A teia invisível: informação e contrainformação nas redes de ONGs e movimentos sociais (tese de doutorado)

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A teia invisível Informação e contra-informação nas redes de ONGs e movimentos sociais Sonia Aguiar Lopes Tese de doutorado em Comunicação Área de concentração: Ciência da Informação Linha de pesquisa: Informação, Sociedade e Tecnologia Orientadoras: Profª Drª Gilda Maria Braga Profª Drª Maria Nélida González de Gómez

Rio de Janeiro 1996 ESCOLA DE COMUNICAÇÃO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO ECO/UFRJ PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO INSTITUTO BRASILEIRO DE INFORMAÇÃO EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA – IBICT

Às minhas orientadoras, Gilda Braga e Nélida González, e a todos os amigos que me deram força para eu não desistir deste projeto quando o mundo parecia desabar sobre a minha cabeça. À minha mãe espiritual Sonia Yaomideci Barbosa, pelo carinho e o axé. À minha prima Márcia, com quem aprendi muito nos últimos meses. A Sylvia Moretzsohn, pela revisão crítica. Às runas que disseram que eu iria sorrir no final. Que elas estejam certas...

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Resumo Esta pesquisa trata das estratégias e possibilidades de informação e contra-informação nas redes de ONGs e movimentos sociais no contexto das novas relações entre sociedade civil, Estado e mercado deste fim de século, tendo como pressuposto a existência de padrões desiguais de difusão de saberes que excluem amplas parcelas da população mundial, deixando o controle dos processos comunicativos nas mãos das elites políticas, econômicas e intelectuais, sejam elas conservadoras, democrático-pluralistas

ou

contra-hegemônicas.

Nesse

contexto,

alguns

detentores

de

conhecimento especializado têm colocado sua competência técnica “a serviço” dos movimentos sociais e da emancipação de setores dominados ou subalternos, constituindo “colégios invisíveis” de “contra-especialistas” com objetivo de produzir novos consensos em torno de questões que afetam a vida cotidiana de comunidades locais e o futuro da “sociedade planetária”.

Abstract This research discusses strategies and possibilities of information and counterintelligence on NGOs and social movements networks, in the context of new relations between civil society, State and the market. This approach follows the conjecture that there are unbalanced flows of diffusion of knowledge wich exclude a wide portion of world population, so that communication control rests on political, economic and intelectual elites, be them conservatives, democratic-pluralists or couterhegemonic. In this context, some specialized professionals have decided to use their tecnical expertise “in the service of” social movements and to help emancipate subordinate populations. They form “invisible colleges” of “counterexperts” who aim get new consensus about issues wich affects communities everyday lives and the future of “planetary society”.

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SUMÁRIO Introdução .................................................................................

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Hipótese: a lógica reconstruída .................................................

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1 As ordens dos discursos .........................................................

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1.1 Caos e complexidade .............................................................................. 1.2 Imprecisão e incerteza ............................................................................ 1.3 Ciência e ciências sociais ......................................................................... 1.4 Ciência e senso comum ........................................................................... 1.5 Conceitos nebulosos ............................................................................... 1.5.1 informação ............................................................................... 1.5.2 contra-informação .................................................................... 1.5.3 movimentos sociais .................................................................. 1.5.4 ONGs ...................................................................................... 1.5.5 redes ........................................................................................ 1.6 Metodologias .......................................................................................... 1.6.1 A análise de redes ..................................................................... 1.6.1.1 Nascimento de uma especialidade .............................. 1.6.1.2 Técnicas de análise .................................................... 1.6.2 Procedimentos da pesquisa .......................................................

20 30 36 41 46 47 48 54 58 62 67 70 71 78 85 90

2 Inter-relações ......................................................................... 2.1 Colégios invisíveis .................................................................................. 2.2 Comunicação intercultural ...................................................................... 2.3 Fluxos de informação .............................................................................. 2.4 A “velha” e a nova ordem ....................................................................... 2.5 Contexto pós-moderno? ..........................................................................

94 101 105 110 116

3 O terceiro setor ......................................................................

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3.1 O “fenômeno” ONGs .............................................................................. 3.1.1 da filantropia à ação política ..................................................... 3.1.2 emergência como atores sociais ................................................ 3.1.3 crise de crescimento e de financiamento .................................... 3.2 Os campos de ação intelectual ................................................................ 3.2.1 competência e engajamento ...................................................... 3.2.2 metaconhecimento .................................................................... 3.2.3 consenso e estratégia ................................................................ 3.2.4 contra-especialistas ................................................................... 3.3 Dois mundos de conhecimento ................................................................ 3.4 Estratégias comunicativas ....................................................................... 3.5 Atuação em redes (networking) ..............................................................

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4 Redes eletrônicas ...................................................................

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4.1 A Rede APC ...........................................................................................

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4.2 O nodo AlterNex .................................................................................... 4.3 Os “nós” da rede .................................................................................... 4.4 Fragmento de um rizoma ........................................................................ 4.5 Círculos sociais ....................................................................................... 4.5.1 em defesa do Pantanal............................................................... 4.5.2 por um novo modelo agrofundiário ........................................... 4.5.3 todas as mulheres do mundo ..................................................... 4.5.4 a experiência ecológica .............................................................

166 172 178 193 202 197 209 218

5 Conclusões ............................................................................

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6 Bibliografia ...........................................................................

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7 Anexos ...................................................................................

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“O que me interessa não é uma síntese, mas um pensamento transdisciplinar, um pensamento que não se quebre nas fronteiras entre as disciplinas. O que me interessa é o fenômento multidimensional, e não a disciplina que recorta uma dimensão do fenômeno. (...) Devido a minhas viagens através dos territórios do conhecimento, sou um contrabandista do saber, e é por isso que os guardas das reservas atiram em mim.” Edgar Morin, em entrevista a Guitta Press-Pasternak, Le Monde, 29/11/1981

“Disciplinas são frutos da academia. Na academia você aponta alguém e então, a fim de dar-lhe um rótulo, ele precisa ser um historiador, um físico, um químico, um biólogo, um biofísico; ele tem que ter uma denominação. Eis um ser humano: Joe Smith – e de repente ele tem uma etiqueta em volta do pescoço: biofísico. (...) Se ele está conversando sobre astronomia, dizem-lhe: “Eu não sei, você não está falando da sua área de competência (...). Disciplinas são um efeito colateral da situação institucional.” Heinz von Foerster, em entrevista à Stanford Humanities Review, Vol. 4, nº 2, 26/6/95

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Introdução Antes de mais nada, um esclarecimento. Esta não é uma pesquisa sobre a Internet. Era o que quase todos pensavam quando ficavam sabendo que o título da tese era A teia invisível e que tratava das redes de ONGs e movimentos sociais. “Ah, a Web”, ouvi várias vezes de muitos para quem “rede” virou sinônimo de “a teia mundial da informação”, jargão tantas vezes repetido pela mídia. Tinha, então, que explicar que o meu objeto de estudo era uma outra rede mundial de pessoas, organizações e movimentos sociais que se comunicavam por diversos meios, inclusive através de computadores, para articular ações coletivas em torno de problemas e interesses comuns. Esses elos de interesses podem ser tanto questões relativas ao cotidiano de grupos ou comunidades, como “soluções para melhorar a qualidade de vida no seu bairro”, quanto outras mais amplas e complexas, como “a construção de um novo modelo agrofundiário para o Brasil”. No primeiro caso, inclui-se, por exemplo, a WorldWIDE Network, uma rede de "fóruns" locais de mulheres agrupadas por afinidades de vizinhança, trabalho ou amizade que atuam em projetos de desenvolvimento e de manejo ambiental em diversos países. Desde 1985, elas compartilham informações que as ajudam a criar soluções para os problemas ambientais, a partir das suas próprias experiências cotidianas. Em 1991, a Rede organizou uma Assembléia Global de Mulheres e o Meio Ambiente, em que foram apresentadas 218 histórias bem sucedidas da capacidade e criatividade femininas para solucionar problemas relativos a água, energia, lixo e a produtos e tecnologias "ambientalmente amigáveis". No segundo, um caso exemplar é o Fórum Alternativas para a Agricultura Brasileira, ligado ao Programa de Agriculturas Camponesas e Modernização (APM) promovido pela Fondation pour le Progrès de l’Homme (FPH), coordenado na América Latina pelo Centro de Estudio del Desarollo en America Latina (Cedal) e pelo Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase). Através de uma conferência eletrônica do AlterNex (atualmente um dos principais provedores de acesso à Internet no Brasil), especialistas em questões agrárias e fundiárias discutem “questões decorrentes dos processos de globalização e reestruturação da economia mundial, os riscos ecológicos, a garantia da cidadania plena a trabalhadores assalariados e pequenos produtores”, com ênfase em temas como integração regional, reestruturação fundiária, agricultura familiar, agroecologia, impacto dos acordos do Mercosul sobre a pequena produção agrícola etc. Trata-se, portanto, de dois modelos radicalmente diferentes de comunicação de informação: essas redes de cidadãos, organizações e movimentos têm a marca pacífica e não-lucrativa da luta civil pelos direitos humanos; a Internet tem origem numa motivação de Estado por força de uma “guerra psicológica” na disputa pela hegemonia no cenário mundial. Ela foi criada a partir de uma decisão do governo americano, em 1969, de distribuir por vários computadores de centros de pesquisas as informações de uso militar que antes ficavam centralizadas no Pentágono (sede das forças armadas). O objetivo era evitar que os soviéticos destruíssem todas as suas informações estratégicas de uma só vez, através de atos de sabotagem. Aos poucos, com o apoio da National 7

Science Foundation (NDF – Fundação Nacional de Ciência), um número cada vez maior de instituições acadêmicas e não-acadêmicas foi interligando os seus computadores, formando uma rede descentralizada de máquinas e pessoas que hoje possui alcance mundial. Em 1990, com a criação da interface gráfica, a rede começou a se expandir, com um número cada vez maior de provedores de acesso e de serviços de informação, e entrou em uma outra “guerra”, a comercial. A “descoberta” desse mundo diversificado de comunicação até então invisível para mim (e ainda para muitos, creio) surgiu de maneira casual: o trabalho de tradução de position papers de palestrantes estrangeiros do 1º Encontro Internacional de ONGs e o sistema de agências da ONU, promovido em 1991 pelo Ibase e pelo PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. O contato inicial com as idéias e experiências de Marc Nerfin e Tim Brodhead e, posteriormente, com as de Alan Wolfe e Martin Khor1 revelou a existência de práticas e a discussão de conceitos até então negligenciados pela maior parte da literatura acadêmica das ciências sociais: a indicação da sociedade civil como uma alternativa para o mercado e o Estado, sob os rótulos de “terceiro setor” ou “terceira via”; a noção de “ecologia social”, na qual o desenvolvimento é indissociável das preocupações com o equilíbrio dos ecossistemas naturais e humanos; a visão emancipadora de democracia que enfatiza o combate à exclusão e a igualdade de oportunidades; a substituição do enfoque “centro-periferia” pelo de “relações Norte-Sul” nas análises sobre as desigualdades entre as nações; e, por fim, o universo difuso de organizações abrigadas na sigla ONG, que nas estimativas “conservadoras” publicadas pelo catálogo da OCDE – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico – de 1991 podiam ser de seis mil a oito mil só nos países do Hemisfério Sul. A proposta inicial da pesquisa era a de mapear as atividades de produção e difusão de informação (pesquisas de campo, análises de conjuntura, assessoria técnica, educação popular, formação de lideranças, documentação e comunicação) das ONGs como estratégicas para o fortalecimento político (empowerment) dos movimentos sociais e populares. Mas o conceito de networking construído a partir da atuação das entidades das sociedade civis (de vários países) em “redes de intercâmbio de formas de ação para a justiça social, a participação e a solidariedade” se sobrepôs como uma noção articuladora das demais práticas dessas organizações. A descrição dessas redes e a argumentação sobre a sua importância em textos produzidos pelas próprias ONGs lembram muito os debates patrocinados pela Unesco, entre meados das décadas de 70 e 80, para formulação de uma "nova ordem de informação e de comunicação" no contexto da reordenação da economia mundial e do impacto do desenvolvimento acelerado de novas tecnologias. Daí a idéia de retomar o conceito de “contra-informação” (ou “contracomunicação”, para alguns autores), que ocupou muitas discussões acadêmicas no Brasil e em outros países da América Latina no início dos anos 80, atrelado à idéia de disputa pela hegemonia política (controle do Estado). 1

Na época, os citados autores tinham as seguintes funções: Marc Nerfin, presidente da International Foundation for Development; Tim Brodhead, presidente do Conselho Canadense para a Cooperação Internacional; Alan Wolfe, professor da New School for Social Research, em Nova York; Martin Khor, vice-presidente da Third World Network, da Malásia. 8

Essas redes são realidades complexas, que envolvem relações sociais e humanas ambíguas e possuem uma dinâmica não-linear e não-determinista. Daí a necessidade de abordá-las a partir de um ponto de vista “caótico”, que não ocultasse as características de imprecisão, incerteza e contradição que lhes são próprias. Nesse contexto, as necessidades de informação e de conhecimento aparecem associadas à sua aplicabilidade na solução de problemas da vida social e não ao desenvolvimento contínuo e cumulativo de um conhecimento de valor universal que supõe uma verdade única e objetiva, como na ciência. Por isso a escolha de um viés não-positivista das ciências sociais como base para o repertório teórico-conceitual adotado na pesquisa. Apesar de esta não ser uma tese sobre a Internet, esta rede foi fundamental em todo o trabalho: através dela foi possível ter acesso, de forma imediata e gratuita, a textos atualizados sobre as questões de interesse produzidos em diferentes instituições estrangeiras – sobretudo os relacionados às teorias do caos e da complexidade – aos quais eu não teria acesso de outra forma, ou pelo menos não em tão pouco tempo e sem qualquer ônus financeiro (a não ser, é claro, as despesas com o provedor de acesso e com a conta telefônica).

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Hipótese: a lógica reconstruída As redes de comunicação informal e de intercâmbio de experiências, mediadas ou não por computador, que vêm sendo estabelecidas desde a década de 80 por organizações não-governamentais (ONGs) formam um extenso “colégio invisível” de especialistas “a serviço” dos movimentos sociais e populares, com fins pluralistas ou contrahegemônicos.

Esta foi a hipótese que guiou a pesquisa aqui apresentada, tendo como pressuposto principal a existência, em âmbito mundial, de um padrão assimétrico de produção e difusão do conhecimento que exclui amplos segmentos populacionais dos progressos econômico e técnico-científico e deixa o controle dos processos informativos e comunicacionais a cargo das elites políticas e intelectuais, sejam elas conservadoras, democrático-pluralistas ou contra-hegemônicas. Ou seja, os detentores de conhecimento e de informação tanto podem contribuir para a manutenção do status quo dos setores dominantes quanto utilizar seu saber em favor da emancipação dos setores dominados ou subalternos. Uma das dificuldades inicialmente encontradas para o desenvolvimento dessas idéias na Ciência da Informação foi a visão sistêmica, positivista e estruturalista predominante na literatura da área, que dá ênfase aos problemas relacionados ao registro, tratamento, recuperação e uso do conhecimento gerado pelas comunidades tecno-científicas e às tecnologias envolvidas nesses processos, segundo a ótica do “método científico”. Ao contrário dos sistemas de recuperação da informação, que centralizam e organizam a informação para distribuição seletiva e controlada, nas redes de comunicação interpessoal (mediadas ou não por computador) a informação circula horizontalmente entre os seus integrantes, mesmo que haja algum tipo de coordenação ou de intervenção gerencial no processo. Além disso, essas redes não se restringem a uma única “qualidade” de conteúdo informativo: nelas podem transitar tanto textos instigadores da inovação do pensamento científico quanto as mais prosaicas expressões pessoais. Ou seja, ciência e senso comum não entram em conflito. Ao contrário, complementam-se. A brecha para tratamento desse tipo de problema surgiu com a proposta feita por Geni Chaves Fernandes (1995) de uma definição mais abrangente do que deveria ser o objeto de estudo da Ciência da Informação na atualidade: a “gestão institucional dos saberes”, isto é, as ações exercidas pelas modernas instituições “sobre o fluxo de saber produzido pela sociedade e seus reflexos sobre esta última” (p. 29). Nesse enfoque, a informação é definida como o produto resultante dessa gestão institucional, cujo principal objetivo é religar o que o advento da modernidade fragmentou: o conhecimento científico do mundo dispersou-se em diferentes disciplinas, especialidades e escolas de pensamento; o processo produtivo foi desmembrado em relações de propriedade (dos recursos naturais, do capital empregado, da força de trabalho); e a sociedade construiu-se como um mosaico de indivíduos “iguais, livres, singulares e autônomos” que competem por interesses divergentes ou por solidariedade. 10

Assim, no caminho das suas constituições como disciplinas (na década de 60), uma parte dos pesquisadores da Ciência da Informação e dos teóricos da Comunicação dirige o seu olhar para um fenômeno típico da segunda metade do século XX, que se coloca como problema a ser investigado: a chamada “explosão da informação”. No campo da ciência, ela se revela na profusão de periódicos, especialistas e especialidades; no mercado, pela avalanche propagandística das dinâmicas relações de produção e consumo em larga escala; e no Estado, pela construção de um aparato técnicoburocrático que tenta dar conta da multiplicidade de interesses a serem mediados. Para religar e administrar os saberes acumulados em cada um desses pedaços da moderna atividade humana algumas instituições assumem também a tarefa de estabelecer meios de difusão e controle (o que pode, o que não pode e o que deve ser difundido): bibliotecas, arquivos, centros de documentação, bases de dados, todos obedecendo à lógica de “sistemas de recuperação de informação” que devem dar conta do vertiginoso “crescimento da ciência”; e meios de comunicação de massa encarregados de “filtrar” as expressões do senso comum, visando construir consenso em torno das lógicas simbólicas do capitalismo. A partir dos anos 80, porém, um novo quadro de demandas informativas e de gestão de saberes começa a se desenhar no nebuloso cenário de transição da modernidade para algo provisoriamente denominado “pós-modernidade”: de um lado, o início de uma nova fase da expansão capitalista, centrada na globalização da produção e do consumo, possível de ser gerenciada graças ao intercâmbio transfronteiras de dados; do outro, a emergência, também em escala mundial, de organizações da sociedade civil que defendem interesses públicos sem serem atreladas ao aparelho de Estado, que produzem saberes especializados sem obedecer às regras do método científico e que são privadas e até disputam “mercado” sem serem guiadas pelo lucro. Genericamente chamadas de ONGs, mas com perfis bastante diferenciados em termos dos recursos humanos, materiais e financeiros que gerenciam e das clientelas que beneficiam, as organizações não-governamentais têm em comum a ênfase nas atividades de produção, tratamento, difusão e transferência de informações, através das quais buscam “religar” indivíduos e grupos humanos excluídos dos processos intelectuais, produtivos e decisórios que afetam ou impedem a sua plena realização subjetiva, cultural e cidadã. Historicamente, essas organizações vêm realizando intenso intercâmbio, em âmbito nacional e internacional, prioritariamente através das redes de relações interpessoais e interorganizacionais, mediadas ou não por computador, que se caracterizam pela descentralização, pela indiferenciação de papéis entre fonte e usuário da informação, pela comunicação informal entre os participantes, pela flexibilidade normativa e pela discreta intervenção gerencial. Neste contexto, profissionais predominantemente oriundos das “ciências humanas e sociais” ocupam simultaneamente funções diretivas e de produção de conhecimento, especializando-se em questões específicas demandadas pelos movimentos sociais e populares que assessoram. Formam, assim, “colégios invisíveis” de “contra-especialistas” (no sentido formulado por Dorothy Nelkin, 1981), mas não com o objetivo de contribuir para o “crescimento exponencial da ciência”, como os grupos de especialistas pesquisados por Solla Price (1963) e Diana Crane (1975).

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A exemplo dos seus interlocutores da comunidade acadêmica, esses profissionais também constituem “grupos de solidariedade” e participam de redes de comunicação informal, mas com a finalidade estratégica de construção de um saber que se contraponha às visões dominantes que informam e instrumentalizam a formulação de políticas públicas em certas áreas (meio ambiente, desenvolvimento agrícola, programas direcionados à mulher etc). Disseminando conhecimentos técnico-científicos, esses profissionais acreditam estar contribuindo para a ação da sociedade sobre o processo decisório do Estado e do mercado, como indicam os textos veiculados pelas conferências do nodo AlterNex da Rede APC, lócus da investigação empírica realizada para esta tese. Esse tipo de abordagem exigiu o enfrentamento de um solo conceitual às vezes vago, às vezes ambíguo, e o questionamento das limitações teóricas para dar conta dos aspectos relacionais e dinâmicos envolvidos no intercâmbio de informação no âmbito das redes de ONGs e movimentos sociais. Exigiu, ainda, um tratamento metodológico qualitativo, que não excluiu procedimentos de quantificação, mas privilegiou a descrição e a explanação. As técnicas de análise de redes serviram de base teórico-metodológica para a pesquisa empírica, mas apenas os seus parâmetros descritivos, não-matemáticos, foram aplicados aos vínculos interpessoais relatados através de um questionário enviado a ONGs usuárias do AlterNex e às inter-relações observadas em quatro conferências eletrônicas. _________________________ Referências: CRANE, Diana. Invisible colleges; diffusion of knowledge in scientific communities. Chicago/ London, The University of Chicago Press, 1972. 212 p. FERNANDES,

Geni Chaves. O objeto de estudo da ciência da informação. Informare [Cadernos do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação], vol.1, nº 1, jan-jun/1995. p. 25-30.

GONZÁLEZ DE GOMES,

Maria Nélida. O objeto de estudo da ciência da informação: paradoxos e desafios. Ciência da Informação, vol.19, nº 2, jul-dez/1990. p. 117-122.

NELKIN,

Dorothy. Science and technology policy and democratic process. In: TEICH, Albert H. (ed.) Technology and man's future. New York, St.Martin's Press, 1981. 3ª ed. p. 270-293.

PRICE,

Derek J. DeSolla & BEAVER, Donald B. Collaboration in an invisible college. American Psychologist, nº 21, 1966. p. 1011-1018.

PRICE,

Derek J. DeSolla. Invisible colleges and the affluent scientific community. In: Little science, big science. New York/ London, Columbia University Press, 1971. 4ª ed. [1ª ed. 1963] p. 62-91

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1 As ordens dos discursos A proposição de uma verdade ideal como lei do discurso científico e de uma imanente racionalidade como princípio do seu desenvolvimento tem marcado a trajetória da Filosofia e das Ciências através de três eixos de procedimentos metodológicos: de um lado, o da previsibilidade, da regularidade, da linearidade, da precisão, da certeza – da ordem determinista; do outro, o acaso, a contingência, a aleatoriedade, a não-linearidade, a fluidez, a incerteza – o caos determinístico; entre um e outro as possibilidades, a convergência, a aproximação – o cálculo probabilista. Esta é uma longa história que vem desde a Antiguidade Clássica e que está diretamente relacionada à necessidade humana de explicar o passado, controlar o presente e prever o futuro. Talvez seja por isso que, como diz Umberto Eco (1984), existam certas coordenadas do pensamento que permitem recuperar o jogo intelectual dos antigos e dos modernos sob a égide da mesma lógica. Ao mesmo tempo, porém, a ciência nutre uma esquizofrênica relação com o determinismo e o acaso, a ordem e o caos: "A ciência daria toda a unidade racional à qual aspira por um pedacinho de caos que pudesse explorar", afirmam Deleuze e Guattari (1992). Para eles, a ciência luta contra o caos através da limitação e constância das variáveis dos fenômenos que estuda, nas quais o estado futuro das relações (previsão) é determinado a partir do presente (cálculo determinista); ou, ao contrário, através da intervenção de tantas variáveis ao mesmo tempo que o estado de coisas é apenas estatístico (cálculo de probabilidades); ou ainda através do estabelecimento de relações que se coordenam com o surgimento e o desaparecimento das variáveis (cálculo diferencial). São esses paradigmas metodológicos (conjunto de procedimentos que propicia a uma comunidade de pesquisadores formular problemas e soluções modelares) que tradicionalmente têm servido para validar as ciências e marginalizar disciplinas que não obedecem à mesma lógica de busca “da verdade”. Todas, porém, devem ser submetidas a paradigmas normativos que estabelecem as suas condições de existência: tratar de um determinado plano de objetos, usar certos instrumentos conceituais e técnicos, estar inscrita em um certo tipo de horizonte teórico. Ou seja, ordens discursivas que operam o mundo das idéias, das categorias, dos conceitos, estabelecendo as regras de construção dos discursos, os métodos de validação e os procedimentos de interdição de certos discursos ou de certos sujeitos enunciadores. Foucault (1984) enquadra esses procedimentos normativos em três grandes grupos: os de exclusão, que controlam e delimitam o poder do discurso de fora para dentro; os intradiscursivos, que funcionam como princípios de classificação, de ordenação e de distribuição que controlam a dimensão do acontecimento e do acaso; e os procedimentos dos sujeitos falantes que controlam o acesso à ordem do discurso. Ninguém pode dizer tudo o que quer em qualquer circunstância e só a alguns é dado o direito de falar sobre certas coisas; a interdição do objeto da fala, o ritual das circunstâncias e o privilégio ou exclusividade do sujeito falante constituem, para Foucault, três tipos

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de proibição que se interseccionam, reforçam ou compensam, formando uma grade complexa que muda constantemente. O discurso científico constrói-se a partir da seleção de determinadas aparências de realidade e rejeição de outras que não parecem fazer sentido em determinado momento. O problema, lembra Bronowski (1977, p. 49), é quando se tenta impor um sistema classificatório a fenômenos que ainda não foram suficientemente observados. Foi só a partir de rigorosas observações do complexo de sintomas que caracterizam determinadas doenças, e não outras, que os médicos do século XVIII deixaram de considerar a febre como doença e passaram a encará-la com um dos sintomas de doenças como o tifo e a malária. Para Foucault, a oposição entre verdadeiro e falso funciona como um sistema de divisão historicamente constituído que rege a “aspiração à verdade” e governa nossa “vontade de saber”. Há indubitavelmente uma aspiração à verdade no século dezenove que difere da vontade de saber característica da cultura clássica, na forma como se desenvolve, no domínio dos objetos dos quais trata e nas técnicas em que se baseia. (...) na virada do século dezesseis (e particularmente na Inglaterra), surgiu uma vontade de saber que, antecipando seus verdadeiros conteúdos, traçava esquemas de objetos possíveis, observáveis, mensuráveis, classificáveis; uma vontade de saber que impunha ao objeto de conhecimento, e em certo sentido a priori de toda experiência, uma certa posição, um certo olhar rígido e uma certa função (ver mais do que ler, verificar mais do que fazer comentários sobre); uma vontade de saber que era prescrita (...) pelo nível técnico em que os conhecimentos tinham que ser investidos a fim de serem verificáveis e utilizáveis. (1984, p. 113)

O suporte institucional dessa aspiração à verdade permite que ela seja tanto reforçada quanto renovada pelo conjunto de práticas relacionadas à transmissão de saber, como a educação, a editoração, as bibliotecas, os laboratórios. Mas ela também é renovada mais profundamente pelo modo como o conhecimento é operacionalizado, valorizado, distribuído e, em certo sentido, qualificado em uma sociedade. Ou seja, o regime de verdade (expressão que Foucault utilizaria mais tarde), com seu suporte institucional, exerce uma espécie de poder de constrangimento ou controle, justificando saberes. É o caso das práticas econômicas, codificadas como preceitos, prescrições ou como moralidade, que desde o século XVI têm buscado se fundamentar, se racionalizar e se justificar em uma teoria de riqueza e produção. Para Bronowski, as grandes mudanças de perspectiva que acabam alterando todos os hábitos de pensamento, após um longo processo, atingem primeiro campos de conhecimento que tenham especial importância para determinada época. A ciência inglesa do século XVII, por exemplo, teve como um dos seus eixos de desenvolvimento as necessidades práticas impostas pela navegação, daí a prioridade à astronomia, à hidráulica e à ótica. As preocupações com a origem do homem no século XIX fizeram deslanchar a biologia assim como o preceito da economia global vem impulsionando as tecnologias de comunicação em longas distâncias no final deste século. Foucault acreditava que em todas as sociedades existe uma espécie de gradação entre os discursos do cotidiano, que se banalizam, e aqueles que ultrapassam as suas próprias formulações, constituindo as narrativas básicas de uma sociedade "que são repetidas, recontadas e variadas; são preceitos, textos e conjuntos ritualizados de discursos relatados em circunstâncias bem definidas". 14

No sistema cultural ocidental, “são os textos religiosos ou os jurídicos, mas também (...) os ditos literários e, numa certa extensão, os textos científicos” (1984, p. 115). Foucault alerta, porém, que essa diferenciação não é estável, nem constante, nem absoluta, da mesma forma que o princípio de autoria não funciona em todo lugar, nem de maneira constante. No dia-a-dia existe uma variedade de discursos que circulam anonimamente: normas, contratos, instruções técnicas etc, mas há domínios em que a atribuição de autoria é uma regra: a literatura, a filosofia, a ciência. Foucault lembra que a aplicação dessa regra pode se tornar mais rígida ou mais flexível em cada domínio com o passar do tempo. Na ciência da Idade Média, por exemplo, a autoria era um indício de veracidade, função que começou a perder força desde o século XVII: o autor "agora funciona apenas para dar nome a um teorema, a um efeito, a um exemplo, a uma síndrome" (idem, p. 117). Na literatura, ao contrário, a autoria vem ganhando importância desde essa época, em contraste com os contos, poemas, dramas ou comédias que circularam com relativo anonimato na Idade Média. Um sistema também anônimo de regras e definições, de técnicas e instrumentos rege a organização das disciplinas, que têm como requisitos a possibilidade de formulação de novas proposições e são definidas por determinados domínios de objetos, conjunto de métodos e corpos de proposições considerados verdadeiros. Mas as disciplinas também comportam erros que possuem funções positivas, uma eficácia histórica e um papel em geral indissociável do das verdades. Um bom exemplo é o de Mendel: muitos cientistas hoje se perguntam como os botânicos e os biólogos do século XIX que o criticaram não perceberam que ele estava dizendo “a verdade”. Foucault justifica: é que ele estava falando de objetos, aplicando métodos e se colocando em um horizonte teórico que eram estranhos à biologia da sua época. "Dentro de seus próprios limites, cada disciplina reconhece proposições verdadeiras e falsas; mas rechaça toda uma teratologia [monstruosidades] de conhecimento além das suas margens" (idem, p. 119). A disciplina funciona, portanto, como um princípio de controle sobre a produção do discurso, fixando seus limites pela ação de uma identidade que toma a forma de um permanente “reacionamento” [re-actuation] de regras. Assim, se de um lado a multiplicidade dos comentários, a fecundidade do autor e o desenvolvimento de uma disciplina são recursos para a criação e multiplicação de discursos, por outro, também exercem funções de restrição e de constrangimento. Ninguém pode penetrar na ordem de um discurso se não satisfizer certas exigências ou não for qualificado para isso. Ou seja, nem todas as regiões do discurso são igualmente abertas e penetráveis; algumas são amplamente proibidas (para isso existem os convites, as senhas, as autorizações, que configuram materialmente os privilégios); outras parecem quase totalmente abertas a todos os sujeitos falantes, sem restrições prévias. O intercâmbio e a comunicação de conhecimentos são considerados como aspectos positivos que atuam nos complexos sistemas de restrição, cuja face mais visível é o ritual, como o de uma defesa de tese, por exemplo: O ritual define a qualificação que deve ser possuída pelos indivíduos que falam (e que devem ocupar tal e qual posição e formular tal e qual tipo de sentença, no desempenho de um diálogo, de uma interrogação ou de uma narrativa); define os gestos, o

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comportamento, as circunstâncias e todo o conjunto de signos que devem acompanhar o discurso; finalmente, estabelece a suposta ou imposta eficácia das palavras, seu efeito sobre aqueles a quem são dirigidas e os limites do seu valor de constrangimento (idem, p. 121).

