A Sociedade Espartana (História da Grécia Antiga)

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LICENCIATURA EM HISTÓRIA 1º ANO – 2015/2016

A SOCIEDADE ESPARTANA HISTÓRIA DA GRÉCIA ANTIGA

Docente

Professora Doutoura Leonor Santa Bárbara

Discente

Raquel Lavrador Novais

Lisboa, 8 Novembro 2015

ÍNDICE

A. Introdução .......................................................................................................p. 3

B. A Sociedade Espartana ........................................................................... pp. 4-19 B.1 Contextualização ..............................................................................p.4 B.2 Condições Políticas e Sociais ................................................... pp.5-10 B.2.1 Licurgo e a Supremacia de Esparta ........................... pp.5-10

B.3 O Estilo de Vida Espartano ................................................... pp.10 -21 B.3.1 A Pólis Espartana - “Máquina de Combate” ........... pp.9-15 B.3.2 Espartanos /Cidadãos – Homoioi.............................. pp.9-16 B.3.3 Escravos – Hilotas .........................................................p.117 B.3.4 Os periekos ................................................................ p.18-19 B.3.4 A Liberdade das Mulheres Espartanas .................... pp.17-19 B.3.5 A violação e Adultério...................................................pp.19 B.3.6 A Religião ............................................................. pp.20-121

C. Bibliografia .....................................................................................................p.20

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A. INTRODUÇÃO

No âmbito da cadeira de História da Grécia Antiga, lecionada pela Professora Doutora Leonor Santa Bárbara, e segundo a sua proposta, desenvolvi este trabalho relativo à Sociedade Espartana.

São abordadas questões relacionadas com a mentalidade espartana, tal como as suas origens e questões políticas, económicas, culturais e sociais tendo por base tanto os conhecimentos adquiridos em aula como a análise de obras da época que apesar de escassas nos dão algumas “luzes” sobre esta época. Para tal recorre-se á literatura, tratados políticos e à poesia Helénica. Recorre-se à Hélade – Antologia da Cultura Grega da autoria de Maria Helena da Rocha Pereira, que compila os textos /testemunhos, devidamente traduzidos, de Tirteu entre outros, permitindo conhecer “os nomes fundadores da cultura ocidental, da Ilíada e Odisseia a Plutarco e Díofano, passando (...) por Hesíodo, Heraclito, Ésquilo, Sófocles e Eurípedes.” 1A partir desta obra é possível analisar, através de Tirteu - poeta lírico grego do século VII a.C - uma das principais caraterísticas que se salienta na sociedade, o treino militar. Para além da obra acima citada e descrita explorou-se a biografia de Licurgo na obra Vidas Paralelas de Plutarco.As referências a estas obras são todas traduções pessoais da obra original que se encontra em Inglês e Grego. Aqui distiguem-se algumas das maiores figuras da Grécia e Roma Antiga e outras caraterísticas não aprofundadas pela Hélade. Este personagem pode ser também aprofundado na obra de Heródoto. O trabalho é dividido segundo a análise das particularidades da sociedade espartana através da divisão dos textos, em excertos, da Hélade e das Vidas Paralelas. Assim sendo, e para melhor organização, não está aparelhado pelas obras mas sim pelo seu conteúdo, não obstante da sua relevância para o trabalho. Em suma, pretende-se compreender as particularidades desta sociedade que se fechou sobre si própria e que desenvolveu caraterísticas completamente distintas das restantes áreas da Grécia, sendo delas alvo de contínuos juízos de valor devido às suas práticas intrigantes. 1

Hélade - Antologia da Cultura Grega in Livraria Almedina [em linha]. Coimbra. [consultado 18 Out.2015] Disponível em http://www.almedina.net/catalog/product_info.php?products_id=13711

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B. A SOCIEDADE ESPARTANA

Contextualização Contextualizando, espacialmente e temporalmente, Esparta, ou Lacedemónia, encontra-se numa região fértil e montanhosa da Grécia, a Lacónia, situada no interior mas perto do litoral do Mar Egeu , no sudoeste da Península do Peloponeso. Em 950 a.C (época micénica), esta região, habitada pelos Aqueus, foi invadida pelos Dórios, vindos da Grécia Central, que derrotaram os habitantes originais da Lacónia e transformaram Esparta numa entidade política “irreverente”. Mais tarde, por volta de 650 a.C, e com a intervenção dos “Lacedemónios” – Dórios que invadiram a região - esta cidade tornou-se no poder terrestre militar dominante na Grécia Antiga. 2 A sua localização geográfica permitiu que esta sociedade se isolasse, uma vez que as caraterísticas de relevo não facilitavam nem as condições de

acesso, nem a

comunicação. Ao invés de ser pejorativo, o seu isolamento permitiu o desenvolvimento do seu poderio través de uma localização facilmente defensável. O mar, apesar de navegável, transportava consigo ventos e correntes traiçoeiras. Assim sendo, tornava impossível a atividade de navegação, tanto da sua parte como da dos inimigos. Uma vez que não podiam reunir forças pelo mar centram-nas na terra, criando uma sociedade militar temida por toda a Grécia Antiga. Se durante o século VIII este era um local com dinamismo cultural (música, poesia, arte etc.) rapidamente se fechou sobre si no século VI, devido a Licurgo que formulou uma mentalidade muito específica e “conservadora” apoiada em diretivas, também elas com as suas particularidades, nomeadamente a rigidez.

