A RELAÇÃO ENTRE ARTE E PROGRESSO: um debate a partir do capitalismo contemporâneo

May 30, 2017 | Autor: Rafael Avelino | Categoria: Artes, Marxismo, Economia Política, Progresso
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A RELAÇÃO ENTRE ARTE E PROGRESSO: um debate a partir do capitalismo contemporâneo Rafael Lucas S. Avelino – [email protected] Mestrando em Gestão e Sociedade na linha de pesquisa Sociedade Brasileira pela UFVJM, Especialista em Finanças, Graduado em Ciências Econômicas pela UFVJM Palavras chave: Capitalismo – Progresso – Cultura – Artes Eixo Temático: Educação, cultura e arte

Introdução

Em tempos de crise do modo de produção capitalista, é elementar a discussão e o debate acerca das diversas esferas que constituem a totalidade de nossa vida na sociedade, na busca da compreensão de como essa crise se manifesta. As distintas formas que tal crise possui retratam uma crise em amplas dimensões, a qual não só está inserida na esfera econômica ou política, mas constitui-se uma crise que coloca em xeque toda sociedade, sua organização social e sua produção intelectual (MÉSZÁROS, 2001). Ainda que não haja rompimento da lógica de acumulação de capital, novos elementos surgem. O novo cenário que agora se desenha nos leva a buscar um entendimento dos impactos desta nova fase da produção capitalista a uma importante esfera do desenvolvimento da humanidade: as manifestações artísticas. A esfera das artes acompanha a ideia de progresso que nasce com o surgimento da modernidade e revoluciona a sociedade em todos os sentidos: econômico, político e cultural. Cabe-nos hoje entender a relação do progresso, cujo conteúdo é associado diretamente à esfera econômica, e a arte que se manifesta nos dias atuais. As bases fundamentais do pensamento moderno se firmam num projeto de sociedade e de uma nova forma de organização social burguesa, e estes ideais se tornam ferramentas fundamentais para o homem racional, o qual se volta ao futuro tanto de forma individual como coletiva, em busca de uma nova e melhor sociedade. Uma das ideias mais recorrentes que encontramos a partir da modernidade, cuja base é a consolidação da sociedade burguesa, é a ideia de progresso. A mesma se encontra em diversos aspectos do pensamento burguês desde o princípio e se consolida como um valor e necessidade da sociedade como um todo. O progresso se torna certo tipo de “mito” que auxilia em toda afirmação de ideias, desde a modernidade até os tempos atuais, gerando

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consequências em toda vida social. E é nesse sentido que o ser social se torna um ser que terá sua existência condicionada pelo meio social em que o progresso e demais ideias são pensadas sob a ótica da produção capitalista, a partir do foco em um objetivo e projeto de sociedade e organização produtiva cujo fim é a acumulação capitalista. O progresso possui uma conexão com a ideia das artes em seu contexto como manifestações culturais a partir da necessidade de torná-lo um objetivo central da sociedade, sendo historicamente construído como uma necessidade que chega aos diversos aspectos, influenciando a arte e a cultura como um todo, gerando consequentemente uma diferenciação em classes sociais ou frações de classe por sua forma de se expressar e entender o mundo distinto ao modelo colocado. O progresso se torna algo cultural, logo, algo civilizado, desenvolvido, diretamente ligado às questões econômicas e formas de reprodução da sociedade, sobretudo capitalista. A questão cultural apresenta-se como um debate necessário a ser feito, e nessa relação com o progresso, sobretudo o econômico nos dias atuais, aparecem ser necessários com base no que Wright (2007) nos coloca: [...] Conforme as culturas se tornam mais elaboradas e as tecnologias mais poderosas, essas especializações podem se tornar um fardo – vulneráveis e, em casos extremos, mortais. [...] Isso é o que chamo de uma “armadilha do progresso”. No entanto, tecnologias muito mais simples também seduziram e arruinaram sociedades do passado, até mesmo na Idade da Pedra. [...] temos sidos moldados cada vez menos pela natureza e cada vez mais pela cultura, em suma, nos tornamos criaturas experimentais a partir de nossa própria realização. (WRIGHT, 2007, p.44)

