A Revolta de Boudica contra o Império Romano na Britânia

June 13, 2017 | Autor: Diogo de Freitas | Categoria: Roman Britain, Roman Empire, Boudican Revolt
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jornal informativo de história antiga

ANO XVI

SUMÁRIO

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Prof. Dr. José Roberto de Paiva Gomes

O feminino e a morte: o caso das Damas Iberas

O Discurso de Hortênsia: uma advogada na República Romana Márlio Aguiar

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A revolta de Boudica contra o império romano na britânia Prof. Diogo Kubrusly de Freitas

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Em entrevista ao PHILIA, Profª Drª MARTA MEGA, ressalta a INS 1519-6917 importância do uso correto do trimestrais desde 1998 conceito deedições Gênero nas pesquisas.

www.philia.uerj.br

ABR / MAI / JUN 2015

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EDIÇÃO Nº 54

MULHERES NO MUNDO ANTIGO

Editorial

ProfªEspª.Ellen Moura T. de Vasconcellos

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Aspectos da sexualidade feminina nos hinos dedicados à deusa Inanna

EDITORIAL - Existem novos caminhos para a História de Gênero ?

O feminino e a morte: o caso das Damas Iberas.

Novas tendências apareceram, renovando a categoria “Gênero”, como a redefinição do político, o resgate do cotidiano e as experiências do feminino. Esta nova definição permitiu demonstrar a voz e o papel social do feminino. Os atributos de passividade, silêncio e reclusão foram questionados.

Mudanças sociais e econômicas foram experimentadas pela sociedade ibérica, a partir do século VI a.C., o que resultou na visibilidade da mulher aristocrata ibera, no interior das necrópoles. Página 3

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Profª. Espª. Simone Aparecida Dupla

de Amarna: Tiye e 7 Rainhas Nefertiti no regime de Akhenaton Profª Priscila Scoville

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Cursos & Notícias Universidade Federal Fluminense

coordenação e direção Prof.ª Dr.ª Maria Regina Candido

conselho editorial

EVENTO CURSOS DE EXTENSÃO

Anderson de A. M. Esteves - UFRJ Deivid Valério Gaia - UFPel Glaydson José da Silva – UNESP Gilvan Ventura da Silva – UFES

conselho consultivo Julian Gallego - Universidad Buenos Aires Ivan Esperança – UNESP Gilberto da Silva Francisco - UNIFESP

revisão Alessandra Serra Viegas - UFRJ Carla Cristina da S. Lavinas - UERJ Renan M. Birro - UFF

edição e diagramação Andréa Magalhães da S. Leal - UERJ

indexadores Sumarios.org / AWOL.

NÚCLEO DE ESTUDOS DA ANTIGUIDADE Rua São Francisco Xavier, 524 - Maracanã RJ Prédio João Lyra Filho, bloco A, sala 9030 Tel.: (21) 2334-0227 - Fax (21) 2284-0547

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA VENDA PROIBIDA

JORNAL INFORMATIVO DE HISTÓRIA ANTIGA

JORNAL INFORMATIVO DE HISTÓRIA ANTIGA ano xvi | ABR / MAI / JUN 2015 | EDIÇÃO Nº 54

EDITORIAL EXISTEM NOVOS CAMINHOS PARA A HISTÓRIA DE GÊNERO ?

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categoria “Gênero” como conceito cientifico surge ligada ao movimento feminista do séc. XIX. As reivindicações iniciais estavam ligadas ao sufragismo. As pesquisas produzidas giravam em torno da opressão da mulher. No Brasil, nos anos 80, as pesquisas se apropriaram do conceito e das discussões a partir de vertentes francesas e americanas. As discussões nacionais foram divulgadas pelos Cadernos Pagu, que continuam a abordar a atualidade e as transformações da abordagem de Gênero até os dias atuais”. Os primeiros estudos se fixaram no binarismo e não conseguiram proscrever os sujeitos e, por acaba por legitimar a distinção biológica (sexo/gênero). Os estudos de acordo com Saffioti (2001, 12-13) não conseguiram dar conta da complexidade social que as relações de gênero apresentam. O debate dos “estudos de Gênero”, posteriormente, se direcionou em elaborar e definir a construção dos papeis sociais femininos e masculinos que fez emergir a identidade dos sujeitos, a sexualidade e a violência, como temas focais. Observamos que o conceito de “Gênero” e suas correlações são plurais, caracterizando-o como relacional. O aspecto relacional analisando as diferenças sociais entre o masculino e o feminino foi utilizado por Joan Scott (1990, 14). Diante da dicotomização, os estudos influenciados por Scott passaram a desnaturalizar as relações de poder. As abordagens se centraram em enfatizar as distinções entre as identidades de Gênero. As investigações buscaram pensar o lugar do indivíduo no interior de uma

