A retórica conservadora no Brasil contemporâneo e a produção de identidades políticas

July 4, 2017 | Autor: Luis Henrique Cunha | Categoria: Conservatism, Movimentos sociais, Identidades Políticas, Conservadorismo
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XVII Congresso Brasileiro de Sociologia 20 a 23 de Julho de 2015, Porto Alegre (RS)

Grupo de Trabalho Movimentos sociais na atualidade: reconfigurações das práticas e novos desafios teóricos

A retórica conservadora no Brasil contemporâneo e a produção de identidades políticas

Luis Henrique Cunha PPGCS/UFCG

Introdução

A retórica conservadora emergiu nos últimos anos com força irresistível no espaço público brasileiro, manifestando seu poder de atração em diferentes esferas das vivências coletivas, dando destaque a personagens os mais diversos como o deputado Jair Bolsonaro, o músico Lobão, o filósofo autodidata Olavo de Carvalho e a jornalista Rachel Sheherazade, para mencionar apenas alguns de seus porta-vozes mais estridentes, nas esferas políticas, artísticas, intelectuais, todos com forte presença midiática. As redes sociais, os estádios de futebol, os almoços de família, os meios de comunicação de massa, as ruas das grandes cidades brasileiras, as tribunas em diferentes casas legislativas foram saturadas por um conservadorismo difuso, comprometido com causas morais e econômicas, integrado pelo ódio ao PT e marcado por forte carga emocional. Como explicar esse fenômeno? Bresser-Pereira (2013) localiza 2012 como o marco temporal do que chamou de reorganização do “liberalismo conservador e moralista brasileiro”, com forte apelo na classe média, “uma classe que desde a transição democrática vem abandonando sua postura progressista e votando cada vez mais nos partidos conservadores”. Para Singer (2009), porém, o que chamou de “lulismo” já havia incorporado elementos do “conservadorismo popular”, com forte presença eleitoral – quando da reeleição do presidente petista em 2006 – “nos grotões, tipicamente o interior do Norte/Nordeste, que sempre fora tradicional território do conservadorismo”, em virtude do estabelecimento de “uma ponte ideológica com os mais pobres”. Para Iasi (2015), “o conservadorismo sempre esteve por aqui, forte e persistente”. Boulos (2014) acredita que a ascensão de uma onda conservadora já se fazia notar desde 2013, quando a “direita saiu do armário” e passou a adotar um discurso “mais ousado e raivoso”, num movimento que não se restringiu à “elite”. Em que pese as diferenças nos diagnósticos acima resumidos, dois pontos comuns podem ser destacados: a) a percepção de que o conservadorismo é parte do caráter constitutivo do país (a nossa “tradição

conservadora”)1; e b) que a novidade reside muito mais em sua visibilidade e articulação. Esta visão, que é também sintoma de uma certa perplexidade que domina muitos que têm procurado pensar o fenômeno, impede que novas hipóteses sejam formuladas e novas linhas de investigação empírica sejam perseguidas. E também que se reflita sobre similaridades, influências recíprocas e especificidades da emergência conservadora no Brasil em comparação com fenômenos correlatos ocorridos nos Estados Unidos (LEE, 2010; 2012; STEENSLAND e WRIGHT, 2014) e na Europa (LANGENBACHER E SCHELLENBERG, 2011; MINKENBERG, 2011). Este artigo não intenta inventariar as causas macroestruturais que teriam produzido uma “onda reacionária” (HIRSCHMAN, 1991) na vida política e social brasileira. Busca contribuir com um objetivo mais modesto: reconstituir a tessitura de elementos retóricos que possibilitaram a emergência de uma comunidade simbólica, emocionalmente integrada e mobilizável em torno de temas abertamente conservadores defendidos por diferentes movimentos sociais. Pois os elementos estéticos, estilísticos, retóricos fornecem os quadros pelos quais o mundo é percebido (TUCKER, 2011). Parte-se do pressuposto que o declínio da hegemonia cultural da esquerda no Brasil (Singer, 2012); a aclimatação no país de vários dos elementos do novo conservadorismo político desenvolvido nos Estados Unidos a partir da década de 1950 e a maior visibilidade de posições políticas que expressam a força da ideologia conservadora entre nós, tanto nas redes sociais quanto nos meios de comunicação e portais de notícia, têm exigido esforços renovados de pesquisa para a compreensão da política e da vida pública brasileira no início do Século XXI. A investigação foi empreendida fundamentalmente nos portais de notícias e nos sites de divulgação do pensamento ou da causa conservadora no Brasil, que dão visibilidade a diferentes grupos articulados em torno de versões muito diversificadas do conservadorismo e partiu de algumas hipóteses: 1) que a linguagem e a estética são importantes elementos de adesão a movimentos sociais, na medida em que oferecem os quadros pelos quais o mundo é 1

Para Nishimura (2004), as opiniões, atitudes e práticas cotidianas do brasileiro expressam uma adesão ao conservadorismo que não têm relação direta com escolhas político-eleitorais. Este conservadorismo remeteria “às características da própria cultura brasileira”.

percebido; 2) que as recentes manifestações conservadoras no Brasil não são apenas a atualização de forças reacionárias latentes; e 3) que a ideologia conservadora, em suas formas retóricas contemporâneas, produz identidades políticas específicas.

