A sombra na contemporaneidade: O autorretrato fotográfico como instrumento de investigação e expressão criativa para o autoconhecimento

June 30, 2017 | Autor: Sheila Oliveira | Categoria: Fotografia, Autorretrato
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FACULDADE DE CIÊNCIAS DA SAÚDE FACIS

SHEILA CRISTINA DE OLIVEIRA GOMES

A sombra na contemporaneidade: O autorretrato fotográfico como instrumento de investigação e expressão criativa para o autoconhecimento

ESPECIALIZAÇÃO  EM  ARTETERAPIA  E  EXPRESSÕES  CRIATIVAS  

São Paulo 2014

SHEILA CRISTINA DE OLIVEIRA GOMES

A sombra na contemporaneidade: O autorretrato fotográfico como instrumento de investigação e expressão criativa para o autoconhecimento

Monografia apresentada à FACIS como requisito parcial para obtenção do

título

de

especialista

em

arteterapia e expressões criativas.  

 

São Paulo 2014  

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RESUMO O presente estudo é uma reflexão sobre o autorretrato fotográfico como possibilidade de técnica de expressão criativa na arteterapia e seu potencial simbólico como ferramenta para o reconhecimento e integração criativa dos aspectos sombrios da personalidade. Além de apresentar esta possibilidade do autorretrato como recurso terapêutico, a pesquisa discorre sobre a presença da sombra no autorretrato, seus processos criativos, além de apresentar sugestões e possibilidades técnicas fotográficas, assim como exercícios. A pesquisa qualitativa foi utilizada como método, onde o pesquisador é observador, promovendo um olhar reflexivo sobre os fenômenos subjetivos. A Psicologia Analítica, de Carl Gustav Jung foi utilizada para o embasamento teórico. A partir de algumas destas observações sobre as manifestações da sombra no autorretrato, foram apresentadas algumas possibilidades de exercícios que além de proporcionarem possibilidades criativas através de imagens simbólicas que estimulam o autoconhecimento, geram questionamentos que também ampliam esta condição. A pesquisa conclui que o autorretrato é rico em possibilidades arteterapeuticas, de reconhecimento e possibilidade do diálogo com a sombra, proporcionando ao individuo que experiência esta técnica de expressão criativa a possibilidade de ampliar sua consciência em direção ao seu contínuo autoconhecimento.

Palavras-chave: Fotografia. Autorretrato. Persona- Sombra. Símbolo. Arteterapia Junguiana

 

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SUMÁRIO

Introdução................................................................................................................................ 05 1. Conceitos básicos de psicologia analítica............................................................................ 11 1.1. Persona.......................................................................................................................... 12 1.2. Símbolos....................................................................................................................... 14 1.3. Sombra.......................................................................................................................... 14 2. A fotografia enquanto recurso terapêutico........................................................................... 16 2.1. Autorretrato fotográfico................................................................................................ 16 2.2. Sombra no autorretrato................................................................................................. 17 2.3. Processo criativo .......................................................................................................... 19 3. O autorretrato como possibilidade de expressão criativa..................................................... 20 3.1 Oferecendo a possibilidade do autorretrato................................................................... 23 3.2. Sugestões e possibilidades técnicas de fotografia ........................................................ 24 3.3. Explorando o autorretrato como experiência criativa .................................................. 24 3.3.1 Exercícios aleatórios .......................................................................................... 25 3.3.2 Retratando sentimentos ...................................................................................... 26 3.3.3 Retratando momentos de vida ............................................................................ 27 3.3.4 Diálogo com as imagens .................................................................................... 29 Conclusão ................................................................................................................................ 30 Referências .............................................................................................................................. 31

 

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Introdução Nunca deixo de ficar intrigada quando me observo no espelho. Quem é a imagem que me contempla de lá? Quem de verdade está ali? Apesar de saber que trata-se da imagem do meu corpo, sinto que há algo mais, algo inclusive tão importante quanto a imagem que vejo. Chego mais perto. Percebo, então, a cor dos meus olhos, que muda com a luz do sol da manhã. Me transformo sempre? O que mais muda em mim além da cor dos olhos, além das marcas de expressão e os fios brancos que aumentam um tanto de tempos em tempos? Por que tem dias que me sinto leve e linda, enquanto em outros finjo que não me vejo? Vestida, me ponho nua em frente ao espelho. Fitando-me, tento ver o que me deixa triste, o que me traz vergonha ou medo, mas também o que me deixa feliz, do que tenho orgulho, as minhas coragens. E, então, sei, ou quase sei, que esta sou eu, feita de opostos. (texto de minha autoria)

Sempre fui apaixonada pelas artes, em especial pelas artes plásticas. Na época em que temos que decidir que profissão seguir, eu já tinha minha certeza: artes plásticas. Porém, naquela época, minha família não entendeu minha vontade, e eu, na tentativa de ser uma filha obediente, e sem recursos para seguir sozinha, me vi perdida. O amor pela materialidade dos livros me inclinou para a possibilidade de ser bibliotecária, e foi este o caminho que segui até 1995, quando decidi trabalhar profissionalmente com fotografia, deixando a profissão de bibliotecária e me dedicando à pesquisa para meus trabalhos pessoais. Durante todo este tempo, fiz diversos cursos livres de arte: desenho, pintura, escultura, gravura, entre tantas outras expressões criativas. A fotografia se apresentou para mim no final da década de 80, e esta oportunidade de expressão foi muito intensa e quase obsessiva. Apaixonei-me por fotografia, e como todo movimento interno intenso, mergulhei em textos e imagens deste vasto mundo de expressão criativa. Fui adentrando na história da fotografia, nas possibilidades técnicas, na composição  

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acadêmica, mas, especialmente, o que mais me tocava e ainda me toca: a possibilidade de misturar, de me misturar e construir algo novo, de fazer fotografia e de me expressar através da fotografia. Desde então a fotografia tem sido meu principal instrumento na direção destas reflexões, através dela conheci pessoas, conheci lugares, sabores, ultrapassei barreiras e superei alguns medos. Ela vem me ensinando a olhar para as coisas de maneira diferente, especialmente a olhar para mim mesma e como me relaciono com as pessoas e o ambiente. Ela sempre me faz perguntar: que fenômenos são estes que nos afetam e nos transformam? Por volta de 1988 experimentei meu primeiro autorretrato fotográfico. Na época pretendia apenas registrar minha imagem para o uso em materiais de divulgação. Hoje, refletindo um pouco sobre esta atitude, posso dizer que ela também funcionou como experiência psíquica, atuando como autoafirmação sobre minha nova escolha profissional, sobre todas as conquistas que deixei para trás e sobre minha nova paixão, que se tornava cada vez mais clara, simbolizada nesta imagem, através da máquina fotográfica, junto ao meu corpo. Em meus autorretratos atuais não mais vejo apenas meu corpo físico registrado em imagem, mas sim meus pensamentos e sentimentos a respeito das coisas, representando fragmentos do meu conteúdo interno e me ajudando profundamente em meu autoconhecimento. “De qualquer modo, a crítica filosófica me ajudou a perceber que toda psicologia – inclusive a minha – tem o caráter de uma confissão subjetiva.” ( JUNG, 1989, 331 ) Abaixo uma imagem, de 2013, da Série “O graveto e a pedra”, um registro imagético como exercício da reflexão sobre nossos opostos.

 

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Possivelmente, terá sido a imagem formada na superfície da água a inspiração para o primeiro espelho, e quando penso em espelho, a imagem de Narciso, pintada por Caravaggio é a primeira a se apresentar em meu pensamento. Um dos mais conhecidos protagonistas míticos, e famoso por sua beleza e orgulho, Narciso é entorpecido ao perceber sua imagem refletida na água. Porém, apesar de se falar de modo leigo do narcisismo como algo frívolo, o mito de Narciso representa o drama da tomada de consciência de si mesmo, representando o olhar sobre a beleza da alma, digno de contemplação eterna e grande exemplo de autoconhecimento.

