A relação entre os discursos historiográficos e a compreensão relativa a historicidade do continente africano e suas gentes

May 25, 2017 | Autor: Jadi Pereira | Categoria: African Studies, Africa
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A relação entre os discursos
historiográficos e a compreensão relativa a historicidade do continente africano e suas gentes
Jadi Seguins Pereira

Há um grande problema quando analisamos a questão do africano e seu povo em nossa sociedade, especialmente pelo ângulo histórico e social. Preconceito, racismo, segregação e até mesmo a negação de si mesmo para buscar afirmação num outro ser, para ser bem aceito nessa sociedade são alguns destes problemas. Principalmente quando vamos analisar a forma com que a história desse povo é contada e compreendida, tanto por quem está do lado de fora, como por quem faz parte dessa história e está diretamente ligado a ela. Que motivo faz com que todos estes problemas ainda perdurem, principalmente na África?
São vários os motivos, mas o principal deles é a forma como se é ensinada, e como se compreende a história da áfrica. No ensino escolar, e até mesmo no cotidiano, aprendemos sobre estes povos vendo por apenas um ângulo, somente uma variável, a do eurocentrismo, que basicamente, define que a Europa é a referência, o centro de tudo, especialmente a cultura. Essa visão traz uma grande (e negativa) influência para o povo africano, pois, como esse pensamento se manifestou especialmente na época da escravidão e da colonização, onde a violência física, moral e intelectual foram extremamente nocivas, e ainda, se sustentava no pensamento iluminista, suas consequências foram catastróficas: enraizamento e repetição de discursos racistas que colocam o africano como não possuindo humanidade, segregação principalmente baseada na cor da pele, a estereotipagem e suplantação da cultura e do nativo africano, sob o pressuposto de que eles e sua história não possuíam subjetividade, pensamentos, representações que pudessem ser consideradas racionais, humanas, e que assim sendo, deveriam ser negadas, a menos que se adequassem e se convertessem, só assim poderiam ser percebidos e reconhecidos como humanos, deixando de ser irrepresentáveis e indefiníveis, uma busca de autoafirmação de si baseada nesse discurso eurocentrista, e finalmente, a exploração do povo e da riqueza africana, principalmente de caráter capitalista, justificada sob todos estes pressupostos.
Podemos também analisar esta história africana por outra variável, a afrocentrista, que semelhante ao eurocentrismo, coloca a África como centro da história humana, um lugar de referência, um paraíso de uma civilização que buscava reafirmar a sua identidade como seres humanos, a partir da visão do próprio eu africano, que foi negada pela vertente eurocêntrica, e que por isso, eram vítimas de racismo e segregação pessoal e cultural. Mas essa variável apresenta graves problemas, pois, ela entra em contradição quando emprega vários dos discursos eurocentristas em sua base, como por exemplo, os conceitos sobre "raça", de diferença destas raças e nativismo baseados em um pan-africanismo restrito, que, de certa forma, exclui a possibilidade de uma africanidade não negra, e de uma múltipla ancestralidade africana. Além disso, quando se fala sobre os problemas que assolam a áfrica, como a fome, a miséria e a violência, principalmente de cunho político, o afrocentrismo ignora isso, apenas querendo ver o lado bom da áfrica, semelhante a uma visão romantizada deste território. Esses problemas evidenciam a falta de aprofundamento filosófico desta vertente, e um demasiado embasamento que esta possui na vertente eurocentrista.
Vemos então que compreender a historicidade africana a partir destas duas vertentes é perigoso, pois nos induz a nos mantermos num contínuo preconceito quanto a outros fatores, outras particularidades que sejam externas a essas visões, e continuar a reproduzir todos estes problemas.
Diante disso, uma solução para substituir estas visões de forma favorável surge na forma de outra variável: a que devemos ver e compreender a África a partir de si mesma, de forma consciente, reconhecendo que ela e seu povo possuem costumes, crenças, representações, entre outras particularidades, que não podem, e não devem ser diminuídas e segregadas somente por que são diferentes de qualquer outra sociedade, e que segregar as pessoas por "raças" não tem fundamento, pois, se analisarmos o genótipo, perceberemos que a constituição genética de todos os indivíduos é semelhante o suficiente para que a pequena porcentagem de genes que se distinguem (que inclui a aparência física, a cor da pele, etc.) não justifica a classificação da sociedade em raças, como prega a vertente eurocentrista. Mas também reconhecendo que, em tais particularidades não há perfeição, e não devemos nos iludir ou esquecer que há sempre problemas, distinções, que podem ser da mais diversa ordem, e que por isso, não dá pra aceitar a ideia de uma "unidade" entre os africanos, assim como não há na nossa sociedade, e acima de tudo, reconhecer o seu próprio valor, sua beleza, mas sem que isso seja feito de forma preconceituosa quanto a outras formas de beleza, assim como os eurocentristas fizeram. Se formos capazes de aprender sobre a áfrica a partir desta ótica, certamente, o preconceito e o racismo hoje vigente nas sociedades, especialmente a brasileira, não terão mais onde se fundamentar, que buscar uma afirmação de si mesmo em outro, num padrão estabelecido, não faz o menor sentido, pois é estúpido querer se adequar em um padrão quando, a beleza é uma característica majoritariamente subjetiva, pois se fosse o contrário, o belo seria igual para todos, e sabemos que não é assim.
Conclui-se então que, para tal mudança acontecer, devemos ter como carro chefe de nossos estudos e aprendizados, uma análise crítica e cética de tais informações, buscando sempre, como historiadores, problematizar essas informações, para assim a compreendermos da forma mais abrangente possível, e buscando também o diálogo tanto com quem se coloca a estudar esse universo, como quem já faz parte dele, para assim, o aprendizado fluir de forma consciente e saudável.

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