Movimentos sociais: retóricas, significados, emoções

A literatura sobre movimentos sociais tem dado pouca atenção aos grupos com pautas conservadoras, em que pese a centralidade da ação destes grupos, por exemplo, na Europa (através do fortalecimento da extrema direita radical) e nos Estados Unidos (vide a influência exercida pelo Tea Party no Partido Republicano). E, como consequência, há tanto um déficit de estudos empíricos sobre os movimentos com pautas consideradas reacionárias como implicações sobre os modelos teóricos que orientam a análise dos movimentos sociais. A orientação teórica que se utiliza neste artigo busca combinar a teoria realista das subjetividades coletivas proposta por Vandenberghe (2010) com a sociologia cultural praticada por Alexander (2003, 2014a, 2014b), com aportes específicos que permitam aprofundar o papel de elementos estéticos e retóricos na mobilização política. Vandenberghe (2010) – para quem as subjetividades coletivas “possuem uma influência real no mundo da vida em virtude de sua existência” – propõe que a estruturação de coletivos compreende três momentos de um processo morfogenético: identificação simbólica, mediação sociotécnica e representação política. Que produzem, respectivamente, três “avatares” do coletivo: a comunidade simbólica, o quase-grupo mobilizável e o grupo organizado. Considera-se, aqui, que estes três momentos não são etapas estanques, mas expressam vivências simultâneas, superpostas, que se realizam em ritmos diferenciados, as vezes até mesmo contraditórios, com avanços e recuos. Vandenberghe (2010, p. 220) defende uma abordagem dialética e dinâmica, que considera tanto o desenvolvimento de categorias como sua transformação em

grupos:

“coletivos

taxonômicos

e

grupos

estruturados

não

são

necessariamente opostos e nem sempre se excluem mutuamente, mas formam um continuum: sob certas condições (...) coletivos taxonômicos podem ser

organizados em grupos estruturados e formar redes organizadas que se tornam mais e mais reais conforme se estruturam, realizando seu potencial no processo”. Para ele (VANDENBERGHE, 2010, p. 221), os coletivos não são “entidades acabadas, mas constituem produtos sociais que são sempre social e localmente construídos em situações concretas de ação”. Essas situações concretas de ação se vinculam a modelos retóricos, aspecto que não é enfatizado por Vandenberghe quando trata do processo identificação simbólica que conforma uma comunidade simbólica. Se é certo que a comunicação entre indivíduos “produz subjetividades coletivas através da atenção mutuamente orientada, da sincronização de movimentos e do compartilhamento das emoções, os quais geram um senso de pertencimento e símbolos de pertença ao grupo” (VANDENBERGHE, 2010, p. 225), é também necessário avançar na compreensão de quais mecanismos possibilitam o compartilhamento de emoções e produzem senso de pertencimento. Defendese que os recursos retóricos são fundamentais nestes processos. Para Alexander (2014a), a elaboração de imagens coletivas são um tema para a sociologia cultural (em oposição à sociologia da cultura). Nesta perspectiva, significados e emoções que os significados criam são consideradas as questões centrais para as sociedades civis. Conforme atestam Brasil Jr. e Oliveira (2014, p. 347), Alexander propõe tratar o cultural “como assentamentos estruturados de significados que conformam um horizonte emotivo e significativo, no qual a ação se materializa”. A consideração das emoções abre espaço para a discussão sobre a solidariedade social, ou seja, “ao sentido de conexão, que é tanto uma questão de sentimento quanto de significado”. O tema da solidariedade social é de suma importância para análise do pensamento conservador, já que este articula, normalmente, a defesa de lealdades a grupos, lugares e crenças particulares (que o autor chama de solidariedades primordiais), em oposição a laços mais universais (solidariedade civil). A ênfase em solidariedades primordiais ajuda a entender porque o pensamento conservador é refratário a incorporar a diferença. Segundo Alexander (2014a), quanto mais civil é a solidariedade, mais provável que os sentimentos de conexão possam ser ampliados para incluir outros diferentes.