As expressões criativas são um meio privilegiado para os processos de autoconhecimento, através de tais materialidades, é possível romper defesas, o que permite ao individuo olhar-se nas imagens refletidas em suas produções criativas, e construir sua autoimagem. A autorrepresentação existe desde a Pré-História, quando homens e mulheres sopravam pós coloridos sobre suas mãos contra as paredes das cavernas, marcando suas formas e registrando suas identidades para a posteridade. Na pintura, o autorretrato se tornou habitual desde o Renascimento. Assim como em nossa contemporaneidade, reforçando nossa imagem como indivíduos, os autorretratos renascentistas reforçavam a imagem do artista em sua época. O alemão Albrecht Dürer foi o primeiro artista renascentista a realizar um autorretrato, mas foi Rembrand quem mais se utilizou deste recurso, chegando a produzir mais de 100 autorretratos durante toda sua produção pictórica, sendo possível perceber uma estreita relação do desenvolvimento de sua pintura com a própria vida. Possivelmente para justificar essa pulsão autoexpressiva, ele declarou: “Quererão saber que espécie de pessoa eu fui” (CANTON, 2009, p.10 ) O autorretrato está presente desde então e foi experimentado por muitos artistas, como por exemplo, Amadeo Modigliani, Paul Gauguin, Pierre Auguste Renoir, Paul Cézanne, Claude Monet, Édouard Manet, Frida Kahlo, Marcel Duchamp, Francis Bacon, Picasso.  

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Grandes pintores brasileiros também produziram seus autorretratos, entre eles: Tarsila do Amaral, Anita Malfatti, Flávio de Carvalho, Ismael Nery, entre tantos outros importantes pintores, produziram pelo menos um autorretrato em suas trajetórias artísticas. Robert Cornelius, químico alemão, emigrado para os EUA, foi o primeiro a produzir um autorretrato fotográfico da história, isto aconteceu em 1839. Ele se utilizou dos primeiros recursos fotográficos descobertos na época, como por exemplo, o daguerreotipo, um dos primeiros processos de fixação da imagem na história da fotografia. A fotografia trouxe conhecimento a respeito dos homens e seu habitat. Paisagens inóspitas, culturas das mais diversas, estudos e registros científicos, informações imagéticas de todos os âmbitos, além do forte potencial de memória, em especial com os álbuns de família. Com o desenvolvimento desta nova tecnologia, a fotografia foi se aproximando cada vez mais das pessoas comuns, as câmeras se tornaram portáteis e os filmes de fácil manipulação, proporcionando a qualquer um a possibilidade de um olhar diferente, através de um mecanismo: a câmera fotográfica. Nos últimos 50 anos, muitos artistas incluíram seus corpos em seus processos criativos. Por exemplo, a artista contemporânea, Cindy Sherman, fotógrafa norte-americana, desenvolve seus autorretratos conceituais inspirando-se em personagens cinematográficos. Francesca Woodman, jovem fotógrafa, produziu muitos autorretratos em sua breve vida. Annette Messager, artista com reconhecido trabalho de instalações, por diversas vezes se utilizou da fotografia e do autorretrato. Marta Maria Perez Bravo, artista cubana, que se utilizou das imagens de seus sonhos e de seu corpo para produzir imagens sobre suas crenças mitológicas. Claude Cahun, escritora, fotógrafa e atriz, muito conhecida por seus autorretratos surrealistas; Duane Michals, produz séries fotográficas, muitas vezes introduzindo seu próprio corpo, além de textos poéticos nestas produções. Entre tantos outros, como por exemplo, os artistas brasileiros: Leonora de Barros, Valtércio Caldas, Hudinilson Jr, e os contemporâneos Rodrigo Braga, Cris Bierrembach, Fernanda Magalhães, Marcela Tiboni. Portanto, o autorretrato esteve presente em toda a história da arte e da humanidade, até mesmo os astronautas produziram seus autorretratos em solo lunar. Hoje é difundido entre todos através das facilidades da fotografia digital e dos telefones móveis, repletos de possibilidades, incluindo um item quase tão ou mais importante que o próprio telefone: a câmera fotográfica do celular, facilitando o registro dos mais variados temas do cotidiano, incluindo os autorretratos, conhecidos hoje como “selfies”, tão presentes neste momento cultural como manifestação simbólica da atitude contemporânea dos indivíduos.

 

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Nesse cenário, o presente estudo propõe alguns parâmetros teóricos para fundamentar a compreensão psicológica do autorretrato fotográfico como expressão pessoal na arteterapia. Minha hipótese é que a construção de autorretratos fotográficos são veículos de expressão criativa com um alto potencial para a expressão de imagens simbólicas, além de ser uma técnica contemporânea e acessível a qualquer indivíduo, unindo as qualidades da tecnologia às necessidades do ser humano, somando o conhecimento, o olhar objetivo, ao entendimento, com um olhar subjetivo. Transpirando nossos conhecimentos latentes, olhando para nossos símbolos, construindo significados criativos em busca do nosso autoconhecimento, o autorretrato se oferece como caminho para um aprofundamento da sombra na arteterapia. Devemos lembrar que quando convidamos alguém para nos fotografar, direcionado por nós, ou ainda quando um fotógrafo produz uma imagem de algo que irá representar visualmente sua própria identidade, também podemos considerar como sendo um autorretrato. Nesta monografia pretendo abordar apenas os autorretratos feitos pela própria pessoa fotografada, ou seja, uma foto que alguém tenha feito de alguma parte de seu próprio corpo. A principal questão que norteou esse trabalho é investigar “Como o autorretrato pode auxiliar, através de imagens produzidas pelo próprio individuo, a reflexão sobre aspectos sombrios e obscuros de si próprio?” A justificativa desta monografia está baseada em primeiro lugar, em minha profunda ligação com a fotografia, mas especialmente no desejo de apresentar ideias aos profissionais da arteterapia, convidando-os a considerar o potencial terapêutico da fotografia, em especial o autorretrato, como técnica expressiva. A dificuldade em encontrar estudos sobre autorretratos, especialmente em literatura portuguesa, também me incentivou a levar minha pesquisa nesta direção. Meu objetivo principal é, portanto, apresentar o autorretrato como possibilidade de técnica expressiva na arteterapia, propiciando ao indivíduo o confronto com sua autoimagem, a fim de criar um diálogo com sua sombra para encontrar saídas criativas para suas dificuldades. Por se tratar de um tema que será considerado de modo subjetivo, esta monografia tem uma abordagem qualitativa. Trata-se de um estudo teórico, que será embasado na produção teórica de Jung, entre outros autores junguianos a respeito deste tema. Alguns estudiosos sobre fotografia como expressão criativa me chamaram a atenção, em especial Jerry L Fryrear, Ph.D. ATR, norte americano, psicólogo clínico, arteterapeuta e professor da Universidade de Houston. Irene Corbit, Ph.D. ATR, LPC, norte americana, arteterapeuta, conduz workshops sobre técnicas expressivas em arteterapia além de ser  

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instrutora na Universidade de Houston, e, também,

coordenadora da Escola de Artes

Expressivas do C.G.Jung Educational Center em Houston, no Texas. Judy Weiser, canadense, psicóloga, diretora do Photo Therapy Centre, arteterapeuta, consultora, instrutora e professora universitária, autora de diversos livros dedicados a comunicação emocional. E, por fim, Angela Philippini,

arteterapeuta, artista plástica, psicóloga, mestre em criatividade pela

Universidade de Santiago de Compostela, diretora da Clínica POMAR, diretora acadêmica da Associação de Arteterapia do Rio de Janeiro, entre tantas outras atividades ligadas a arteterapia no Brasil. Essa monografia esta organizada do seguinte modo: No primeiro capítulo descrevo alguns conceitos fundamentais da psicologia analítica relacionados ao tema, são eles: Símbolos, Persona e Sombra. No capítulo dois apresento a fotografia como possibilidade de expressão criativa, mais especificamente o autorretrato, percorrendo as manifestações da Sombra e Processos Criativos. Finalizando, o terceiro capítulo trás minhas sugestões de atividades com autorretrato no setting arteterapêutico, além dos procedimentos técnicos com fotografia.

