A Sintaxe de interrogativas e a operação Mover F em LF:observando a língua Ticuna

May 24, 2017 | Autor: R. Braga | Categoria: Syntax-Semantics Interface, Generative grammar, Theorectical linguistics
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A Sintaxe de interrogativas e a operação Mover F em LF:observando a língua Ticuna Rafael Saint-Clair Braga (MN/UFRJ)

(1) Os Ticunas - Magüta  Ticuna, Magüta - aqueles que foram pescados Língua geneticamente isolada (não possui vinculo com nenhuma família e tronco linguístico) Grupo indígena que habita 3 países: Brasil: 35 mil(2008), Peru: 4.200 (1988), Colômbia: 4535 (1988), distribuído em 118 aldeias em 15 unidades territoriais. 

Língua tonal - materialização de 6 níveis fonéticos.



Tipologia de Ordem Vocabular: SOV, SVO (clíticos), OVS



Sistema ACUS como único Caso estrutural;



TP como operador



Aspectos Sintáticos (Aberta e Encoberta)

XP 3 TPOP XP 3 ZP X’ 3 X’ YP

1

(2) Morfemas formadores de palavras interrogativas

Te’e (‘quem’) Ta’cü (‘o que’, ‘coisa’) Ta’cü-ca [que-por] (‘por que’) Ta’cü-wa [que-para] (‘para que’) Fig.1. Raiz /t-/ de palavra interrogativa

Palavras/sintagmas t1

(3) Tipos de estruturas interrogativas (i) Contextos em que há redobro de clítico acusativo (‘nü-’ü̃’) - ordem SVO [[CPTa’cük [C’ [IP [I’ i nü-’ü̃j [vP [vP [nP [n’’ü̃ [v’ qui-u [VPi Cuma [V’ [DPtj [NPtk]] ? (1) a. Ta’cü i nü-’ü̃ qui-u-’ü̃ i cuma ? Que

x 3P-‘DAT’ 2P-contar-NMLZR x 2P

OS

‘O que você está (o) dizendo?’

(ii) Contextos em que há a linearização da ordem OV, gerando-se palavras t- in-situ e manifestando-se caso morfológico

CS

(1)[CP b. Peduru te’e-’ü̃ [ na-dau? [C’ [IP Peduru[ I vP te’e-’ü̃ [v’na-dau] Pedro

que-DAT 3P-ver

+ animado

‘Pedro viu quem?’ + humano

Move F

+ Fwh

LF

(4) Expressão da quantificação em Ticuna ♦ De acordo com Vieira (1995), um quantificador pode projetar determinantes, ou advérbios.

(4) Expressão da quantificação em Asuriní e Ticuna

2

(4) Expressão da quantificação em Asuriní e Ticuna Asuriní (Tupi-Guaraní)

(2)

Há alguma evidência a partir dos textos analisados de que este quantificador pode ser não seletivo. A partir de uma posição pós-verbal, ‘aoseoho’ pode quantificar tanto o paciente, o agente, ou o próprio verbo VIEIRA (1995:710)

3

(4) Expressão da quantificação em Asuriní e Ticuna Asuriní (Tupi-Guaraní)

♦Vieira (1995) conclui que o Assuriní exibe propriedades de UB com relação aos quantificadores.

(4) Expressão da quantificação em Asuriní e Ticuna Ticuna (Isolada) (3)

♦ A interpretação 4 (a,b) é ‘cada aluno beija uma professora qualquer’ e não a de que ‘cada aluno beije cada professora presente. (4)

♦ A interpretação de (5) é ‘para cada aluno presente, há uma professora que este irá beijar’.

(4) Expressão da quantificação em Asuriní e Ticuna Ticuna (Isolada)

Os dados mostram que a extensão de opções interpretativas não é ilimitada em Ticuna. Dadas como sentenças sinônimas, (a) e (b) apresentam um quantificador que tem no seu escopo apenas o D/NP que a ele se encontra ligado por uma das partículas que assinalam estruturas em adjunção. Facó Soares (2005:164)

(4) Expressão da quantificação em Asuriní e Ticuna Ticuna (Isolada)

Segundo Veira (1995:701), quando quantificadores se comportam como D/NPs, deve-se ao fato de “(…)D-quantification … is associated with determiner like elements whose scope is restricted to NPs in specific positions, (…)” , o que se revela um fato verdadeiro em Ticuna.

(4) Expressão da quantificação em Asuriní e Ticuna Ticuna (Isolada) (5)

♦A sentença em (5a) não exibe a mesma ambiguidade que os quantificadores do inglês (5b), não ocorrendo QR em LF.

(4) Expressão da quantificação em Asuriní e Ticuna Ticuna (Isolada) Como existe uma restrição formal sobre o que pode estar no escopo de um quantificador a partir dapresença das partículas que mencionamos, a sentença em Ticuna vista em (a) - e traduzida como ‘Cada um beijou alguém’ - não exibiria a mesma ambiguidade da sentença em inglês mostrada em (b). Facó Soares (2005:165) ♦ Conclusão: O Ticuna exibe as mesmas propriedades de escopo rígido de línguas de sintaxe encoberta como o chinês mandarim e japonês.