Para Alexander (2014b), “os significados da vida social estão à nossa volta, mas são invisíveis, ainda que significativos. E a ação social é um esforço para cristalizar alguns desses significados de forma explícita através da fala, através da escrita, através da performance”. Assim, explica-se a necessidade de ressaltar os aspectos performativos dos movimentos sociais, já que eles não se definem unicamente em termos de acesso a recursos. Assim, “os movimentos são esforços para – performativamente – convencer os outros de que você está certo e alguém está errado”. A ideia defendida por Alexander de que a política é um lugar de símbolos e performatividade não parece incongruente com a abordagem elaborada por Vandenberghe, pelo menos para os propósitos deste artigo, e tem afinidades também com a percepção de Castells (2013, p. 11), para quem a constituição de redes é operada pelo ato de comunicação. E “comunicação é o processo de compartilhar significado pela troca de informações”: Para a sociedade em geral, a principal fonte da produção social de significado é o processo de comunicação socializada. Esta existe no domínio público, para além da comunicação interpessoal. A contínua transformação da tecnologia da comunicação na era digital amplia o alcance dos meios de comunicação para todos os domínios da vida social, numa rede que é simultaneamente global e local, genérica e personalizada, num padrão em constante mudança. O processo de construção de significado caracteriza-se por um grande volume de diversidade. Existe, contudo, uma característica comum a todos os processos de construção simbólica: eles dependem amplamente das mensagens e estruturas criadas, formatadas e difundidas nas redes de comunicação multimídia. Embora cada mente humana individual construa seu próprio significado interpretando em seus próprios termos as informações comunicadas, esse processamento mental é condicionado pelo ambiente da comunicação. Assim, a mudança do ambiente comunicacional afeta diretamente as normas de construção de significado e, portanto, a produção de relações de poder.

De um lado, Castells (2013, p. 16-17) acredita que os movimentos sociais são respostas à “injustiça fundamental” que caracteriza todas as sociedades, que agem movidos pelas “aspirações humanas de justiça”. Se a injustiça é a expressão de uma condição objetiva da vida social, os movimentos sociais seriam essencialmente progressistas, associados ao pensamento de esquerda. Mas a percepção da injustiça, porém, depende dos significados partilhados. E, portanto, abrem espaço para a expressão de movimentos sociais à direita do espectro político, que operam também com a retórica da justiça, mas em outros

termos. Assim, é possível discordar quando ele afirma que “os movimentos sociais têm um conjunto de causas estruturais e motivos individuais para se erguer contra uma ou várias dimensões da dominação social”. Ainda que enfatize a importância das emoções na origem dos movimentos sociais, Castells (2013, p. 20) acredita que ideologias são “substâncias indispensáveis para a passagem da ação impulsionada pela emoção à deliberação e à elaboração de projetos”. Essa separação entre emoções e ideologias é problemática, porque parte-se aqui do pressuposto que não são instâncias separadas. Seguindo o insight de Melucci de que não há cognição sem sentimento,

Benski

e

Langman

(2013) sustentam

que

pensamentos,

julgamentos e percepções são não apenas cognitivos, mas também repousam em constelações emocionais.

Conservadorismo: desafios de definição

Em que consiste o conservadorismo? De acordo com João Pereira Coutinho (2009), auto-intitulado conservador, “longe de ser uma ‘dogmática’, o conservadorismo é uma ‘disposição’, na eloqüente proposta de Michael Oakeshott, primus inter pares dos conservadores modernos. Uma ‘disposição’ que levaria o conservador a comportar-se de determinada forma porque essa seria a sua natural disposição. Trata-se, para Oakeshott, de uma forma de relacionamento com o mundo que tende a valorizar o que existe e a recear o que não existe. Neste sentido, o conservadorismo, mais do que ‘ideologia’, seria antes um ‘espírito’, como o classificou John Buchan”. Samuel Huntington, também ele identificado com o conservadorismo, publicou um artigo em 1957 intitulado “Conservatism as a ideology” em que argumenta que o conservadorismo necessita de uma situação para se articular como ideologia. Seria uma ideologia posicional, reativa, em oposição às ideologias ideacionais (COUTINHO, 2009). O conservador seria, portanto, comprometido com a realidade, em oposição aos que querem moldar a realidade a partir de ideias. Russell Kirk defendia a tese de que o conservadorismo era a antítese das ideologias, vistas como religiões políticas secularizadas e sectárias. De acordo com Müller (2006), a dificuldade em se tratar o conservadorismo como

