A Revolução Bakhtiana

June 2, 2017 | Autor: Nathalia Fasolo | Categoria: Bakhtin, Voloshinov, Semiotica, Ideologia, Linguagem, Signo
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A REVOLUÇÃO BAKHTIANA
Isaque Crozeta do Paraizo
César Augusto Consalter
Nathalia Fasolo

Em seu livro "A Revolução Bakhtiana", Augusto Ponzio dedica o capítulo "Signo e Ideologia" para realizar um estudo acerca dos signos e seus elos ideológicos, partindo da semiótica e tentando explicar sua raiz marxista. O autor inicia a discussão fazendo uso da definição de signo apresentada por Bakhtin, a qual o caracteriza como um fenômeno da realidade objetiva, dotado de função ideológica. O signo, portanto, representa a realidade a partir de um determinado ponto de vista valorativo, tendo uma base social. Essa base, por definição, é construída historicamente levando-se em conta as formas de produção material e a divisão do trabalho. Assim, todos os elementos da realidade material podem converter-se em signos, adquirindo, na relação intercorpórea, que se organiza na dimensão histórico-social, função sígnico-ideológica. A expressão da interação social, ou seja, das relações histórico-materiais estabelecidas entre os homens, consiste na ideologia.
O autor utiliza-se, em primeiro plano, de Voloshinov para definir o sentido de ideologia para Bakhtin, o qual a caracteriza como um conjunto das interpretações da realidade social advindas do homem, e que se expressam por formas sígnicas. Ponzio amplia ainda mais a definição ao trazer a concepção de ideologia dominante proposta por A. Shaff, a qual sustenta que esta é estabelecida pelos interesses de uma classe, que condiciona comportamentos dos sujeitos do seu e de outros grupos sociais. O autor discorre, ainda, do ponto de vista semiótico, sobre a dupla materialidade do signo ideológico, em seu sentido físico e sígnico, sustentando a inseparabilidade dessas formas. Essa caracterização do material signo-ideológico, na teoria de Bakhtin, contribui também para a diferenciação entre signo e sinal, contemplada também na obra do autor.
Bakhtin considera o signo verbal como signo ideológico por excelência, no qual se encontra o elemento de mediação da dialética entre a estrutura e a superestrutura, estabelecendo-se, entre essas duas, um elo derivado da "psicologia social". É levantada, ainda, a distinção entre duas tendências fundamentais da filosofia da linguagem e da linguística, colocadas por Voloshinov: o objetivismo abstrato, que trata a língua como um sistema estável e imutável, alheio às ideologias e histórico; e o subjetivismo individualista, no qual a língua é um processo ininterrupto de construção, intrínseca às leis da psicologia individual e abstratamente construída pelos linguistas. Além disso, Ponzio afirma que a linguística nasce a partir da filologia, a qual declara a língua como um sistema abstrato de normas idênticas. Mas, é importante destacar que essa forma de análise é válida somente quando se aprende uma língua estrangeira (especialmente morta), dado que, para o falante-receptor nativo, a língua está sujeita a um processo constante de transformações e se apresenta de forma inseparável de seu sentido ideológico e de sua prática social. Sendo assim, Ponzio mostra que Voloshinov critica o "objetivismo abstrato", uma vez que não é exato dizer que o indivíduo "aceita passivamente" a própria língua, declarando também sua discordância com o "subjetivismo individualista" e o "subjetivismo abstrato", atentando ao fato primordial de que as leis da evolução linguística são leis essencialmente sociológicas (e não da psicologia individual), sendo sua estrutura puramente social.
Em seguida, o autor faz menção a N. Ja. Marr, um linguista russo de tendência marxista que classificou e estudou o signo verbal como elemento da superestrutura social. Os trabalhos de Bakhtin revelam-se claramente opostos a essa ideia, uma vez que estabelecem que a categoria de superestrutura não é suficiente para classificar o signo verbal. Na verdade, o signo funciona, de acordo com Bakhtin, como um elo entre a estrutura e a superestrutura. Além disso, a partir de Bakhtin, é possível notar que a língua não é um fato que se dá de uma vez por todas (está pronta e acabada), mas sempre como um objetivo a ser alcançado. A língua unitária constrói-se através de forças centrípetas, atuantes em uma realidade pluridiscursiva e que unem a vida linguística, e forças centrifugas, atuando no processo contínuo de centralização e descentralização dessa língua que segue viva e evolui. Ponzio também formula algumas considerações sobre o sentido da fundamentação marxista da semiótica. O autor pressupõe que esta relaciona-se com a ideologia de forma a vê-la como algo "externo". Logo, a relação semiótica tem de ser entendida no sentido de que os signos não são acessórios ligados ao marxismo-dialético. O autor ainda caracteriza o marxismo como um "sistema aberto", pois se desenvolve e se completa com novos elementos, os quais comportam uma transformação dos elementos passados. O estudo dos signos ocupa um lugar básico para o marxismo, uma vez que faz crítica à economia política e analisa as "mercadorias como mensagens". O estudo marxista das formas ideológicas usa a noção de superestrutura, sendo indissociável ao estudo sígnico e das relações que implicam as hierarquias estabelecidas entre eles.
Ponzio coloca que toda análise do processo cognoscitivo deve ser análise dos processos sígnicos. Nasce, a partir disso, a necessidade de considerar os problemas de comunicação e de estudar mensagens e sistema sígnicos. Alguns pontos são levantados pelo autor ao tentar explicar a raiz marxista aliada à semiótica, como o enfoque na formação desta como disciplina explicativa e crítica, chegando à conclusão de que os processos de composição sígnica também produzem ideologias. A semiótica, assim, descobre formas de inconsciência, de falta de tomada de consciência e de falsa consciência, em que parecia que apenas existia comunicação consciente, voluntária. Além disso, a análise das distintas formas ideológicas usa a noção de superestrutura, tornando-se indissociável ao estudo sígnico e das relações que implicam as hierarquias estabelecidas entre eles. Assim, verificar e ampliar o caráter científico do materialismo histórico-dialético requer uma comparação constante entre as ciências naturais e sociais, como nas relações entre marxismo e semiótica. Nota-se, portanto, que a relação de mútuo complemento e apoio entre marxismo e semiótica se estabelece numa teoria dos signos que se funda no pressuposto de que, para a existência da semiose, é necessário um objeto físico que cumpra a função de material sígnico, além de presumir que este corpo sígnico situe-se num sistema de corpos sígnicos. Além disso, o significado é diferente do referente, e o referente é também um elemento essencial da semiose. Sendo assim, qualquer corpo pode funcionar como material sígnico, assumindo algum significado, até mesmo em uma relação recíproca com outros materiais sígnicos, funcionando, inclusive, como referente.

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