As “sociedades de discurso”, como as associações de cientistas ou grupos de pesquisadores, funcionam para preservar ou produzir discursos, mas visando a fazê-los circular em um espaço fechado, com a distribuição submetida a regras estritas e sem que os detentores percam a posse desses discursos. O que está em jogo é o conhecimento monopolizado e secreto versus uma filosofia de comunicação universal e de intercâmbio de discursos. Embora ressalve que não exista na realidade uma sociedade tão rígida assim, Foucault considera que "mesmo na ordem do discurso que é publicado e livre de todos os rituais, há ainda formas de apropriação de segredos e de papéis não intercambiáveis" (idem, p. 122). Ou seja, esquemas de exclusividade e revelação, como os dos segredos técnicos ou científicos (segredo profissional, sigilo bancário, segredo de segurança nacional, segredo industrial); as formas de difusão e circulação do discurso médico (sonegando o acesso público a certas informações para justificar o atendimento e esclarecimento privados); ou a apropriação de discursos políticos e econômicos (com os quais se justificam medidas arbitrárias, como um golpe de estado ou um confisco de poupanças, por exemplo). As doutrinas, apesar de aparentemente se basearem na difusão indiscriminada de seus discursos, também possuem procedimentos de exclusão e mecanismos de rejeição que são aplicados quando um sujeito falante formula uma ou várias sentenças não validadas. (...) a heresia e a ortodoxia não derivam de um exagero fanático de mecanismos doutrinários, mas pertencem fundamentalmente a eles. (...) A doutrina atrela os indivíduos a certos tipos de enunciação e consequentemente os proíbe de todas as outras; mas utiliza, em contrapartida, certos tipos de enunciação para atrelar pessoas entre si e para os diferenciar de todos os outros. A doutrina estabelece uma dupla sujeição: dos sujeitos falantes aos discursos e dos discursos ao (no mínimo virtual) grupo de indivíduos falantes (idem, p. 123).

Foucault refere-se apenas ao sistema educacional como "um meio político de manter ou modificar a apropriação de discursos, juntamente com o conhecimento e os poderes que carregam" (idem). Mas a ele se poderiam acrescentar os sistemas de informação e os meios de comunicação de massa, que igualmente se apropriam de certos discursos e os redistribuem a segmentos sociais dentro de outras perspectivas. Foucault ressalva que, apesar de analisados separadamente, esses procedimentos de interdição aparecem interligados na maior parte do tempo e constituem espécies de grandes edifícios que asseguram a distribuição de sujeitos falantes em diferentes tipos de discursos e a apropriação de discursos por certas categorias de sujeitos. Ou seja, constituem sistemas de sujeição. E questiona até que ponto certos temas filosóficos não têm correspondido a essas atividades de limitação e de exclusão, talvez até reforçando-as. Primeiro, pela proposição de uma verdade ideal como a lei do discurso e de uma imanente racionalidade como o princípio do seu desenvolvimento. Depois, pela reintrodução de uma ética do conhecimento que promete atribuir a verdade apenas ao desejo pela verdade em si e ao poder de pensá-la (idem, p. 124).

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O aparato normativo de constituição dos saberes e das disciplinas corresponde ao conceito de paradigma utilizado por Thomas Kuhn em A estrutura das revoluções científicas para descrever o que ele chamou de “ciência normal”. Quando os pressupostos metodológicos, o repertório conceitual e as regras institucionais dessa ciência começam a não mais dar conta do seu objeto de estudo, tem-se o que ele denominou “crise de paradigma”, que resultaria em uma inovação radical da disciplina ou no surgimento de uma nova área de pesquisa, provocando uma “revolução científica”. Edgar Morin dedicou todo um capítulo de seu quarto livro sobre “o método” (1991) ao esforço de atualização da idéia de paradigma, remetendo constantemente a Khun e a Foucault, cuja noção de episteme (em As palavras e as coisas e Arqueologia do saber) “tem um sentido mais radical e mais amplo que o paradigma de Khun” (p. 187). O caráter de um paradigma é ao mesmo tempo semântico, lógico e ideológico: ele contém os conceitos fundamentais e as categorias mestras que garantem inteligibilidade e sentido a todos os discursos que se efetuam sob o seu domínio; determina as operações lógicas de atração e repulsão (conjunção, disjunção etc) entre esses conceitos ou categorias; e norteia os procedimentos de associação, eliminação e seleção que determinam as condições de organização das idéias. “É em virtude deste triplo sentido generativo e organizacional que o paradigma orienta, dirige, controla a organização dos raciocínios individuais e dos sistemas de idéias que lhe obedecem” (idem, p. 188). A partir dessa definição, Morin lista 12 características do paradigma (p. 191-193) que incorporam vários dos procedimentos normativos analisados por Foucault e que, eliminada a tautologia, poderiam assim ser resumidos: • um paradigma é um organizador invisível, um princípio virtual que só aparece através • • • • • • •

dos seus exemplos; dispõe do “princípio de autoridade axiomática”, ao estabelecer os conceitos intrínsecos do sistema de idéias que governa; dispõe de um “princípio de exclusão” (de dados, enunciados, idéias e problemas não reconhecidos) que desqualifica como cientificamente irrelevante aquilo que exclui; possui um poder transubjetivo que o torna co-gerador do sentimento de realidade; “está recursivamente ligado aos discursos e sistemas que gera” e precisa “atualizar-se constantemente com conhecimentos, reconhecimentos, verificações”; não é sujeito a verificação empírica, embora as teorias dele dependentes o sejam; não compreende, não aceita e não se comunica com outros paradigmas reinantes; é invulnerável enquanto dominante, mas sempre sujeito a desvios de pensamento, fissuras, erosões e corrosões no edifício das concepções e teorias que sustenta;

“Um grande paradigma determina, via teorias e ideologias, uma mentalidade, (...) uma visão de mundo”, que é modificada pela “revolução paradigmática”. (...) é preciso que surjam novas teses ou hipóteses que deixem de obedecer a esse paradigma e que devem ser submetidas a mútliplas verificações e confirmações; é preciso, em suma, uma ida e volta corrosiva/crítica indo dos dados, observações, experiências, para que, então, possa dar-se o desmoronamento de todo o edifício 17

minado, arrastando na sua queda o paradigma cuja morte poderá, tal como a sua vida, manter-se invisível (idem, p. 193).

Morin lembra que, de Copérnico a Kepler e Galileu, a revolução paradigmática da centralidade/hierarquia que privilegiava o homem e seu hábitat como o centro do mundo levou quase um século para se efetivar. Para ele, o “grande paradigma do Ocidente”, que reinava desde o século XVII e que agora vive um processo de corrosão é o cartesianismo (ou “positivismo lógico”), cuja separação entre sujeito e objeto atravessa o universo de um lado a outro, em dois eixos significantes opostos: sujeito

objeto

alma

corpo

espírito

matéria

qualidade

quantidade

finalidade

causalidade

sentimento

razão

liberdade

determinismo

existência

essência

O grande paradigma comanda a dupla natureza da praxis ocidental, uma baseada na auto-adoração do sujeito individual (individualismo), no humano (humanismo, antropocentrismo), nacional (nacionalismo), étnico (racismo); a outra baseada na ciência e na técnica objetivas, quantitativas, manipuladoras e congeladas logo que se trata do objeto (mesmo quando um indivíduo, uma etnia, uma cultura, são considerados como objeto). (...) Assim, há dois universos que disputam entre si as nossas sociedades, as nossas vidas, os nossos espíritos; partilham o terreno mas excluem-se um ao outro; um só pode ser positivo quando o outro se torna negativo; um só pode ser real se remete o outro para a ilusão; (...) (idem, p. 195)

Mas existem ainda dois outros paradigmas dominantes e opostos: um que inclui o humano no natural, outro que contrapõe homem e natureza. Ambos têm em comum o fato de obedecerem a um paradigma “ainda mais profundo”, o da simplificação (ou reducionismo), que não reconhece a existência do problema da complexidade. (...) o paradigma da simplificação reinante obriga-nos a optar entre matéria ou espírito, substância ou forma, contínuo ou descontínuo, análise ou síntese, mecânica ou orgânica, determinismo ou acaso, finalidade ou causalidade, unidade ou pluralidade, permanência ou mudança, aparência ou essência, e cada espírito elege o tema que corresponda à sua libido intelectual (idem, p. 190). O paradigma de exclusão está associado a um princípio de redução que leva a desintegrar as entidades globais e suas organizações complexas em proveito das unidades elementares que as constituem e que se tornam fonte e fundamento de toda a inteligibilidade (sic). Como consequência, a visão atomística (que só vê unidades elementares) e a visão mecânica (que só vê uma ordem determinística simples) conjugam-se por vezes, e por vezes opõem-se, mas uma e outra expulsam o orgânico e o complexo (idem, p. 198).

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Para Morin, o paradigma da ciência clássica articula-se profundamente no grande paradigma do Ocidente, através de múltiplos desenvolvimentos históricos relacionados aos princípios de organização da sociedade, da economia, do Estado-nação e da própria ciência. “Esse traço comum aparece no próprio tratamento do real (redução/disjunção), a mesma ocultação mútua do sujeito pelo objeto, e do objeto pelo sujeito, a mesma redução à ordem, à medida, ao cálculo, em detrimento das qualidades, das totalidades, das unidades complexas, a mesma especialização, o mesmo pragmatismo” (...) (idem, p. 196). Apesar de submetida ao paradigma da simplificação/exclusão/redução, a ciência clássica foi dinamizada por múltiplas relações dialógicas que, dialeticamente, são responsáveis tanto pelos seus sucessos quanto pelo processo de erosão, como por exemplo: - racionalismo x empirismo – o primeiro suscitando “admiráveis imaginações abstratas que deram origem às grandes teorias”; o segundo desempenhando o papel decisivo de destruidor das racionalizações e de regresso à irredutibilidade dos fatos e dados; - tendência taxinômica/classificadora x tendência homogeneizante: uma diversificando “até o extremo” o real e catalogando suas múltiplas formas; a outra procurando sempre a unidade universal; Como toda revolução, uma revolução paradigmática ataca enormes evidências, lesa enormes interesses, suscita enormes resistências. (...) Mas nada é mais difícil que modificar o conceito angular, o princípio maciço em que se apóia todo o edifício intelectual. Porque é evidentemente todo o edifício, toda a estrutura do sistema de pensamento que fica subvertida e corre o risco de se desmoronar (idem, p. 205-206). ____________________ Referências: BRONOWSKI,

Jacob. O senso comum da ciência. Belo Horizonte/ S.Paulo, Itatiaia/ Edusp, 1977. 126 p. (Col. O homem e a ciência, vol. 4)

DELEUZE,

Gilles e GUATTARI, Félix. Do caos ao cérebro. In: _________. O que é filosofia. Rio de Janeiro, Editora 34/ Nova Fronteira, 1992. p. 257-279.

ECO,

Umberto. Viagem à irrealidade cotidiana. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1984. 2ª ed. p. 94.

FOUCAULT,

Michel. The order of discurse, In: SHAPIRO, Michael (ed.). Language and politics; readings in social and political theory. Blackwell, Oxford, 1984. p. 108-138.

MORIN,

Edgar. O pensamento dissimulado (paradigmatologia). In: ______ O método IV – as idéias: a sua natureza, vida, habitat e organização. Lisboa, Europa-América, 1991. p. 186-212 (Col. Biblioteca Universitária 38)

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1.1. Caos e complexidade Dois tipos de crise paradigmática podem ser identificados: as de crescimento e as de degenerescência. Boaventura de Souza Santos (1993) diagnostica a atual transição entre o paradigma da ciência moderna e um novo paradigma, provisoriamente denominado “pós-moderno”, como um período de “crise de degenerescência”, isto é, uma crise de paradigma que atravessa todas as disciplinas, ainda que de modo desigual, a um nível mais profundo do que o de uma crise de crescimento (no sentido khuniano da expressão). Este tipo de crise coloca em causa “a própria forma de inteligibilidade do real que um dado paradigma proporciona e não apenas os instrumentos metodológicos e conceituais que lhe dão acesso. Nestas crises, que são de ocorrência rara, a reflexão epistemológica é a consciência teórica da precariedade das construções assentes no paradigma em crise e, por isso, tende a ser enviesada no sentido de considerar o conhecimento científico como uma prática de saber entre outras, e não necessariamente a melhor” (Santos, B. S., 1993, p. 18). Para Santos, o positivismo lógico representa o apogeu da dogmatização da ciência, “isto é, de uma concepção de ciência que vê nesta o aparelho privilegiado da representação do mundo (...). Mas, curiosamente, o apogeu da dogmatização da ciência significa também o início do seu declínio e, portanto, o início de um movimento de desdogmatização da ciência que não cessou de se ampliar e aprofundar até os nossos dias” (idem, p. 23-24). Desdogmatizar a ciência significa libertála da “camisa de regras fixas e maximalistas” que o cientista prático foi obrigado a driblar, seguindo “o seu instinto de investigador ou a sua paixão (Polanyi, 1962), procedendo por múltiplas aproximações, recorrendo a desvios, a soluções ad hoc e a expedientes imaginativos para resolver as dificuldades com que se foi deparando no seu trabalho (...)” (idem, p. 27). Em 1974, poucos colegas do físico Mitchell Feigenbaun no Laboratório Nacional de Los Alamos (Novo México) sabiam que ele estava trabalhando em um problema profundo, que requeria "longas investigações das entranhas do universo" (Gleick, ob. cit., p. 3): o caos. Achavam que ele era um cara meio esquisito, inquieto, com a cabeça “nas nuvens”, cujo aspecto ao mesmo tempo nevoento e detalhado, estruturado e imprevisível, intrigava o cientista. Mas não era a primeira vez, nem seria a última, que um processo de grande ruptura com o pensamento científico hegemônico causava estranheza ou era rejeitado como "maluquice" ou heresia. A exemplo do que aconteceu com Mendel, muitos físicos reconhecem, hoje, que situações de comportamento caótico já haviam sido registradas em experimentos realizados desde o século XIX, mas foram deixados de lado, por fugirem ao domínio conceitual e analítico da época. Por trás dessa incompatibilidade estava o velho dilema dos cientistas entre o determinismo e o acaso: entre os fenômenos que podiam ser previstos com precisão e aqueles que o conhecimento humano organizado não conseguia explicar. O interesse pelo determinismo e pelo acaso surgiu na Antiguidade Clássica em função do interesse pela previsibilidade dos fenômenos naturais. Durante séculos, o acaso, a contingência, o acidental, a incerteza perturbaram a idéia de existência de uma ordem absoluta e pré-determinada no universo, regida pelas leis da natureza, e o princípio aristotélico de causalidade. No fundo dessas questões havia uma perspectiva moral, a disputa entre o determinismo da natureza e o livre-arbítrio dos homens (Ildeu, 1992, p. 12). Os milagres e a iéia de 20

intervenção da graça divina contrariavam as supostas regularidades de uma natureza absolutamente ordenada, até que a idéia de “declinação” presente no movimento dos átomos abriu a possibilidade do livre-arbítrio da natureza, do imprevisível, do novo. Mais tarde, Newton defenderia a coexistência do determinismo das forças da natureza com a liberdade de Deus. Com Galileu, Kepler, Newton, Leibniz e outros, o determinismo se liga à idéia de 'lei natural', de 'simplicidade da natureza' e vai encontrar uma expressão precisa na formulação matemática das leis físicas. Em particular, a introdução progressiva do conceito de variação contínua dos parâmetros (noção de derivada) para descrever localmente fenômenos físicos é essencial para precisar essa idéia e dar-lhe foros de um novo paradigma. (...) A construção, extensão e afirmação do paradigma newtoniano, baseado na idéia de forças que agem localmente e na descrição matemática através de equações diferenciais, se estende pelos séculos XVII e XIX (idem).

Pouco a pouco, porém, os físicos se deparam com problemas que não podem ser resolvidos através das mesmas operações algébricas e de cálculos integrais de funções conhecidas. O paradigma mecanicista servia muito bem à explicação de fenômenos de comportamento regular e periódico, animando os deterministas ao permitir a definição da forma da Terra, a afirmação da existência de planetas e a constatação da dinâmica dos corpos, por exemplo. Mas os fenômenos complexos, como a turbulência dos fluidos ou o movimento de corpos rígidos não simétricos, eram relegados ao mundo das questões "ainda" não resolvidas pela ciência. Enquanto isso, ficavam ao acaso: "conjunto de pequenas causas independentes entre si, que se prendem a leis ignoradas ou mal conhecidas e que determinam um acontecimento qualquer" (Ferreira, 1986). O desenvolvimento do cálculo das probabilidades, embora introduzisse o elemento de chance (acaso) na análise matemática, não foi suficiente para derrubar o regime mecanicista do discurso científico, pois as probabilidades só podiam ser traçadas dentro dos limites do determinável com base nas relações causais (cf. Ildeu, p. 13). Ao longo dos séculos XVIII e XIX, o modelo mecanicista e o cálculo das probabilidades foram estendidos ao tratamento de eventos sociais, como se estes fossem submetidos a "leis" estritas e estáveis à semelhança dos fenômenos físicos, tal como eles eram concebidos sob a ótica newtoniana. A idéia era a de que, adotando-se o mesmo método da física e da matemática, as ciências sociais se revestiriam de exatidão, beneficiando-se do mesmo grau de certezas. Essas "tentativas de matematização das ciências sociais, frequentemente movidas por interesses econômicos de segurança social e influenciadas por fatores de ordem ideológica e religiosa", renderam frutos para o desenvolvimento dos estudos estatísticos. Não podendo ser exatas, as ciências sociais seriam regidas pelas probabilidades, que permitiram "submeter ao método científico questões de variada ordem, como as sociais, morais, políticas e jurídicas" (idem, p. 13). Em meados do século XIX, a questão do determinismo e do livre-arbítrio ganha nova roupagem com o desenvolvimento da teoria cinética dos gases (que gerou um modelo capaz de descrever sistemas com muitos graus de liberdade) e com o debate entre materialistas e pensadores católicos sobre as relações entre ciência e religião. A crítica à perspectiva causal dos cálculos probabilistas, com a introdução do caráter de incerteza intrínseca ao conhecimento estatístico e a demonstração das limitações físicas do determinismo absoluto entram em cena pelas mãos do físico 21

ingles James Clerk Maxwell. Em 1877, a noção de livre-arbítrio marca um ponto a favor com a idéia lançada pelo físico francês Joseph Boussinesq de um princípio diretor (o eu que julga e deseja), que permitiria aos seres vivos fazerem a escolha do "caminho" a seguir. Ainda assim, esse pensamento afina-se com a ordem filosófico-religiosa vigente, de reconciliar o livre-arbítrio com o determinismo das leis da natureza. O interesse pelo estudo dos gases, dos fluidos e da elasticidade já indicava que havia algo além da regularidade, periodicidade e estabilidade no reino da ciência. O pensamento neokantiano de Emile Boutroux põe novamente em pauta a relação entre contingência e necessidade, ameaçando a certeza das leis físicas. Mas é o matemático francês Henri Poincaré que dá um grande salto na direção dos sistemas complexos de comportamento caótico com o problema dos n-corpos. Em seu clássico Ciência e método, publicado no início deste século, ele alerta: "pode acontecer que pequenas diferenças nas condições iniciais venham a produzir diferenças muito grandes nos fenômenos finais. Um pequeno erro nos acontecimentos pode produzir um erro enorme nos acontecimentos posteriores. A predição se torna impossível e temos um fenômeno fortuito" (cit.p. Ildeu, ob. cit., p. 15). Além da sensibilidade às condições iniciais, Poincaré postula também a complexidade das causas para explicar o surgimento do acaso na natureza, isto é, o fato de que a análise de qualquer sistema leva em conta apenas parte das influências (forças) às quais o objeto está submetido. Ele levantava, assim, "a franja" que encobria uma nova área de estudos na matemática e na física, mas que seus contemporâneos ainda não conseguiam perceber. A teoria da relatividade lançada por Einstein no início do século jogou mais lenha na discussão sobre a causalidade e abriu novas perspectivas com a geometria do espaço-tempo, enquanto a mecânica quântica atribuía ao conceito de probabilidade e aos conceitos estatísticos um papel constitutivo essencial na formulação das leis físicas. Mas, apesar de toda essa aparente "revolução científica", o paradigma da mecânica clássica (newtoniana) continuaria hegemônico até a década de 60, com o mundo da dinâmica sendo visto como majoritariamente bem estruturado e estável, comportando uma pequena área de desordem. Só na década de 70 é que alguns cientistas americanos e europeus começaram a encontrar um caminho em meio a essa desordem. O caos rompe as fronteiras que separam as disciplinas científicas, surgindo como uma "ciência da natureza global dos sistemas". Matemáticos, físicos, biólogos, químicos trabalhando em diferentes instituições e cantos do mundo começam a buscar a ligação entre variados tipos de irregularidade. Os fisiologistas descobriram uma supreendente ordem no caos que se desenvolve no coração humano, causa principal da morte súbita e inexplicada. Os ecologistas exploraram a ascensão e queda da população das mariposas conhecidas como limântrias. Os economistas desenterraram velhas cotações da Bolsa e tentaram um novo tipo de análise. As compreensões daí resultantes levaram diretamente ao mundo natural – às formas das nuvens, aos caminhos percorridos pelos relâmpagos, às interligações microscópicas dos vasos sanguíneos, às aglomerações estelares galáticas (Gleike, p. 3).

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“Onde começa o caos, a ciência clássica pára” (idem). Ao se perguntar por que tanto tempo se passou antes que o conceito de caos determinístico2 "se movesse da percepção de alguns cientistas para a posição de destaque que ocupa hoje em várias áreas da ciência", muitos cientistas ainda se prendem a questões factuais do próprio desenvolvimento científico: "a existência de modelos matemáticos suficientemente simples e possuidores de comportamento genérico, a identificação de áreas de aplicabilidade desses modelos em vários domínios e o uso dos computadores em grande escala no trabalho científico" (Ildeu,ob.cit., p. 15). Sem desprezar o papel desses e de outros fatos, sobretudo o que se refere aos computadores, talvez a pergunta mais adequada a essa questão seria: o que impedia que os avanços teóricos, metodológicos e experimentais registrados por alguns cientistas durante mais de um século rompessem a barreira da ordem determinista e mecanicista, como indagaram os biólogos em relação à genética de Mendel? Quando uma teoria suscita problemas que desafiam os modos de trabalho aceitos como científicos e insere nas suas indagações a experiência cotidiana e os quadros reais do mundo, é que a "velha ordem" está ameaçada. Essa constatação tem levado alguns físicos a festejar o caos como a terceira grande revolução do século nas ciências físicas, ao lado da relatividade e da mecânica quântica. "A relatividade eliminou a ilusão newtoniana sobre o espaço e o tempo absolutos; a teoria quântica eliminou o sonho newtoniano de um processo controlável de mensuração; e o caos eliminou a fantasia laplaciana da previsibilidade determinista" (Joseph Ford, do Instituto Tecnológico da Geórgia, em Gleike, p. 5). Nessa interpenetração de áreas que adotam o caos, surge uma nova linguagem, um novo repertório conceitual. Os cientistas se interessam pelo aleatório, o complexo, o salto súbito e falam em fractais, bifurcações, intermitências e periodicidades, entre outros termos para os quais a língua portuguesa parece não dar conta. "Para alguns físicos, o caos é antes uma ciência de processo do que de estado, de vir-a-ser do que de ser" (Gleike, p. 4). É a ciência que começa a "atravessar o grande abismo entre o conhecimento daquilo que uma coisa faz – uma molécula de água, uma célula de tecido cardíaco, um neurônio – e o que milhões delas fazem" (idem, p. 7). Vários pesquisadores consideram, porém, que o termo caos (intensamente utilizado no marketing da ciência, pela sua força intrigante) não é o mais adequado para caracterizar a amplitude do paradigma emergente. “Teoria dos sistemas complexos” ou simplesmente “teoria da complexidade” são as expressões preferidas por alguns físicos, químicos, biólogos e pesquisadores das ciências sociais para designar o estudo dos sistemas dinâmicos não-linerares e complexos. Um sistema pode ser definido pela relação entre coisas ou seres que interagem. A expressão “sistema dinâmico” designa todos os processos de interação ao longo de um tempo e “não-linear” refere-se aos modelos matemáticos usados para descrever sistemas que não são facilmente previsíveis. Pelo

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O significado do termo caos determinístico refere-se, de maneira genérica, à propriedade de muitos sistemas determinísticos de apresentarem grande sensibilidade a pequenas variações nas condições iniciais. Isto significa que, neste caso, as incertezas experimentais, sempre presentes em qualquer mensuração física, crescerão muito rapidamente com o passar do tempo, levando a uma quebra do determinismo absoluto, mesmo no terreno da física clássica. Já os sistemas denominados integráveis - que, sabe-se hoje, são exceção entre os modelos descritos por relações não-lineares - têm comportamento regular, periódico (ou quase) e, portanto, não caótico (Ildeu, p. 11). 23

menos três características distinguem os fenômenos físicos lineares dos não-lineares, de acordo com síntese feita por Pires e Costa (em Braga, G., 1996-a): O movimento é qualitativamente diferente nos dois tipos de fenômeno: regular e “bem comportado” nos sistemas lineares, podendo ser descrito em termos de funções matemáticas “bem comportadas”; e sujeito a mudanças freqüentes, de um movimento aparentemente regular para um movimento caótico, nos sistemas não-lineares típicos. A resposta de um sistema linear a pequenas mudanças em seus parâmetros, ou a estímulos externos, é em geral suave, proporcional à mudança ou ao estímulo; nos sistemas não-lineares, porém, uma mudança pequena nos parâmetros pode produzir uma diferença qualitativa enorme no movimento. Em um sistema linear, o fenômeno da dispersão é descrito como um pulso de onda nele localizado que decai devido ao seu alongamento, como por exemplo em ondas de pequena amplitude na água; já em certos sistemas não-lineares, podemos ter estruturas altamente coerentes e estáveis, que permanecem por longo tempo ou, no caso ideal, por um tempo infinito. “A ordem dessas estruturas coerentes contrasta com o comportamento irregular e errático que elas podem apresentar, como é o caso de um furacão, por exemplo.” Já nos anos 50, o matemático húngaro John von Neumann3 alertava que o tema da complexidade seria o problema central da ciência do futuro. Mas essa perspectiva fazia parte de um pensamento “cibernético” ofuscado pelas promessas pragmáticas feitas pelos cientistas da então emergente Inteligência Artificial, que recusavam os problemas relativos aos paradoxos e condições de instabilidade dos sistemas complexos. Seymour Papert uma vez disse a respeito do Perceptrons – o livro de grande influência que ele escreveu com Marvin Minsky – que se o trabalho deles era tão crítico da pesquisa cibernética e de redes neurais era porque havia muito romantismo e muito pouco rigor matemático nesse campo (Heinz von Foerster, 1995).

A maior parte dos estudos científicos anteriores ao desenvolvimento das teorias sobre a complexidade tentava compreender o mundo através de modelos matemáticos lineares. Quando um estudo resultava em respostas “estranhas”, o fracasso era atribuído a erro experimental ou a um “ruído”. Agora, sabe-se que este ruído continha informações importantes para o experimento. Hoje, o tema da complexidade vem provocando “uma faxina geral epistemológica e querelas de legitimidade entre as diversas disciplinas científicas”, segundo Jean-Pierre Dupuy, para quem os saberes que ajudam a formar o perfil da pesquisa no campo são: as “estruturas dissipativas” (instabilidades ou desordens geradas dentro de uma ordem) Ilya Prigogine (Prêmio Nobel de Química, em 1977); a teoria da auto-organização do ser vivo desenvolvida pelo médico e biólogo Henri Atlan; e o princípio da “ordem pelo ruído” apresentado em 1960 por Heinz von Foerster, que 3

Radicado nos EUA em 1933, von Newmann dedicou a maior parte do seu trabalho à mecânica quântica; participou dos projetos da bomba atômica e da bomba H, cujos cálculos matemáticos da alta velocidade contribuíram para o desenvolvimento de uma nova geração de computadores de grande porte. Em 1944 formulou a teoria dos jogos e desenvolveu uma “teoria lógica dos autômatos”, que abrangia a probabilidade de falhas de um componente, ao contrário da lógica matemática, que trata de operações perfeitas ou deterministas, sem prever tratamento de erros. A partir desta lógica, ele propôs um sistema de computador analógico-digital. 24

dirigiu por mais de uma década o prestigiado Biological Computer Lab, da Universidade de Illinois (EUA). Fora das “ciências naturais”, Dupuy considera as contribuições críticas do princípio da racionalidade econômica que vêm sendo defendidas por alguns teóricos da área (Pessi-Pasternack, 1993, p. 105-108). Ilya Prigogine revolucionou a termodinâmica nos anos 60 ao mostrar que os resultados clássicos só eram válidos para sistemas fechados onde toda a quantidade de energia é sempre conservada. Quando se permite que a energia flua para dentro ou para fora de um sistema, o número e tipos de eventos históricos possíveis aumenta incrivelmente. Em vez de um equilíbrio único e simples, tem-se agora múltiplos eventos de complexidade variada (atratores estáticos, periódicos e caóticos); e, além disso, quando um sistema muda de forma de estabilidade para outra (na chamada bifurcação), flutuações mínimas podem ser cruciais na decisão da verdadeira forma do evento. Por isso, quando se estuda um dado sistema físico, é preciso saber qual é a natureza específica das flutuações que se apresentaram em cada uma das suas bifurcações, ou seja, é preciso conhecer a história exata para compreender a forma dinâmica corrente (Ilya Prigogine e Isabelle Stengers, Order out of Chaos, em De Landa, 1996)

Ilya Prigogine explica que a complexidade de um sistema é definida pela complexidade do modelo necessário para efetivamente prever o comportamento de um sistema. Por exemplo: para construir um modelo que corresponda exatamente a uma dada pilha de pedras (naturalmente irregulares) é necessário obter informações detalhadas sobre as formas e os pesos das pedras, além da exata posição de uma pedra sobre a outra. Uma diferença mínima na forma ou no peso de apenas uma das pedras bastará para que o modelo pareça completamente diferente da pilha original. É por isso que se diz que a imprevisibilidade de um sistema complexo é causada pela “sensibilidade à variação das condições iniciais” e que a complexidade é irredutível a um modelo mais simples que ela. Segundo Jean-Pierre Dupuy, para se reproduzir a informação contida em uma forma produzida pelo acaso, é necessário reproduzir toda a forma: “não existe economia possível sobre a informação a reproduzir (...) o território não admite nenhum outro mapa a não ser ele mesmo” (PessiPasternack, 1993, p. 107). Outro exemplo interessante é o experimento feito por pesquisadores do centro de pesquisas da IBM em Nova Iorque sobre o comportamento das dunas, que mantêm sua forma geral, apesar de serem constantemente alteradas pelos ventos e deslizamentos de areia. Eles construíram uma duna artificial – uma pequena pilha de areia sobre um prato balançado sensitivamente – para estudar esse comportamento em detalhe. Em um experimento, eles fizeram cair 35 mil grãos de areia da pilha, um a um. À medida que os lados tornavam-se bem íngremes – em alguns casos, por apenas um grão de areia – avalanches faziam a pilha desabar. Então ela começava a ficar mais inclinada novamente, até o momento da próxima avalanche. Este fenômeno é conhecido como auto-organizado criticamente – os grãos se organizaram para criar um declive até um certo ângulo, embora esse arranjo seja precário porque uma ínfima porção de areia pode colocar tudo abaixo. A pilha de areia não é completamente estável nem totalmente caótica (Time, 1993, p. 41).

A “teoria das catástrofes” de René Thom propõe-se a explicar o aparecimento de acidentes descontínuos em meios contínuos ou o aparecimento de descontinuidades onde antes inexistiam. 25

Há duas maneiras de explicar as descontinuidades. Uma é tentar ligar uma descontinuidade observada a uma outra que a precede e que a provoca: corresponde ao modo de linguagem que podemos chamar tradicional. Na linguagem usual, quando nos perguntam por que algo acontece, procuramos pôr em envidência uma causa, e a causa em geral é algo descontínuo. (...) Este modo de raciocionar está muito enraizado no nosso espírito e é muito difícil resistir a isso. A teoria das catástrofes oferece um outro caminho, que consiste em dizer que um fenômeno descontínuo pode surgir quase que de forma espontânea, a partir de um meio contínuo. (...) se pegarmos um pouco de água numa temperatura positiva e a esfriarmos, num dado momento veremos aparecer pedacinhos de gelo. Pois bem, os pedaços de gelo começarão a aparecer num meio diferente, a água líquida, pelo menos teoricamente (Le Monde, p. 63).