Eram uma

comunidade fechada muito desconfiada dos estrangeiros no então não possuíam qualquer tipo de muralhas na convicção de que Espata nunca seria atacada. Reina um espírito de xenofobia uma vez que mesmo considerando-se “iguais entre si” achavam-se “superiores a qualquer outra pessoa. Foi sempre uma área territorial com pouco dinamismo urbano, sem qualquer tipo de edifícios sumptuosos ao contrário de Atenas. Tucídites considerava esta tendência um sinal de arcaísmo Espartano uma vez que se tratavam apenas de aglomerados de pequenas aldeias.

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Esparta in Colégio Web (2007-2015) [em linha]. [ consultado 18 Out. 2015 ] Disponível em http://www.colegioweb.com.br/grecia/esparta.html#ixzz3oM4avbGy

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Condições Sociais e Políticas

Os povos Dórios submeteram as restantes regiões (Pitane, Limnai, Mesoa e Kynosura)

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para que se unissem num único território, Esparta, a fim de eliminar,

através de estratégias políticas, as ameaças internas, criando com estas “alianças”. Foi também através desta tática que se formou, posteriormente, a Liga do Peloponeso. Impuseram-lhes o seu poder, tornando-se o estado grego que menos cidadãos tinha em comparação com o número de escravos. No Entanto acabaram, mais tarde, por cooperarem uns com os outros – “união de casa de famílias” (sinecismo) - iniciando-se um processo de unificação política. No entanto, já aqui se percebesse a relação de dependência que os espartanos tinham para com os seus escravos (temática desenvolvida mais à frente). Surge, de entre as várias figuras políticas que se destacaram em Esparta, Licurgo - lendário legislador desta pólis - que permitiu que esta viesse a ser a comunidade mais poderosa da Lacónia e do “mundo grego” a nível militar. Tudo devido ás suas reformas dos fins do século VII e inícios do século VI a.C . A partir da análise da obra “Vidas Paralelas”, Plutarco apresenta-nos a biografia desta personalidade expondo as particularidades da sua ação legisladora. Segundo Plutarco, Licurgo teve como influências normas e valores de Creta, da Ásia e do Egito, que adaptou e pôs em prática quando voltou a Lacónia. “(...) foi primeiro a Creta. Aí estudou várias formas de governo (...). adotou algumas das suas leis e levou-as consigo para casa e pô-las em uso (...)”4 “De Creta, Licurgo foi para a Ásia, com o desejo de comparar com a civilização de Creta, que era simples e severa com os Ionians, que eram extravagantes e luxuosos, tal como um físico compara corpos saudáveis com os doentes, para que conseguisse estudar os moldes de vida e as formas de governo. (...) [Tomou contacto] com os poemas de Homero(...) e viu a política e a disciplina que estes continham.“ 5 “Os egípcios pensam que Licurgo também os visitou, e que admirou ardentemente a separação que estes faziam dos militares com as outras classes da 3

RACHET, Guy (1999). Civilização Grega. In Manuel de Waresquel (Ed.) , Dicionário Temático Larousse (pp-95-96). Rio de Mouro: Círculo de Leitores. 4

PLUTARCH & PERRIN, Bernardotte (s.d). Lycurgus. In Bernadotte Perrin. Plutarch’s Lives (B. Perrin trad.). (vol.1, pp.205-303). London: T.E Pages, Lillt.D.D and W.H.D. Rouse, Lillt.D. p.213 5 Idem p. 215 [TraduçãoPessoal]

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sociedade e que transferiu para Esparta ao remover artesãos e artistas da participação no governo, tornando a política civil refinada e pura.”6

No regresso Licurgo pôs as suas conceções políticas em prática – rhetra -, anuindo que estas lhes tinham sido transmitidas por Apolo através do Oráculo de Delfos para dirigir o seu povo. Assim obteve a autoridade necessária para desenvolver o seu projeto. “De tão ansioso que estava de estabelecer a sua forma de governo, foi obter um oráculo/previsão do Oráculo de Delphi, a que todos chamavam “rhetra” que lhe deu a indicação da forma de constituição do seu governo”7

Estas leis eram vistas como o guia de comportamento mais adequado às diversas situações. Tudo era do Estado, fossem terras, bens ou pessoas. Por escolha de Licurgo estas não foram escritas, numa atitude de precaução. “Nenhuma destas leis foram postas por escrito por Licurgo, uma vez que as “rhetras” proibiam-no. Ele pensava que os mais importantes, obrigatórios

e vinculativos

princípios que conduziam à prosperidade e virtude de uma cidade tinham sido instituídos nos hábitos e treinos dos habitantes, e que aí se iam manter inalterados e seguros, tendo uma ligação mais forte do que a necessidade de fixar estes propósitos que tinham sido transmitidos para as gerações mais novas (...)”8

Werner Jaeger tem uma posição bastante forte relativamente á compilação destas leis: “Não é uma compilação de leis particularizadas, civis e públicas, mas sim o nomos, no sentido original da palavra: uma tradição oral válida, da qual apenas algumas leis fundamentais e solenes (...)” 9

Assim sendo, tornou-se necessário criar uma estrutura política que correspondesse à ideologia das “rhetras” e que ficasse a salvo de lutas sociais entre as diversas classes da sociedade espartana. Esta estava tripartida em espartanos – Eupátridas - ou cidadãos – Homoioi, os “Pares”, os “Iguais”, cada um vale, mesmo que apenas em teoria, o mesmo que o outro - os Homens que não sendo cidadãos, também não eram escravos e que viviam na periferia da cidade em comunidades livres 6

Idem, pp. 215 – 217 Idem, p.221 8 Idem, p.241 9 Werner Jaeger in Rodrigo Freitas Palma (s.d). O Direito Espartano. [consultado em [05 Novembro 2015] Disponível em http://www.unieuro.edu.br/sitenovo/revistas/downloads/consilium_02_03.pdf 7

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submetidas a Esparta – periekos - e os escravos – hilotas, “os captivos”.

