes proporções, e a guerra passou a envolver países vizinhos como Laos e Camboja. Com os esforços voltados para a guerra que era travada no Vietnam, em 1966, Mao põe em prática a chamada Grande Revolução Cultural do Proletariado, com o intuito de reascender o espírito revolucionário da nação. O ato movimentou principalmente a classe jovem de estudantes na China que viam um futuro chinês com pouca perspectiva em termos de trabalho e desenvolvimento econômico. O resultado de desenvolver o espírito revolucionário em uma população descontente e sem perspectiva, foi uma década de caos civil nas principais cidades da China. A pressão popular fez com que o governo procurasse alternativas de conter a população. Entre as alternativas, enviar os grupos organizados a centros de reeducação social. As medidas acabaram por afetar a economia local e dividir o partido comunista (GUO, 2010). A queda da popularidade de Mao e a quebra das relações entre a China e a União Soviética deu espaço para que os Estados Unidos direcionasse novamente sua política externa em relação à China. Em 1968, Richard Nixon foi eleito presidente dos Estados Unidos com um plano de governo cujo discurso fomentava a retirada das tropas americanas do Vietnam. Além da retirada, a doutrina Nixon promovia a redução do comprometimento militar na Ásia e a consequente diminuição das tensões políticas entre China e Estados Unidos (KISSINGER, 2011). Pautado nesse discurso amistoso, em 1972, Nixon e Kissinger fizeram uma viagem até Pequim, onde se encontraram com Mao Zedong e Zhou Enlai com o objetivo de alinhar os ideais e objetivos a respeito de diversas pautas inacabadas. Por exemplo, o posicionamento e oposição em relação à União Soviética, e a retirada das tropas americanas

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de Taiwan. O encontro pode ser considerado como o início do processo de normalização das relações entre os Estados Unidos e a República Popular da China (ZHU, 2012). Ao passo em que ambos os principais representantes da República Popular, Mao e Zhou encaravam problemas de saúde, o presidente Nixon enfrentava escândalos internos em seu governo. De um lado, Nixon resignou de sua posição como presidente (1974) e Jimmy Carter assumiu o governo, enquanto do outro, Mao e Zhou faleceram (1976), deixando a liderança da China nas mãos de Deng Xiaoping, até então secretário-geral do Partido Comunista Chinês (GUO, 2010). Com a retomada das negociações, no final de 1978, Carter e Deng formalizaram um acordo e um comunicado conjunto que estabelecia relações diplomáticas plenas entre os dois governos. No acordo, os Estados Unidos reconhecia a República Popular da China como único governo vigente e afirmava o reconhecimento de Taiwan como parte da China. Concomitantemente, os Estados Unidos quebrava relações com o Partido Nacionalista (KISSINGER, 2011). Após formalizar as relações externas da China, Deng Xiaoping pôs em prática seus planos para desenvolver a economia chinesa, estagnada até então, com a realização de uma série de reformas econômicas. Um dos principais aspectos do desenvolvimento se baseava em abrir as portas da China para empresas estrangeiras privadas com o objetivo de conseguir maiores entradas de investimento externo, ato que ficou conhecido como Política de Portas Abertas, representando o início da abertura econômica chinesa, e promovendo a criação de uma economia de mercado.

3.1.2 Abertura Econômica Chinesa

O início da transformação da China que resulta no desenvolvimento econômico do país se deu após a realização de grandes reformas econômicas e principalmente depois da abertura geral de sua economia. A produção inteiramente determinada e controlada pelo governo central teve seu fim com a morte do líder Mao Zedong. Deng Xiaoping delineou novas características à economia ao introduzir uma reforma que, aos poucos, mudaria o funcionamento da estrutura regente até o momento (ZHU, 2012). A transformação se deu em duas movimentações chave que tiveram desenvolvimento gradativo ao longo dos anos seguintes. Primeiramente a reforma do setor

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agrícola e, em segundo lugar, uma reforma no setor industrial. O líder Deng direcionou, inicialmente, o foco da reforma no setor agrícola, setor esse, de produção abundante. Restrições à produção e impostos foram severamente diminuídos; alto investimento em desenvolvimento tecnológico intensificou a produção interna e; a responsabilidade sobre a propriedade dos meios de produção foi direcionada para os próprios agricultores, e não mais para os governos locais. Tais mudanças projetaram o aumento da renda familiar, e provocaram consequentemente, o aumento dos investimentos, da poupança, e da demanda total de bens no país (MARQUÊS, 2011). Já na década de 80, as reformas foram direcionadas ao setor industrial. Tais reparos admitiram a entrada de empresas privadas estrangeiras em solo chinês como meio de desenvolver a retardada indústria asiática. A abertura territorial a empresas estrangeiras foi uma grande oportunidade para empresas ocidentais adquirirem novos mercados no crescente mercado chinês. As empresas foram autorizadas a reter uma parcela dos lucros como incentivo pelo seu desempenho local e, as cidades litorâneas foram abertas ao comércio exterior e ao investimento estrangeiro. A reforma industrial atraiu o investimento estrangeiro direto com abundância de capital e a atuação de novas empresas. Novas tecnologias, técnicas de produção e gestão foram apresentadas e absorvidas pelas empresas chinesas, tornado-as mais capacitadas e competitivas. As indústrias de tecnologia, infra-estrutura, transporte e energia foram positivamente modificadas e incorporadas após a abertura. Os preços tornaramse mais flexíveis, decorrência da maior competição, e os salários mais brandos, sequela da ampliação dos postos de trabalho e das competências dos profissionais asiáticos (CHRISZT, 2005). O desenvolvimento da indústria ocorreu de forma acelerada, principalmente na China, mas ao mesmo tempo, as nações asiáticas se aproveitavam do crescente movimento de empresas ocidentais que expandiam seus mercados para também aumentar sua participação. Na abertura econômica chinesa, economias como a do Vietnã, Índia, Japão e Coreias muito se desenvolveram, e fizeram de seus respectivos países importantes focos de produção (JACQUES, 2012). As cidades ao longo da costa que inicialmente receberam investimento estrangeiro foram consideradas Zonas Econômicas Especiais, título que se mantém até os dias de hoje. As zonas tiveram ainda suas tarifas reduzidas substancialmente, assim como o controle sobre as trocas comerciais locais. Por meio do comércio exterior, capital estrangeiro e tecnologia internacional adentravam o território chinês com cada vez mais volume e facilidade. Ao

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mesmo tempo, a manufatura chinesa se desenvolvia a passos largos, fazendo da China, grande produtor de artigos têxteis, eletrônicos, e de pouco valor agregado (MARQUÊS, 2011). A China tornou-se, na Ásia, um centro de produção regional e de industrialização para exportação de produtos anteriormente importados. Grande parte das importações chinesas passou a vir de outros países asiáticos e, na mesma intensidade, um aumento significativo nas exportações corria para nações desenvolvidas no ocidente, como Europa e Estados Unidos (JACQUES, 2012). Entre 1990 e 2000 as exportações cresceram, em geral, quase 300%, enquanto as importações, 318%. Nesse mesmo período, as exportações da China somente para os Estados Unidos cresceram 880%, e as exportações dos Estados Unidos para China, quase 230%. Nesse período, elevaram-se muito os investimentos estrangeiros diretos na China. Na década de 80, a média desses investimentos no país era de menos de US$ 5 bilhões por ano, enquanto durante a década de 90 esse número aumentou para quase US$ 30 bilhões. Em 2004, o total dos investimentos estrangeiros diretos foi de pouco mais de US$ 60 bilhões, de acordo com o Ministério do Comércio da China. Cada vez mais, o gigante asiático se mostra comprometida a expandir suas atividades comerciais no cenário internacional, empenhado em ser reconhecido como economia de mercado. Tal objetivo foi corroborado em dezembro de 2001, com a admissão da China na Organização Mundial do Comércio (OMC). Tarifas e barreiras comerciais têm sido gradativamente reduzidas em acordo com compromissos firmados junto à OMC. Já em 2004, as autoridades governamentais adotaram medidas de retenção do aquecimento excessivo da economia. Para tanto, as reservas obrigatórias das instituições financeiras foram elevadas, limitando os investimentos e diminuindo os empréstimos; e restringiu a utilização da terra para somente alguns setores da economia, como é o caso do setor imobiliário, de aço e cimento. Apesar das medidas de retenção, o crescimento real do PIB em 2004 permaneceu, conforme previsto, em 9,5%, a maior taxa desde 1996 (CHRISZT, 2005).

3.1.3 Guerra ao Terror e efeitos na relação sino-americana

Na manhã de 11 de setembro de 2001, uma série de ataques terroristas coordenados pelo grupo islâmico extremista Al-Qaeda reverberou a comoção e o pavor mundial. Os ataques ao maior centro financeiro e comercial do mundo, Nova Iorque

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desencadeou uma política preventiva iniciada nos Estados Unidos de guerra mundial contra o terror (popularizada simplesmente como guerra ao terror). A política desempenhada no governo George W. Bush vinculava uma campanha global junto aos membros da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), a favor da destruição da Al-Qaeda e de outras organizações militares extremistas. A maneira com a qual os Estados Unidos utilizaram a retórica da guerra contra o terror para direcionar uma resposta aos ataques de 11 de setembro, segundo Joseph Nye (2001), permitiu reunir uma base extensa de suporte nacional, baseada em um sentimento patriota enraizado e fortalecido nos Estados Unidos. Tornou-se perceptível a mudança de ênfase no que diz respeito às ameaças consideradas pelos Estados Unidos. Até a virada do século, era plausível o discurso realista de que a maior ameaça à segurança estadunidense poderia ser o crescimento do poderio militar russo, ou a diversificação bélica chinesa e norte-coreana. Após os ataques, no entanto, ressaltou-se que a principal ameaça corrente não havia sido levantada por um Estado, mas em vez disso, por um grupo não estatal surgido da marginalização social. Segundo Paul Kennedy (2002), em uma entrevista ao jornal japonês Yomiuri Shimbun, no século XXI, “não só serão mais frequentes os ataques oriundos dessa natureza, como será mais difícil reagir adequadamente às essas ameaças”, ressaltando o fato de que as relações transnacionais têm um papel cada vez mais significativo no sistema internacional (VADELL, 2011). Os esforços em desenvolver coalizões aliadas na guerra contra o terror foram em sua maioria suportados, contudo, sobretudo na região do pacífico, os Estados Unidos enfrentaram certa dificuldade nas negociações, dada a diversidade dos interesses domésticos de cada país, como foi o caso da China (MORAN, 2008). A região do leste asiático foi preenchida por tropas e conexões estadunidenses de forma estratégica. Na região, o destino de suprimentos militares estadunidenses é variável, principalmente porque a ameaça terrorista pôde ser percebida em regiões diversas, desde o golfo pérsico, até o mar indiano. Após ataques pontuais e reconhecidos como terroristas nas Filipinas e na Indonésia, a necessidade de estabelecer relações mais próximas e desenvolver acordos e conexões estratégicas em toda a região aumenta consideravelmente (VADELL, 2011). Segundo Wah, “se as necessidades militares servem para sublinhar a interligação entre a região e os Estados Unidos, a globalização do terrorismo e a expansão do alcance da rede Al-Qaeda servem para lembrar as sociedades de sua vulnerabilidade em relação a um potencial ataque” (2003). Nota-se que o senso de insegurança interna, vulnerabilidade regional e exposição ao terrorismo aumentam de forma geral na primeira metade da década. A

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Índia, por exemplo, passa a ter maior participação internacional (ASEAN), sobretudo pela sua economia pungente, como também foi um dos principais países a se beneficiar da presença norte-americana na região e por fortalecer a cooperação em meios de segurança com os Estados Unidos nas fronteiras com o Paquistão. Os Estados Unidos, assim, ganham acesso a diversas bases militares e usufruem da presença direta no Afeganistão (CHAZIZA, 2014). As relações entre Estados Unidos e China passaram por precisas mudanças, sobretudo positivas após a fatídica data de 11 de setembro. Oferecido o suporte tanto ideológico quanto prático, como membro do Conselho de Segurança da ONU, dado pela China à Guerra ao Terror, o discurso de ameaça chinesa foi extremamente diminuído. A resposta colaborativa por parte de Pequim em relação aos Estados Unidos foi na direção contrária ao panorama de crescente tensão das relações bilaterais, e foi especialmente importante para o sucesso da estratégia norte-americana na região. Ao considerar o Conselho de Segurança, no início das investidas na guerra ao terror, os Estados Unidos eram claramente dependentes da cooperação chinesa (considerando que a China tem poder de veto e que, até a data em questão, frequentemente apresentava posicionamentos contrários aos de Washington). O envio de tropas militares estadunidenses para certas regiões da Ásia claramente poderiam considerar ameaças aos seus interesses nacionais. Em paralelo, assuntos relacionados aos Direitos Humanos minimizados e tratados de forma mais branda (VADELL, 2011). O suporte chinês inclui, de forma controlada, a troca de inteligência e informação, abrigo militar, e auxílio financeiro na reconstrução pós-guerra dos países afetados. Além disso, a preocupação e importância dada às tensões no estreito de Taiwan se tornaram menos críticas, ainda que as circunstâncias em parte justificassem a presença da marinha americana no mar chinês (MORAN, 2008). Mesmo que os interesses e objetivos de ambos os países tenham se mantido igualmente objetivos, invariáveis e contrastantes, naquele momento, o tópico de Taiwan não se tornara um impasse. Em soma, o presidente George W. Bush anunciou durante a visita do presidente asiático que não suportaria a independência de Taiwan, solidificando o caminho para a retomada dos diálogos a cerca da cooperação militar. O presidente americano ao discursar no Estado da União, ressaltou que “nesse momento de grande oportunidade, um perigo comum está extinguindo antigas rivalidades” (FONTE, 2002). Havia receios por parte dos países asiáticos de que a presença estadunidense no Oriente-Médio pudesse gerar iniciativas pró-democracia na China. Os receios foram

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rapidamente mitigados, depois que os Estados Unidos passaram a desenvolver acordos de cooperação e trabalhar de forma mais próxima a China no que diz respeito ao envio de suprimentos à região, contribuindo também com a diminuição do sentimento de antiamericanismo nutrido na China (CHAZIZA, 2014). O fato de a China ter se tornado um fator menos crítico para os Estados Unidos coincide com o interesse chinês de evitar qualquer complicação externa, ao passo em que ambos os países passam por uma transição de liderança doméstica, e procuram adquirir maior reconhecimento internacional como grande poder equilibrado e responsável (WANG, 2010) O foco estadunidense em enviar tropas ao Oriente Médio e desenvolver os meios de defesa nacionais comprometeram grande parte das contas públicas excedentes. Figura 1 – Orçamento Militar dos Estados Unidos entre 1996 e 2014

USD bilhões de dólares

800 700 600 500 400 300 200 100 0 1995

2000

2005

2010

2015

Fonte: Banco Mundial, 2014.