Em vista disto, as mudanças da sociedade em geral que medem seu nível de vida a partir do consumo nos dias atuais, podemos compreender a necessidade de se pensar as artes e levantar esse debate, pois esta se alterou num ritmo exponencial, assim como o modo de se pensar a economia e toda a sociedade. Celso Furtado afirma sobre o assunto: “Sou de opinião que o debate sobre a reflexão sobre cultura deve ser o ponto de partida para o debate sobre as opções do desenvolvimento” (FURTADO: 1984 p. 34). Sendo assim, pensar a cultura e as manifestações artísticas neste lócus é demonstrar que as manifestações artísticas e culturais possuem um papel fundamental ao longo de toda história da humanidade. Aprofundando no assunto, percebemos que “as culturas são construídas com base no incessante tráfego com a natureza que chamamos de trabalho”. (EAGLETON: 2005 p. 54) Portanto, o debate entre progresso e manifestações artístico-culturais passa a ter um papel importante e entender essa relação é entender como que as mudanças no capitalismo global se atrelam às ideias culturais como fundamentais no cenário da sociedade capitalista.

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O “progresso” da sociedade capitalista, ao final do século XX e na inauguração de um novo milênio, apresenta-nos um cenário contraditório. Como nos apresenta Harvey (2011), existem marcos decisivos no que tange os acontecimentos históricos, fatores importantes a se destacar na construção das ideias e postulados teóricos a partir do desenvolvimento do capitalismo em todo globo, os quais marcam um período específico deste modo de produção. No capitalismo contemporâneo, a ideologia neoliberal, nascida no pós II Guerra Mundial, como nos traz Perry Anderson (1995), surge com o objetivo de enfrentar as políticas keynesianas e intervencionistas, o socialismo soviético (vistos como cerceamento da liberdade) e destruir os sindicatos e conquistas da classe trabalhadora. Ao longo do tempo, o neoliberalismo ganha força e se solidifica como um processo ideológico que aparece distinto do liberalismo clássico, no entanto, suas medidas são manifestações da atual fase do capitalismo que busca num menor espaço e tempo realizar a acumulação de capital, logo, sem grandes alterações na lógica como um todo do pensamento clássico liberal. Para tal ideologia se transformar no mainstream é preciso que seja disseminada em todas as formas possíveis, para uma aceitação e afirmação de toda sociedade. Em Harvey (2011) percebemos que as novas tendências do capitalismo possuem peculiaridades que precisam ser postas em questão. A forma de organização tem como único modelo o utilizado em iniciativas empresariais, a qual tem a necessidade de criar produções cada vez mais voltadas à realização com menor tempo e modas de consumo que tenham uma sucessão frenética. Os novos sistemas de acumulação flexível, que aparecem com força póscrise do fordismo, trazem um novo estilo de vida social não só em âmbito econômico, mas em toda sociedade em si. Este período é interpretado por Harvey (2011) como um período de flexibilização do modelo que não vinha atendendo às demandas do capital até 1973-75, período no qual uma crise de superprodução estoura, tendo como estopim as políticas monetárias norte-americanas, seguidas de alta do petróleo (MANDEL, 1990). O resultado é uma flexibilização do trabalho (gerando um maciço desemprego e perda de condições de trabalho e conquistas anteriores da classe trabalhadora) alta rotatividade, unidades de produção são espalhadas no mundo, sobretudo nos países subdesenvolvidos em busca de melhores formas de produção com menor custo e maior velocidade de realização, no mercado financeiro cada vez mais o dinheiro realiza-se em seu ímpeto de valorização e aparece de forma mistificada cada vez menos atrelada ao valor. Para Harvey esta combinação de fatores deve ser considerada de forma particular, pois o que aparenta é que esta acumulação flexível vem a ser uma combinação entre novos e velhos elementos dentro da própria lógica de acumulação. (HARVEY, 2011)