cultura determinada. Tendo em vista que sobre refletir sobre a identidade seria perceber a forma de ser e de agir no mundo, fazendo com que o gênero feminino se tornar um sujeito ativo na História. A partir desta nova abordagem, novas tendências apareceram, renovando a categoria “Gênero”, como a redefinição do político, o resgate do cotidiano e as experiências do feminino. Esta nova definição permitiu demonstrar a voz e o papel social do feminino. Os atributos de passividade, silêncio e reclusão foram questionados e caminho para as “esferas de influência” como descreve Matos (2013, 5). Buscando observar a visibilidade das mulheres de acordo com Pagnossi (2013), a Arqueologia de Gênero será uma destas novas vertentes de estudo, demonstrando a atuação social do feminino. Esta abordagem conceitual antropológica formula a categoria “Gênero”, como uma construção cultural. Observando quem são estas mulheres e suas diferenças dentro de uma realidade social construída. A proposta conceitual procura analisar as relações entre os gêneros enfatizando as ações sociais. A proposta de Gênero pela vertente da Antropologia procura revitalizar os sistemas culturais, sistematizar novas hipóteses, fixar parâmetros e variações de arranjos de Gênero. A análise procura observar como o feminino participa e interage, em uma estrutura social, com outras identidades sociais. Deste modo, proporciona novos caminhos para a História de Gênero ao indicar, não a separação ou a subordinação de um gênero sobre o outro, mas a interação

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Prof. Dr. José Roberto de Paiva Gomes*

entre eles ou de outras categorias sociais nas estruturas de analise. A utilização desta linha de investigação escandinava e americana, em especial, tem gerado novos questionamentos e olhares para temáticas antigas (como é o caso do feminino na Grécia) quando se analisa, por exemplo, a cultura material aliada aos relatos históricos. Bibliografia MATOS, M. I. S. de. História das Mulheres e das relações de Gênero. Revista Mandrágora, v. 19, n. 19, 2013, 5-15. PAGNOSSI, N. C. A Arqueologia de Gênero e as suas apropriações com a História. UFU, 2013. SAFFIOTI, H. I. B. Contribuições femininas para o estuda da violência de Gênero. Cadernos Pagu, 2001. SCOTT, J. Gênero: uma categoria útil de analise histórica. Educação e Realidade. Porto Alegre, v. 16, n. 2, jul/dez, 1990, 5-22. SOIHET, R. História das Mulheres e relações de Gênero. Mulher na Ciência. SBPC/Labjor, 2013 (www.comciencia.br).

*José Roberto de Paiva Gomes Professor Doutor em História Comparada pelo Programa de Pós Graduação em História Comparada (PPGHC/UFR) Pesquisador do NEAUERJ Atua como professor nos Cursos de Especialização em História Antiga e Medieval da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (CEHAM/UERJ) e Curso de Especialização em Patrimônio Educação e Cidadania (CEPECCMCN/NEA-UERJ)

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O FEMININO E A MORTE: O CASO DAS DAMAS IBERAS

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Profª Espª. Ellen Moura T. de Vasconcellos*

Resumo: A partir do século VI a.C. a sociedade ibérica experimentou uma série de mudanças sociais e econômicas. Com isto, ocorrerá uma visibilidade da mulher aristocrata ibera, no interior das necrópoles. Palavras-Chave: Damas, Aristocracia, Necrópoles.

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urante a passagem do Bronze para o Ferro, as populações autóctones da Península Ibérica passaram por transformações e reestruturações sociais, econômicas e culturais. Como aponta Bendala (2000), estas populações já teriam consciência da exploração do solo ibérico, tanto para agropecuária quanto para mineração e metalurgia, sendo estas as condições propícias que levaram ao surgimento de futuras fundações de entrepostos comerciais fenícios e helênicos na costa peninsular. Hinarejos (2013) aponta que, neste momento, chamado tradicionalmente de Período Orientalizante, grupos aristocráticos surgiram e se consolidaram, além de oppida, que em sua maioria foram construídos em antigos assentamentos do Bronze. Isto, talvez possa nos indicar um aumento no número de indivíduos que prosperaram e que subiram posições na escala social, graças aos benefícios do comércio colonial, como também de uma maior participação na defesa de seus territórios, já que anteriormente estariam nas mãos de um grupo pequeno e restrito. A partir de um breve diálogo com a arqueologia de gênero, analisaremos neste texto a participação da mulher aristocrata ibera como um agente ativo em contextos funerários a partir do século VI a.C. A arqueologia de gênero é uma das estratégias de investigação para o estudo das estruturas sociais na antiguidade, pois a partir dela podemos perceber características da sociedade em diversos contextos. Para isso, utilizaremos como objetos de estudo, três esculturas funerárias, conhecidas como “Damas iberas”. A região onde as esculturas foram encontradas (atuais Granada e Alicante) era povoada por bastetanos e contestanos, povos que mantinham contatos através de troca e do comércio com os portos de Bária (fenício), La Fonteta outro estabelecimento fenício, na desembocadura do rio Segura, e segundo Estrabão (Geographia, III, 4,6), também com uma cidade litorânea de fundação helênica, chamada Hemeroskopeion, no entanto, ainda não comprovada pela arqueologia. Reyero e Galán (2010) destacam que, frente a outras sociedades do Mediterrâneo, os iberos serviram-se com freqüência de imagens, transmitindo boa parte de seu cotidiano. De acordo com Prados Torreira (2006), a imagem da mulher ibera tem servido como um ícone desta cultura, principalmente a partir do Período Ibérico Pleno, e que a iconografia, em diversos contextos, está a serviço dos grupos aristocráticos. As “Damas Iberas” são esculturas femininas, relacionadas ao culto