Apesar da clara intensificação do sentimento nacionalista, e da inerente preocupação e investimento com segurança nacional, contribuindo para a diminuição do volume de trocas comerciais, o desenvolvimento do comércio e da cooperação internacional não se tornaram assuntos de agendas secundárias. De fato, a disseminação da campanha de guerra ao terror foi em grande parte baseada no discurso da cooperação e do estreitamento das relações internacionais em favor do combate às forças extremistas que ameaçam as relações pacíficas entre as nações (WANG, 2010). O período de guerra ao terror e as iniciativas norte-americanas de combate ao terrorismo pode ser considerado um momento substancial para a definição de como hoje é

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percebido e analisado o sistema internacional, marcando pontualmente a mudança na balança de poder. É possível tracejar quatro aspectos principais desencadeados pela guerra ao terror na relação entre Estados Unidos e China. Em primeiro lugar, entende-se que o foco estadunidense na Ásia diminuiu drasticamente, ao ponto em que a política externa voltada fortemente para a contenção do terrorismo negligenciou a importância de assuntos secundários, como foi o caso da ascensão chinesa. O direcionamento estadunidense no Oriente Médio permitiu que a China realizasse grandes avanços na modernização militar, aprofundasse os laços econômicos com os outros países do leste asiático, aumentasse sua presença na África, desempenhasse uma política monetária com alto controle sobre as variações cambiais, entre diversas outras questões. Sugere-se que o distanciamento dos Estados Unidos em tratar desses assuntos de forma mais empírica, propiciou um terreno mais favorável para a atuação e o crescimento chinês (VADELL, 2011). Em segundo lugar, é possível compreender que as iniciativas desempenhadas na guerra ao terror reduziram drasticamente a poupança estadunidense, e não puderam ser traduzidas em retorno financeiro, diminuindo assim o orçamento direcionado para a realização de qualquer outra política que poderia e/ou deveria ter sido efetivada. O gasto com as guerras de anti-terrorismo contabilizaram mais de US$ 1 trilhão do tesouro nacional no Afeganistão e no Iraque, que poderiam ter sido mais bem aproveitadas de forma estratégica com a emergência de uma eventual rivalidade mais acentuada entre as duas potências (BANCO MUNDIAL, 2014). Em terceiro lugar, a política externa norte-americana contra o terror, historicamente é compreendida como Hard Power, intrínseco no modus-operandi estadunidense. A utilização do Hard Power ocidental ocorre ao mesmo tempo em que o oriente desenvolve o seu poder de influência Soft Power. Nesse caso, o foco na guerra contra o terrorismo contrastava nitidamente e desfavoravelmente com a ênfase na discussão sobre desenvolvimento econômico, fomentada por Pequim (WANG, 2010). O mesmo pensamento era compartilhado pelas economias asiáticas, que tratavam as ameaças terroristas como assunto secundário, e objetivavam as pautas de cunho econômico, desenvolvendo pautas de maior convergência com os interesses chineses, do que com os interesses de Washington. O Hard Power americano e os meios utilizados na contenção do terrorismo eram por vezes criticados pelos seus aliados por serem atos repudiados pelo próprio governo e pelas leis

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estadunidenses, apresentando inconsistência com os ideais do modelo americano (VADELL, 2011). Em quarto lugar, de forma bastante relacionada, os Estados Unidos ficaram impossibilitados de pressionar certas metas com o intuito de modelar o comportamento chinês. As frequentes críticas ao regime chinês sobre questões de Direitos Humanos foram revertidas para os Estados Unidos a partir de tópicos como a manutenção das prisões de Guantánamo e Abu Ghraib, invasão de privacidade e o controle das liberdades civis. No campo dos Direitos Humanos, ambos os países foram alvos de críticas pelas suas condutas que visavam a legitimação de ações repressivas durante a guerra ao terror. (WANG, 2010) Apesar de, durante dado período, ambos os países tenderem ao agravamento e distanciamento das questões de direitos humanos, os Estados Unidos perderam a vantagem da base moral para sustentar as acusações contra a China. Ademais, se a política externa americana considera que o desempenho de políticas em linha com a Declaração de Direitos Humanos é um passo para a democratização, estreitamento e maior controle sobre o desenvolvimento chinês (VADELL, 2011), a guerra travada pode ser considerada mais um marco para o desvio dos interesses dos Estados Unidos. Enquanto a guerra ao terror salienta a reorientação das políticas externas e da relação entre Estados Unidos e China, percebe-se que ambos enfrentaram riscos inerentes à segurança nacional, mas que se desencadearam em riscos de conteúdo muito mais políticoideológico, com grande variação no campo de influência e poder relativo (WANG, 2010). Os Estados Unidos urgiram mais uma vez seu poderio militar e incitaram um Hard Power gritante, ao passo em que a China utilizou do momento para desenvolver seu Soft Power na região, sem que o foco econômico fosse esquecido, como pareceu ter sido o caso dos americanos. Finalmente, após um notável arrefecimento da comoção dos ataques de 11 de setembro, e das investidas na guerra ao terror, é possível ver uma tentativa de renovação da ênfase em questões relacionadas à China, sobretudo ao seu notório desempenho econômico. A questão econômica é rapidamente retomada tendo em vista que os gastos inerentes da guerra ao terror foram excessivos a ponto de corroer as contas estadunidenses. A situação econômica crítica clamou pelo desenvolvimento de políticas domésticas que fomentassem o consumo local rápido e robusto. As políticas de fornecimento de crédito e a busca pelo rápido reaquecimento da economia culminaram, em meados de 2007, em uma grande recessão econômico-financeira, que foi chamada de “Crise dos Subprimes”.

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3.2 CRISE FINANCEIRA DE 2008

A crise financeira de 2008, também chamada de Grande Recessão, pode ser considerada a maior recessão desde a Grande Depressão de 1929. Fato notório, que a tornou tão particular, foi o efeito em cascata iniciado nos Estados Unidos, após a falência do banco de investimentos Lehman Brothers, mas repercutindo internacionalmente em grandes economias europeias, com efeitos identificados na Ásia. Foi, portanto, uma crise verdadeiramente global, que teve impacto tremendo sobre o estado de confiança nos mercados financeiros e no sistema regulatório estadunidense (MARTINS, 2012). Desde o início do século XXI, os Estados Unidos fomentaram, vincularam e investiram em uma campanha contra o terrorismo em resposta aos atentados terroristas às cidades de Nova York e Washington. Os gastos exacerbados com a modernização do sistema de segurança estadunidense, somado às guerras enfrentadas em seguida no Iraque e no Afeganistão, contribuíram com a deterioração das contas públicas norte-americanas (KOKHAR, 2011). A procura pela reestruturação econômica em curto prazo promovia políticas de fomento do consumo, que caracterizavam a rápida expansão de crédito bancário. A crise se deu, sobretudo no mercado especulativo imobiliário, que apresentava altas taxas de lucro e valorização em curto prazo (NYE, 2010). A população foi incentivada por políticas de crédito liberais, representadas por financiamentos de alto risco. Como garantia, os clientes escrituravam as suas casas. Com o estouro da bolha do setor imobiliário, fator que deu início à crise, e a consequente queda brusca no valor dos imóveis, os bancos “subprime” viram suas garantias se desvalorizar de forma abrupta, entrando em processo de falência (PRASAD, 2009). Com o intuito de evitar a quebra em escala da economia, os bancos em vias de falir emitiam títulos que seriam comprados por bancos e seguradoras de primeira linha que enfrentaram da mesma forma, quedas acentuadas em seus títulos financeiros e ações, sofrendo perdas astronômicas, ao ponto em que grandes bancos de investimento faliram em conjunto (ECKERT, 2013). A falta de confiança no sistema restringiu os investimentos e culminou em um processo de deflação do valor dos ativos financeiros. A diminuição do crédito resultou na rápida queda da produção industrial e, de forma conjunta, queda no comércio internacional (DIMITRIOU, 2012).

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A crise gerou uma recessão econômica, inicialmente nos Estados Unidos, com crescentes taxas de desemprego e baixo consumo. Em paralelo, a volatilidade do mercado financeiro, que atingiu recordes de baixas, passou a afetar o câmbio da moeda norteamericana, e as bolsas de valores locais apresentaram variações extremas, contribuindo assim, com efeitos tumultuosos e crises sistêmicas em economias estrangeiras (XINHUA, 2010). Os governos dos países desenvolvidos, sobretudo na Europa e nos Estados Unidos, realizaram políticas imediatas de expansão fiscal e monetária, a taxas de juros mínimas, com o intuito de proporcionar alguma liquidez nos seus respectivos mercados financeiros. Na Europa, foi necessário aumentas os limites de déficits fiscais para que fosse possível sustentar as economias em recessão. Na China, por exemplo, o efeito da crise pareceu ter sido menos custoso. O governo aumentou os investimentos em infraestrutura produtiva e portuária, voltados para o desenvolvimento interno, já que os mercados externos não seriam capazes de sustentar a taxa crescente de alargamento econômico (PRASAD, 2009). Em certas indústrias mais interligadas e dependentes do comércio com os Estados Unidos, no entanto, foi possível identificar acentuada queda nas exportações durante o período de crise. Esse é o caso do segmento de brinquedos, que ao longo dos anos de 2007 e 2008, presenciou o fechamento da gigante Smart Union, que desativou suas instalações, e desempregou mais de sete mil funcionários. Em paralelo, o setor de têxteis também passou por considerável conturbação, dada a diminuição da demanda internacional, obrigando o governo a programar políticas de fomento da produção com cortes de impostos (WENTZEL, 2008). O efeito em cascata da crise, reverberado de imediato nos países europeus trouxe à tona alguns questionamentos sobre o funcionamento saudável dos sistemas financeiros, econômicos, de regulação e fiscalização, além de que o debate sobre a integração ecoou em diversos fóruns (MARTINS, 2012). A crise econômico-financeira global de 2008 retrata um momento ápice nas relações comerciais contemporâneas, por destacar claramente a complexidade das interconexões existentes no sistema internacional, e como esses quadros de interdependência promovem se não a proteção, ao menos ao amparo em momentos de crise (ALOUI, 2011). Países como a Alemanha e a França, que são extremamente interdependentes dos diversos países da União Europeia, lutaram pela manutenção da integração regional, arcaram com as dificuldades vigentes e provenientes, promoveram a reforma sistêmica de regulamentação e,

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de forma conservadora, voltam aos poucos, a dar maiores liberdades em um mercado gigantesco e de grande potencial, como é o europeu.

3.3 CONJUNTURA POLÍTICO-ECONÔMICA

Com o objetivo de situar a análise no que tange a participação dos principais atores em questão, faz-se necessário avaliar e traçar um perfil econômico e produtivo, ressaltando os setores de destaque na economia e as políticas adotadas para o desenvolvimento da mesma. Os principais anos a serem analisados e tabulados são os de 2006, 2008, 2010 e 2012. Contudo, a tomada dos anos supracitados não limita análise mais abrangente do setor em relação a anos mais recentes e mais próximos ao início do século, de forma a embasar a anaálise de forma mais completa. No entanto, com o objetivo de, após tracejar o panorama, realizar a avaliação das condições de interdependência, os anos supracitados terão mais força, pois retratam momentos icônicos, que antecedem um momento de ruptura nas relações e no funcionamento do sistema internacional (crise financeira), destacando a existência de sensibilidades ou vulnerabilidades nas relações. O objetivo, ao final de trabalho, após identificados os setores de interdependência, avaliar as vulnerabilidades e condutas ou opções adotados pelos países.

3.3.1 Panorama econômico dos Estados Unidos

A economia dos Estados Unidos é a maior economia do mundo e apresenta posições de destaque em diversas indústrias e setores. O PIB dos EUA em 2012 correspondeu a 16,16 trilhões de dólares, representando 22% da riqueza total produzida no mundo (OMC, 2014) O forte crescimento o estabelecimento da economia norte-americana como a mais expressiva do mundo é baseado no investimento intensivo na indústria tecnológica que, no início dos anos 90, por seu destaque intelectual, era o principal fornecedor de aparatos tecnológicos relacionados à computação. A industrialização e operacionalização processual das indústrias incitava o uso de sistemas computadorizados, aumentando significativamente a demanda por computadores e outras tecnologias avançadas. Assim, o rápido crescimento

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econômico estadunidense foi sustentado pela produtividade acentuada do setor de tecnologia da informação (LEÃO, 2012). Figura 2 – Participação das Indústrias no PIB dos Estados Unidos em 2012 em milhões de dólares

51,364 2% 100,142 4% 104,766 4% 106,71 4% 196,167 7%

13,042 0% 138,391 5%

Manufaturados Governo 528,289 18%

Mercado Imobiliário Assistência Social Financeiro Serviços Profissionais 354,972 12%

199,897 7%

Comércio Atacadista Comércio Varejista Transporte Construção

200,205 7% 256,586 9%

346,878 12% 262,738 9%

Informação Agricultura Mineração Outros Serviços

Fonte: Autoria Própria, 2015

Com premissas baseadas no estímulo ao consumo e ao investimento, as taxas de juros estadunidenses são expressivamente baixas, permitindo a alta circulação de capital na economia, corroboradas pelo baixo desemprego e expansão de crédito. O aumento do PIB foi mantido (salva a modesta retração em 2001) até meados de 2007, em função do colapso do mercado de hipotecas e da subsequente crise financeira internacional. O valor externo na economia dos EUA é proporcionalmente baixo, com exportações de bens e serviços correspondendo a apenas 9,5% do PIB em 2012 (CENSUS BUREAU, 2014). O país beira a autossuficiência em grande número de matérias primas, com exceção do petróleo. Apesar da alta produção de petróleo, as importações na casa dos US$ 313 bilhões fazem dos Estados Unidos o segundo maior comprador de petróleo do mundo (recentemente ultrapassado pela China), respondendo por 25% da demanda mundial de petróleo (BANCO MUNDIAL, 2014).

