A “SACRÍLEGA DÍVIDA” DA GUERRA DO PARAGUAI (1894-1913)

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A "SACRÍLEGA DÍVIDA" DA GUERRA DO PARAGUAI (1894-1913)


Fabiano Barcellos Teixeira
Doutorando do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade de
Passo Fundo, professor de história da rede pública da mesma cidade.
[email protected]




Maior conflito militar da história da América do Sul, a guerra da
Tríplice Aliança contra a República do Paraguai (1864-70) parece ainda não
ter acabado. A historiografia avança, aos tropeços. Uma profusão de estudos
com resvalos nacionalistas são frequentes nos países que dela participaram
diretamente. Ciente que a grande guerra do Prata foi um grave erro do
Império do Brasil, há cerca de cem anos, os positivistas ortodoxos do Rio
de Janeiro lideraram uma notória campanha pelo perdão da dívida e a
devolução dos troféus de guerra ao Paraguai, "país destroçado naquela
hecatombe entre as nações irmãs", segundo palavras dos seguidores da
doutrina comteana.[1]


O Apostolado Positivista do Rio de Janeiro e o Positivismo
Fundado em 1881, o Apostolado Positivista do Rio de Janeiro congregou e
expandiu intensos debates políticos nacionais até os anos 1930. Liderada
inicialmente por Miguel Lemos (1854-1917) e Raimundo Teixeira Mendes (1855-
1927), a instituição tornou-se um centro irradiador de ideias para o
Brasil. O país precisava modernizar-se, afirmavam. Como bons ativistas, os
mencionados intelectuais e os seus pares procuravam influenciar a opinião
pública e a tomada de decisões do governo na então capital federal. Eles
buscavam regenerar a sociedade brasileira marcada pelas chagas da
escravidão, em um cenário social excludente para grande parte da população.
O Apostolado ambicionava um novo ordenamento social para uma possível
evolução do país sempre sob o prisma da doutrina positivista.[2]
Fundada nos anos 1830 pelo francês Augusto Comte (1798-1857), o
positivismo foi ideologia que expressava e representava a sociedade
industrial e a burguesa triunfante na França e na Europa Central.
Propagandeava as leis gerais que dizia necessárias ao progresso humano para
que alcançasse a "sociedade industrial", apogeu da história da humanidade.
A república ditatorial dirigida pelos sábios seria a forma de governo mais
evoluída que a teológica monarquia; os pequenos Estados, de até três
milhões de habitantes, seriam mais progressivos que as grandes nações; o
militarismo bélico, seria incompatível com a cientificidade e as tendências
altruístas da humanidade; a escravidão moderna, instituição abominável; a
Humanidade deveria evoluir para uma sociedade internacional altruísta, com
base na hierarquia e ordenamento social ministrado pela burguesia
industrial, a suposta grande líder do evolucionismo social histórico.[3]
Nos anos 1850, Auguste Comte desenvolvera a "religião da humanidade",
cuja liturgia sacralizava as propostas da ciência positiva. Nesse processo,
seus seguidores dividiram-se em "ortodoxos", seguidores do chamado "período
religioso", e "heterodoxos", fiéis apenas a "etapa filosófica". A religião
seria necessária para a regeneração dos costumes, pois Comte acreditava que
naquele momento da história, pós-revolução francesa, a vida pública e a
privada estavam desorganizadas, pois os pobres insurgiam-se contra os
ricos, os povos contra governos, os filhos contra os pais, a infância
contra as mães, etc. Através do ordenamento social e hierarquia coletiva a
humanidade avançaria. Como exemplos a serrem seguidos, o credo positivista
exaltava os feitos dos "grandes homens", como Homero para a
poesia antiga, Aristóteles para a filosofia antiga, Arquimedes para a
ciência antiga, São Paulo para o catolicismo, entre outros, todos eles
homenageados no calendário positivista de 13 meses, com 28 dias cada um
deles.[4]
Era muito rica a simbologia do positivismo comteano. Baseado em
monumentos, estátuas, bustos, calendário e templos religiosos, pretendia-se
formar uma harmonia disciplinadora, com coesão social. Em última instância,
a ação religiosa ganhava fins políticos, como no caso do Apostolado
Positivista do Rio de Janeiro. Os ortodoxos ligados ao Apostolado carioca
eram intelectuais públicos, ou seja, procuravam desenvolver a consciência
da sociedade civil pela propaganda e pelo exemplo, como visto. Manifestavam-
se sobre economia, política e sociedade. Rejeitavam o uso da violência como
instrumento político e a intervenção na política. Ainda que favoráveis à
ditadura republicana, valorizavam as liberdades individuais e coletivas de
escolha e decisão.
A Descoberta do Brasil
O pensamento positivista comteano chegou ao Brasil em torno de 1850,
trazido por brasileiros que estudaram na França, sendo que, alguns deles,
haviam sido alunos de Augusto Comte. No Rio de Janeiro, as instituições
educacionais, como a Escola Militar, o Colégio Pedro II, a Escola da
Marinha, a Escola de Medicina e a Escola Politécnica, tiveram diversos
trabalhos e teses defendidas tendo como base teórica as teses do
positivismo.[5]
Já o positivismo de vertente religiosa era praticado no Apostolado
Positivista. Entre 1881 e 1927, a Igreja Positivista do Rio de Janeiro teve
de 50 a quase trezentos membros efetivos que contribuíam com o "subsídio",
dinheiro que ajudava as despesas com o aluguel do prédio da sede da
instituição - na travessa do Ouvidor número 7, no centro da capital -, de
publicações variadas e da aquisição de livros para a biblioteca do
Apostolado, além de custeio para festas cívicas e religiosas.[6] Em 1897,
foi inaugurada a sede própria, o ainda conservado Templo da Humanidade do
bairro Glória, no Rio de Janeiro.


Figura 1: Igreja Positivista do Rio de Janeiro, rua Benjamin
Constant 74, Glória

Fonte: disponível em
. Acesso em 09 de nov. de 2015.



De 1881 a 1903, Miguel Lemos foi o dirigente máximo da instituição,
sendo substituído em seguida por Teixeira Mendes até 1927. Miguel Lemos
nasceu em Niterói, Rio de Janeiro, em 1854. Era filho de um oficial de
marinha. Estudou na Escola Politécnica-RJ, quando conheceu as ideias do
positivismo comtiano. Em viagem à Europa aderiu à linha de Augusto Comte,
tornando-se aspirante ao "Sacerdócio da Humanidade", com pouco mais de 20
anos de ideade. Raimundo Teixeira Mendes era natural de Caxias, no
Maranhão. Oriundo de família católica de muitas posses, ele frequentemente
é lembrado pela historiografia devido a sua autoria do dístico "Ordem e
Progresso" da bandeira nacional republicana. Ainda jovem, Teixeira Mendes
foi para o Rio de Janeiro estudar em um colégio de jesuítas e depois no
Pedro II, tradicional educandário da Corte, onde cursou Matemática e
Filosofia, se aproximando das ideias positivistas de comte.[7]
As classes médias e os setores militares foram os meios mais
receptíveis às propostas então modernizadoras do positivismo para o
contexto brasileiro, embora, já fosse doutrina defasada se comparada aos
avanços do marxismo na Europa, onde, por exemplo, o Manifesto Comunista
fora publicado em 1848. O pequeno grupo de positivistas ortodoxos
brasileiros lutou por políticas que pensavam ser benéfica à excludente
sociedade brasileira da época. Através de cartas aos jornais, de comissões,
petições ao parlamento e sobretudo através de boletins e circulares da
instituição, os ortodoxos defendiam inúmeras políticas como a separação
entre Estado e a Igreja; a defesa aos direitos às populações indígenas; o
fim do serviço militar obrigatório; a não obrigatoriedade da vacinação
contra a varíola; a condenação da guerra entre os povos, entre outros
temas.