 

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Capítulo 1 Conceitos básicos de psicologia analítica “Vivemos imediatamente apenas no mundo das imagens.” (JUNG, 1984, p.269 ) Carl Gustav Jung nos possibilita o entendimento sobre a psique do homem. Segundo ele, não buscamos ser um todo, nós somos o todo. Somos pensamentos, sentimentos e comportamentos, conscientes e inconscientes; portanto, estaremos sempre procurando equilibrar os opostos. Cabe ao indivíduo o autoconhecimento, a fim de alcançar uma harmonia, sempre cuidando para que esse todo essencial não se fragmente, regulando estas atitudes opostas para se adaptar ao ambiente social e físico. Jung ajudava seus pacientes a perceber seus desequilíbrios, recuperando tais unidades comprometidas, e fortalecendo a psique para que pudessem superar possíveis dificuldades futuras. Inicialmente, chamou sua teoria de “Psicologia dos Complexos”, e mais tarde, a partir da experiência prática obtida junto a seus pacientes, passou a chamar de “Psicologia Analítica”. A partir dos estudos sobre os complexos, do estudo dos sonhos e de desenhos, Jung mergulhou profundamente nos diversos meios pelos quais se expressa o inconsciente. A Psicologia Analítica denomina “Complexo Autônomo” as subpartes inconscientes da personalidade. Podemos entender que no processo criativo, cuja energia emerge do inconsciente, analogamente ao que se percebe numa constelação de complexos psicológicos, uma espécie de rede formada de lembranças, pensamentos, fantasias e imagens é sempre carregada de forte carga emocional. As expressões criativas são composições formadas por símbolos, e é o resultado das tentativas de expressar algo que ainda não encontrou um conceito verbal, e também um  

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grande desafio para a nossa compreensão racional. Segundo Jung, nossa psique é formada pela Consciência, pelo Inconsciente Pessoal e pelo Inconsciente Coletivo. Através da arte, conseguimos acessar conteúdos essencialmente subjetivos de um indivíduo, ou seja, aqueles que se encontram no Inconsciente Pessoal e no Coletivo. Tais conteúdos, repletos de imagens relacionadas ao nosso cotidiano, influenciam a consciência, e através das técnicas expressivas, temos a possibilidade de tornar, da melhor forma possível, alguns destes conteúdos inconscientes acessíveis à consciência. Preocupados com os avanços tecnológicos e suas conquistas materiais, muitos indivíduos se distanciam de si mesmos, transformando-se em ilhas isoladas e solitárias. É comum ouvirmos destes indivíduos que apesar de terem tudo, sentem-se vazios. Dinamicamente encorajado pelo arteterapeuta, um individuo pode expressar seus conflitos internos através da criatividade, seja ela a pintura, o desenho, a fotografia, ou seja, produzindo imagens e experiências táteis como a escultura, a colagem, ou ainda através de expressões corporais, como a dança, o teatro, sem contar a potência da música e da literatura como expressões criativas. Trata-se de uma psicoterapia com recursos expressivos, ou seja, a arte tomada como instrumento terapêutico, criando uma conexão importante entre o mundo subjetivo e o mundo objetivo de um indivíduo. Apesar da arteterapia trabalhar com diversos tipos de materiais artísticos, em arteterapia não se exige talento artístico e não se tem o objetivo de avaliação estética. Qualquer um pode beneficiar-se das expressões criativas e quanto mais natural e intuitivo for o individuo perante a técnica, maiores serão suas possibilidade de descobertas sobre si mesmo. A produção de material expressivo proporciona ao indivíduo a possibilidade de representar em imagens seus conteúdos subjetivos, motivando um olhar consciente sobre estes conteúdos, além de facilitar qualquer dificuldade em expressar sentimentos e sensações verbalmente. A seguir, apresento alguns conceitos da psicologia analítica que servirão ao embasamento desse estudo. 1.1. Persona “ Cada um tem em si algo do criminoso, do gênio e do santo.” ( JUNG, 1971, p. 36 )

 

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A palavra persona tem origem no latim e significa “máscara”, que na antiguidade era usada pelos atores do teatro grego. Para Jung, a persona é um arquétipo que possibilita ao indivíduo construir um personagem, ou seja, uma máscara usada com o intuito de provocar uma boa impressão ao outro, e, portanto, ser aceito pela sociedade. Segundo Jung, “Ao analisarmos a persona, dissolvemos a máscara e descobrimos que, aparentando ser individual, ela é no fundo coletiva; em outras palavras, a persona não passa de uma máscara da psique coletiva. No fundo, nada tem de real; ela representa um compromisso entre o indivíduo e a sociedade, acerca daquilo que alguém parece ser: nome, título, ocupação, isto ou aquilo. De certo modo, tais dados são reais; mas, em relação à individualidade essencial da pessoa, representam algo de secundário, uma vez que resultam de um compromisso no qual outros podem ter uma quota maior do que a do indivíduo em questão.“ (JUNG, 2011, p. 43 ) A persona é de extrema importância para a sobrevivência social. Com ela, podemos conviver com as pessoas, especialmente aquelas que nos desagradam. Em qualquer ambiente nos envolvemos com pessoas de todos os jeitos, com pensamentos, culturas e costumes diferentes dos nossos. Construir um personagem para enfrentar estes ambientes com mais tranquilidade traz ao individuo certo conforto. Esta conformidade é sem dúvida um papel importante no convívio social. Muitos indivíduos possuem uma vida dupla, onde parte do dia, dominados pela persona, utilizam-se desta máscara, enquanto no restante do dia, se voltam às próprias necessidades psíquicas. Alguns indivíduos constroem mais de um personagem, se utilizando de mais de uma máscara em seus diferentes convívios. Em muitos casos observa-se a confusão que o individuo pode cometer entre um personagem construído e os aspectos excluídos de sua personalidade, negligenciando a si mesmo, acreditando apenas em suas conquistas profissionais ou na vida social. Um “Ego Inflado” é reconhecido quando um individuo dá mais importância a sua máscara do que a sua própria interioridade. Neste caso, a persona funciona de forma prejudicial e é clara a possibilidade de um desequilíbrio da saúde mental. O resultado desta inflação também pode ser oposto, trazendo sentimentos de inferioridade por se sentir incapaz de corresponder aos padrões exigidos e expectativas do ambiente de convívio. A persona é um recurso mediador entre o mundo subjetivo e o mundo objetivo, uma verdadeira proteção para o Self. Se consciente e bem utilizada, a persona é uma ótima ferramenta para o bem viver, especialmente quando se aproxima da nossa verdadeira individualidade interna, somada à consciência exterior de nós mesmos.  