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Tais apontamentos nas mudanças com a financeirização capitalista modificam a experiência de tempo e espaço e este tem a dimensão conforme as necessidades cotidianas e momentâneas para os processos materiais e os objetivos a que se busca. As concepções de tempo e espaço passam a ser condicionadas, a partir de uma perspectiva materialista, às práticas e processos da produção e reprodução social (HARVEY, 2011, P. 187-189). O progresso surge em novos patamares, ancorado no revolucionamento das forças produtivas. O que o autor nos propõe em sua argumentação é uma análise minuciosa na estrutura e superestrutura do capitalismo contemporâneo a partir da obra de Marx e da tradição marxista. Se a crise provém dos modos de acumulação capitalista, a mesma trará consequências e manifestações em toda estrutura e superestrutura social, logo, manifestações artísticas, produção de conhecimento e demais áreas são afetadas ainda que não diretamente. Em Marx já encontramos os pressupostos que nos demonstram a forma com que o homem e todas suas formulações são tidas a partir de sua existência social: O modo de produção da vida material domina em geral o desenvolvimento da vida social, política e intelectual. Não é a consciência dos homens que determina sua existência, mas ao contrário, é sua existência social que determina a sua consciência. (MARX, 1982, p.25)

Neste quadro, a cultura e as manifestações artísticas possuem papel fundamental em todo processo de acumulação do capitalismo contemporâneo. A cultura e as artes, ao invés de serem formas de apreensão da realidade em toda sua contradição, podem assumir o papel de disseminar, com o auxilio dos avanços tecnológicos de comunicação e de todo processo social, a ideologia neoliberal como atrelada ao desenvolvimento da humanidade. Assim, entendemos que os postulados teóricos do atual estágio do capitalismo, representam uma faceta desta contínua formulação teórica que, no atual momento, busca atender aos imperativos do grande capital, mas não sem acarretar diversas contradições ao gênero humano.

Objetivos

Nossa proposta de estudos tem como objetivo a análise da relação entre o progresso, a partir da modernidade, e o desenvolvimento da esfera artística. Entende-se que as manifestações artísticas e culturais da humanidade, as quais influenciam o cotidiano da sociedade, relacionam-se de forma muito mediada com o progresso e não necessariamente caminham na mesma direção.

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Com tal intuito nossa pesquisa segue os seguintes objetivos específicos: a) Entender a importância das artes no desenvolvimento do ser social e sua forma específica sob a égide do capital, sob o qual se tornam mercadorias e passam a servir, não sem contradições, à ideologia capitalista, contexto no qual a alienação torna-se categoria central; b) Compreender a ideia de progresso, a partir do pensamento da modernidade, e seu vínculo com o desenvolvimento das forças produtivas, principalmente nos meios de comunicação em suas diversas formas, o que fez com que, ao mesmo tempo, eliminassem-se as barreiras regionais e se criasse simultaneamente uma massa em que os grandes grupos multinacionais pudessem potencializar o surgimento de valores, pensamentos e demais manifestações artísticas e culturais totalitários, gerando diversas implicações desde o principio da modernidade aos dias atuais. c) A partir do capitalismo contemporâneo e sua crise, compreender a relação entre progresso e arte num contexto em que as contradições da sociedade burguesa se acirram. A relevância de tal estudo parte da necessidade de se compreender a real dimensão da crise capitalista na atualidade em toda sua amplitude, a qual ultrapassa a esfera econômica. Para isso, discutir suas manifestações não apenas nas esferas política e econômica, mas também as repercussões nos campos do conhecimento, das ideias e dos valores são essenciais. Para tanto, a dimensão artística pode nos fornecer importantes elementos para compreender o desenvolvimento da sociedade capitalista (progresso) voltada à acumulação de capital frente à necessidade do desenvolvimento do gênero humano, cuja complexidade transcende sua mera reprodução material.