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Como uma alternativa do petróleo, os EUA também são grandes produtores e consumidores de gás natural, matéria sobre a qual os EUA são o maior consumidor. A única fonte combustível excedente de energia dos EUA é o carvão mineral, que permite exportações de notoriedade singela. A geração de eletricidade norte-americana resulta da queima de combustíveis fósseis, enquanto a energia nuclear corresponde a 19% e a hidroeletricidade a apenas 7% (LEÃO, 2012). A infraestrutura de transportes é também a mais ampla do mundo. O sistema rodoviário e ferroviário são herança das reformas de infra-estrutura advindas do investimento na Segunda Guerra Mundial. Em relação à produção de recursos minerais, os Estados Unidos também tem posição de destaque. Apesar da ínfima participação da produção agrícola como parte do PIB (1,9%), em termos brutos, é um dos maiores produtores de principalmente milho, soja, trigo e algodão. Dessa produção, praticamente ¼ é direcionada à exportação, o que coloca o país na posição de maior exportador de alimento e commodities no globo (OMC, 2014). O setor agrícola é altamente baseado na mecanização dos processos de plantio, extração e tratamento dos grãos; e movimenta valor significativo principalmente devido aos expressivos subsídios governamentais no setor (LEÃO, 2012). Com uma diversificada infraestrutura de produção, no setor manufatureiro dos Estados Unidos se destacam indústrias como a automobilística, aeroespacial, química, eletrônica e de informática. Durante a década de 1990, logo após a efetivação de uma intensa reforma tecnológica, grande parte dos setores industriais mostraram um avanço de produtividade. O quadro de rápida valorização do dólar na segunda metade da década de 90 tornou possível a expansão dos investimentos no setor privado, beneficiando a indústria de transformação. No setor secundário, indústrias como a farmacêutica e aeronáutica apresentam alto índice de inovação. No mesmo patamar, a indústria química dos Estados Unidos é líder mundial com mais de 30% de participação da produção. Por outro lado, indústrias tradicionais e fortes nos anos 80, como é o caso da automobilística, têxtil e de equipamentos tecnológicos, hoje enfrentam forte competição por parte de produtores asiáticos (LEÃO, 2012). A estrutura econômica dos Estados Unidos, no entanto, é fortemente dominada pelo setor terciário privado. Ramos como logística, saúde, e financeiro fazem do setor terciário, o responsável por mais de 70% do PIB. Nos segmentos de maior renda e nível de

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instrução da força de trabalho houve acentuado aumento da produção e da sua qualidade, especialmente com a inovação tecnológica e a difusão do uso de microcomputadores e da internet (LEÃO, 2012). Mais do que grandes produtores, os Estados Unidos são o antro do capital mundial, representado maior mercado de ações, a bolsa de valores mais valiosa (FORBES, 2015), o maior setor bancário e o mais diversificado mercado de seguros em escala global. 8% do PIB advêm de serviços financeiros, que empregam 11% da mão-de-obra americana (CENSUS BUREAU, 2014). Em 2007, apesar da ideologia liberal de atuação do sistema financeiro ser em parte responsável pela prosperidade do setor, após o estouro da crise financeira e a consequente falência do Lehman Brothers, as iniciativas do setor foram voltadas para o aumento da regulação das atividades financeiras. As medidas podem e devem trazer maior confiabilidade para o setor, mas também limitam seu potencial de inovação (LEÃO, 2012).

3.3.1.1 Política Econômica dos Estados Unidos

A prosperidade econômica dos Estados Unidos é, em parte, fruto de uma política fiscal objetiva, desempenhada com louvor. As políticas sociais e industriais são executadas tanto pelo governo federal quanto pelos governos estaduais, e dependem do orçamento federal anual, proposto pelo presidente, e aprovado pelo Congresso. O quadro de ativos excedentes foi transformado no início dos anos 2000, durante o governo de George W. Bush devido à combinação de gastos com as guerras do Afeganistão e do Iraque, assim como os gastos domésticos associados à prevenção de ataques terroristas após 11 de setembro de 2001. Somado às guerras, o estouro da bolha do “dotcom” e a falência da Enron, e desembolsos realizados em programas sociais de governo como o MedicAid, foram responsáveis pela diminuição das receitas do governo norte-americano no início do século. Apesar do imediato esforço em reaver as contas públicas, a crise financeira que se abateu sobre a economia contribuiu para a deterioração da poupança americana (LEÃO, 2012). A política monetária dos Estados Unidos é definida a partir da coordenação entre o Conselho de Governadores do FED – que é independente do poder executivo – e outros órgãos do governo como o Departamento do Tesouro. O FED regula o crédito bancário e a política monetária, principalmente por intermédio de operações no mercado aberto com títulos

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do governo, e da manipulação das taxas de juros. O FED opera com metas que estabelecem primordialmente a manutenção do potencial de crescimento da economia em longo prazo; pleno emprego; estabilidade de preços; e taxas de juros moderadas. A meta principal, no entanto, pode ser considerada a de estabilização de preços de bens e serviços (mas não de ativos). A prática de controle preventivo da inflação foi alvo de elogios em um período de trinta anos em que os preços se mantiveram sem grandes oscilações de preços e taxas de crescimento do PIB (LEÃO, 2012). Em meados da primeira década do século XXI, a política monetária se mostrou mais flexível em prol do dinamismo econômico fomentado pelo consumo interno, e na flutuação dos preços de bens e serviços. A prática, no entanto, foi o gatilho que resultou na recessão econômica de 2008, e da quebra em cadeia de instituições financeiras renomadas em solo americano (DIMITRIOU, 2012). Após a crise, o FED reduziu a taxa básica de juros a patamares negativos, e acrescentou uma medida de expansão direta da base monetária, ou seja, por meio da emissão de moeda. Apesar do aumento moderado da inflação, as medidas tiveram efeito inicialmente positivo na balança comercial, mesmo que o preço das commodities tenha apresentado aumento, principalmente após visto o efeito da crise nos demais países, tornando-a global. Além da crise econômica, outro fator que aflige os Estados Unidos e o mundo, mas aparece como grande desafio aos americanos é a questão ambiental. A sociedade e a política norte-americanas têm se tornado cada vez mais suscetíveis à abordagem e avaliação do tema. Os Estados Unidos são um dos maiores poluidores do planeta, responsáveis por 25% das emissões globais de dióxido de carbono, nas mãos de apenas 5% da população mundial. A sociedade norte-americana tem se conscientizado quanto à importância de tratar de assuntos relacionados ao meio ambiente e o tema é apresentado com maior frequência em fóruns internacionais (LEÃO, 2012).

3.3.1.2 Relações Econômicas Internacionais dos Estados Unidos

A porcentagem da participação do setor externo na economia dos Estados Unidos é relativamente modesta, representando apenas 10% do PIB. O comércio exterior de bens apresenta déficit há 40 anos, enquanto o comércio de serviços, representado principalmente pelos segmentos de transporte e turismo, apesar de apresentar superávit, não é suficiente para compensa o saldo negativo do comércio de bens.

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Os Estados Unidos têm como principais parceiros comerciais regionais o Canadá e o México, que fazem fronteira e usufruem de diversas linhas de produtos isentos de tarifas, além de fazerem parte da OEA, solidificando as relações múltiplas na região. Além desses, seguem como principais parceiros a China, o Japão, a Alemanha e a Coreia do Sul. Nota-se, ao analisar os parceiros comerciais dos Estados Unidos, que o país mantém relações de longa data com Canadá e México, que promovem a integração produtiva e maiores condições de interdependência. Ambos são parceiros comerciais estratégicos importantes, mas da perspectiva contrária, Canadá e México são extremamente dependentes da prosperidade econômica estadunidense. Figura 3 – Principais parceiros comerciais dos Estados Unidos por volume de comércio em USD em 2015 160 140 15,8%

74,50 110,5

120

69,90

33,7% 100 15,2%

80 60 69,30

1,7% 1,8% 2,0% 2,9% 3,1% 4,6% 5,3%

57,10 13,9%

40 20

28,1

0 Canadá

China

México

Japão

Alemanha

Coreia do Sul

Reino Unido

França

Índia

Taiwan

Outros

Exportações

Importações

Fonte: Census Bureau, 2015

A despeito da contração em 2006, 07 e 08, o déficit em conta corrente dos EUA continua expressivo, o que pressiona a cotação do dólar em comparação com outras moedas. Em valores brutos, o déficit comercial dos Estados Unidos segue na tabela abaixo.

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Figura 4 – Déficit Comercial dos Estados Unidos de 2006 a 2012 2.500 2.000 1.500 Importações

1.000

Exportações 500

Balança Comercial

2006

2008

2010

2012

(500) (635,36) (1.000)

(827,97)

(816,20)

(730,60)

Fonte: Census Bureau, 2015

Na conta de capitais, nota-se um declínio na receita dos ativos externos líquidos detidos por investidores norte-americanos. Os EUA costumam apresentar superávit, ainda que bastante volátil, em sua conta de capitais, principalmente pelo fato de os ativos americanos no exterior registrarem retornos superiores aos passivos detidos por estrangeiros. Juros, lucros e apresentaram as seguintes variações o longo dos últimos anos (LEÃO, 2012). As exportações dos EUA são lideradas por bens de capital, produtos agrícolas e insumos industriais. Cerca de 10%da produção industrial e 25% da produção agrícola norteamericana são voltadas para a exportação (CENSUS BUREAU, 2014). Diante do recente aumento do preço do petróleo e de commodities minerais e agrícolas, insumos industriais tornaram-se o principal componente da pauta importadora, enquanto apenas o petróleo foi responsável por 17% do total importado em 2012. Entre os principais produtos importados estão também bens de consumo, e automóveis e autopeças. Após uma análise detalhada da pauta exportadora dos EUA, nota-se que o comércio internacional em geral é bastante diversificado. Já em termos geográficos, o comércio internacional dos Estados Unidos também é bastante disperso. Segundo a tabela 1, abaixo, é possível identificar que a produção estadunidense se destaca em produtos de alta tecnologia, com alto valor agregado. Entre eles, equipamentos de aviação, automóveis e suas partes, máquinas industriais e equipamentos de telecomunicação. Na Ásia, o maior parceiro regional é a China, que aparece como segundo maior fornecedor de produtos e insumos em âmbito global, bastante à frente do Japão.

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Tabela 1 – Principais produtos exportados dos Estados Unidos para o mundo em milhões de dólares Equipamentos de Aviação Combustíveis Produtos Derivados do Petróleo Automóveis Partes e Acessórios Automobilísticos Farmacêuticos Máquinas Industriais Semicondutores Equipamentos de Telecomunicação Aparelhos Elétricos

2006 64.502 12.060 17.316 33.977 43.336 30.919 32.697 52.429 28.930 29.809

2008 73.998 34.894 27.995 49.568 39.850 40.422 38.138 50.603 32.865 30.835

2010 71.921 32.660 33.228 38.354 41.310 46.625 42.708 47.178 31.937 32.143

2012 94.346 59.891 56.751 53.512 52.440 47.798 46.165 42.072 38.400 38.296

Fonte: Census Bureau, 2015

As trocas comerciais relacionadas a serviços registraram considerável aumento entre 2006 e 2012. Serviços financeiros, turismo, e transportes se destacaram no setor de serviços exportados em 2012 (LEÃO, 2012). Para suportar tamanha produção e movimentação econômica, os Estados Unidos também se destacam como um dos principais importadores, produtores e exportadores de produtos primários no globo. A produção agrícola atingiu quase US$ 400 bilhões em 2012, tendo como base o aumento do preço médio das commodities em geral durante os anos anteriores. As exportações agrícolas nesse mesmo ano correspondem a mais de 10% de todas as vendas externas do país. Enquanto a pauta exportadora tem como principais produtos os grãos, rações, soja e carnes, a importadora apresenta produtos como vegetais frutas e grãos. Suportando a produção agrícola como parte substancial da economia norte-americana, é notório que os Estados Unidos desenvolvam diferentes programas domésticos de crédito à agricultura que, com frequência, podem ser caracterizados como subsídio que incentivem a exportação (OMC, 2014). Apesar do acentuado quadro de expansão da participação do setor terciário na economia, os Estados Unidos mantêm o maior parque industrial do mundo. O setor industrial tem como as maiores indústrias estadunidenses em termos de valor agregado: indústria química, alimentos e bebidas, máquinas e equipamentos, veículos e autopeças.

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As empresas norte-americanas representam as maiores fontes de investimento externo direto (IED) do mundo. Os valores de IED norte-americanos ao final de 2006 correspondiam a US$3,6 trilhões espalhados por todo o globo, sendo os maiores destinos de investimento americano o Canadá, os Países Baixos e o Reino Unido (LEÃO, 2012). Em contrapartida, os Estados Unidos são também o principal destino de IED do mundo, com estoque de US$ 1,8 trilhões em 2006, advindos principalmente de: Reino Unido, Japão e Alemanha. Atualmente, a China aparece como o maior investidor em títulos americanos, adquiridos, principalmente após a crise (LEÃO, 2012). Com o intuito de proteger a produção nacional e incentivá-la a desenvolver-se de forma economicamente sustentável, os Estados Unidos aplicam uma política comercial no sistema internacional com posicionamento a favor da maior abertura dos mercados e adoção de práticas condizentes e éticas. Como maior economia do mundo, a posição de destaque dos EUA na OMC garante benefícios de negociação e maior gama de relações comerciais. As tarifas aplicadas pelo governo norte-americano são relativamente baixas se comparadas às demais nações representadas na OMC, e tem se mantido estável, apesar das conturbações recentes na economia mundial. Figura 5 – Fluxo de IED para os Estados Unidos de 2003 a 2013 em bilhões 350 310 300 243

250

236

221

236

206

200

175 150

146

150

113 100

64

50 0 2003

2004

2005

2006

2007

2008

2009

2010

2011

2012

2013

Fonte: Banco Mundial, 2015

Assim, instrumentos de defesa comercial como clamar por direito antidumping, medidas compensatórias e de salvaguarda, são corriqueiramente utilizados pelos Estados Unidos. As medidas antidumping, em particular, afetam de forma significativa o acesso de

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fornecedores estrangeiros ao mercado norte-americano, especialmente países da Ásia, e entre eles a China (que tem sozinha 112 medidas antidumping abertas em 2013) (OMC, 2013). Os direitos são clamados principalmente para produtos intermediários, como aço e químicos. Desde os ataques terroristas em Nova Iorque em Washington que resultaram as investidas de guerra ao terror, os Estados Unidos têm promovido algumas mudanças nos procedimentos aduaneiros seguidos no país. Entre elas, medidas de segurança aplicáveis a cargas entrando no país são mais severas, incluindo a necessidade de escaneamento de todos os contêineres com destinos aos Estados Unidos (LEÃO, 2012). Além das restrições de segurança e defesa comercial, os EUA aplicam restrições tarifárias de cunho ambiental, com insumos e produtos que não sigam as práticas de avaliação e inspeção norte-americanas. Grande parte do volume de trocas comerciais estadunidenses é proveniente dos benefícios garantidos pelo firmamento de acordos plurilaterias e bilaterais. O NAFTA (Tratado Norte-Americano de Livre Comércio) é um dos tratados sobre os quais os Estados Unidos mais nutre benefícios e onde mais realiza trocas comerciais. O comércio bilateral dos Estados Unidos com seus vizinhos norte-americanos (Canadá e México) é maior que o comércio entre o país e a União Europeia e o Japão, somados (LEÃO, 2012) . 3.3.2 Panorama econômico da China

A economia da República Popular da China é a segunda maior economia do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos, e representa a nação com o maior crescimento econômico mundial nos últimos anos. As reformas econômicas e políticas, e a abertura das portas da economia em meados dos anos 1970, levou a China a posições de destaque em diversas indústrias e setores. O PIB da China em 2013 correspondeu a US$ 6,8 trilhões (Banco Mundial, 2015). A economia chinesa passou por intensas transformações desde a década de 1970. O sistema de produção planificado e totalmente controlado pelo estado foi substituído pouco a pouco, dando espaço a estruturas de produção industrial de propriedade mista ou privada, tanto em áreas rurais quanto urbanas, ainda que em zonas específicas voltadas para a produção. Essas zonas foram inicialmente chamadas de TVE (Town and Village Enterprizes), e posteriormente, algumas se tornaram o que hoje se chama de Zonas Industriais Especiais. O direito à propriedade desencadeou o sistema de responsabilidade domiciliar, garantindo os