Um pouco de historiografia sobre a grande guerra do Prata
Entre 1864 e 1870, ocorreu a grande guerra do Prata, maior conflito
militar da história da América Latina, na qual a Tríplice Aliança formada
pela Argentina liberal-mitrista, pelo Império do Brasil e pelo Uruguai
florista venceu à República do Paraguai. Das primeiras décadas pós-guerra
até os anos 1960, a produção historiográfica brasileira sobre aqueles
sucessos foi predominantemente nacional-patriótica-ufanista. Foi a grande
guerra que o país saiu-se vitorioso, tendo o Exército, ou melhor, as forças
armadas do Império, como protagonista, argumentava-se e, ainda, comumente,
argumenta-se.[8]
No entanto, os discípulos de Comte ligados ao Apostolado Positivista do
Rio de Janeiro discordavam da pouco científica versão, propondo uma revisão
dos significados, e uma superação-reparação dos traumas do conflito. Eram
pacifistas convictos. Apesar de terem influenciado algumas políticas do
Estado nacional (como o dístico da bandeira, a separação dentre Estado e
Religião, etc), sobretudo no início da era republicana brasileira, pós
1889, no relativo à guerra do Paraguai, os ortodoxos foram sufocados pelas
produções dedicadas à grande guerra do Prata.[9]
Grosso modo, podemos dividir os estudos sobre a guerra do Paraguai em
quatro ondas historiográficas: 1) tradicional militar patriótica (1870-
1950); 2) crítica positivista (1892-1930); 3) revisionismo populista de
esquerda (anos 1960 e 1970); 4) neorevisionismo ou historiografia moderna
(após 1990).[10] Na versão militar-patriótica, correspondente ao período
imediato ao pós-guerra, até aproximadamente os anos de 1950, predominaram
análises acerca das efemérides nos campos de batalha e da arte da guerra,
com pouco aprofundamento sobre as causas do conflito, as sociedades
envolvidas, os combatentes, etc. No mesmo período, pode-se identificar a
segunda etapa, quando os positivistas ortodoxos, defensores do
republicanismo, organizados no Apostolado do Rio de Janeiro, combateram as
razões da guerra do Império do Brasil contra o Paraguai, como veremos a
seguir.
Nos anos de 1960-80, no Brasil, inaugura-se a terceira etapa, em que
estudos revisionistas de corte populista de esquerda referiram-se
sinteticamente às formações sociais dos países envolvidos no conflito. Eles
destacaram uma República do Paraguai com relativo autodesenvolvimento,
aspecto que seria contrário aos interesses do capitalismo inglês e das
camadas dirigentes da Argentina liberal e do Império do Brasil. Por fim,
nas últimas décadas, identifica-se uma quarta etapa, cuja tendência é
considerar o conflito como produto manifesto das contradições políticas das
nações do Prata, atenuando as responsabilidades pelo conflito do Estado
brasileiro e argentino. Sobretudo, boa parte da historiografia moderna
procurou desqualificar a anterior produção revisionista de viés populista,
caracterizada então como ideológica. Comumente, essa leitura retoma a tese
tradicional de Solano López, presidente paraguaio na época do conflito,
como causador da guerra, por ambição, vontade de conquista, etc.
Produzida principalmente por oficiais aliados presentes no teatro das
operações, boa parte da historiografia "tradicional de trincheira"
caracterizou a guerra do Paraguai como um choque entre "civilização" e
"barbárie", ou seja, aliancista e paraguaios, respectivamente.[11] Tese
tradicional do liberalismo platino. Fortemente ligados ao Estado
brasileiro, os autores de tais estudos apresentaram um Império agredido
pelas ações hostis do inimigo. A cronologia das principais batalhas em que
o Império triunfou, a glorificação dos heroicos comandantes imperiais, etc.
são temas recorrentes nessas análises que utilizam sobretudo fontes
memorialísticas para reconstruir aqueles cenários.
No Brasil, nas décadas imediatas após a guerra, a produção
historiográfica tradicional militar-patriótica não foi plenamente
hegemônica. Concomitante a ela, houve manifestação que contestou em forma
sistemática a atuação imperial no conflito, trabalho pouco conhecido em
comparação aos primeiros. Os positivistas ortodoxos, republicanos e
antiescravista, criticavam duramente o período monárquico brasileiro, época
da escravidão moderna. Inspirados no evolucionismo histórico da doutrina
comteana, eles condenaram as razões das elites dirigentes e do governo
imperial na guerra contra a República do Paraguai. Desaprovaram também, as
inúmeras intervenções imperiais no Prata, no século 19, sugerindo que o
Brasil concedesse reparações e devolvesse troféus de guerra ao Uruguai e
especialmente ao Paraguai.[12] Essa crítica, em sua forma mais acabada, foi
apresentada na biografia de Benjamin Constant, por Raimundo Teixeira
Mendes, publicada em 1892, ampliado em 1913 e reimpresso em 1936: Benjamim
Constant: esboço de uma apreciação sintética da vida e obra do fundador da
República Brazileira.[13]
Na obra citada, Teixeira Mendes criticou o intervencionismo imperial no
Uruguai e no Paraguai, destacando as origens mais remotas do grande
conflito que desgraçou as "nações irmãs". O autor reafirmava o direito das
nações mais frágeis de não sofrerem intervenção por parte das grandes
nações. O exemplo servia como luva ao contexto platino oitocentista. No
relacionamento diplomático entre as nações, determinava a resolução das
eventuais contradições por arbitragem internacional, em exercício dos
princípios altruístas da humanidade. Mesmo com limitações, a obra
significou um considerável avanço historiográfico. Ele utilizava
principalmente documentação oficial do Império buscando superar a
historiografia patriótica brasileira.




Comemorar a guerra?
Em 1894, rememorava-se 30 anos do início da guerra da Tríplice Aliança
contra a República do Paraguai. Para os ortodoxos brasileiros, os grandes
culpados pelo início e prolongamento da guerra entre as nações irmãs foram
os governos da época, principalmente os dos países aliados. "Faz justamente
trinta anos que os erros de uma política filauciosa e violenta engendraram
um rompimento que poucos dias depois atirou três nações sul-americanas a
uma guerra encarniçada contra outra de suas irmãs."[14] Tal erro poderia e
deveria ser reparado, acreditavam.
Críticas contumazes foram dirigidas ao imperador brasileiro, sendo
estendidas as responsabilidades, em menor grau, aos aliados argentinos e
uruguaios.
Esse sangrento episódio de nossa história, uma das páginas
mais tristes do reinando do pseudo rei-filósofo Pedro 2º,
só deveria inspirar ao coração dos verdadeiros
republicanos brasileiros votos ardentes pela felicidade da
heroica nação, duplamente vítima: da ambição e orgulho do
seu chefe, do orgulho e ambição de suas irmãs.[15]


Os positivistas ortodoxos desejavam superar os dramas que a guerra
causou aos povos envolvidos, sobretudo à nação vencida.
A par desses votos cabia-lhes envidar esforços para
auxiliarem o Paraguai a cicatrizar as suas cruentas
feridas, manifestando-lhe sempre a solicitude, a cortesia
sincera com que, tanto na vida pública como na privada,
procuramos atenuar a fazer esquecer os efeitos das faltas
cometidas por aqueles a que nos achamos ligados por laços
íntimos, no passado e no presente.[16]


A incipiente república brasileira estaria sendo relapsa com a grande
guerra do Império; seria inconcebível distribuir medalhas comemorativas da
guerra em "pomposas festas". Representantes do Uruguai estavam no Brasil
para tais cerimônias cívicas, desgostando ainda mais os ortodoxos.
Tais eram os sentimentos e os intuitos que acreditávamos
iriam servir de base, depois de proclamada a República
[15.11.1889], a uma nova atitude em relação aos nossos
irmãos do Paraguai, iniciando-se assim uma política
internacional verdadeiramente sul-americana sincera e
hábil, oposta aos manejos e a protérvia (sic) da
diplomacia imperial.
Infelizmente, força é confessar que as nossas classes
governantes mostram nada ter aprendido a esse respeito de
15 de novembro para cá. Depois de outras, realiza-se hoje,
nesta capital, no meio das mais pomposas festas, uma nova
distribuição de medalhas comemorativas da fratricida luta.
Queremos crer que para tantas demonstrações de regozijo
entra por muito a presença dos conspícuos comissários da
República do Uruguai. Mas teria sido para desejar que, com
o fim de desenvolver as boas relações que nos unem aos
nossos simpáticos vizinhos, se houvesse escolhido outro
motivo, que, longe de recordar o quase aniquilamento de
uma nação irmã, permitisse que esta pudesse também se
associar a essas amistosas manifestações.[17]


Figura 2: capa da circular positivista de 1894

Fonte: Templo Positivista de Porto Alegre, avenida João
Pessoa 1058, Bom Fim


No Brasil, haveria "patriotas insuspeitos" que reconheciam os graves
erros dos seus governantes naquela drástica guerra. Criticavam-se as
memórias comemorativas do conflito e os militares laureados, como o general
Osório, o almirante Barroso, o marinheiro Marcílio Dias.