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1.2. Símbolos A linguagem simbólica pode se desenvolver inconscientemente e espontaneamente, além de se manifestar em nossos sonhos, e também, em outras produções do inconsciente. Ela transforma-se e é transformadora. Em cada imagem simbólica existe um universo de possibilidades com profundas significações. Segundo Jung (1992, p.20 ) “Uma palavra ou uma imagem é simbólica quando implica alguma coisa além do seu significado manifesto e imediato. Esta palavra ou imagem tem um aspecto “inconsciente” mais amplo, que nunca é precisamente definido ou de todo explicado.” O símbolo é uma representação ou tentativa de melhor representar aquilo que não conhecemos por completo. É misterioso e sempre será, pois quando um indivíduo traduz para si um símbolo, este deixa de ser profundo, tornando-se um mero sinal ou signo. Os símbolos emergem do inconsciente, são como expressões do desconhecido, uma linguagem própria do inconsciente, e, portanto, são potentes ferramentas para a reflexão e o autoconhecimento. A produção de formas e imagens através de técnicas expressivas possibilita a manifestação de muitos símbolos. A tentativa de significar estes símbolos pode levar o individuo a ampliar a consciência egóica sobre sua personalidade mais ampla. Observar a vida simbolicamente nos torna mais ricos de possibilidades. 1.3. Sombra Quando pensamos em luz, logo nos vem a ideia da existência da sombra. Assim acontece em nossa psique. Somos feitos de opostos, e, portanto, luz e sombra se completam. Quanto mais nos tornarmos seres iluminados, ou seja, conscientes de nós mesmos, mais sutil será nossa sombra. Portanto, a sombra é o lado escuro da nossa personalidade. A sombra carrega características da personalidade que nos pertencem, mas que por vezes, preferimos rejeitar. São nossas inferioridades, impulsos vergonhosos, pensamentos inaceitáveis, enfim, energias potencialmente perigosas pois se aproximam muito da nossa animalidade, causadoras de muita ansiedade. Segundo Jung, (1992, p.169): A Sombra não consiste apenas de omissões. Apresenta-se muitas vezes como um ato impulsivo ou inadvertido. Antes de se ter tempo para pensar, explode a observação maldosa, comete-se a má ação, a decisão errada é tomada, e confrontamo-nos com uma situação que não tencionávamos criar conscientemente

 

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Quer olhemos para ela ou não, a sombra sempre nos acompanhará pois ela faz parte da personalidade. Muitas vezes projetamos nossa sombra sobre outros, comumente pessoas do mesmo sexo, atribuindo-lhe estas más qualidades que negamos em nós mesmos. As projeções da sombra apenas aumentam tal característica indesejada, produzindo desequilíbrios psíquicos. Por mais doloroso ou indigesto que seja, é importante reconhecer com humildade nossa sombra, admitindo nossas qualidades indesejáveis ou qualquer comportamento desagradável, nos entendendo como indivíduos num processo de autoconhecimento, e, portanto, aumentando a luz da nossa consciência, nos levando ao numinoso. Assim, com o Ego estruturado, o individuo pode canalizar estas energias construindo criativamente saídas para estas dificuldades, inclusive utilizando as personas de modo mais maduro. Em nossa sombra encontramos nosso conteúdo reprimido. Ao sentir raiva, ciúmes ou algum tipo de impulsividade, especialmente com pessoas do mesmo sexo, tomados por atitudes que não nos pertencem, também considera-se como sendo uma manifestação da nossa sombra. Se estamos atentos a nós mesmos, é fácil perceber tais atitudes e quem sabe a tempo de nos modificarmos, diminuindo progressivamente estas manifestações, amadurecendo e seguindo em direção à sabedoria. A sombra também pode se manifestar coletivamente, num grupo de indivíduos agressivos, manifestações coletivas violentas, como por exemplo conflitos e guerras. Podemos encontrar a presença da sombra nos mitos, nos contos de fada, nos contos populares, enfim na literatura, etc. Estamos numa eterna busca da união dos opostos. Somos luz e somos sombra, energias positiva e negativa. A arteterapia é grande aliada nestas descobertas. Através das técnicas expressivas, que permitem trazer à superfície imagens do inconsciente, oferecem ao individuo uma oportunidade de olhar para estes movimentos, trabalhando estes opostos tão característicos do ser humano. No próximo capítulo abordaremos a fotografia, em especial o autorretrato, como possibilidade de expressão criativa.

 

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Capítulo 2 A fotografia enquanto recurso terapêutico A fotografia é uma grande aliada da arteterapia. Hoje, cada vez mais próxima do cotidiano das pessoas, a fotografia também pode ser uma técnica expressiva em que podemos perceber, seja através de imagens dos álbuns de família, instantâneos no celular, ou imagens conscientemente construídas, conteúdos emocionais e significados pessoais, carregados de símbolos, potentes instrumentos para que o arteterapeuta possa ajudar o indivíduo a percebelos e, então, construir seus significados. Visitando a origem das palavras “auto” e “retrato”, podemos entender a essência da palavra autorretrato. Originado do latim “actus”, o prefixo “auto” indica “movimento, ação do orador ou ator, ato de peça de teatro”, enquanto a palavra “retrato” tem origem italiana “ritratto” que significa “fazer a efigie de uma pessoa”. Seguindo adiante, no particípio passado se torna “retrahere”, de “re-“”para trás”, mais “trahere”, “tirar, puxar”, algo como “tirar fora” uma imagem. Lembrando que autós, palavra de origem grega, significa “si mesmo”. Como citado na introdução desse trabalho, um autorretrato é uma forma de registro onde um indivíduo produz uma imagem de si mesmo. Também pode acontecer quando este indivíduo solicita a alguém que o fotografe conforme seu direcionamento. Ainda há aqueles que consideram um trabalho expressivo de qualquer cunho como sendo um autorretrato, já que o mesmo também discorre sobre o próprio individuo. Porém, aqui nos concentraremos no autorretrato realizado pela própria pessoa fotografada, ou seja, o fotógrafo é o retratado. 2.1 Autorretrato fotográfico

 

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Pode alguém estar na frente e atrás de uma câmera, simultaneamente? Com o advento da fotografia digital, podemos perceber um dos principais movimentos culturais da contemporaneidade, conhecido popularmente como selfies. Basta esticarmos um dos braços para produzir um autorretrato. Esta atitude, muitas vezes inconsciente, é publicado nas redes sociais, para que todos vejam, mas nós olhamos para nós mesmos? É comum ouvirmos dizer que um bom retrato capta a totalidade de quem está sendo retratado, porém, sabemos da complexidade psicológica da psique humana o que torna esta tarefa, portanto, basicamente impossível. Talvez, ao produzirmos um autorretrato, conheceremos um pouco mais desta totalidade, ou pelo menos estaremos proporcionando uma experiência de nos olharmos de uma forma diferente, com a possibilidade de olharmos para nós mesmos. Portanto, os autorretratos são como um espelho e podem ser utilizados como uma ferramenta poderosa de observação de si mesmo. Os autorretratos podem ser tanto objetivos como subjetivos, espontâneos ou planejados. Não importa o caminho, o importante é ter consciência de que não temos consciência da maior parte de nós e especialmente ter coragem, a partir daí, para seguir observando nossos conteúdos e nos transformando, passo a passo, em direção a nossa individuação. 2.1.1 Sombra no autorretrato Podemos dizer que a Sombra refere-se àqueles aspectos que ficam recalcados na personalidade, assim como os que permanecem internamente latentes em um indivíduo, e que são pontos fortemente contrastantes com a consciência. Num autorretrato a sombra pode se apresentar num olhar, num gesto, na forma de se vestir, numa imensidão de símbolos que o individuo terá para mergulhar em si mesmo. Com a ajuda do arteterapeuta, o individuo poderá, num crescente, ir tomando consciência de suas escolhas e pensamentos, antes mesmo do fotografar-se. O problema da sombra refere-se à dissociação da consciência. Grande parte da sombra de um indivíduo não é consciente e é como se fosse negativa enquanto se encontra na escuridão. A expansão se faz através das turbulências, a vida estática é a morte. O objetivo maior não é o de que o individuo fique bem, mas seja capaz de compreender que não tem que se curar disto, mas entender seus processos internos a fim de conseguir transpor as dificuldades que encontrará por toda a vida. Esta é a natureza humana. Se o Eu está aberto e disposto a dialogar com estes aspectos desconhecidos do si mesmo, então utilizamos a sombra  