funerário-religioso e foram produzidas entre os séculos VII e IV a.C. Desde o descobrimento da primeira dama ibera, especialistas perceberam a importância de cada uma delas dentro do contexto social peninsular. Entre as diversas damas iberas existentes, destacarei a Dama de Elche, encontrada em Alculdia de Elche, com datação entre os séculos V-IV a.C., a Dama de Galera, encontrada na necrópole de Cerro Del Real, com datação do século VII a.C., no entanto, só foi enterrada como parte de um altar, no século V a.C., e a Dama de Baza, encontrada na necrópole de Baza e datada do século IV a.C. Desde o descobrimento ocasional da dama de Elche, em 1897, diversos foram as interpretações dos especialistas: sacerdotisa; uma dama da aristocracia; uma noiva ricamente adornada ou alguma divindade feminina. Segundo Dominguez (1997), a Dama de Elche tinha função religiosa, sendo talvez uma estátua de culto, por conta da maneira que foi encontrada, isto é, longe das necrópoles e ocultada próximo à muralha da cidade de Llici. Para Olmos (1997) a estátua seria uma urna funerária, como se supõe ser a de Baza. Porém, para o autor, em um segundo momento, ela foi enterrada próximo à muralha, a fim de servir como uma proteção à cidade. O que não se pode discutir é que tanto seus adornos, seu penteado e materiais utilizados são procedentes de âmbitos culturais e cronológicos próximos, como de fenícios, gregos, púnicos e celtibéricos (Gabaldón, 2002:4). Almagro Gorbea (19891990), em uma comparação entre a Dama de Baza e a Dama de Elche, afirma que, enquanto a Dama de Baza possui em suas joias detalhes fenico-punicos, as joias da Dama de Elche e seu penteado possuem reminiscências gregas. As formas da diadema, dos pingentes e do colar da Dama de Baza foram comprovados arqueologicamente em peças reais encontradas em sítios arqueológicos de Chipre, Cartago e Sicília e, mesmo com a cronologia diferente entre estes achados, poucos detalhes variam entre estas joias. Já o local da sepultura onde foi encontrada a Dama de Baza possui características singulares, causando assim diversas interpretações. Além da estátua havia também um altar, onde ânforas (localizadas nos quatro cantos da cova) recebiam libações externas à sepultura e alguns objetos em metal que puderam ser identificados como punhais, uma placa de cinturão de bronze e fíbulas, podendo ser objetos pessoais do defunto ou oferendas de guerreiros à possível divindade. As interpretações sobre a Dama de Galera são diversas entre os especialistas iberos, para

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Arribas (1963), a descreve com a deusa Deméter comparada com a deusa Haegia Eirene de Chipre, para Harden (1963), em sua obra “The Phoenecians”, afirma ser uma forma oriental da deusa Astarté em seu trono de esfinges, além de considerá-la um objeto mágico, pois permitia em determinado momento do culto emanar leite ao prato por conta de perfurações em sua cabeça e em seus seios. Em sua conhecida obra “Tartesos y los Fenícios en occidente”, Blazquéz (1971), vai mais além, a compara com imagens femininas do período minóico, que possuíam os seios perfurados, como o vaso de “Moclos de minóico” (Zervos, 1956:186-187), a Dama de Galera para a autora teria uma função de deusa da fertilidade. Para Sonresen (2000), além da própria imagem, devemos perceber outros objetos, como a vestimenta, joias, penteados... A cultura material estudada a partir da arqueologia de gênero, pode nos fornecer informações importantes, como por exemplo, a função destes objetos, pois é neles e em seus detalhes que se emite a mensagem. Deste modo, a aristocracia ibérica foi expressando seu poder através da transformação da paisagem funerária, mediante os monumentos e tumbas com claras representações simbólicas. O valor destas imagens serve para reconstruir o sistema das relações sociais, atuando principalmente como um meio de comunicação, no caso das damas, de se construir uma identidade e de expor o poder e prestígio destas mulheres dentro da sociedade ibérica. Bibliografia: BENDALA, Manuel. Tartesios, Iberos y Celtas. Madrid: Ediciones Planeta Madrid, 2010. DOMINGUEZ MONEDERO, A. Los lugares de culto en el mundo ibérico: espacio religioso y sociedad. Departamento de Historia Antigua, Universidad Autónoma de Madrid, Madrid, 1997. REYERO, Susana G. y GALÁN, Carmen R. Imágenes de los iberos: comunicar sin palabras en las sociedades de la antigua iberia. CSIC, Madrid, 2010.

*Ellen Moura T. de Vasconcellos Professora Mestranda pelo PPGH-UFF e bolsista CAPES – Pesquisadora do Núcleo de Estudos de Representações e de Imagem da Antiguidade (NEREIDA). Atualmente desenvolve a pesquisa “Damas Hibridas: Interações Culturais Préromanas na Península Ibérica entre os séculos VII-IV a.C., sob a orientação da Prof.ª Drª Adriene Baron Tacla.

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O DISCURSO DE HORTÊNSIA: UMA ADVOGADA NA REPÚBLICA ROMANA

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Márlio Aguiar *

Resumo: Poucos foram os casos em que mulheres romanas advogaram na república romana. Esse artigo explora a atuação política e jurídica de uma delas, Hortênsia, nos anos finais da res publica. Palavras-chave: Direito Romano; República Romana; Advocacia.