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frutos dos trabalhos de cultivo aos próprios camponeses, o que fez aumentar exponencialmente a produção rural sem grandes investimentos por parte do governo chinês. O comércio exterior, da mesma forma, enfrentou reformas que abriram o mercado chinês para o mundo, e levaram a China a conquistar um espaço representativo na OMC (ZHU, 2012). Desde que a China iniciou o desmonte do planejamento econômico centralizado, em 1978, o PIB apresentou expansão média superior a 9% ao ano. O crescimento econômico, durante os primeiros anos após a abertura foi representado por alta volatilidade, com períodos de elevado crescimento, resultando em descontrole inflacionário e fiscal, gerando momentos de crescimento mais enxuto. Atualmente, o governo conta com políticas que evitem a reprodução desses ciclos, mas que mantenham o objetivo de crescimento econômico, baseado na contenção inflacionária e controle do câmbio (LEÃO, 2012). Foi adotada durante a Crise Asiática (1997) uma política de expansão de gastos públicos, direcionados ao desenvolvimento da infraestrutura de produção e as malhas de transporte em solo chinês. Assim, o crescimento do PIB registrou, a partir de 2006, nos anos analisados respectivamente: 12,7%; 9,6%; 10,4%; 7,7% de crescimento anual do PIB até 2012. Diante do excesso de investimentos e o claro superaquecimento da economia, o governo adotou limites de produção em determinados setores (BANCO MUNDIAL, 2015). No final de 2007, diante de um quadro de alta de desemprego e em resposta a crise econômica global, as políticas de contenção do aquecimento econômico chinesas foram revertidas e deram espaço a pacotes de estímulo fiscal, com medidas de expansão de crédito, intervenções no mercado cambial e foram intensificados os subsídios à exportação. Em termos macroeconômicos, o crescimento do PIB é resultado da soma da variação de três componentes: consumo (privado e governamental), investimento (privado e governamental) e exportações líquidas. O crescimento chinês tem tido como principal fator a intensificação dos níveis de investimento direto. Na primeira década do século XXI os investimentos correspondiam a mais de 40% do PIB chinês. Em paralelo, as taxas de poupança doméstica superavam 50% do PIB em 2006, o que destacava a China como uma economia de crescimento baseada no investimento, diferente das demais economias que tinham como principal motor o consumo como principal componente do PIB. Em contrapartida, o consumo não acompanhou o crescimento econômico e mostrou declínio percentual na participação da economia da China em 2007, para apenas 35%. Neste mesmo ano, o consumo representava 70% do PIB nos Estados Unidos. A partir de 2008, em resposta à crise, os pacotes fiscais representaram saliente mudança no comportamento de consumo do

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setor privado, assim como o consumo governamental, cujo objetivo futuro seria incentivar o consumo geral (LEÃO, 2012). A partir de 2005, o crescimento das exportações líquidas de bens e serviços passou a contribuir de forma expressiva no crescimento econômico chinês, variando na casa dos 10% do PIB (OMC). O perfil de crescimento dependente da expansão dos investimentos e das exportações tem impacto sobre questões tanto econômicas quanto sociais e ambientais, que colocam a China em posição delicada. Uma economia regada por investimentos e exportação tende a apresentar disparidades de renda acentuadas entre a população rural e urbana, portanto, níveis de bem-estar social reduzidos, e a expansão desproporcional de indústrias pesadas, que necessitam muito capital e muita energia para o seu funcionamento, com impacto direto sobre o meio ambiente. Uma das faces mais visíveis do crescimento chinês é a expansão da infraestrutura física urbana do país. A rápida mudança no plano de engenharia e arquitetura rural ficou clara com o aumento da visibilidade do país em eventos internacionais como as Olimpíadas de 2008, em Pequim. Em 15 anos, até 2007, foram construídos mais de 100 novos aeroportos no país, e mais de 1,9 milhões de quilômetros em estradas rodoviárias. Entre 2001 e 2005, o montante total investido em estradas, aeroportos, pontes e outras construções de cunho civil, foi superior ao investimento realizado ao longo de toda a segunda metade do século XX (OMC, 2014). No setor energético, a China também se destaca por ser o segundo maior consumidor e segundo maior produtor mundial, atrás apenas dos Estados Unidos. A rede elétrica chinesa ainda sofre com uma demanda crescente e uma oferta limitada, apesar do firmamento recorrente de acordos internacionais na área energética. A matriz energética da China é liderada pelo carvão mineral com 72% da energia gerada em 2012, seguida pelo petróleo 18%. A energia baseada em carvão mineral é uma das mais poluentes existentes, o que coloca a China em posição de pressão ambiental, o que tem feito o governo procurar por alternativas no suprimento de energia do país. Elementos como gás natural, energia nuclear e a construção de hidrelétricas vem sendo promovidas pelo governo chinês por apresentarem menor impacto sobre o meio ambiente, e resultam em menor dependência de fontes externas como o petróleo (BANCO MUNDIAL, 2014). Apesar de a China representar menos de 10% da demanda mundial de petróleo, o aumento da produção de seu parque produtivo combinado com a própria aceleração de seu

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crescimento implicou que apenas a economia chinesa respondeu pelo aumento de 30% da demanda global e das importações de petróleo desde o início do século. Os maiores responsáveis pelo aumento da demanda energética na China são as indústrias pesadas de aço, alumínio e cimento que, além de extremamente poluentes, demandam altíssimo nível energético em sua operação (LEÃO, 2012). A indústria de aço chinesa aumentou sua produção em quatro vezes, em 7 anos, se tornando responsável por quase metade de todo o aço bruto produzido no mundo em 2008. Em paralelo, a indústria de cimento chinesa ultrapassou a metade da produção mundial. Ao realizar uma análise mais detalhada sobre os setores de destaque da economia chinesa, nota-se claro destaque para a indústria. A composição do PIB chinês em 2012 corresponde a 12% do setor primário, 48% do setor secundário e 40% no setor terciário, bastante diferente do que foi visto com os Estados Unidos (OMC, 2014). Apesar da participação dos setores em relação ao PIB ter se mantido estável ao longo do crescimento chinês, desde o início das reformas, o setor secundário sofreu mudanças significativas ao longo do período. Durante os anos 1970, a indústria chinesa era dominada por grandes empresas estatais. A década de 1980 foi marcada pela acentuada expansão da produção industrial, enquanto em meados da década de 1990, o dinamismo da indústria foi corroborado pela participação de empreendedores privados locais e investidores estrangeiros. Até 1978 a China contava com apenas três bancos nacionais. A partir da década de 80, novos bancos nacionais foram criados com vieses específicos como é o caso do Banco Agrícola da China, ou o Banco Industrial e Comercial da China, ou o Banco de Desenvolvimento da China que, respectivamente, tratavam apenas do investimento de capital e liberação de crédito para o incentivo dos setores agrícola, e industrial (LEÃO, 2012). Em seguida à ascensão da China a OMC, as recorrentes barreiras à entrada de bancos estrangeiros no mercado chinês foram gradativamente removidas. Em 2005, instituições como o HSBC, Goldman Sachs e Bank of America abriram filiais em solo chinês e foram responsáveis por trocas de capital na ordem dos US$ 18 bilhões. Alguns dos bancos chineses de maior valor abriram seu capital em listagens públicas nas bolsas de Hong Kong e Xangai, respondendo por aberturas de valores exorbitantes. Ao tratar do mercado acionário chinês, tem posição de destaque a bolsa de valores de Hong Kong, o maior centro financeiro da região. Além desse, as bolsas de Xangai e Shenzen são consideradas fortes, mas ainda enxutas, representando, juntas, 25% da NYSE (New York Stocks Exchange) (BANCO MUNDIAL, 2014)

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Apesar da abertura chinesa, da gradativa diminuição de barreiras, e do crescente investimento estrangeiro direto, o mercado acionário chinês ainda é regulado por restrições ao aporte de capital estrangeiro. O mercado de ações chinês é dividido em dois tipos de ações: de tipo A e de tipo B. As ações de tipo A são reservadas a investidores domésticos, e fazem parte de um mercado mais líquido. Por outro lado, as ações de tipo B são liberadas a investidores estrangeiros, mas representam um mercado menos líquido, do qual fazem parte apenas empresas extremamente sólidas e de grande porte. A divisão do mercado de ações é condizente com a política monetária e cambial controlada da China (LEÃO, 2012).

3.3.2.1 Política Econômica da China

Ao analisar a República Popular no início do século XXI, percebe-se o crescimento de uma economia cujos meios de produção são baseados em propriedades mistas e, em que as maiores e mais reconhecidas empresas são estatais, apesar da expansão da participação de empresas de capital privado e estrangeiro. Além disso, ainda que o sistema bancário chinês seja quase que inteiramente de domínio público e seus empréstimos sejam desproporcionalmente direcionados a empresas estatais, o sistema bancário tem se moldado gradualmente de acordo com as forças de mercado tangentes. A abertura e adaptação do sistema bancário são percebidas, visto que os maiores bancos chineses lançaram ações em mercados acionários internacionais (LEÃO, 2012). A abertura trouxe certas dificuldades na atuação e diminuição da competitividade de algumas empresas estatais que, até então, nunca haviam enfrentado prejuízos agregados. Assim, o governo adotou estratégias com o intuito de aumentar a competitividade das estatais, baseadas em três pilares: consolidação, enxugamento e manutenção do controle em setores estratégicos. Com base no primeiro pilar, a consolidação foi tratada de forma a ampliar a eficiência da produção de escala fechando ou fundindo as pequenas empresas, e fortalecer as grandes. No segundo pilar, a função de enxugamento foi a de diminuir o número de empresas e, consequentemente, limitar a utilização de recursos processuais e dispêndios burocráticos. Finalmente, o terceiro pilar, de manutenção do controle em setores estratégicos, tem como base o controle da indústria bélica, de energia, petroquímica e petróleo, telecomunicações, carvão, aviação civil e navegação (OMC, 2014). Tais reformas estatais levantam questionamentos sobre o impacto na seguridade social chinesa. Anteriormente, as políticas de seguridade social – que incluem aposentadoria,

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pensão, moradia e saúde – eram determinados pela empresa. Com o fechamento dessas empresas, o resultado seria o desamparo de funcionários e familiares. Assim, após o processo de enxugamento, o governo estudou e desenvolve a implementação de um sistema de seguridade social desvinculado das unidades produtivas. Diante da desconfiança no novo sistema, as arrecadações nos últimos anos têm sido insuficientes face ao perfil de crescimento demográfico chinês, o que pode sinalizar sérias dificuldades no financiamento previdenciário no futuro (LEÃO, 2012). Ao considerar a política monetária, nota-se que a China tende a aproximar-se dos métodos empregados em economias institucionalmente mais avançadas. Apesar de continuar exercendo certo controle sobre a oferta de moeda na economia com intervenções pontuais sobre a expansão do crédito, em consequência das pressões inflacionárias enfrentadas nos últimos anos, a China foi induzida a valer-se dos instrumentos mais tradicionais como foi o caso da manipulação da taxa básica de juros local, que atinge patamares bastante altos se comparada aos anos anteriores. Ademais, com a abertura do setor bancário para a competição internacional, a capacidade das autoridades centrais de determinarem a oferta de crédito por meio da política de crédito controlada tende a se restringir (LEÃO, 2012). A autonomia da política monetária da China também é afetada pelo regime cambial em comparação com o dólar americano. Com o intuito de evitar a entrada massiva de capitais no país, pressionando a cotação da moeda chinesa, o governo se vê obrigado a manter altas reservas estrangeiras (em títulos do tesouro americano), acompanhando o regime cambial estadunidense, de forma a estabilizar o valor de sua moeda no mercado internacional. O recente crescimento chinês ressalta certos desequilíbrios que se acumulam no processo de expansão econômica. Nesse processo, dois temas podem ser considerados de particular relevância: a questão das desigualdades internas sejam elas de disparidade de produção e investimento regional, assimetrias entre a população rural e a urbana, ou a discrepância de renda; e os impactos ambientais do crescimento chinês (LEÃO, 2012). Quanto à disparidade regional, nota-se um crescimento acentuado nas regiões costeiras em termos de captação de investimento e desenvolvimento industrial oriundos das províncias de Hong Kong e as ilhas do Japão e da Coreia. Em contraste, as regiões central e ocidental se mantiveram isoladas dos fluxos de investimento estrangeiro. As províncias meridionais de Guangdong e Fujian, vizinhas de Hong Kong e Taiwan, por terem sido as pioneiras na política de portas abertas e assim, terem mantido relações mais próximas com investidores e comerciantes estrangeiros, apresentam destaque em questão de taxas de

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desenvolvimento de infraestrutura e entrada de investimento. Essas províncias litorâneas, somadas as províncias vizinhas de Guangxi, Hunan, Jiangxi e Guinzhou são consideradas o maior centro mundial de produção de bens intensivos em mão-de-obra não qualificada. Algumas dessas províncias já apresentam desenvolvimento notório e, por meio da realização de fusões com empresas estrangeiras, estreitam sua produção para bens mais sofisticados, de baixa tecnologia. Xangai, por sua vez, é a cidade que mais recebe investimento por parte de países ocidentais, e predominam os investimentos em indústrias de tecnologia e de eletroeletrônicos (LEÃO, 2012). Associadas às dinâmicas de acelerado crescimento econômico, a aceleração da desigualdade social tem causado preocupação na liderança do partido comunista chinês, em razão dos impactos sobre a estabilidade política do país. Desde a sua abertura, a China apresenta uma das mais acentuadas trajetórias de concentração de renda na história recente. Além disso, a questão da sustentabilidade ambiental também se tornou assunto recorrente quando o crescimento chinês é colocado em pauta. A dependência da queima de carvão na geração de energia, a urbanização e industrialização aceleradas e o uso intensivo de irrigação na agricultura, somados a sistemas de órgãos de controle flácidos contribuem para o mais acelerado processo de criação de riqueza na história de uma nação, mas também a maior catástrofe ambiental registrada ao longo da história (LEÃO, 2012). Os problemas de cunho ambiental local contribuem e são potencializados por crises mais amplas, de escopo regional e global. A degradação ambiental na China tem afetado os países vizinhos, ao ponto em que chuvas ácidas e tempestades de areia ao longo do mar amarelo, além das nuvens de poluentes carregadas ao longo do arquipélago influenciam a vida das sociedades japonesa e coreana. A China ultrapassou ou Estados Unidos como país mais emissor de gases poluentes do mundo e ressalta a preocupação histórica crescente com o aquecimento global (BANCO MUNDIAL, 2014). Em face aos problemas ambientais, é possível observar que a discussão e o combate vêm tomando espaço na China. Não só por pressão da opinião pública, a própria China estima que a degradação ambiental impacte em prejuízos na ordem de 13% do PIB chinês todo ano, além de que a força de trabalho comprometida com problemas de saúde aumenta de forma acentuada. A questão ambiental na China está extremamente atrelada à eficiência energética que, por sua vez, tem influencia direta no desenvolvimento da produção e no crescimento

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econômico chinês. Assim, a reforma voltada para a eficiência energética deve tomar proporções de maior destaque.