Edgar Morin pensa a complexidade a partir do tetragrama dialógico ordem/desordem/ interações/organização e a descreve como uma “extrema quantidade de interações e de interferências entre um número muito grande de unidades (...) que desafiam as nossas possibilidades de cálculo; mas a complexidade abrange também indeterminações, fenômenos aleatórios (...) Ela convive com uma parte de incerteza, seja nas raias de nosso entendimento, seja inscrita nos fenômenos” (Pessi-Pasternack, p. 14). Para ele, a idéia de ordem (regularidades, constâncias, estruturas, probabilidades) é mais rica que a idéia de leis, e a desordem (acasos, agitações, colisões, dispersões) “não é uma noção simétrica à da ordem, é um macroconceito” (idem, p. 18). Duas idéias básicas do pensamento complexo, segundo Morin, são a noção de “emergência” (novas propriedades) da Teoria dos Sistemas e a noção cibernética de “retroação”, que permitem conceber a autonomia sistêmica/organizacional. “As emergências retroagem sobre as condições e instrumentos de sua formação e, por isso, mantêm a perenidade do sistema. A retroação é o retorno de um efeito sobre as condições que o produziram” (Morin, 1986, p. 157). A organização assegura ao sistema uma relativa autonomia em relação aos fatores deterministas e aleatórios do exterior, mas essa noção de autonomia é complementar à idéia de dependência, já que todo organismo vivo precisa se alimentar de matéria, energia e informação para poder existir e reorganizar-se. A sociedade humana só existe nas e pelas interações entre os humanos. A sociedade que emerge dessas interações retroage sobre os indivíduos e os submete (Pessi-Pasternack, p. 90-91). A aplicação desse aparato conceitual às ciências sociais tem permitido surgir algumas novas áreas de pesquisa, como a “dinâmica de sistemas multiagentes”, que estuda a produção de comportamentos complexos globais através das interações locais das partes constituintes de sociedades humanas ou de ecossistemas biológicos. Autores como B. A. Huberman e N. S. Glance têm escrito, ao longo dos anos 90, trabalhos sobre temas como “dinâmica dos dilemas sociais”, “fluidez organizacional e cooperação sustentável”, “dinâmicas com expectativas”, “evolução de organizações informais”, “controlando o caos em sistemas distribuídos”, entre outros. Uma conferência sobre Complexidade, Sociedade e Liberdade realizada em junho de 1996, na Universidade do Quebec, Canadá, tratou de temas como “estratégias de comunicação em uma população de multiagentes”, “emergência das elites políticas”, “padrões de adaptação complexa no discurso”, “dinâmica complexa e corrupção política”, “globalização, informação e autonomia”.

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No âmbito da crítica teórica à racionalidade da Economia, uma abordagem recente é a que aplica as idéias de flutuações, bifurcações e interações aos processos históricos dos quais emergem o poder econômico. Richard Nelson e Sidney Winter, por exemplo, utilizam as novas teorias evolucionárias para analisar as mudanças que ocorrem num contexto de organizações que interagem não-linearmente. Os estudos de longa duração do historiador Fernand Braudel fornecem a base empírica para a crítica do modelo evolucionista linear (adotado tanto por autores marxistas quanto não marxistas) do sistema capitalista, que atravessaria estágios e crises previsíveis. Já em 1977, Braudel4 chamava a atenção para os equilíbrios e desequilíbrios profundos de longo prazo que observara nos seus estudos sobre fatos de natureza econômica ocorridos entre os séculos XV e XVIII. O que me parece primordial na economia pré-industrial, com efeito, é a coexistência das rigidezes, inércias e ponderosidades de uma economia ainda elementar, com os movimentos limitados e minoritários mas vivos, mas possantes, de um crescimento moderno. De um lado, os camponeses em suas aldeias que vivem de um modo quase autônomo, quase em autarquia; do outro, uma economia de mercado e um capitalismo em expansão, que se dilatam imperceptivelmente, se forjam pouco a pouco, já prefiguram o próprio mundo em que vivemos. Portanto, dois universos, pelo menos dois gêneros de vida estranhos um ao outro e cujas massas respectivas se explicam, entretanto, uma pela outra (Braudel, 1987, p. 12-13).

A partir dessas reflexões, também vêm sendo postas em questão as possibilidades de controle das dinâmicas de mercado através das estratégias racionais de planejamento e o papel efetivo dos monopólios e oligopólios no âmbito da macro e da microeconomia. (...) se o capitalismo sempre se apoiou em práticas não competitivas, se os preços das mercadorias nunca foram estabelecidos pela dinâmica demanda/oferta, mas impostos de cima pelos poderosos decisores econômicos, então o capitalismo e o mercado têm sido sempre entidades diferentes. Para usar um termo introduzido por Braudel, o capitalismo tem sido sempre “antimercado” (De Landa, 1996, p. 3).

Daí que Manuel De Landa propõe o completo abandono do termo “capitalismo” pela idéia relacional de “mercados e antimercados e suas dinâmicas” (idem, p. 4). De Landa considera que essa dinâmica é marcada pela inter-relação entre um contexto rigidamente controlado por estruturas institucionais hierárquicas homogêneas e agregações descentralizadas de componentes heterogêneos (meshwork/malha), nas quais rotinas informais tornam-se regras. A partir dessas pesquisas, parece cada vez mais claro que os pequenos mercados locais são realmente estruturas auto-organizadas de forma descentralizada, que surgem sem a necessidade de um planejamento central e cuja dinâmica não tem nada a ver com a chamada “mão invisível”, que regeria as relações “espontâneas” entre produção, circulação e consumo. Jane Jacobs criou uma teoria da dinâmica de redes de pequenos produtores entrosados pelas suas funções interdependentes e coletou algumas evidências históricas para sustentar suas afirmações. (...) malhas de pequenos produtores de uma cidade, através da interligação das suas habilidades podem começar a substituir importações com a produção local, que pode ser intercambiada com outras cidades em sentido inverso. Nesse processo, novas habilidades e novos conhecimentos são gerados, novos produtos começam a ser importados, os quais, por sua vez, se tornam matérias primas para uma 4

Em três conferências que proferiu na Universidade Johns Hopkins, EUA. 27

nova rodada de substituição de importação. Simulações não-lineares desses processos têm sido criadas em computador, confirmando a intuição de Jacob: uma crescente malha de habilidades é uma condição necessária para a morfodinâmica urbana. A malha como um todo é descentralizada e não evolui através de planejamento, mas por uma espécie de impulso criativo (idem, p. 6).

Apesar do enorme poder das corporações multinacionais para internalizar mercados e agenciar relações de dependência entre “centros” e “periferias”, as malhas de pequenos produtores vêm-se interconectando via redes de computador, através das quais têm acesso a diferentes, bem como intensas economias de escala. As redes de computador permitem a essas pequenas firmas reagirem com flexibilidade a súbitas mudanças da demanda, de forma que nenhuma delas fique sobrecarregada enquanto outras ficam com sua capacidade de reserva ociosa. (...) As redes eletrônicas são um importante elemento aí, já que as economias nos custos de coordenação que as multinacionais conseguem com a internalização de mercados podem ser desfrutadas pelas pequenas empresas através do uso de tecnologia descentralizadora. Os computadores também ajudam a criar um novo enfoque de controle interno nessas pequenas firmas (Thomas W. Malone e John F. Rockart, em De Landa, p. 9).

Tantas evidências de comportamentos caóticos e complexos em fenômenos e eventos da natureza, dos indivíduos e das sociedades, contudo, não são suficientes para garantir que o caos ou a complexidade seja mesmo o novo paradigma que solucionaria a atual crise da ciência. O físico JeanMarc Lévy-Leblond, por exemplo, considera que, “sob o vocábulo ‘caos’ esconde-se uma teoria física por certo nova em relação a seu objeto – os processos aparentemente desordenados –, mas tradicional em seu método” (Pessi-Pasternack, p. 165). Ele aconselha prudência na tomada de um novo paradigma que seria caracterizado pela relação ordem/desordem, ainda que venham surgindo problemáticas que têm a “desordem” como questão-chave. “A idéia de que esses enfoques fundariam um ‘novo paradigma’ parece-me revelar bem mais uma prematura inflação da mídia do que uma análise objetiva do próprio trabalho científico” (idem, p. 166). O máximo que Leblond admite é que agora haja atenção de certos cientistas para fenômenos que antes lhes escapavam ou domínios que eram deixados de lado por serem considerados como lugar da desordem, do irracional, do ingovernável. Mas esta mudança de procedimento não caracteriza, para ele, que a desordem esteja se inscrevendo como um paradigma dominante no conjunto da ciência contemporânea (idem, p. 167). E vai mais longe: acha que depois de séculos tentando legitimar e até mesmo impor a “ordem” ao mundo, espera-se que a ciência procure justificar seu fracasso legitimando a “desordem” (idem, p. 169). Mas ainda não chegou o dia em que uma teoria física poderá ser não somente estimulante e sugestiva, mas também explicativa e preditiva em domínios tão complexos quanto as Ciências Sociais ou as Ciências Econômicas. (...) A Física não é nem mais fundamental, nem mais rigorosa do que qualquer outra ciência, mesmo social. Ela tem virtudes e limites específicos (idem, p. 168-169).

Já o economista Jacques Attali vê esta questão paradigmática sob a ótica da linguagem. Por ocasião de todas as grandes crises do pensamento, os teóricos da sociedade buscam metáforas úteis, e as encontram nas Ciências Exatas. Hoje, a metáfora útil funda-se sem dúvida sobre as teorias da informação, e gira em torno do paradigma ainda vago da “ordem pelo ruído”. Parece-me que ela deverá estar no centro das Ciências Físicas e 28

Humanas do futuro, como a mecânica estava no centro das metáforas fundadoras das teorias sociais nos séculos XVII e XVIII, e a termodinâmica como pano de fundo das teorias físicas e sociais do século XIX (idem, p. 173).

A concepção sóciocultural deste paradigma emergente em torno da teoria da ordem pelo ruído pressupõe que uma ordem só existe e se mantém se for capaz de fazer circular informações que tenham um sentido para cada uma das partes envolvidas. Na explicação de Jacques Atalli, o ruído seria como um “parasita” que intercepta a comunicação, reduzindo o seu sentido ou criando novo sentido em um outro nível de organização. Ao recriar uma complexidade, uma forma, a desordem torna-se criadora da ordem: Esse paradigma permite esboçar uma teoria social: uma ordem social só existe quando os modos de comunicação entre seus membros conferem uma significação coerente às informações que trocam entre si. (...) O aparente paradoxo desse paradigma é que o mecanismo que destrói o sentido é justamente o mesmo que faz nascer o novo sentido. De certo modo, pode-se dizer que o sentido da forma substitui o sentido do progresso (idem, p. 174).

Para Ilya Prigogine, neste período de transição, a ciência “expressa o nosso questionamento diante de um mundo mais complexo e imprevisto do que a ciência clássica podia imaginar” (idem, p. 44): (...) a ciência determinista clássica cede o lugar a uma nova ciência pluralista: respeitando outros questionamentos, outras culturas, cuja mensagem parece poder se integrar em um campo cultural mais vasto, inaugurando talvez uma nova era do saber (Pessi-Pasternack, p. 36) Enquanto a ciência clássica insistia sobre a estabilidade e o determinismo, hoje vemos por todo lado instabilidades, flutuações, bifurcações: trata-se de uma mudança de perspectiva, característica da segunda metade do século XX (idem, p. 44-45)

As dúvidas e constestações em relação à emergência ou não de um novo paradigma configuram o estado de crise da ciência de que falam Santos e Morin (1991), num cenário em que a complexidade torna-se cada vez menos escamoteável. O paradigma-rei da ordem deixou por toda a parte de ser operacional, mas a dialógica complexa (de complementaridade, concorrência, antagonismo) entre ordem, desordem e organização não se inscreveu nem enraizou de modo nenhum em paradigma.(...) Por toda a parte, somos levados a considerar, não objetos fechados e isolados, mas sistemas organizados em relação co-organizadora com o seu ambiente, mas a idéia de auto-ecoorganização não se introduziu de modo nenhum nas ciências biológicas, e a fortiori não pôde impor-se como paradigma. (...) Fala-se de interdisciplinaridade, mas por toda a parte o princípio de disjunção continua a separar às cegas. (...) Aqui e ali começa-se a pôr em causa o reino dos peritos e dos tecnocratas, mas não se põe em causa o princípio da hiperespecialização que os produz e reproduz. (...) A crise está aí, multiforme e multidimensional. As fraturas multiplicam-se em todas as frentes do conhecimento científico, empírico, teórico, lógico, mas o paradigma fóssil continua a não estalar (Morin, 1991, p. 207-208).

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1.2 Imprecisão e incerteza A crise que a ciência vem atravessando nesta última metade do século diz respeito também ao enfrentamento dos fenômenos e situações que não cabem nos limites da precisão absoluta. Foi preocupado com esses fenômenos vagos e as situações variáveis que se manifestam na nossa consciência como objetos conceituais que o físico francês Abraham A. Moles cunhou a expressão “ciências do impreciso”, lançada em 1957, no trabalho La création scientifique (A criação científica), em colaboração com Elisabeth Rohmer5. Seu principal pressuposto era o de que o “mundo dos fenômenos” (o que “aparece” ao espírito prolongado por instrumentos de observação) excede infinitamente o “universo do preciso”, no qual se enquadram as coisas constantes e estáveis – a queda dos corpos, as leis da eletricidade, por exemplo. O mundo não é um laboratório onde os fenômenos são depurados, isolados, controlados, ao bel prazer e à vontade do experimentador que brinca com eles, para descobrir uma 5

Moles é doutor em Ciências Físicas e em Letras; Rohmer é licenciada em Filosofia e “especialista na análise micropsicológica da vida cotidiana”. 30

verdade transcendente, incontestável, pois depurada sob a forma de correlações fortes entre variáveis evidentes. (Moles, 1995 p. 15)

Na história ocidental moderna, a ciência é apresentada como “o único verdadeiro triunfo do pensamento, o triunfo do inteligível e da consciência universal” (idem, p. 16). O axioma de que não existe nada do mundo exterior que não se possa conhecer pelo método científico, que tudo pode ser objeto de ciência, subentende o racionalismo como ética do pensamento contemporâneo que se impôs a todos os domínios do conhecimento ocidental. Mas essa ciência quase não fala do que é impreciso, do que é flutuante, do que muda e só se repete aproximadamente. As chamadas ciências exatas sugerem que o inexato não tem regras nem leis; é anômico e, portanto, rejeitado no reino da ciência. Moles considera, porém, que a palavra “ciência” não pode se resumir ao “conhecimento das formas regulares que se apresentam ao espírito”. Para ele, essa visão provocou um desvio do desenvolvimento científico, “que se afastou de um grande número de fenômenos porque eles eram vagos e portanto difíceis de manipular com os instrumentos de que dispunha”. A “categoria” dos fenômenos imprecisos não tem – ou quase não tem – “ciência” nem métodos que lhes sejam próprios. Para esse mundo do inexato, do impreciso, do fluido, das correlações fracas que se aproximam é necessário “construir uma epistemologia (regras para chegar à verdade), uma metrologia (ciências e técnicas da medição do impreciso) e uma metodologia (conhecimento dos procedimentos que permitam ao homem agir sobre coisas vagas)” (idem, p. 1618). Para Moles, a ação criadora em ciência exige do pesquisador mentalidades e atitudes que se enquadrem no que ele chama “a ciência em vias de se fazer”, em contraposição à Ciência estabelecida. A ciência acabada – que nós chamamos de a muralha dos livros – refere-se a uma “inteligência universal” cuja memória é perfeita, cujo campo de consciência é infinito e que é sempre capaz de reproduzir uma outra vez o que ela já fez, isto é, de refazer o caminho já traçado, de retomar o cálculo já feito, sem erros e sem cansaço. Os objetos dos quais a ciência acabada trata são totalmente delimitados, cada um tem uma definição fechada, são construções do espírito e são antes de tudo esquemas, mas esquemas algumas vezes extremamente ricos e completos (...). Todo procedimento intelectual, toda circulação no interior da muralha de livros para erguer antecipadamente uma porção do todo, aqui ou lá, um fragmento, um elemento, uma página ou um livro, é apenas uma pequena amostra mas que obedece dentro de sua estrutura interna às mesmas leis que aquelas às quais obedece o conjunto; microcosmo e macrocosmo são solidários neste caso; eles só diferem por seus tamanhos, a parte sendo logicamente representativa do todo: é precisamente o mundo da lógica (Moles, 1995, p. 38-39).

Logo, a “ciência acabada” e a “ciência que se faz” obedecem a sistemas de pensamento diferentes:

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CIÊNCIA ESTABELECIDA

CIÊNCIA EM VIAS DE SE FAZER

• Corpo de conhecimentos que aumenta ao longo da evolução cultural e é constituído pelo conjunto de todas as publicações científicas, controladas segundo as regras da lógica matemática e do método experimental, virtualmente acumuladas dentro de uma espécie de “biblioteca universal”.

• É mais um campo de possibilidades, onde o verdadeiro e o falso nunca são eternos e o pesquisador assume uma atitude de exploração dos canais do possível, numa trajetória mais ou menos complexa.

• “A descoberta científica não é nada mais do que um trajeto estabelecido dentro do campo dos possíveis, um trajeto verificado (...) que vai se inserir em uma etapa posterior dentro da muralha dos livros, a muralha vertical da ciência estabelecida, aumentando a densidade e a extensão desta.” • Cada zona desta muralha corresponde a uma especialização, em relação à qual o pesquisador possui uma “cultura científica” (constrangimentos lógicos ou culturais). • A circulação dentro do campo da ciência estabelecida (regido pela balizagem da lógica universal) é “segura”; vagar dentro do campo dos provisoriamente possíveis e dos impossíveis é arriscado.

• “O campo dos possíveis lhe parece [ao pesquisador] ser exatamente como um labirinto que ele procura percorrer e, por este meio, compreender.” • (...) os contornos dos muros e dos corredores são vagos, nebulosos e só são vistos melhor ao se aproximar deles, para dar lugar a outras perspectivas e a outros contornos.” • As paredes que limitam o trajeto do pesquisador não parecem rígidas e há indícios de um trajeto sutil que permita contornar os muros do impossível presente. • O vago, o impreciso e o nebuloso deixam de ser obstáculos rescisórios para se tornarem dados do campo de consciência do pesquisador. * Baseado em Moles, 1995, p. 34-36

A criação intelectual torna-se, então, uma caminhada do pensamento que parte de um fragmento do universo da ciência acabada e passa por várias etapas: a associação, a transformação, a dilatação, a mudança de ponto de vista. A ciência faz “um esforço heróico e desesperado para tirar seu conhecimento dos lodaçais do vago”, mas ela só entra em transformação quando reconhece os territórios de lodaçais, de fluidez e de nebulosidade como realmente importantes para o conhecimento geral do universo. A despeito do esforço positivista do século XIX para livrar-se da herança de nebulosidade legada pelo pensamento medieval, não foram poucas as tentativas na história da criação científica para levar em conta os fenômenos imprecisos como matéria específica de observação e de análise. A própria oposição entre “ciências exatas” (da natureza) e “inexatas” (humanas, sociais) é de natureza histórica, não epistemológica. É uma diferença de escolha: aqueles que se aventuraram pioneiramente na construção do pensamento científico ocidental escolheram casos em que era fácil observar cadeias seqüenciais de causas/efeitos e “abandonaram ao nãoconhecível todos os fenômenos mais complexos” (idem, p. 41-45). A noção de causa é uma regra de ação baseada na experiência do passado, a partir da qual a vida e as coisas são organizadas, visando ao futuro. Embora mantendo-se fiel ao princípio da causalidade, Einstein descobriu a falha da teoria newtoniana mostrando que não há um “agora” universal e sim um “aqui e agora” para cada observador. Essa concepção de tempo-espaço relativo trouxe nova dificuldade para a definição de causalidade fundamentada na seqüência necessária e linear de causa e efeito. A descoberta de que a energia, assim como a matéria, não é um contínuo trouxe mais dificuldade para a manutenção do clássico padrão causal. Em 1927, o físico alemão

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Werner Heisenberg formulou o “princípio da incerteza”, postulando que “nunca podemos prever o futuro da partícula com completa certeza; porque, de fato, não podemos ter plena certeza acerca do seu presente. Se quisermos razoavelmente prever seu futuro, temos de lhe conceber certa incerteza, certo âmbito de alternativas, certa margem – aquilo a que os engenheiros chamam tolerância” (Bronowski, 1977, p. 62-63). (...) o princípio da incerteza mostrou na Física atômica precisamente que o acontecimento e o observador não são separáveis. (...) algo semelhante aconteceu com a lógica: Von Newmann definiu um ponto de partida ao desenvolver um sistema matemático, a teoria dos jogos, baseado nas atitudes mentais essencialmente indeterminadas e multivalentes que todos nós mantemos nas nossas relações cotidianas (idem, p. 70).

As maiores contribuições para o domínio do impreciso vieram do cálculo das probabilidades, com “a tomada de conta rigorosa das repetições e da emergência da estabilidade estatística através das variações dos componentes”, e da teoria da Gestalt, “produto do pensamento dialético alemão” segundo o qual o todo é diferente de suas partes e independente da natureza dessas partes, estando, portanto, sujeito à jurisdição de um conhecimento em si mesmo. A essas acrescenta-se a “lógica do provável”, desenvolvida por Hans Reinchenbach, que estabelecia um valor intermediário entre 0 e 1 no julgamento das proposições com valor de verdade (idem, p. 45-50). A lógica de probabilidade de Reinchenbach traz um certo tipo de instrumento para manipular conceitos cuja verdade está longe de ser categórica, seja porque elas são mal estabelecidas sobre o plano experimental, seja porque as definições das próprias palavras são fluidas demais para conduzirem a adesão da razão (idem, p. 51).

Os problemas da vida real são imprecisos. Raramente pode-se resolvê-los com um sim ou um não. Ou seja, partem de regras polivalentes que produzem respostas em escalas de valores. Este tipo de lógica multivalorada foi explorada há cerca de 60 anos por Jan Lukasiewicz, um lógico polonês cujo trabalho foi seguido pelo “filósofo quântico” Max Black, que criou a base do que vem sendo pensado como funções de pertinência de conjuntos nebulosos. No início dos anos 60, o cientista da computação Lofti A. Zadeh aperfeiçoou a pesquisa original de Lukasiewicz e desenvolveu o que se conhece hoje como teoria dos conjuntos nebulosos, introduzindo o termo fuzzy em nossa linguagem para lidar com o que Black tinha se referido como vaguidade. Em 1965, Zadeh publicou um texto introdutório sobre o assunto, intitulado Fuzzy Sets. Ao contrário dos conjuntos anelares, derivados da lógica tradicional, que obedecem a requisitos rígidos de pertinência, nos quais todo objeto é completamente incluído ou excluído de um conjunto (preto/branco, quente/frio etc), a lógica fuzzy é multivalorada, isto é, admite graus de pertinência de conjunto (cinza, morno). Em vez de se restringir à informação binária (sim/não, verdadeiro/falso), a lógica fuzzy emula a habilidade de raciocinar, com tolerância a erros, e faz uso de dados aproximados (mais lento, mais rápido) para encontrar soluções precisas, mesmo lidando com dados ambíguos. Os conceitos de “atratores” e de “nuvens dinâmicas” – que tratam da emergência de formas a partir de um agregado de elementos – foram objeto de várias análises devido à sua importância para a teoria das classificações. Por exemplo: fotografias de seres ou de objetos pertencentes a um 33

mundo culturalmente “incompreensível”; formas geográficas captadas por satélite ou formas orgânicas observadas através de microscópios. Ou seja, todo objeto ou paisagem de ação imprecisos contêm “ruído” – sinal indesejável que se introduz na transmissão de mensagens (Shannon) ou variedade e imprevisibilidade dos componentes de um sinal quando não se sabe muito bem qual forma se procura. Um “sinal fraco” desconhecido ou difícil de identificar entre os ruídos de um ambiente é uma boa metáfora de um objeto impreciso que pode levar a importantes descobertas. Esse sinal fraco é uma espécie de “desvio” dentro de uma regularidade; a extração desse sinal a partir de um ruído ou a emergência de uma forma definida em um fundo difuso obedecem a “princípios de incerteza”, da mesma forma que as limitações a priori de conhecimento que um observador tem em relação ao que observa. Ou seja, “o império do conhecimento científico é limitado por uma outra ordem de fatores que são de natureza humana ou social” (Moles, p. 105). Para Moles existem três tipos de fenômenos imprecisos: 1) aqueles em que é grande a probabilidade de erro na sua determinação e cujos contornos são vagos ou variáveis, mudando de uma ocorrência para outra, como os meteorológicos e os demográficos; 2) aqueles que permanecem vagos por falta de técnicas de medição adequadas, exigindo um esforço conceitual para “encerrá-los dentro das medidas possíveis”, como os valores estéticos e o comportamento do subconsciente; 3) aqueles “vagos por essência, isto é, cujos conceitos que servem para enunciá-los são eles próprios vagos, talvez inadequados, mas que são os únicos de que dispomos”, como os estados de desordem e os processos de emergência das formas. As ciências do impreciso consideram o “objeto” de sua descrição como um “dado fenomenológico” e, por isso, estabelecem seu procedimento sobre a “construção de uma evidência” a partir da prática de observação. O dado fenomenológico emerge de processos de “redução”, que constituem a primeira etapa da construção de “universais”. O trabalho de redação, de “colocação em forma pelas palavras”, contribui para construir a “coisa observada” fora das relações imediatas que engendram as banalidades do conhecimento corrente (dimensões, peso, velocidade, utilidade etc). Nesse processo, a evidência propaga-se dos objetos às relações que estes mantêm entre si, num movimento paralelo ao da causalidade racional, que está na base da demonstração nas ciências da natureza (idem, p. 109-110). Do ponto de vista da lógica formal, existe um risco muito grande de erro dentro da chamada “cadeia de deduções”: as proposições sucessivas do texto. O fenomenólogo corre esse risco ao tomar como verdadeiras relações “supostas” entre os objetos para depois confirmá-las ou refutá-las e, por isso, situa-se bem mais perto da “ciência em vias de se fazer” (idem, p. 110). Os métodos das ciências do impreciso são portanto diferentes em sua própria essência: seu esforço é para encontrar uma relação entre dois conceitos vagos. A procura da evidência como uma espécie de quantidade instilada dentro dos conceitos pela maneira pela qual eles são apresentados (entimema) utiliza todos os artifícios de retórica mental que quer mostrar antes de demonstrar, seduzir antes de convencer, até mesmo (...) irritar e suscitar objeção, portanto reflexão (idem, p. 113). 34

A relação do pensamento humano com as formas imprecisas e fugidias das coisas vagas é frequentemente de natureza dialética: O homem, para “racionalizar”, estabelece oposições que a qualquer momento lhe parecem pertinentes, mesmo se, mais tarde, no encaminhamento do espírito, ele as mudam ou as destroem. (...) compreendemos melhor a oposição, o contraste, entre dois conceitos, a antinomia entre duas expressões válidas, do que compreendemos cada uma das expressões separadamente. (...) percebemos melhor a oposição entre o quente e o frio do que somos capazes de definir de um lado o “quente” e do outro o “frio”; foi necessário ao pensamento científico um tempo considerável para chegar a uma definição satisfatória da temperatura, enquanto que a oposição entre o quente e o frio e as palavras para designá-la remontam à linguagem mais antiga dos homens. (...) Assim, quando uma oposição for estabelecida com clareza, ela fornecerá um pouco de sua própria evidência aos conceitos que a compõem. Em termos mais modernos, dirse-ia que há propagação da evidência desde a própria oposição até os termos isolados desta oposição; a “prova” de sua existência é que eles são opostos. Então começa um longo caminho conceitual que deve ser semeado de aventuras, de variações e de enriquecimento (idem, p. 114-115).

Trata-se, portanto, de um esforço explicativo, de um rito de passagem entre as ciências imprecisas e as aceitas, no qual intervêm dois aspectos: a “medida” como sistema de comparação entre a imprecisão humana e um dado exterior material; o “pensamento estatístico”, que religa as ocorrências particulares a uma forma geral, à lei de correlação ou à forma “normal”, incluindo a idéia de “erro estatístico”, impondo ao espírito a noção de “tolerância aceitável” no interior de uma afirmação, assim como as margens de preditividade que resultam dela (idem, p. 117). O pensamento ocidental impôs ao mundo um sistema de medidas traduzidas por grandezas e números, cujas formas de percepção e representação são um “fragmento da história das culturas” (idem, p. 22). Medir é comparar um padrão empírico mais ou menos comum a todos os homens a uma coisa do mundo exterior. Mas o sistema métrico encerra uma preocupação de normalização, de universalização, de abstração. “Surge então o perigo de confundir a medida e a coisa e de acreditar que basta medir para dominar, basta conhecer para fazer, explicar para compreender, sofrendo dentro desta conquista de um conhecimento – que é incontestável – a miragem da precisão” (idem, p. 23). Nessa “ideologia” que submete o mundo do conhecimento, o impreciso não é mais apenas o contrário do preciso; é o mau, o grosseiro, que se contrapõe à excelência da precisão, não sendo, portanto, digno do pensamento. Essa submissão da ciência contemporânea à ditadura da metrologia e às técnicas suscitadas pelas ciências bio-físico-químicas pode ser resumida na frase totalitária de Lord Kelvin: “É apenas uma pobre ciência aquela que não pode exprimir-se por medidas” (idem, p. 56). Para o espírito inovador, no entanto, “vale mais a pena saber de maneira incerta do que não saber nada”. Entre ignorância e precisão científica “situa-se uma faixa notável de fatos mal 35

determinados onde o esforço por meio de qualquer procedimento para reduzir a indeterminação fala mais sobre a abertura das hipóteses e das condições que estabelecem um campo das possibilidades do que sobre o tratamento correto de resultados de amostragens obtidas por processos convencionais segundo hipóteses limitativas demais” (idem, p. 25-26). _____________________

Referências: BRONOWSKI,

Jacob. O senso comum da ciência. Belo Horizonte/S.Paulo, Itatiaia/Edusp, 1977. 126 p. (Col. O homem e a ciência, vol. 4)

KOSKO,

Bart, Neural networks and fuzzy systems: a dynamical systems aproach to machine intelligence, EUA, Prentice Hall, 1991.

MOLES,

Abraham A (com colaboração de Elizabeth Rohmer). As ciências do impreciso. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1995. 372 p.

1.3 Ciência e ciências sociais Ao propor uma crítica sistemática da transição paradigmática da ciência moderna e das correntes dominantes da epistemologia, com base na filosofia hermenêutica6, Sousa Santos (1993) afirma que não é possível compreender as diferentes disciplinas científicas sem a compreensão de como “trabalha” o seu todo – “a” ciência – e vice-versa. Sua proposta, aqui encampada como referencial paradigmático, é a de compreender a ciência enquanto prática social “para além da consciência ingênua ou oficial dos cientistas e das instituições de ciência”, tendo com eixo privilegiado as ciências sociais7. O estatuto de cientificidade das ciências sociais é normalmente discutido em termos da sua identidade ou não com as ciências naturais. Ou seja, se a ciência configura-se como um campo unitário ou dual. Para Santos, esta é uma discussão marcada pela hegemonia da filosofia positivista, segundo a qual as ciências sociais e naturais partilhariam da mesma fundamentação lógica e metodológica, baseada no modelo de explicação hipotético-dedutivo (formulação de leis) e na universalidade do conhecimento. Tornar compreensível o que as ciências sociais são na sociedade e o que elas dizem sobre a sociedade significa desvendar as condições de produção, de distribuição e de apropriação dos seus múltiplos objetos teóricos “para saber como se constituem socialmente os sujeitos sociais e seus objetivos e, portanto, como se desenrolam os processos de potenciação e de degradação da

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Modalidade da filosofia que trata da compreensão e interpretação dos textos e se divide em quatro correntes de pensamento: a metodológica, formulada no século XIX por Dilthey para a interpretação de textos científicos no contexto da sua produção; a filosófica, na qual Heidegger e Gadamer mudam o foco da interpretação para a compreensão existencial; a hermenêutica crítica desenvolvida por Apel e Habermas visando a uma ampla reconstrução das bases sociais do discurso e da compreensão intersubjetiva; e a fenomenológica de Ricoeur, que tenta sintetizar as várias correntes hermenêuticas com o estruturalismo e a fenomenologia. Santos utiliza formulações das três últimas para desenvolver o que chama de dupla hermenêutica: de suspeição e de recuperação. 7 A construção epistemológica a partir da qual Santos realiza a sua “desconstrução hermenêutica” é a de Bachelard, que “interpreta com fidelidade o modelo de racionalidade que subjaz ao paradigma da ciência moderna” e cujos trabalhos influenciaram autores como Foucault, Althusser, Bourdieu, Veron, Morin, entre outros. 36

subjetividade social” (idem, p. 13). Enquanto prática social, as ciências sociais são subjetivadas pela sociedade, que cria condições de emergência e fortalecimento tanto dos sujeitos individuais da ciência (os cientistas) como dos sujeitos coletivos (as universidades, as disciplinas científicas, os centros e os projetos de investigação). Desde meados do século XIX até hoje a ciência adquiriu total hegemonia no pensamento ocidental e passou a ser socialmente reconhecida pelas virtualidades instrumentais da sua racionalidade, ou seja, pelo desenvolvimento tecnológico que tornou possível. A partir desse momento, o conhecimento científico pôde dispensar a investigação das suas causas como meio de justificação. Socialmente passou a justificar-se, não pelas suas causas, mas pelas suas consequências (idem, p. 30).

A lógica que sustenta a ciência como lugar privilegiado do acesso à verdade apóia-se em três atos epistemológicos fundamentais: a ruptura, a construção e a constatação. Por serem considerados essenciais a qualquer prática científica, esses atos aplicam-se igualmente às ciências naturais e às ciências sociais. São, contudo, de aplicação mais difícil nestas últimas. Por um lado, porque as ciências sociais têm por objeto real um objeto que fala, que usa a mesma linguagem de base de que se socorre a ciência e que tem uma opinião que julga conhecer o que a ciência se propõe a conhecer. (...) Por outro lado, porque o próprio cientista social sucumbe facilmente à sociologia espontânea, confundindo resultados de investigação com opiniões resultantes da sua familiaridade com o universo social (idem, p. 34).