ideologia decorreria da falta de textos fundacionais; de este ser contrário a definições universalistas e, portanto, comprometido com particularismos; e da reivindicação por parte dos conservadores que todo esforço de racionalização de suas crenças seriam já uma distorção destas mesmas crenças. Müller, porém, defende que o conservadorismo é uma ideologia política e que é necessário aplicar uma abordagem multidimensional para identificar o discurso conservador, já que este não pode ser reduzido a uma única crença, disposição ou prática. A identificação de uma posição política conservadora dependeria, segundo Müller (2006), de que esteja identificada com pelo menos duas de quatro dimensões: sociológica, metodológica, disposicional ou estética e filosófica ou antropológica. A dimensão sociológica corresponderia a ideologia ou programa político específico de um grupo social particular tentando preservar seus privilégios, no quadro de uma ameaça a uma ordem social existente. A dimensão metodológica se refere a uma imagem conservadora da mudança, contrária a revoluções e defensora de reformas – quando necessárias, desde implantadas cuidadosamente e fundadas no que já está estabelecido. A dimensão posicional ou estética refere-se à orientação ao passado ou a uma visão particular do presente e à defesa do particular e do concreto. Finalmente, a dimensão filosófica ou antropológica expressa uma perspectiva ontológica que privilegia a importância de relações hierárquicas ou alguma concepção mais ou menos naturalizada da desigualdade; que conjuntos particulares de seres humanos têm valores diferenciados e que arranjos sociais que distribuem poder de modo não igualitário são inalteráveis. Hirschman (1991) afirma que há três teses reativas-reacionárias fundamentais, que ele chama de teses da perversidade, da futilidade e do risco. A tese da perversidade ou dos efeitos perversos é a mais elementar e consiste em argumentar que os esforços de orientar o processo de mudança social irão produzir, em virtude de uma série de consequências não intencionais, exatamente o contrário dos objetivos iniciais. A tese da futilidade, por sua vez, argumenta que toda tentativa de mudança é superficial, cosmética, ilusória, já que as estruturas mais profundas da sociedade permanecem sempre intocadas, revelando o fracasso ou a futilidade dos programas de reforma social. Finalmente, a tese do risco ou da ameaça é a

mais moderada e argumenta que a mudança social, mesmo que factível e até mesmo desejável quando vista isoladamente, implica quase sempre custos inaceitáveis pois colocam em risco outras conquistas já alcançadas. Robin (2011) define o conservadorismo – provocativamente – como uma meditação sobre a experiência de ter poder, vê-lo ameaçado e tentar tomá-lo de volta. Neste sentido, o conservadorismo seria a voz teórica do animus contra a agência das classes subalternas. Segundo ele, historicamente, o conservadorismo tem defendido a liberdade para os grupos de maior status social e promovido coerções/violências como modo de lidar com os grupos de menor status. Para Robin, o que o conservador vê e não gosta na igualdade não é a ameaça à liberdade, mas sua extensão, na medida em que possa ameaçar sua própria liberdade. O problema com essa perspectiva é explicar a adesão ao pensamento conservador por aqueles que em princípio seriam objeto das coerções e não beneficiários das liberdades. Lee (2006, 2010, 2012) propõe falar de conservadorismos (no plural), por se tratar de fenômeno político complexo que não se origina de princípios comuns. Ele (LEE, 2012) identifica três vertentes do pensamento conservador (tradicionalistas, libertários e neoconservadores) que divergem e ao mesmo tempo se conectam em torno de alguns temas centrais, como liberdade individual e ordem social; capitalismo e tradições locais; o papel da religião na vida pública; o valor da democracia de massa; o papel legítimo do governo; entre outros. Essas diferenças podem ser organizadas em oposições como tradicionalismo e libertarianismo; populismo e elitismo; religioso e secular; agrário e corporativo; baseado em princípios e ajustado à realidade. Entre

a

autopercepção

do

conservadorismo

como

“espírito”

ou

“disposição” e a crítica acadêmica que identifica elementos de uma ideologia política organizada em torno de certas dimensões ou temas recorrentes, que expressam ainda interesses de grupos sociais particulares, enfatiza-se os aspectos retóricos e performáticos do conservadorismo, capaz de conectar significados e emoções nas vivências empíricas dos agentes sociais, de criar identidade política com potencial para realizar a transição de categorias para grupos estruturados em movimentos sociais.

Aproximações à retórica conservadora

Um dos pontos fundamentais das reflexões de Lee (2006, 2010 e 2012) é ressaltar a importância da retórica na criação do conservadorismo como identidade política, aspecto este normalmente negligenciado na literatura acadêmica sobre o tema. Segundo ele (LEE, 2010), um estilo político evoca uma cultura, compreendida como um conjunto coerente de símbolos que dão significado a atividades manifestas da vida cotidiana, mesmo que não tenham nenhuma relação a priori com temas, eventos ou resultados específicos. Como consequência, para entender a política, é preciso considerar como uma ação política envolve agir de acordo com um estilo político particular. Ou seja, a política é estilizada. Como o conservadorismo cria uma comunidade simbólica, deixa de ser antiquado e passa a ser de relevância vital para aqueles que se sentem membros dessa comunidade. Antes de Lee, Lakoff (2002) já havia enfatizado o uso diferenciado da retórica como estratégia de legitimação dos pensamentos conservador e liberal. Ele argumenta que os discursos políticos são estruturados em torno de metáforas centrais (entre os conservadores, o pai rigoroso; entre os liberais, o pai provedor) que codificam noções de ordem moral e têm sucesso ou falham de acordo com seu apelo junto aos eleitores. Lakoff parte do pressuposto que a linguagem e a cultura são o meio crucial através do qual o poder é constituído. A metáfora moldaria mais a política que os interesses materiais (HEARN, 2012). Segundo Lee (2012), há diferentes, e mesmo antitéticas, versões do conservadorismo, integradas em torno de um cânone, ou seja, um grupo de autores e obras reconhecidas e identificadas com o pensamento conservador, que se consolida nos Estados Unidos a partir do final da Segunda Guerra Mundial e que é formado por autores como Barry Goldwater, Friedrich Hayek, Whittaker Chambers, Richard Weavers, William F. Buckley, Russell Kirk, Robert Nisbet, Milton Friedman e Frank Meyer. O cânone desempenha uma função retórica dentro de uma comunidade política, como ilustração de uma variedade de práticas retóricas permitidas ou acessíveis. E assim, defende Lee (2012), o cânone tem moldado retóricas e práticas dos conservadores americanos do pós-guerra aos dias atuais.