3.3.2.2 Relações Econômicas Internacionais da China

Desde a acessão da China na OMC em 2001, o fluxo de vendas externas aumentou de forma extraordinária. A partir de 2002 a taxa de expansão da exportação chinesa manteve-se acima de 30%, com seu valor aumentando de US$ 400 bilhões para US$ 1,4 trilhões em 2008 (OMC, 2014). O crescimento das exportações foi fortemente impulsionado pelas empresas de capital estrangeiro que, ao longo do início do século, se estabeleceram em solo chinês, respondendo por quase 60% das exportações totais em 2008. Proporcionalmente, a fatia destinada às exportações de empresas estatais caiu de 47% para apenas 20%, mas considerando o grande número de novas empresas estrangeiras na China, a participação estatal ainda é bastante significativa. A pauta exportadora da China é composta quase que inteiramente de produtos industrializados, contabilizando 93% do total exportado. Dentre os manufaturados, o percentual de produtos de baixo valor agregado diminuiu, dando espaço à significativa participação de maquinário e equipamentos de transporte. Do lado das importações, é também possível notar um expressivo crescimento, embora não tão acelerado quanto o das exportações, de 19% ao ano. Produtos primários, principalmente combustíveis e produtos de mineração, atingem quase 30% da pauta importadora, o que reflete a falta de sustentabilidade da indústria de produção chinesa (OMC, 2014). Ao analisar o comércio exterior em um período mais amplo, observa-se uma mudança no perfil de produção para exportação da China que era dominado por setores de baixa tecnologia em meados de 1990 e, ao longo dos anos passa a oferecer produtos tecnológicos de maior valor agregado. O processo deriva da ampliação da capacidade tecnológica, principalmente das empresas estrangeiras estabelecidas na China, que induziram o aumento das importações de bens intermediários de alta tecnologia e bens de capital para desenvolver a produção interna (BANCO MUNDIAL, 2014). A oferta chinesa se destaca em produtos eletrônicos e maquinário, seguida pela ainda forte indústria têxtil. Por outro lado, a demanda é constituída de semicondutores

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(respondendo por mais de 30% da demanda global). O perfil importador da China, que apresenta diversos componentes intermediários de tecnologia faz referência a um tipo de comércio dominado por fluxos intraindustriais, o que indica a alta integração das indústrias locais às cadeias produtivas globais (OMC, 2014). Figura 6 – Principais parceiros comerciais da China em 2012

Fonte: Global Sources, 2012

Os principais destinos das exportações da China, como exemplifica a tabela acima, são a União Europeia e os Estados Unidos. No sentido contrário, o Japão continua como maior fornecedor para a China, seguido por União Europeia, Coreia, Taiwan e os Estados Unidos. O comércio exterior chinês revela que o país funciona como plataforma exportadora para os demais países do Leste Asiático e, assim, sustenta um déficit comercial com a Ásia, como um todo. Economias como Taiwan, Japão e Coreia enviam bens intermediários como insumos e bens de capital para a China e lá, realizam as operações de montagem final. Em contraponto, nas relações com Estados Unidos e União Europeia, a China mantém um superávit comercial imponente (LEÃO, 2012). Dessa forma, grande parte das relações internacionais da China se constitui no setor financeiro, principalmente por meio de fluxo de IED. Por se tratar de um mercado relativamente novo a diversos países, dada a sua abertura econômica tardia, somado às políticas trabalhistas rasas e mão de obra barata, a China torna-se um polo produtivo global e, consequentemente, destino de largos investimentos. Ademais, os investimentos asiáticos

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concentram-se fortemente em setores de orientação exportadora, o que implica em importações voltadas para bens intermediários e de capital (LEÃO, 2012).

3.4 COMÉRCIO BILATERAL

As reformas econômicas iniciadas na China em meados de 1979 potencializaram intensas transformações na China, e a projetaram hoje, uma das economias que apresentam mais rápido crescimento. O crescimento econômico e a liberalização das trocas, além da aceitação de compromissos com a sociedade internacional após a admissão na OMC em 2001, direcionaram uma relação mais próxima e profunda de laços com os Estados Unidos. Existe, no entanto, um número de assuntos que ressaltam a preocupação e a desconfiança de ambas as partes, que tornam a relação bilateral mais conturbada. Entre eles, a política de controle monetário e cambial adotada pela China, a falta de comprometimento com o cumprimento das normas adotadas na OMC, desrespeito à propriedade intelectual, e políticas que aparentam impor restrições à liberalização do comércio internacional. Tais preocupações geram atritos principalmente de cunho político e de discussão em fóruns internacionais. Contudo, nota-se que o dinamismo econômico, mensurado no volume de trocas comerciais se mantém cada vez mais intenso e aprofundado. A análise detalhada das trocas comerciais entre Estados Unidos e China tem como objetivo mapear em que setores a relação tem mais afinco, de modo que seja possível avaliar, ao longo dos anos estudados, quais deles tornam os países mais ou menos dependentes um do outro. O total de trocas comerciais registradas em 1979 era de US$ 2 bilhões. Em 2013, o total de trocas chegou a soma de US$ 562 bilhões. A China, atualmente é o segundo maior parceiro comercial dos Estados Unidos, terceiro maior destino de exportações americanas, e maior fonte de importação (OMC, 2014). Existe uma grande preocupação por parte dos Estados Unidos no que diz respeito à balança de pagamentos em relação à China. O déficit comercial com a China registra elevação anual constante, mas com acentuada deterioração durante e logo após a crise de 2008, alcançando o valor de US$ 318 bilhões em 2013. Nos últimos anos, o déficit estadunidense com a China se mostra significativamente maior do que com qualquer outro país. Hoje, é possível considerar que o primeiro indicativo de que existe disparidade na

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relação é a análise da balança comercial entre os dois países, e tem danificado a economia norte-americana, em posição claramente desfavorável (CENSUS BUREAU, 2014). Tabela 2 – Bens exportados dos EUA para a China, em milhões de dólares Grãos Equipamentos aviários Veículos automotores Cobre Semicondutores Papel e Celulose Materiais Plásticos Algodão Maquinário Industrial Químicos-Orgânicos

2006 2.532 4.831 559 1.862 5.876 1.482 2.179 2.067 1.986 1.349

2008 7.260 3.904 1.100 2.434 6.494 2.234 3.068 1.622 2.797 1.769

2010 10.864 5.755 3.441 3.363 6.411 3.053 3.738 2.213 4.000 2.741

2012 14.880 8.356 5.698 4.391 3.893 3.821 3.571 3.429 3.348 2.772

Fonte: US Census Bureau, 2014

Tabela 3 – Bens exportados da China para os EUA, em milhões de dólares Telefones Celulares Computadores Acessórios de informática Brinquedos e Jogos Vestuário Têxtil Equipamento de Telecomunicações Vestuário e bens domésticos Móveis Calçados Aparelhos Eletrônicos

2006 26.547 17.371 28.931 22.208 14.590 8.659 9.872 13.198 10.700 7.159

2008 27.505 25.040 27.012 29.167 15.295 14.497 13.382 13.279 11.632 8.997

2010 32.612 39.343 28.195 27.817 17.318 16.619 17.157 13.561 13.208 11.044

2012 52.821 47.638 28.419 25.115 20.619 19.145 15.525 14.780 14.457 11.590

Fonte: US Census Bureau, 2014

Ao realizar uma análise detalhada das relações comerciais de troca entre China e Estados Unidos, explicitados na tabela acima, é possível delinear algumas conclusões primordiais dos perfis produtivos de ambos os países. Em primeiro lugar, nota-se o claro crescimento do volume de trocas entre Estados Unidos e China ao passo em que o país asiático se torna o segundo maior parceiro econômico dos Estados Unidos em 2006. O valor total em trocas comerciais atinge um patamar de 536

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bilhões de dólares em 2012, e um crescimento médio anual de 16% entre 2006 e 2012 (CENSUS BUREAU, 2014). Em segundo lugar, é possível identificar que a pauta exportadora americana para o mercado chinês é diversificada, e composta de diversas matérias primas e componentes de alta tecnologia, como maquinário elétrico, geradores de força, equipamentos do setor aviário, equipamentos médicos, sementes, frutas, plásticos, químicos orgânicos e inorgânicos, aço e ferro, e algodão. Em contraponto, por parte da China, a pauta exportadora para os Estados Unidos é composta de computadores, celulares e seus acessórios, jogos, brinquedos, móveis, roupas, sapatos, plástico, além de equipamentos elétricos, geradores de força e veículos e suas partes (LEÃO, 2012). Em terceiro lugar, as exportações chinesas se expandem de forma mais acelerada do que as exportações dos Estados Unidos. Assim, o aprofundamento das relações comerciais com outras economias ocorre de forma muito mais ativa por parte da China do que se considerados os Estados Unidos. Essa dinâmica reflete o caminho de crescimento que preza pela diversificação comercial no sistema internacional e, em parte, a procura por uma política comercial mais desvinculada e mais independente de mercados gigantes como o dos Estados Unidos, relativamente atingido pela diversificação das parcerias comerciais chinesas (LEÃO, 2012). Em quarto lugar, os Estados Unidos nutrem um déficit comercial com a China desde 1995, que hoje atinge a casa dos US$ 270 bilhões. A crescente disparidade no valor das trocas comerciais é preocupante por parte dos Estados Unidos, pois ressalta a diversificação do número de parceiros comerciais da China, e a diversificação dos meios de produção chineses, ao passo em que os Estados Unidos mantêm seus principais parceiros comerciais com fidelidade, mas sem grandes esforços em expandi-los, e um perfil de produção padrão desde a década de 1990. Assim, as exportações chinesas para os Estados Unidos, que crescem a uma média de 17,3%% ao ano, enquanto as exportações no fluxo contrário atingem uma média de 6,2%, revelando mais uma vez a disparidade das relações comerciais (CENSUS BUREAU, 2014). Em quinto lugar, fica claro que as relações comerciais, transcendem as disputas políticas vigentes. Qualquer atrito político tem como principal preocupação o efeito sobre as relações comerciais entre os dois países, visto que qualquer atrito que resulte em conflito armado parece ser improvável. Durante o começo dos anos 1990, o volume de trocas bilaterais variava por volta de 3% das trocas comerciais totais dos Estados Unidos (9% da

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China). Em 2012 o volume de trocas bilaterais representou cerca de 14% para os Estados Unidos e 18% para a China. É inegável que, baseado na participação percentual que uma economia tem na outra, exista um grau econômico de dependência, visto que ambos os países têm grande parte da sua produção atrelada à saúde comercial da contraparte. É sensato considerar que o aumento das importações provenientes da China ocorre como resultado da movimentação de indústrias produtivas de outros países asiáticos para a China. Ou seja, diversos produtos que costumavam ser desenvolvidos e manufaturados em países como Japão, Taiwan, Hong Kong e Vietnam e exportados aos Estados Unidos, agora passam a ser manufaturados na China. Para ilustrar, durante a década de 1990, cerca de 47% do valor das importações estadunidenses eram originadas no Leste asiático, incluindo a China. Em 2013, o valor das importações advindas do Leste asiático contabilizou 1% a menos, portanto 46%. No entanto, durante o mesmo período, a participação da China nas importações dos Estados Unidos variou de 3% para 26%. Assim, fica claro que a importância relativa da região diminui consideravelmente, e passa a se concentrar quase que inteiramente na China (LEÃO, 2012). Nota-se que o a China é carente de matéria prima. Alguns dos principais bens exportados pelos Estados Unidos se destacam como commodities, ressaltando novamente que a economia chinesa se desenvolve a passos largos, mas insustentáveis. Entre as matérias primas, estão grãos, cobre, ferro e aço, celulose e algodão. Além das matérias-primas, a demanda chinesa é formada pela sua necessidade fomento da produção, sendo, portanto, composta de bens intermediários e de capital, como materiais plásticos e maquinário industrial. Ao considerar o setor têxtil e de vestuário, por exemplo, a situação do comércio com a China é bastante acentuada, devido ao potencial de domínio da China sobre o mercado mundial desse tipo de produto (BADDER, 2012). A expansão das indústrias têxtil e de vestuário da China levou ao aumento das exportações de algodão para o país. Don Shurley, economista e coordenador do Departamento de Agricultura e Economia Aplicada da Universidade da Geórgia na cidade de Tifton, na Geórgia, ressaltou em relatório recente que “sob qualquer ângulo, a China desempenha um papel fundamental. Logicamente, o bem-estar do produtor de algodão dos Estados Unidos, pelo menos por hora, é altamente dependente da produção chinesa e de sua necessidade de importações.” (2007).

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Se, por um lado, os produtores americanos se preocupam com a perda de quota de mercado para as importações chinesas, por outro, o crescimento da China trouxe novas oportunidades aos exportadores, especialmente aos de produtos primários e aplicativos manufaturados que alimentam os centros de produção da China. As exportações de algodão são expressivas, mas demonstram um período de retração entre 2006 e 2008, refletindo os efeitos da crise financeira nos setores primários estadunidenses. Embora essas exportações para a China respondam por apenas 6,3% dos principais produtos exportados em 2012, o número está acima dos anos anteriores, e parece ter considerável participação na demanda chinesa pelo produto. As exportações agrícolas por parte dos Estados Unidos também aumentaram muito nesse período, de pouco mais de US$ 2 bilhões para quase US$ 3,5 bilhões em 2012. Os embarques de plásticos se expandiram entre o mesmo período para mais de US$ 3,5 bilhões nesse hiato. As exportações de produtos de alta tecnologia, tais como semicondutores e equipamentos médicos, subiram quase 50% ao longo dos últimos dois anos. De forma geral, a China tem apresentado um modesto superávit comercial em relação ao resto do mundo, de pouco mais de US$ 230 bilhões em 2012 (OMC, 2014) Da mesma forma, é possível ver a crescente importância da China em comparação com a região do leste asiático ao analisar as importações estadunidenses de equipamentos para computadores, que hoje constituem a maior parcela de importações advindas da China. Em 2000 a China era apenas o quarto maior exportador de computadores para os Estados Unidos, com cerca de 12% do total importado, enquanto o Japão, primeiro colocado representada quase 20% do total enviado. Em 2013, o Japão trocou de posições com a China, chegando ao quarto lugar com 4% das importações, ao passo em que a China aumentou sua participação de suprimento de equipamentos para computadores de 64% do total. Tal dinâmica retrata não apenas que a importância dada a região do leste asiático diminui com o crescimento da China, mas que o fluxo de investimento direcionado a China atinge patamares astronômicos, uma vez que os próprios países do leste asiático tornam-se provedores desses investimentos. A globalização das cadeias de suprimento de equipamentos de baixo e alto valor agregado tem, cada vez mais, se intensificado para o lado da China, ao mesmo tempo em que os canais de interconectividade se tornam mais amplos e ramificados (MORRISON, 2014).