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para o próprio desenvolvimento. Não podemos rejeitá-la. Atitudes e traços de personalidade indesejáveis, especialmente pela sociedade são padrões que não são sempre de todo mau ou destrutivos, desde que o indivíduo tome consciência nesta direção. A experiência de um primeiro autorretrato pode ser uma imensidão de oportunidades, desde constrangedora a libertadora, tudo dependerá do tipo psicológico do indivíduo, dos complexos que poderão ser ativados nesta experiência, além de sua disposição para tal, sendo portanto, uma grande oportunidade de incursão no estudo da representação do Ego, e também, na relação do indivíduo e suas personas. Podemos produzir uma série de autorretratos, mas para que eles tenham algum efeito terapêutico, precisamos entende-los dentro de um processo, assim como todas as outras técnicas expressivas. Uma imagem fala muito sobre nós, mas o que não fala? O que leva um individuo a escolher um enquadramento, escondendo parte de seu corpo, por exemplo? O que estará sendo negligenciado neste enfoque? Se olharmos superficialmente para um individuo que sorri, poderemos considera-lo o mais feliz neste dado instante, mas será mesmo felicidade o que este individuo carrega naquele momento? As fotografias produzidas por Gillian Wearing não se tratam de autorretratos, mas são ferramentas interessantes para refletirmos o que de verdade carregamos dentro de nós e como nossas Personas podem nos ajudar apresentando, por vezes, uma imagem tranquila no lugar de um desespero. Gillian pede ao fotografado que discorra em palavras o sentimento que lhe vem naquele momento e pede para que escreva num papel uma frase ou palavra que represente isto. Olhando para as imagens, podemos perceber que para alcançar nossa verdade, precisamos mergulhar fundo em direção à subjetividade.

Por outro lado, um indivíduo pode ser surpreendido por ideias, sensações e emoções de um autorretrato construído num enquadramento inesperado.  

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Por que alguns indivíduos evitam ser fotografados? Talvez por temer não ser aceito ou ser motivo de piadas, por perfeccionismo, por ter uma baixa autoestima, enfim por diversos motivos ligados a insegurança. Em uma pesquisa feita através das redes sociais, podemos perceber algumas destas características acima (Ver Apêndice 1). Aprender a aceitar nossas fraquezas, vícios, erros, formas de ser e agir, incluindo nossa aparência. Aceitar que não somos perfeitos e que a perfeição está justamente aí. O amor a si próprio é força motriz para o autoconhecimento, é ele quem atende o chamado interno para o processo de individuação. Quando nos encontrarmos com o nosso próprio medo, não mais nos aterrorizaremos com ele. Este é o começo da cura e do entendimento de si mesmo, conforme a advertência de Jung (1992, p.173) Vai depender muito de nós mesmos a nossa sombra tornar-se nossa amiga ou inimiga... nem sempre a sombra é necessariamente um elemento de oposição. Na verdade, ela se parece com qualquer ser humano com que temos de nos relacionar, algumas vezes cedendo, outras resistindo, outras ainda dando-lhe amor – segundo as circunstâncias. A sombra só se torna hostil quando é ignorada ou incompreendida.

É imprescindível o acolhimento do arteterapeuta neste desenrolar de descobertas, olhar para dentro e para nossa sombra exige persistência, coragem e acima de tudo fé de que a partir deste autoconhecimento nos tornaremos mais fortes a fim de enfrentarmos as dificuldades da vida, aliviando sintomas e angústias. O valor está quando um indivíduo percebe um comportamento seu, indesejável, ou numa intensidade de um distúrbio emocional. A autoconsciência é uma das grandes oportunidades divinas do ser humano. “Segundo Aristóteles, “Todos os seres humanos desejam naturalmente conhecer”, o mundo, o outro, a nós mesmos. Todo conhecimento imprime uma representação.” (O livro da filosofia, 2011, p. 60) 2.1.2 Processo criativo “Ah, ah! Disse a mim mesmo, aqui há vida! O garoto anda por perto e possui uma vida criativa que me falta. Mas como chegar a ela?” ( JUNG, 1963, p. 162) A criatividade auxilia a autoestima, através dela encontramos saídas inesperadas para as dificuldades da vida. Precisamos estar abertos a novas possibilidades, da espontaneidade e  

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da vontade do autoconhecimento, a fim de nos libertarmos dos nossos padrões para criar novas maneiras de ver as coisas. O homem elabora seu potencial criador através do trabalho. É uma experiência vital. Nela o homem encontra sua humanidade ao realizar tarefas essenciais à vida humana e essencialmente humanas. A criação se desdobra no trabalho porquanto este traz em si a necessidade que gera as possíveis locuções criativas. Nem na arte existiria criatividade se não pudéssemos encarar o fazer artístico como trabalho, como um fazer intencional produtivo e necessário que amplia em nós a capacidade de viver. Retirando à arte o caráter de trabalho, ela é reduzida a algo de supérfluo, enfeite talvez, porém, prescindível à existência humana. (OSTROWER,2013, p. 31)

Mergulhando nesta espontaneidade e na experimentação de novas identidades, seguiremos reformulando a nós mesmos, alimentando a criança que existe dentro de nós. Se nos observamos intelectualmente, aproveitando a espontaneidade das coisas, com um olhar criativo, podemos nos beneficiar de grandes descobertas sobre nós mesmos. Como vimos anteriormente, é no calor destas descobertas que se encontra o que mais nos interessa, pois em tais momentos estão os maiores indícios dos novos caminhos. O autorretrato, como técnica expressiva, pode ajudar o indivíduo a tomar consciência de alguns aspectos de sua sombra, transformando seu olhar sobre estes pontos da personalidade em uma grande fonte de energia e criatividade. O exercício do autorretrato oferece ao individuo a oportunidade de se observar literalmente por diversos ângulos. Quanto mais nos fotografamos, mais nos olhamos, menos constrangidos ficamos. Aumenta, assim, a possibilidade de perceber revelações importantes sobre nós mesmos. Através de um autorretrato, podemos materializar imagens, verbalizando o que por vezes as palavras não conseguem expressar. A materialidade não é, portanto, um fato meramente físico mesmo quando sua matéria o é. Permanecendo o modo de ser essencial de um fenômeno e, consequentemente, com isso delineando o campo de ação humana, para o homem as materialidades se colocam num plano simbólico visto que nas ordenações possíveis se inserem modos de comunicação. (OSTROWER, 2013, p.33)

Muito provável que ao olhar para uma imagem onde não consideramos “estar bem”, possamos observar revelações importantes sobre nós mesmos. Provavelmente estaremos olhando para nossa sombra. É um bom momento para nos indagarmos: O que nos incomoda na imagem? O que não queremos ver? O que precisamos fazer para mudar este sentimento? Existe ainda um sentimento de constrangimento de fotografar-se. Muitos indivíduos se consideram infantis, e portanto, desconfortáveis com essa experiência. Uma sensação de estar regredido e inadequado na situação.  

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Olhar para nós mesmos é por vezes constrangedor. Se soubermos escutar o que a imagem nos fala, aproveitando ao máximo a oportunidade de nos examinarmos, estaremos passo a passo no caminho do autoconhecimento, aceitando nossas formas de reagir a determinadas circunstâncias, entendendo pouco a pouco nosso processo de individuação e iluminando nossa alma com entendimento e amor próprio. Este é o segredo da ação da arte. O processo criativo consiste numa ativação inconsciente do arquétipo e numa elaboração e formalização da obra acabada. De certo modo a formação da imagem primordial é uma transcrição para a linguagem do presente pelo artista, dando a cada um a possibilidade de encontrar o acesso às fontes mais profundas da vida que, de outro modo, lhe seria negado. (JUNG, 1985, p.71)

A arteterapia através das expressões criativas, aqui representada pela fotografia de autorretrato, possibilita ao individuo este envolvimento simbólico, evocando seus conteúdos psíquicos, proporcionando uma autonomia deste individuo acionando processos não-verbais, como por exemplo, a sensação e a intuição, entre outros sentidos subjetivos. Com a popularização da fotografia, o arteterapeuta pode somar esta técnica, em especial o autorretrato às suas técnicas de expressão criativas, ampliando suas possibilidades e criando novas oportunidades para seus pacientes encontrarem novos caminhos de descoberta, ajudando em suas percepções sobre si mesmos, dialogando com sua sombra e elaborando criativamente o entendimento sobre suas qualidades e fraquezas, transformando seus pontos fracos ou tendo uma maior consciência sobre eles, amplificando este entendimento em direção ao autoconhecimento. No próximo capítulo apresento as possibilidades da fotografia, em especial do autorretrato, como técnica expressiva para o desenvolvimento do autoconhecimento na arteterapia junguiana.