Alguns dos autores identificados por Lee (2012) como integrantes do cânone conservador americano têm sido bastante difundidos no Brasil nos últimos anos. Os dados sobre a publicação de obras destes pensadores conservadores (e de outros autores mais contemporâneos, tanto brasileiros quanto

estrangeiros)

no

país

revelam:

a)

as

conexões

entre

os

desenvolvimentos mais recentes do pensamento conservador no Brasil com as tendências internacionais do conservadorismo, em particular com a tradição anglo-saxônica; b) os esforços em definir mecanismos de integração ideológica e retórica que permitam identificação mútua entre os indivíduos que têm aderido ao pensamento conservador – em que pesem divergências pontuais – e possibilitando a estruturação de uma comunidade simbólica e mesmo algumas iniciativas de mobilização em grupos estruturados; e c) investimentos sistemáticos na divulgação do pensamento conservador, através de estratégias cruzadas de ocupação dos meios de comunicação de massa, do mercado editorial

e

das

ferramentas

que

Castells

(2013)

definiu

como

autocomunicação2, significando o uso intensivo da internet e de redes sociais. Em 2013, foi lançada no Brasil a tradução de O caminho da servidão, de Friedrich Hayek, pela Vide Editorial. Hayek é bastante difundido entre os grupos conservadores brasileiros. Há, inclusive, um Instituto Hayek Brasil, “pautado por uma concepção de sociedade liberal conservadora, caracterizada pela defesa do livre mercado, a propriedade privada, a liberdade de expressão e religiosa, o Estado de Direito, a democracia representativa e o Estado mínimo”. Capitalismo e Liberdade, obra mais conhecida de Milton Friedman, lançada originalmente em 1962, teve tradução publicada no Brasil em 2014 pela editora LTC. Russell Kirk teve dois livros publicados no Brasil (A política da Prudência, em 2013, e A era de T. S. Eliot, em 2011, ambos pela editora É Realizações), e mesmo que seu clássico The conservative mind, de 1953, ainda não tenha sido traduzido, seu pensamento tem sido largamente difundido 2

Para Castells (2013, p. 11-12), a mudança fundamental no domínio da comunicação foi a emergência da “autocomunicação – o uso da internet e das redes sem fio como plataformas da comunicação digital. É comunicação de massa porque processa mensagem de muitos para muitos, com o potencial de alcançar uma multiplicidade de receptores e de se conectar a um número infindável de redes que transmitem informações digitalizadas pela vizinhança ou pelo mundo. É autocomunicação porque a produção da mensagem é decidida de modo autônomo pelo remetente, a designação do receptor é autodirecionada e a recuperação de mensagens das redes de comunicação é autosselecionada”.

no país entre os grupos conservadores organizados. Rodrigo Constantino, por exemplo, lhe dedicou uma coluna, intitulada “Dez princípios conservadores, por Russell Kirk”, publicada no site da revista Veja em 13 de janeiro de 2014. Robert Nisbet, sociólogo com reconhecimento nos meios acadêmicos, teve alguns livros publicados no Brasil, sendo o último intitulado “A mudança social”, editado em 2007 pela Editora da Universidade Estadual de Londrina. Sua obra tem também repercutido em sites dedicados ao pensamento conservador, como Selva Brasilis, Mídia sem Máscara e Portal Libertarianismo. Goldwater, Chambers, Weavers e Buckley não têm sido muito divulgados no Brasil. Dois autores que não aparecem no cânone do pensamento conservador americano mapeado por Lee (2012) têm sido bastante debatidos: Edmund Burke e Ludwig von Mises. Burke não integra o cânone conservador de Lee porque sua obra é do século XVIII e não do pós-guerra. No Brasil, sua clássica obra Reflexões sobre a revolução na França, citada por muitos como a maior influência no desenvolvimento do moderno conservadorismo, foi reeditada em 2014 pela Edipro. Ludwig von Mises teve seu “A mentalidade anticapitalista” lançado em 2013 pela Vide Editorial. Assim como Hayek, dá nome ao Instituto Ludwig von Mises Brasil, associação voltada à promoção dos princípios “do livre mercado e de uma sociedade livre”. A literatura conservadora publicada nos últimos anos no Brasil não se concentra apenas em autores canônicos. A lista de livros compilada no Quadro 1 indica o crescente interesse do mercado editorial no Brasil não apenas pela publicação de autores que se filiam ao pensamento conservador, mas uma literatura explicitamente propagandista, produzida com o intuito de divulgar algumas