3.4.1 Relações de Investimento Externo Direto

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Os fluxos de investimento também cumprem um papel primordial para o desenvolvimento dos laços comerciais entre Estados Unidos e China. O investimento chinês em ativos americanos pode ser dividido em diversas categorias, incluindo a detenção de valores mobiliários, investimento externo direto, e investimentos gerais não vinculados à títulos de crédito. A maior parte do investimento chinês nos Estados Unidos está atrelada à detenção de títulos do tesouro nacional, enquanto os Estados Unidos mantém a maior parte de investimento chinês como IED, em grande parte pelas empresas privadas que levaram filiais ao país asiático (LEÃO, 2012). A detenção de títulos mobiliários americanos por parte da China envolve títulos do Tesouro Nacional, títulos de agências governamentais, corporativos e ações em geral. A política de detenção de títulos externos desempenhada pela China gera grande preocupação por parte dos Estados Unidos, pois deixa o país ocidental em posição vulnerável à flutuação cambial. A política de investimento chinesa faz relação com a sua política monetária internacional, que promove a intervenção na taxa de câmbio, limitando a apreciação da sua moeda em comparação com o dólar americano. O acúmulo de títulos americanos por parte da China passou a se expandir a partir dos anos 2000. A política de gastos com a guerra ao terror e, em seguida a crise financeira de 2008, geraram uma dívida externa colossal que, em grande parte, foi financiada por investidores chineses que, ao realizarem trocas comerciais retinham o dólar e o reinvestiram em títulos do Tesouro Nacional por ser um ativo de histórico mais seguro. Os valores detidos pela China em títulos do Tesouro aumentaram de US$118 bilhões em 2002 para US$ 1.3 trilhões, fazendo da China, o maior detentor de títulos americanos no mundo, com uma participação do total próxima de 22% em 2012 (BANCO MUNDIAL, 2014).

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Figura 7 – Detenção da dívida americana por parte da China, em US$ milhões, entre 2002 e 2013

Fonte: Departamento do Tesouro Americano, 2014.

A detenção da dívida americana por parte da China pode ser vista de duas formas. De um lado, existe preocupação de que a China pode, no limiar de uma disputa política mais assertiva, ameaçar vender os títulos em mãos, de forma a desestabilizar fortemente a economia norte-americana, tendo assim, vantagem sobre o exercício da política externa americana. Por outro lado, é também possível distinguir que a vantagem chinesa com a detenção é mínima, dado que turbulências na economia norte-americana podem ser tanto prejudiciais para um quanto para outro ao limitar o fornecimento e/ou o consumo de bens. Ademais, a desvalorização consequente da moeda norte-americana é vista como prejudicial também a China que teria de adaptar a moeda local de forma muito mais acentuada (MORRISON, 2014). Em paralelo à detenção de títulos da dívida, o valor comprometido com investimentos externos diretos corporativos na relação entre Estados Unidos e China é também expressivo, embora diminuto se comparado ao volume de trocas comerciais totais entre os dois países. Segundo o BEA (Bureau of Economic Analysis), o investimento direto

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por parte dos Estados Unidos na China é significativamente maior do que o investimento direto de fluxo contrário. Os dados de 2012 revelam que os Estados Unidos retêm US$51.4 bilhões investidos na China, que estimam gerar 1,4 milhões de empregos na China em companhias americanas. Em contraponto, o valor de IED advindo da China gira em torno de US$10.5 bilhões, em 2012 (LEÃO, 2012). Ademais, além do investimento direto e da retenção de tesouro nacional, ainda existem valores retidos em forma de ações. Em 2012, a China estimava reter a quantia de US$221 bilhões em ações corporativas, US$202 bilhões em valores mobiliários, e cerca de US$22 bilhões em debêntures, totalizando em ativos acionários totais por volta de US$480 bilhões (BANCO MUNDIAL, 2014). As preocupações em relação às questões de investimento entre China e Estados Unidos reiteram a disparidade entre os valores investidos. Falta, por parte dos Estados Unidos, abertura para incentivar investimentos externos de forma direta. Os altos valores comprometidos com a dívida colocam os Estados Unidos em posição desconfortável por ter valores estritamente financeiros na dependência do governo chinês. Ao passo que se houvesse investimento direto, o impacto sobre a produção, a geração de emprego e as relações políticas com a China, tenderiam a se expandir de forma mais objetiva. Contudo, ainda existe ceticismo por parte dos Estados Unidos com o objetivo de proteger a tecnologia e o conhecimento produtivo local que, na condição de maior abertura para investimento direto chinês, teriam de ser compartilhados de forma mais transparente, por vezes esbarrando em questões de segurança nacional. A questão da transparência é considerada crítica no que diz respeito à políticas de confidencialidade das companhias chinesas, assim como do governo chinês. A aproximação e abertura para investimento direto poderia, contudo, promover relações mais transparentes em âmbitos cada vez mais amplos (LEÃO, 2012) Apesar de a China ser um dos países que mais recebem investimento direto, o governo central impõe inúmeras restrições ao nível e ao tipo de investimento realizado. Segundo o Conselho de Negócios entre China e Estados Unidos (UCBC), a China impõe barreiras em quase 100 indústrias diferentes, e é considerada uma das economias mais restritas ao investimento estrangeiro (OMC, 2014). Em certa proporção, as políticas sobre investimento chinesas parecem ser relacionadas a políticas industriais que incitam a promoção de setores e empresas específicas, consideradas mais condizentes com os interesses momentâneos do governo, protegendo a participação e a competitividade nacional. Durante a década de 1980, por exemplo, a China

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desenvolveu propagandas e políticas de incentivo a companhias de capital estrangeiro a investirem na China no setor automobilístico, com a ressalva de que qualquer operação de fusão seria limitada a 50% de participação societária com parceiros domésticos (OMC, 2014). Um fato que demonstra o quão restrito é o mercado de investimentos chinês é o desenvolvimento de um catálogo, por meio do governo da China, intitulado “Guia para Investimento Estrangeiro”, que lista categorias nas quais o investimento é encorajado, restrito ou proibido. Na categoria encorajada, constam itens e setores que envolvam itens como alta tecnologia, sustentabilidade, energia e poluição. Na categoria restrita, sobretudo consta indústrias de extração de matéria-prima, e na categoria proibida, consta questões que envolvam segurança nacional de forma direta, como é o caso do desenvolvimento de aparato militar, ou setores em que o governo procura preservar monopólios estatais (MORRISON, 2014). Companhias estrangeiras na China enfrentam diversos desafios que incluem forte protecionismo, a falta de transparência regulatória, transferência de propriedade intelectual, e licenças de práticas discriminatórias. Tais práticas protecionistas desencorajam o desenvolvimento de relações mais próximas e igualitárias, potencialmente mais dinâmicas do ponto de vista econômico, pois limitam o poder de atuação de firmas estrangeiras em solo chinês. As reformas econômicas e o rápido crescimento, em paralelo aos efeitos da globalização, promovem uma crescente integração entre as economias dos Estados Unidos e da China. Embora as condições de interconexão possam proporcionar oportunidades para ambos os mercados, a proximidade da relação também ressalta crescente tensão sobre as políticas econômicas que frequentemente são vistas como medidas distorcidas, protecionistas e prejudiciais aos interesses econômicos. Portanto, as principais questões a serem solucionadas na relação de investimentos entre Estados Unidos e China incluem: (a) políticas industriais que promovem alto protecionismo de setores e companhias domésticas; (b) a falha em prover a proteção adequada de propriedade intelectual estrangeira; (c) um histórico insatisfatório de cumprimento das obrigações acordadas na OMC; (d) e a intervenção direta na taxa de câmbio promovendo a desvalorização da moeda chinesa e aumentando as vantagens competitivas na exportação chinesa (MORRISON, 2014). A análise do histórico de relações entre Estados Unidos revela os passos desenvolvidos na construção dos laços políticos e comerciais que determinaram, em sua formação, a dinâmica das conversas realizadas hoje em âmbito internacional. O crescimento

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das maiores economias mundiais atualmente foi traçado com base em ideologias e políticas distintas, mas que, depois de 40 anos, se encontram em um patamar de crescente interconexão. Diante da crise, ambas as economias, mas não só, foram afetadas de forma direta e indireta, ressaltando a necessidade de adaptação dos respectivos sistemas domésticos e formulando uma nova era de despolarização do sistema internacional (SNYDER, 2010). Foram traçados os perfis comerciais de ambos os países, mapeadas as trocas mais relevantes entre os dois e em comparação com o resto do mundo, e identificadas as suas principais demandas, assim como os produtos de maior destaque considerando a oferta local. Assim, após retratar os fluxos de compra, venda e investimento direto, foi possível identificar em que estágio a relação econômico-financeira se encontra, de forma que as dificuldades e riscos em lidar com a dada situação pudessem ser destacados. Além do desequilíbrio econômicofinanceiro, foram também salientados os pontos críticos no desenvolvimento das relações entre Estados Unidos e China, revelando, assim, pontos em que há maior interconexão e, potencialmente, passíveis de análise mais profunda sobre a existência de interdependência ou não (LEÃO, 2012).

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4. CANAIS MÚLTIPLOS DE CONEXÃO

Um dos legados deixados pela Guerra Fria que constantemente tem influenciado a política dos países, sobretudo ocidentais é a noção de que a expansão da interdependência e a aproximação de economias em prol de maior integração podem ser consideradas partes de um processo que caminha em direção da paz, da estabilidade e da prosperidade. A entrada do leste europeu em instituições e blocos como a União Europeia e a OTAN promoveram a maior consolidação de economias de mercado mais democráticas. O acesso de economias emergentes em instituições financeiras internacional oferecem opções estratégicas para a criação de políticas externas mais assertivas e que possam exercer maior influência dentro das instituições (MORRISON, 2014). Embora a interdependência, sobretudo econômica, possa atuar de forma a alavancar economias em conjunto – seja por meio de maior integração produtiva ou pela definição de polos de expertise para exportação, e liberalização total de cotas tarifárias – torna-se, também, aparente que a interdependência e maior integração envolvem âmbitos mais amplos, políticos, financeiros e sociais, carregando riscos estratégicos e desafios em um panorama de curto e longo prazo (NYE, 2009). Os riscos incluem maior volatilidade na economia global, vulnerabilidades e sensibilidades que podem desestabilizar relações bilaterais importantes, nacionalismo e protecionismo, além de que não se deve descartar a possibilidade iminente da emergência de qualquer conflito. Cada vez mais, torna-se necessário atentar aos riscos advindos de relações bilaterais no que diz respeito a crescentes graus de interdependência, e desenvolver políticas domésticas e externas de segurança que possam contrabalancear qualquer instabilidade que possa vir a ocorrer no sistema internacional (NYE, 2012). Certos fatores fazem com que os Estados passem a procurar desenvolver maiores relações de interdependência tendo em vista os seus benefícios. Inicialmente, destacando o quadro positivo da ampliação da interdependência, pensadores liberais consideram que o crescente aprofundamento de interdependência econômica é de complexidade tão ampla que gera condições sistêmicas que vão além da capacidade de gestão efetiva dos próprios Estados, que podem ser benéficas em tempos de crise. Em outras palavras, entende-se uma potencial crise como um processo econômico natural, e que a integração complexa gera forças de sustentação em momentos de crise, e maior possibilidade de resiliência, sem mudanças drásticas em um sistema existente, tendo em vista que diversas economias serão afetadas, mas

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com o tempo, tendem a se recuperar. Ademais, é importante destacar que mesmo em um mundo interdependente, os Estados são atores independentes, com interesses distintos, que estão presentes em relações conflituosas, e que fazem parte de competições geopolíticas entre si (TRANG, 2012). A interdependência, no entanto, pode ser considerada uma alternativa para frear conflitos pungentes, cujas repercussões possam ser desastrosas. Dessa forma, a interdependência é promovida por Estados com o intuito de desenvolver raízes sistêmicas em uma rede cada vez mais interligada. Como forma de se proteger contra os riscos existentes em uma relação interdependente, segundo Thomas Wright (2013) “os Estados estão procurando criar esferas de interdependência para si, para se proteger de riscos em diferentes esferas de interdependência”. Ou seja, a solução para se proteger dos riscos de uma relação interdependente é realizar relações interdependentes com outros países. As esferas de interdependência podem ser imperfeitas ou incertas, mas representam uma tentativa de preservação frente a um momento de grande volatilidade. O esforço, portanto, não é em reduzir laços de comércio assimétricos, mas em desenvolver mais relações de comércio em todo o sistema. O comércio internacional é cada vez mais complexo e vital para o desenvolvimento saudável de uma nação. Os Estados continuarão à procura do livre comércio, mas estarão cada vez mais aquém de medidas protecionistas, priorizando a manutenção e a expansão de laços comerciais. Os Estados devem procurar desenvolver relações econômicas com rivais históricos como forma de trabalhar outra relação de potencial risco, antes de reduzir as trocas como um todo (SMITH, 2013). No capítulo anterior foram detalhadas as relações comerciais entre Estados Unidos e China, de forma que foi possível identificar seus perfis produtivos, assim como a sua pauta exportadora, e o fluxo de comércio ente eles. Nota-se que as relações comerciais entre os dois países enfrentam uma acentuada disparidade de fluxo, também baseada na representatividade geopolítica de cada um, e das políticas domésticas respectivas. A relação retrata pontos específicos de convergência produtiva e riscos relacionados ao crescimento econômico saudável de ambos os países. Considerando o panorama econômico de Estados Unidos e China, essas economias são respectivamente a primeira e a segunda maior do mundo, e se destacam pelo seu volume de produção. Sustentar tamanho volume produtivo requer enorme retorno financeiro e aporte em investimento, além de um imenso dispêndio energético, com repercussões ambientais nítidas. Após análise das relações política, econômicas e financeiras

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entre China e Estados Unidos, é possível distinguir que nessas três esferas existem questões latentes, preocupantes e de interesse primordial das duas economias. Ademais, é perceptível que nessas as três esferas estão interligadas e as ações tomadas em um escopo têm efeitos sobre as outras esferas. Dito isso, identifica-se que as relações entre Estados Unidos e China apresentam quadros de interdependência econômico-produtiva, financeira e, em um contexto mais amplo, socioambiental. Neste capítulo, o objetivo é de avaliar nas três áreas identificadas, de que forma se dá a interdependência, quais são os quadros e a posição dos atores em questão de simetria, quais são as dificuldades, riscos e oportunidades dessa relação, e como lidar diante de tal realidade. Observa-se de antemão que o grande desafio de ambos os países será como conduzir os processos de integração de forma efetiva, encorajando elementos positivos, e isolando os negativos. Se feitos corretamente, administrar a interdependência de forma estratégica deverá produzir uma ordem internacional mais forte e sustentável. A questão primordial ainda salienta quais são as consequências e impactos dessa interdependência, e quando ela pode ser benéfica, ou maléfica. Cabe compreender que os efeitos estratégicos da interdependência bilateral não são forças monolíticas. Certos tipos e momentos vão encorajar a cooperação e a diminuição de possíveis tensões, ao passo em que em outros tipos, o efeito pode ser o oposto, aumentando fissões. A diferença é que a interdependência benéfica apresenta um quadro em que os benefícios são compartilhados, e nenhuma das partes consegue utilizá-los de forma a coagir a atuação ou influenciar danos desproporcionais no outro. Nesse caso, existe uma situação de vulnerabilidade simétrica. A interdependência negativa representa uma relação em que um lado tem benefícios desproporcionais e influência vertical sobre o outro, e utiliza essa vantagem como uma alternativa em tempos de crise.