(5) Questões t-múltiplas e scrambling

(5) Questões t-múltiplas e scrambling ♦ Linguas de absorção em CP e em IP: Segundo Richards (2001), línguas de absorção em IP estão mais sujeitas ao scrambling local do que línguas de absorção em CP. Estas, geralmente, são obedientes ao Princípio de Superioridade.

Richards (2001:13)

(5) Questões t-múltiplas e scrambling

(6) movimento de interrogativas em LF (Huang 1982:254) Uma visão tipológica inerente a esta maneira de considerar as perguntas, como as do chinês, é que as famílias linguísticas não diferem com respeito a haver uma regra de movimento wh- ou não; ou melhor, assume-se que todas as línguas incorporem tal regra como substancialmente universal, diferenciando-se, porém, quanto ao local de sua aplicação, se na sintaxe ou em LF. A consequência desta concepção de tipologia linguística é que permite uma declaração simples do fato de todas as línguas possuírem a mesma interpretação de perguntas, apesar de cada uma delas possuir uma sintaxe diferente para cada uma dessas sentenças.

(6) As palavras t-in-situ e a operação Mover F ♦O movimento de interrogativas em LF encontrou sua motivação na tese da Gramática Universal (UG) de que todas as líguas são iguais (cf.Huang 1982:254). ♦Para dar conta do movimento de interrogativas em LF, Chomsky (1993,1995) alia a proposta de Mover F aos princípios do último Recurso (Last Resort) e Avareza (Greed).

Como se dá a operação Mover F?

(6) As palavras t-in-situ e a operação Mover F

(6) As palavras t-in-situ e a operação Mover F (9) Peduru te’e-’ü̃ Pedro

na-dau?

quem- ‘DAT’ 3P-ver

‘Pedro viu quem?’

(11) Wüitchigü ya yatü

Facó Soares (2000:151,173)



tacü-’ü̃

na-dau?

Cada um x homem TOP quem- ‘DAT’ 3P-ver (No que diz respeito a cada homem, o que ele viu?) ‘O que cada homem viu?’ Facó Soares (2000:151,173)

(6.1) A proposta de Ginsburg (2009) “Interrogative Features” ♦ Segundo Ginsburg (2009) há diferentes tipos de traços envolvidos em uma construção wh-. Sua tese faz distinção entre movimento de constituinte, movimento de traço (Move F) e checagem de traço.

(12) (a) [+Qu, +Wh] = wh-question (b) [+Qu, -Wh] = yes/no question (c) [-Qu,-Wh] = statement (d) [-Qu,+Wh]= exclamatory statement (e.g., How good he is!) Traços propostos por Katz & Postal (1964), Aoun & Li (1993)

(6.1) A proposta de Ginsburg (2009) “Interrogative Features” ♦ Proposta de TypP (Type Phrase), sendo o núcleo desta projeção uma sonda. Abrigando os traços [+FWh, +FQu] o constituinte poderá mover-se plenamente (sintaxe aberta), ou apenas seus traços (sintaxe encoberta); ♦ Ginsburg utiliza a projeção TypP como substituta da projeção IntP de Rizzi (2001). O autor justica essa substituição ao argumental: I use TypP, since I believe that this projection is where clausal typing elements, and not just interrogative complementizers, occur. Rizzi argues that ForceP, not IntP, is where clausal typing occurs. My view differs in that I see a Force head as containing an element that indicates that a clause is embedded (and possibly also matrix), whereas a Typ head contains an element that indicates whether a clause is a statement, interrogative, etc. Ginsburg (2009:38)

(6.1) A proposta de Ginsburg (2009) “Interrogative Features”

(6.1) A proposta de Ginsburg (2009)

(11) Wüitchigü ya yatü Cada um

x



tacü-’ü̃

na-dau?

homem TOP quem- ‘DAT’ 3P-ver

(No que diz respeito a cada homem, o que ele viu?) ‘O que cada homem viu?’ Facó Soares (2010)

(6.1) A proposta de Ginsburg (2009)

(7) Conclusões O fato de as palavras t- moverem-se em LF fortalece a tese da gramática universal (UG), de que no nível LF todas as línguas são iguais, apesar do parâmetro aberto/encoberto (cf. HUANG, 1982). Segundo Huang (1982), as interrogativas de conteúdo possuem subjacentemente (em LF) a mesma semâtica de interrogativas em sintaxe aberta, devido à aplicação das mesmas regras (Mover α) que operaram em sintaxe estrita. Assim, temos o Ticuna como uma lígua que se comporta encobertamente da mesma forma que o japonês e o chinês mandarim. Ao aplicar a proposta de Richards (2001) e Vieira (1995) em Braga (2010), houve a possibilidade de examinar variadas construções em Ticuna. Exemplo: palavras t- múltiplas e escopo de quantificadores. Com relação à expressão da quantifição, pode-se concluir que o Ticuna exibe escopo bastante estreito, assim como o chinês, que apresenta propriedades de escopo muito rídas.