das

ideias

mais

caras

ao

conservadorismo,

normalmente

apresentadas numa chave polêmica com as ideias que são consideradas perniciosas e que conformam diferentes vertentes do pensamento progressista. Algumas tendências podem ser indicadas: forte presença de autores que são também colunistas em veículos da grande impressa, como João Pereira Coutinho, Luiz Felipe Pondé, Rodrigo Constantino; variedade de abordagens, com enfoques filosóficos, econômicos, psicológicos, históricos, entre outros; recursos retóricos que reforçam caráter polêmico e de denúncia do pensamento conservador.

Quadro 1. Amostra de títulos conservadores lançados no Brasil (2008/2015)

Autor

Título

Editora

Ano

Andrew N. Lobaczewski Bruno Garschagen

Ponerologia – Psicopatas no poder Pare de acreditar no governo: por que os brasileiros não confiam nos políticos e amam o estado O eixo do mal latino-americano e a nova ordem mundial As ideias conservadoras explicadas a revolucionários e reacionários Por que virei à direita: três intelectuais explicam sua opção pelo conservadorismo

Vide Editorial

2014

Record

2015

É Realizações

2008

Três estrelas

2014

Três estrelas

2012

A era do ressentimento – Uma agenda para o contemporâneo

Leya Brasil

2014

Contra um mundo melhor – Ensaios do afeto Contra a maré vermelha: um liberal sem medo de patrulha

Leya Brasil

2012

Record

2015

Esquerda caviar

Record

2013

Liberal com orgulho O que é conservadorismo

Lacre É Realizações

2009 2015

Pensadores da nova esquerda

É Realizações

2014

Beleza

É Realizações

2013

Coração devotado à morte O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota Podres de mimados: as consequências do sentimentalismo tóxico

É Realizações Record

2010 2013

É realizações

2015

Nossa cultura... ou o que restou dela

É Realizações

2015

A vida na sarjeta

É Realizações

2014

Heitor de Paola João Pereira Coutinho João Pereira Coutinho, Luiz Felipe Pondé e Denis Rosenfield Luiz Felipe Pondé

Rodrigo Constantino

Roger Scruton

Olavo de Carvalho Theodore Dalrymple

Um aspecto que chama a atenção é a publicação de autores britânicos, normalmente apresentados ou divulgados por nomes conhecidos da safra recentes de escritores conservadores no Brasil. Rodrigo Constantino e Luiz Felipe Pondé fazem apresentações de livros de Theodore Dalrymple (pseudônimo de Anthony Daniels). João Pereira Coutinho e Rodrigo Constantino atestaram em suas colunas na grande imprensa as qualidades do pensamento de Roger Scruton. Olavo de Carvalho fez o prefácio à edição brasileira do livro do polonês Lobaczewski, Ponerologia, em que afirma que: 'Não é preciso nenhum estudo especial para saber que, invariavelmente, o discurso comunista, pró-comunista ou esquerdista é cem por cento baseado na exploração da compaixão e da culpa. Isso é da experiência comum. Mas o que o dr. Lobaczewski e seus colaboradores descobriram foi muito além desse ponto. Eles descobriram, em primeiro lugar, que só uma classe de psicopatas tem a agressividade mental suficiente para se impor a toda uma sociedade por esse meio. Segundo - descobriram que, quando os psicopatas dominam, a insensitividade moral se espalha por toda a sociedade, roendo o tecido das relações humanas e fazendo da vida um inferno. Terceiro - descobriram que isso acontece não porque a psicopatia seja contagiosa, mas porque aquelas mentes menos ativas que, meio às tontas, vão se adaptando às novas regras e valores, se tornam presas de uma sintomalogia claramente histéria, ou histeriforme.'

As sinopses destes livros são exemplos diversificados da mobilização de uma retórica conservadora. Informa-se, por exemplo, que A vida na sarjeta, de Dalrymple, é “um relato pungente” cuja percepção fundamental “é a de que a pobreza continuada não tem causas econômicas, mas encontra fundamento em um conjunto de fatores disfuncionais, continuamente reforçados por uma cultura de elite em busca de vítimas”. Luiz Felipe Pondé, em texto publicado na Folha de São Paulo, em 14 de janeiro de 2013 afirma que “Dalrymple, psiquiatra de cadeias e hospitais dos pobres ingleses, que atuou anos na África, identificado com o pensamento conservador anglo-saxão, explode muitas das soluções da psicologia social foucaultiana a partir de sua experiência clínica: as pessoas não são vítimas de sistema nenhum, e o serviço público, quando institucionaliza esta crença idiota no ‘sistema’ faz das pessoas retardados morais. No site do Instituto Liberal, presidido por Rodrigo Constantino, essa versão alternativa das causas da pobreza ganha uma síntese retórica poderosa: um cartaz estampa os dizeres: “diga não ao coitadismo”. Francisco Daudt, em sua coluna no UOL de 05 de março de 2014, define a “cultura do

