A relação dicotômica do espaço: o urbano e o rural

September 11, 2017 | Autor: Alexandre Anselmo | Categoria: Geografia, Geografia Agrária, Geografia Urbana
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Universidade Estadual do Ceará - UECE Centro de Ciências e Tecnologia - CCT Curso: Geografia - Licenciatura Disciplina: Geografia Agrária Professor: Juscelino Eudâmidas

A RELAÇÃO DICOTÔMICA DO ESPAÇO: O URBANO E O RURAL Alexandre Anselmo de Sousa1 RESENHA DE: SPOSITO, Maria Encarnação Beltrão. A questão cidade-campo: perspectivas a partir da cidade. In: SPOSITO, Maria Encarnação Beltrão; WHITACKER, Arthur Magon (Org.) Cidade e Campo: relações e contradições entre urbano e rural. 1. ed. São Paulo: Expressão Popular, 2006. p. 111-130.

A geógrafa Maria Encarnação Beltrão Sposito, que possui toda a sua carreira acadêmica voltada para a ciência geográfica, com título de Pós-Doutorado pela Université Paris 1 PantheonSorbonne, conquistou seu título mais recente de Livre Docência em 2005 e atualmente exerce a profissão como professora adjunta na UNESP. Com larga experiência em Geografia Humana, traz através de seu livro o debate da relação do ambiente urbano e rural. Diante das evoluções dos processos de urbanização no século XX, e da constância dessas modificações, a autora tenta estabelecer uma nova forma de apreensão dessas realidades. Dando um novo sentido a essas pesquisas, a mesma realiza o desenvolvimento da análise das relações que ocorrem na “questão cidade-campo”, a partir de uma visão urbana. Dentro desse modelo, foram estabelecidos atributos, nos quais irão se nortear o presente estudo. Os atributos tratam da concentração demográfica, diferenciação social e unidade espacial. A respeito da concentração demográfica, Sposito (2006) relata que esse é um dos quesitos mais comuns utilizados para análise e identificação de cidades. Ela adverte que, permanecer somente com essa premissa, leva a conclusões errôneas, devido ela não contemplar todas as especificidades ocorridas nesses espaços. Essa análise de concentração vai além, pois não se identifica apenas concentração populacional, mas também de serviços, comércio, cultura, 1

Graduando do curso de Geografia/Licenciatura da Universidade Estadual do Ceará – Campus Itaperi. Julho 2014. E-

mail: [email protected]

construções, escolas etc. Há um objetivo de se transpor essa barreira dicotômica de urbano e rural, estabelecendo variáveis de mensuração de dados que compreendam os dois espaços citados, eliminando assim critérios específicos que causam diferenciações nas abordagens, dando um caráter mais generalizado dos dados. Em um segundo momento, a autora discorre sobre a diferenciação social, informando que devido à sedentarização da humanidade e posteriormente o estabelecimento da divisão social do trabalho, foi o que causou o surgimento dessa diferenciação de espaços de cidade e campo. Este atributo permite se analisar a cidade e o campo a partir de suas relações políticas, econômicas e sociais, focando na interação e comportamento desses espaços. Dentro desse modelo se identifica que não há somente a divisão social do trabalho, mas também a territorial, técnica e econômica. Em relação ao atributo de unidade espacial, trata-se de uma demarcação territorial que se faz presente desde a Antiguidade. Essa demarcação era simbolizada antigamente pelas muralhas, com função de separar o território urbano de comportamento diferenciado, caracterizando uma integração com predominância da política e do poder. Mesmo tendo essa característica, esse poder e comportamento das sociedades não eram equitativos em sua distribuição. Normalmente esse fluxo se concentrava no centro da cidade, juntamente com o domicílio das classes mais abastadas da sociedade, e com isso tendo por consequência futura o surgimento de áreas de características suburbanas mais distantes no decorrer de sua expansão. Essa unidade espacial ia sendo definida ao mesmo tempo em que o campo ia perdendo seu poder de influência, reforçando assim essa dualidade de espaços. Sposito (2006) amplia a discussão ao tratar das tendências atuais de comportamento do espaço, a partir dos registros de descontinuidades que são detectados. Se no passado havia uma evidente tentativa de separação desses ambientes, o que vemos hoje é uma indefinição de limite territorial, havendo uma superposição desses espaços, sendo utilizado o termo “cidade/campo” para caracterizar tal comportamento. Essa continuidade de espaços permite o surgimento das áreas de transição, onde há o contato e compartilhamento de dinâmicas sociais, econômicas e culturais. A fragilidade na distinção de limites da cidade e do campo na atualidade permite o surgimento de uma nova unidade, interligando e relacionando os espaços urbanos/rurais. Um dos fatores que contribui para essa dinâmica é a expansão territorial através de loteamentos e especulação imobiliária. Esse processo normalmente ocorre nas terras que estão circundando a cidade e que está delimitado dentro do perímetro urbano. Essa evolução territorial na maioria dos casos não tem sincronia com os moldes da cidade já estabelecida, o que permite o surgimento de descontinuidades territoriais, descaracterizando o que antes era campo e ao mesmo tempo não se definindo efetivamente como um espaço urbano.

A autora relata que existem outros motivos para esse desenvolvimento difuso das regiões: o desenvolvimento dos transportes, facilitando o deslocamento não só de pessoas, mas também de serviços e oportunidades de cunho econômico e comercial; O avanço do setor de tecnologia e comunicação, que permite uma integração dos espaços de modo virtual, através do telefone, da internet e de vários outros meios tecnológicos, dessa forma influenciando substancialmente na morfologia do espaço, desde a escala local até a internacional. Sposito (2006) também menciona sobre a análise pelo viés da temporalidade, e que as transformações que são ocorridas no espaço têm uma relevância maior por privilegiar a dinâmica atual. Essa linha de pesquisa pode ser exercida em parceria com outras variáveis de análise, como demografia e mobilidade. O texto se configura de suma importância para a temática abordada. Longe de exaurir o conteúdo, a autora propõe essa discussão e também ressalta que isso é apenas um caminho para tentar compreender toda a complexidade e a dinâmica dos espaços urbanos e rurais. Para uma melhor abordagem de toda essa realidade, Sposito (2006) discorre que será necessária uma modificação substancial na metodologia de estudo e pesquisa de várias ciências, inclusive na de Geografia, saindo do modelo tradicional e se adequando conceitualmente a novas formas de apreensão dos comportamentos espaciais recentes.

O texto é indicado para estudantes de Geografia e demais interessados sobre as dinâmicas espaciais urbanas e rurais.

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