Para Santos, a ruptura epistemológica no domínio das ciências sociais obedece a dois princípios básicos: o da não-consciência e o do primado das relações sociais, ambos com origem no pensamento de Emile Durkheim. O primeiro “estabelece que o sentido das ações sociais não pode ser investigado a partir das intenções ou motivações dos agentes que as realizam porque transborda delas e reside antes no sistema global de relações sociais em que tais ações têm lugar”; o segundo “estabelece que os fatos sociais se explicam por outros fatos sociais e não por fatos individuais (psicológicos) ou naturais (da natureza humana ou outra)” (p. 34). O cumprimento desses princípios enfrenta “obstáculos epistemológicos” que exigem uma constante “vigilância epistemológica”, na visão bachelardiana, porque o abandono dos conhecimentos do senso comum é um “sacrifício difícil”. (...) a ruptura epistemológica bachelardiana só é compreensível dentro dum paradigma que se constitui contra o senso comum e recusa as orientações para a vida prática que dele decorrem; um paradigma cuja forma de conhecimento procede pela transformação da relação eu/tu em relação sujeito/objeto, uma relação feita de distância, estranhamento mútuo e de subordinação total do objeto ao sujeito (um objeto sem criatividade nem responsabilidade); um paradigma que pressupõe uma única forma de conhecimento válido, o conhecimento científico, cuja validade reside na objetividade de que decorre a separação entre teoria e prática, entre ciência e ética; um paradigma que tende a reduzir o universo dos observáveis ao universo dos quantificáveis e o rigor do conhecimento ao rigor matemático do conhecimento, do que resulta a desqualificação (cognitiva e social) das qualidades que dão sentido à prática (...); um paradigma que desconfia das aparências e das fachadas e procura a verdade nas costas dos objetos (...); um paradigma que assenta na distinção entre o relevante e o irrelevante e se arroga o direito (...) de não reconhecer nada do que não quer ou pode conhecer; um paradigma que avança pela especialização e pela profissionalização do conhecimento, com o que gera uma nova simbiose entre saber e poder, onde não cabem os leigos que

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assim se vêem expropriados de competências cognitivas e desarmados dos poderes que elas conferem (...); finalmente, um paradigma que produz um discurso que se pretende rigoroso, anti-literário, sem imagens nem metáforas, analogias ou outras figuras da retórica mas que, com isso, corre o risco de se tornar, mesmo quando falha na pretensão, um discurso desencantado, triste e sem imaginação, incomensurável com os discursos normais que circulam na sociedade ( idem, p. 37-38).

O consenso positivista, que vigorou no domínio das ciências sociais por mais de um século, rompeu-se no final da década de 60 com a emergência de dois campos de crítica: um que assume plenamente o dualismo epistemológico; outro que parte de uma reflexão epistemológica sobre as ciências naturais, delas mantendo o primado da teoria sobre a observação, a aversão à reflexão filosófica especulativa sobre a ciência, a idéia do conhecimento como representação do real e a separação entre fatos e valores. No primeiro, algumas correntes chegam a pôr em causa a possibilidade da cientificidade das ciências sociais, com o que acabam negando o próprio dualismo do qual partiram, enquanto outras, mais moderadas (como a fenomenologia social, a etnometodologia e o interacionismo simbólico), reivindicam a especificidade do estatuto epistemológico das ciências sociais em contraposição ao das ciências naturais. Já o segundo diversifica-se em posições díspares, que têm em comum uma reflexão sobre a especificidade do objeto das ciências sociais e a construção de um modelo alternativo, prático, aberto, no qual cabem várias opções metodológicas e vários modelos explicativos (como os de Piaget, Habermas, Giddens e Bourdieu). Para Santos, um dos sociólogos que mais atenção tem dedicado às relações entre ciências sociais e ciências naturais e que melhor sintetiza o unitarismo epistemológico aberto e internamente diversificado é Anthony Giddens, que considera que o objeto das ciências sociais são seres humanos, “agentes socialmente competentes, que interpretam o mundo que os rodeia para melhor agirem nele e sobre ele”, aplicando reflexivamente o conhecimento que têm dos contextos da ação à produção de ações ou interações (Santos, p. 62). O fio condutor da sua argumentação é que o dualismo epistemológico é um efeito de prevalência do paradigma positivista enquanto filosofia da ciências naturais. A crítica deste paradigma torna possível inventariar algumas características das ciências naturais que as aproxima das ciências sociais. Assim, uma das consequências da epistemologia khuniana é mostrar que a racionalidade e a veracidade do conhecimento científico só são compreensíveis no interior do paradigma em que se acolhem, pois é este que proporciona o quadro de sentido a todas as práticas científicas no seu âmbito (idem).

Tal crítica aponta para a necessidade de substituição do modelo de explicação hipotéticodedutivo (formulação de leis) do positivismo lógico por um outro mais amplo e aberto, que dê conta de “observações ou acontecimentos que não podem ser facilmente interpretados no contexto de uma teoria ou de um quadro de sentido existente” (idem, p. 63). Giddens ressalva, porém, as especificidades dos instrumentos metodológicos das ciências sociais, em função da própria especificidade do seu objeto de estudo. Em primeiro lugar, “as leis das ciências sociais são históricas e por isso menos universais que as das ciências sociais”. Em segundo lugar, elas tratam de um universo constituído pelos atores sociais no âmbito dos seus próprios quadros de sentido, que

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são reinterpretados dentro de quadros teóricos através de uma mediação entre a linguagem “vulgar” e a técnica (idem, p. 63-64). Já o “construtivismo racionalista”, que também resultou do colapso do consenso positivista, pressupõe a hegemonia (e portanto hierarquia) da forma lógica das ciências naturais, em função da qual define o estatuto epistemológico das ciências sociais, ainda que admitindo características próprias do objeto social em comparação ao objeto não-social. Essa visão resulta em explicações de subordinação lógica, como a de certa corrente da antropologia que durante décadas contrapôs as sociedades tradicionais da África, Ásia e América Latina como “selvagens” ou “primitivas” em relação às “civilizações” européia e norte-americana, até ser posta em causa pelas “denúncias” de etnocentrismo na investigação antropológica. Seguindo esse rumo dos acontecimentos, Santos questiona se “caracterizar as ciências sociais a partir das ciências naturais é ou não uma forma de etnocentrismo epistemológico”. No âmbito da pesquisa aqui proposta, não é preciso avançar tanto. O que interessa, no caso, é que o debate sobre o unitarismo ou a dualidade epistemológica entre os dois campos é fundamental para a compreensão dos referenciais teóricos que constituíram, historicamente (a partir da década de 60), duas disciplinas distintas, ambas de caráter interdisciplinar, interessadas em dois objetos implicitamente interligados: a informação e a comunicação. Formalmente definida, em 1962, como “a ciência que investiga as propriedades e o comportamento da informação e os meios de processamento da informação para acessibilidade e usabilidade ótimas” (em Braga, G. 1996a), a Ciência da Informação nasceu e se desenvolveu preocupada em tratar a documentação científica de maneira científica, isto é, racional, validável e com o maior controle possível sobre as probabilidades de erro nos processos envolvidos (redução de incertezas). Ou seja, teve como eixo paradigmático a filosofia positivista da ciência e a lógica matemática, e como disciplinas referenciais a linguística estruturalista, a psicologia comportamental e a ciência da computação, procurando sempre incorporar os desenvolvimentos teóricos, técnicos e metodológicos das ciências naturais, com ênfase no uso da medição e da estatística. A matriz teórica para a maioria dos conceitos de informação propostos como “adequados” para a área é a Teoria matemática da comunicação (1948-49), “a fórmula mágica de Shannon” que, segundo Shera e Cleveland (1977), “parecia abrir incontáveis segredos de informação e dava uma medida científica para amparar uma base teórica”, mas que se reduzia a quantificar a informação suportável por um canal e não dava a menor importância à significação das mensagens. Nesse processo de busca de legitimação científica, boa parte dos cientistas da informação preocupava-se em basear suas proposições em disciplinas já consolidadas, como a física, a química e particularmente a biologia (com as noções de informação genética e de sistema orgânico, por exemplo), cujos conceitos e formulações eram analogamente apropriados. Com base no modelo de explicação hipotético-dedutivo foram então formuladas leis8 que tentavam dar conta da maximização do uso dos documentos armazenados e da relevância dos textos 8

Alguns exemplos: as leis de Zipf (lingüista) de medição de freqüência de termos em textos, apropriada pela bibliometria; a lei dos 80/20, que estabelece uma medida de proporção estável entre a coleção e a demanda dos usuários, independentemente do tamanho inicial da coleção (invariância de escala); as cinco leis básicas de Ranghanathan que 39

recuperados, de acordo com um critério de “correspondência exata” à necessidade do usuário, expressa na pergunta feita por ele ao intermediário da busca. Além disso, ao se propor abranger o conhecimento universal cumulativo, a ciência da informação excluía (ou dava pouca importância) às particularidades dos contextos em que o conhecimento é produzido, organizado e consumido. Um sinal desta postura é a chamada “literatura cinzenta”9, que embora tenha sido tema de várias análises e estudos de caso, ainda não possui um “lugar” específico nos sistemas de recuperação da informação. No entanto, nos centros de documentação de ONGs e organizações populares, este é o documento típico através do qual a informação circula e a memória coletiva é preservada. Já a Comunicação desenvolveu-se como uma área de estudos cujo repertório teóricoconceitual deriva fundamentalmente da filosofia e das ciências sociais e “humanas” (biologia, psicologia), configurando-se como uma disciplina que raramente reivindica status científico calcado na lógica positivista, ainda que esta marque o pensamento de vários dos seus teóricos. A busca de um quadro teórico-referencial mais específico que permitisse formular as bases para uma “ciência da comunicação” tem esbarrado sempre na própria “natureza” do seu objeto de interesse, como observou Ciro Marcondes Filho (1983): A autonomia do objeto da ciência é a regra mais elementar para a construção de uma ciência. Essa independência é difícil de ser localizada na “ciência” da comunicação. Principalmente porque o objeto, a comunicação, não é um ato em si, com um status teórico próprio capaz de permitir que sobre si se funde a ciência. Comunicação sempre foi um processo e, enquanto tal, resultado de outros fenômenos mais abrangentes que ela (Marcondes Fº, 1983, p. 19).

À semelhança da Ciência da Informação, as pesquisas em Comunicação seguem o princípio pragmático de aproximar teoria e prática, tanto em relação a questões imediatas quanto a problemas mais duradouros das sociedades, sempre enfatizando o processo de comunicação, definido como o compartilhamento de informação entre os participantes. Essa idéia de compartilhamento, de interação, é uma das razões para o modelo de Shannon e Weaver ter sido progressivamente substituído, na área, por modelos mais complexos, que incluíam variáveis desprezadas na abordagem matemática da comunicação entre máquinas (ver Cap. 2). Como exemplo de aplicações dos estudos sobre a comunicação humana em contextos específicos, Hernando Gonzalez (1988) cita temas como censura e controle social da mídia, propaganda e persuasão, campanhas de informação pública, formação de opinião pública, difusão de inovações e fluxo de informação intra e transfronteiras. O papel crucial da comunicação na democratização da sociedade tem atravessado a produção intelectual da área desde a década de 50,

servem de princípios para a catalogação bibliográfica; a “lei” de Price de que a literatura especializada cresce 7% ao ano, enquanto 10% “morrem”, isto é, deixam de ser citados; as medidas de revocação (relação dos documentos relevantes recuperados sobre o total de relevantes) e de precisão (relação entre os documentos relevantes recuperados sobre o total de recuperados). 9 Diz-se do conjunto de relatórios, folhetos e outros materiais datilografados ou impressos produzidos fora dos circuitos editoriais comerciais que, apesar de “representarem uma fonte extremamente rica de informações inéditas” (segundo Martine Comberousse), é marginalizado pelo controle bibliográfico e documental tradicional. Comberousse é diretora de informação científica e técnica das bibliotecas do Ministério de Ensino Superior e Pesquisa da França. 40

ainda que de uma forma não regular, com reflexões que incorporam idéias de pensadores de todas as épocas e correntes, de Aristóteles a Habermas e Mattelart. No entanto, as duas disciplinas têm passado ao largo das redes de relações interpessoais e interorganizacionais (mediadas ou não por computador) como um meio extremamente dinâmico de difusão democrática da informação. Estudos sobre o impacto das chamadas “novas tecnologias de informação e comunicação” (que não param de se renovar aceleradamente desde o início dos anos 80) tendem a se limitar às conseqüências imediatas da adoção do aparato técnico, ora com um enfoque apocalítico (como o isolamento das pessoas e a dominação transnacional), ora com abordagem de encantamento, como se o tratamento maquínico fosse resolver as grandes dificuldades humanas frente à “explosão” da informação e do conhecimento. Só recentemente, com a transformação da Internet em um “fenômeno da atualidade”, é que os teóricos das duas disciplinas parecem ter acordado para as infinitas possibilidades culturais, sociais e políticas da interação de pessoas via redes eletrônicas. Assim, a abordagem transdisciplinar aqui proposta dará ênfase ao “olhar” não-positivista das ciências sociais sobre os problemas de comunicação de informação no âmbito das redes de ONGs e movimentos sociais, centrando-se nos “agentes socialmente competentes, que interpretam o mundo que os rodeia para melhor agirem nele e sobre ele”, dos quais fala Giddens. _______________ Referências: BRAGA,

Gilda Maria. Informação, ciência da informação: breves reflexões em três tempos. pré-impresso, jan/1996, 11 p.

GONZALEZ,

Hernando. Evolution of communication as a field. Communication Research, vol.15, nº 3, jun/88, p. 302-

308. MARCONDES FILHO, NEELAMEGHAN, SHERA,

Ciro. O enterro de Althusser. Boletim Intercom, nº 41, 1983. p. 19-27.

A. Information, communication and society. Lib. Sc., vol.17, nº 1, mar/1980, p. 1-5

Jesse.H. e CLEVELAND, Donald B. History of information science. S.I. s/nº, 1977. p. 249-225.

SANTOS,

Boaventura de Sousa. Introdução a uma ciência pós-moderna. Lisboa, Afrontamento, 1993. 3ª ed. 200 p.

1.4 Ciência e senso comum As idéias centrais da ciência tradicional – ordem, causalidade e previsibilidade – são mais antigas e profundas do que todas as técnicas e pensamentos através dos quais a ciência as exprime. “São idéias do senso comum (...), generalizações que todos fazemos no dia-a-dia e que usamos continuamente para nos ajudar a governar a vida” (Bronowski, 1977, p. 19). Foi na contramão do senso comum que as ciências sociais começaram a se constituir no século XIX. “Mas, ao contrário das ciências naturais, que sempre recusaram frontalmente o senso comum sobre a natureza, as ciências sociais têm tido com ele uma relação muito complexa e ambígua” (Santos, 1993, p. 40). Nem todas as correntes consideram possível ou desejável a ruptura com o senso comum e as que a propõem possuem diferentes visões sobre o conceito: uns ressaltam a sua positividade (como o conceito de “consciência coletiva” na sociologia de Durkheim ou o de

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“opinião pública” utilizado pela ciência política e a comunicação), outros a sua negatividade (como o conceito de “ideologia espontânea”, de origem marxista). O senso comum, enquanto conceito filosófico, surge no século XVIII e representa o combate ideológico da burguesia emergente contra o irracionalismo do ancien régime. Trata-se, pois, de um senso que se pretende natural, razoável, prudente, um senso que é burguês e que, por uma dupla implicação, se converte em senso médio e em senso universal. A valorização filosófica do senso comum esteve, pois, ligada ao projeto político de ascensão ao poder da burguesia, pelo que não surpreende que, uma vez ganho o poder, o conceito filosófico de senso comum tenha sido correspondentemente desvalorizado como significando um conhecimento superficial e ilusório (idem, p. 39)

Ao longo do tempo, uma parte da comunidade acadêmica das ciências sociais construiu um “senso comum” sobre o senso comum de certos grupamentos humanos ou sociedades. Existe, por exemplo, um pensamento tradicional de que as pessoas “mais simples” possuem um sentido sobre o divino, um interesse desapaixonado pelo conhecimento, um senso de justiça ou uma apreciação da beleza em si mesma, ainda que estas coisas não estejam isoladas em domínios de cultura claramente compartimentados. Geertz (1983) considera o senso comum como uma dimensão da cultura que não é usualmente concebida como formadora de um domínio ordenado. Ele trata o senso comum como um corpo relativamente organizado de determinado pensamento, que tem como característica inerente afirmar que seus princípios são decorrências imediatas da experiência e não reflexões deliberadas sobre ela. Mas o senso comum não se resume a saber que “a chuva molha e que se deve sair dela” ou que “o fogo queima e não se deve brincar com ele”. Ao contrário do seu exercício, a análise do senso comum deve então começar pelo redesenho desta tênue distinção entre a mera apreensão trivial da realidade e a sua sabedoria simples, coloquial, seus julgamentos ou avaliações. Quando dizemos que alguém demonstra senso comum, queremos sugerir mais do que estar usando seus olhos e ouvidos, mas, como se diz, mantendo-os abertos, usando-os judiciosamente, inteligentemente, perceptivamente, ou tentando, e que essa pessoa é capaz de enfrentar os problemas cotidianos de uma maneira cotidiana com alguma eficácia. E quando dizemos que lhe falta senso comum, não significa que não consiga perceber o fato de que a chuva molha e que o fogo queima, mas que lida mal com com os problemas da vida cotidiana: sai de casa sem guarda-chuva em um dia nublado; sua vida é uma série de queimaduras que poderia ter tido a possibilidade não só de evitar como, em primeiro lugar, de não ter mexido com fogo (Geertz, 1983, p. 75-76).

Trata-se, portanto, de recolocar a autoridade do senso comum como uma interpretação das experiências imediatas, uma tradução delas, “como são os mitos, a pintura, a epistemologia”, ou seja, algo historicamente construído e, como tal, sujeito a padrões de julgamento historicamente definidos. Ele pode ser questionado, disputado, afirmado, desenvolvido, formalizado, contemplado, até ensinado, e pode variar dramaticamente de uma pessoa para outra. É, em resumo, um sistema cultural, embora geralmente não muito estreitamente integrado, e repousa sobre a mesma base de qualquer outro sistema; a convicção por parte daqueles cuja possessão é dos valores e validade (idem, p. 76).

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A idéia de um senso comum “não-tutelado” – o que um ser humano pleno pensa quando está protegido da racionalidade acadêmica – tornou-se uma questão para a filosofia. O foco na linguagem ordinária de Wittgenstein, Austin, Ryle [jogos de linguagem, atos de fala, teoria da significação]; o desenvolvimento da chamada fenomenologia da vida cotidiana de Husserl, Schutz, Merleau-Ponty; a glorificação do pessoal pelo existencialismo continental; a tomada de resolução de problemas comuns como o paradigma da razão no pragmatismo americano – todos refletem a tendência de olhar para a estrutura do bravo tipo de pensamento simples, insípido, como as chaves dos mistérios mais profundos da existência (idem, p. 77).

Embora emergindo como um foco de atenção mais intenso, o senso comum permanece mais como um fênomeno assumido do que analisado. A questão do senso comum ganha maior dramaticidade quando, em vez de confinar-se em uma cultura singular olhada em geral, surgem diferentes visões a respeito do mesmo problema, como na caso da sexualidade. Em princípio, todos compartilham a idéia de que a humanidade é dividida em dois sexos biológicos, embora já se reconheça em toda parte que algumas pessoas (homossexuais, travestis, transexuais) não se comportam dentro dos papéis que deles são esperados em função do seu sexo biológico. Mas, embora uns gritem “viva a diferença” ou “abaixo a diferença”, a simples existência da diferença não está sujeita a muita discussão. A constatação de que o gênero, no ser humano, não é uma variável puramente dicotômica, extremada nos casos de hermafroditismo, traz problemas não apenas para as ciências biológicas mas também para o senso comum, em função da rede de concepções morais e práticas tecida em torno das supostamente mais enraizadas das realidades raízes: a masculinidade e a feminilidade. A intersexualidade é mais do que uma surpresa empírica; é um desafio cultural (idem, p. 80-81). Este enfoque cultural adotado por Geertz encontra “eco” no problema da emancipação sóciopolítica que orienta a prática de inúmeros movimentos sociais e ONGs. Emancipar, neste caso, significa fazer a passagem do conhecimento técnico-científico para o senso comum, de forma a estimular transformações nos valores culturais e na ação coletiva (ver Cap. 3.2). Dentro da visão hermenêutica adotada por Boaventura de Sousa Santos, a ciência também deveria ter como projeto existencial “democratizar e aprofundar a sabedoria prática, a phronesis aristotélica, o hábito de decidir bem”. A oposição do senso comum à ciência, metaforicamente comparada ao contraste entre as trevas e a luz, vem perdendo sentido, segundo Santos, por quatro razões: 1) as possibilidades de superação da subordinação: Se o senso comum é o menor denominador comum daquilo em que um grupo ou um povo coletivamente acredita, ele tem, por isso, uma vocação solidarista e transclassista. (...) se é certo que o senso comum é o modo como os grupos ou classes subordinadas vivem a sua subordinação, não é menos verdade que, como indicam os estudos sobre as subculturas, essa vivência, longe de ser meramente acomodatícia, contém sentidos de resistência que, dadas as condições, podem desenvolver-se e transformar-se em armas de luta (Santos, 1993, p. 40).

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Santos cita como exemplo dessa possibilidade o que interpreta como “senso comum jurídico dos habitantes das favelas do Rio de Janeiro” (originalmente citado em um trabalho seu de 1974: Law against law: legal reasoning in Pasargada Law, editado no México pelo Cidoc). 2) as possibilidades de reconciliar a consciência social com o que existe Embora o senso comum seja um pensamento “conservador e fixista” sobre o que existe “tal como existe” e cuja função é reconciliar a consciência comum consigo mesma, a ciência não tem conseguido cumprir o seu papel “programático” de “inventar um novo código” (como diria Sedas Nunes, 1972, p. 30), que recuse e conteste o mundo dos “objetos” do senso comum (ou da ideologia), de construir “todo um sistema de novos conceitos e de relações entre conceitos” (Santos, 1993, p. 34). 3) as condições de comunicação e de argumentação O universo de utilizadores do discurso científico – destinatários, sujeitos ou vítimas das consequências da ciência – é constituído tanto pelos cidadãos quanto pelos cientistas; uma reflexão epistemológica pragmática permitiria ampliar a competência linguística de ambos e, em consequência, a comunicação entre eles, sem que se desconhecesse as diferenças estruturais que os separam (idem, p. 31). Como observa Bronowski (1977, p. 59), “a dificuldade de uma discussão de leigos sobre assuntos científicos consiste geralmente em não haver uma linguagem comum aos cientistas e leigos, na qual uns e outros possam entender-se acerca das idéias científicas”. Não é por acaso que, ao contrário da ciência, que é apenas uma das formas de pensamento comunicado, o senso comum não tem história documentada. Uma sociedade democrática, com desigualdades sociais pouco acentuadas e com um sistema educativo generalizado e orientado por uma pedagogia de emancipação e solidariedade, por certo que “produzirá” um senso comum diferente do de uma sociedade autoritária, mais desigual e mais ignorante (Santos,1993, p. 41).

4) o enfrentamento dos preconceitos nos dois campos Tanto para a ciência quanto para o senso comum, a noção de preconceito é bastante ampla, abrangendo o viés, a pré-noção, a pré-concepção, o pré-juízo, a crença não razoável, a ilusão, o erro, a distorção, a expectativa irrealista etc. O modelo de racionalidade que subjaz ao paradigma da ciência moderna não hesita em lançar todos esses fenômenos na vala comum da irracionalidade e de os contabilizar a débito da nossa fraqueza intelectual, individual ou coletiva. Contudo, de muitos lados, da hermenêutica à psicologia e à teoria da escolha racional, começa hoje a pensar-se que o maniqueísmo em que opera este modelo é demasiado simplista para ser ele próprio “racional”. Uma análise mais detalhada dos nossos processos mentais, da sua gênese e das suas conseqüências, revela que a razão nos prega muitas peças (e nós a ela) e que, por isso, a relação entre racionalidade e irracionalidade é muito mais complexa do que à primeira vista se pode pensar (idem, p. 41-42).

Este tipo de reflexão crítica leva à discussão sobre o caráter de negatividade ou de positividade nas ações humanas e no pensamento científico. Santos lembra que a caracterização do

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senso comum é usualmente feita a partir da ciência e que, por isso, não surpreende que esteja saturada de negatividade (ilusão, falsidade, conservadorismo, superficialidade, enviesamento etc). Mas a superação deste “etnocentrismo científico” poderia levar a uma visão mais positiva do caráter pragmático do senso comum, que por se reproduzir “colado às trajetórias e às experiências de vida de um dado grupo social”, gera confiança e segurança. O senso comum é transparente e evidente; desconfia da opacidade dos objetos tecnológicos e do esoterismo do conhecimento em nome do princípio da igualdade do acesso ao discurso, à competência cognitiva e à competência linguística. O senso comum é superficial porque desdenha das estruturas que estão para além da consciência mas, por isso mesmo, é exímio em captar a profundidade horizontal das relações conscientes entre pessoas e entre pessoas e coisas. O senso comum é interdisciplinar e imetódico; não resulta de uma prática especificamente orientada para o produzir, reproduz-se espontaneamente no suceder quotidiano da vida. Por último, o senso comum é retórico e metafórico; não ensina, persuade (Santos, 1987, p. 56, cit.p. Santos, 1993, p. 44).

Portanto, só uma “dupla ruptura epistemológica” na relação entre o senso comum e a ciência, que superasse os preconceitos recíprocos, tornaria possível a emergência de uma nova forma de conhecimento emancipador. Com essa dupla transformação pretende-se um senso comum esclarecido de uma ciência prudente, ou melhor, uma nova configuração do saber que se aproxima da phronesis aristotélica, (...) uma configuração de conhecimentos que sendo prática não deixa de ser esclarecida e sendo sábia não deixe de estar democraticamente distribuída. Isto, que seria utópico no tempo de Aristóteles, é possível hoje graças ao desenvolvimento tecnológico da comunicação que a ciência moderna produziu. De fato, a amplitude e a diversidade das redes de comunicação que é hoje possível estabelecer deixam no ar a expectativa de um aumento generalizado da competência comunicativa. Sucede, contudo, que, entregue à sua própria hegemonia, a ciência que cria a expectativa é também quem a frustra. Daí a necessidade da dupla ruptura epistemológica que permita destruir a hegemonia da ciência moderna sem perder as expectativas que ela gera (idem, p. 45-46).

O problema da relação entre o saber técnico-científico e os saberes práticos ou o “saber popular”, que se guiam pelo senso comum, é uma questão chave para os especialistas, pesquisadores e intelectuais que assessoram atividades dos movimentos sociais ou projetos de organizações nãogovernamentais, particularmente quando envolvem “capacitação” de lideranças e de agentes locais (ver capítulos 3.2 e 3.3). Para Manfredo Araújo de Oliveira10 (1990), a ciência não pode mais ser vista como algo que se contrapõe ao saber popular; primeiro, porque emerge dele, isto é, da sua problematização; segundo, porque constitui a efetivação de um potencial implícito no próprio saber popular: “o potencial de criticidade”. A ciência é a especificação sistemática e metódica desta potencialidade, que está implícita na linguagem, enquanto mediação entre sujeitos. Numa palavra, a racionalidade não é simplesmente trazida da ciência (o saber produzido através da mediação do debate crítico) ao saber popular, pois a racionalidade enquanto potencialidade é imanente a ele. O que a ciência faz é explicitar, efetivar sistemática e metodicamente esta racionalidade implícita no saber popular (...). Saber popular e 10 Padre, doutor em filosofia na Alemanha, assessor de Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) em Fortaleza, Ceará. 45

ciência emergem, assim, como duas dimensões contraditórias (ao mesmo tempo se incluem e excluem mutuamente) da razão comunicativa. (...)Sem saber popular não há ciência e sem ciência o saber popular corre o risco de ser tragado pelas tradições (e as ideologias negadoras do homem também aí presentes) sem ser capaz de se transpor em processos de argumentação, que efetivam a “autonomia” de sujeitos inseridos em processos históricos (Oliveira, M.A., p. 9).

Para Oliveira, a crise da razão moderna – que produziu saberes extremamente especializados e acentuou a dimensão instrumental do saber popular – permite recuperar a “complementaridade estrutural” entre saber popular e saber científico, levando a uma outra concepção de razão, fundamentada na história e na sociedade. O saber popular é aquela totalidade prático-significativa, que permanece sempre o “chão histórico” de onde brota a atividade científica, que, assim, se entende como atividade a serviço da vida humana, mediação no processo de racionalização e libertação da práxis histórica dos homens (idem). _______________ Referências: ARANHA, Maria Lúcia de A. e MARTINS, Maria Helena P. Temas de Filosofia. S.Paulo, Moderna, 1992. p. 47-103. BRONOWSKI,

Jacob. O senso comum da ciência. Belo Horizonte/ S.Paulo, Itatiaia/ Edusp, 1977. 126 p. (Col. O homem e a ciência, vol. 4)

GEERTZ,

Clifford. Common sense as a cultural system. In: ________. Local knowledge: further essays in interpretative anthropology. EUA, Basic Books, 1983. p. 73-93.

OLIVEIRA,

Manfredo Araújo de. Saber popular e saber científico. Tempo e Presença (Cedi), ano 12, nº 250, mar-abr/ 1990. p. 7-9.

SANTOS,

Boaventura de Sousa. Introdução a uma ciência pós-moderna. Lisboa, Afrontamento, 1993. 3ª ed. 200 p.

1.5 Conceitos nebulosos Como diz Kaplan (1964), todo conceito, mesmo nas “ciências exatas”, é vago em alguma medida, o que não representa uma falha, mas apenas um sintoma do objeto, fenômeno ou situação que o termo tenta descrever. A experiência é uma sucessão de continuidades e tudo que é discriminado no contínuo tem fronteiras nebulosas: a seda bruta desfiada nunca é completamente cerzida. Elementos “puros” são misturas de isótopos, espaços “vazios” contêm aglomerados de partículas, temperatura “absoluta” é uma aproximação de zero, gases “ideais” e máquinas “perfeitas” não se acham em lugar algum (...) Qualquer coisa que se possa discriminar nos fatos pode-se distinguir nos significados; podemos sempre chamar a fronteira nebulosa de uma franja definida. O ponto é que os fatos são indefinidamente indefinidos: entretanto, quanto mais fina a malha que utilizarmos, mais discriminações fazemos, mais oportunidades criamos para o surgimento dos contornos (Kaplan, p. 66).

A nebulosidade de um conceito, portanto, diz respeito à dificuldade de decidir se algo pertence ou não a determinada classe: “Aqui dizemos que pertencer é um problema de grau. Os 46

significados são abertos não apenas em relação ao que é compreendido pelo termo, mas também em relação ao que deveria ser tomado como exemplo típico, padrão ou ideal (idem, p. 67). Kaplan utiliza a expressão dynamic openness (abertura dinâmica) para indicar a permanente possibilidade de mudança de sentido de termos científicos, a partir de uma nova teoria ou de transformações permanentes do pensamento que envolvam mudança de perspectiva ou de visão de mundo. Mas o fato de existirem significados em aberto não implica que eles sejam todos inespecíficos: “aberto” não é o mesmo que “vazio”. “O esclarecimento do sentido é fundamentalmente uma conseqüência do fato de que não há contextos terminais de investigação. Novos problemas sempre surgem, confrontando-nos com questões imprevistas tanto em termos de significado quanto de verdade” (idem, p. 70). Ou, como dizem Deleuze e Guattari (1992): Todo conceito remete a um problema, a problemas sem os quais não teria sentido, e que podem ser isolados ou compreendidos na medida de sua solução: estamos aqui diante de um problema concernente à pluralidade dos sujeitos, sua relação, sua apresentação recíproca. (...) Num conceito, há, no mais das vezes, pedaços ou componentes vindos de outros conceitos, que respondiam a outros problemas e supunham outros planos (...) cada conceito opera um novo corte, assume novos contornos (...) (ob.cit., p. 27).

Os conceitos com os quais esta pesquisa teve que lidar – informação, contra-informação, nãogovernamental, movimentos sociais, redes – são tipicamente nebulosos: constroem-se por exclusões/ inclusões, oposições, ambigüidades, imprecisões de limites. Mas convergem para um único e grande problema: o das interações humanas para intercâmbio de informação visando uma ação coletiva. Assim, seguindo o raciocínio de Kaplan, Deleuze e Guattari, procurou-se fazer uma “decupagem” de variadas definições encontradas para cada um dos termos, de forma que o resultado explicitasse, o mais claramente possível, os contornos do objeto pesquisado.