 

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Capítulo 3 O autorretrato e suas possibilidades de expressão criativa É comum ouvir que um bom retratista é aquele que consegue captar a totalidade do retratado, mas sabemos que esta colocação pode ser considerada impossível, visto a complexidade da psique humana. Porém, um retrato é sempre carregado de símbolos e traz em si a possibilidade do mergulho em camadas profundas e cheias de significados simbólicos. Olhar uma imagem construída por nós mesmos nos fortalece a ideia de quem gostaríamos de ser. Esta já é uma das grandes ferramentas da fotografia, já que possui a qualidade de reproduzir o que chamamos de real. Quanto mais nos olharmos, mais conheceremos nossa imagem, e portanto, mais informações teremos sobre nós mesmos, assim transformamos o olhar em autopercepção, proporcionando cada vez mais o autoconhecimento. As imagens são carregadas de símbolos que expressam conteúdos subjetivos que por vezes não podem ser expressos através das palavras. Ao nos vermos retratados, uma imensidão de sentimentos pode vir à tona, reações como a de surpresa, encantamento, repulsa, são comuns nestes momentos. Para favorecer o dançar expressivo, é bastante útil desorganizar estes hábitos e renegociar com as couraças, permitindo a emersão do movimento criativo, onde a consciência participa, mas não dirige; coopera, mas não escolhe, permitindo assim que o inconsciente fale e se atualize perante a consciência. (MACIEL e CARNEIRO, 2012, p.155)

Assim como na dança expressiva, o autorretrato também deve ser uma ferramenta de espontaneidade, a fim de libertar tais amarras e deixar que o novo se instaure. Através deste processo de contato com nossa interioridade, nos permitindo ser afetados por estas imagens e sentimentos simbólicos, nos colocamos em movimento, enchendo a vida de novos significados. Com criatividade temos a escolha de estruturar nossa  

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consciência, seguindo em direção ao autoconhecimento, na tentativa de integrar nossas ambiguidades. Interrogar os afetos e símbolos que se tornaram visíveis, aqueles que nos convocam, procurando encontrar onde se localiza nossa aflição e qual universo se estabelece neste fragmento é aproveitar todo o potencial de uma expressão criativa. O autorretrato carrega a imagem do corpo, horizonte de personagens que nos habitam. Trata-se de pensamentos, percepções e sentimentos que nos escapam a consciência e que por contingência destes exercícios de autoconhecimento, poderemos ter a esperança de vislumbrar algo novo nesta direção, trazendo à tona novas alternativas através deste processo arteterapeutico aqui apresentado: o autorretrato. Somos muitos, e somos feitos de imagens, os autorretratos, através de suas representações, nos dão a chance de experimentar a construção de imagens, ricas em símbolos e significados, expressando o que a linguagem oral não dá conta. Neste capítulo abordarei algumas possibilidades de expressão criativa utilizando o autorretrato como técnica expressiva em um setting de arteterapia ou qualquer outro ambiente arteterapeutico. Como pesquisa documental, este estudo não apresenta observações empíricas, entretanto, a intenção principal é proporcionar uma contribuição à arteterapia no sentido de incluir ou ampliar seu leque de intervenções em diferentes espaços terapêuticos. 3.1 Oferecendo a possibilidade do autorretrato Um indivíduo pode ser estimulado a produzir seus autorretratos sozinho, trazer imagens já feitas ou produzir novas imagens no consultório junto com o arteterapeuta. Tudo dependerá dos objetivos do processo terapêutico e das condições da personalidade do paciente. A produção destas imagens no setting proporciona ao arteterapeuta o acompanhamento total de todo o processo, proporcionando, portanto, ainda mais possibilidades de exploração dos sentimentos que o paciente possa apresentar ou que deseja representar neste momento. O arteterapeuta atento a estas manifestações, estará assim, ajudando seu paciente a encontrar saídas criativas para suas necessidades psíquicas. Raiva, amor, tristeza, alegria, preguiça, etc, são alguns dos sentimentos que podemos indicar para um individuo estar representando num autorretrato. Pode-se, também, pedir que relembre de algum momento da sua vida, em especial daqueles em que se sentiu contrariado, a fim de tentar entender seus pontos fracos, que por vezes se repetem por toda a vida e que ficam latentes e adormecidos ou que são reprimidos. Este tipo de exercício pode proporcionar a um paciente a percepção de que se pode melhorar uma conduta em uma  

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próxima oportunidade que venha de encontro com estas contrariedades, nos tornando mais fortes, conscientes e confiantes. É muito importante lembrar que muitos indivíduos não se sentem confortáveis ao serem fotografados, e em sua maioria nunca experimentaram se fotografar, ou são extremamente exigentes quanto ao resultado. Creio que estes indícios sejam um bom começo para refletir sobre estas impossibilidades, onde o exercício de olhar-se poderá transformar o pensamento que o individuo tem sobre si mesmo. 3.2 Sugestões e possibilidades técnicas de fotografia Com o advento da fotografia digital, o uso desta técnica como expressão criativa se faz simples. Mesmo com o uso de um celular popular é possível produzir autorretratos como os já citados selfies. Existem muitos aplicativos disponíveis que oferecem uma diversidade incrível de soluções e possibilidades a fim de criar fotografias. Talvez abordar um cliente a partir desta perspectiva seja um ótimo início para a exploração de novos autorretratos. A aquisição de uma câmera compacta ou semiprofissional, entre outros simples equipamentos fotográficos, pode contribuir para autorretratos mais elaborados, ampliando a possibilidade de exploração da imagem de si mesmo. Com um equipamento básico é possível alcançar a construção de ótimos resultados fotográficos. ( Ver Apêndice 2 ) Os autorretratos podem ser diretos ou indiretos, ou seja, os diretos se fazem através dos próprios braços esticados, mirando a câmera para si, ou com a câmera posicionada em um tripé; os indiretos são feitos a partir do reflexo da nossa imagem em alguma superfície, normalmente o espelho, mas podemos também nos aproveitar dos reflexos de qualquer outra superfície brilhante. 3.3 Explorando o autorretrato como expressão criativa O arteterapeuta deve ajudar seu paciente a reconhecer seus pensamentos e emoções durante o processo de construção de sua imagem, aproveitando todas as instâncias como ferramentas de pesquisa sobre si mesmo. Quanto mais atento o paciente estiver sobre seus pensamentos, memórias, reações corporais e instintivas, mais rica será esta atividade. O que pensamos sobre nós mesmos pode ser apresentado em um autorretrato, mas muitas surpresas surgirão se conseguirmos nos distanciar de nós mesmos a fim de ter um olhar “de fora”, como se olhássemos para um outro individuo, nos perguntando sempre “Quem é este? Quem sou eu?”, estimulando a procura pelo encontro com aspectos do Self.