Ante tão errada conduta, seria imperdoável fraqueza de
nossa parte, se, esquecendo os nossos antecedentes em tais
assuntos, deixássemos passas sem protesto o que nos
afigura, ao mesmo tempo, um sinal de retrogradação para
além de 15 de novembro, e um agravo aos vencidos, tão
contrário à proverbial generosidade do povo brasileiro.
Sobretudo move-nos o cavalheiroso desejo de oferecer aos
nossos irmãos do Paraguai, por meio deste protesto oriundo
de patriotas insuspeitos, um lenitivo às dolorosas emoções
que as festas de hoje hão de necessariamente despertar-
lhes. Eles ficarão sabendo, ao menos, que existe no Brasil
republicanos que não renegaram os seus princípios, e que
as vistas acanhadas de um chauvinismo vulgar preferem as
inspirações de um patriotismo compatível com os mais
elevados destinos da Humanidade.
Estas linhas não têm outro fim. Estamos prontos a
render preito à bravura e ao civismo de todos quanto nessa
calamitosa quadra, tanto de um lado quanto de outro,
saberão honrar o seu posto e cumprir com o seu dever, tal
como este se lhes apresentava então, através de
preconceitos e sofismas dominantes. Mas este
reconhecimento individual a um Osório, a um Barroso, a um
Marcílio Dias, para só citar nomes nossos, difere
profundamente da consagração coletiva e em globo –como
fato histórico- de uma guerra que, estamos certos, a
posteridade há de julgar severamente, voltando a uma
eterna reprovação as memórias daqueles que a promoveram,
ou que barbaramente a prolongaram, sejam brasileiros,
argentinos, uruguaios ou paraguaios.[18]


A devolução dos troféus e o perdão da dívida foram políticas defendidas
em forma intransigente pelos positivistas ortodoxos do Apostolado do Rio de
Janeiro.


A este propósito seja-nos lícito submeter novamente à
consideração dos poderes públicos a ideia de restituirmos
solenemente ao Paraguai os troféus que guardamos dessa
pugna fratricida, declarando por essa ocasião saldada a
dívida de guerra que lhe impusemos como consequência de
nossa vitória. Por este duplo ato significaria que a
República brasileira repudia as tradições nefastas da
política do Império, e ofereceríamos à nação vencida
inestimável penhor de fraternidade internacional.[19]


O projeto citado já era pensado por Benjamin Constant Botelho de
Magalhães (1836-91), engenheiro militar que participara da guerra do
Paraguai, tornando-se em seguida seguidor e divulgador do positivismo nas
escolas militares que lecionava e, finalmente, um dos próceres da
Independência. Ao que parece, no pós-guerra, políticas pacifistas de
Benjamin Constant, também ministro da jovem república brasileira, tornou-se
uma marca da sua personalidade.[20]


O projeto que acabamos de lembrar mereceu a aprovação
entusiástica de Benjamin Constant, cujo alevantado
espírito chegou a cogitar de sua realização, que
certamente se teria levado a efeito, se a morte não
houvesse roubado tão cedo o fundador da República aos seus
compatriotas.
E, terminando, enviamos a nossa irmã, a República do
Paraguai, uma saudação fraternal, com os votos sinceros
que fazemos pela sua completa prosperidade – na ordem e no
progresso, meta comum dos esforços e das aspirações
humanas.[21]


A revolta da armada e a guerra do Paraguai
Entre 1893-94, no Rio de Janeiro, ocorreu a Revolta Armada, movimento
liderado pelos almirantes Luís Filipe de Saldanha da Gama e Custódio José
de Melo que pleitearia mais prestígio para a Marinha e transparência
política do novo governo. O movimento foi acusado por seus adversários de
monarquista e golpista. Inicialmente, a alta oficialidade da marinha de
guerra teve influência na renúncia do presidente da república marechal
Deodoro da Fonseca, em 1891, e, a seguir, em 1893, a tiro de canhões, os
manifestantes exigiam novas eleições, conforme determinava a carta
constitucional. Porém, o governo do marechal Floriano Peixoto, de viés
jacobino, com forte influência de oficiais do exército de terra, resistiu e
as tropas governistas acabaram derrotando os marinheiros da armada.[22]
Pacifistas e - nesse episódio - de um republicanismo intransigente, os
positivistas ortodoxos tiveram posição clara a respeito da revolta da
armada. No artigo "A propósito da transladação dos restos dos Almirantes
Barroso e Saldanha", publicado no Jornal do Commercio de 15 e 18 de abril
de 1908, Miguel Lemos enfatiza a posição do Apostolado Positivista do Rio
de Janeiro quanto à guerra do Paraguai e, sobretudo, no que diz respeito à
revolta da armada. Não seria pertinente homenagear Francisco Manoel Barroso
da Silva (1804-82) e Luís Filipe de Saldanha da Gama (1846-95), responsável
por sucessos históricos negativos. Ambos os militares estavam enterrados no
Uruguai.
O almirante Francisco Manuel Barroso da Silva comandou a marinha
imperial na batalha do Riachuelo (11 de junho de 1865), na guerra de
Paraguai, sendo considerado um ícone militar do conflito por grande parte
das forças armadas, com destaque para a marinha de guerra, e pela
historiografia nacionalista. Falecido em 1882, ele foi sepultado no país
oriental quando residia em Montevidéu. Saldanha da Gama foi um dos líderes
da Revolta da Armada, tendo morte violenta em combate, em 1895, na
fronteira do Rio Grande do Sul com o Uruguai, pois a revolta da armada
também teve envolvimento com a Revolução Federalista (1893-5) no meridião
sulino.[23]


Anuncia-se que o governo da República está fazendo
partilhar das honras fúnebres tributadas oficialmente ao
almirante Barroso, a memória de um dos mais condenáveis
protagonistas da revolta de 6 de setembro de 1893. À vista
disto, julgamos do nosso dever recordar as seguintes
páginas, em que o fundador e diretor da Igreja e do
Apostolado Positivista do Brasil caracterizou a guerra do
Paraguai e a referida revolta.
Esses trechos bastam para explicar a significação das
homenagens prestadas ao almirante Barroso, desligando-as
de qualquer aberração militarista. Eles patenteiam
igualmente monstruosidade da assimilação que o atual
governo da República tenta estabelecer, e que só o
ceticismo político e moral das classes dominantes e a
indiferença cívica do público, em geral, tornam possível.


Teremos assim contribuído, quanto em nós cabe, para
reparar as funestíssimas reações desse atentado retrógado-
revolucionário, preparando ao mesmo tempo a regeneração
social, que impedirá, enfim, a reprodução de aberrações
análogas.[24]








A seguir, o documento cita integralmente a circular, que já fora
analisada no texto "A nossa irmã, a República do Paraguai", para depois
expor um "Extrato da circular anual de 1898", no qual se expressa: "A nossa
evolução foi, como sabeis, profundamente perturbada o ano passado pela
ignominiosa rebelião naval que rebentou neste porto a 6 de setembro [de
1893]e que se prolongou até meados de abril do corrente ano."
Condenava-se peremptoriamente o movimento liderado pelo almirante Melo
que inicialmente pregava o cumprimento da Constituição, exigindo novas
eleições, e que, segundo seus críticos e o Apostolado, teria evoluído para
restaurador da monarquia. Os Positivistas Ortodoxos eram monocráticos, ou
seja, críticos da democracia e das eleições universais, mesmo restritivas.