4.1 INTERDEPENDÊNCIA ECONÔMICA

As relações econômicas entre Estados Unidos e China, como explicitado no capítulo acima, são marcadas pelo maior fluxo de bens e capital, registrados em uma relação bilateral na história. De acordo com as tabela 2 e 3, é possível identificar alta demanda por parte da China em equipamentos e maquinários intermediários de alto valor agregado, como bens de capital a serem utilizados como meios de produção, e por produtos primários, como

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insumos energéticos e agrícolas para abastecer a produção chinesa, ofertados pelos Estados Unidos. Por outro lado, a demanda estadunidense é composta de equipamentos eletrônicos de consumo, de valor agregado moderado. Os seus respectivos principais parceiros comerciais, no entanto, apresentam características semelhantes à contraparte em certos pontos, mas, ainda assim, não substituem as necessidades gritantes de suas economias. Além de economicamente interdependentes, os Estados Unidos e a China são competidores geopolíticos no leste asiático. De forma abrangente, ambos os países lutam por maior influência regional, incluindo a questão da manutenção da frota marítima dos Estados Unidos como centro de poderio militar trabalhando pela segurança regional na Ásia, e sua presença conflituosa no mar da China (SMITH, 2013). A presença militar no mar da China e as relações comerciais astronômicas retratam o que é a relação entre Estados Unidos e China, de fato. Pode-se entender a atual relação, portanto, como uma interdependência competitiva. Nota-se que essa ainda é uma forma de exercer poder na região, mas, ao passo em que as questões econômicas têm superado as militares, os Estados Unidos podem enfrentar dificuldades em reaver sua influência na região. Vale ressaltar que os gastos brutos e percentuais com segurança nacional e bélicos dos Estados Unidos ainda são os maiores do mundo (BANCO MUNDIAL, 2014) e, hoje, a China não apresenta ameaça direta à segurança nacional estadunidense. Ambos os países são membros do Conselho de Segurança da ONU e, publicamente, desfrutam de tecnologia militar nuclear, mesmo que apresentados os esforços em diminuir a participação nuclear (MORRISON, 2014). O foco dos Estados Unidos em questões de segurança nacional voltou a ser discutido com afinco após os ataques de 11 de setembro de 2001 e a consequente campanha de guerra contra o terror, em paralelo às guerras no Iraque e no Afeganistão. A partir de 2001, os gastos militares dos Estados Unidos atingiram, novamente, níveis percentuais elevados em relação ao PIB e, como era de se esperar, o dinamismo econômico estadunidense passou por um momento de maior estagnação. A crise econômica de 2008, somada aos gastos militares e ao foco estadunidense distorcido, contribuíram para que a China, em curto período de tempo, exercesse maior influência na região do leste asiático, desempenhando apuradas técnicas de Soft Power, e desenvolvendo relações regionais fortes (WRIGHT, 2013). A presença militar dos Estados Unidos no mar da China é uma forma de manter atentas as autoridades locais (chinesas, coreanas, taiwanesas e japonesas) de que os Estados

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Unidos ainda é um aliado preocupado com a segurança local, mesmo que as relações políticas e comerciais tenham se resfriado ao longo da última década (WRIGHT, 2013). Mesmo que a interdependência econômica continue a crescer, ela não minimiza a questão da segurança. Os Estados Unidos e a China atingiram um estágio em que o caso de Taiwan é crítico e o melhor a fazer nesse momento, é postergar o assunto, sem acentuar discordâncias (WYNE, 2012). É inconcebível pensar que tanto China quanto Estados Unidos abandonariam seus respectivos posicionamentos e aceitariam o domínio do outro em prol das relações comerciais. Mesmo porque qualquer mudança na relação com Taiwan poderia resultar em uma reformulação regional com repercussões econômicas (políticas, militares, produtivas e ideológicas) consideráveis em qualquer uma das partes (KWONG, 2012). O verdadeiro risco para Estados Unidos e China na questão de Taiwan é a incerteza na atuação da contraparte. Mais adiante, o risco é assumir que a contraparte tem interesses mais econômicos do que geopolíticos, e reagir a esse viés. Portanto, interdependência e competição geopolítica continuarão a existir. Quando ambos se encontram em um impasse ou conflito, os cálculos e estratégias geopolíticas tendem a ser mais determinantes na formulação da política externa estatal, ao menos na relação entre esses dois atores (ROSS, 2012). A análise da relação de trocas comerciais entre China e Estados unidos, primeiramente, envolve uma vasta bibliografia que discorre sobre potenciais conflitos e oportunidades, dividida, novamente, entre liberais e realistas. Os liberais argumentam que o comércio cria interesses em comum e fomenta relações de cooperação e integração mais próximas. Os realistas, por outro lado, argumentam que os benefícios das relações muito raramente apresentarão simetria, com ganhos mútuos, e que o mais provável é a criação de vulnerabilidades (NYE, 2012). As instituições internacionais como a OMC e a criação de sistemas de troca que fomentam o comércio internacional trabalham para que as preocupações trazidas pelos realistas sejam diminuídas, ao mesmo tempo em que a visão liberal seja promovida no sistema internacional. As relações desenvolvidas e, de certa forma, reguladas pelas organizações, são administradas com o intuído de democratizar o comércio justo entre as nações.

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4.2 INTERDEPENDÊNCIA FINANCEIRA

A interdependência financeira entre Estados Unidos e China se dá pela compra por parte da China da dívida externa americana.

Esse é um exemplo claro de

interdependência negativa, visto que as vulnerabilidades, apesar de pesarem para ambos os lados, pesam de forma assimétrica, com custos mais dispendiosos para um e menos para outro. Nesse específico caso, dois questionamentos podem ser feitos. Inicialmente, quão arriscado é ter grande parte da dívida comprometida com credores estrangeiros; e posteriormente, se é especialmente arriscado que grande parte esteja comprometida com a China (BURDEKIN, 2011). Primeiramente ao considerar os riscos em se manter a crise, de uma perspectiva puramente econômica, é melhor tê-la amparada por economias estrangeiras do que inteiramente nas mãos de investidores internos. A compra da dívida por meio de títulos do Tesouro nacional reduzem os custos de empréstimo federal e reduzem os custos adjacentes e impostos na economia como um todo (WRIGHT, 2013). Em segundo lugar, a questão da China envolve preocupação por parte dos Estados Unidos no que diz respeito à estabilidade da relação e, mais profundamente, de segurança nacional. Embora grande parte dos analistas norte-americanos considere que a compra da dívida americana por parte da China não exerça influência sobre a política externa estadunidense, é prudente articular que a China pode considerar utilizar uma estratégia em resposta a alguma potencial ameaça à soberania nacional chinesa ou na região do leste asiático. Faz sentido, no entanto, avaliar que se a China despejar os títulos da dívida na economia, os interesses econômicos chineses seriam severamente afetados. Existem assim, dois cenários nos quais a apropriação chinesa da dívida americana poderia desestabilizar as relações de interdependência entre eles (MORRISON, 2014). O primeiro retrata uma verdadeira crise política entre os dois países. Se Estados Unidos e China estivessem em face de um conflito, por exemplo, sobre Taiwan, ou qualquer outra ilha no mar da China, Pequim poderia ameaçar descarregar a dívida americana, afetando a economia americana de forma mais acentuada e imediata, fazendo-a cambalear durante a crise ou a disputa por Taiwan. Em resposta, as nações aliadas (sobretudo na própria região do leste asiático) poderiam tentar arcar com o despejo das dívidas, mas, o Japão já detém grande parte da dívida e não usufrui mais de uma economia tão dinâmica a ponto de comprar novas quantias consideráveis de títulos. O mesmo acontece com outras economias aliadas como

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Canadá e México, além de que os países asiáticos que estariam dispostos a sustentar a dívida, são de porte relativamente diminuto. De qualquer forma, os Estados Unidos estariam sujeitos a sofrerem imediatos efeitos sobre a flutuação cambial, e influência local, demonstrando alto grau de sensibilidade e vulnerabilidade na questão da dívida com a China. Antes de adentrarem em qualquer tipo de conflito empírico, espera-se que tais questões que oferecem vantagens competitivas ou relações de interdependência assimétrica, sejam utilizadas de forma a incitar, simular e ameaçar, com o objetivo de conter qualquer ação indesejada da contraparte. A ideia de conflito entre Estados Unidos e China ainda parece um tanto distante (WRIGHT, 2013). O segundo cenário seria o despejo da dívida por parte dos mercados externos, e não só da China, devido a uma potencial falta de confiança no futuro do Tesouro americano. Nesse caso, os Estados Unidos deveria avaliar seriamente a cooperação com a China, de modo que ela mantenha seus títulos, financiando a dívida americana e suportando possíveis decadências da economia americana, eventualmente comprando ainda mais títulos do Tesouro. Dessa forma, Pequim desempenharia uma vantagem ainda mais vertical sobre Washington, podendo ser traduzida em maiores campos de influência. Ou ainda, por outro lado, a China poderia (muito mais provavelmente o faria) despejar seus títulos antes do resto do mercado, servindo seus próprios interesses econômicos (WRIGHT, 2013). Da mesma forma, entende-se que a prosperidade econômica da China se dá se baseada em maiores relações de troca, principalmente com países de conhecimento tecnológico avançado, de produção de alto valor agregado, e dinamismo ágil. Os Estados Unidos são um parceiro estratégico no crescimento chinês, pois representam um mercado gigantesco, com poder de compra e necessitado dos serviços e produtos oferecidos pela China. A desestabilização econômica estadunidense apresenta uma ameaça, ou ao menos turbulência no crescimento chinês. Por isso, em 2008, com o estouro da bolha imobiliária, a China viu nos Estados Unidos duas oportunidades. A primeira, de sustentar uma economia volumosa, de extrema importância para a economia global; e outra, de exercer sobre ela, algum nível de controle e vantagem que poderia no limiar de um conflito, servir de influência política (MORRISON, 2014). Em qualquer que seja o cenário potencial, a questão da dívida para os Estados Unidos é retrato de uma relação assimétrica. Nota-se a existência de interdependência, considerando o fato de ambos se beneficiarem com a compra da dívida americana. Por um lado os Estados Unidos recuperam sua estabilidade produtiva e monetária no sistema

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econômico, mesmo que atrelada a outro país, ao passo em que a China sustenta um parceiro econômico primordial, e exerce potencial vantagem política sobre Washington. Por outro lado, existe ainda a questão dos investimentos diretos, além da compra de títulos do Tesouro. Como foi explicitado acima, o fluxo de investimentos entre Estados Unidos e China tem maior direção para o país asiático. Os dados de 2012 revelam que os Estados Unidos retêm US$51.4 bilhões investidos na China, que estimam gerar 1,4 milhões de empregos na China em companhias americanas. Em contraponto, o valor de IED advindo da China gira em torno de US$10.5 bilhões, ao final de 2011. No início de 2012, nota-se grande elevação no fluxo por parte dos investimentos chineses, como mostra a figura 7, abaixo: Figura 8 – IED chinês nos Estados Unidos entre 2009 e 2013, em US$ bilhões.

Fonte: Grupo Rhodium, 2014.

A China, no entanto, apresenta uma tendência de intensificar os investimentos externos nos Estados Unidos nos últimos anos, tendo sido 2013, o ano em que houve maior número de fusões e aquisições de empresas chinesas em solo norte-americano. A China, portanto, aparece como um dos principais (se não o principal) atores responsáveis pela recuperação econômica dos Estados Unidos, e manutenção americana do seu status de poder no sistema internacional, como uma economia sólida e dinâmica. O aumento de investimentos advindos da China, e a tentativa de impulsionar a rápida recuperação estadunidense mostra o

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quão necessário para a China é manter a posição de destaque dos Estados Unidos. O fluxo de investimentos crescente pode ser considerado um dos fatores determinantes que mostra a existência da interdependência

econômica

e financeira, por meio da crescente

interconectividade produtiva em ambos os países.

4.3 INTERDEPENDÊNCIA SÓCIOAMBIENTAL

A questão da poluição, e da disseminação de gases que causam o efeito estufa é, em grande parte, de responsabilidade dos dois países em questão. As duas maiores economias do mundo, em questão de consumo e produtividade, para manterem seus níveis de crescimento, desenvolvimento tecnológico e produtividade, precisam de enormes fontes de matéria prima, mão de obra e energia. O crescimento desenfreado no passado, somado a certa negligência quanto a lidar com assuntos ambientais, retrata o que hoje é uma preocupação latente de todos os países e pessoas, uma vez que não só a segurança nacional é colocada em discussão, como também a sobrevivência do planeta. A questão da interdependência, portanto, no quesito poluição ambiental, não será abordada neste trabalho pelo simples fato de que não existem partes que ganham ou partes que perdem. Nesse caso, não existem ganhos mútuos, apenas perdas para todos. Os esforços para lidar com a questão, nesses sim, pode haver interdependência produtiva, intelectual, mas o fato extremo é que todos, sem exceção, estão igualmente vulneráveis às variações ambientais (sobretudo climáticas e de oferta de recursos) como um todo. Na relação entre Estados Unidos e China, uma questão ambiental mais específica pode ser considerada a sustentabilidade de sua produção no que diz respeito aos recursos utilizados. A questão energética é a mais latente em relação à continuidade e o crescimento da produtividade e, consequentemente, da economia de ambos os países. Segundo a Agência Internacional de Energia (2014), os Estados Unidos têm se tornado, ao longo da última década, menos dependente do suprimento de petróleo do Oriente Média. As fontes estadunidenses têm se diversificado em relação a gás natural, hidroenergia e eólica, e os investimentos em pesquisa por fontes alternativas parecem surtir efeitos notáveis, também por serem esforços conjuntos. Por outro lado, na direção contrária, enquanto a economia da China se expande, sua demanda por insumos energéticos (sobretudo importados) é literalmente insaciável, ao ponto de ocorrerem frequentes quedas de energia nas maiores cidades chinesas da atualidade.