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mulher romana adquiriu a partir dos séculos II e I a.C. diversos direitos e um tratamento jurídico menos oneroso com relação aos homens; contudo, a presença de feminina ao falar em juízo era um assunto delicado entre os juristas romanos. Na República, a ausência de uma regulamentação específica sobre a advocacia não impedia as mulheres de postular em juízo (que pode ser entendida menos como uma permissão, além da existência de um código axiomático tácito de distribuição das tarefas sociais). A proibição expressa do exercício da postulação pro aliis (isto é, em nome de outrem, não em causa própria) pelas mulheres foi definida mais tardiamente em um edito pretoriano e foi discutido pelo jurista Ulpiano (Digesto, 3.1.1.5). A proibição serviria para evitar que as mulheres se imiscuíssem em coisas alheias (i.e., típicas do vir, do varão e do officium virile), contra a pudicitia esperada de seu sexo; a mulher poderia postular em causa própria, mas fazer disso uma profissão era considerado imoral. O jurisconsulto Paulo (Digesto, 3.3.41) parece indicar outra motivação da elite romana para impedir suas mulheres de advogar: evitar o contato íntimo com estranhos ao círculo familiar, uma restrição com objetivo semelhante àquela mais radical das funções civis e magistraturas (Digesto, 50.17.2). Muito provavelmente o ensino “prático” do direito, com uma relação direta entre o estudante e o magister iuris – um advogado mais velho que permitia-se ser acompanhado do estudante – era proibido às mulheres, ainda que tivessem acesso à educação básica das letras latinas. A excepcionalidade da participação feminina na advocacia resta clara na pena do historiador Valério Máximo no séc. I d.C., que conta a história de três mulheres que surpreenderam a sociedade romana ao exercer a advocacia: Amésia Sência, Carfânia e Hortênsia. As duas primeiras advogaram em causa própria, sendo a atuação de Carfânia – exemplo da “calúnia feminina” – a razão da publicação do referido edito. Iremos nos concentrar no caso de Hortênsia que, das

três, foi a única que advogou pro aliis. A atuação de Hortênsia se encontra referenciada não apenas por Máximo (Factorum et dictorum memorabilium libri IX, 8.3.3), mas também por Quintiliano (Institutiones, 1.1.6) e no discurso reproduzido por Apiano (Bellum Civile, 4.5.32-34). Hortênsia era filha do orador Quinto Hortênsio Hortalo e, de acordo com Máximo, pleiteou diante do Segundo Triunvirato (no ano de 43 a.C., nos turbulentos anos do final da República) com constância e sucesso. Sua atuação se deu na seguinte forma: os triúnviros haviam imposto, por meio de um edito, uma pesada taxa sobre mil e quatrocentas romanas ricas para custear despesas bélicas. Não tendo sido defendidas por ninguém, Hortênsia, na qualidade de líder dessas aristocratas, postulou perante a autoridade jurisdicional dos triúnviros em ocasião nas quais as mulheres invadiram o forum. O primeiro argumento de Hortênsia tem um caráter social e econômico: a taxação de suas propriedades pessoais prejudicaria enormemente sua sobrevivência e iria contra seus direitos de nascimento e de sexo (muito provavelmente Hortênsia aqui se referia ao patrimônio dotal das mulheres); elas já estavam, afinal, privadas de seus homens, convocados a servir militarmente. O segundo argumento é o mais forte e o mais interessante: por que as mulheres haveriam de contribuir financeiramente para a guerra se elas não possuíam direito de voto, ou de participar das magistraturas e honrarias da res publica? Seguindo a boa retórica romana, Hortênsia sabia utilizar da história para argumentar a seu favor: nem mesmo durante as guerras púnicas as mulheres foram forçadas a colaborar com a guerra, muito menos nos períodos de guerra civil sob a ditadura Sila ou o conflito de Pompeu e César. Os triúnviros ordenaram que os lictores dispersassem as mulheres do tribunal. No dia seguinte, um novo edito reduziu o número de mulheres que seria impelida a contribuir – para quatrocentas –, aumentou a renda necessária para a

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imposição da taxa, e impuseram também uma contribuição para todos os homens, sem qualquer distinção, para cobrir as despesas de guerra. A atuação de Hortênsia foi excepcional em dois sentidos: pela eficácia e por representar uma exceção à segregação da profissão liberal da advocacia. O episódio representa, no entanto, a enorme efervescência na atuação política da elite romana mesmo na derrocada da República, e antecipa – guardadas suas limitações conceituais e temporais – um reflexo do tema igualdade civil. Quase um século mais tarde, sob a dinastia júlio-claudiana e em época igualmente conturbada, o estoico Musônio Rufo seguiria um caminho símile ao afirmar (Diatribes, III) que mulheres e homens teriam a mesma disposição natural para a virtude moral e para a educação privada. Não sabemos se teve ele acesso ao discurso de Hortênsia: ambos representam uma linha minoritária, mas persistente e subversiva, no tema dos direitos civis no ius Romanorum. Bibliografia CORRAL, Ildefonso L. García del. Cuerpo del derecho civil romano: a doble texto, traducido al castellano del latino. Barcelona: Lex Nova, 2004, 6. v. MADEIRA, Eliane Maria Agati. “Advogadas Romanas Republicanas”. In Revista da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. V. 101, jan./dez. 2006, p. 87-107. MADEIRA, Hélcio Maciel França. História da advocacia: origens da profissão de advogado no direito romano. São Paulo: Editora RT, 2002. VEYNE, Paul. “Império Romano”. In VEYNE, Paul (org.). História da Vida Privada, v.1: Do Império Romano ao Ano mil. São Paulo: Cia das Letras, 2007, p. 19-224.