Tal movimento, de todo injustificável, foi unicamente
devido a criminosa e vulgar ambição do ex-almirante Melo,
que conseguiu agrupar em torno da sua tentativa grande
número de elementos dissolventes e díscolos da nossa
sociedade. Associando-se aos revoltosos do Rio Grande do
Sul, e aceitando a cooperação de todos os descontentes,
por mais desmoralizados e divergentes que fosse, não
hesitou em sujeitar sua pátria a uma das mais cruéis
provocações por que ela tem passado. Iniciada com o
hipócrita protesto de restabelecer o Império da
Constituição, não tardou, porém, semelhante revolta em
ameaçar diretamente a própria existência da república,
sobretudo depois que um outro almirante, já famoso pela
sua cerebrina neutralidade, aderiu abertamente ao
movimento, sem ocultar as suas tendências restauradoras.
No manifesto que este oficial, de ridícula memória, fez
então distribuir, e que as folhas do Rio [de Janeiro]
publicaram imediatamente[25], aludia ele ao Positivismo
como sendo um dos principais fatores das desgraças que sua
fatuidade se propunha remediar[26], traindo da maneira
mais vergonhosa a confiança imerecida com que o governo da
república o havia honrado.[27]


Miguel Lemos também criticava a atuação dos governos da França e outras
"grandes potências estrangeiras", ao mesmo tempo em que elogiava a atuação
dos governos dos Estados Unidos e da Alemanha no episódio.


Durante seis meses estiveram esta cidade e a de Niterói
expostas a bombardeios diários, que vitimaram não pequeno
número de pessoas imbéles (sic) –homens, mulheres e
crianças-, além dos enormes estragos materiais que
produziram. E ao passo que assim ficávamos a mercê desses
verdadeiros piratas, tínhamos ainda de suportar as
insolências e os agravos dos representantes das grandes
potências estrangeiras, inclusive a França, e com exceção
da Alemanha e dos Estados Unidos. Tal atitude, que talvez
exigiu dos poderes públicos maiores sacrifícios
patrióticos do que a resistência oposta a insurreição, só
foi modificada após as manifestações decisivas do governo
de Washington e do digno almirante americano que aqui se
achava, ante as quais aquelas potências abandonaram
qualquer veleidade de interferência nos assuntos
internos.[28];[29]


Criticou-se também, en passant, a atuação como estadista de Floriano
Peixoto, no momento em que foi elogiado por sua ação naqueles sucessos.


Esse triunfo foi em boa hora obtido, graças ao admirável
entusiasmo de nossa mocidade, à patriótica fidelidade da
força pública de terra, ao acrisolado civismo de um
punhado de oficiais da marinha e a firmeza inquebrantável
do chefe da nação, que assim resgatou seus erros e fez
esquecer suas grandes lacunas como estadista. Não posso
recordar sem funda emoção os momentos decisivos dessa luta
inolvidável, em que mais uma vez se viu confirmado o
princípio de que nas épocas de transição é sempre uma
minoria dedicada e esclarecida que consegue fazer
predominar as exigências do bem público sobre as
maquinações subversivas e egoístas, vencendo ao mesmo
tempo as resistências passivas opostas pela massa geral do
povo.[30]


As últimas cinco páginas do documento, da 11 a 16, seguem a condenar o
traslado dos restos mortais de Saldanha da Gama. O militarismo bélico
aliado à monarquia constituiu um ponto nevrálgico na crítica ortodoxa.


Glorificando a fratricida guerra
Em 1908, na circular "Ainda o militarismo e a política moderna: a
propósito das recentes glorificações oficiais da guerra do Paraguai",
escrita por Raimundo Teixeira Mendes e publicada no Jornal do Commercio de
16 de junho daquele ano, novamente volta-se a condenar as rememorações
cívicas –manifestações fratricidas– sobre a guerra do Paraguai. 


A vista da reprodução das festas oficiais comemorativas da
guerra do Paraguai, julgamos do nosso dever apelar, mais
uma vez, para o altruísmo e a razão das classes
dominantes, e especialmente do governo, lembrando-lhes
quanto são condenáveis essas manifestações
fratricidas.[31]


A guerra foi um verdadeiro crime, assinalou Raimundo Teixeira Mendes.
A guerra do Paraguai constitui o mais monstruoso atentado
contra a família, a pátria e a humanidade, perpetrado na
América do Sul, depois que as colônias ibéricas do
continente colombiano tornaram-se nações independentes. É
preciso remontar à horrenda destruição das ingênuas hordas
fetichica (sic) que povoavam tal continente e à execranda
escravidão da martirizada raça africana para encontrar
crimes que lhe comparem e excedam em crueldade.[32]


Em seguida, comentava-se a pioneira crítica condenatória à guerra feita
pelo autor na obra já referida sobre Benjamin Constant. Destaca-se no
trecho o grau de responsabilidade atribuído aos envolvidos.


No esboço biográfico de Benjamin Constant demonstramos,
citando exclusivamente os documentos oficiais do Império
brasileiro, que a responsabilidade deste atentado cabe:
primeiro, ao governo brasileiro; depois, ao governo
argentino; e, por último, aos governos paraguaio e
oriental. Ao mesmo tempo fizemos ver que tais governos
foram simultaneamente vítimas e algozes, porque só a fatal
dissolução do sacerdócio católico, desde o século XIV,
tornou possível semelhante catástrofe.
A história escreve-se com os documentos que o passado
vai deixando, e não há declamações nem festas que consigam
fazer emudecer essas testemunhas incorruptíveis. Lavrados
frequentemente como outros tantos padrões de glória, esse
documentos transformam-se no atestado irrecusável da
criminalidade dos que se proclamam heróis, ou são
endeusados pelos seus contemporâneos ou sucessores
imediatos.
Os povos que assim deixaram arrastar-se por um
patriotismo nefando e cego, e mesmo as nações que
consentiram que se consumasse tamanha desgraça, estão
sofrendo, e sofrerão por longo tempo, as suas terríveis
consequências.[33]


Preocupava a situação que o Paraguai vivia no início do século 20 e as
consequências advindas do conflito para as próprias nações vencedoras.
Apelava-se para o altruísmo entre os povos.


Qual seria hoje a situação do Paraguai, se o não tivessem
aniquilado o furor sacrílego das suas irmãs e o orgulho
desvairado do seu chefe?
E, com mais uma nação florescente, em vez de um povo
heroico que se debate, -em meio dos egoístas e cegos
manejos diplomáticos das suas irmãs,- para sair das ruínas
em que elas mesmas o lançaram, qual seria agora a situação
da América do Sul?
Sem essa luta, o militarismo não teria tomado o
desenvolvimento que tomou no Brasil, na Argentina e nas
demais nações ibero-americanas. Esse militarismo não
estaria atualmente perturbando o espírito republicano nas
mesmas nações. Sem essa luta, não teria crescido as
animosidades coloniais, ao ponto em que as vemos. Sem ela,
enfim, a independência política do Paraguai não oferecia
um pretexto ou motivo para as suspeitas mútuas das
tendências imperialistas do Brasil e da Argentina.
Compare a atual situação das relações entre as nações
sul-americanas com a situação que teria resultado de uma
política de sincera fraternidade.
Em lugar, portanto, de procurar a glorificação, cada
vez mais impossível, de um episódio que só deve inspirar
remorsos aos povos que nele tiveram a desgraça de figurar,
urge reparar lealmente tantas e tamanhas atrocidades. O
Brasil, a Argentina e o Uruguai, que se ligaram para
aniquilar, com sacrílego furor, o Paraguai, devem unir-se
agora para ajudar a reerguer-se a nobre irmã, que eles
mesmos vitimaram.[34]


Os governos do Brasil e da Argentina deveriam seguir o exemplo da
administração uruguaia e devolver os troféus e perdoar as dívidas
atribuídas à nação vencida. Deveria ser revistos os limites territoriais
definidos no pós-guerra em forma favorável aos vencedores argentinos e
brasileiros.