 

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Um autorretrato proporciona a possibilidade de um olhar mais subjetivo, paradoxalmente numa posição mais objetiva de si mesmo. O arteterapeuta pode, se assim desejar, dividir a atividade em diversas sessões, sendo uma primeira dedicada à conversa sobre a possibilidade da construção de um autorretrato com o cliente; uma segunda sessão dedicada à captação propriamente dita da imagem, discutindo com seu cliente sobre suas experiências neste sentido; a terceira sessão seria dedicada à “leitura” do material produzido, e quem sabe até sugerir que seu cliente se utilize de outras técnicas expressivas sobre a fotografia realizada, como por exemplo a pintura, o desenho, a colagem, ou a soma destes. Apresento algumas possibilidades do uso do autorretrato fotográfico como expressão criativa, não há regras, não há sequências lógicas, o importante é experimentar essa possibilidade e expressar imagens, trazendo à tona o inconsciente. Tais imagens podem ajudar muito no entendimento do individuo, deixando que a espontaneidade tome conta daquele que experimenta se autorretratar. 3.3.1. Exercícios aleatórios Como numa brincadeira com o corpo, através de disparos sequenciais, aparentemente aleatórios, o cliente pode produzir uma série de imagens resultando momentos interessantes do registro das expressões do seu corpo, muitos provavelmente nunca percebidos pelo cliente, trazendo a possibilidade criativa de observar estes pontos cegos, novos ângulos, muito diferentes daqueles obtidos com a foto “posada”, obtida com maior controle consciente. Uma experiência muito próxima de se ver, mas num distanciamento maior. Neste caso, o ambiente deve ser espaçoso. Posicione a câmera em um tripé estável, deixe que o paciente determine o enquadramento, ou faça isso conforme for obtendo seus resultados até chegar ao desejado, oferecendo um controle remoto ou instruindo sobre o uso do timer da câmera. O uso do flash pode contribuir para um melhor registro destes movimentos. Um salto, uma representação, o ritmo dos clicks é dado pelo paciente. Em 1877, Eadweard Muybridge, autor da sequência de fotografias abaixo, foi o primeiro fotógrafo a registrar o movimento de um cavalo. Até então não sabíamos que os cavalos, quando correm, em determinado momento, deixam de tocar o solo com as quatro patas. O que não sabemos sobre nós? O que um paciente pode descobrir sobre aspectos de sua sombra, aqueles que são desconhecidos ou temidos por ele mesmo?

 

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3.3.2. Retratando sentimentos Depois de escolhido um sentimento pelo paciente, a vontade de registrar este sentimento permitirá um olhar “de fora” do cliente para si mesmo. Como no espelho, mas agora de olhos e coração abertos, observando sua imagem impressa e carregada de possibilidades de entendimento sobre aquele determinado sentimento que o afetou e que pode ajudar num sentido de transformação. Coloque a câmera no tripé, ofereça ao paciente um espaço para representar e ajude-o a posicionar a câmera. Pode-se utilizar equipamento de estúdio, como apresentado no Apêndice 2, ajudando o paciente a construir sua imagem com luz e sombra. Na imagem abaixo, um autorretrato através da pintura, feito em 1841, de Gustave Coubert, cujo título é “Homem desesperado”. Qual emoção tem nos tomado ultimamente? O que nossos olhos tem a nos dizer? Que parte do retrato desperta maior atenção no paciente?

Escolher um sentimento universal para o cliente retratar também pode ser um bom caminho para a investigação da sombra. Pedir para o cliente autorepresentar o amor, por exemplo, permite ir ao encontro de símbolos corporais, proporcionando uma grande reflexão sobre si mesmo. Inspirado em Narciso, um dos mais famosos contos da mitologia, o

 

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arteterapeuta pode trabalhar com o auxilio de um grande espelho, onde o paciente possa se ver e se fotografar. Na imagem abaixo temos um autorretrato de Frida Khalo. “O Marxismo Dará Saúde aos Doentes” foi produzido por volta de 1954, mesmo ano de morte da artista. ““Pela primeira vez, deixei de chorar”, disse a propósito deste quadro.” (KETTENMANN, Andrea, 2010, p. 85). Frida produziu muitos autorretratatos com a ajuda de um espelho. Assim como Narciso fitava sua imagem no leito de um rio, Frida também se olhava através de um espelho fixado no teto de seu quarto, a fim de continuar a produzir suas pinturas enquanto estava acamada.

Ao nos olharmos por longo tempo talvez lembremos do narcisismo, ou excesso de amor próprio. Mas nos olharmos com amor não é questão fundamental para o nosso autoconhecimento? Qual parte do nosso corpo melhor representa o amor que existe em nós? Existe amor dentro de nós? Dividimos com quem este amor existente? E, também, ao contrário. Que partes do corpo não podem ser amadas ou são negligenciadas, por gerar conflitos com a persona?

3.3.3. Retratando momentos de vida Além dos sentimentos, o arteterapeuta também pode sugerir a construção de autorretratos que remetam a diversas situações sociais, ou momentos de vida, como por exemplo, algum momento da infância do paciente, alguma exigência familiar, desejos retraídos, alguma possibilidade de representar sua autoestima, sobre como se sente naquele momento ou gostaria de se sentir no futuro. Objetos de cena, agregados ao ambiente do  

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espaço terapêutico podem ajudar o cliente a representar estes momentos, além de experienciar possíveis personagens. Deixa-los a disposição pode colaborar com a fluidez destas necessidades. Na imagem abaixo, Duane Michals se autorretrata, em 2000, experimentando a personagem de Cindy Sherman, uma fotógrafa contemporânea, norte-americana, cujo trabalho discute personagens de filmes através de seus autorretratos. O que pode significar experimentar ser outra pessoa? Quais são nossas personas? Porque escolhemos estas? O que elas falam sobre nossa sombra?

Olhar um autorretrato antigo também pode ser um grande exercício de reconhecer-se, comparando o que fomos com o que nos tornamos hoje. Robert Cornelius, em 1839, foi o primeiro fotógrafo a produzir um autorretrato. O que deixamos de ser? Quais as principais mudanças que podemos perceber em nós mesmos? O que nos transformou no que somos hoje? O que faríamos diferente? O que me fez me tornar assim? O que posso fazer para me transformar daqui pra frente? O que tenho que deixar para traz para seguir em frente?

 

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3.3.4. Diálogo com as imagens Diante das fotografias produzidas, independentemente de como tenha sido o processo, pode-se propor uma série de perguntas para o paciente, além das já apresentadas: Quais são as emoções que surgiram enquanto produzia este autorretrato? Existe algum sentimento de raiva? Existe algum sinal de conflito? Há alguma nova característica física e/ou psicológica ao olhar para esta imagem? Surgiu algum pensamento ou imagem importante? Esta imagem aponta para qual momento da sua vida? Quais memórias evocam esta imagem? Esta imagem lembra alguma pessoa da sua família? Alguém querido ou desagradável? Esta imagem esconde algo? Ela revela algum segredo? O que este personagem gostaria de dizer? O que esta pessoa gostaria de fazer agora? Quem é esta pessoa retratada? Quais são suas qualidades e defeitos? Como esta pessoa é vista pelos outros? Como ela gostaria de ser vista? Como descreveria a pessoa que está nesta imagem? Você gosta do que vê? Por quê? Alguma parte do corpo demonstra tensão? Suas qualidades ou defeitos? Existem partes do corpo que demonstram antagonismos? Para quais partes deste corpo você ainda não olhou? Gostaria de mudar este autorretrato, o que mudaria? Você mostraria este autorretrato para alguém? Conversando com esta pessoa, o que você gostaria de dizer? Enfim, as possibilidades do autorretrato em um setting de arteterapia são múltiplas. Assim como qualquer outra atividade oferecida ao paciente, o arteterapeuta deve saber quando e para quem deve oferecer tal oportunidade. Pode-se iniciar a construção de um autorretrato através de um desenho, pintura ou escultura, migrando progressivamente para a fotografia, assim como pode-se partir da fotografia para outras expressões criativas. O tempo e a oportunidade será dada pelo próprio paciente e o arteterapeuta deve estar sempre atento a estes sinais. Um arteterapeuta deve sempre se preocupar em manter uma posição ética e respeitosa frente aos resultados obtidos pelo paciente. Uma imagem de autorretrato ou exploração obtida pode trazer um desconforto ao paciente e é nesta situação de confiança e amor que seu paciente se sentirá seguro para seguir com suas explorações, refletindo e experimentando a beleza do autoconhecimento, aceitando o que entende como sendo suas boas e más qualidades, seus erros e acertos, em direção a sua sabedoria, aliviando sua sombra e aumentando a luz de sua consciência.