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Não havia

mobilidade social e este sistema em nada se comparava ao ateniense (cidadãos, metecos e escravos) visto que se existiriam categorias intermédias que dificultam esta separação em Esparta. Existiam em Esparta dois chefes militares do território, com grande prestígio, a quem os espartanos chamavam “reis”. Estes eram tanto os dirigentes religiosos de Esparta, como os comandantes do seu exército e ainda os dirigentes das instituições. Os Dórios quando chegaram ao território vinham chefiados por Heraclides e Aristodemos que deixou o território aos seus dois filhos, Eurístenes e Procles11, começando a realeza dupla que, na altura de que Licurgo, era orientada por duas famílias - Ágidas e Euripôtidas

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. Estas eram as que mais se destacavam/sobressaiam

na região, com descendência de Héracles e consequentemente de Zeus. Porém, o facto de existirem dois reis a governar ao mesmo tempo podia originar conflitos. Eram automaticamente privilegiados pelo seu nascimento ao invés de ser por mérito pessoal. Assim sendo, Licurgo instituiu o senado, “conselho dos anciãos” – Gerousia – , um orgão consultivo, para que estes governassem com os dois reis que faziam também parte da gerousia, constituindo um grupo de trinta homens. “Entre as várias inovações que Licurgo fez, a primeira e mais importante foi a instituição de um senado, ou Conselho dos Anciãos (...) tendo uma votação igual à deles [reis] em questões de grande importância , o que trouxe segurança nos conselhos de estado. (...)”13 “ (...) a forma mais ordenada e segura, visto que os 28 senadores estavam sempre do lado dos reis no que tocava à democracia.”14

A Gerousia era composta por vinte e oito homens – gerontes - com mais de sessenta anos , com os conhecimentos para governar, aos quais se juntavam os dois reis. Os éforos formulavam as propostas que eram depois submetidas a uma assembleia – apela – de poder deliberativo, de todos os homens adultos livres, os espartanos – cidadãos. A função dos éforos permitia que o poder político fosse diluído e tripartido de forma a garantir a supremacia da lei e a igualdade entre todos. Eram também os 10

FERREIRA, José Ribeiro (2004). A Grécia Antiga – Sociedade e Política. Lisboa: Edições 70. p.68 RACHET, Guy, op.cit. 12 PALMA, Rodrigo Freitas (s.d). O Direito Espartano. [consultado em [05 Novembro 2015] Disponível em http://www.unieuro.edu.br/sitenovo/revistas/downloads/consilium_02_03.pdf 13 PLUTARCH & PERRIN, op. cit., p.219 14 Idem, p. 221 11

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éforos que convocavam a gerousia e a assembleia em dias específicos. Existiam ainda os cinco supervisores, eleitos anualmente que contrabalançavam, juntamente com os éforos, a influência dos reis e da gerousia. A sua política inclinava-se tanto para seguir os reis e a tirania como para seguir a multidão e a democracia.15

Recorde que todas as medidas edificadas por Licurgo pretendiam unificar tanto o território como os seus habitantes: “ Toda a Lacedemónia parece uma família em vez de um estado dividido por todos os irmãos”.

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Em suma, Esparta é um caso complicado relativamente à definição da sua forma política. Como anteriormente descrito, se a população era governada por dois reis tratava-se de uma monarquia dual. No entanto, se os reis partilhavam o poder com a gerousia pode-se considerar que, simultaneamente a uma monarquia dual, encontramos uma oligarquia de oligoi – o governo de poucos – ou seja, apenas governava uma minoria. Se o termo oligarquia remonta para um “governo” de benefício próprio esta não se começou por constituir inteiramente por estes princípios, daí alguns considerarem que Esparta era governada por uma aristocracia. Existe uma interligação entre estas duas formas de governo na medida em que Esparta, inicialmente, previa o bem comum e não defendia interesses individuais, no entanto, com o desenvolvimento da reforma estabelecida por Licurgo, acabou por se relevar uma oligarquia. A gerousia tinha o poder de dissolver as decisões da assembleia e consequentemente a dos reis, daí Esparta ser governada praticamente apenas por um grupo.

Esta desigualdade

desenvolveu-se chegando mesmo a haver uma revolta de escravos. A eficácia governativa de Esparta conseguiu-se através das reformas de Licurgo, sendo que a principal, a instituição do senado, que já foi enunciada. Assim sendo, e depois das conquistas das terras da Messénia, começou por dividir este grande território em lotes, tantos quanto os cidadãos, ao qual estava anexado um grupo de hilotas 17. O suficiente para a sua subsistência. Porém reservavam as melhores terras para si.