* Mestrando em Teoria e História do Direito pelo PPGD/UFSC. Bacharel em Direito pela UFSC. Graduando em História pela UDESC. Pesquisador do Grupo de Pesquisas em Latim e Fontes de Direito Romano: Ius Dicere.

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A REVOLTA DE BOUDICA CONTRA O IMPÉRIO ROMANO NA BRITÂNIA

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Prof. Diogo Kubrusly de Freitas *

Resumo: O presente artigo busca traçar a empreitada militar de Boudicca, responsável por liderar uma das maiores revoltas da Britânia romana. Sob seu comando milhares de bretões uniram-se para desafiar o Império Romano em 61 d.C. Palavras chave: Britânia Romana; Revolta; Boudicca.

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o ano de 61 d.C. quando os icenos se rebelaram contra os abusos em série cometidos pelo governo local da Britânia romana, dá-se o levante de uma figura de liderança ímpar a frente dos bretões: Boudicca. Movida inicialmente por um sentimento de vingança, Boudicca opõe-se firmemente aos romanos, levando um cenário de caos e destruição ao Império Romano na Britânia. No intuito de proteger seu clã e seu reino, o rei Prasutagus dos icenos nomeia, além de suas filhas, o imperador romano como seu coerdeiro. No entanto, os esforços de Prasutagus falham, pois logo após a sua morte o reino dos icenos é saqueado e seu povo sujeito às humilhações dos romanos. “As a beginning, his widow Boudicca was flogged and their daughters raped. The Icenian chiefs were deprived of their hereditary estates as if the Romans had been given the whole country. The king's own relatives were treated like slaves.” (Lewis-Stempel 2006: 5). FrénéeHutchins (2009) confirma o crescente sentimento de insatisfação dos bretões, que eram forçados a pagar altos tributos ao governo de Roma. A ausência do governador Suetônio, que estava na Ilha de Anglesey para coibir práticas relacionadas ao Druidismo, foi visto como momento ideal para o início da revolta liderada por Boudicca. Formando alianças com tribos vizinhas como as dos trinibantes, Boudicca inicia uma campanha militar. De acordo com Frénée-Hutchins (2009) um exército de 120.000 bretões estava sob as ordens de Boudicca. O primeiro alvo foi Camulodunum, cidade completamente massacrada por Boudicca. Sabe-se que o templo de Cláudio serviu de local de concentração para uma pequena guarnição romana. No entanto, após dois dias de cerco o santuário não resiste aos ataques bretões. Cato Deciano envia 200 soldados para auxiliar, mas esses estavam mal armados para o combate. Como reforço, a Nona Legião enfrenta os rebeldes. Contudo, os legionários também são derrotados pelos bretões. “Its entire infantary force was massacred, while the commander

escaped to his camp with his calvary and sheltered behind its defences. The imperial agent Catus Decianus, horrified by the catastrophe and by his unpopularity, withdrew to Gaul. (LewisStempel 2006: 6). Seguindo vitoriosa em sua luta, Boudicca e suas tropas marcham rumo à Londinium. Ciente de sua inferioridade numérica, Suetônio abandona a cidade, considerada “the comercial heart of the Roman province” (Frénée-Hutchins 2009: 34). Os habitantes que desejaram seguiram-no, mas mulheres e idosos ficam para trás, sendo degolados pelos bretões. Após a queda de Londinium, a cidade de Verulamium sofre um destino semelhante. Cerca de 70.000 habitantes foram mortos durante os ataques às duas cidades. Tácito nos narra com vivacidade as práticas bretãs quando esses subjugavam territórios: “The natives enjoyed plundering and thought of nothing else. [...] the British did not take or sell prisoners, or practice other war-time exchanges. They could not wait to cut throats, hang, burn and crucify […]” (Lewis-Stempel 2006: 6). O confronto final entre Boudicca e Suetônio se dá em um desfiladeiro. Os romanos posicionam-se estrategicamente, tendo uma floresta atrás de suas tropas para assim não sofrerem ataques pela retaguarda. Por sua vez, os nativos optam por posicionar seus carros de combate de forma que as mulheres pudessem assistir à vitória sobre os romanos. Antes do início da batalha Boudicca em sua carruagem, acompanhada de suas filhas, faz um discurso perante as tribos que estão sob seu comando: “'We British are used to woman commanders in war' […] 'I am descended from mighty men! But now I am not fighting for my kingdom and wealth. I am fighting as an ordinary person for my lost freedom, my bruised body, and my outraged daughters. Nowadays Roman rapacity does not even spare our bodies. Old people are killed, virgins raped […]. Consider how many of you are fighting – and why. Then you will win this battle, or perish. This is what I, a woman, plan to do! – let the men live in slavery if they will.'”