Nesse intuito, cumpre ao Brasil e a Argentina seguirem o
exemplo do Uruguai restituindo ao Paraguai os cruentos
troféus da luta fratricida, e cancelando a dívida que
tiranicamente impuseram a irmã cruelmente martirizada.
Semelhante conduta não é, como muitos pensam, um ato
facultativo de generosidade por parte dos vencedores. Não;
isso é um dever imprescindível de honestidade e de honra,
porque, perante a moral e a razão, tal dívida é nula, como
são nulos os tratados que, depois da guerra fratricida,
resolveram iniquamente as questões de limites que o Brasil
e a Argentina tinham com o Paraguai.[35]


Apelava-se aos preceitos positivistas de humanidade.
O direito de conquista desapareceu do Ocidente, graças a
supremacia da moral católica. E, através da revolução
moderna, as grandes almas, herdeiras reais do sacerdócio
medievo, não têm cessado de desenvolver essa moral,
tornada cada vez mais pura e mais insofismável, mediante a
substituição das ficções teológicas pelo sentimento e a
noção de humanidade, dominando as pátrias e as
famílias.[36]


A história demonstraria que os positivistas ortodoxos estariam certos.
A força bruta pode impor ainda, infelizmente, as suas
perversidade em um momento; mas a posteridade não tardará
a votar a uma maldição eterna os triunfadores de hoje, que
tentam suplantar com força bruta o altruísmo e a razão. As
multidões proletárias crescem a toda hora em torno dos
grandes ideais da fraternidade universal.
Não está, portanto, longe o dia em que os filhos dos
que se glorificaram em festas de sangue, lágrimas e ódio,
implorem aos filhos das vítimas o perdão para a memória
dos seus pais obcecados pelo egoísmo e a metafísica.
Poupemos aos vindouros essa dor tremenda, reparando desde
já, finalmente, os erros e faltas de nossos pais.[37]

A sacrílega dívida
Em 1913, as 57 páginas da circular "Paraguai-Argentina-Brasil: a
confraternização Brasílio-argentina, a independência da nossa cara irmã a
República do Paraguai, e o cancelamento da sacrílega dívida resultante,
para esta, da guerra fratricida entre ela e o Brasil, a Argentina e o
Uruguai", trouxe uma riqueza de assuntos que permeavam as preocupações dos
ortodoxos em torno das consequências da guerra do Paraguai às nações
diretamente envolvidas no conflito. A publicação reuniu um conjunto de
outras circulares contendo notícias veiculadas na imprensa, principalmente
no Jornal do Comercio do Rio de Janeiro, sob a temática em questão.
Nas primeiras páginas de "Paraguai-Argentina-Brasil: a confraternização
(…)", havia um pessimismo quanto ao fim da dívida de guerra do Paraguai em
relação aos governos do Brasil e da Argentina que, teimavam em não seguir o
exemplo da administração do Uruguai. Os orientais já haviam perdoado a
nação irmã no final do século 19. A permanência da monstruosa dívida seria
um crime comparável à escravidão africana no Brasil e ao massacre dos povos
nativos na América, assinalava-se.
Raimundo Teixeira Mendes demonstrava preocupação com a independência do
Paraguai, supostamente ameaçada pelos Estados da Argentina e do Brasil.
[...] a persistência de tal dívida indica o propósito de
manter um suposto obstáculo ou uma suposta garantia contra
qualquer tentativa de incorporação do Paraguai à república
Argentina.
E o mesmo dá-se, em relação ao Brasil, quanto à
manutenção da dívida do Paraguai à Argentina. Pois se
imagina que as vistas ambiciosas relativas à tal
incorporação ao Brasil serão contidas pela perspectiva da
aceitação da semelhante dívida.[38]


Tanto Brasil quanto a Argentina deveriam imediatamente perdoar a dívida
de guerra paraguaia, seguindo o exemplo uruguaio, reiterava-se. Qualquer
uma das duas nações deveria tomar a iniciativa. Apelava-se aos presidentes
do Brasil e da Argentina marechal Hermes da Fonseca (1855-1923) e Roque
Sáenz Peña (1851-1914) por uma política altruísta com relação à República
do Paraguai, extremamente prejudicada naquela ocasião.
A proposta pelo fim da dívida e a devolução dos troféus de guerra foi
levada ao congresso nacional brasileiro. Em setembro de 1912, Raimundo
Teixeira Mendes publicava "Paraguai-Argentina-Brasil: a propósito do
projeto ontem apresentado pelo cidadão Otávio Rocha (1877-1928, deputado
federal do Rio Grande do Sul, para restituição dos troféus paraguaios e o
cancelamento da dívida da nossa caríssima irmã a república do
Paraguai".[39] O maranhense parabenizava o político positivista do Rio
Grande do Sul pela honrosa iniciativa. O projeto convidava o governo
argentino para tomar as mesmas atitudes do brasileiro.
A circular também analisava o catecismo positivista "terceira parte-11ª
conferência".[40] Concomitante as ações políticas, o ensinamento da
doutrina positivista ganhava espaço nas publicações do Apostolado.
Inicialmente abordou-se com brevidade o papel da mulher e dos sacerdotes na
sociedade. Em seguida, a doutrina recomendava que a ordem final dos Estados
ocidentais fosse de pequenas pátrias com uma população de em torno de três
milhões de habitantes, na proporção de sessenta pessoas por km2. Também foi
discutido o sentimento nacionalista entre os povos ocidentais e sua
incongruência com a evolução humana, segundo a pregação. O catecismo
minuciava a população e o tamanho territorial das intendências francesas,
dos estados brasileiros e de alguns países, demonstrando a relevância
quanto a esse ponto no ordenamento positivista. Nascida no seio das
famílias, as pátrias pequenas, modernas, industriais seriam a evolução
natural da sociedade. As grandes nacionalidades eram mantidas mediante
violência contínua.[41]
Em "Nota acerca de uma tentativa para restituição dos troféus e
cancelamento da dívida paraguaia", relembrou-se os esforços da Igreja
Positivista em prol do cancelamento da dívida de guerra do Paraguai para
com o Brasil, na ocasião da visita oficial do presidente argentino, general
Alejo Julio Argentino Roca Paz (1843-1914), ao Brasil, em 1899. A comissão
Benjamin Constant estava atuante.
[A] comissão Benjamin Constant dirigiu uma vibrante
mensagem ao Congresso nacional solicitando a medida
reparadora.
Na Câmara dos deputados [...] [Alexandre José] Barbosa
Lima [1862 -1931] [...] apelando para os sentimentos
generosos dos seus colegas, recordou a atitude do próprio
general Roca meses antes, o qual, respondendo a mensagem
que o haviam dirigido os argentinos residentes no Paraguai
mostrou-se inteiramente favorável a ideia do cancelamento
achando, porém que ao Brasil cabia a iniciativa; recordou
também o episódio comovente da restituição solene feita
pela república do Uruguai ao Paraguai das bandeiras e
troféus tomados durante a guerra, e terminou apresentado o
seguinte projeto [...]. É declarada extinta a dívida de
guerra contraída pela república do Paraguai para com o
Brasil, pelo tratado de paz firmado em Assunção em 9 de
janeiro de 1872.


Novamente elogiava-se a iniciativa uruguaia, na medida em que
Argentina e Brasil desentendiam-se quanto a quem deveria dar o primeiro
passo para cancelar a dívida paraguaia. As duas nações tinham reservas
quanto a essa ação. Caso o Brasil perdoasse a dívida primeiro, o Paraguai
poderia entrar plenamente na órbita política do governo da Argentina. Desde
o fim da guerra, o comércio paraguaio, tanto de exportação quanto de
importação se desenhava "tributário de Buenos Aires", conforme assinalou o
deputado sul-rio-grandense Lindolfo Collor (1890-1942).[42] O Paraguai
poderia sofrer medidas que facilitassem a ingerência Argentina na sua
política interna, tornando uma espécie de protetorado que ameaçasse sua
soberania, por exemplo. Então os dois governos protelavam a suposta
espinhosa questão, só resolvida nos 1940, como veremos a seguir.