(7) Conclusões  Tendo agregado a operação Mover Traço de Chomsky (1995) à hipótese inaugural de Huang (1982) para o movimento de interrogativas in-situ, conclui-se que a operação mover traço dar-se-á da mesma maneira em Ticuna; a matriz de traços do núcleo C0 é universalmente forte, o que irá fazer com que apenas os traços abstratos das palavras t- movam-se para posição de escopo em [Spec,CP]. Tal operação torna as línguas de interrogativas in-situ homogêneas com relação à interpretação de perguntas, tal como facultado pela Gramática Universal.  Adotando proposta de Ginsburg (2009) é possível dar conta da complexidade da estrutura da sentença em Ticuna, cuja periferia esquerda apresenta rica estrutura de tópico (muitas vezes duplo, ensanduichando um foco), mas mantendo palavras tin-situ, sendo estas movidas para o especificador de TypP. A sonda desta projeção, segundo o próprio Ginsburg (idem), possui traços [FQu], [FWh] e [EPP] que irão atrair apenas os traços abstratos do constituinte na sintaxe encoberta.

(8) Referências bibliográficas: AOUN, Joseph, & Yen-hui Audrey LI. 1993. Wh-elements in situ: Syntax or LF. Linguistic Inquiry 24.199– 238. BRAGA, Rafael Saint-Clair. As interrogativas em Ticuna: propondo o movimento encoberto. 2010. 164 f. Dissertação de Mestrado – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. CHOMSKY, Noam. Derivation by Phase. In: KENSTOWICZ, M. (ed.), Ken Hale: A Life in Language, Cambridge, MA: MIT Press, 2001, p.1-52. ______. Minimalist Inquiries: The framework. In: MARTIN, R.; URIAGEREKA, Juan (eds.). Step by Step: Essays on Minimalist Syntax in Honor of Howard Lasnik, Cambridge, MA.: MIT Press, 2000, p. 89-155. ______. The Minimalist Program, Cambridge, MIT Press, 1995, 420 p. DENHAM, Kristin. 2000. Optional wh -movement in Babine-Witsuwit’en. Natural Language and Linguistic Theory 18.199–251. FACÓ SOARES, Marília & BRAGA, Rafael Saint-Clair. Os operadores interrogativos em Ticuna: para uma proposta de movimento encoberto. Trabalho apresentado no VI Congresso Internacional da ABRALIN, João Pessoa, Universidade Federal da Paraíba, 2009. FACÓ SOARES, Marília. O supra-segmental em Tikuna e a Teoria Fonológica. Volume I: Investigação de Aspectos da Sintaxe Tikuna. 1. ed. CAMPINAS:UNICAMP, 2000. 185 p.

(8) Referências bibliográficas: _____. Núcleo e coda em Tikuna. In: WETZELS, Leo (org.). Estudos fonológicos das línguas indígenas brasileiras. UFRJ Editora, Rio de Janeiro, 1995, p.195-263. GINSBURG, Jason. Interrogative Features. 2009. 371f. Ph.D., University of Arizona, Arizona. HUANG, James C.–T. Logical Relations in Chinese and the Theory of Grammar. Garland Publishing, Inc. New York, 1998, 456 p. KATZ, Jerrold, & Paul POSTAL. 1964. An integrated theory of linguistic descriptions. Cambridge, MA: MIT Press. ______. Logical Relations in Chinese and the Theory of Grammar. 1982. 598 f. Ph.D., Cambridge, MIT. MAIA, Marcus; FRANCHETTO, Bruna; LEITE, Yonne; SOARES, Marília Facó; VIEIRA, Marcia Damaso. A estrutura da oração em línguas indígenas brasileiras. D.E.L.T.A., vol.15, n.1, jul. 1999. ______. Comparação de aspectos da gram疸ica em línguas indígenas brasileiras. D.E.L.T.A., vol.14, n.2, fev. 1998. MAGÜTA, Conselho Geral da Tribo Ticuna (CGTT). Atlas das terras Ticunas. Rio de Janeiro: Museu Nacional/MCT/PPG7, 1998.

(8) Referências bibliográficas: POLETTO, Cecilia; POLLOCK, Jean-Yves. On wh-clitics and Wh-doubling in French and Some North Eastern Italian Dialects. Probus - International Journal of Latin and Romance Linguistics, Vol. 16, n. 2, Walter de Gruyter. October, 2004. RICHARDS, Norvin. Movement in languages: interactions and architectures. Oxford University Press (OUP), Oxford, 2001, 326 p. RIZZI, Luigi. 2001. On the position “Interrogative” in the left periphery of the clause. In: Current studies in Italian syntax: Essays offered to Lorenzo Renzi , ed. By Guglielmo Cinque & Giampaolo Salvi, 287-296. Amsterdam: Elsevier. SPORTICHE, Dominique. 1988. A theory of floating quantifiers and its corollaries for constituent structure. Linguistic Inquiry 19, p. 425-449. STOWELL, Timothy Angus. Origins of Phrase Structure. 1981. 496f. PhD. Dissertation, Cambridge, MIT.

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