Metodologia

Para subsidiar tal proposta de trabalho analítico e teórico, partiremos de uma revisão bibliográfica, na qual utilizaremos as formulações e conceituações de autores clássicos como Karl Marx, em suas diversas obras como O Capital, Ideologia Alemã e Manuscritos Econômico-Filosóficos, Antonio Gramsci e György Lukács. Além de outros autores e textos oriundos da tradição marxista para auxilio da compreensão desta temática. O objeto específico deste trabalho, a saber, a relação entre progresso e arte, possui o tempo histórico definido que

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vem a ser o capitalismo contemporâneo. Assim, para desenvolver as principais categorias do assunto, será dividido em dois itens que serão descritos a seguir: a) Progresso – Revisão bibliográfica de textos clássicos que busca elementos a partir da modernidade e a maneira com que o progresso é tido neste período até a pósmodernidade a partir de autores críticos que desenvolvemos desde a monografia. Tal bibliografia ainda se encontra em aberto, pois utilizamos até então textos introdutórios que serão acrescentados a partir do desenvolvimento do curso e a orientação do professor da área. b) Artes – O estudo desta temática se coloca em forma de continuação dos estudos oriundos do trabalho de conclusão de curso em Ciências Econômicas, no qual nos esforçamos para entender a formação cultural do Brasil. Neste projeto buscamos trazer os elementos da cultura como um todo, sobretudo as manifestações artísticas culturais e como as mesmas influenciam por toda questão social, seja no campo econômico, político e/ou cotidiano.

Resultados Parciais

Parece-nos então, que a questão do progresso deve ser compreendida de forma mais complexa do que se aparentou até então. Além da sofisticação do sistema produtivo, econômico e social, a partir da Revolução Industrial, o que vemos na verdade em toda sociedade é uma mudança cultural que gera um abismo entre a sociedade atual e o início da história da civilização humana. (WRIGHT, 2007) Não estamos negando que a revolução industrial e todos os processos históricos influenciaram a evolução da sociedade como um todo, porém, nota-se que tais mudanças foram em seu primeiro momento revolucionárias e que trouxeram substantivamente progressos para a humanidade. Entretanto, a partir de determinado momento, esse progresso perde a sua força revolucionária na sociedade e este passa a ser sufocado numa lógica produtivista em prol de um único objetivo final, o lucro, cerne do sistema capitalista vigente. As ideias colocadas até então, como por exemplo, a de que o capitalismo seria o estágio superior e último do progresso humano enquanto etapa essencial da humanidade é colocada em xeque.

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Ideologicamente e culturalmente isso se insere no interior da sociedade e se torna a única forma de pensar e viver em toda a sociedade como único padrão a ser seguido. Como trazemos anteriormente, o contexto contemporâneo do capitalismo, sobretudo pós década de 1970, demarca na macroeconomia mundial um período de crescimentos baixos e problemas cada vez mais agudos nas relações de trabalho como um todo e no processo de acumulação. Sobre a atual fase do capitalismo podemos trazer a contribuição de Chesnais (1995) para um entendimento amplo de tal crise vivida deste progresso e dessa nova conjuntura e forma do capitalismo: [...] todos esses traços característicos decorreriam de um novo regime mundial de acumulação, cujo funcionamento dependeria das prioridades do capital privado altamente concentrado – do capital aplicado na produção de bens e serviços, mas também, de forma crescente, do capital financeiro centralizado, mantendo-se sob a forma de dinheiro e obtendo rendimento como tal. Este regime de acumulação, ao qual corresponderiam as formas conjunturais específicas descritas acima, seria fruto de uma nova fase no processo da internacionalização, que, chamo de “mundialização do capital” (Chesnais, 1994). A economia mundial parece ter ingressado numa fase depressiva de longa duração, da qual somente poderia sair mediante choques “externos” à economia, no sentido estrito da palavra. (CHESNAIS, 1995, p. 1).

Portanto, o momento atual em suas diversas esferas vem a ser totalmente contrarrevolucionário, a ideologia dominante tem um papel fundamental neste contexto para a legitimação do que está posto até então. E as questões colocadas ligadas ao que se chama de progresso são na verdade uma tendência em se tornar cada vez mais complexa a forma de organização social, e esta organização continua a se movimentar e realizar mudanças consideráveis. Nossa fé prática no progresso se ramificou e se cristalizou em uma ideologia – uma religião secular que, tal como as religiões que o progresso desafiou, é cega diante de certas falhas nas suas credenciais. O progresso, portanto, tornou-se um “mito” no sentido antropológico. Por mito eu não entendo como uma crença frágil ou inverídica. (WRIGHT, 2007, p.17)