A reparação plena
Em 25 de setembro de 1912, Raimundo Teixeira Mendes publicou "A
confraternização brasílio-argentina, a independência da nossa irmã a
república do Paraguai, e o cancelamento da sacrílega dívida resultante,
para esta, da guerra fratricida entre ela e o Brasil, a Argentina e o
Uruguai."[43]


Figura 3: Raimundo Teixeira Mendes (1855-1927), vice-
diretor da Igreja Positivista do Brasil entre 1881-
1927

Fonte:

. Acesso em 10 de nov. de 2015


Com linguagem amena, Raimundo Teixeira Mendes expõe seu desacordo com o
dr. Vicente de Ouro Preto, assunto que será analisado a seguir. Antes de
entrar no mérito da questão, o autor contextualiza o ambiente de violência,
orgulho e vaidades que os povos estariam vivendo naquele momento da
história, necessitando elevar a moral e a razão, como dito. Todo povo
comete seus erros, mas deve-se buscar a reparação em nome da fraternidade
universal, assinalou. A guerra seria injustificável; desde a Idade Média
não deveria mais existir a guerra, pois ainda na Antiguidade era plausível,
mas agora, inconcebível, complementou.
Citando Augusto Comte, Teixeira Mendes afirmou que a "maior das
revoluções sociais [...], a abolição gradual da escravidão ocidental,
realizou-se na Idade Média sem uma única insurreição" (sic).[44] Certamente
o francês desconsiderou a América, a África e a era Moderna, na colocação;
mas registre-se a evolução conservadora pregada pelo positivismo comteano.
Deveria haver reparação de guerra proporcional aos recursos dos
beligerantes. Mesmo admitindo que uma guerra, em geral, fosse "inevitável
por parte do vencedor ocidental, não é lícito a este fazer conquistas, nem
lançar dívidas aos vencidos."[45] Era um dever cancelar a dívida, não era
um simples perdão, mas sim uma reparação em nome da fraternidade universal
da humanidade, atestava o autor.
Teorizando a doutrina comteana, Raimundo Teixeira Mendes classifica
dois tipos de erros e culpas: os impossíveis de serem diretamente sanados;
e os que a reparaç dos erros e culpa estão ao alcance dos povos. Como
exemplo do primeiro caso, citou-se o aniquilamento dos povos aborígenes da
América, onde todas as nações ocidentais seriam usurpadoras do continente.
Não teria como ressuscitar os milhões de nativos, e caso agora as nações
deixassem todo o território aos sobreviventes, todos sairiam perdendo,
assinalou. A única reparação possível ao alcance para aquele caso, ainda
que de forma indireta, fora registrada no tratado de limites assinado por
Argentina e Brasil, em 1884, onde ambos se comprometeram a proteger os
povos selvagens.[46]
Ao enaltecer os povos indígenas e africanos, Raimundo Teixeira Mendes
recordou a importância das três raças (sic) para a formação dos Estados
ocidentais. Assinalou que a constituição federal brasileira fora promulgada
com base na proposta do Apostolado, que defendia uma república ditatorial
federativa. O autor comentou outro erro impossível de ser regenerado
diretamente, como a devolução de cativos fugidos, acordados nos tratado de
1851 do Brasil com o Uruguai e o de 1857 (não ratificado), com a Argentina.

Com relação ao segundo caso, os erros possíveis de serem reparados
urgia a questão da restituição dos troféus e o cancelamento da dívida de
guerra do Paraguai. Uma reparação que deveria plena, direta e imediata,
sentenciava o sacerdote da Humanidade.
Raimundo Teixeira Mendes lembrou que na biografia Benjamin Constant:
esboço de uma apreciação sintética da vida e obra do fundador da República
Brazileira, de março de 1892, já registrara o projeto de restituição de
troféus que o discípulo, capitão e deputado José Bevilacqua (1863-1930)
sugeriu ao seu mestre-ministro, Benjamin Constant, mas que não obteve
prosseguimento parlamentar. O capitão José Bevilacqua casou-se com Alcida
Botelho de Magalhães, filha de Benjamin Constant, em 1891, meses após o
falecimento deste.[47] A história demonstraria que além dos troféus seria
extirpada a dívida de guerra, decretou o maranhense.[48]
O governo do Brasil deveria afirmar claramente que a guarda dos troféus
e a permanência das dívidas eram erros dos quais se arrependia, "imitando
assim os nossos antepassados quanto a abolição da escravidão africana" e
"em virtude dessa fraternal confissão" solicitar ao Paraguai "a aceitação
da restituição dos troféus e o cancelamento da dívida (não perdão)", só
assim procederiam de maneira honrosa e altruísta pela Humanidade, pela paz
entre as repúblicas irmãs.[49] As páginas seguintes são dedicadas a questão
de limites impostos no pós-guerra ao Paraguai de maneira arbitrária, que
também deveriam ser revistas.[50]
O Paraguai seria uma nação mais ibérica que Argentina e Brasil.
Portanto, deveria receber o mesmo tratamento diplomático que ocorreu entre
estes na celebração do tratado de limites de 1884.
A república do Paraguai seja [...] a mais americana
das nações ocidentais, a sua civilização deixou de ser, há
séculos, o fetichismo dos aborígenes da América, para
tornar-se, no fundo, tão ibérica como a argentina ou a
brasileira.
De sorte que a apreciação das suas relações internacionais
está sujeita as mesmas condições que a das demais nações
filiadas ao elemento ibérico.[51]


Teixeira Mendes bradava contra a imposição da política dos vencedores
da grande guerra do Prata, os gigantes Brasil e Argentina, contra o
Paraguai, em relação aos troféus, à dívida e aos limites territoriais, pois
aquela pequena república era simpática ao ordenamento positivista.
Relembrando algumas linhas de um folheto publicado em 1904 sobre a "questão
do Acre" – que deveria ser uma pátria à parte de Brasil e Bolívia -, o
autor reafirma que as pátrias pequenas seriam a evolução natural dos povos
ocidentais, pois Napoleão, Bismarck (sic), ou mesmo o Império Romano já
haviam fracassado ao tentar constituir grandes nacionalidades. Somente
assim a religião da Humanidade iria triunfar "a tempo de impedir as
irrupções proletárias."[52] Ou seja, criticava-se o passado monarquista e
escravista, pois temia-se o futuro comunista e proletário.
O caráter distintivo de um povo estaria na comunidade das tradições que
o compõem, na unidade da língua. A variedade e o parentesco dos dialetos no
Brasil, devido à imigração italiana, germânica, chinesa e japonesa,
demonstrariam o caminho para a unificação humana sob a presidência do
Ocidente, pregou Raimundo Teixeira Mendes.[53]
Finalizando o escrito de 24 de setembro de 1912, Raimundo Teixeira
Mendes determinou que a eficácia de um povo não se deveria ao grande
tamanho de seu território ou à quantidade de população. Os americanos
(brasileiros) não deveriam ter orgulho desses "grandes" números do seu
continente- país, nem da riqueza do seu solo, pois tudo foi usurpado dos
aborígenes. "O que nos cumpre é reparar os erros e culpas dos nossos
antepassados" em nome, mais uma vez, da fraternidade universal.[54] Conclui-
se urgindo para a questão da devolução dos troféus e cancelamento da dívida
de guerra do Paraguai por parte da Argentina e principalmente do
Brasil.[55]


Um general na guerra contra a guerra?
Em um post script do dia seguinte, de 25 de setembro de 1912, o vice-
diretor da Igreja Positivista Brasileira, Raimundo Teixeira Mendes, propõe
dedicar à memória do general Manuel Luís Osório (1808-1879) o projeto de
devolução dos troféus e cancelamento da dívida de guerra do Paraguai.
Citando o livro História do General Osório, de Fernando Luiz Osório, o
comandante da guerra do Paraguai teria dito que o seu maior desgosto era
ver sua pátria em luta, e ele estar em um campo de batalha, sendo que sua
maior felicidade ocorreria no dia em que os povos civilizados queimassem os
seus arsenais.[56]
A proposta de homenagem ao general Osório tinha ainda mais embasamento.
"Fiquei envergonhado [...] da grande quantidade de mortos do inimigo, no
campo de batalha de 24 de maio de 1866 (batalha de Tuiuti)."[57] Segundo
Teixeira Mendes, tal passagem dita por um comandante imperial na guerra do
Paraguai merecia ser esculpida em bronze. Destaque-se que o general é uma
personagem festejada da guerra do Paraguai pela historiografia nacional-
patriótica brasileira. Seria um comandante corajoso, esteve no front por
duas vezes, sempre fazendo "questão de retornar as batalhas".[58] A
proposta de Teixeira Mendes merece um estudo minucioso, no mínimo mais
divulgação devido à nova perspectiva lançada à carreira do militar sul-rio-
grandense, patriota insuspeito, desconhecida ou ignorada por boa parte da
patriótica historiografia brasileira. O pós-escrito foi encerrado retomando
que Brasil e Argentina deveriam desistir de cobrar a dívida paraguaia de
guerra, sendo que algum dos dois países tomasse a dianteira e seguisse o
nobre exemplo do Uruguai.[59]