15

Ver a este respeito: MARTIN, Thomas R. Oligarquia, Tirania e Democracia – Esparta Antiga. In Thomas R.Martin (1998) . Breve História da Grécia Clássica (Maria José Figueiredo trad. pp.127-142) Lisboa: Editorial Presença. 16 PLUTARCH & PERRIN, op. cit., p.229 17 FERREIRA, José Ribeiro, op. cit., p.68

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“Ele redistribuiu o resto da Lacedemónia (...) em 9.000 lotes, tantos como os espartanos genuínos /puros.” 18 “ Licurgo pensou que um lote deste tamanho fosse suficiente para eles, uma vez que apenas precisavam de alimentos suficientes que promovesses o vigor e o bem-estar do corpo e nada mais.” 19

Esta medida deveu-se ao facto de considerar que havia necessidade de banir todas as formas de desigualdade que existiam entre a população, nomeadamente a insolência, inveja, crime, luxúria, riqueza e pobreza. “Para ele havia uma terrível desigualdade neste aspeto, a cidade estava repleta de pessoas indigentes e vagabundos, e a riqueza estava completamente centrada nas mãos de alguns. Determinado a banir a insolência, inveja, crime e luxúria (...) [e] a riqueza e pobreza, convenceu as cidades vizinhas a se unirem apenas num único território e voltarem a dividir as terras, para viverem uns com os outros em uniformidade e com iguais meios de subsistência (...)” 20

Note-se que, apesar dos seus princípios se basearem nos valores morais da igualdade esta estava apenas disponível para os cidadãos, os espartanos, e não para a restante população que engloba tanto os escravos como as populações da periferia. Posto isto o seu conceito de Igualdade era praticamente impossível. Este é mais um dos motivos porque alguns teóricos afirmam que Esparta se regia por uma oligarquia. Na tentativa de eliminar todos os elementos pejorativos à igualdade baniu qualquer atividade económica que fosse praticada pelos Pares. Era uma política de contra-atividade económica segundo a qual dependem dos periekos e sobretudo Hilotas. Não se podia inclusive comprar ou vender imóveis porque estes eram transmitidos por testamento ou doações. Uma das suas medidas foi remover as artes supérfluas e as moedas de ouro e prata (moedas cunhadas), substituindo-as por harras ou espetos de ferro.

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PLUTARCH & PERRIN, op. cit., p.229 Ibidem. 20 Idem, p.227 19

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“Em primeiro lugar , ele retirou todo o dinheiro de ouro e prata da moeda corrente, e ordenou que se usasse apenas dinheiro de ferro.”21 “(...) baniu o desnecessário e as artes supérfluas. 22”

Estilo de vida espartano

Para compreender melhor o estilo de vida espartano e a forma como a legislação o determinou é imprescindível abordar a situação social dos espartanos, periecos e escravos, para que se compreenda as diferenças que existiam entre estes grupos, mesmo num regime que promovia a “igualdade”. A pólis espartana, constituída pelos cidadãos, era “Uma máquina de combate; vivia para ele e em função dele”.23 Quer isto dizer que “fabricava” homens para o combate de forma garantir a segurança da cidade contra as possíveis ameaças. Os cidadãos deviam ser guerreiros por excelência.Todos os cidadãos espartanos tinham de pôr o serviço do Estado acima das suas preocupações pessoais, algo que se refletia nas legislações da cidade e nos códigos de valores. Estas normas fizeram com que houvesse uma restruturação radical na vida familiar tradicional visto que os valores familiares são retraídos e subjugados aos valores do Estado. A vida familiar reduz-se. Licurgo focou-se também na educação dos cidadãos, filhos de pai e mãe espartanos: “Em questões de educação (...) começou na origem, regulando cuidadosamente os casamentos e nascimentos”

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Os casamentos tinham como único intuito procriar crianças para o Estado. Não eram momento de grande felicidade uma vez que não marcava o início de uma vida normal. Para além disso, deveriam ser feitos entre os membros do mesmo grupo e não entre distintos. “Licurgo não considerava os filhos [dos seus habitantes] como propriedade do seus pais, mas sim comum propriedade do Estado, (...)”25

21

Idem, p.229 Idem, p.231 23 FERREIRA, José Ribeiro, op. cit., p. 155 24 PLUTARCH & PERRIN, op. cit., p.245 25 Idem, p.253 22

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Os rapazes eram preparados para o combate e desde cedo eram testadas as capacidades das crianças. Esparta praticava-se a eugenia expondo o recém nascido. Dependendo da sua estrutura eram ou não mantidos vivos. Caso a sua estrutura não fosse adequada aos critérios, dos homens mais velhos da cidade, e não fossem vantajosas para o estado a criança era morta. Caso fosse bem constituído e saudável era educado pelo pai até atingir os sete anos. “(...) as mulheres costumavam dar banho aos recém-nascidos não com água, mas com vinho (...) os epiléticos e doentes tinham convulsões por causa do cheiro forte do vinho e perdiam os sentidos.”