coitadismo”: “demonstre que você é vítima de algo e tudo lhe será permitido — e também lhe será fonte de renda e/ou poder”. No site da Catho, em 18 de junho de 2014 noticiou-se que a “síndrome do coitadismo” “atinge a metade da

população e reflete a incapacidade dos seres humanos de tomarem os rumos de suas vidas e buscarem a realização de seus sonhos”. No site Mídia sem Máscara, artigo escrito por Fabio Blanco e publicado em 11 de abril de 2013 opina que: Hoje em dia, todo mundo se apressa para se encaixar no perfil de vítima, injustiçado, incompreendido. Parece uma doença psicológica que se alastra e acomete cada vez mais pessoas (...). A cultura da reclamação está criando uma proibição à crítica. Falar mal de alguém, direito sagrado de todos os tempos, está se tornando algo impossível. O que antes era uma mera questão de bons modos se transforma, a passos largos, em matéria de Direito Penal e situa qualquer pessoa como um potencial criminoso. O resultado de tudo isso, além do cerceamento absurdo da liberdade, é um emburrecimento colossal de uma população já pouco afeita ao conhecimento.

Reinaldo

Azevedo,

um

dos

principais

expoentes

do

colunismo

conservador na grande imprensa, já abordava o tema em coluna publicada 12 de agosto de 2009 no site da revista Veja, retomada num elogio a Roger Scruton, quando entrevistado por Veja algumas semanas depois. No lugar de coitadismo, Reinaldo Azevedo, normalmente sensível aos efeitos retóricos sobre

o

pensamento

conservador,

utiliza-se

da

expressão

“estado-

dependentes”: Os “estado-dependentes” – gente sustentada pelo estado, brutalizada pela assistência social – sempre exercem papel importante nesses distúrbios. Alimente um desocupado, dê-lhe moradia, escola e financie seu vício, e ele fatalmente escarrará na boca que o beija. A violência só tomou aquela proporção em Londres, circunstancialmente, porque o estado demorou para reagir – faltaram Locke como teoria e Hobbes como prática. A razão de fundo, no entanto, é outra: o estado bonzinho não dá a esses caras outra alternativa à medida que lhes tira a obrigação e o direito de lutar pelo próprio sustento. Só lhes resta apedrejar a mão que os afaga. Corte-se-lhes a papinha, e veremos como se amansa.

A sinopse do livro A era do ressentimento apresenta seu autor, Luiz Felipe Pondé, como “o filósofo mais polêmico do país”, que “aponta suas armas para a mediocridade contemporânea”. Denuncia uma “época afogada em narcisismo”. E afirma: “ofereço esta agenda a todos que, como eu, estão

fugindo das modas de um mundo viciado em seus próprios ridículos fantasmas de sucesso”. A retórica do ressentimento3 conecta Pondé a dois outros escritos com obras listadas no Quadro 1. Em artigo publicado no site Mídia sem Máscara, Bruno Garschagem escreve que: Roger Scruton, no ensaio ‘The Totalitarian Temptation’ (do livro A Political Philosophy: Arguments for Conservatism), ao analisar as ideologias totalitárias dos revolucionários franceses, do marxismo e do nazismo, dizem [sic] que tanto aquelas como estes têm uma fonte única, que é o ressentimento. O filósofo político britânico vê o ressentimento “como uma emoção que emerge em todas as sociedades” e considera-o “um desdobramento natural da competição por vantagens”, seja a conquista do poder, de privilégios, de benefícios, etc. “Ideologias totalitárias são adotados porque racionalizam o ressentimento, e também unem os ressentidosem torno de uma causa comum. Sistemas totalitários surgem quando os ressentidos, tendo tomado o poder, agem buscando abolir as instituições que conferiam poder a outras pessoas: instituições como a propriedade, a lei e a religião, que criam hierarquias, autoridades e privilégios, e que permitem que as pessoas possam invocar a soberania sobre suas próprias vidas”.