Considerações à Ouro Preto
Em 13 de setembro de 1912, o empresário e jornalista carioca Vicente de
Toledo de Ouro Preto escreveu editorial em A Época, jornal que era um dos
proprietários. Lançado em 31 de julho de 1912 –em funcionamento até 1919–,
o periódico carioca era crítico ao governo do marechal Hermes da Fonseca e
também aos jornalistas apoiadores daquele governo.[60] O artigo de Ouro
Preto seria uma resposta à campanha do Apostolado sobre os troféus e a
dívida de guerra do Paraguai.
Ouro Preto propunha três pontos. Em primeiro, ele não seria contrário,
a princípio, ao perdão da dívida da guerra do Paraguai, apenas achava que
aquele momento seria inoportuno para o debate. O Brasil deveria optar pelo
esquecimento voluntário da dívida, assim se manter a independência do
Paraguai e este não seria humilhado. Em segundo, o ato de perdão da dívida
seria de incompleta reparação, pois se deveria devolver os territórios,
então argentinos, de Formosa e do Chaco a situação anterior à guerra. Por
fim, os troféus não deveriam ser restituídos


pois o que neles vê de glorioso não é a recordação do
sangue que vertem os paraguaios para defendê-los, mas o
heroísmo dos brasileiros que ofereceram a vida e
sofrimentos para conquistá-los, e assim pensam os próprios
paraguaios que acabam de erigir em festa nacional o
aniversário de Curupaity, elevando uma estátua ao general
Edwiges Díaz, o vencedor de Mitre.[61]


Vicente de Ouro Preto colocava-se à disposição para ajudar em uma
campanha para o perdão da dívida e pela devolução dos territórios
conquistados pela Argentina. Limitava-se, portanto, ao perdão da dívida,
segundo suas condições descritas.


Figura 4: Capa do Jornal A Época de 13 de setembro de 1912 (à esquerda,
o artigo mencionado)

Fonte: www.bndigital.bn.br Disponível em:
. Acesso em 6 de novembro de 2015

Raimundo Teixeira Mendes lamentava as colocações de Ouro Preto. Não se
tratava de perdão da dívida, mas de "arrependimento de uma culpa e de sua
fraternal reparação."[62] Quanto à independência do Paraguai, tratava-se de
um receio quanto à pretensões de conquista do Brasil e da Argentina. O vice-
diretor de Apostolado que se deveria voltar, sobre a questão de limites, à
situação anterior da guerra, para todos os envolvidos na guerra. Um novo
arbitramento. O maranhense indaga: "[…] porque querer terminar unicamente
as questões de dinheiro e manter aquelas que afetam ao patriotismo e estão
relacionadas ao sagrado solo nacional?"[63]
As camadas dominantes do Paraguai eram assemelhadas às do Brasil, de
herança ibérica que há tempos não eram mais de povos fetichistas
(primitivos). Portanto, devería-se abstrair os preconceitos nacionalistas
para se encarar os supremos interesses humanos, assinalou Raimundo Teixeira
Mendes. O autor fez uma ressalva quanto às comemorações da batalha de
Curupaity das camadas dirigentes paraguaias e os limites territoriais.


O próprio fato das atuais camadas dominantes do povo
paraguaio estarem comemorando a guerra fratricida de que
esse povo foi a principal vítima, -a exemplo, aliás, do
que fazem as camadas dominantes no Brasil e na Argentina-
constitui uma prova irrecusável de que a humanidade nada
lucraria em alterar-se o fato consumado, há perto de meio
século, para aumentar o domínio político de tais camadas.
A independência política do Paraguai não se liga,
aliás, a esse engrandecimento territorial, e nem ficaria
mais garantida por isso.






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Os positivistas ortodoxos eram contra a guerra, não defendiam uma
vitória paraguaia, que levaria ao 'imperialismo' paraguaio. As grandes
nacionalidades eram aberração histórica aos discípulos de Auguste Comte. A
ruptura política dos povos americanos com Portugal e Espanha seriam
exemplar nesse sentido, destacou Teixeira Mendes.[64] A bravura guerreia,
muitas vezes salientadas nas ocasiões rememorativas a guerras, era algo
desumano, típico de animais ferozes, que apenas em estágios mais atrasados
da humanidade foi inevitável como proferiu Augusto Comte quanto a batalha
de Lepanto (século 16), última glória do instinto guerreiro, ponderou
Raimundo Teixeira Mendes. Encerrando o conjunto de circulares, de 1913,
Teixeira Mendes assinalou que a rapidez da tramitação e votação da lei da
abolição da escravatura, em uma semana em maio de 1888, deveria exemplar em
relação ao perdão da dívida e restituição dos troféus de guerra paraguaios.

Com a desorganização do movimento ortodoxo, devido à Revolução de 1930
e ao golpe getulista de 1937, à exceção da referências ao dístico "Ordem e
progresso" na bandeira nacional, mais comumente, a cultura brasileira
registra apenas os aspectos vistos como exóticos e folclóricos do
positivismo - a luta contra a vacinação obrigatória, contra o alistamento
militar obrigatório, etc. Impôs-se um silêncio sobre a primeira e arguta
crítica revisionista, de Raimundo Teixeira Mendes, quanto ao grande
conflito do Prata.
Em 8 de maio de 1943, a dívida de guerra do Paraguai foi perdoada no
governo Vargas, que procurava melhorar as relações diplomáticas com as
nações vizinhas. A Argentina perdoou quase um ano antes, em 11 de agosto de
1942. Há mais de meio século que ela fora extinta pelo Uruguai, em
1883.[65] Em 1972, troféus de guerra conquistados no Paraguai, como
bandeiras e armamentos, entre eles a espada de Solano López, foram
devolvidos a sua pátria original, em um gesto de boa vontade entre as
ditaduras militares irmãs do Brasil e do Paraguai, em negociação para a
construção da usina hidrelétrica binacional de Itaipu. O canhão El
Cristiano (O Cristão) exposto no Museu Histórico Nacional, no Rio de
Janeiro, é requerido pel governo paraguaio. No entanto, a arma de 12
toneladas, que teria sido fabricada do metal dos sinos das igrejas de
Assunção e usada durante dois anos para conter o avanço das tropas
brasileiras sobre a capital paraguaia, permanece no Brasil e é objeto de um
imbróglio diplomático entre os dois países acirrado nos últimos anos.[66] A
guerra definitivamente ainda não acabou. 


Considerações finais
Centrado na figura de Raimundo Teixeira Mendes, o Apostolado
Positivista do Rio de Janeiro fez ardorosa campanha pela devolução de
troféus de guerra e pela extinção das dívidas de guerra do Paraguai. Ações
políticas no Congresso foram tomadas, embora naquele momento ainda
infrutíferas. A república paraguaia era bem vista pela doutrina das
pequenas pátrias da Augusto Comte, assim como a monarquia era etapa
atrasada na linha evolutiva do positivismo que previa a sociedade
industrial, republicana, ditatorial, como ápice. A escravidão moderna,
característica do Império, uma aberração.
Um grande mérito dos ortodoxos para a historiografia da guerra do
Paraguai foi opor-se ao nacionalismo xenofóbico com que o conflito e os
estudos sobre ele atuavam (?) no Brasil. Os positivistas ortodoxos foram
pioneiros ao criticar o Brasil (Império) na guerra. Em pleno século 21 há
uma leva crescente de trabalhos, sobretudo acadêmicos, que restauram um
patriotismo descabido à ciência histórica. Destaque-se a pretensa homenagem
ao pacifista general Osório sugerida astutamente por Teixeira Mendes.
Comemorações sobre a guerra do Paraguai atiçavam o gosto pela escrita
de Teixeira Mendes. É como se pudéssemos vê-lo inquieto nessas ocasiões.
Era um dever reatar plenamente os laços com a república irmã, o Paraguai,
para isso os ortodoxos acreditavam que a guerra do Paraguai deveria ser
revista, revisitada e corrigido seus rumos para a regeneração social.
Glorificar a guerra era um erro fatal, a reparação a todos aquelas más
políticas era uma necessidade. Há um século os positivista ortodoxos do Rio
de Janeiro levantaram questões hoje ainda tão atuais sobre a grande guerra
do Prata.