26

”O descendente não era criado pelo pai mas sim levado para ser cuidado num local chamado de Lesche onde os homens mais velhos das tribos o examinavam, se fosse bem constituído e resistente ordenavam ao pai que cuidasse dele (...) mas se fosse doente e deformado eles enviavam-no para o chamado Apothetae, uma espécie de abismo colocado no topo do Moun Taÿgetus, na convicção de que aquilo que a natureza não equipou bem com saúde e força, não era nem vantajoso para a criança nem para o estado.“27

Através de Plutarco e a sua obra A vida de Licurgo percebemos um pouco da dinâmica Espartana “Os espartanos querem que os filhos sejam, desde a mais tenra idade, sensíveis à glória e que, sentindo-se humilhados pelas censuras, sejam vivamente excitados pelos louvores”28

Os espartanos dividam a sua vida em períodos de cerca de sete anos – os períodos de educação. Durante o tempo em que viviam com as amas as crianças eram familiarizadas com os Deuses e lendas. Quando atingiam os sete anos eram retiradas aos pais e integradas em companhias, onde eram educadas e treinadas pela pólis numa disciplina e modo de vida austero, com o intuito de os preparar para a vida de um militar em campanha , até aos trinta anos (aos 20 anos terminava a sua educação e entravam para o grupo dos homens). Aprendiam a ler, a escrever, a fazer contas e

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Idem, p.255 Ibidem 28 LICURGO (s.d). Lisando e a Supremacia de Esparta. Lisboa: Editorial “Inquérito”. Pp.8-9 27

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música, para além do treino físico. Esta preparação rigorosa era essencialmente ao ar livre e denominava-se de agogê.29 “ (...) assim que tivessem 7 anos, Licurgo ordenava-lhes que fossem retirados [aos pais] pelo estado e que se integrassem em companhias, onde eram todos postos sob a mesma disciplina e educação, e habituavam-se a partilhar uns com os outros tanto os treinos como os estudos”30 “ O treino dos espartanos durava até estes atingirem a maturidade. Nenhum homem podia viver como quisesse, tinha de viver num acampamento militar (...)”31

Cerca de sete anos mais tarde começavam novamente as provas, onde utilizavam as capacidades desenvolvidas nas formações anteriores. O treino consistia essencialmente na caça, treino com armas e um desenvolvimento ideológico, que era fomentado pelas histórias de bravura e heroísmo que ouviam dos homens mais velhos. A sua alimentação era ,propositadamente, em pouca quantidade para serem obrigados a desenvolver as capacidades de roubo, apesar de haver sérias punições caso fossem descobertos. No Período Clássico eram também enviados para a floresta para matarem Hilotas suspeitos de puderem vir a criar rebeliões sob a denominação de cryptoi. Porém, os que não aguentavam as duras condições não eram considerados plenos cidadãos. Os filhos da família real estavam isentos do treino para precaver possíveis crises sociais caso um deles fracasse. Ficariam sujeitos à vergonha, visto que cada Homoioi tinha como obrigação suportar a fadiga e a dor e envolver-se com os restantes compatriotas nas denominadas messes - syssitia –as refeições em conjunto- denominadas pelos cretenses por andreia e fiditia pelos Lacedemónios.32 A introdução das messes comuns foi também “obra” de Licurgo. Este determinou que os homens não deviam comer em casa com a família mas sim em grupos para os quais contribuíam com determinados alimentos e rendimentos. A posse dos seus direitos cívicos dependia essencialmente da sua contribuição contínua para estas messes. Desrespeitar esta norma faria com que a sua denominação passasse a ser Hypomeiones – “Inferiores”.

29

FERREIRA, José Ribeiro, op. cit., p.155 PLUTARCH & PERRIN, op. cit., p. 253 30 Idem, p.257 31 Idem, p. 279 32 Ver a este respeito MARTIN, Thomas R., op. cit. 30

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“ (...) ele [Licurgo] introduziu a sua terceira e mais esplêndida regra política,nomeada de, instituição das messes comuns, para que eles pudessem comer uns com os outros em companhia, com comida específica, e que não comessem em casa sozinhos”

33

“Eles juntavam-se em grupos de 15, mais ou menos, e cada um dos colegas contribuía mensalmente para a messe com, 8 potes de vinho, 5 kilos de queijo, 2.5kg de figos, e para adicionar, uma quantia pequena de dinheiro para carne e peixe.”34

Estas messes eram entendidas como “escolas da vida”, que formavam os rapazes nos valores da sociedade. Eram consideradas a família alternativa, que fomentava as relações de amizade. “ Os rapazes também iam para as messes públicas, como se elas fossem “escolas da vida”, lá podiam ouvir discussões politicas” 35 “ As messes públicas, eram chamadas pelos habitantes de creta de “andreia”, mas os Lacedemónios, “phiditia”, uma vez que estas conduziam à amizade e cordialidade (...) “ 36

Os rapazes chamavam de “pais” aos homens mais velhos, de forma a realçarem que o seu dever de lealdade estava em primeiro lugar para com o grupo e não para com a sua família genética. Mais tarde eram escolhidos por estes como sendo os seus “favoritos”, constituíam-se laços de afeto , que incluíam amor físico. Eram eles que os “recrutavam” para mais tarde os acompanharem no combate. Os rapazes eram também ensinados a falar de forma concisa e sentenciosa.

“Os rapazes eram também ensinados a usar um discurso que combinava a graciosidade e que condensava todas as suas observações em poucas palavras” 37

Uma das curiosidades mais interessantes acerca da população espartana são os seu cabelos compridos. Estes eram considerados objeto de embelezamento, sendo alvo de concurso. Nos momentos de guerra eram cuidadosamente tratados.