1.5.1 informação Como admite Gilda Braga (1996b), com base em Morin (1991, p. 30), a informação ainda apresenta ambigüidade, lacunas, imprecisões e grandes zonas de incerteza; é uma noção nuclear sobre a qual quase nada se pode dizer, embora não se possa passar sem ela. Na visão estruturalista (de referencial biológico) de Nicholas Belkin e Stephen Robertson (1976), a única noção comum a todos os conceitos de informação até então formulados seria a “mudança de estrutura”. Mas “mudança” é um termo que denota uma dinâmica, um movimento de um ponto a outro da estrutura, ou de um estado a outro em dada situação. O que seria, então, esta “coisa” chamada informação, cuja condição de existência seria provocar tal alteração? Para a teoria cibernética de Norbert Wiener (1974), a informação, no contexto do ajuste dos seres humanos às contingências do seu ambiente, é “o conteúdo daquilo que permutamos com o mundo exterior ao ajustar-nos a ele, e que faz com que nosso ajustamento seja nele percebido”. A forma de configuração e organização da informação se dá através de mensagens, que são transmitidas e recebidas num processo de interação dos indivíduos nos sistemas sociais. Aliando-se essas duas noções, chegamos à possibilidade de um conceito de informação adequado ao tipo de interação que ocorre entre os participantes das redes de ONGs e movimentos sociais, nas quais a circulação de mensagens tem claramente o objetivo de desencadear uma 47

determinada ação. Neste contexto, portanto, informação é o conteúdo das mensagens potencialmente capaz de provocar alterações nas estruturas mental (organização do pensamento) e cultural (escala de valores) dos receptores, visando a uma ação imediata ou a uma mudança de comportamento mais duradoura. Para Morin (1986), a informação “deve ser capaz de enriquecernos, de mudar-nos, de converter-nos, simplesmente porque nos permitiu ver o que era invisível para nós, saber o que ignorávamos, admitir o que considerávamos inacreditável” (p. 47) No entanto, esta não é uma definição de valor absoluto, não só porque a informação só se realiza a partir da interação, como também porque se realiza em graus: há informações “fracas”, que trazem a confirmação do previsível ou do provável; há informações fortes, que trazem o pouco provável; e há informações “ricas”, que revelam o novo, o inesperado, a surpresa. Assim, as informações fortes e ricas são trazidas pelos fatos inauditos, que nos pareciam impossíveis antes de acontecerem, como o pacto germano-soviético de 1939, o ataque japonês a Pearl Harbour, o relatório K., a cisão Moscou-Pequim, Maio de 1968, a prisão do “bando dos quatro”, o levante polonês do verão de 1980 [o impeachment do presidente Collor no Brasil...] (idem, p. 42).

A potencial mudança da estrutura mental ou cultural depende, porém, dos sistemas de idéias vigentes no contexto em que a informação circula, como diz Morin: Em relação às coisas sobre que (sic) não temos opinião formada ou preconceito, somos extremamente abertos às informações. Mas quando não temos estrutura mental ou ideológica capaz de assimilar, situar a informação, esta torna-se ruído. Em compensação, nos casos em que dispomos de idéias firmes e arraigadas, somos muito receptivos quanto às informações que as confirmam, mas muito desconfiados para com aquelas que as contrariam. Melhor ainda, somos capazes de resistir às informações que não se adaptam à nossa ideologia, percebendo essas informações não como informações mas como trapaças ou mentiras (idem, p. 43)

Na interação humana, portanto, a informação tanto pode reduzir a incerteza em relação a fatos, situações ou conhecimentos “preocupantes” ou surpreendentes, quanto provocar incerteza sobre a nossa “aptidão de conceber a realidade” dentro de determinado sistema de idéias ou de valores.

1.5.2 contra-informação Apesar do radical de oposição, o termo contra-informação não se antepõe a informação mas se constrói historicamente no interior das “práticas de comunicação e de militância política que resistem à ordem hegemônica vigente e lutam pela instalação de uma nova hegemonia”. Ou seja, da contracomunicação, um processo que visaria “garantir a circulação de informações sobre situações de classe, à margem dos canais controlados pelo poder constituído e também utilizando os espaços que as contradições da burguesia oferecem no seio desses canais” (P. Baldelli, Informazione e contro-informazione. Milão, Mazzota, 1972, em Fadul, Lins da Silva e Santoro, p. 13). Ciro Marcondes Filho (1982), definiu contracomunicação como “a atividade de fornecer informações de natureza distinta, às vezes oposta às informações dos grandes veículos de 48

comunicação”, proporcionando uma outra interpretação dos fenômenos políticos e sociais, “voltada mais para os interesses dos grupos dominados da sociedade”. Em suas pesquisas sobre o tema, Marcondes inventariou experiências de contracomunicação frente aos poderes privado e estatal que remontam à primeira metade do século XIX, com a propaganda antipatronal desencadeada pelo Movimento Cartista na Inglaterra. Mas a Revolução Russa de 1917 e o crescimento dos partidos comunistas e socialistas europeus, que se contrapunham à informação oficial burguesa veiculada na primeira metade do século XX, representam um marco histórico das duas formas de comunicação “de caráter não-burguês”: a “oficial”, controlada pelos partidos, e a “espontânea”, que surgia e se disseminava entre os setores subalternos das sociedades soviética e européia de forma independente ou até mesmo em conflito com a orientação dos partidos comunistas e socialistas. A essência da polêmica entre contracomunicação oficial e espontânea se cristalizaria com a criação do Proletkult soviético, sob a orientação de Aleksander Bogdanov. De formação intelectual sólida e conhecedor em profundidade das proposições marxistas relativas ao papel da ideologia na formação de uma nova consciência social, Bogdanov era partidário da tese de que a implantação de um comitê pela promoção de uma cultura proletária autêntica, que se desenvolvesse a partir de elementos e de contribuições vindas da própria classe proletária, proporcionaria os instrumentos necessários a essa classe, para que ela construísse um universo ideológico e científico próprio. Essa ponderação entrava em choque com a política de Lênin, que via na autonomização do Proletkult uma ameaça à hegemonia do partido como único determinador da direção a ser tomada pela cultura da nova nação (Marcondes Filho, 1982, p. 60).

Apesar do esvaziamento deliberado que sofreu, o Proletkult chegou a reunir 15 jornais diários, 10 milhões de publicações oriundas exclusivamente de escritores proletários e cerca de 3 milhões de peças musicais de toda espécie (Lunatscharski, 1972:93, em Marcondes Fº, 1982, p. 60). Posição também conservadora em termos de informação e cultura foi assumida pelo Partido Comunista Alemão (KPD) durante a República de Weimar, o que acabou favorecendo o avanço fascista. O acesso ao rádio, por exemplo, veículo de maior importância para a comunicação de massas do período, foi por longo tempo desprezado. Os comunistas do KPD consideravam os comunicadores de rádio “pessoas esquisitas e sui generis” (Bubenik, 1978:20), negligenciavam o papel do filme na formação ideológica das massas e acreditavam que somente com o jornal Rote Fahne conseguiriam garantir a condução ideológica do proletariado alemão. As experiências mais significativas de arregimentação de massas, formação de consciência política, mobilização de forças contra o golpismo político, a tendência à radicalização, o desemprego, vieram, contudo, dos movimentos à esquerda do KPD, de caráter não-ortodoxo (Marcondes Fº, 1982, p. 61).

As redes de mobilização e de organização popular criadas pelos movimentos de resistência ao nazi-fascismo na Europa ajudaram a fortalecer os partidos “anti-burgueses” no pós-guerra, com uma grande massa de filiados (só o PCI chegou a ter 80% de associados trabalhadores). Mas isto não significou uma evolução político-ideológica efetiva. Tanto que, a partir da década de 60, os partidos começam a cair em descrédito, ao mesmo tempo em que a contra-informação “espontânea” passava por “um assombroso ressurgimento”, com a proposta política da Nova Esquerda extraparlamentar envolvida com as lutas estudantis-operárias (idem, p. 59). Um exemplo significativo é o das Rádios

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Livres ou Democráticas italianas, que formaram o “maior complexo contra-informativo europeu dos anos 70”. As Rádios Democráticas surgiram para derrubar o monopólio estatal da informação na Itália. Trata-se de pequenas estações de rádio montadas em bases rudimentares e com pouco capital que procuravam, ao estilo das “ rádios piratas”, interferir na veiculação radiofônica apresentando, em termos de contra-informação, notícias normalmente sonegadas pelos grandes veículos burgueses de comunicação, outras versões de incidentes ou fatos políticos, comentários e discussões, e principalmente propondo a consolidação e o fortalecimento das instituições nãoburguesas muito além da posição do PCI (idem, p. 63).

O Partido Comunista Italiano, que inicialmente apoiou o governo na repressão a essas rádios, tentou implantar sua própria emissora, após o fim do monopólio da RAI e da regulamentação das rádios e TVs democráticas, em 1975. Mas o sentido original das emissoras públicas e alternativas acabou diluído pelas grandes empresas italianas também interessadas na quebra do monopólio estatal de tele e rádiodifusão. Para Marcondes, uma vez integrados ao sistema político parlamentar, os partidos comunistas europeus se desinteressaram pelas transformações nas relações sociais e de produção, assumindo o monopólio da contra-informação não-burguesa e esvaziando-a. A concepção mais ou menos dominante da contracomunicação oficial européia era a da construção de uma “cultura mista”, baseada na teoria de Gramsci de aproximação das massas trabalhadoras aos intelectuais tradicionais das classes dominantes. Ao mesmo tempo, a contracomunicação espontânea entra em crise financeira e política, restando poucas alternativas para os grupos marginalizados da sociedade européia (cinema militante na França e na Holanda; imprensa alternativa na França e na Itália; vídeo e TV a cabo nos EUA, Canadá e Europa ocidental). Outro ponto importante destacado por Ciro Marcondes nessa (re)construção histórica foi a visão romântica e ao mesmo tempo paternalista em relação à forma de participação dos trabalhadores na produção da contra-informação: Em algumas situações, partia-se da premissa de que na contracomunicação espontânea o trabalhador tem que comunicar, e propunha-se a realização disso de forma mecânica: chamavam-se as pessoas do povo para falar na rádio e esperava-se que, com isto, se estivesse realizando a “comunicação popular” (...). Entendeu-se mal a proposição: fazer contracomunicação espontânea não significa trazer o homem simples diante dos microfones e deixá-lo pôr para fora tudo o que vier. Significa, ao contrário, dar os instrumentos para que este homem simples supere a sua condição dominada e alienada e passe, a partir do trabalho conjunto com o agente que promove a comunicação, a dominar seu meio e a exprimir-se como classe. (...) a contracomunicação não age somente a nível global, objetivo: a divulgação maciça de mensagens ideológicas sobre a massa não provoca de per si convencimento e mobilização. (...) A comunicação só se realiza plenamente como envolvimento, participação e mobilização e, principalmente, só passa a ser sustentada e promovida pela própria massa, quando sua difusão é acoplada a um sistema de contatos diretos e pessoais, físicos com os receptores, ligada diretamente aos seus interesses pessoais e imediatos (idem, p. 65-66).

Marcondes Filho aponta três razões para o fracasso ou ineficácia dessas iniciativas: em primeiro lugar, a falta de “uma infra-estrutura organizacional que promovesse o enraizamento dos

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veículos contracomunicativos no seio das reivindicações dos setores populares da sociedade”, que, sem vínculo de necessidade, não ofereciam a esses meios apoio em momentos críticos da conjuntura política e econômica nem sustento diante da repressão do Estado; em segundo lugar, a ausência de preocupação em dar bases mais sólidas às iniciativas de contracomunicação espontânea, de modo a que se afirmassem como poder e grupos de pressão na sociedade; e, em terceiro, a falta de coordenação, em nível nacional e internacional, das atividades, como troca de experiências e criação de organizações e redes de veículos contracomunicativos, que permitisse apoio mútuo moral, financeiro etc (idem, p. 68). Entre os exemplos bem sucedidos de contracomunicação, em que houve algum grau efetivo de inovação, Marcondes Filho cita (além das já mencionadas) a propaganda revolucionária da Comuna de Paris de 1871, considerada a primeira república proletária da história; as rádios caseiras da República de Weimar, regime que durou de 1919 a 1933 na Alemanha; e as rádios mineiras da Bolívia nos anos 50. As discussões sobre as possibilidades da comunicação contra-hegemônica tinham como pano de fundo dois conjuntos de matrizes teóricas: um de caráter filosófico, que abrangia análises das instâncias de construção e reprodução da dominação, com o desenvolvimento de algumas idéias chaves para avaliação dos sistemas de informação e de comunicação; outro mais pragmático, que procurava apontar saídas a partir de experiências concretas em sociedades européias e latinoamericanas. No primeiro grupo incluem-se autores como Althusser, com seus aparelhos ideológicos do Estado; Adorno e a Escola de Frankfurt, com o conceito de indústrial cultural; e Mattelart, com as idéias de aparelhos ideológicos do imperialismo e sistemas transnacionais de comunicação. No segundo, estão Gramsci, discutindo o papel dos intelectuais orgânicos e da sociedade civil na luta contra-hegemônica; Umberto Eco, defendendo a necessidade de uma guerrilha receptiva operada por profissionais da informação e da comunicação, ao fazer a crítica das visões apocalípticas da Escola de Frankfurt e de MacLuhan; Guattari, apontando a emergência de novos modelos de agenciamento de informação no seio dos movimentos sociais; ou ainda diversos autores latinoamericanos, inspirados por Paulo Freire e Mattelart, que discutem a eficácia da comunicação intercultural ou transcultural como forma de superar a dominação e reverter o fluxo vertical da informação, em âmbito mundial (ver capítulos 2.2 e 2.3). No Brasil do período autoritário, o debate teórico sobre a hegemonia e a contra-informação no contexto da comunicação tinha como objetivo principal “reivindicar uma análise da conjuntura econômica, política e social brasileira”, na qual se pudesse discutir “de forma privilegiada a questão dos partidos políticos, dos movimentos sociais urbanos, das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) e dos sindicatos. Nessas condições, o conceito de hegemonia deve funcionar não como proposta dogmática para conduzir essa reflexão, mas como um desafio para se pensar a sua pertinência ou não nos estudos sobre a realidade brasileira” (Fadul, p. 37).

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Apesar das ressalvas de Ana Maria Fadul, a tônica do debate era claramente ideológica e calcada na teoria marxista da luta de classes e no postulado gramsciano da atuação dos intelectuais orgânicos, no qual os partidos e os sindicatos ainda eram as instituições centrais e diretivas. (...) a contra-informação não precisa (nem deve) se concentrar apenas nos meios sob o controle da burguesia. Se a operação de inculcação ideológica operada por eles em favor dos interesses das classes dominantes ocorre, muitas vezes, de forma despercebida por parte daqueles que a sofrem, é uma tarefa primária da contra-informação a denúncia da própria operação. (...) o simples desmascaramento de uma farsa ideológica já é suficiente para a judar a fazer desmoronar todo o arcabouço que sustenta a adesão a uma visão de mundo. (...) é na recepção, através dos meios interpessoais ou meios de massa sob o controle dos trabalhadores, que essas denúncias podem ser feitas e, até, surtir efeitos (Lins da Silva, p. 21). (...) a luta pelas mudanças nos meios de comunicação e na vida cultural tem que estar articulada a outras práticas, projetos e organismos que lhe possam dar eficácia política. Embora possa não ser o único organismo capaz de conferir unidade a tais projetos e práticas, o partido político é uma das melhores alternativas com que contam as classes subalternas para construirem sua hegemonia (idem, p. 22).

Antonio Sérgio Mendonça (1982), adversário acadêmico dos que ele chamava “os profetas da hegemonia”, faz uma crítica radical à transposição desse conceito à comunicação de massa, particularmente da forma como era feita no Brasil, no início da década de 80, porque privaria a comunicação dos seus indissociáveis caracteres simbólico e de linguagem, negligenciando as manifestações de subjetividade em função da ênfase no conteúdo político. Para este autor, trata-se de “mais um momento da generalidade característica da epistemologia do conteúdo, que tem destacado papel no século XVIII” e que na conjuntura intelectual brasileira dos anos 60/70 teria produzido um “novo etnocentrismo epistemológico”. Os defensores desta posição seriam adversários da Escola de Frankfurt, em função do seu caráter apocalíptico, sem considerar as diferenças conceituais existentes entre, por exemplo, Adorno e Marcuse. Em princípio, Adorno pensa a informação em seu duplo aparato mercadológico, articula-se com o texto matricial de Marx (O Capital – O Fetichismo da Mercadoria) e atua nos limites de uma pedagogia da comunicação. Marcuse [em La Fin de l’utopie, 1968] já pensa a relação entre a “consciência feliz” e a “unidimensionalidade”, Eros e o Mal-estar da Civilização, procurando fundar uma Teoria da Cultura e não uma pedagogia da informação (Mendonça, 1982, p. 89-90).

Mendonça esclarece, também, a aparente contradição existente entre o conceito de “dominante” utilizado por Althusser (que trabalha com a categoria de “totalidade estruturada”) e o conceito de hegemonia trabalhado por Gramsci, para quem existe uma divisão entre sociedade política e sociedade civil. Na visão althusseriana, esta seria uma marca do “jovem Marx”, hegeliano e pré-científico, por aceitar a distinção feita por Hegel entre Estado e Sociedade Civil. Não é sem razão que a insistência gramsciana na categoria de sociedade civil abandona o dualismo simplista dominador/ dominado, mas não é sem motivo, também, que, leitor de Hegel, Adorno apenas indique o fato de a saída não se passar a nível da Indústria Cultural e sim da sociedade civil, principalmente quando reforma as teses progressistas de A Dialética do Iluminismo (idem, p. 97).

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Enquanto a concepção adorniana da indústria cultural leva a crer na impossibilidade de superar seus efeitos ideológicos, a abordagem dos meios de comunicação como veículos de difusão dos interesses da classe dominante lança a hipótese de neutralização ou até de superação da eficácia das mensagens veiculadas por essa indústria. Só que, na visão de Mendonça, isto é feito “a partir de categorias mal formuladas teoricamente, principalmente no estágio atual de suas demonstratibilidades epistemológicas, tais como: ‘contra-informação’, ‘contra-hegemonia’ e ‘brecha’” (idem, p. 92). Esse mesmo tipo de crítica é feita à categoria de “guerrilha receptiva” de Umberto Eco, que ficaria apenas no plano de uma “ideologia desejante”, já que “pretende nos inscrever, sem dizer como, no papel de uma espécie de decodificador consciente do universo crítico e político da mensagem” (idem). Para Mendonça, a neutralização da eficácia ideológica dos mass-media “se dá, comprovadamente, quando a contradição política é dominante e sobredetermina, principalizando a difusão ideológica da mensagem, ou seja, dá-se de fora para dentro, do político para o ideológico e não vice-versa” (idem, p. 93). Como exemplo, cita a então recente ação político-sindical do Solidariedade na Polônia, que além das tradicionais reivindicações econômicas, de cunho reformista, passa a defender o uso do espaço da informação como requisito político. O profissional de informação passa a ser visto não unicamente como força material de trabalho, mas também destaca-se o seu caráter simbólico, o que o torna um porta-voz consciente do espaço crítico dos mass-media. Ora, se quem detém informação mantém o poder, a forma de contestá-lo cria a necessidade de uma visão da informação em seu duplo caráter de mercadoria, pois serve para vender outras mercadorias. E nessa qualidade vende tanto os objetos quanto a adesão e a interiorização simbólica do sistema social, conforme demonstra Jean Baudrillard, em seu texto sobre a significação da publicidade [Em: Teoria da Cultura de Massa, org. Luiz Costa Lima, 1969] (idem, p. 93).

Na prática, porém, as atividades de contra-informação concentraram-se muito mais na utilização de meios “marginais” de comunicação, de operação clandestina, fora do circuito normal, como as TVs e rádios piratas, imprensa alternativa, vídeo popular etc, do que das “brechas” deixadas nos meios de comunicação hegemônicos. Hoje, apesar da radical mudança de discurso, práticas semelhantes continuam a ser realizadas, agora em nome da democratização da informação e da comunicação, cujos fóruns regionais e nacional incentivam a implantação de rádios e TVs comunitárias por todo o país. Além disso, ONGs e movimentos sociais produzem centenas de veículos impressos de baixa tiragem, de circulação dirigida, oferecendo um material informativo claramente diferenciado da mídia tradicional, cujos efeitos ainda estão por ser estudados. Do ponto de vista teórico, talvez se posssa dizer que as idéias de contra-informação e contracomunicação nos anos 90 deslocaram-se da centralidade contra-hegemônica guiada pelos partidos políticos para um projeto emancipador, via transformação cultural, operado pelos agentes das práticas coletivas institucionalizadas (ONGs e outras entidades da sociedade civil). Contrainformação, nesse novo contexto, diz respeito a conteúdos normalmente não veiculados pela mídia tradicional que são fundamentais para a construção de uma visão de mundo diferenciada daquela “vendida” pelo discurso dominante (emancipação). Ou seja, inscreve-se na proposta de pedagogia

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da informação e de ação cultural herdada principalmente de Paulo Freire, na qual a interação entre conhecimento e senso comum é fundamental. Contracomunicação abrange tanto as atividades de veiculação desses conteúdos, por diversos meios, como as atividades dedicadas à abertura de canais de expressão para a população normalmente destituída dessa possibilidade, como as rádios e TVs comunitárias. Contra-informação e contracomunicação, nos dias de hoje, correspondem, portanto, aos fluxos de informação e canais de expressão que atravessam horizontalmente as sociedades, sem interferência do Estado ou do mercado monopolista dos meios de comunicação, e não mais sob a égide dos partidos, mas predominantemente dos movimentos sociais e das organizações nãogovernamentais. Deste ponto de vista, a formação de uma rede mundial de computadores (APC – Association for Progressive Communications) que permite a interação e o intercâmbio de experiências entre pessoas e entidades da sociedade civil de mais de 130 países, num total de usuários que já supera a casa dos 40 mil (e que independe da Internet) é provavelmente o modelo mais bem sucedido de experiência contracomunicativa deste século (ver Cap. 4).

1.5.3 movimentos sociais A proliferação de múltiplos sujeitos nas práticas sociais entre as décadas de 70 e 80, tanto na Europa e Estados Unidos quanto na América Latina, originou uma profusão de análises teóricas em que a categoria de classe social foi progressivamente perdendo terreno para a noção de “ator social” e a de luta de classes deu lugar a “movimento popular” ou a “movimentos sociais”, sem que se chegasse a um consenso sobre esses conceitos, precedidos ou não do adjetivo “novo”11 . Uma grande variedade de formatos e repertórios de ação coletiva é incluída na categoria abrangente e questionável de “novos movimentos”. Este tipo de definição evidencia-se nas análises que empregam a terminologia “movimentos sociais urbanos” [de origem marxista], cujo referencial empírico inclui desde a ação espontânea de massa envolvendo o saque e a destruição de propriedade, até as redes mais organizadas das associações de bairro da classe trabalhadora e da classe média e os movimentos de identidade relacionada a sexo e etnia. Nessa gama de fenômenos, tal imprecisão levanta dúvidas sobre o que é de fato novo nos movimentos coletivos recentes (Boschi, 1987, p. 35-36).

O extrato acima, feito por Renato Boschi a partir de resenha crítica da literatura corrente dos anos 70 e 80 sobre os chamados “novos movimentos sociais”, dá bem a medida da dificuldade de qualificação precisa dessas práticas de ação coletiva como um todo unívoco e unidirecional, em termos de suas demandas e orientação. As questões teóricas suscitadas por esssa literatura dizem respeito a três planos de interpretação: as condições de emergência dos movimentos, que apresentam semelhanças e diferenças conforme o contexto sócio-histórico (sociedades democráticas de capitalismo avançado, ou sociedades periféricas do capitalismo, sob Estado autoritário, regime democrático ou processo de transição de uma situação a outra); 11

Para uma análise mais detalhada e comparativa dessa produção teórica em relação à América Latina, ver Ilse SchererWarren (1993), p. 13-26. 54

o impacto sobre a organização da sociedade como um todo e suas relações com o Estado e o mercado, o que envolve emancipação, criação de novas identidades coletivas e de hábitos de participação que resultem na ampliação dos procedimentos democráticos; as relações problemáticas com as instituições tradicionais de representação e de interlocução com o Estado e o capital (os partidos e os sindicatos) e o dilema entre autonomia e institucionalização. O movimento social, enquanto repertório de ação coletiva, remonta à virada do século XVIII, na Inglaterra, e ocorre simultaneamente ao processo de construção ou progressiva penetração do Estado, o que supõe redefinições drásticas e sucessivas da relação público/privado. Seja qual for o contexto histórico-social, porém, as condições de emergência estão sempre relacionadas a algum tipo de conflito (particularmente frente ao Estado) e a desejo de mudança. (...) os movimentos emergeriam na ausência de condições que favorecessem um espectro amplo de representação dos interesses de segmentos marginalizados da sociedade ou de identidades reprimidas. Em outro nível, as antigas estruturas já não seriam mais satisfatórias para o encaminhamento eficaz das demandas. Tal situação levaria à busca de canais paralelos ou alternativos de acesso ao Estado (idem, p. 34).

Nos regimes autoritários, as análises resenhadas por Boschi são unânimes em salientar que a emergência dos movimentos está relacionada ao “afrouxamento dos controles”12: “havendo alguma liberdade de associação, os movimentos de cidadãos tentarão atuar contra a centralização excessiva do processo de decisão” (idem, p. 34). Mas sob regimes democráticos, seja no contexto do capitalismo avançado ou periférico, os autores detectam semelhanças e diferenças: (...) as similaridades entre os dois contextos parecem ser a presença de um grande contingente de classe média educada, a retórica de promoção da democracia fora dos canais tradicionais e as demandas de autonomia vis-à-vis estruturas de poder altamente centralizadas. Isto se aplica sobretudo aos movimentos feministas, ecológicos e, em certa medida, aos de bairro (excluindo as favelas e os subúrbios da periferia, onde entram em pauta especificidades de classe). Diferenças consideráveis consistiriam no fato de que os movimentos de cidadãos – pelo menos no Brasil – tendem a ser de natureza excessivamente reivindicatória, em alguns casos demandando uma efetiva regulação do Estado, apesar da retórica de autonomia (idem, p. 35).

Os movimentos emergem, portanto, como novas formas de solidariedade e reciprocidade constituídas e expressas coletivamente, com o ideal implícito de recriar os laços comunitários em uma sociedade crescentemente complexa. E à medida que se expressam, os novos atores coletivos também geram a necessidade de regulação dos direitos que defendem na arena política, apesar (novamente) da retórica de autonomia frente ao Estado e aos partidos. Os “novos” movimentos são vistos como uma resposta à ineficácia das estruturas tradicionais, tanto em termos de canalizar e processar demandas quanto de prover 12

Como diz Rubem Cesar Fernandes em relação aos regimes autoritários do Brasil e outros países da América Latina nos anos 70: “A ditadura não ocupava todos os espaços por igual. Sendo militar, não tinha acesso direto à intimidade das instituições. Entrava onde quisesse, mas cada entrada representava uma intervenção traumática. Fazio-o, portanto, de maneira seletiva, em resposta a demandas ou por medida preventiva informada pelos mapas já conhecidos dos confrontos sociais. (...) O trabalho comunitário escapou aos controles, portanto, e pôde se expandir mesmo sob os regimes mais violentos, como foi o caso do Chile de Pinochet. Enquanto a polícia perseguia militantes políticos e vigiava os sindicatos, um outro tipo de militância encontrou terreno fértil por onde se difundir” (p. 35). 55

espaços para um sentido renovado de identificação. Neste sentido, os movimentos significariam um novo estilo de atuação política caracterizado pelo fato de que: a) a ação coletiva não é visualizada como uma tentativa para a tomada do aparelho de Estado, mas sim como a busca de soluções autônomas; b) ela consiste na afirmação de identidades coletivas ainda não incorporadas enquanto atores políticos legítimos, tais como aquelas com base em sexo, local de moradia, raça etc (idem, p. 25).

O potencial emancipatório estaria então na possibilidade de fazer emergir novas identidades coletivas e ampliar o grau de democratização das relações sociais. Mas isto não leva necessariamente à democratização no âmbito institucional da política nem impede a reprodução, na dinâmica interna do movimento, de certas características opressivas das instituições tradicionais. Segundo Boschi, esta contradição é mais facilmente detectável em movimentos que reinvindicam monopólio sobre a defesa de certos atributos (como por exemplo, raça, gênero etc), o que obriga os participantes a compartilharem da identidade tal como é definida publicamente pelo movimento. Embora considere possível fixar algumas regularidades quanto ao impacto dos movimentos coletivos, Boschi argumenta que “existe um elemento imponderável para cada combinação específica de eventos. Quanto menos estruturados os padrões de ação [tumultos, demonstrações públicas episódicas] mais imprevisíveis são os resultados” (p. 172, notas). Boschi considera que a maioria das análises superestima os movimentos sociais ao vê-los como um corte radical com a esfera das instituições democráticas liberais e as formas tradicionais de organização que implicam hierarquia, liderança etc (p. 23). Ao darem ênfase às características de inovação e descontinuidade dessas práticas coletivas, os autores pressupõem um grau de autonomia (associada a características supostamente intrínsecas de liberdade e espontaneidade) que implicaria a rejeição das estratégias políticas que incluam partido ou sindicato e qualquer tipo de mediação institucional. Autonomia, porém, não significa necessariamente falta de organização. A inovação pode estar justamente num formato diferente de institucionalização que represente uma alternativa ao modelo racional-burocrático. Como exemplo, ele cita a diferença entre a organização democrático-coletivista dos grupos de contracultura nos EUA (adotado no Brasil por algumas comunidades rurais formadas por “auto-exilados” urbanos de pensamento eco-esotérico) e os movimentos de cidadãos organizados em comunidades de bairro (tanto populares quanto de classe média), que possuem núcleos de direção bem estruturados e até burocratizados (idem, p. 25-27). Ao se afirmar que os movimentos são forças autônomas e freqüentemente espontâneas, paralelamente à observação de que a estrutura partidária está desgastada e decadente, há o risco de subestimar o potencial dos partidos como estruturas de agregação de interesses e fontes de identificação (idem, p. 26). (...) grande parte da ênfase na crise do sistema partidário resulta precisamente da constatação de que o partido, em sua dinâmica interna e organização, já não pode constituir o lócus principal da participação. Neste sentido, os movimentos constituem uma tentativa de romper o oligopólio do partido na oferta de participação política, ampliando a esfera dos canais legítimos (idem, p. 29)

Embora “ampliem a esfera da representação política e promovam a afirmação de novas identidades coletivas e hábitos de participação”, os movimentos sociais “podem até mesmo reforçar os laços com o sistema partidário, ao invés de se contrapor a ele”, ou seja, podem coexistir como 56

canais complementares e em algum ponto até convergirem (como alguns movimentos ecológicos que se transformaram em “partidos verdes”). Afinal, a “organização é também ação coletiva, porque comporta uma ação instrumental para a consecução de metas comuns” (idem, p. 37). Um exemplo claro foram as dinâmicas extremamente diferenciadas que caracterizavam os comitês da Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida (a “campanha do Betinho”)13: enquando uns se mantinham nos moldes antigos da ação caridosa espontânea desencadeada por grupos de vizinhos, outras assumiram tantas tarefas de intermediação de recursos (inclusive financeiros) que tiveram que se institucionalizar para poder gerenciá-los legalmente (como aconteceu com o Comitê Rio). Ainda assim, a Ação conseguiu criar uma identidade reconhecida nacionalmente graças ao discurso unificador articulado por Betinho através dos meios de comunicação de massa. Novos temas e enfoques começam a ser delineados nas análises sobre as perspectivas dos movimentos sociais para os anos 90, com duas visões predominantes em relação ao contexto latinoamericano, segundo Scherer-Warren (1993). A primeira desloca a sua atenção dos movimentos para os “processos de desorganização social que vêm ocorrendo sobretudo devido ao crescimento urbano acelerado e desordenado e aos processos de exclusão que acompanham as crises de crescimento”, resultando no “aumento da pobreza, da insegurança, da violência desorganizada e organizada”, do que deriva uma massa inorgânica de individualidades e manifestações atomizadas (p. 20). A segunda visão parte da avaliação crítica das interpretações sobre os movimentos sociais dos períodos anteriores e da constatação das crises que se operam na sociedade civil para encaminhar análises que contraponham ao imobilismo das massas os espaços possíveis de mobilização ou de ações coletivas. As modificações nas abordagens não são o mero fruto de um repensar teórico. Há transformações nas realidades internas dos países latino-americanos e externas com repercussões transnacionais sobre a prática efetiva dos movimentos sociais. Internamente, destacam-se os movimentos de democratização política e de reformas institucionais. Externamente, as transformações no socialismo real trazem perplexidade em relação às utopias dos movimentos populares na América Latina. As modificações históricas conduzem ao repensar das teorias (Scherer-Warren, 1993, p. 21-22).