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(Lewis-Stempel 2006: 7). Apesar das palavras fervorosas de Boudicca, a batalha termina em catástrofe para os bretões, conforme dito por FrénéeHutchins (2009). Esses foram surpreendidos pelo poderio da infantaria e da cavalaria dos romanos. Os bretões tentam fugir dos gládios e dardos inimigos, porém a disposição de seus próprios carros de batalha dificulta a retirada dos nativos. Estima-se que 80.000 bretões morreram no confronto. Não há um consenso a respeito das causas da morte de Boudicca. De acordo com Frénée-Hutchins (2009), enquanto Tácito afirma que Boudicca se envenenara após a derradeira batalha, Dion Cássio diz que ela foi acometida por uma doença que a levou à morte. Mesmo não sabendo ao certo como se dera a morte de Boudicca, é inegável o fato de que ela tenha sido a responsável por unir diferentes tribos bretãs em uma empreitada ofensiva e inesperada contra o Império Romano na Britânia, algo inusitado para uma mulher da Antiguidade. Referências: FRÉNÉE-HUCHINS, S. The cultural and ideological significance of representations of Boudica during the reigns of Elizabeth I and James I. Tese (Pós-Doutorado em Línguas e Literaturas Estrangeiras - Inglês) Universidade de Exter e Universidade de Orleães, Orleães. 2009. LEWIS-STEMPEL, J. (ed.) (2006), England: the autobiography: 2,000 years of English history by those who saw it happen. London.

*Pós-graduando do programa de MBA de Educação nas Organizações pela Universidade Veiga de Almeida. Graduado em Letras pela Universidade Veiga de Almeida.

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ASPECTOS DA SEXUALIDADE FEMININA NOS HINOS DEDICADOS À DEUSA INANNA

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Profª. Espª. Simone Aparecida Dupla*

Resumo: O presente pretende abordar alguns aspectos da sexualidade feminina na Antiga Mesopotâmia por meio da documentação disponível no Electronic Text Corpus of Sumerian Literature (ETCSL) acerca da deusa Inanna (2500-1600 a.C.). Palavras-chave: Inanna, sexualidade, mulher mesopotâmica.

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nanna foi uma divindade feminina relacionada ao sexo e ao erotismo na Antiga Mesopotâmia. A literatura onde tal deusa se faz presente oferta inúmeras referências às práticas sexuais como forma de externar regras de cortejo e práticas sociais. As formas de prazer presentes no hierogamos da divindade apontam para aspectos aceitáveis do ato sexual, para normas de relacionamento a que as mulheres sexualmente ativas ou em idade para tal estavam sujeitas. Nas falas de Inanna percebe-se o desejo de setores distintos, principalmente o feminino, que aproximava elementos divinos às práticas mundanas. É possível que os ritos do casamento sagrado fossem uma cerimônia reproduzida por todo casal nessa sociedade, pois o espaço sagrado era reconfigurado e reencenado em escala microscópica. O homem das sociedades tradicionais reproduzia o macrocosmo no seu lar, a casa era uma espécie de microcosmo sacralizado (ELIADE, 1963), assim as práticas sexuais dos deuses eram paradigmáticas para os seres humanos. O hierogamos da divindade, ao prever carícias preliminares entre os amantes e a s atis f ação d a d iv in d ad e, tamb ém demonstrava o cuidado durante o contato físico e as palavras de sedução, maneiras pelas quais as mulheres deveriam ser tratadas. Inanna, ao expressar desejos, vontades e expectativas em relação à cópula, representava a ideologia feminina em relação ao matrimônio e o intercurso sexual. O matrimônio na Mesopotâmia geralmente era fruto da escolha dos membros masculinos da família (pai, irmão), mas os textos indicam que as mulheres tinham certa liberdade nessa escolha ou, ao menos, deveriam ser persuadidas de que a união teria alguma vantagem para elas. Embora fossem os homens a escolher o esposo, as mulheres que davam a última palavra em relação à celebração, pois a documentação aponta a casa da mãe da divindade como local onde o pretendente dirigia-se para ratificar os esposais. Já o encontro dos amantes por vezes fugia do socialmente recomendado: no texto intitulado “Um tigi para Inana e Dumuzi”, a divindade encontra o amante às escondidas, vivendo um romance que, se não era proibido, certamente não era adequado agir de tal forma. Nesse texto, Inanna se

preocupa por ter ficado muito tempo na companhia do amante e não saber o que dizer à mãe por ter tardado tanto fora de casa. Ele a orienta a mentir que estaria com suas amigas dançando e ouvindo música e perdera a noção das horas. Embora fosse permitido ao homem dormir na casa de sua futura esposa de forma marital, não era aceitável que esta se encontrasse com ele às escondidas.

Amantes abraçados no leito. Relevo em terracota, datado do II milênio a. C.. Proveniente de Susa. Fonte: Leick (2003).

Além disso, os hinos atestam que grupos femininos buscavam legitimar suas práticas por meio das ações da deidade para manter um mínimo de liberdade nas práticas sexuais. Como protetora do sexo por excelência, a divindade estendia seus parâmetros de relacionamento às mulheres daquela temporalidade. Permitia, assim, por meio de suas narrativas, que estas usassem estratégias para assegurar alguns comportamentos. As mulheres seguiam os passos de Inanna, imitavam os gestos e atos desta, ao menos no que diz respeito àquela parcela da sociedade que podia pagar um dote, tecer vestidos caros e ter banquetes luxuosos. Mas isso não quer dizer que as condutas sexuais dessa divindade não tivessem a adesão das mulheres menos abastadas, como demonstram os ex-votos dedicados à Inanna que eram confeccionados de diversos materiais, do mais raro ao mais elementar. Além disso, Inanna era padroeira das prostitutas e daqueles que vendiam seus favores sexuais o que a relaciona a setores