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PLUTARCH & PERRIN, op. cit., p.233 Idem, p.237 35 Idem, p.239 36 Idem, p.237 37 Idem, p.265 34

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“Em tempo de guerra (...) permitiam-lhes embelezar o cabelo e as roupas, preparandoos para concursos”38

Na Época Arcaica a literatura, em especial a poesia, vivia em ligação com a pólis, veiculando todos os seus ideais e valores. Assim sendo, podemos entender a importância que a coragem adquiria no combate, como forma do cidadão poder alcançar a glória. A sua aretê, palavra que expressa o conceito grego de excelência – “adaptação perfeita, excelência, virtude” – que residia no combate e não noutros valores. Tirteu, na altura em que Esparta se encontrava em guerra com a Messénia, compôs poemas de incitamento dos concidadãos ao combate. Proclamava a guerra a fim de combater pela pátria e a fealdade através do medo e não pela morte. A coragem era uma virtude primordial na construção do caráter de um homem.

É belo para um homem valente morrer, caindo nas primeiras filas, a combater pela pátria. ( 1-2 v– frg.6.7 Diehl)39

Se, pois, não há para o vagabundo cuidado algum, nem respeito pela sua linhagem, lutemos com ardor por esta terra, morramos por nossos filhos, sem pouparmos a vida. (11-14 v. – frg.6.7 Diehl)

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Em combate não deveriam temer a morte e ter apenas em mente a necessidade de proteger a pátria e os seus compatriotas, novos e velhos. Como dito anteriormente, os mais velhos escolhiam os recentes combatentes para estes guerrearem ao seu lado. Assim sendo, considerava-se quase como uma obrigação protegê-los, visto que estes tinham melhores condições físicas. Para além disso, era considerado um feito maior morrer em batalha.

38

Idem, p. 271 PEREIRA, Maria Helena da Rocha (1982). Tirteu. In Maria Helena da Rocha Pereira. Hélade Antologia da Cultura Grega (4ªed., pp.93-95). Coimbra : Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Instituto de Estudos Clássicos. p.93 40 Ibidem 39

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Ó jovens, permanecei em combate ao lado uns dos outros, não comeceis com a fuga vergonhosa ou com o medo, mas criar no vosso espírito um ânimo excelso e valente, deixai o amor à vida, ao combater com os homens. Não fujais, abandonando os mais velhos, que já não têm os joelhos prontos, os pobres anciãos. (15 -19 v – frg.6.7 Diehl)

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É vergonha que caia nas primeiras filas e fique estendido um homem mais velho, já de cabeça branca e barba grisalha, exalando o espírito valente no pó, segurando nas mãos as partes ensanguentadas -coisa vergonhosa e ímpia de se ver – e o corpo nu. Aos jovens tudo fica bem, enquanto estão na flor explenderosa da amável juventude. (21-28 v– frg.6.7 Diehl) 42 Fique cada um em seu posto, de pernas bem abertas, os pés ambos fincados no solo, mordendo o lábio com os dentes. (31-32v– frg.6.7 Diehl) 43

Se fugisse do combate e da sua obrigação, tornava-se, em consequência, num vagabundo, caindo na desonra, vergonha e infâmia, tanto ele como a família e futuras gerações. Eram marcados com um ostracismo que os incapacitava de ter direitos cívicos e passavam a ser chamados de Tresantes. E, de tudo, o mais triste é abandonar a cidade E os campos férteis, para ir mendigar, vagueando com a mãe querida e o idoso pai, os filhos pequeninos e a legítima esposa. Será odioso àquele a quem se dirigir, cedendo à necessidade e à penúria horrenda, envergonha a sua estirpe, deturpa a bela figura, acompanham-no a desonra e a infâmia. (3-10 v– frg.6.7 Diehl)44 41

Ibidem Idem, p.93 43 Idem, p.94 42

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Pois não há homem valente no combate, se não suportar a vista da carnificina sangrenta e não atacar, colocando-se de perto. (10-12 - Frg. 9 Diehl) 45

Por outro lado, se saísse vitorioso era engrandecido e respeitado, visto que a coragem levava à excelência e era um valor que se sobrepunha a todos os outros. Quando vivo, admiram-no os homens, amam-no as mulheres; e é belo, se cai nas primeiras filas. (29-30 v– frg.6.7 Diehl) 46 Eu não lembraria nem celebraria um homem pela sua excelência na corrida ou an luta, nem que tivesse dos Cíclopes a estatura e a força e vencesse na corrida o trácio Bóreas, nem que tivesse figura mais graciosa que Titono, ou fosse mais rico do que Midas e Ciniras, ou mais poderoso que Pélops, filho de Tântalo, ou tivesse a eloquência dulcíssima de Adrasto ou possuísse toda a glória – se lhe faltasse a coragem valorosa. (1-9 v. - Frg. 9 Diehl) 47

É esta a excelência, este é entre os homens o maior galardão e o mais belo que um jovem deve obter. É um bem comum para a cidade e todo o povo, que um homem aguarde, de pés fincados, na primeira fila, encarniçado e de todo esquecido da fuga vergonhosa, (13-17v - Frg. 9 Diehl) 48 (...) e, aproximando-se, inspire confiança com suas palavras ao que lhe fica ao lado. Um homem assim distingue-se no combate. (19 -20v - Frg. 9 Diehl) 49 Se ele cair na primeira fila, perdendo a cara vida, deu glória à cidade, ao povo e ao pai, 44