Tratando-se desse ponto, percebemos que a questão do progresso se torna na contemporaneidade um processo mal compreendido, a cultura então passa a ter um papel central em todo desenvolvimento social, ela tem um aspecto único como nos coloca Darcy Ribeiro ao afirmar que a cultura é em sua concretude: [...] a herança social de uma comunidade humana, representada pelo acervo coparticipado de modos padronizados de adaptação à natureza para o provimento da subsistência, de normas e instituições reguladoras das relações sociais e de corpos de saber, de valores e de crenças com que seus membros explicam sua experiência, exprimem sua criatividade artística e a motivam para a ação. Assim concebida, a cultura é uma ordem particular de fenômeno que tem de característico sua natureza de réplica conceitual da realidade, transmissível simbolicamente de geração a geração, na forma de uma tradição que provê modos de existência, formas de

8 organização e meios de expressão a uma comunidade humana. (RIBEIRO, 1978 p. 127)

Assim, a cultura então aparece para seu detentor e “é percebida pelos seus detentores como o modo natural e necessário de serem homens em face dos membros do seu próprio grupo e em face de outros grupos humanos”. (RIBEIRO: 1978 p. 127) Entretanto, é imprescindível demarcar a semelhança entre os autores nesse ponto, uma vez que a relação entre tais desenvolvimentos individuais aconteçam, eles respondem a imperativos coletivos, levando-nos ao entendimento mais adiante, definido com base em Ribeiro (1978), que todas as sociedades e quaisquer conglomerados de seres humanos possuem a sua cultura, desde os grupos de homens caçadores da era das cavernas às mais modernas sociedades capitalistas e nacionais. Cada uma possui suas características específicas que as delineiam e ao mesmo tempo se tornam certo tipo de “atração” às outras culturas nacionais que constantemente interagem entre si, tornando cada vez mais complexa e com necessidades que as distingue. No entanto, essas particularidades no contexto do capitalismo não são respeitadas. Desde sua origem o capitalismo vem a ser internacional e sua história muitas vezes se confunde com a história do desenvolvimento desta característica expansionista e que vão além de territórios, particularidades, identidades e especialidades. O crescimento desse modo de produção fez com que atrelasse o campo material e o campo intelectual, ambos no capitalismo precisam andar juntos, sendo tal funcionamento indispensável em sua dinâmica. A rigor, os produtos materiais e os culturais são reciprocamente referidos e encadeados, no conjunto do processo de reprodução do capital. Esse encadeamento é uma exigência da organização e reprodução continuada das relações políticoeconômicas. A produção cultural faz parte das relações de interdependência, alienação e antagonismo que caracterizam as relações capitalistas de produção. (IANNI, 1976, P.7)

A cultura e as artes passam no capitalismo a ter uma forma, que a torna elemento essencial, sendo produto e condição do processo entre as relações capitalistas a nível nacional e internacional, inserindo-se diretamente nas relações imperialismo entre países dependentes e países imperialistas. A classe dominante passa a influenciar e predominar no pensamento das outras classes sociais. A partir do que Ianni chama de “Indústria cultural”, podemos compreender todo o processo do capitalismo em sua superestrutura e compreender seus antagonismos. (IANNI, 1976, P.13-15) O capitalismo generaliza e repõe, continuamente, em todas as esferas da existência social, nos países dominantes e dependentes, as suas relações, processos e estruturas. Isso implica em generalizar e repor formas de pensar e agir determinadas pelas

9 exigências da produção e reprodução do capital estendem e recriam as fronteiras do sistema. (IANNI, 1976, P.19)