Para Scherer-Warren, essas reformulações teóricas abrangem quatro pontos principais: 1) A preocupação em articular as dimensões macro e micro das transformações sociais, que passam por redefinições. “O macro, concebido enquanto totalidade estruturada e com determinações racionais, cede cada vez mais lugar às interpretações que concebem a realidade enquanto multifacetária e complexa, sem determinações fixas ou historicamente necessárias” (p. 22). Nessa abordagem, a ênfase recai sobre os “processos de ação política, enquanto práticas sociais em construção, enquanto movimento propriamente dito”, cujos significados e alcance políticos 13

Movimento desencado no Brasil, em 1993, a partir de um apelo dramático do sociólogo Herbert de Souza, Betinho, para que a sociedade civil reagisse ao trágico quadro de 32 milhões de miseráveis divulgado por um instituto de pesquisa e análise de conjuntura do governo federal. O movimento chegou a contabilizar, informalmente, mais de 5 mil comitês em todo o país, mas começou a enfraquecer a partir de 1995, sem que as razões desse ciclo tenham sido ainda analisadas profundamente. Uma pesquisa centrada na reconstituição do impacto da Ação da Cidadania em cinco regiões metropolitanas do país, sob a coordenação de Pedro Jacobi, foi iniciada pelo Cedec no final de 1994 e deveria estar concluída no final de 95. 57

precisam ser compreendidos. “A inovação encontra-se no surgimento de práticas políticas articulatórias das ações localizadas, de redes de movimentos (networks) e na busca de metodologias que permitam entendê-las. Trata-se também de entender as interconexões de sentido entre o local (comunitário) e o global (supranacional, transnacional)” (p. 22) – ver Cap. 3.5. 2) A busca de “vestígios das formas tradicionais de fazer política (clientelismo, paternalismo, autoritarismo populista ou estalinista) nos novos movimentos sociais” e de “novos estilos de fazer política nos sindicatos, partidos e instituições governamentais”, tentando compreender as tensões entre novas e velhas orientações políticas no interior de cada movimento social específico (p. 2324). Detectam-se, aí, elementos culturais emergentes que freqüentemente apresentam-se “interconectados na utopia dos movimentos: a sua natureza cívica e pacífica, o comprometimento com a descentralização e autonomia, a tolerância pluralística fundada na diversidade cultural e humana, paz com justiça social e respeito à natureza, democracia mais participativa e direta (p. 24). Pode-se incluir, aqui, a “fermentação social” surgida no início dos anos 90 a que Augusto de Franco (1994) denominou “ação cidadã”, que se diferenciaria dos movimentos sociais populares do fim dos anos 70 pelas seguintes características: É, em grande parte, impulsionada pela solidariedade e não pelo interesse econômico de algum grupo ou conjunto social específico; se exerce através da colaboração e da parceria, para além da competição ou da luta contra inimigos sociologicamente determináveis; e, por último, vem expondo um padrão organizativo baseado na descentralização e não no centralismo (p. 2)

3) A necessidade de investigar as novas concepções sobre o espaço de poder na sociedade civil perante o Estado, tentando descobrir em que medida essa relação provoca mudanças ou efeitos político-institucionais relevantes nas organizações da sociedade civil. O pressuposto é o de que “a própria dicotomização entre sociedade civil e sociedade política ou Estado (...) pode nem sempre ser adequada para pensar a questão da transformação da cultura política a partir de uma perspectiva relacional que permite confrontar uma pluralidade de orientações e atores políticos” (p. 25). 4) A importância de se considerar o papel das tecnologias de informação e dos meios de comunicação de massa nas formas de organização da sociedade civil. Resta verificar em maiores detalhes, tanto nos meios de comunicação de massa como na imprensa alternativa, os espaços de massificação, de uniformização, de consolidação de ideologias dominantes versus espaços de contestação das formas de dominação ou discriminação, de difusão de propostas alternativas de vida social, de novos valores universalizáveis de acordo com os interesses dos novos atores coletivos mencionados, bem como o espaço para a formação e comunicação das redes de movimentos (p. 25).

1.5.4 Organizações não-governamentais (ONGs) Parece que não estão claras as fronteiras que definem onde começam e onde terminam as ONGs. O Duende [personagem criado pelo jornal Terra Viva durante a Eco-92 para divulgar notícias sem fonte] ouviu de indignados representantes de ONGs – quer dizer, de organizações que não são empresas nem entidades oficiais, não visam o lucro e são dedicadas à cooperação para o desenvolvimento – que não escondiam sua perplexidade

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ao comprovar que a Câmara Internacional de Comércio (CCI) foi uma das 12 escolhidas para falar em plenário em nome das ONGs. A CCI congrega as maiores corporações transnacionais das áreas de metal, química, metalurgia etc (...) (Terra Viva, nº 9, 12 de junho de 1992, p. 4)

Esta observação mordaz feita por um jornalista durante a Eco-92 é apenas um dos muitos registros que apontam as indefinições e contradições da expressão "não-governamental", na qual instituições não diretamente ligadas governos e não integrantes dos setores dependentes do lucro procuram se enquadrar. Segundo Leilah Landim (1993), o termo aparece pela primeira vez em documentos das Nações Unidas, no final dos anos 40, aludindo a um universo extremamente amplo e pouco definido de instituições. Em 1945, a Ata de Constituição das Nações Unidas já faz menção a organizações não-governamentais com as quais o Conselho Econômico e Social da ONU poderia estabelecer consultorias. Para Marc Nerfin (1991), a primeira dificuldade para se definir ONG é que, na linguagem da ONU, esse termo abrange tanto as organizações de auxílio (Aid Ngos, como a Cruz Vermelha) e as agências de voluntários (Volags, dedicadas à promoção do bem-estar, à filantropia ou a ajuda em ocasiões de tragédias, por exemplo), quanto organizações privadas sem fins lucrativos (nonprofits, como as fundações Ford e Rockfeller), associações profissionais, comerciais ou de cidadãos. Na literatura especializada, sobretudo nos catálogos que tentam contabilizar as ONGs existentes no mundo, costumam aparecer referências às organizações de base (grassroots associations, organisations de base, popular organizations), que possuem significativa atuação em movimentos de massa e abrangem tanto associações de camponeses e trabalhadores sem terra, quanto associações de moradores e movimentos dos "sem teto" nos centros urbanos, por exemplo. Nerfin considera, porém, que este é um universo inteiramente diferente porque a maioria já existia antes da “coqueluche de ONGs”. No âmbito da Organização Econômica de Cooperação para o Desenvolvimento, ONG designa “uma organização montada e dirigida por um grupo particular de cidadãos para um dado propósito filantrópico e sustentado por contribuições individuais voluntárias” (OECD, 1988, p. 14, em Nerfin, 1991). Mario Padrón, que preferia a expressão Organização Não-governamental de Desenvolvimento (ONGD), procurou diferenciar as ONGs dedicadas “especificamente ao planejamento, ao estudo e/ou execução de programas e projetos de desenvolvimento em países do Terceiro Mundo, com o apoio de instituições internacionais de cooperação para o desenvolvimento e o envolvimento direto dos setores populares” (Padrón, 1987, p. 70, em Nerfin, ob.cit.). As associações de cidadãos e as organizações populares formam-se em torno dos interesses mais diversos: paz, meio ambiente, questões femininas, proteção à infância e à adolescência, defesa do consumidor, solidariedade internacional etc, e sua atuação depende fundamentalmente do trabalho voluntário. Já as organizações que se dedicam à cooperação para o desenvolvimento costumam atuar predominantemente através de projetos submetidos à apreciação de agências financiadoras de caráter local, nacional ou internacional (Faperj, Finep e Banco Mundial, por exemplo). Essas ONGs são privadas, mas não visam ao lucro; como são formadas por pessoas que recebem pagamento pelo seu trabalho, costumam cobrar pelos serviços que prestam o suficiente

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para cobrir os seus custos operacionais (overhead). Sua atuação é juridicamente institucionalizada e seus projetos ou programas visam beneficiar outras pessoas que não os integrantes de sua equipe (ao contrário das associações de cidadãos, das organizações populares e dos movimentos de base). No cenário internacional, as ONGs costumam ser enquadradas, também, pelos tipos de alianças que estabelecem, como avaliou Nerfin: algumas são "verdadeiramente endógenas", outras são "crias das ONGDs do Norte"; eventualmente elas se associam em federações, conselhos e umbrella groups (quando uma organização “abriga” outras ONGs, movimemtos populares e associações de cidadãos visando uma atuação conjunta em torno de um objetivo específico). Alguns doadores utilizam “agentes locais” ou “grupos de coordenação” como intermediários na distribuição de seus fundos a projetos das ONGs que se enquadram na sua esfera de interesses. Nerfin qualifica as ONGs também pelo seu âmbito geopolítico: há as internacionais (Ingos), as transnacionais (Trangos), as do hemisfério Norte (Nongos) e as do Sul (Songos). As ONGs que se pautam predominantemente pela cooperação para o desenvolvimento têmse diferenciado das tradicionais instituições da “sociedade civil organizada” por certas estratégias de atuação: empowerment (fortalecimento político) – caracterizado como um processo de alianças táticas entre grupos que, isoladamente, não teriam força suficiente para defender determinadas bandeiras frente a governos e organismos multilaterais. A estratégia visa ao fortalecimento da sociedade civil como um todo e, em particular, das populações menos favorecidas pelas políticas públicas, através de redes de solidariedade. Esta “politização” foi alvo de um alerta feito pelo Banco Mundial ao seu staff, em relatório de 1991 (citado por Nerfin): “algumas ONGs combinam desenvolvimento com objetivos políticos ou religiosos que podem limitar o quanto o Banco pode trabalhar com elas, de modo a salvaguardar sua relação prioritária com os governos membros ...”. Segundo Tim Brodhead (1991), em países da África e da Ásia que enfrentam conflitos armados de origem étnica ou de classe, algumas ONGs têm sofrido acusações de “comportamento subversivo ou impatriótico” por criticarem o modelo de desenvolvimento voltado para o crescimento e a exportação ou por apontarem as conseqüências negativas dos programas de ajuste econômico impostos pelos organismos multilaterais. accountability (atribuição de responsabilidades) – conceito chave para o funcionamento democrático de qualquer sociedade, está relacionada, no jargão “onguiano”, a critérios de tomada de decisão sobre projetos, clientelas, financiamentos, alianças, impactos sociais e ambientais etc. Implica um conjunto de inter-relações em que as fontes financiadoras possuem responsabilidades perante seus mantenedores (governos, no caso de organismos multilaterais, empresas, no caso de fundações ligadas a multinacionais etc) e as ONGs frente a esses doadores e, ao mesmo tempo, às suas clientelas e bases de sustentação política. A literatura da área discute os diferentes tipos de responsabilidade: política, social, financeira e informacional. Toda vez que uma Ong ocidental invade a África com oferta de fundos, seguida, poucos meses depois, por uma "missão de avaliação", a Ong africana também deve suprí-la com todo tipo de informação relevante para a sua responsabilidade perante suas clientelas seguida de, poucos meses mais tarde, uma missão de avaliação da África

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para checar o que as ONGs ocidentais fazem com todas as informações que coletam na África. A responsabilidade informacional deve ser aceita no mesmo nível da responsabilidade financeira (Tandon, 1991, p. 70-78, em Nerfin, ob. cit.).

networking (atuação em rede) – refere-se à capacidade das ONGs de se articularem em redes de relações em torno de pontos de vista compartilhados ou de questões políticas (Brodhead, 1991); aparece geralmente associado ao termo advocacy (defesa de interesses), que diz respeito à política pragmática de atuação por tópicos (florestas tropicais, saúde da mulher etc). À medida que as ONGs proliferam, tanto no Norte quanto no Sul, alguns grupos tornam-se mais engajados no trabalho de defesa de interesses. Redes Norte-Sul têm-se desenvolvido em torno de questões específicas, tais como o marketing da alimentação infantil, a conservação de recursos genéticos ou a exportação de pesticidas ou materiais tóxicos. A eficácia dessas iniciativas depende de uma confiável pesquisa de programas de ação e de estratégias realistas de lobby. Eventualmente, as ONGs infuenciam negociações internacionais: por exemplo, o Código de Marketing Internacional da OMS [Organização Mundial da Saúde] para produtos de nutrição infantil ou o Fundo Internacional de Gene da Comissão da FAO [Organização para a Alimentação e a Agricultura] sobre Plantas e Recursos Genéticos (Brodhead, 1991).

Raramente estudadas pelo meio acadêmico, as ONGs brasileiras estão dispersamente mapeadas em algumas poucas teses e dissertações e muita “literatura cinzenta” por elas mesmas produzidas. A variedade de vínculos estabelecidos por cada organização com suas assemelhadas, com as agências financiadoras e doadoras, com voluntários e com outras instituições e movimentos da sociedade civil caracteriza a complexidade da atuação em rede das ONGs, vistas como um conjunto nebuloso de entidades, cujo desenho institucional e a dinâmica particular nas lutas sociais não se enquadram em nenhum modelo preexistente. Como diz Leilah Landim, trata-se de... (...) um conjunto em construção de entidades e de agentes diversificados, de fronteiras ambíguas e definições pouco nítidas, que talvez nunca venham a constituir um campo mais estruturado. Organizações as mais diversas que (...) manipulam freqüentemente sua identidade de serem ou não "ONG", jogando em diferentes contextos com diferentes imagens e critérios de legitimidade (Landim, 1993, p. 29).

Elas se apresentam como "não-governamentais", mas recebem verbas de governos, sejam doações voluntárias ou financiamentos de projetos; são privadas, mas orientadas para o interesse público e não dependentes do lucro; por outro lado, não se incluem em todas as formas de ação nãogovernamental sem fins lucrativos, como as organizações representativas de grupos de interesse (sindicatos, associações de bairro, partidos); apesar de “não-representativas”, defendem interesses específicos de certos grupos da sociedade (mulheres, negros, deficientes físicos etc). Sua principal característica é a “ambigüidade de escalas”, muito bem definida por Piquet Carneiro e Rubem Cesar Fernandes (1991): São pequenas e privadas, mas se comportam como se fossem grandes e públicas. (...) São como os cidadãos, seres particulares, com direitos iguais e indistintos de participação na vida pública. Cultivam contudo uma visão totalizante da ação social, que as estimula a agir tendo em vista os grandes processos e as largas escalas. Herdam esta capacidade, com certeza, de suas origens: da Igreja Católica, que se pensa justamente como “um particular universal”, e dos partidos marxistas, que se queriam representativos da totalidade social legítima. (...) Geradas desse pai e desta mãe, as ONGs guardaram os

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fins, e modificaram radicalmente os meios. Encolheram no tamanho, mas continuam embaladas pelos vastos horizontes. (...) Cada uma se quer catalisadora e multiplicadora de múltiplas relações e diversos movimentos. Como se articulassem o todo não por cima, como o Estado ou a Igreja, mas por baixo. “pelas bases”, local e situacionalmente (Fernandes e Carneiro, 1991, p. 22).

Da década de 80 para cá, esse universo diversificou-se enormemente. “Há ‘ong’ para todos os gostos: ecologia, mulheres, negros, direitos humanos, índios, meninos de rua, portadores do vírus da AIDS, etc. Esses subconjuntos de entidades “acionam agentes de gerações, trajetórias, origens, ideários, posições distintas na sociedade – havendo possibilidades de maiores ou menores interseções entre eles, dependendo da área temática” (Landim, 1993, p. 15-16). Mas as consideradas pioneiras no campo, segundo Leilah Landim, têm origem nos Centros de Educação Popular criados no decorrer dos anos 70 e que sobreviveram à ditadura militar graças a uma estratégica “ação invisível”. No final da década, essas entidades começam a ampliar seu espectro de atuação com a criação de centros de documentação populares e formas “alternativas” de comunicação. Esse novo “mercado da solidariedade” torna-se ainda mais competitivo quando profissionais de ciências humanas, desencantados com as tradicionais formas de luta da esquerda, descobrem que podem colocar seu conhecimento e suas idéias emancipadoras a serviço dos movimentos sociais do “terceiro mundo” financiados pelo “complexo de culpa” das sociedades ricas. Autodefinidas como “de assessoria e apoio aos movimentos populares”, estas instituições são intermediadoras de saberes entre especialistas acadêmicos e não-acadêmicos e populações de baixa renda organizadas em torno de necessidades e interesses comuns (sem teto, sem terra, meninos e meninas de rua, comunidades afetadas por barragens etc), eventualmente com o apoio de segmentos das classes médias. O Ibase (Instituto Brasileiro de Análises Econômicas e Sociais), a Fase (Federação de Órgãos para a Assistência Social e Educacional), o Iser (Instituto de Estudos da Religião) são exemplos de instituições privadas, sem fins lucrativos, criadas para exercer primordialmente atividades de produção e difusão de informação e de conhecimento, embora com clientelas, enfoques e leque de atuação diferenciados. Historicamente, essas organizações vêm realizando intenso intercâmbio de informações, em âmbito nacional e internacional, às vezes de modo formal, mas quase sempre de maneira informal, constituindo-se, assim, em “nós” de uma teia invisível. É a essas ONGs que se dá ênfase nesta pesquisa.

1.5.5 redes Conceitos de “redes” têm sido formulados em diferentes disciplinas a partir de metáforas que remetem, necessariamente, a inter-relações, associações encadeadas, interações, vínculos nãohierarquizados, todos envolvendo relações de comunicação e/ou intercâmbio de informação. A idéia mais simples de rede é associada a malha ou trama de ligações simétricas entre os “nós”, que conotam fluxos regulares de informação e relações equidistantes de comunicação, geralmente existentes mais como modelos do que na vida prática. Já a “teia” indica um padrão de relações que

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se desenvolvem radialmente, a partir de uma liderança, de uma coordenação ou de um centro “irradiador” que distribui mensagens para todos os pontos da rede. Rede também aparece associada à imagem de uma árvore, na qual a informação parte de uma “raiz” e se difunde ou dissemina através de “ramos” ou ramais, isto é, um processo comunicativo que se ramifica até um certo limite (se for “podado”) ou pode se desdobrar indefinidamente com a agregação de novos participantes (sejam pessoas ou computadores). Os sistemas arborecentes são sistemas hierárquicos que comportam centros de significância e de subjetivação, autômatos centrais como memórias organizadas. (...) Num sistema hierárquico, um indivíduo admite somente um vizinho ativo, seu superior hierárquico. (...) Os canais de transmissão são preestabelecidos: a arborescência preexiste ao indivíduo que nela se integra num lugar preciso (Pierre Rosenstiehl e Jean Petitot, 1974, em Deleuze e Guattari, 1995, p. 27).

A metáfora que tenta dar conta de uma multiplicidade de relações assimétricas de comunicação desencadeadas em vários pontos simultaneamente e de fluxos descentralizados e nãoregulares de informação (no tempo e no espaço), nos quais não é possível identificar um ponto “gerador” único, é a de rizoma, que Deleuze e Guattari (1995) diferenciam tanto das relações biunívocas quanto da multiplicidade linear. Trata-se de um sistema “a-centrado”, nos quais a comunicação se dá de um vizinho a outro qualquer, “onde as hastes ou canais não preexistem, nos quais os indivíduos são todos intercambiáveis, se definem somente por um estado a tal momento, de tal maneira que as operações locais se coordenam e o resultado final global se sincroniza independentemente de uma instância central” (p. 27). Um rizoma como haste subterrânea distingüe-se absolutamente das raízes e radículas. Os bulbos, os tubérculos são rizomas. Plantas com raiz ou radícula podem ser rizomórficas num outro sentido (...). O rizoma, nele mesmo tem formas muito diversas, desde sua extensão superficial ramificada em todos os sentidos até suas concreções em bulbos e tubérculos (idem, p. 14-15).

Deleuze e Guattari distinguem seis princípios “aproximativos” do rizoma: - princípio de conexão – qualquer ponto de um rizoma pode ser conectado a qualquer outro e deve sê-lo, diferenciando-se da árvore ou da raiz, que fixam um ponto, uma ordem; - princípio da heterogeneidade – cadeias semióticas de toda natureza são conectadas a modos de codificação muito diversos; os agenciamentos coletivos de enunciação (que expressam tipos de poder social particulares) funcionam diretamente nos agenciamentos maquínicos: (...) máquina abstrata que opera a conexão de uma língua com os conteúdos semânticos e pragmáticos de enunciados, com agenciamentos coletivos de enunciação, com toda uma micropolítica do campo social. Um rizoma não cessaria de conectar cadeias semióticas, organizações de poder, ocorrências que remetem às artes, às ciências, às lutas sociais. Uma cadeia semiótica é como um tubérculo que aglomera atos muito diversos, linguísticos, mas também perceptivos, mímicos, gestuais, cogitativos (...) (idem, p. 15-16).

- princípio da multiplicidade – refere-se à noção de “unidade-pivô” que funda um conjunto de correlações biunívocas entre elementos ou pontos objetivos que podem se multiplicar indefinidamente, num “plano de consistência”;

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Uma multiplicidade não tem sujeito nem objeto, mas somente determinações, grandezas, dimensões que não podem crescer sem que ela mude de natureza (as leis de combinação crescem então com a multiplicidade). (...) Um agenciamento é precisamente este crescimento das dimensões numa multiplicidade que muda necessariamente de natureza à medida que ela aumenta as suas conexões. Não existem pontos ou posições num rizoma como se encontra numa estrutura, numa árvore, numa raiz. Existem somente linhas [de ligação que fazem proliferar o conjunto] (p. 16-17).

- princípio da ruptura a-significante – refere-se à possibilidade de o rizoma sofrer um rompimento em um ponto qualquer sem que isso comprometa o seu caráter “uno”: Todo rizoma compreende linhas de segmentaridade segundo as quais ele é estratificado, territorializado, organizado, significado, atribuído etc; mas compreende também linhas de desterritorialização pelas quais ele escoa sem parar. Há ruptura no rizoma cada vez que linhas segmentares explodem numa linha de fuga, mas a linha de fuga faz parte do rizoma. Estas linhas não param de se remeter uma às outras. (...) Faz-se uma ruptura, traça-se uma linha de fuga, mas corre-se sempre o risco de reencontrar nela organizações que reestratificam o conjunto, formações que dão novamente o poder a um significante, atribuições que reconstituem um sujeito (...) (idem, p. 18).

- princípio anti-decalcomania – refere-se à condição de um rizoma não poder ser justificado por nenhum modelo estrutural ou gerativo que se multiplique por mera “colagem”: Ele é estranho a qualquer idéia de eixo genético ou de estrutura profunda. (...) Do eixo genético ou da estrutura profunda dizemos que eles são antes de tudo princípios de decalque, reprodutíveis ao infinito. Toda lógica de árvore é uma lógica do decalque e da reprodução. (...) Ela consiste em decalcar algo que se dá já feito, a partir de uma estrutura que sobrecodifica ou de um eixo que suporta. A árvore articula e hierarquiza os decalques, os decalques são como folhas de árvore (idem, p. 21).

- princípio de cartografia – refere-se à possibilidade de o rizoma ser “traçado” coletivamente, como uma mapa: O mapa é aberto, é conectável em todas as suas dimensões, desmontável, reversível, suscetível de receber modificações constantemente. Ele pode ser rasgado, revertido, adaptar-se a montagens de qualquer natureza, ser preparado por um indivíduo, um grupo, uma formação social. (...) Um mapa tem múltiplas entradas, contrariamente ao decalque, que volta sempre ao “mesmo”. Um mapa é uma questão de performance [desempenho], enquanto que o decalque remete sempre a uma presumida “competência” (idem, p. 22).

Deleuze questiona, porém, se um mapa não comporta fenômenos de redundância que já são como que seus próprios decalques, chegando à conclusão de que esta é uma questão de método: “é preciso sempre projetar o dequalque sobre o mapa”, operação que “não é de forma alguma simétrica à precedente, porque, com todo rigor, não é exato que um decalque reproduza o mapa”. Para Deleuze, o decalque é perigoso porque injeta redundâncias e as propaga. “O que o decalque reproduz do mapa ou do rizoma são somente os impasses, os bloqueios, os germes de pivô ou os pontos de estruturação”. Por isso seria tão importante “religar os decalques ao mapa, relacionar as raízes ou as árvores a um rizoma” (idem, p. 23-24). A demarcação não depende aqui de análises teóricas que impliquem universais, mas de uma pragmática que compõe as multiplicidades ou conjuntos de intensidades. No coração de uma árvore, no oco de uma raiz ou na axila de um galho, um novo rizoma

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pode se formar. Ou então é um elemento microscópico da árvore raiz, uma radícula, que incita a produção de um rizoma. (...) Ser rizomorfo é produzir hastes e filamentos que parecem raízes, ou, melhor ainda, que se conectam com elas penetrando no tronco, podendo fazê-las servir a novos e estranhos usos (idem, p. 25).

Um rizoma é tipicamente o mapa das conexões estabelecidas via correio eletrônico em dada rede intermediada por computadores: podem ser iniciadas de qualquer ponto, ao mesmo tempo, e qualquer pessoa pode enviar mensagens para quem quiser, ou para todos, simultaneamente. Mas este mapa – assim como o de certas redes sociais – só pode ser traçado a partir do relato dos próprios comunicantes. Não há como “sobrevoar” tais conexões nem reconstituí-las “de fora”, já que tais mensagens ficam privativamente armazenadas nas “caixas postais” de cada usuário da rede. Já uma conferência eletrônica – onde as mensagens são postadas em um “depósito” aberto à “visitação” pública – pode ser graficamente representada pela metáfora da árvore (no caso de haver um “mediador” que seleciona os tópicos a serem postados) ou de uma teia, quando um pequeno número de usuários concentra a maior parte dos tópicos veiculados, enquanto a grande maioria tem participação apenas periférica no debate sobre o tema em questão (ver Cap. 4.5). John A. Barnes, considerado por vários autores como o responsável pela passagem da idéia metafórica de redes para a de uma técnica de análise, com um artigo escrito em 195414 (ver Cap. 1.6.1.), alertou, quase vinte anos depois, que a distinção entre o uso metafórico do termo “rede” e a sua aplicação como conceito analítico ainda não estava precisamente definida. E afirmou categoricamente: “Não existe tal coisa que chamam teoria de redes sociais” (1972, p. 1). De lá para cá, ninguém parece ter ousado resolver tal dilema. Para Barnes, a idéia básica das redes sociais corresponde à seguinte descrição: “configuração de vínculos interpessoais cruzados, causativamente conectados de um modo inespecífico com as ações dessas pessoas e com as instituições sociais da sua sociedade”. Trata-se, por tanto, não de uma definição, mas de um “postulado orientador” (pouco explicativo, diga-se de passagem), que não serve de base para a constituição de uma teoria com proposições que possam ser testadas. “Só quando postulamos uma forma específica de conexões entre indivíduos, instituições, comportamentos e redes podemos gerar proposições testáveis”, afirmou Barnes. Ou seja, a teoria das redes só poderia nascer da análise concreta de tipos específicos de rede. Independentemente da metáfora adotada, o conceito de rede varia também conforme os componentes que formam a cadeia de relações, que podem ser humanos (indivíduos, sujeitos ou atores sociais) e não-humanos (como redes de termos em um documento, redes de citações em determinada literatura especializada, afirmações ou enunciados em um conjunto de textos submetidos à análise do discurso ou ainda computadores estruturados em redes locais ou remotas e sistemas de recuperação da informação, como no caso das redes de bibliotecas). Redes de comunicação consistem de indivíduos interconectados que são ligados por fluxos modelados de informação. Esse compartilhamento de informação ao longo do tempo leva os indivíduos a convergir ou divergir uns dos outros em seu entendimento mútuo da realidade. (...) Uma interação de um indivíduo com o seu ambiente é mediada por informação, boa parte dela referente não à realidade física mas a outros conjuntos 14

Class and comittees in the Norwegian Island parish. 65

de informação. Um acordo e entendimento mútuo adequado sobre a informação simbólica que é criada e compartilhada é um pré-requisito para qualquer atividade social e coletiva. (Rogers & Kincaid, 1981, p. 63)

A unidade mínima para análise de uma rede é a díade (comunicação entre dois elos ou nós) e seu mapeamento é feito a partir dos tipos de vínculos (diretos ou indiretos, fortes/fracos, recíprocos e não-recíprocos) estabelecidos, que permitem identificar grupos de interesse diferenciado (clusters). A dinâmica da rede corresponde ao processo de desenvolvimento das relações espaçotemporais dos seus elos (fluxo de informação, graus de participação etc), que podem seguir um ritmo contínuo ou descontínuo, regular/irregular, periódico, sazonal ou eventual. A velocidade desse desenvolvimento pode não ser simplesmente rápida ou lenta, admitindo posições intermediárias de aceleração e desaceleração em função de determinadas circunstâncias que “animam” ou “estancam” a intercomunicação. __________________ Referências: BARNES,

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1.6 Metodologias Se alguém olhar um cubo colocado sobre uma mesa, poderá ver uma figura de face única – quadrada – ou de apenas duas ou três, de formatos irregulares, conforme a posição que assuma diante do objeto. No entanto, experiências anteriormente incorporadas fazem com que esse estranho objeto seja reconhecido como um cubo: “sólido que tem seis faces quadradas iguais”. Qual é, então, o verdadeiro objeto: aquele que o olhar presencia ou o que o conhecimento e a experiência referenciam? Assim como a aparência do cubo se modifica conforme o ângulo de perspectiva a partir do qual ele é observado – sem que deixe de ser reconhecido como tal – também se modificam as feições de um fato, ou de uma situação, a cada mudança de ponto de vista da narrativa ou da fotografia (Aguiar, S., 1990)15

O que todas as reflexões e teorizações sobre o acaso, a incerteza, a nebulosidade, a complexidade, o caos e a ordem/organização indicam é que o enfraquecimento das posições rigidamente cartesianas e positivistas oferece não apenas a possibilidade de um novo “olhar” sobre os objetos de pesquisa, mas também a construção de ferramentas metodológicas que ampliem o “recorte” do objeto. Ou seja, metodologias e técnicas de investigação que permitam, principalmente, reduzir as exclusões dos elementos vagos ou imprecisos que compõem a natureza, a estrutura e a dinâmica daquilo que está sendo investigado. Não é pretensão deste trabalho enfrentar tamanha empreitada mas sim assumir claramente as escolhas feitas, tanto em termos do objeto de investigação quanto da abordagem adotada e dos caminhos percorridos, partindo do princípio de que esses processos não são neutros, embora possam ser objetivados. Foi com interesse nas possibilidades emancipadoras do trabalho de intercâmbio de informação realizado pelas redes de ONGs e movimentos sociais que esta proposta de pesquisa foi concebida. E foi com a perspectiva das relações entre as micro e macroestruturas, entre as reciprocidades, cooperação e conflito que elas comportam, gerando aproximações, heterogeneidades e multiplicidades de ações e sentidos, que a investigação foi conduzida. O método que lhe serviu de bússola foi inspirado nos procedimentos propostos por Abraham Moles para as “ciências em vias de se fazer” e na “metodologia pluralista” pregada por Paul Feyerabend: é frontalmente antipositivista (não anarquista), afinado com a dialética marxista (sem o 15

Em Sobre o discurso jornalístico: verdade, identidade e legitimidade. Dissertação de mestrado em comunicação defendida e aprovada em 1990, na ECO/UFRJ. 67

seu determinismo histórico) e epistemologicamente orientado pelas Ciências Sociais, com algumas idéias da chamada “sociologia compreensiva”. O conhecimento, concebido segundo essas linhas, não é uma série de teorias coerentes, a convergir para uma doutrina ideal; não é um gradual aproximar-se da verdade. É, antes, um oceano de alternativas mutuamente incompatíveis (e, talvez, até mesmo incomensuráveis), onde cada teoria singular, cada conto de fadas, cada mito que seja parte do todo força as demais partes a manterem articulação maior, fazendo com que todas concorram, através desse processo de competição, para o desenvolvimento da nossa consciência (Feyerabend, p. 40-41).

Como diz Teresa Haguette, “existe um substrato teórico, uma visão de como a sociedade funciona, por trás das metodologias, aparentemente ‘neutras’”. Em função disso, é preciso explicitar as convicções que norteiam as escolhas metodológicas. A grande questão que se coloca hoje para o cientista social, especialmente nos países periféricos, onde sua atuação o aproxima com mais violência das conseqüências do exacerbado poder de poucos sobre muitos, não é, a nosso ver, o domínio dos métodos e técnicas de pesquisa social, mas o escrutínio de sua própria visão de mundo, prérequisito fundamental daquilo que dela decorre, a atividade de analista do real, de intérprete das experiências alheias e de protagonista ativo das transformações que lhe parecerão necessárias, mas que nem sempre são as melhores. O “arbítrio” do pesquisador representa sua mais pesada carga de responsabilidade se admitirmos a complexidade e incomensurabilidade do real e o fato de que ele faz apenas uma “leitura’ deste real (Haguette, p. 19).