Ibidem Idem, p.94 46 Ibidem 47 Ibidem 48 Ibidem 49 Ibidem 45

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se for mal ferido, na frente, através do peito, do escudo bombeado e da couraça. Choram igualmente os novos e os velhos, aflige-se a cidade com amarga saudade. O seu túmulo, os seus filhos serão notáveis entre os homens, bem como os filhos dos filhos, e toda a posteridade. Jamais perecerá a sua nobre glória e o seu renome, mas mesmo debaixo da terra será imortal, (23-32 v - Frg. 9 Diehl) 50 (...) Mas, se escapar ao destino da morte que deita por terra, e alcançar, vitorioso, a glória fulgente da lança, honrá-lo-ão por igual os jovens e os anciãos, e, depois de gozar de muitas delícias, descerá ao Hades. Quando envelhecer, distinguem-no os cidadãos, e ninguém quererá prejudicá-lo, faltando ao respeito ou à justiça. Todos à uma, novos, ou da sua idade, ou mais velhos, na sua terra, lhe cedem lugar. E agora, que todos os homens tendem chegar aos pícaros desta experiência, sem desviar seu ânimo da guerra. (33- 44 v - frg.9 Diehl) 51

Entre os Pares salientavam-se grupos privilegiados, mais concretamente os Kóroi ou Hippeis, escolhidos entre os guerreiros mais jovens para uma guarda de honra dos reis. Relativamente aos escravos – Hilotas - estes provinham das vagas de conquistas territoriais e dos povos indígenas ( exemplo das guerras Messénicas ), possuindo assim alguma homogeneidade. Aqui a palavra “escravo” deve ser tida em moldes diferentes dos utilizados quando falamos em Atenas. Estes “escravos” não eram importados do estrangeiro nem vendidos em mercados. Para além disso, possuíam um estatuto que se situava entre a liberdade e a escravatura, ou seja, estes “escravos” têm identidade, ao contrário dos restantes. Se noutras ocasiões nos situa numa classe social com pouca importância, em Esparta, mesmo não sendo tidos em grande consideração pelos seus habitantes, eram eles os responsáveis pela manutenção e subsistência desta sociedade. Quer isto dizer que, se a sociedade espartana estava focada apenas na criação de soldados, esta vertente só poderia ser explorada tão intenssamente com a ajuda dos 50 51

Idem, p.95 Ibidem

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Hilotas. Para os espartanos, para além do treino militar, todas as outras atividades – agrícolas, comerciais, industriais ou artesanais- eram consideradas indignas de homens livres. Assim sendo, os Homoioi eram proibidos de praticar qualquer tipo de outra atividade lucrativa, daí a grande importância dos Hilotas. A política de Contra Atividade Económica é aprofundada por Xenofonte na obra República dos Lacedemónios e por Aristóteles e Políbios. Deles dependia toda a produção alimentar e manutenção de todo o território, de forma libertarem os espartanos desses trabalhos. Havia grupos de Hilotas para cada tarefa que deviam realizar. Porém eram forçados a pagar uma quota-parte do que produziam aos seus “Senhores”. Visto que eram bens do estado só a comunidade os podia libertar deste estatuto ao contrário dos “escravos” pessoais que encontramos em Atenas. Contrariamente a outros locais da Grécia Antiga, em Esparta era-lhes permitido que tivessem vida familiar, de forma a manterem a dimensão da sua população, daí não ser necessário a sua compra e venda. Também lhes era permitido terem objetos pessoais e praticarem a sua religião. Apesar destas “regalias” viviam sobre ameaça constante dos cidadãos que erguiam uma barreira moral entre eles. Alguns Hilotas podiam “escapar” à escravatura. No entanto, eram sempre classificados como menores do que os cidadãos espartanos, passando a ser denominados de neodamodeis - “novos membros do damos”. Apesar disso a esperança de liberdade era quase nula.52 Deve ter-se em consideração o facto de não fazerem parte do Estado, ao contrário dos Periekos. Os Periekos, por sua vez, não se tratando nem de escravos nem de cidadãos, muitas vezes acabavam por continuar a viver na periferia da cidade em comunidades autogovernadas, independentes e com autonomia local visto estarem subordinadas politicamente a Esparta. Quer isto dizer que apesar de não pagarem rendas regulares aos Espartanos os Reis possuíam pequenos domínios especiais nas suas terras e trabalhadas por si, os temenos. Como dito anteriormente, este grupo fazia parte do Estado Espartano, que englobava tanto os Espartanos como os Periekos, apesar de não terem voz nas decisões do “governo”. Posto isto pode considerar-se que eram vistos como “cidadãos se segunda categoria”.

52

Ver a respeito desta questão: MARTIN, Thomas R., op. cit.

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Por vezes eram recrutados para o exército Espartano, embora atuando em companhias separadas. Atuavam também como pequenos comerciantes e artesãos (armas, cerâmica etc.) sem terem direitos políticos ou qualquer tipo de educação.

É também possível observar que as mulheres espartanas usufruem de estatuto claramente diferente e peculiar das restantes. Estavam isentas de deveres e consequentemente de direitos, sendo totalmente ignoradas pela Lei. Eram conhecidas pelo Mundo Grego pela sua relativa liberdade. Liberdade suficiente para que fossem as únicas com a possibilidade de se exercitarem com os rapazes e que o fizessem com o um mínimo de roupa, uma túnica.