Os princípios da propriedade privada e a liberdade aparecem em todas as dimensões de tal generalização a partir da cultura, pois são os mesmos que subsidiam todas as ideias, valores e doutrinas regidas no capitalismo. Tal cultura oriunda da ideológica sistemática da classe dominante e imperialista organiza, difunde e utiliza os demais símbolos como a arte, a comunicação e outros mecanismos para atender em escala industrial, a reprodução ampliada do capital. Logo as manifestações artísticas e culturais em geral passam a atender um mercado e vem a ser comercializado como as demais mercadorias. (IANNI, 1976) Assim como o Rei Midas que em tudo que tocava se transformava em ouro, o capitalismo transforma tudo em mercadoria. E com a arte não foi diferente, ela se tornou mercadoria e o artista se tornou um produtor de mercadorias. Esta mercadoria que antes atendia demandas singulares passa a atender demandar de um mercado anônimo que possui tremenda força capaz de decidir o que virá a ser produzido ou não, sendo subordinada às leis da competição. (FISCHER: 1976, p.59) As manifestações artísticas passam a ser tidas como mercadorias e com isto passam a ser negociadas como quaisquer outras mercadorias com um único fim de atender às demandas da geração do lucro e realização do capital. A obsolescência programada das máquinas e mercadorias em geral do capitalismo contemporâneo pode ser um bom exemplo da forma como que se apropriou do mesmo comportamento mercadológico nas questões voltadas à cultura e manifestações artísticas. Produções artísticas como a música, aparecem com certo tipo de prazo de validade na sociedade, a música tem uma dupla função, ser disseminada de forma massificada a partir dos meios de comunicação em massa e demais meios pelos quais a indústria cultural explora para a circulação da mercadoria do momento. O conceito de Gramsci (2002), em seus Cadernos do Cárcere, de hegemonia política e cultural vem a explicitar esse caráter contraditório da ordem social burguesa destacando neste processo a dimensão cultural, mostrando que a partir da vida cultural aberta à pluralidade que a mesma tem, temos um instrumento social pleno para um desenvolvimento baseado na igualdade. Ao mesmo momento é perceptível o aumento das forças do grande capital na chamada “indústria cultural” ampliando estrategicamente as práticas culturais como produções de bens e serviços que seguem uma lógica mercantilizada da produção cultural. Notoriamente a cultura vai de mãos dadas ao contexto histórico e social da humanidade e se torna mais complexa e ao mesmo tempo mais nítida com um papel mais exclusivo na civilização em geral. A cultura traz certo distanciamento entre as classes sociais

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a partir do período da sociedade capitalista em especial quando este termo passa a ter uma relação mais forte com o termo “civilização”, em que o homem civilizado é compreendido como civilizado é aquele que detém “cultura”, e não é qualquer cultura, é aquela que a classe dominante sobrepõe e aceita, sejam as obras de arte, sejam as músicas, seja até mesmo os costumes cotidianos, devem ser seguidos conforme suas determinações, traçando um novo perfil “civilizado” da cultura. Terry Eagleton nos mostra que no final do século XIX, “civilização, por sua vez, tinha também adquirido uma conotação inevitavelmente imperialista, suficiente para desacreditá-la aos olhos de alguns liberais.” (EAGLETON, 2005 p.22) A cultura passa a ter “lados”, certo ou errado, num maniqueísmo totalmente pensado em vista dos objetivos da classe dominante que faz com que essa aproximação com a civilização também se tornasse um distanciamento, pois críticos em geral demonstram a necessidade que a cultura tem de voltar a ser uma forma de crítica efetiva nas questões sociais cotidianas, pois essa civilização burguesa ia contrariamente à cultura que tinha um caráter populista. Portanto, neste instante cabe perfeitamente o que Darcy Ribeiro veio a chamar de marginalização cultural, em que algumas das formas de se participar na cultura em certos aglomerados da sociedade “são tão diferenciados e contrapostos com respeito aos do grupo dominante que sua consciência social é altamente diferenciada e seu próprio modo de ser torna-se objeto de discriminação pelos demais, ocasionando tensões e frustrações”. (RIBEIRO, 1978 p.130) O atual momento da história vem a ser caro para a sociedade nestas relações entre classes e no que aparece tal Marginalização cultural que Darcy nos coloca. As manifestações culturais da periferia aparecem de forma marginalizada, entretanto percebe-se nestas manifestações o fazer política juntamente à cultura. Os atores que mudarão a história para Milton Santos, serão os “atores de baixo”, estes serão protagonistas de uma nova forma global de se organizar socialmente na contemporaneidade (SANTOS, 2011, p. 8-10).

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