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Atualmente, cerca de 80% da importação de petróleo da China, recente maior importador de petróleo do mundo, vem de fontes no Oriente Médio. Como mostram os indicativos de importação chineses, apesar da alta produção e extração de insumos energéticos, a demanda externa por essas matérias ainda é bastante elevada. Inclusive, a demanda crescente por carvão fornecido pelos próprios Estados Unidos (WRIGHT, 2013). Figura 9 – Comparação de importações líquidas de petróleo entre Estados Unidos e China em barris por dia entre 2011 e 2015

Fonte: IEA A demanda energética de ambos os países, dependentes de fornecimento externo, por si só já demonstra altos riscos e alta sensibilidade dos ao desenvolvimento de suas respectivas economias. Ademais, a dependência por insumos singulares (carvão por parte da China, e petróleo por parte dos Estados Unidos) intensificam, mesmo com a tentativa – demorada e de difícil execução – de encontrar fontes alternativas (MORRISON, 2014). O fato que pode ser considerado como crítico no quesito energético é a presença constante da frota naval dos Estados Unidos no mar asiático, e a presença americana no Oriente Médio. A questão pode ser vista também, de duas formas. Por um lado, os suprimentos advindos do Oriente Médio para a China passam por rotas controladas pelo exército americano. A preocupação por parte da China é que os Estados Unidos, em uma potencial crise, venham a cortar as linhas de suprimento de insumos energéticos, em uma tentativa de mudar o comportamento chinês ou, de fato, afundar a economia asiática (DINGLI, 2012). Por outro, é possível avaliar que a presença estadunidense no Oriente Médio serve como forma de estabilizar a região e evitar maiores conflitos locais. O suprimento de insumos

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energéticos chinês poderia estar comprometido se qualquer conflito mais severo viesse a ocorrer na região. As rotas de suprimento seriam igualmente afetadas. Somado ao fato de que o exército chinês seria incapaz de lutar pela proteção de suas rotas no Oriente Médio e, muito menos pela estabilidade da região, os Estados Unidos podem ser vistos pela China como um meio de proteção ao suprimento energético na Ásia, sobre o qual a China também é vulnerável (MORRISON, 2014). É indiscutível que a presença dos Estados Unidos na região do leste asiático e no Oriente Médio é estratégica. Os americanos procuram a estabilidade da região, assim como os chineses, e a presença americana na região pode ser um fator primordial para a contenção de conflitos de maior escala no Oriente Médio. Em paralelo, existe a preocupação de países aliados, como Japão e Coreia do Sul, em relação ao posicionamento extremista da Coreia do Norte que, frequentemente realiza testes de armas nucleares na região, afetando a convivência com os países vizinhos. Finalmente, a disputa sobre Taiwan, é mais um motivo pelo qual a presença da marinha americana no mar asiático, mesmo que baseado em diretrizes de Hard Power exerce influência em temos de poder na Ásia (SHENGYONG, 2010). O fato se torna ainda mais crítico se analisadas as alternativas mínimas (quase inexistentes) da China em novas fontes ou rotas de energia. O desenvolvimento de pesquisas em fontes alternativas de energia é árduo e em longo prazo. A produção chinesa baseada em carvão sofre críticas pesadas em relação à intensidade dos poluentes resultantes da queima da matéria, e a pressão para a utilização de novas fontes é corriqueira. A primeira alternativa da China é o petróleo que, da mesma forma, apresenta riscos pela sua escassez vigente e pela volatilidade dos preços das commodities. Em paralelo, a presença americana no Oriente Médio teria a capacidade de dificultar o suprimento desse tipo de insumo, deixando a China ainda mais vulnerável. Dando prosseguimento à procura por fontes alternativas, a China poderia (e já vem fazendo) estreitar laços com a Rússia, em relação ao suprimento de gás natural como fonte energética. A medida, contudo, não resolve, nem diminui a vulnerabilidade da China, visto que a construção de dutos e usinas com tal capacidade é extremamente custosa e demorada, além de que a dependência energética com a Rússia também apresenta riscos salientes. Com o intuito de diminuir a sua vulnerabilidade em relação à marinha e ao exército estadunidense, a China poderia ainda, investir no desenvolvimento tecnológico e na expansão da sua própria frota naval e no exército como um todo, igualando, ou ao menos

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diminuindo as disparidades militares na Ásia. A medida seria igualmente arriscada, pois Índia, Japão e os Estados Unidos certamente veriam a ação como uma ameaça direta à segurança nacional. Nesse momento, qualquer conturbação que apresente tendência ao uso de força militar está fora de questão (WRIGHT, 2013). Os Estados Unidos, apesar de apresentarem um perfil energético mais disseminado, também são vulneráveis quanto ao suprimento externo, e a volatilidade do preço das commodities. Ainda, o desenvolvimento de alternativas é altamente custoso, mas, de um ponto de vista geopolítico, usinas de produção mais natural (como eólica e hidrelétrica), parecem mais palpáveis aos Estados Unidos do que à China. Na área socioambiental, especificamente energética, portanto, é possível destacar uma relação de interdependência assimétrica com extrema sensibilidade para ambos, alta vulnerabilidade por parte da China e vulnerabilidade maleável por parte dos Estados Unidos. A presença da frota naval estadunidense na Ásia retrata que o Hard Power ainda é utilizado pelos Estados Unidos no exercício de influência na região e a imposição de uma relação de maior dependência, uma vez que o suprimento energético chinês está comprometido à atuação pacífica dos americanos na região do leste asiático. O crescimento produtivo da China, portanto, depende de uma energia em parte controlada pelo exército americano, tornando a China extremamente vulnerável à boa-vontade estadunidense. Para os Estados Unidos, a manutenção da frota naval na Ásia também é dispendiosa, mas considerando a geopolítica e as questões com a Coreia do Norte e Taiwan, necessária para a estabilidade regional e a disputa por interesses americanos. É notória a vulnerabilidade também quanto a reformulação dos respectivos sistemas produtivos na possibilidade de focar em fontes diferentes, que é altamente custosa. A interdependência energética, diferente da econômica, destaca dificuldades que poderiam resultar em conflito armado. Além da assimetria acentuada, a interdependência energética tem base na utilização de frotas militares, e na desconfiança da atuação da contraparte. Pelo resultado final poder tender ao conflito armado, e pelo fato de o corte de suprimentos energéticos ter decorrência direta na economia de ambos, a interdependência energética pode ser considerada negativa para os dois.

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5. CONCLUSÃO

Ao passo em que as nações transitam cada vez mais em direção a um mundo mais integrado, interligado e interdependente, os riscos desse processo se tornam mais aparentes, obrigando os Estados a procurarem por alternativas para se proteger contra tais riscos. Aumentar as barreiras de troca e intensificar as políticas de protecionismo poderia ser uma opção, se o mundo hoje não fosse composto de tantos atores, sistemas e instituições, ligados de forma tão complexa que, por vezes, limitam a possibilidade de se fecharem com intuito de se proteger. Os esforços têm sido direcionados à procura de alternativas dentro de um processo corrente, muito mais do que a quebra de um processo ou sistema e implementação de outro. Dessa forma, a diminuição do fluxo de trocas comerciais e investimentos, ou a criação de novas instituições e sistemas, parecem ser dinâmicas pouco desejadas. Ao invés disso, a pauta é direcionada à regulamentação, transparência, democratização e maior participação nos sistemas financeiros e comerciais, com maior discussão sobre seu funcionamento, em questões de maior vulnerabilidade. Na relação entre Estados Unidos e China, sobretudo durante o século XXI, e após a crise de 2008, é possível detectar diversos pontos críticos ao desenvolvimento de suas respectivas economias, que estão conectados de tal forma entre si, que criam uma relação de interdependência, em que a atuação de um é extremamente limitada, ou dependente da atuação do outro, e os resultados advindos da relação podem ser tanto benéficos e mútuos, quanto maléficos e unilaterais. Após a análise do histórico das relações entre Estados Unidos e China e da avaliação de seus perfis econômicos, bem como as trocas entre ambos e o mundo, é possível destacar ao menos três tópicos nos quais a existência de interdependência pode ser identificada. São eles: o âmbito econômico, o financeiro e o sócio-ambiental. O advento da crise, em parte, pode ser considerado como um aspecto que intensifica a interdependência, pois contribuiu com a mudança de posicionamentos políticos específicos. A interdependência econômica é representada de forma relativamente simétrica e equilibrada, em que ambos são beneficiados com a saúde econômica da contraparte, apesar da acentuada discrepância da balança comercial (favorável à China). No quesito econômico, nota-se uma relação de ganhos mútuos, pois o posicionamento produtivo das duas economias é diferente. Ao passo em que os Estados Unidos têm foco produtivo em bens de alta

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tecnologia, e fortes indústrias de alto valor agregado, a China, por outro lado, dispõe de uma indústria de produção em escala, de mercadorias de valor mediano. A China depende da importação de insumos e bens intermediários, de capital, de produção. Os Estados Unidos depende da importação de bens tecnológicos de consumo, e de baixo valor agregado, como têxteis. A produção da China, portanto tem demanda por parte dos Estados Unidos, e a produção estadunidense tem demanda chinesa. Assim, ambas as nações se beneficiam do desenvolvimento saudável da outra, e sofrem com vulnerabilidades semelhantes no caso de uma crise ou conturbação no sistema internacional. A crise, nesse aspecto, fez com que a capacidade produtiva e de consumo dos Estados Unidos se retraísse, retardando o crescimento econômico do país, assim como o seu desenvolvimento tecnológico. O foco claramente direcionado a reestruturação da economia a despeito do foco militar também pode ser identificado como objetivo a partir de 2008, dando mais abertura à discussão sobre a China e à realização de políticas e acordos direcionados ao país asiático. Não foi identificado, no entanto, qualquer tipo de mudança brusca no quadro produtivo no que diz respeito à diversidade e direcionamento da produção. O que se identifica é uma queda geral na atividade industrial, mas não uma mudança da pauta produtiva. Essa queda de produtividade, no entanto, ocorre de forma muito mais acentuada nos Estados Unidos, dando espaço à China para alargar suas relações na região do leste asiático, assim como no resto do globo, de forma mais assertiva. A relação de interdependência financeira entre Estados Unidos e China se dá pela compra da dívida americana por parte da China, nutrida desde o início do século, e intensificada com a crise de 2008. No início do século, os ataques terroristas de 11 de setembro nos Estados Unidos geraram uma campanha encabeçada pelos americanos contra o terrorismo, incitada pelo envio de tropas americanas aos territórios do Iraque e do Afeganistão. Os gastos com tal campanha e as respectivas investidas nos países do Oriente Médio geraram um rombo no orçamento norte-americano considerável. Com a falência de algumas das principais instituições financeiras, e do estouro da bolha imobiliária nos Estados Unidos, resultado da crise financeira de 2008, a dívida estadunidense foi estimada em mais de US$ 17 trilhões. Com a iniciativa de conter a dívida, ela foi convertida em títulos do governo, que poderiam ser comprados por investidores estrangeiros. A China é o maior detentor desses títulos e, assim, tem em sua posse, grande parte da economia norte-americana. Isso quer dizer que, se a China optar por vender todos esses títulos de uma só vez, a economia estadunidense seria extremamente desestabilizada, e as alternativas são mínimas, e de custo abusivo.

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Entende-se, portanto, que a relação financeira de interdependência deve considerada assimétrica, e maléfica. Com a compra da dívida, a China expressa imposição direta sobre a economia norte-americana, deixando os Estados Unidos em uma posição extremamente vulnerável, confiando uma parcela grande de sua economia nas mãos da nação chinesa. Contudo, no momento da compra, a China foi responsável pela tentativa de conter as repercussões da crise na economia estadunidense, o que mostra mais uma vez que o desenvolvimento da economia chinesa depende da saúde da economia americana. Existem dois momentos, portanto. Um é o momento da compra, em que a China sofre pela sensibilidade da recessão econômica estadunidense e, assim, protege a economia norteamericana de uma falência mais acentuada. E outro, é o momento contínuo de retenção da dívida, que coloca os Estados Unidos em posição de alta sensibilidade e alta vulnerabilidade. Finalmente, a relação de interdependência socioambiental, sobretudo na questão energética, pode ser percebida como uma relação assimétrica, de alta vulnerabilidade da China. As duas maiores economias do mundo, para se sustentarem, precisam de recursos energéticos abusivos. Uma vez que a produção energética nacional não sustenta a demanda total, as economias dos Estados Unidos e China dependem da importação de insumos energéticos e da diversificação das fontes de energia. Os Estados Unidos apresentam certo grau de diversificação mais confortável, enquanto a China confia na produção baseada no uso de carvão mineral e, como alternativa o uso do petróleo. A grande maioria da demanda energética chinesa é ofertada pelo Oriente Médio, região na qual os Estados Unidos têm presença militar abrangente. A vulnerabilidade da China parte do pressuposto que as rotas de suprimento de energia da China estão controladas pelo exército americano no Oriente Médio e no mar asiático, somado ao fato de que a diversidade das fontes energéticas chinesas é diminuta. As alternativas da China, portanto, seriam em desenvolver fontes alternativas de energias, ou investir em presença e tecnologia militar no Oriente Médio. Ambas, medidas extremamente custosas e de longo prazo, fazendo dessa, uma relação de interdependência assimétrica e maléfica, de alta vulnerabilidade por parte da China. Entende-se que a relação entre Estados Unidos e China é largamente interdependente e, mesmo que de forma assimétrica, podem ser identificados benefícios mútuos na balança econômica e financeira. A verdade é que ambas as economias estão dependentes do bem-estar da outra, de forma que uma alimenta as necessidades da outra em âmbito produtivo e de consumo. Assim, manter o fôlego econômico em ambas pode ser

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considerado de interesse mútuo. Ainda, as medidas financeiras adotadas e a presença regional, podem ainda ser consideradas medidas que, apesar de limitarem a atuação da contraparte e elevarem vulnerabilidades latentes, contribuem com a manutenção de um sistema equilibrado, mais multipolar e dinâmico (RAE, 2014). Com o intuito de diminuir as vulnerabilidades apresentadas acima e, com o objetivo de aproximar os dois países, incentivando o desenvolvimento de uma relação de interdependência saudável, é necessário que os seus respectivos governos estejam dispostos a dialogar de forma aberta, sobre as próprias vulnerabilidades e objetivos no sistema, de forma que seja possível traçar acordos e políticas que direcionem a atuação de ambos, com menor desconfiança e maior integração em prol de um sistema mais justo e sustentável (WRIGHT, 2013). É necessário que haja discussão sobre a interdependência, em relação à manutenção das vulnerabilidades, que limitam a atuação da contraparte, ou da diminuição das mesmas, com base em acordos mútuos. A redução das assimetrias possivelmente implicaria em menor volatilidade e desequilíbrios financeiros, protegendo as respectivas infraestruturas, além de assegurar suprimentos alternativos. Como consequência, Estados Unidos e China poderiam intensificar suas relações em áreas de interdependência positiva, como as trocas comerciais e intercâmbios educacionais (WRIGHT, 2013) É interessante, para um crescimento mútuo, que os Estados Unidos expandam suas alianças e parcerias no leste asiático, assim como é importante manter sua presença física na região. Os países do leste asiático se encontram, cada vez mais, em posição assimétrica de interdependência com a China. Os Estados Unidos pode vir a ser uma opção viável para que esses países possam se proteger das vulnerabilidades enfrentadas nas suas respectivas relações bilaterais com a China (MORRISON, 2014). Ainda, é latente que o setor financeiro seja trabalhado de forma mais transparente e conjunta. Ainda que muito tenha sido feito desde a crise financeira de 2008, incluindo a adoção de políticas bancárias mais restritivas, o caminho a ser percorrido ainda é longo. A supervisão com maior afinco por parte do FMI seria de grande valia, mas não obstante, maior cooperação e coordenação entre as nações e as instituições poderiam ser mais bem avaliadas com o intuito de reparar possíveis falhas administrativas e sistêmicas. A pauta sobre interdependência no sistema internacional deve ser mais frequentemente discutida, tendo em vista que em um mundo extremamente interconectado, a potenciais falhas e quebras podem estar mais maquiadas, escondidas, imperceptíveis. A

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vulnerabilidade vai além das fronteiras territoriais e uma integração mais transparente e planejada pode ser uma das soluções para o desenvolvimento saudável, sustentável e o crescimento mútuo das nações.

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