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marginalizados da sociedade. Uma das funções do ritual previa o direcionamento da performance dos sujeitos envolvidos, mostrava como deveriam se comportar antes, durante e após o intercurso sexual. As práticas sexuais na Mesopotâmia apresentavam uma estreita ligação com mundo divino, mas o cortejo, as palavras de desejo e segurança, o contato dos corpos mostram que sagrado e profano não tinham limiares preestabelecidos. O culto a essa divindade ditava normas comportamentais ao mesmo tempo em que permitia estratégias e desvios às diversas formas de sexualidade presentes nessa sociedade. Nas formas de prazer percebe-se o jogo de diferenciações sexuais, a construção de identidades de gênero, as condutas aceitáveis e os desvios. Por meio de Inanna a voz das mulheres se fazia ouvir, externando formas sutis da sexualidade feminina. A divindade evocada para o prazer carnal também podia recuperar ou tirar a virilidade dos homens, até mesmo os travestia em mulheres ocasiões diversas. A linguagem de Inanna era de sensualidade, de desejo e do prazer dos corpos, mas também falava de vingança e expectativas. Na documentação era ela que falava, e ao impor os seus desejos e suas regras, o que dava voz às mulheres. Um grupo feminino que agregava as mulheres em proeminência de uma vida sexual ativa e as conhecedoras dessa prática. Nas relações de poder entre os gêneros as mulheres buscavam legitimação nas práticas sexuais da divindade. Referências: ELIADE, Micea. Aspectos do mito. Rio de Janeiro: Perspectivas do Homem/edição 70, 1963. Electronic Text Corpus of Sumerian Literature (ETCSL). Disponível em: http://etcsl.orinst.ox.ac.uk/ LEICK, G. Sex and Erotism in Mesopotamian Literature. London: Taylor & Francis, 2003.

* Mestranda em História, Cultura e Identidades da Universidade Estadual de Ponta Grossa. Especialista em História, Arte e Cultura e História e Cultura Afro-brasileira. Tutora do Curso de Licenciatura em História da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG).

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HILIA

JORNAL INFORMATIVO DE HISTÓRIA ANTIGA ano xvi | ABR / MAI / JUN 2015 | EDIÇÃO Nº 54

RAINHAS DE AMARNA: TIYE E NEFERTITI NO REGIME DE AKHENATON

Φιλια

Profª. Priscila Scoville*

Resumo: O faraó é tido como um governante supremo, contudo, tendemos a esquecer que o faraó possui características humanas. Nesse texto, então, apontaremos a influência das rainhas durante o frágil governo de Akhenaton. Palavras-chaves: Egito Antigo, Amarna, Rainhas.

O

Período de Amarna é conhecido hoje pela alteração da crença religiosa, proposta por Akhenaton, que, a partir de então, adoraria Aton como seu deus único. É importante lembrar, porém, que os sistemas organizacional e religioso compunham uma unicidade no Egito Faraônico: deste modo, não podemos simplificar nossa interpretação sobre as mudanças de Amarna como simples e puramente ligadas ao divino. A elevação de Aton dependeu de determinados fatores que possibilitaram uma transformação em todos os setores da vida egípcia. Os cultos solares que haviam se fortalecido durante a XVIII dinastia possibilitaram que os sacerdotes de Amon desempenhassem cada vez mais poder de influencia na sociedade. O faraó, então, viu-se dividindo o topo da hierarquia com sacerdotes e alto funcionários. Percebemos que a imagem do faraó muitas vezes é idealizada, pois não podemos entendê-lo como o centro do poder egípcio, sendo o responsável por toda a administração e estando no topo absoluto da hierarquia. A não “humanização” de um faraó leva crianças, sobretudo, a acreditarem que este governante era um ser quase mitológico com centenas de anos (Este dado foi constatado durante um período de estágio no Museu Egípcio e Rosacruz de Curitiba (junho/2011 – junho/2013), quando pude observar que ao realizar palestras de monitoria para colégios e perguntar para as crianças “Quantos anos um faraó tinha quando chegava ao poder?”, muitas vezes obtive um número maior que cem anos, quando não mais de mil, como resposta, especialmente por alunos de até sexto ano de escolas públicas.). Sabemos, porém, que, como qualquer outra pessoa, o rei egípcio era mutável, subjetivo e influenciável. É nesse contexto que encontramos as rainhas Tiye e Nefertiti, mãe e esposa de Akhenaton, respectivamente. Cada uma ao seu modo teve participação

ativa no governo amarniano, como veremos a seguir. Ainda no regime de seu marido, Amenhotep III, Tiye recebeu um destaque que pode ser notado, entre outras maneiras, a partir de correspondências dos reinos vizinhos, as chamadas Cartas de Amarna. As cartas trocadas entre Amenhotep III e Tushratta, rei de Mitani, deixam claro que Tiye conhecia os assuntos tratados por seu marido. Além disso, no governo de Akhenaton, Tushratta envia cartas para o Faraó pedindo para que este escutasse sua mãe: Tiye, sua mãe, sabe todas as palavras que eu falei com seu pai. Ninguém mais as sabe. Você deve perguntar para Tiye, sua mãe, sobre elas, para que ela possa te dizer (MORAN, 1992: 91) (Trecho da carta EA28. Tradução própria, do inglês. Original em cuneiforme.). Outra carta foi enviada diretamente à Tiye, pedindo para que ela intervisse no regime de seu filho: Por que você não expôs para Napḫurreya [Akhenaton] as palavras que você mesma, com a sua própria boca, disse para mim? Se você não expuser para ele, e você continuar em silêncio, alguém mais pode saber? Faça Napḫurreya me enviar estátuas de ouro maciço! (MORAN, 1992: 84-85) (Trecho da carta EA26. Tradução própria, do inglês. Original em cuneiforme.). A influência de Nefertiti, por outro lado, pode ser percebida em meio ao culto amarniano. A rainha, além de aparecer em poses tipicamente masculinas, passa a integrar a tríade divina, em um modelo triangular invertido, como vemos na imagem a seguir: AMON