 

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Conclusão Ao refletir sobre a Sombra e as possíveis imagens elaboradas através de um autorretrato fotográfico, foi confirmada a hipótese inicial de que esta técnica expressiva é um recurso arteterapeutico contemporâneo, que faz uso de ferramentas da tecnologia a favor do dialogo do individuo com a sombra na construção de seu autoconhecimento. De fácil aplicação e rico em possibilidades de imagens, o autorretrato apresenta um potencial simbólico que poderá levar o individuo a despertar esta reflexão subjetiva através de seu olhar objetivo. Com a possibilidade de exercícios da representação de personagens, que pretendem experimentar sentimentos ou estados psíquicos de um individuo, foi possível observar a quantidade de símbolos e de questões proporcionadas a partir de um autorretrato. De acordo com estas reflexões, concluí que a alternativa da construção de um autorretrato traz ao individuo a possibilidade de auto percepção, despertando seu olhar sobre alguns aspectos de seu universo anímico e a maravilhosa possibilidade de conhecer e integrar criativamente os aspectos sombrios, então percebidos, de sua personalidade. O amor a si próprio é a força motriz do nosso desejo interno de autoconhecimento e é este momento interno que nos conduz ao processo de individuação; e autoconhecer-se é olhar para si, com amor e compreensão a fim de entendermos estes fenômenos da alma. Diante desta conclusão, entendo que este estudo com base na Psicologia Analítica de Carl Gustav Jung, apesar de merecer um aprofundamento teórico, também atingiu seu objetivo: o de apresentar o autorretrato fotográfico como uma interessante possibilidade técnica de expressão criativa a ser utilizada pelo arteterapeuta, além de suas potencialidades como caminho rico de oportunidades e cheios de energia psíquica proporcionando um diálogo criativo com a sombra e a possibilidade de expansão do autoconhecimento.

 

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REFERÊNCIAS

CANTON, Katia. Espelho de artista: autorretrato. São Paulo: Cosac Naify, 2009. 53p. JUNG, C.G. O espirito na arte e na ciência. Petrópolis: Editora Vozes, 1985. 140p. ______ O eu e o inconsciente. Petrópolis: Editora Vozes, 2011. 200p. ______ Freud e a psicanálise. Petrópolis: Editora Vozes, 1989. ______ O homem e seus símbolos. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1992. 316p. ______Memórias, sonhos, reflexões. São Paulo: Círculo do Livro, 1975. ______ A natureza da psique. Petrópolis: Editora Vozes, 1984. 402p. KETTENMANN, Andrea. Kahlo 1907-1954: dor e paixão. China: Taschen, 2010. 96p. MACIEL, Carla; CARNEIRO, Celeste (org.). Diálogos criativos entre a arteterapia e a psicologia Junguiana. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2012. 203p. O LIVRO da filosofia. São Paulo: Globo, 2011. 352p. OSTROWER, Fayga. Criatividade e processos de criação. Petrópolis: Editora Vozes, 2013. 186p.  

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APÊNDICE 1 Você gosta de ser Fotografado(a) ou não? “Não gosto, sempre fujo para não ser fotografada, detesto... “Eu não gosto muito naum sabe! Tem pessoas que gostam de nos pegar desprevenidos batem fotos toscas pra depois estarem rindo de nossa carinha!” “Na verdade até gosto. Mas gosto mais de fotografar. Sou fotografo amador.” “naum gosto muito naum, fiko sempre com ar de serio kkkkkk” “sim =] so mt fotogenica, e linda! ai sempre saio bem na foto“ “Não sou muito chegado não... mas o pior é que as vezes não da pra fugir kkk” “Apenas quando eu to bem fisicamente,com o cabelo cortado e usando uma roupa boa. Mas nao gosto que fiquem tirando fotos sem minha autorização. Uma vez eu vi umas fotos antigas minhas com o cabelo bagunçado no orkut de uma amiga kkk.” “Minha cara não sai bem em nenhuma foto!! Naturalmente eu sou bonita, mas na foto... argh!! É um horror, e também eu sou tímida, não gosto que uma pessoa fique focando em mim pra bater uma foto” “Ñ,ñ sou fotogênico,e me acho horrível de feio,mas algumas pessoas dizem que sou bonito!(mas eu acho que ñ sou) “Adoro só não gosto de ficar fazendo poses, só ao estilo natural.” “Não! Não sou muito fotogênico.... É sempre aquela história - ''SEMPRE SAIO FEIO NAS FOTOS'' é TERRIVEL... “ “Nãaao eu me escondo sempre atraz de uma pessoa qualquer para não aparecer nas fotografias kkk”  

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“Não sou fotogênico e detesto tirar fotos; mas quando pego de surpresa minhas fotos saem bem melhor. Tem muitos sites aqui que pedem fotos nossa; nossa, pra mim isso é terrível que fico catando entre todas as que tenho uma que seja menos ruim. Interessante, é que muitas fotos minhas que acho horrorosas, tem gente que gosta!” Depoimentos retirados de uma rede social na internet.     (  https://br.answers.yahoo.com/question/index?qid=20100509103531AAbiT9n )

 

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                  APÊNDICE    2  

 

Sugestão de equipamentos para o exercício do autorretrato em arteterapia: Câmera compacta ou semiprofissional: aqui o importante é a possibilidade do timer ou controle remoto. Algumas câmeras oferecem um display que se movimenta a fim do fotografado conseguir se visualizar encontrando seu melhor ângulo. O flash embutido é também um ótimo recurso. Cartão de memória: normalmente os cartões de memória acompanham as câmeras fotográficas, porém pode-se investir em cartões com maior capacidade de memória. A diferença está entre o tamanho e a quantidade de dados que serão armazenados neste cartão. Leitor ou cabo usb: os cabos usb ou similares habitualmente acompanham as câmeras fotográficas. É possível também adquirir um leitor de cartão de memória ou ainda transferir os arquivos via wiffi ou até mesmo introduzir diretamente em um computador ou impressora, dependendo do equipamento existente. Tripé de câmera: quanto mais pesado mais estável. É importante a câmera estar segura e o fotografado estar tranquilo em relação a esta estabilidade do equipamento, deixando com que esta experiência flua sem outras preocupações. Impressora: quanto melhor a qualidade de impressão, mais detalhes teremos do autorretratado. Isto pode ser primordial na discussão sobre uma imagem. É possível imprimir estas imagens em um laboratório, diminuindo os custos com uma impressora.

 

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Opcional: tripé para flash: Assim como o tripé de câmera, quanto mais pesado mais estável. Os tripés de flash variam de altura além dos pesos. O ideal é utilizar um que tenha alcance aproximadamente de 2 metros de altura. Assim é possível iluminar alguém de estatura mediana, em pé. Opcional: flash de estúdio: existem diversos tipos de flash de estúdio. Utilizando um flash simples e de pouca potência, acionado através de uma fotocélula, podemos posicionar a luz distante da câmera e em lugares diferentes, criando sombras e volumes que podem auxiliar criativamente na construção destas imagens. É possível também a utilização de um flash externo de câmera. Opcional: acessórios de iluminação: os acessórios de iluminação, como por exemplo os refletores ou soft box são interessantes para uma composição ainda mais elaborada. rebatedores e bandeiras são outros acessórios simples que contribuem para belos resultados. Opcional: fundos de tecido e papel são boas saídas quando se deseja neutralizar o ambiente onde está se produzindo o autorretrato.

Conhecidas como sombrinhas, este equipamento é leve e de fácil manuseio.

 

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