“Ele libertou-as na delicadeza e feminismo ao acostuma-las a usarem, tal como os mais novos, túnicas, apenas nas procissões e em determinados festivais para que cantassem e dançassem enquanto os homens mais novos assistiam como espetadores.”53

No entanto esta liberdade tinha unicamente o objetivo de as libertar do trabalho de forma a poderem exercitar o corpo para que pudessem gerar filhos saudáveis e que os educassem, juntamente com a pólis, nos valores pelos quais se regiam.

“Fê-las as senhoras exercitarem o seu corpo nas corridas, lutas, lançamento do disco, caça ao javali (...)”54 “ Implementou –lhes os hábitos de simplicidade e o desejo da saúde e da beleza do corpo. Deu-lhes também o gosto do nobre sentimento, para que elas sentissem que também tinham um lugar na arena da bravura e ambição.”55

Embora Licurgo tivesse banido o dinheiro cunhado para desencorajar a acumulação de bens, era-lhes permitido possuir as terras que lhes tinham sido distribuídas. As filhas herdavam porções de terra não pela morte dos pais mas pelo casamento. Assim sendo, as terras acabaram por passar para as mãos das mulheres. 53

PLUTARCH & PERRIN, op. cit., p.247 Idem, p.245 55 Idem, p.247 54

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Visto que estas dirigiam as casas de família, criados, filhos e filhas, exerciam mais poder em casa do que os maridos, foi-lhes dado, por Licurgo, uma denominação especial. “ Visto que os homens eram obrigados a deixar o controlo da casa nas mãos das mulheres (...) [Licurgo] deu-lhes o título de Senhora [dona]. (...) até ás mulheres Licurgo prestou a máxima atenção.” 56

Aos homens recém-casados era-lhes permitido fazer curtas visitas à noite, desde que passassem despercebidos. “ E ele continuou sempre adiante, passando os dias com os seus camaradas, dormindo com eles toda a noite, mas visitando a noiva furtivamente e com todas as precauções, com medo que alguém [dos camaradas] se apercebesse das suas visitas, com a ajuda da mulher que conspirava com ele (...) “57

Mais uma das aparentes liberdades das mulheres era o facto de estas puderem ter filhos de outros homens caso o seu fosse infértil. Tudo devido à obsessão da reprodução destas sociedade estritamente ordenada. Na verdade, o casamento era praticamente obrigatório. Os solteiros eram alvos de multas e ridicularização por parte dos restantes cidadãos. As violações e adultérios constavam na lei espartana como sendo atos que mereciam punição. Porém as multas de estateras variava consoante os indivíduos e o grupo social a que pertencessem. Em termos de religião, e visto que se tratava de uma sociedade militar, a deusa mais adorada era Atena. Era também prestado culto a Castor e Pollux, dois irmãos gémeos da mitologia grega que se assemelham à noção da monarquia dual Espartana. Os rituais eram também um papel importante na sociedade espartana e eram os reis, com o estatuto de sacerdotes, que estavam encarregues dos realizar. Tratava-se de sacrifícios públicos que eram mais valorizados em tempo de guerra. Antes das batalhas os espartanos tinham o hábito de realizar sacrifícios e honra de Ares Enyalios, deus filho de Ares e Enyo, ambos deuses da guerra.

56 57

Idem, p.245 PLUTARCH & PERRIN, op. cit., p. 251

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As festas religiosas ocorriam segundo o espírito Espartano cujos jovens eram motivo de entretenimento. Por vezes apenas um rapaz era fustigado até ficar inconsciente, noutras os rapazes lutavam, desarmados, uns com os outros até à exaustão. Em suma a Sociedade Espartana tinha uma condição muito particular devido às caraterísticas geográficas e à ação legislativa dos seus governantes. Não se pode ver Espartana como um exemplo das sociedades gregas devido às suas particularidades. Sendo uma sociedade essencialmente militar Esparta era vista com grande respeito e medo pelas restantes sociedades.

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C. BIBLIOGRAFIA

FERREIRA, José Ribeiro (2004). A Grécia Antiga – Sociedade e Política. Lisboa: Edições 70. LICURGO (s.d). Lisando e a Supremacia de Esparta. Lisboa: Editorial “Inquérito”. MARTIN, Thomas R. Oligarquia, Tirania e Democracia – Esparta Antiga. In Thomas R.Martin (1998). Breve História da Grécia Clássica (Maria José Figueiredo trad. Pp.127-142) Lisboa: Editorial Presença. PALMA, Rodrigo Freitas (s.d). O Direito Espartano. [consultado em [05 Novembro 2015] Disponível em http://www.unieuro.edu.br/sitenovo/revistas/downloads/consilium_02_03.pdf PEREIRA, Maria Helena da Rocha (1982). Tirteu. In Maria Helena da Rocha Pereira. Hélade Antologia da Cultura Grega (4ªed., pp.93-95). Coimbra : Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Instituto de Estudos Clássicos. PLUTARCH & PERRIN, Bernardotte (s.d). Lycurgus. In Bernadotte Perrin. Plutarch’s Lives (B. Perrin trad.). (vol.1, pp.205-303). London: T.E Pages, Lillt.D.D and W.H.D. Rouse, Lillt.D. RACHET, Guy(1999). Civilização Grega. In Manuel de Waresquel (Ed.) , Dicionário Temático Larousse (pp-95-96). Rio de Mouro: Círculo de Leitores.

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