O fato de a visão de mundo do pesquisador e a dos atores sociais estarem implicadas em todo o processo de conhecimento torna ainda mais necessária a busca de formas para reduzir a incursão excessiva dos juízos de valor na pesquisa. Ou seja, em vez da objetividade, busca-se a objetivação do conhecimento, que inclui o rigor no uso de instrumental teórico e técnico adequado, num processo interminável e necessário para se atingir a realidade (Minayo, 1992, p. 35). Objetivação é o “processo de construção que reconhece a complexidade do objeto das ciências sociais, seus parâmetros e sua especificidade” (...); o ‘objeto’ dentro dessas ciências é também sujeito e interage permanentemente com o investigador” (idem). Do ponto de vista téorico, trata-se de uma abordagem transdisciplinar, que parte de enfoques recentes da Ciência da Informação para os problemas de acesso democrático às informações disponíveis em diferentes instâncias da sociedade e do papel dos detentores de conhecimento especializado nas relações de poder. Nessa perspectiva, a informação deixa de ser vista como mera medida de organização e assume o lugar de fenômeno de significação intencional indissociável dos processos de interação social, comunicacionais e cognitivos dos quais emerge e que lhe dão sentido. O papel da informação nas relações de poder está associado não apenas ao controle dos estoques de conhecimento, mas também à construção de consenso e coesão sociais através do significado das mensagens, do seu uso efetivo e da ação daí resultante. A dialética marxista abrange não apenas “o sistema de relações que constrói o modo de conhecimento exterior ao sujeito, mas também as representações sociais que constituem a vivência das relações objetivas pelos atores sociais, que lhe atribuem significados” (Minayo, p. 11). “É na práxis, na perspectiva dialética, que se dá a emancipação subjetiva e objetiva do homem e a 68

destruição da opressão enquanto estrutura e transformação da consciência” (idem, p. 73). Como método de conhecimento, a lógica dialética considera a indução e a dedução obrigatoriamente complementares e harmônicas. “Não podemos conhecer uma coisa a não ser decompondo-a, para a seguir recompô-la, reconstruí-la e reagrupar suas partes. Análise e síntese são inseparáveis, mas para sintetizar com êxito é preciso analisar” (idem, p. 75). O século XX presenciou um brutal desenvolvimento das chamadas metodologias de pesquisa, envolvendo discussões relevantes sobre formas de controle do erro na captação da realidade, partindo quase sempre do pressuposto de que ela é cognoscível. Aqui também, marxismo e positivismo estão acordes: o real é objetivo. Objetivo e contraditório, diz o primeiro; objetivo e não-problemático, afirma o segundo. O forte componente humanista da teoria marxista – além, obviamente, de seu poder explicativo – atraiu os cientistas sociais comprometidos com a justiça e a eqüidade, quando o método positivista se adaptava como uma luva à análise das sociedades opulentas, mascarando conflitos e enfatizando o consenso como cimento entre as micro e as macroestruturas sociais (Haguette, p. 16-17).

Para Minayo, a superioridade do método dialético está na sua capacidade de incorporar as “verdades parciais” das outras correntes, criticando e negando suas limitações. Os princípios de especificidade histórica e de totalidade lhe conferem potencialidade, para, do ponto de vista metodológico, apreender e analisar os acontecimentos, as relações e cada momento como etapa de um processo, como parte de um todo. Os critérios de complexidade e de diferenciação lhe permitem trabalhar o caráter de antagonismo, de conflito e de colaboração entre os grupos sociais, e no interior de cada um deles, e pensar suas relações como múltiplas em seus próprios ângulos, intercondicionadas em seu movimento e desenvolvimento interior e interagindo com outros fenômenos ou grupos de fenômenos (Minayo, p. 12).

A sociologia compreensiva, tal como pensada por Weber, coloca como tarefa das ciências sociais a compreensão da realidade humana vivida socialmente, tendo o significado da ação social como conceito central e a subjetividade como constitutiva do social e inerente ao entendimento objetivo. Seu conceito central é o do significado. Nela incluem-se diferentes correntes metodológicas, como a fenomenologia, a etnometodologia e o interacionismo simbólico, que reconhecem a subjetividade como parte integrante da singularidade do fenômeno social. “A fenomenologia defende a idéia de que as realidades sociais são construídas nos significados e através deles, e só podem ser identificadas na medida em que se mergulha na linguagem significativa da interação social. A linguagem, as práticas e as coisas são inseparáveis na abordagem fenomenológica. (...) No seu quadro de referências, o mundo se apresenta ao indivíduo na forma de um sistema objetivado de designações compartilhadas de formas expressivas” (Minayo, p. 34). O ponto de partida para a fenomenologia sociológica são os “constructos de primeira ordem” usados pelos membros de uma sociedade, isto é, o senso comum. Cabe ao cientista social revelar os significados subjetivos implícitos que penetram no universo dos atores sociais (idem, p. 56). “Para os fenomenólogos, são os pequenos grupos, como a família, as entidades religiosas, as associações voluntárias, os responsáveis pela identidade dos indivíduos, pela sua estabilidade e por seu sistema de significados, na medida em que os integram a uma visão de mundo compartilhada” (idem, p. 58).

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O interacionismo simbólico (vertente da etnometodologia) concebe a vida social como resultante de um consenso estabelecido na inter-relação de indivíduos e grupos, tendo como base o compartilhamento de sentidos sob a forma de compreensões e expectativas comuns. O processo interativo é dinâmico, variando de acordo com as diferentes situações que os indivíduos e grupos enfrentam; é através do processo interativo, no processo social de vida em grupo, que as regras são criadas, mantidas e modificadas”. Do ponto de vista desta corrente, a “ação grupal ou coletiva consiste de unidades de ação (indivíduos, família, escola, igreja, sindicato etc) que desenvolvem ações para enfrentar situações nas quais elas estão inseridas” e que “são percebidas de forma seletiva, ou seja, de acordo com as necessidades que, por sua vez, são definidas a partir dos sentidos que as coisas têm para aquela unidade de ação” (cf. Minayo, p. 54-57). Para Minayo, os “problemas da corrente compreensiva se encontram na atomização da realidade na análise dos grupos sociais como uma totalidade nela mesma, como se cada grupo constituísse um mundo social independente, e na ausência quase total de discussões referentes a problemas estruturais” (p. 11). Haguette considera o interacionismo simbólico omisso em relação a vários aspectos da ação social e da própria sociedade, como por exemplo o caráter de conflito ou de acomodação da interação, os efeitos do poder sobre “as definições de situação” das unidades interativas e sobre sua ação social, ou as ações sociais deliberadas com vistas à mudança (caso dos movimentos sociais e das ONGs em questão). “A concepção interacionista não parece considerar os efeitos mútuos entre os microprocessos de ação individual e grupal e as macroestruturas societais que, a nosso ver, funcionam em termos de feedback constante” (Haguette, p. 59). ___________________

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1.6.1 A análise de redes Na Ciência da Informação e na Comunicação, a idéia de “redes” é predominantemente associada ao aparato tecnológico que permite às pessoas e às organizações se comunicarem a distância, via computadores interligados por sistemas de telecomunicações. A única revisão da literatura sobre redes feita pelo Arist – Annual Review of Information Science and Technology – sob o ponto de vista das relações interpessoais foi publicada em 1991, baseada, segundo o próprio autor16, em uma bibliografia majoritariamente produzida fora do campo da Ciência da Informação. 16

Kerry Grosser, em Human networks in organizational information processing. Arist – Anual Review of Information Sience and Technology – vol.26, p. 349-403. 70

Assim, as ferramentas metodológicas disponíveis para a análise de fluxos de informação através de elos de interação entre pessoas, grupos humanos ou organizações sociais – redes – são aquelas produzidas por antropólogos e sociólogos, ao longo de 40 anos, sob forte influência de pensadores funcionalistas como Radcliffe-Brown e Talcott Parsons. O funcionalismo é uma das variantes do positivismo sociológico, que vê as sociedades como sistemas comparáveis aos organismos vivos, cujos elementos (subsistemas) interagem, produzindo equilíbrio, estabilidade, ajustes e reajustes. A integração entre as suas partes é obtida mediante consenso, e as noções de progresso, de desenvolvimento e de mudança estão relacionadas à adaptação. Para os funcionalistas, as leis que regem os fenômenos sociais são intemporais, invariáveis e tendentes à estabilidade e à coesão. Para Parsons, as instituições constituem o mecanismo integrativo fundamental dos sistemas sociais, definidos ora como uma pluralidade de agentes individuais que interagem, ora como uma rede de relações entre agentes (cf., Minayo, p. 4647). As três principais revisões da literatura sobre a teoria e as técnicas de análise de redes têm, entre si, curiosamente, intervalos de cerca de dez anos. A primeira foi publicada em 1972, por John A. Barnes, e resenha diversos estudos de casos sobre redes, sistematizando as variáveis de análise utilizadas. A segunda, por Everest Rogers, com a contribuição de Lawrence D. Kincaid, em 1981, centra-se na busca de um novo paradigma para a análise de redes de comunicação. E a terceira, de John Scott, publicada em 1992, pretende ser um guia das principais técnicas de análise e de ferramentas computacionais utilizadas para a identificação da estrutura de diferentes modelos de redes sociais. Esta útlima, apesar de se basear praticamente na mesma bibliografia de seus predecessores, não os cita entre as obras consultadas. Este capítulo pretende resumir as principais questões discutidas por cada um desses autores, na ordem inversa em que foram publicados, pela seguinte razão: Scott faz uma abrangente revisão das contribuições teórico-conceituais que permitiram a constituição da ‘análise de redes’ como uma especialidade metodológica das ciências sociais. Rogers e Kincaid sistematizam os tipos de dados, unidades de análise e técnicas de pesquisa de redes aplicáveis às relações de intercâmbio de informação. E Barnes faz uma resenha crítica dos estudos de caso por ele arrolados, do ponto de vista analítico e conceitual, que fornece pontos interessantes para a argumentação em torno dos procedimentos adotados na pesquisa aqui apresentada. Mas os três foram entrelaçados sempre que ofereceram dados factuais ou observações analíticas completementares. 1.6.1.1 Nascimento de uma especialidade O potencial de utilização das técnicas de análise de redes sociais ficou durante muitos anos restrito a pesquisadores familiarizados com a linguagem matemática e acostumados a metodologias altamente técnicas e quantitativas. Os programas de computador desenvolvidos para análises de redes, de grande valia para pesquisas empíricas que envolvem dados numerosos e variáveis diversas, também foram pouquíssimo disseminados ou, quando disponíveis, não apresentavam

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interface amigável nem documentação que facilitasse a sua aplicação pelos pesquisadores17 (Scott, J., p. 1). A idéia central da análise de redes tem origem nas pesquisas sobre o conceito de “estrutura social” iniciadas na década de 30 pelo antropólogo social inglês Radcliffe-Brown, a partir das quais começaram a ser utilizadas as metáforas de “tecido” e “teia” da vida social, que permitiram compreender melhor as relações de “entrelaçamento” e de “interconexão” através das quais as ações sociais são organizadas. Esses estudos acabaram desembocando na metáfora de “rede”, em torno da qual formou-se, a partir da década de 50, um pequeno grupo de especialistas responsáveis pelos conceitos-chave da análise de redes sociais que emergiram até os anos 70 (Scott, J., p. 4-5). Esses primeiros 40 anos da análise de redes foram divididos em três linhas principais: • a análise sociométrica, que produziu muitos avanços técnicos com o uso de métodos da teoria dos “gráfos”; • os pesquisadores de Harvard dos anos 30, que exploraram padrões de relações interpessoais e a formação de “cliques”; • os antropólogos de Manchester, que evoluíram dessas duas correntes para investigar a estrutura de relações comunitárias em tribos e sociedades aldeãs. Associada particularmente a Jacob Moreno (pesquisador alemão que imigrou para os EUA em 1925), a sociometria é um meio de obter dados quantitativos sobre padrões de comunicação entre indivíduos em um sistema e foi desenvolvida a partir da teoria gestáltica. O interesse de Moreno pelas relações entre configurações interpessoais de pequena escala e agrupamentos sociais de larga escala é uma expressão clara de algumas das idéias de ponta da clássica sociologia alemã, notadamente desenvolvida nos trabalhos de Max Weber e Georg Simmel. O tratamento gráfico dos dados analisados em sociogramas, proposto por Moreno, viabilizou o que Simmel apontara como uma necessária “geometria das relações sociais”, mas limitava-se a uma rede com no máximo 80 a 100 indivíduos (Scott, J., p. 9-10; Rogers & Kincaid, p. 91). A principal questão intelectual de Simmel era compreender como as “associações de grupos”, que funcionam como elos em “círculos sociais” (formados a partir de interesses compartilhados por seus membros), afetam o comportamento do indivíduo (Rogers & Kincaid, p. 86). Como exemplo da dinâmica das redes pessoais, ele utilizou dois importantes movimentos sociais da sua época (década de 20): o de trabalhadores e o de mulheres. No processo de organização social, o conceito coletivo de ‘trabalhador’ evoluiu a partir de conceitos como tecelões, mecânicos, mineiros etc. Através da sua experiência comum com outros profissionais, os membros de cada ofício gradualmente desenvolveram uma consciência coletiva de trabalhadores assalariados, num alto nível de abstração. Tal mudança de sentido representa uma convergência na direção de maior compreensão mútua da situação comum dos trabalhadores resultante do aumento de intercâmbio de informação e da formulação dos sindicatos (idem, p. 45).

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Atualmente, já é possível ter acesso a esses programas via Internet. A página do Social Networks Journal, por exemplo, oferece uma lista deles no endereço: http://eclectic.ss.uci.edu/~lin/pro.html (caso o endereço tenha mudado, o que acontece frequentemente na rede, faça a busca pelas palavras-chave do nome do periódico). 72

Para Moreno, as configurações sociais possuem estruturas definidas e discerníveis, cujo mapeamento em um sociograma permitiria ao pesquisador visualizar os canais através dos quais, por exemplo, a informação pode fluir de uma pessoa para outra, além de identificar líderes, indivíduos isolados e grupos fechados [cliques], revelar assimetrias e reciprocidades, e mapear cadeias de conexões (Scott, J., p. 10). As primeiras aplicações das idéias sociométricas a sistemas de larga escala foram feitas por pesquisadores interessados na teoria geral dos sistemas e nos aspectos matemáticos da cibernética e da ação racional. Um dos pioneiros desses trabalhos foi Rapport, cujos estudos, na década de 50, sobre cadeias de contágio epidemiológico estimulou pesquisas posteriores sobre a transmissão de idéias e de inovações (idem, p. 16). Rogers e Kincaid alertam, porém, que não há garantias de que o resultado esteja correto, pois um número infinito de sociogramas pode ser construído a partir de um mesmo conjunto de dados, cada qual podendo levar a uma imagem diferente da estrutura comunicacional. “Não há procedimento objetivo, padrão, para traçar sociogramas”, dizem esses autores (p. 92). Da mesma origem teórica que Moreno, o também alemão Kurt Lewin dedicou-se a estudos sobre o comportamento de grupos sociais, que existiriam como um “campo”, um “espaço social” que abrange o grupo juntamente com o ambiente que o cerca. Ambiente, no caso, é aquele “percebido” pelos membros do grupo como tal. Essa “teoria de campo” tinha como objetivo explorar matematicamente a interdependência entre grupo e ambiente em um sistema de relações. Para Lewin, as propriedades estruturais do espaço social poderiam ser analisadas através de técnicas matemáticas de topologia e da teoria dos conjuntos. Do ponto de vista topológico, esse espaço compreende “pontos” conectados por “caminhos” [paths], que dividem um campo em discretas “regiões” ou “zonas” (Scott, J., p. 10-11). Cada região é separada das outras pela ausência de caminhos entre elas: caminhos estendem-se pelas, mas não entre as regiões. As oportunidades que os indivíduos têm para mudar no seu mundo social são determinadas pelos limites entre as diferentes regiões do campo no qual eles estão localizados. Os cerceamentos impostos por esses limites são as “forças” que determinam o comportamento do grupo. O campo social total, portanto, é um campo de forças atuando sobre os membros do grupo e modelando suas ações e experiências (idem, p. 11).

Outra corrente da psicologia cognitiva que contribuiu para o desenvolvimento das teorias de dinâmica de grupo foi a liderada por Fritz Heider, inicialmente centrada na congruência (ou falta de) das atitudes interpessoais e na possibilidade de equilíbrio psicológico (abordagem fenomenológica). As descobertas de Lewin, Moreno e Heider foram reunidas e sintetizadas na década de 50, a partir dos trabalhos dos matemáticos Cartwright e Harary, pioneiros da aplicação da teoria dos gráfos ao comportamento de grupos. Com as contribuições de Norman, Newcomb e Zander, eles desenvolveram poderosos modelos de coesão de grupo, pressão social, cooperação, poder e liderança (idem, p. 11-13). Cartwright e Harary delinearam a idéia básica de representação de grupos como coleções de pontos conectados por linhas, isto é, uma rede de relações interpessoais (linhas) entre membros de grupos (pontos) que podem ser analisadas com a aplicação da teoria dos gráfos (um corpo de

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fórmulas e axiomas matemáticos que descrevem as propriedades dos padrões formados pelas linhas). As linhas podem indicar relações positivas ou negativas (através dos sinais + ou -) e a “direção” dessas relações (através de setas). Um gráfo “não-direcionado” (sem setas) indicaria relações perfeitamente recíprocas ou envolvimento comum na mesma atividade (idem, p. 13-14). Os dois matemáticos consideravam que estruturas sociais complexas poderiam ser vistas como originadas de estruturas simples, que iriam se justapondo em blocos triádicos (relações de três indivíduos). Para eles, o equilíbrio de uma rede social seria definido pela existência de dois subgrupos coesos, entre os quais há conflito e antagonismo. A análise desse equilíbrio seria feita por meio de técnicas de decomposição da rede em subgrupos, variadamente denominados “cliques”, “clusters” ou “blocos”. A análise de díades e tríades como os blocos pilares da vida social tem origem nas idéias desenvolvidas por Simmel no início do século. Mas a base teórica para as pesquisas empíricas relacionadas aos subgrupos foi desenvolvida entre os anos 30 e 40, na Universidade de Harvard, a partir das idéias de Radcliffe-Brown e Durkheim (idem, p. 15-16). Um dos mais importantes desses trabalhos foi o de W. Lloyd Warner, que combinou técnicas de observação, entrevistas e documentos históricos para coletar dados sobre uma pequena cidade de New England (costa Leste dos EUA), seguindo uma linha teórica que enfatizava fatores como estabilidade, coesão e integração na estruturação de comunidades. Ele sustentava que a organização social de uma comunidade consiste de uma teia de relações através da qual as pessoas interagem e que compreende vários grupos formalmente estabelecidos, como a família, a igreja, classes e associações. Paralelamente, porém, Warner identificou subgrupos que denominou “cliques”: uma associação informal de pessoas entre as quais há um grau de sentimento de grupo e de intimidade e no qual certas normas de comportamento grupal foram estabelecidas (idem, p. 19-20). As pessoas são integradas nas comunidades através de relações “informais” e “pessoais” de família e de filiação a um clique, não simplesmente através de relações “formais” do sistema político e econômico. Qualquer pessoa pode ser membro de vários cliques diferentes e ‘essa superposição na filiação a cliques espalha-se por uma rede de relações que integra quase toda a população de uma comunidade em um vasto sistema único de relações de clique’ (Warner e Lunt, 1941:111). Este é indubitavelmente um dos mais remotos, senão o mais remoto uso do termo rede para descrever a estruturação de sociedades inteiras em subgrupos (idem, p. 21).

Inicialmente, Warner e Lunt representaram essa estrutura social como uma série de círculos (os cliques) entrelaçados em um diagrama de Venn, mas não avançaram em nenhuma análise estrutural, formal, desses diagramas. Posteriormente, porém, adotaram a representação de matrizes para identificar tipos de cliques e as posições ocupadas pelas pessoas na estrutura social estudada. A principal inovação desse estudo foi sua tentativa de explorar a estrutura interna dos cliques. Os pesquisadores argumentaram que um clique poderia ser visto como composto de três “camadas”: um “núcleo” daqueles que participam juntos mais freqüente e intimamente, um “círculo primário” dos que participam conjuntamente com os membros do núcleo em algumas ocasiões mas nunca como um grupo, e um “círculo secundário” dos que participam apenas esporadicamente e portanto são “quase-nãomembros” (idem, p. 22).

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Durante os anos 40, George Homan começou a tentar sistematizar a massa de pesquisas sobre pequenos grupos realizada nos Estados Unidos, visando compreender a interação social de pequena escala. Sua visão teórica, que pressupunha o grupo como um sistema dentro de um ambiente, centrava-se na idéia de que as atividades humanas levam as pessoas a interagir e que essas interações variam em “freqüência”, “duração” e “direção”. Homan foi um dos primeiros a publicar uma demonstração do método de “matriz de rearranjo” na análise de rede social, análogo ao que foi posteriormente denominado “modelagem de bloco”, mas sem utilizar nenhum método matemático. Baseado apenas em procedimentos de tentativa e erro, a matriz de rearranjo não é uma tarefa fácil de se executar, mesmo quando envolve poucos dados. Por essa razão, as tentativas posteriores de utilização desse tipo de análise envolveram a busca de algoritmos programáveis que permitissem a realização dos rearranjos de modo mais confiável (idem, p. 23-25). Mais fortemente influenciados por Radcliffe-Brown do que seus colegas de Harvard, os chamados antropólogos de Manchester (Inglaterra) promoveram uma nova mudança no quadro da análise de rede social com seus estudos sobre pequenos grupos de trabalhadores rurais. A dominância da corrente parsoniana (de Talcott Parsons) na sociologia e nas abordagens culturais da antropologia, durante os anos 50, foi um fator importante na condução do trabalho da escola de Manchester como uma tradição distintamente crítica. Em vez de enfatizar a integração e a coesão, eles enfatizavam o conflito e a mudança. Uma figura central em Manchester foi Max Gluckman, que combinou o interesse pelas sociedades complexas africanas com uma preocupação de desenvolver uma abordagem estrutural que reconhecesse a importante parte desempenhada pelo conflito e pelo poder tanto na manutenção quanto na transformação de estruturas sociais. Para Gluckman, conflito e poder eram elementos integrantes de qualquer estrutura social e sua análise evidenciava as constantes atividades de negociação, barganha e coerção na produção de integração social (idem, p. 27).

Os pesquisadores de Manchester passaram a dar menos atenção às normas e instituições formalmente institucionalizadas de uma sociedade para se concentrarem na configuração das relações que afloram do exercício de conflito e poder. Mas como o quadro teórico que herdaram não dava conta dessa questão, eles começaram a tentar sistematizar as noções metafóricas de “teia” e de “rede” apontada por Radcliffe e outros autores. Jonh Barnes liderou a aplicação da idéia de rede social de uma maneira mais analítica e rigorosa, no início dos anos 50. Foi Clyde Mitchell, porém quem criou as bases da análise de rede social ao retomar e reformular a teoria dos gráfos matemáticos e a sociometria dentro de um novo arcabouço sociológico. Essa transposição acabou conduzindo-o para os mesmos aspectos da organização interpessoal informal que haviam sido destacados por Mayo, Warner e Homans (idem, p. 27-28). Em 1955, Siegfried Nadel fez uma série de apresentações públicas sobre estrutura social, cujo ponto de partida era a definição de “estrutura” como a articulação ou arranjo de elementos para formar um todo. Nadel acreditava que, separando as formas de relações dos seus conteúdos, os aspectos gerais da estrutura poderiam ser descritos e investigados através de um método comparativo. Para ele, estrutura social é um sistema, uma rede ou um padrão geral de relações que o analista abstrai das ações concretas, observáveis, dos indivíduos. 75

Por “rede” ele entende “as relações interconectadas pelas quais as interações implícitas em uma determinam as que ocorrem em outras (...). Uma consideração em particular de Nadel era a idéia de que o “papel” deve ser um conceito central da teoria sociológica. Estruturas sociais são estruturas de papéis (...) definidos através de redes de atividades interdependentes. Nadel defendia que os métodos algébricos e de matriz deveriam ser aplicados à análise de papéis, mas, salvo um ou dois curtos exemplos, deu pouca indicação sobre como isto deveria ser feito. Sua morte prematura, em 1956, impediu-o de contribuir para os avanços que ele havia sinalizado (idem, p. 30).

Em 1969, Mitchell codificou a idéia de “esfera de análise de rede” como o padrão de elos (links) pessoais que os indivíduos têm com um conjunto de pessoas e os elos que estas pessoas, por sua vez, têm entre si. Essas redes interpessoais (...) são construídas a partir de dois diferentes tipos ideais de ação, que se combinam de várias maneiras para formar redes de interação concreta. Há, antes de tudo, a “comunicação”, que envolve a transferência de informação entre indivíduos, o estabelecimento de normas sociais e a criação de um grau de consenso. De outro lado, há o tipo de ação “instrumental” ou propositivo, que envolve a transferência de bens materiais e serviços entre pessoas (...)(idem, p. 30-31).

Mitchell conceitua a “rede total” de uma sociedade como “o conjunto geral de elos sempre ramificados, sempre reticulados que se expandem dentro e além dos limites de qualquer comunidade ou organização” (1969, p. 12, em Scott, J., p. 31). Aspectos específicos da rede total são conceituados como “redes parciais”. Dentro dessa perspectiva, há duas abordagens possíveis: uma que parte de um indivíduo específico para identificar redes “egocentradas” de relações sociais de todos os tipos; outra que abrange traços “globais” da rede em relação a aspectos particulares da atividade social: vínculos políticos, obrigações de parentesco, amizade ou relações de trabalho etc (idem, p. 31). As redes parciais estudadas por sociólogos e antropólogos sociais são predominantemente egocentradas e focalizadas em tipos específicos de relação social (emprego, parentesco, filiação política etc). Ou seja, são formadas por um conjunto de relações específicas extraídas do sistema social mais amplo, e não simplesmente por um grupo x de indivíduos, já que estes mantêm outros tipos de relações específicas com indivíduos de outros grupos. Por exemplo: entre os integrantes de uma rede ecológica podem existir pessoas que participam também de uma rede de excursionistas, outras que militam numa rede antitabagista e outros ainda que fazem parte de uma rede de jogadores de RPG. Nestes casos, as relações sociais estariam sendo construídas não por força de “papéis” ou “posições” sociais tradicionais, mas por preferências ou ocupações individuais comuns a diferentes pessoas. Nas redes parciais (que segundo Barnes são objeto da maioria dos estudos sobre redes) podem ser identificados os elos diretos e indiretos de cada indivíduo, os graus de conectividade e de superposição (interseção) entre essas redes parciais e o “conteúdo” ou significado das relações envolvidas. Mitchell observou que a maioria dessas redes é multirramificada (multistranded ou multiplex): elas envolvem a combinação de várias relações significativamente distintas. Para ele, as redes interpessoais podem ser analisadas através de diversos conceitos que descrevem a qualidade

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das relações envolvidas, como “reciprocidade”, “intensidade” e “durabilidade” (equivalentes aos conceitos de direção, intensidade e freqüência trabalhados por Homan (Scott, p. 31-32). Mas o desenvolvimento da análise de redes como uma especialidade só se tornou possível a partir do trabalho de Harrison White, que estendeu e sintetizou suas investigações sobre a base matemática da estrutura social, posteriormente desenvolvidas e ampliadas pelos estudantes que treinou na Universidade de Harvard. À medida que estes se moviam por departamentos acadêmicos através do mundo, os argumentos de White e o trabalho dos pesquisadores britânicos foram sendo unificados em um quadro complexo, mas cada vez mais coerente, de análise de redes sociais (idem, p. 8). Rogers & Kincaid atribuem à predominância dos modelos lineares de comunicação, aos levantamentos em grande escala, à análise de dados por computador e ao uso dos indivíduos como unidades de análise o fraco desenvolvimento dos sociogramas como análise de dados e o desestímulo a qualquer tipo de análise de rede até o início dos anos 70, quando ressurgiu o interesse científico por esta técnica. Desde então, aumentou a disponibilidade de métodos computadorizados e a ênfase em formulações teóricas da comunicação como um processo de convergência (p. 94-95). Alba e Kadushin (1976) acham, contudo, que esse revigoramento das pesquisas deve ser atribuído também ao crescente reconhecimento da importância das redes para a redução do hiato conceitual entre as micro e as macroestruturas (p. 78). As técnicas de análise de redes sociais utilizam “dados relacionais” e “dados de atributos”. Os primeiros dizem respeito aos contatos, vínculos, conexões, ligações e encontros de grupos, que associam um agente a outro, não podendo ser reduzidos a propriedades individuais de cada um. Já os atributos são referentes a atitudes, opiniões e observações dos agentes, bem como a propriedades, qualidades ou características de indivíduos ou grupos, que constituem variáveis de análise quando medidos como valores de variáveis particulares (renda, ocupação, educação etc). Um terceiro tipo de dados ainda pouco explorado na pesquisa social é aquele relativo ao mundo das idéias (ideational data), que descreve significados, motivos, definições e tipificações (Scottt, p. 2-3). Os dados relacionais são centrais para as principais questões da tradição sociológica, que enfatiza a investigação da estrutura da ação social. (...) Paradoxalmente, a maioria da literatura existente sobre métodos de pesquisa e métodos de coleta de dados dá pouca atenção a esse tipo de dado, concentrando-se no uso de análise de variáveis para a investigação de dados de atributo. As técnicas matemáticas formais de análise de rede social, os métodos que são especificamente ajustados aos dados relacionais, têm sido discutidos e desenvolvidos fora da corrente dominante dos métodos de pesquisa. Embora eles tenham tornado possível uma série de rupturas na análise estrutural, mantiveram-se inacessíveis a muitos dos que desejariam utilizá-los (idem, p. 4).

O fato de a grande maioria da literatura utilizada por Scott ter sido produzida entre a década de 60 e o início dos anos 80 é forte indicador de que não houve avanços teóricos significativos em relação à idéia de rede como um “constructo de análise”, e de que Barnes tinha razão quando (vinte anos antes) dizia que, “para escrever claramente sobre estudos de rede em termos gerais, é preciso

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adotar algumas posições metateóricas e vocabulário técnico definidos, apesar da falta de consenso entre os pesquisadores” (Barnes, 1972, p. 2). 1.6.1.2 Técnicas de análise

A análise de rede é definida por Rogers & Kincaid como um método de pesquisa que busca identificar a estrutura de comunicação de um sistema, cujos fluxos de intercâmbio de informação são analisados a partir das relações pessoais. A essência da maior parte do comportamento humano é a interação, através da qual um indivíduo troca informação com um ou mais indivíduos. Qualquer indivíduo em um sistema pode contactar certos indivíduos e ignorar muitos outros (particularmente quando o sistema é muito grande). À medida que esses fluxos de comunicação interpessoal tornam-se padronizados ao longo do tempo, uma “estrutura comunicacional” (ou rede) relativamente estável e de comportamento previsível emerge (Rogers & Kincaid, 1981, p. 75).