Referências Bibliográficas: GRAVES-BROWN, C. (2010) Dancing for Hathor. Women in Ancient Egypt. Londres. MORAM, W. L. (1992) The Amarna Letters. Baltimore. SOUZA, A. C. F. de. (2012) Nefertiti, sacerdotisa, deusa e faraó. Rio de Janeiro.

ATON

MUT

KHONSU

O novo modelo de tríade divina inclui o casal real. Dessa forma, Nefertiti seria a filha de Aton e, como sua representante em Terra, os egípcios deveriam destinar preces e oferendas diretamente à rainha. Além disso, representações de Nefertiti a mostram em posições de privilégio, assumindo o sacerdócio de Aton juntamente com o marido – excluindo, assim, o poder dos sacerdotes de Amon, para que o faraó voltasse ao topo da hierarquia. Muitas coisas ainda poderiam ser ditas sobre Tiye e Nefertiti, contudo, acredito que o fundamental já possa ser entendido: o faraó não governa sozinho, neste caso, Akhenaton esteve em contato direto com duas rainhas de grande porte, que o influenciaram e contribuíram para seu governo.

AKHENATON NEFERTITI

Fonte: SOUZA, A. C. F. de. (2012) Nefertiti, sacerdotisa, deusa e faraó. Rio de Janeiro, p. 79.

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* Graduada em História Memória e Imagem pela Universidade Federal do Paraná, mestranda de História na mesma instituição, bolsista CAPES e membro do NEMED.

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HILIA

JORNAL INFORMATIVO DE HISTÓRIA ANTIGA ano xvi | ABR / MAI / JUN 2015 | EDIÇÃO Nº 54

XII JORNADA DE HISTÓRIA ANTIGA /NEA UERJ

Φιλια

PRÓXIMOS CURSOS DE EXTENSÃO

Entre os dias 18 e 22 de maio, a UERJ recebeu graduandos, pósgraduandos e professores de História, e áreas afins, para o grande evento promovido pelo Núcleo de Estudos da Antiguidade, a XII Jornada de História Antiga, com temática Discurso, narrativa e representação no Mediterrâneo Antigo. Neste evento a sociedade acadêmica de estudos da Antiguidade teve a oportunidade de socializar os seus resultados de pesquisas e aprimorar seus estudos através dos mini-cursos: Arte e Arqueologia no Mediterrâneo Antigo, ministrado pelo Prof. Dr. José G. C. Grillo - UNIFESP e A China e suas religiões, ministrado pelo Prof. Dr. André da Silva Bueno UERJ.

CONGRATULAÇÕES

AMIGO DO DPHCEX 2015

O NEA UERJ parabeniza o pesquisador e professor José Roberto de Paiva Gomes que no dia 29 de abril de 2015 alcançou o grau de Doutor em História Antiga junto ao Programa de História Comparada.

A coordenadora do NEA e Diretora do Jornal PHILIA, Profª Drª Maria Regina Candido recebeu da Diretoria do Patrimônio Histórico e Cultural do Exército o título Amigo do DPHCEX 2015.

NORMAS PARA PUBLICAÇÃO - 800 palavras ou 5000 caracteres com espaço; - Biografia resumida do autor; - Resumo (35 palavras ou 230 caracteres com espaço) - 03 palavras-chaves; - 02 Imagens com referência; - 01 Foto do autor de rosto; - Fonte: Tahoma 9, espaçamento entre linhas simples; - 03 Referências bibliográficas. COMO CITAR O PHILÍA

HQ E HISTÓRIA: SUPER-HERÓIS CONTAM A HISTÕRIA DO SÉCULO XX

I Seminário de Estudo Interdisciplinar sobre História do século XX: O discurso das Histórias em Quadrinhos como Conhecimento das Condições Históricas, Geográficas, Linguísticas e Socioculturais do Século XX. Parceria entre o Núcleo de Estudos da Antiguidade e o Colégio Estadual Francisco Assumpção - SEEDUC/RJ

POZZER, K. M. P. Banquetes, Recepções e Rituais na Mesopotâmia. Philía: Jornal Informativo de História Antiga, Rio de Janeiro, Ano XIII, n. 37, p. 5-6, jan./fev./mar. 2011. Obs.: Destacar APENAS o título do periódico. R454

Catalogação na Fonte UERJ/Rede Sirius/CCS/A Philía: jornal informativo de história antiga. – vol.1, n.1 (1998) - . – Rio de Janeiro: UERJ/NEA, 1998 – v. : Il. Trimestral. ISSN 1519-6917

1. História antiga – Periódicos. I. Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Núcleo de Estudos da Antiguidade. CDU 931 (05)

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