Estilo gladiador e estilo populista: variações nas retóricas conservadoras

Em

dois

trabalhos

dedicados

a

analisar

variações

na

retórica

conservadora desenvolvida nos Estados Unidos após a Segunda Guerra Mundial, Lee (2006; 2010) identifica dois diferentes modelos de retórica conservadora: o estilo gladiador (gladiatorial style), exemplificado por William F. Buckley e depois extensamente copiado, e o estilo populista, fundado nas suspeitas em relação aos governos como filosofia política inerente. Nesta seção, pretende-se contrastar esses modelos de retórica conservadora com as estratégias retóricas desenvolvidas entre os adeptos do conservadorismo no Brasil. 3

As retóricas do coitadismo e do ressentimento acabam sendo incorporadas também por autores que combatem o conservadorismo. É possível, por exemplo, encontrar explicações sobre a onda conservadora como expressão do “ressentimento da classe média” tradicional. O site Diário do Centro do Mundo publicou artigo de Kiko Nogueira em 06 de setembro de 2014 em que este afirma que “no pacote de mistificações de Marina Silva, inclui-se o fenômeno do coitadismo. Marina é uma injustiçada eterna. Quando chamada a responder pelo que disse em 2008 e desdisse em 2014, é perseguição”. O título do artigo é “Marina Silva e a ética do coitadismo”. Estes trânsitos retóricos entre diferentes espectros ideológicos não chega a ser uma novidade. Soihet (2005) documenta como o pasquim usava da chacota para combater feministas entre finais dos anos 1960 e início de 1980, o que definiu como “instrumento conservador entre libertários”. Alexander (2014a) relata as aproximações entre representantes da direita e esquerda europeias no combate ao multiculturalismo ao longo da década de 2000.

O estilo gladiator, segundo Lee (2010), é ao mesmo tempo exagerado e combativo, cujo objetivo principal é a criação de um drama incendiário. Antagonismo feroz e espetáculo estilístico são duas das características deste modelo retórico e eram próprias das intervenções públicas de Buckley, publicadas em livros ou transmitidas pela TV aberta num programa de entrevistas que manteve por vários anos nos EUA. Para Lee, foi o combate e não o diálogo que fez a fortuna política do conservadorismo nos Estados Unidos e a adoção do estilo gladiador plasmou naquele país

um

conservadorismo provocativo e desafiador da opinião popular. No Brasil, pode-se identificar dois exemplos da influência desse modelo retórico que valoriza a ação dramática, ou a performance. De modo mais personalizado, pode-se tomar Olavo de Carvalho como uma encarnação tropical e caricata de Buckley. Em entrevista ao jornal A Folha de São Paulo, publicada em 15 de fevereiro de 2006, afirmou que não se “pode colocar um sujeito que é inteiramente analfabeto na Presidência, burro desse jeito, sem critério. Ele não sabe a diferença entre certo e errado, entre bem e mal, então é claro que ia ser essa sem-vergonhice”. E que o “PSDB é um partido da Internacional Socialista que está comprometido com o globalismo de esquerda, com todos esses valores politicamente corretos. É a direita da esquerda”. Numa esfera mais coletiva, o uso de uma retórica incendiária e combativa é a forma comum de expressão de posições conservadoras nas redes sociais e nos comentários às notícias publicadas em grandes portais de conteúdo da internet brasileira. Já o estilo populista, segundo Lee (2006), é caracterizado por: a) o povo é virtuoso; b) um inimigo é construído; c) o sistema é condenado; e d) um confronto apocalíptico irá restaurar a pureza. Nos EUA, um exemplo recente deste estilo é a retórica adotada pelo Tea Party. As diferenças culturais parecem emergir aqui, indicando as divergências entre as representações do “povo” dominantes entre grupos conservadores nos dois países. Se nos Estados Unidos há a defesa da sabedoria do senso comum, do povo real, moralmente superior aos burocratas de Washington, DC, no Brasil o discurso conservador é no mínimo ambíguo sobre as qualidades do brasileiro. O quadro dos inimigos inclui a ameaça comunista, o Foro de São Paulo, os “esquerdistas” em geral, mas também feministas, “gayzistas” e mais

recentemente a cultura islâmica, inimiga da civilização ocidental. O sistema é condenado porque é corrupto. Não há pureza a ser restaurada.

Considerações finais

Num mundo altamente integrado por redes de comunicação, é preciso considerar como fenômenos culturais expressam construções coletivas de significado que transitam entre fronteiras nacionais. É importante, porém, estar atento ao alerta de Taylor (2011, p. 31), de que “ideias e formas de prática não mudam de lugar como blocos sólidos; em cada transferência, elas são modificadas, reinterpretadas, recebem novos significados. Esta dinâmica pode levar a grandes confusões quando nós tentamos seguir estas modificações e entendê-las. Tal confusão resulta do hábito de tomar as palavras muito seriamente; o nome pode ser o mesmo, mas a realidade será frequentemente diferente”. A compreensão das formas empíricas assumidas pelo pensamento conservador no Brasil contemporâneo deve, portanto, buscar apreender os significados e emoções associadas que estão sendo construídos em contextos de comunicação que não são limitadas por fronteiras entre países ou regiões. Ao mesmo tempo, é importante estar atento às permanentes modificações e reinterpretações

nos

sentidos

do

conservadorismo,

não

apenas

no

deslocamento das ideias de um lugar a outro, mas também de um tempo a outro num mesmo lugar. É por isso que compreender o conservadorismo em suas manifestações contemporâneas no Brasil envolve necessariamente investigar as formas retóricas que estão sendo permanentemente elaboradas.

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