-----------------------
[1] As circulares da Igreja Positivista do Brasil foram consultadas em:

[2] Cf. PEZAT, Paulo R. Auguste Comte e os fetichistas: estudos sobre as
relações entre a Igreja Positivista do Brasil, o Partido Republicano Rio-
Grandense e a política indigenista da República Velha. Dissertação de
Mestrado em História – UFRGS, 1997. p. 77-102.
[3] Cf. MESQUITA, André C. Comte: Sociólogo e Positivista. São Paulo:
Escala, 2012.
[4] SÊGA, Rafael A. "Ordem e Progresso". Revista História Viva, n. 5, março
de 2004.
[5] LINS, Ivan. História do positivismo no Brasil. São Paulo: Companhia
editora nacional, 1967. p. 37
[6] PEZAT, Paulo R. Auguste Comte e os fetichistas: Ob. cit. pp. 79-98.
[7] Cf. TORRES, João Camilo de Oliveira. O positivismo no Brasil. 2. ed.
Petrópolis: Vozes, 1957. p. 98-130.
[8] Cf. SOARES, Álvaro T. Diplomacia do Império no rio da Prata [até 1865].
Rio de Janeiro: Brandt, 1955.
[9] Cf. entre outros: CERQUEIRA, Gal. Dionísio [Evangelista de Castro].
[1847-1910] Reminiscência da Campanha do Paraguai. [1865-1870]. Rio de
Janeiro: Biblioteca do Exército, 1980. [1ª ed. 1910.]; DUARTE, Paulo de
Queiroz. Os Voluntários da Pátria na Guerra do Paraguai. Rio de Janeiro:
Biblioteca do Exército, 1981. v.; FRAGOSO, Augusto Tasso.História da guerra
entre a Tríplice Aliança e o Paraguai [...]. Rio de Janeiro: Imprensa do
Estado-Maior do Exército, 1934. 5 vol.; SOARES, Álvaro Teixeira. O drama da
Tríplice Aliança: 1865-1876. Rio de Janeiro: Brand, 1956; SPALDING,
Walter. A invasão paraguaia no Brasil. São Paulo: CEN, 1940.
[10] Cf. MAESTRI, Mário. A guerra contra o Paraguai História e
Historiografia: da instauração a restauração historiográfica [1871-2002].
Revista Espaço Acadêmico. Maringá, I, 91, dezembro 2008; II, janeiro 2009.
Disponível em < http://www.espacoacademico.com.br/091/91maestri.htm>.
[11] Veja nota "9".
[12] Cf. LEMOS, Miguel. À nossa irman: a Republica do Paraguai. Apostolado
Pozitivista do Brasil, n. 148, Rio de Janeiro, Capela da Humanidade, 1894.
[13] MENDES, Raimundo T. Benjamim Constant: esboço de uma apreciação
sintética da vida e obra do fundador da República Brazileira. 1. Vol. Rio
de Janeiro: Sede Central da Igreja Pozitivista do Brasil, 1892.
[14] LEMOS, M. À nossa irman. […]. Ob.cit.. p. 3.
[15] Ibidem.
[16] Ibidem.
[17] Idem. p. 4.
[18] Idem. p. 4-5.
[19] Idem. p. 5-6.
[20] Cf. LEMOS, Renato. Cartas da Guerra: Benjamin Constant na Campanha do
Paraguai. Rio de Janeiro: IPHAN, Museu Casa Benjamin Constant, 1999.
[21] Idem. p. 6.
[22] Cf. MARTINS, Hélio Leôncio. A Revolta Da Armada. Rio de Janeiro:
Biblioteca do Exército Editora, 1997.
[23] Ibidem.
[24] LEMOS, Miguel. "A propósito da transladação dos restos dos Almirantes
Barroso e Saldanha". Apostolado Pozitivista do Brasil, n. 260, Rio de
Janeiro, Capela da Humanidade, 1908, p. 3-4.
[25] Os revoltosos e seus partidários, ante o péssimo efeito que produziu
este documento, procuraram fazer acreditar que ele fora alterado pelos
jornais governistas. Mas a cópia oficial achada no livro de ordens da
fortaleza de Villegaignon veio confirmar a autenticidade do texto
publicado. [nota do autor]
[26] Refiro-me a célebre frase da "contubérnia (sic) do sectarismo com o
militarismo e o jacobinismo", em que se repetia uma acusação por demais
cediça, e não menos absurda. [nota do autor]
[27] Idem. p. 7-8.
[28] Contra tão antipática e inconveniente atitude da maioria dos
representantes das potências europeias, o Clube Republicano Rio-grandense
publicou, a convite nosso, incisivo e bem lançado protesto, assinado pelo
seu presidente, o sr. Oscar da Cunha Correia. [nota do autor]
[29] Idem. p. 8.
[30] Idem. p. 9.
[31] MENDES, Raimundo T. "Ainda o militarismo e a política moderna: a
propósito das recentes glorificações oficiais da guerra do Paraguai".
Apostolado Pozitivista do Brasil, n. 261, Rio de Janeiro, Capela da
Humanidade, 1908. p. 1.
[32] Ibidem.
[33] Idem, p. 1-2.
[34] Idem. p. 2-3.
[35] Idem. p. 3.
[36] Ibidem.
[37] Idem. p. 3-4.
[38] MENDES, Raimundo T. "Paraguai-Argentina-Brasil a confraternização
Brasílio-argentina, a independência da nossa cara irmã a República do
Paraguai, e o cancelamento da sacrílega dívida resultante, para esta, da
guerra fratricida entre ela e o Brasil, a Argentina e o Uruguai".
Apostolado Pozitivista do Brasil, n338, Rio de Janeiro, Capela da
Humanidade, 1913. p. 9.
[39] Idem, p. 13-16.
[40] Idem, p. 17-22.
[41] Idem.

[42] COLLOR, Lindolfo. No centenário de Solano López. São Paulo:
Melhoramentos, 1927, p. 11.
[43] MENDES, Raimundo T. "A confraternização brasílio-argentina, a
independência da nossa irmã a república do Paraguai, e o cancelamento da
sacrílega dívida resultante, para esta, da guerra fratricida para esta, da
guerra fratricida entre ela e o Brasil, a Argentina e o Uruguai".
Apostolado Pozitivista do Brasil, Rio de Janeiro, Capela da Humanidade,
1912, p. 1-32.
[44] Idem, p. 4-5.
[45] Idem, p. 5.
[46] Idem, p.6-7.
[47] Cf. . Acesso em 30 de out. de 2015.
[48] MENDES, Raimundo T. "A confraternização brasílio-argentina, (...). Ob.
cit. p. 10.
[49] Idem, p. 11.
[50] Idem, p. 11-13.
[51] Idem, p. 13-14.
[52] Idem, p. 14.
[53] Idem, p. 16.
[54] Idem, p. 17.
[55] Ibidem.
[56] Idem, p. 17-18.
[57] Idem, p. 18.
[58] DORATIOTO, Francisco. "Eterno General". Revista de História da
Biblioteca Nacional. Jan. 2011. Disponível em:
. Acesso
em 3 de nov. de 2015.
[59] MENDES, Raimundo T. "A confraternização brasílio-argentina, (...). Ob.
cit. p. 20.
[60] Cf. BRASIL, Bruno. "A Época (Rio de Janeiro)". Disponível em:
. Acesso em 5 de nov. de 2015.
[61] MENDES, Raimundo T. "A confraternização brasílio-argentina, (...). Ob.
cit., p. 22.
[62] MENDES, Raimundo T. "A confraternização brasílio-argentina, (...). Ob.
cit. p. 22.
[63] Idem, p. 23-24.
[64] Idem, p. 26.
[65] Cf. YEGROS, Ricardo S.; BREZZO, Liliana M. História das Relações
Internacionais do Paraguai. Brasília: Funag, 2013, p. 97-102. [Título
original: Historia de las Relaciones Internacionales del Paraguay (2010)]
Disponível em: . Acesso em 9 de nov.
de 2015.

[66] Cf. . Acesso
em 10 de nov. de 2015.
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