Nessa visão, a estrutura – arranjo de componentes e subsistemas – é tratada como uma propriedade do sistema, a cujos padrões de comportamento confere estabilidade, regularidade e previsibilidade. A estrutura comunicacional é definida como os elementos diferenciados que podem ser reconhecidos no fluxo padronizado de comunicação de um sistema. Rogers & Kincaid acreditam que a partir da identificação dessa estrutura e da descrição das suas inter-relações é possível “entender o ‘grande quadro’ da interação humana em um sistema”, ou seja, a maneira como a estrutura social canaliza o processo de comunicação (idem, p. 76). As tradicionais pesquisas do tipo survey (levantamento a partir de entrevistas ou questionários) e experimentos (através de simulações em laboratório) baseiam-se na seleção de um grande número de indivíduos como respondentes e na medição de numerosas variáveis (dependentes e independentes) sobre cada indivíduo. A abordagem dominante enfatiza o uso de computador para análise de muitas variáveis, mas nem sempre com o devido cuidado na coleta de dados. Os resultados desse tipo de pesquisa são geralmente “antissépticos”, uma espécie de abstração alheia à realidade (idem, p. 81). Durante os anos 70, várias disciplinas reconheceram o potencial da análise de redes para a explicação de variâncias ainda inexplicadas nas suas variáveis dependentes de problemas centrais, dando origem a novas tendências teóricas nos estudos de sistemas sociais e problemas de comunicação, entre os quais o estudo do poder em comunidades e do processo de tomada de decisão (p. 87-88). Três tipos principais de dados devem ser incluídos em qualquer análise das ciências sociais sobre o comportamento humano, segundo Rogers & Kincaid: unidades de análise, variáveis e tempo (p. 79). Na análise de redes de comunicação, as unidades fundamentais de análise são as relações que descrevem intercâmbio de informação (quem se comunica com quem), ou seja, os elos (links) entre duas ou mais unidades de um sistema, sejam elas indivíduos, grupos, organizações, nações etc. Os indivíduos que fornecem os dados sobre esses elos são considerados unidades de resposta, cujas características ou atributos compõem as variáveis. O tempo deve ser incluído na análise comportamental a fim de trazer à tona um processo (evolução da participação de grupos 78

especializados em debates sobre um tópico específico, por exemplo) e para estudos sobre mudança e estabilidade da rede. Uma rede é composta dos seguintes tipos de ligações: díade – unidade mínima de uma relação de comunicação, composta de dois indivíduos que trocam informação, cada qual sendo ao mesmo tempo transmissor e receptor (transceptor); cliques18 – subsistema de relações ou subgrupos estruturais cujos elementos interagem entre si relativamente com mais freqüência do que com outros membros do sistema de comunicação, em torno de interesses específicos; redes de comunicação pessoal - indivíduos interconectados a um indivíduo focal através de fluxos padronizados de comunicação; É possível também identificar certos papéis especializados em comunicação: pessoa de contato (liaison) – indivíduo que liga dois ou mais cliques de um sistema, mas não é membro de nenhum clique; ponte – indivíduo que funciona como o único elo de ligação entre dois ou mais cliques de um sistema, a partir da sua posição como membro de um dos cliques; líderes de opinião – pessoas capazes de influenciar, informalmente, mas com relativa freqüência, as atitudes de um um indivíduo ou o comportamento público de um modo desejado; cosmopolitas – indivíduos que relacionam o sistema ao seu ambiente, estabelecendo acessibilidade (openness) – grau em que um sistema troca informação com o seu ambiente; isolados – pessoas que não se comunicam com ninguém sobre o tópico em questão. Para Rogers & Kincaid, vários indicadores da rede de comunicação podem ser mais bem entendidos se os cliques de um sistema forem primeiro mapeados. A partir de uma matriz de “quem-a-quem”19 (ou matriz de adjacência, para Barnes) é possível identificar os cliques e a maneira como eles afetam o comportamento comunicacional do sistema. Mas as “fronteiras de um clique podem parecer indistintas ou difusas [fuzzy] a seus membros, porque cada um ‘vê’ apenas seus contatos diretos e pode não reconhecer os membros do clique que estão conectados apenas indiretamente através de intermediários” (p. 138). Nessa matriz binária, se o indivíduo A tem um elo de comunicação com o indivíduo B, entra-se com um “1” na linha A/coluna B. Se não há elo de comunicação entre o indivíduo A e o indivíduo B, a entrada para a linha A/coluna B é “0”. (...) O coeficiente de correlação entre as duas linhas e/ou colunas de indivíduos diáticos em uma matriz de quem-a-quem é uma medida de correlação de similaridade de padrões de comunicação (e de não-comunicação) dos dois indivíduos. (...) A séria deficiência dessas correlações como um indicador de proximidade é que elas incluem a não-comunicação (zeros na matriz quem-a-quem) bem como elos de comunicação. Assim, dois indivíduos em uma díade podem ter um alta correlação porque eles não se comunicam com o 18

A tradução literal de clique seria “panelinha”, que no Brasil possui o sentido pejorativo de “conluio para fins pouco sérios”; por isso será mantido o termo original, definido pelo Dicionário Executivo Michaelis como “pequeno grupo de pessoas íntimas entre si, dotadas de intenso espírito grupal, com base em sentimentos e interesses comuns”. 19 Uma representação gráfica em que cada unidade da rede (indivíduos, grupos, instituições etc) compõe as linhas e as colunas de uma espécie de tabela; os elos (quem se comunica com quem) são reprentados pelas células formadas pela interseção das linhas e colunas que correspondem às ligações observadas na rede (ver Cap. 4.4) 79

mesmo conjunto de indivíduos (suas linhas e colunas têm zeros nos mesmos lugares), bem como porque eles se comunicam com os mesmos conjuntos de indivíduos (idem, p. 155-157).

Alba e Kadushin (1976) vêem a rede como um canal de difusão de informação e de influências de um ou mais indivíduos sobre outros, e centram a sua abordagem na idéia de “proximidade” ou “distância” entre pares de indivíduos que se assemelham ou possuem afinidades em determinados aspectos (étnicos, profissionais, políticos etc). A disseminação de determinada opinião pela rede, por exemplo, pode partir tanto de uma liderança individual quanto da discussão entre pessoas que interagem em função de interesses em comum. Para Kadushin, essas discussões ocorrem dentro de “círculos sociais” formados a partir desses interesses compartilhados. Os círculos obedecem a uma interação em “cadeia”, mas não revelam metas e regras claramente definidas nem qualquer critério evidente de filiação. Um indivíduo pode ter diferentes conjuntos de pares para cada tipo de tópico sobre o qual se comunica: elos múltiplos (multiplex ou multistranded links) são aqueles que propiciam um canal para o fluxo de mensagens com múltiplos conteúdos; multiplexidade é o grau em que múltiplos conteúdos fluem através de um elo de rede entre dois indivíduos. Para Rogers & Kincaid, a análise de redes de comunicação não tem dado atenção suficiente ao conteúdo da comunicação que flui através dos elos (p. 321). A comunicação humana requer um certo equilíbrio entre homogeneidade e diversidade dos membros da rede, e entre familiaridade e novidade dos conteúdos da comunicação. Vários autores sugerem uma relação direta entre difusão de novas idéias20 e um certo grau de heterofilia21 entre os indivíduos que compõem as díades de comunicação: As inovações normalmente entram na hierarquia de um sistema pelo topo, através de indivíduos de status sócio-econômico relativamente alto. Se todas as díades fossem completamente homófilas em termos de status sócio-econômico, as novas idéias se disseminariam apenas horizontalmente dentro de um sistema e não haveria “escoamento” (Rogers com Shoemaker, 1971, em Rogers & Kincaid, p. 127). (...) uma nova idéia é comunicada a um número mais amplo de indivíduos e atravessa uma distância social maior quando cruza certos elos heterófilos (como redes pessoais radiais – nas quais um indivíduo interage com um conjunto de parceiros diáticos que não interagem uns com os outros) do que através de elos homófilos (como redes pessoais interconectadas – nas quais um indivíduo interage com um conjunto de parceiros diáticos que interagem entre si). Há menos força informacional, então, em redes pessoais interconectadas. “Vínculos fracos” [weak ties] permitem que as inovações fluam de um clique a outro, via contatos e pontes (Rogers & Kincaid, p. 128).

Esta idéia da “força” comunicacional dos vínculos fracos foi desenvolvida por Mark Granovetter numa de suas pesquisas, publicada em 1973 sob o título The strength of weak ties, que se tornou um clássico na literatura sobre técnicas de análise de redes. Para traçar o fluxo de 20

difusão de inovações (innovativeness): grau em que um indivíduo é relativamente precursor na adoção de novas idéias em relação aos outros membros do sistema; 21 heterofilia é o grau em que um par de indivíduos que interage é diferente em certps atributos; homofilia é o grau em que um par de indivíduos que interage é semelhante em certos atributos, tais como crenças, valores, educação, status social (conceitos nomeados por Lazarsfeld e Merton na década de 60, a partir de uma noção do início do século); 80

informação sobre empregos disponíveis através de redes interpessoais (e não da comunicação linear dos classificados de jornais) em uma localidade de 100 mil habitantes nos EUA, Granovetter adotou a seguinte estratégia de pesquisa: primeiro identificou (a partir da lista telefônica) uma amostragem de pessoas que haviam conseguido sua atual posição ocupacional nos últimos cinco anos, numa função técnica, gerencial ou profissional de carreira (advogado, engenheiro etc); depois selecionou 100 delas para entrevistas pessoais e para o restante enviou questionários pelo correio, dos quais obteve 182 retornos (Rogers & Kincaid não esclarecem quantos foram enviados ao todo). Nas respostas, os entrevistados citaram os canais de comunicação interpessoal mais freqüentemente do que os anúncios da mídia, como fonte de referência para localizar uma oportunidade de emprego. As cadeias pessoa-a-pessoa para informação sobre empregos eram, em sua maior parte, curtas: 39% tinham extensão zero, isto é, o candidato teve contato direto com o seu empregador. “Surpreendentemente, foram os ‘vínculos fracos’ entre conhecidos (mais do que entre amigos próximos) que se revelaram informacionalmente ‘fortes’ no processo de busca de emprego”. Ou seja, contatos acidentais e a informalidade dos intercâmbios pessoais tornaram a informação mais relevante e mais valiosa (Rogers & Kincaid, p. 67). Estes autores enfatizam a importância do método adotado por Granovetter (através de entrevistas pessoais conduzidas por ele mesmo e não por pesquisadores auxiliares), lembrando que a própria coleta de dados é um processo de comunicação. Muito freqüentemente a pesquisa também é tratada como um ato linear [unidirecional], em vez de como um processo de comunicação. Se o professor Granovetter tivesse organizado sua coleta de dados como a hierarquia militarista que é seguida por muitos grandes pesquisadores, tendo um exército de entrevistadores mercenários como tropa da linha frente, usando um questionário altamente estruturado, ele não teria chegado às descobertas que o permitiram formular a sua teoria sobre a força dos vínculos fracos (idem, p. 69).

A constituição de uma amostra qualificada para a análise de redes de comunicação pode levar em conta os seguintes critérios: aleatório – significa que todas as unidades de uma população têm igual probabilidade de ser tiradas como amostra e que, portanto, as características e as relações da amostra poderão ser generalizadas à população mais ampla através de inferências estatísticas; mas este critério é geralmente mais difícil de ser utilizado para coleta de dados de rede, já que os elos são invisíveis e só podem ser revelados pelos participantes; membros qualificados de um “sistema intacto” (cidades, escolas, organizações etc ainda não pesquisadas): por exemplo, todas as mulheres casadas em idade reprodutiva do vilarejo x; bola de neve – consiste em pedir aos respondentes de uma amostra original (aleatória) que indiquem seus pares, que se tornam respondentes na segunda fase da pesquisa e assim sucessivamente; é normalmente aplicada em estudos sobre difusão de inovações, identificação de grupos de especialistas, colégios invisíveis etc; também poderia ser utilizada para medir o efeito multiplicador das ONGs que trabalham com educação popular, difusão de tecnologias apropriadas

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etc; os isolados só aparecem na primeira fase da pesquisa; pequenos cliques não muito bem conectados tendem a ficar sub-representados nessa abordagem. Além de entrevistas pessoais e de questionários aplicados a distância, Rogers & Kincaid consideram três outros procedimentos de coleta de dados: por observação, no qual o pesquisador identifica e registra o comportamento comunicacional do sistema (excluindo a observação participante, que alteraria o comportamento que está sendo investigado); em registros de arquivos, cuja vantagem é a de fornecer dados sobre indivíduos e organizações que não estão disponíveis em levantamentos ou para observação (pessoas que morreram, corporações que foram dissolvidas etc) ou que se recusam a ser entrevistados (Burt, 1975, R&K, p. 115); estudo de listagens (roster study), no qual é apresentada ao respondente uma lista com todos os membros do sistema para indicação dos seus pares ou feito um diário (por observação) de atos comunicativos ocorridos num período predeterminado. A questão básica para identificação de um elo é: “com quem, neste sistema, você falou mais freqüentemente sobre o tópico x?” (ou sem especificar o tópico, pois isto pode resultar em ausência de respostas). Os elos podem ser categorizados de três maneiras: nominal (“com quem você fala?”); ordinal (“com quem fala mais, em ordem de freqüência?”); escalonado (“durante quanto tempo fala com cada membro do sistema num período x?”). O pesquisador deve estabelecer o número máximo de contatos sociométricos a serem especificados pelos respondentes e a freqüência com que se dá a comunicação (semanalmente, mensalmente etc). A base da identificação de cliques é a proximidade relativa de um par de indivíduos, num sentido comunicacional e não espacial do termo. A medida ideal de proximidade deve indicar se dois indivíduos se comunicam diretamente e quantos intermediários existem entre cada elo de comunicação. O grau de proximidade comunicacional indica o quanto dois indivíduos possuem redes de comunicação pessoal que se justapõem, incluindo elos diretos e indiretos. A distância da ligação indica o número de elos ou de passos existentes no menor caminho entre dois indivíduos; a similaridade correlacional indica o grau em que dois indivíduos têm padrões semelhantes de elos e de não-elos. As ligações recíprocas (A escolhe o respondente B que escolhe A) e não-recíprocas (A escolhe o respondente B que escolhe D) são utilizadas para identificar certas funções dentro da rede: líderes de opinião, pessoas capazes de influenciar, informalmente, mas com relativa freqüência, as atitudes de um indivíduo ou o comportamento público de um modo desejado, revelados pela quantidade de escolhas à pergunta “de quem neste sistema você recebe informação sobre o tópico x?”; especialistas: “quem são as três pessoas do sistema que você considera os melhores especialistas sobre o tópico x?” (exemplo de questão sociométrica que implica não-reciprocidade);

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indivíduos mais ativos, identificados pela iniciativa da comunicação, ou seja, quem iniciou o contato é considerado mais ativo (como os líderes de colégios invisíveis e, no caso das instituições usuárias do AlterNex, quem abre uma conferência e a alimenta até que ela ganhe novos provedores de informação). O pesquisador pode não conseguir conduzir uma análise de rede se a matriz de dados contiver muitos “buracos” (não-dados = ausência de respostas). Levantamentos sociométricos através de questionários geralmente recebem um número maior de recusas e de não-respostas do que a maioria das perguntas em uma entrevista pessoal. Às vezes as pessoas dizem ou não dizem certas coisas propositalmente (silêncio e não-silêncio). Se os dados têm um caráter privado, os respondentes temem que eles cheguem ao conhecimento de outros membros do sistema; por isso a maioria dos pesquisadores assegura a seus respondentes que os dados são confidenciais e tomam precauções para manter a sua privacidade, identificando os respondentes por um código. Rogers & Kincaid recomendam que a compreensão prévia do grau de discussão (entre o público a ser pesquisado) de um tópico em estudo seja obtida através de pré-testes que incluam uma variedade de questões sociométricas capazes de cobrir todo o leque de conteúdos desse tópico. As entrevistas devem seguir o modelo do funil, começando com uma pergunta bem geral e estreitando sucessivamente com questões mais específicas. Apesar da sua visão estruturalista, Rogers & Kincaid reconhecem “a natureza dinâmica” de um elo de comunicação (p. 82) e que as estruturas de redes são geralmente fluidas (p. 103). Mas as abordagens até então disponíveis não dão conta de certas dificuldades de pesquisa, como a delimitação do sistema ou da rede (onde acaba?) em função da ambigüidade de elos que atravessam fronteiras, já que nenhum sistema é completamente fechado. No caso das ONGs, não existem dados numéricos precisos, nem classificação reconhecida, seja no registro oficial como “sem fins lucrativos” ou na associação que as congrega (Abong). Como então estabelecer uma amostra estatisticamente confiável? Esses autores alertam, também, para os problemas de generalização dos resultados a partir de inferências estatísticas, lembrando que o critério de decisão deve ser a utilidade do dado, não a sua qualidade “em si”, e criticam o excesso de quantificação, que “desumanizaria” os dados. Uma outra questão para os pesquisadores relacionada à fluidez da rede é o tratamento das relações assimétricas (ver Alba e Kadushin, 1976) e o descarte de relações não-recíprocas, que pode provocar perda de informações valiosas, como os elos fracos ou ligações de pouca proximidade, que podem ser pontes entre cliques. “Obviamente, todo analista de rede sabe que há um certo grau de ‘ruído’ ou erro nos dados sociométricos que ele está analisando. Alguns respondentes podem relatar um elo que não existe realmente, por achar que isto é socialmente mais recomendável” (Rogers & Kincaid, p. 120). A maioria das análises de rede até a década de 70 utilizava dados de pesquisas sociométricas sincrônicas, não incorporando, assim, a natureza processual da comunicação ao longo do tempo, com as conseqüentes mudanças de comportamento dos participantes iniciais do processo de comunicação. Na tradição de pesquisa norte-americana, os tipos mais comuns de análise diacrônica são a agenda-setting, processo de saturação de mensagens através do qual os meios de comunicação

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visam convencer o público de determinado ponto de vista sobre um assunto; e a análise de citações cruzadas em publicações especializadas, que revelam o crescimento de uma especialidade ou indicam os pesquisadores mais ativos na área, isto é, que mais publicam. Existem também técnicas mistas, como a combinação do método de análise de conteúdo das mensagens que fluem através dos nós da rede com técnicas de análise de rede, visando entender melhor como os indivíduos atribuem sentido à informação que é intercambiada através do processo de comunicação. Segundo os autores, há evidências de que determinadas estruturas ocorrem para um tópico e não para outros (idem, p. 145). Além de identificar cliques e os papéis de comunicação dos indivíduos, a análise de rede permite medir as várias dimensões da estrutura comunicacional através de indicadores escalonáveis de conectividade, integração, diversidade e acessibilidade. conectividade: grau em que um indivíduo focal está ligado a outros indivíduos do sistema, ou em que os cliques estão ligados entre si; integração: grau em que os membros de uma rede de comunicação pessoal estão ligados uns aos outros ou em que os cliques ligados a um clique focal se relacionam entre si; diversidade: grau em que os membros de uma rede de comunicação pessoal ou os cliques de um sistema são heterogêneos em algumas variáveis; acessibilidade: grau em que os membros de um clique estão estão ligados a outros de fora do clique ou em que os membros de um sistema estão ligados a outros de fora do sistema (Rogers & Kincaid, 1981, p. 183-184). ____________________ Referências: ALBA,

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1.6.2. Procedimentos da pesquisa Seguindo o pensamento de Moles, as redes de ONGs e movimentos sociais são um típico objeto das “ciências em vias de se fazer”, que emerge dentro do espírito por processos diversos, mas freqüentemente primeiro pela via dialética de racionalizar estabelecendo oposições. Para estudar este objeto, foram adotados os seguintes procedimentos: observação pelo estranhamento: explorar o objeto primeiro sem considerar os conhecimentos e idéias que o informam e que buscam explicá-lo a priori para tentar extrair dele o que sobressai como “estranho”, no sentido do não-conhecido e, portanto, novo; estruturação dos aspectos percebidos no objeto em evidências a serem comprovadas por meio de uma cadeia de raciocínio lógico construída a partir de similaridades e oposições conceituais e das relações históricas e estruturais com outros objetos ou fenômenos; análise das condições de produção da pesquisa para avaliação das técnicas e ferramentas mais adequadas para a coleta e tratamento dos dados; no caso, aqui, foi necessária uma revisão crítica da constituição e desenvolvimento do que se chama genericamente de “teorias e técnicas da análise de redes”, construída no âmbito das ciências sociais sob forte influência do funcionalismo, uma das vertentes do positivismo sociológico. medição e qualificação: abordagem dialética do objeto articulando-se suas dimensões quantificáveis com a significação das quantidades apuradas, ou seja, sua qualificação no contexto específico em que o estudo foi realizado. Para a dialética marxista, quantidade e qualidade são inseparáveis e interdependentes. A falsa dicotomia entre ambas (que justificava a oposição entre ciência e teorias não-científicas) é fruto do apego do positivismo ao rigor metodológico e à vigilância epistemológica – expressos nos postulados de neutralidade, objetividade e verificabilidade do ato de conhecer. representação gráfica de grandezas ou relações quantitativas como a proporção, a escala, a acumulação, a periodicidade etc, de forma a propiciar uma comunicação mais eficaz da sua qualificação; análise global e tipológica dos dados: agregação de pontos representativos das especificidades do objeto em um quadro geral de coordenadas de sentido e em quadros mais detalhados de características particulares (tipos de mensagens veiculadas, temas predominantes etc). construção de um modelo explicativo: reconstrução dos aspectos da realidade observada como um todo logicamente articulado, de modo que fosse possível entender as condições de emergência, de desenvolvimento e o estado presente do objeto; o vago, o impreciso, não foram “escondidos” em nome de generalizações e previsões supostamente obrigatórias. A pesquisa aqui apresentada partiu de observações empíricas assistemáticas no “campo” das ONGs, com base em indicadores da literatura por elas mesmas produzida sobre as suas práticas de articulação e intercâmbio de experiências. De imediato, foi possível perceber que se tratava de um campo difuso de organizações estreitamente ligadas a outras formas institucionais, como os movimentos sociais, igrejas, universidades, agências das Nações Unidas, agências de cooperação internacional, órgãos governamentais de áreas específicas (saúde, educação, promoção social), entre

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outros. Por onde, então, começar a mapear essa emaranhada rede de relações, tendo como ênfase o intercâmbio de informação e a comunicação para fins de ação coletiva? (Até então, ainda não havia tomado contato com a metáfora do rizoma.) Tendo como referência as técnicas de análise de rede anterioremente resenhadas, a primeira escolha foi delimitar o “ambiente” a partir do qual as relações seriam observadas: o serviço AlterNex de comunicações a distância, via computador (ver Cap. 4.2). Mas este não é um ambiente exclusivo dessas organizações, já que qualquer pessoa, ou mesmo empresa, pode associar-se ao sistema para usufruir dos seus serviços de informação e comunicação eletrônicas. Aí, portanto, as entidades da sociedade civil que interagem privilegiadamente entre si formam uma “rede parcial” dentro da rede eletrônica mais ampla. Por outro lado, pelas estimativas de existência de mais de 1.500 entidades sem fins lucrativos enquadráveis na sigla ONG, à época da Eco-92, apenas uma minoria (cerca de 300) estava cadastrada no AlterNex e outra fração menor ainda (156) usava efetivamente a rede eletrônica como um canal de comunicação (ver Cap. 4.3). Ou seja, essas entidades usuárias do AlterNex configuram-se como uma rede parcial também em relação ao ambiente global das ONGs no Brasil. Feitas essas delimitações, foram escolhidas duas maneiras de “olhar” as relações estabelecidades entre organizações não-governamentais, não guiadas pelo lucro, não-sindicais (embora algumas sejam intersindicais), ecumênicas e suprapardiárias no “ambiente” AlterNex. A primeira seria adotar uma abordagem relativamente “egocentrada”, a partir dos indivíduos autorizados a “falar em nome” da entidade (que utilizam a identidade eletrônica codificada para ter acesso à rede, o login da entidade), visando identificar os principais vínculos interpessoais e inteorganizacionais estabelecidos, prevendo-se que alguns desses vínculos privilegiados poderiam ultrapassar as fronteiras do AlterNex. Para isso foram enviados questionários, via correio eletrônico, às 156 entidades pré-selecionadas como ativas no sistema, com perguntas relativas aos dados de atributo e aos dados relacionais, tanto da organização ou movimento quanto do respondente (ver modelo do questionário no Anexo 4). Com as respostas a este questionário, esperava-se montar um “quadro” da rede em determinado momento, ou seja, realizar um estudo sincrônico22 de uma estrutura de relações que pudesse ser representada graficamente, mais como uma “pintura” do que como um “retrato”, que sugere uma imagem congelada e não dinâmica. A metáfora da pintura nos inspira a idéia de uma projeção em que a realidade é captada com cores e matizes particulares, onde os objetos e as pessoas são reinterpretados e criados num processo de produção artística. Ninguém diz que uma pintura é o retrato da realidade. É uma dentre muitas possíveis imagens onde o autor introduz métodos e técnicas, mas onde predomina sua visão sobre o real e sobre o impacto que lhe causa (Minayo, p. 35).

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Segundo Ricoeur (em Teoria da Interpretação, 1978), uma abordagem sincrônica deve preceder qualquer abordagem diacrônica, porque sistemas são mais inteligíveis do que as mudanças e estas são apenas alterações, parciais ou globais, do estado de um sistema; logo, “a história das mudanças deve vir depois da teoria que descreve os estados sincrônicos do sistema” (p. 16). 86

As questões que buscavam dados de atributo relacionados ao perfil dos dirigentes das entidades, à quantidade, qualificação e relação trabalhista dos seus profissionais de nível superior, além da formação e trajetória profissionais dos respondentes, visavam investigar se elas poderiam ou não ser enquadradas como “grupos de especialistas”, num sentido análago ao utilizado por Diana Crane (1972). Já as perguntas que tratavam de dados relacionais tinham por objetivo indentificar: • díades, tríades e cliques interpessoais e interorganizacionais; • a existência ou não de indivíduos ou organizações focais que representem uma “referência” de idéias para o campo; • a existência ou não de organizações “isoladas” dentro da rede eletrônica; • a identificação de entidades que estabelecem fluxos de informação sobre múltiplos conteúdos; • a possibilidade de delimitação ou não da “rede parcial” no ambiente eletrônico e fora dele; • os graus de conectividade, integração, diversidade e acessibilidade predominantes na “rede parcial”. Tais dados relacionais dizem respeito aos elos estabelecidos pelas organizações, através dos seus “agentes autorizados” (diretores, pesquisadores, assessores, profissionais de comunicação e pessoal técnico) por diversos meios de comunicação não restritos às fronteiras do AlterNex (pessoalmente, por telefone, cartas, fax, correio eletrônico etc). Ou seja, meios privados que só podem ser revelados pelos próprios respondentes. Este é um dos fatores que pode explicar o retorno de 22% dos questionários (apesar da ressalva de que os dados seriam mantidos sob sigilo e não teriam uso comercial), com pouco mais de 16%, em média, de não-respostas sobre o total de questões formuladas. Um outro fator, surpreendentemente, foi a pouca intimidade com o próprio correio eletrônico: apesar de receberem o questionário por este meio, quase 42% dos que aceitaram participar da pesquisa preferiram enviar as respostas por fax (ver Cap. 4.4). Na parcela dessa rede parcial restrita ao ambiente AlterNex foi possível observar, também, a existência de “círculos sociais” no sentido atribuído por Kadushin, isto é, grupos de discussão temática baseados em proximidades de interesses, que formam as diversas conferências eletrônicas disponíveis. Por serem públicas, essas conferências permitem observar, literalmente, o fluxo de circulação de mensagens e os diferentes graus de conectividade estabelecidos pelos participantes. Ou seja, tornam possível um estudo diacrônico da dinâmica das relações de intercâmbio de informação entre entidades específicas daquela rede parcial. Para este estudo, foram selecionadas quatro conferências temáticas veiculadas em português a partir de critérios que levaram em conta os interesses temáticos predominantes na rede (quantificáveis a partir do cadastro de usuários) e os maiores graus de atividade, avaliados pelo número total de tópicos veiculados e de logins participantes (ver Cap. 4.5). Esta pesquisa, realizada em todos os tópicos de cada conferência até a data-limite (arbitrária) de 31 de outubro de 1995, foi estruturada em quatro blocos:

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fluxo dos tópicos por data e login, cujo objetivo era observar a dinâmica de evolução da conferência (número de tópicos por mês e ano), identificar os usuários mais ativos e as conferências com maior índice de participação (a partir do número de tópicos por login); perfil dos provedores de informação, que foram classificados por categoria (pessoal ou institucional); pela instituição a que o login está vinculado; pela área de atuação da pessoa ou organização responsável pelo login; pela rede eletrônica à qual o login está associado (o AlterNex é interligado a outros serviços congêneres, nacionais e estrangeiros); e pela procedência geográfica do login indicada no cadastro de usuários do AlterNex ou identificável pelo endereço Internet; análise das ações comunicativas do usuário, incluindo o tipo de comunicação utilizado (ver listagens nos Anexos de 15 a 18), a língua em que o texto foi enviado (português, inglês ou espanhol), o número e tipos de repostas aos tópicos e os indicadores de ruído (problemas técnicos da rede, procedimentos incorretos do usuário ou inadequação aos objetivos da conferência). A dificuldade, nessa análise, foi a manutenção de uma “coerência classificatória” em relação aos 25 tipos de comunicação pré-identificados, já que muitas vezes uma mensagem poderia ser enquadrada em mais de um deles (por exemplo, um anúncio ou um comunicado). O procedimento adotado foi, então, o de um enquadramento fuzzy, isto é, mais pertinente e não exato. análise de conteúdo da conferência, tendo como referência os objetivos explicitados no primeiro tópico e uma listagem de subtemas elaborada a partir do assunto de cada tópico. A dificuldade, nessa abordagem, foi a identificação dos assuntos com base na descrição feita pelo usuário no item subject da mensagem enviada para a conferência, em função da ausência de critérios padronizados. Enquanto alguns usuários utilizavam expressões lacônicas como “Carta de Manaus”, outros estendiam-se tanto que as frases eram interrompidas pela limitação do número de caracteres imposta pelo programa de computador do sistema (geralmente ignorada pelo usuário). O uso indiscriminado de letras maiúsculas (que deveriam ser utilizadas apenas como recurso de alerta para uma situação grave ou um comunicado urgente) aumenta ainda mais essa limitação. Por isso, foi necessário, muitas vezes, ir ao texto para identificar o assunto específico e o subtema no qual enquadrá-lo. A listagem de subtemas foi elaborada a partir de palavras ou expressões recorrentes nos tópicos. Nessas idas e vindas às mensagens originais, foi possível perceber determinados tipos de textos portadores de novas idéias a respeito de áreas técnicas (como agroecologia, jurisprudência feminina, direito ambiental etc) e outros que buscavam desconstruir conceitos cristalizados que já não mais atendem às demandas de certos grupos sociais, como as mulheres, os índios, as crianças e adolescentes “abandonados”, entre outros. Ou seja, discursos emancipadores, tanto do ponto de vista da transposição de um conhecimento especializado para o senso comum quanto de reconstrução do sentido de certos valores sociais, visando contrapor-se ao discurso consensual dos setores dominantes da sociedade. Uma seleção casual (apenas exemplificadora) desses textos foi reunida no Anexo 19. Depois de tabulados, os dados foram analisados descritivamente e com o auxílio de representações gráficas, que permitem visualizar claramente a complexidade, diversidade e não-

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linearidade que caracterizam tanto a estrutura quanto a dinâmica dessas redes parciais de entidades da sociedade civil brasileira pesquisadas. Para que essa análise pudesse ser compreendida em toda a sua extensão, julgou-se necessária uma apresentação sistematizada dos problemas de fluxo de informação e dos processos de comunicação subentendidos na investigação empírica (Cap. 2), bem como uma contextualização histórica do surgimento e expansão das ONGs no Brasil, incluindo-se, aí, as questões críticas com as quais essas instuições se defrontam (identidade sócio-política, competência e engajamento, etc) e as práticas de transferência de informação e de ações comunicativas que as caracterizam (Cap. 3). No capítulo 4, a apresentação dos resultados da pesquisa é precedida por um breve roteiro histórico do surgimento da rede APC – Association for Progressive Communication – e do seu “nó” AlterNex, com suas características operacionais e vocabulário técnico, essenciais para a compreensão das questões analisadas. _________________ Referências: ALBA,

Richard D. and KADUSHIN, Charles. The intersection of social circles; a new measure of social proximity in networks. Sociological Methods & Research, vol. 5, nº 1, aug/1976. p. 77-102.

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2 Inter-relações (...) o homem, como um ser de relações, desafiado pela natureza, a transforma com seu trabalho; (...) o resultado desta transformação, que se separa do homem, constitui seu mundo. O mundo da cultura que se prolonga no mundo da história. (...) A intersubjetividade ou a intercomunicação é a característica primordial deste mundo cultural e histórico. (...) Pela intersubjetividade, se estabelece a comunicação entre sujeitos a propósito do objeto. (Paulo Freire23)

A maioria dos modelos de comunicação que dominaram a pesquisa da área até a década de 70 foi desenvolvida a partir da teoria matemática de Shannon e Weaver (1948-49), formulada para atender a necessidades de melhor desempenho da telefonia da ATT24, e descreve uma relação linear (emissor-receptor), mesmo quando considera outras variáveis da comunicação humana, como as intenções, as condições e os efeitos da mensagem sobre o receptor. Ou seja, as modalidades do processo comunicacional, revestido de conteúdo semântico e sujeito a interpretações. Mas, em 1927, um outro modelo que também se tornaria famoso na comunicação de massa já havia sido publicado pelo cientista político Harold D. Lasswell, inventor da famosa fórmula dos cinco “W”, ou “Q” em português: Quem diz o Quê, a Quem, através de Qual canal e com Que efeitos. A origem destas questões não era a preocupação com a objetividade jornalística, na qual foram aplicadas depois, mas a Técnica da propaganda na Guerra Mundial, como indicava o título do livro em que o modelo foi publicado. Nos anos 60, o psicólogo social Peter Hofästter, interessado tanto na comunicação humana quanto na animal, centra seu modelo na questão da linguagem, separando os processos físicos (relativos à emissão e recepção sensorial da fala) dos processos cognitivos (codificação e decodificação da mensagem). Para Hofästter, os sinais possuem três funções básicas: expressão (assinalar o estado e as intenções de quem os produz), solicitação (exercer influência sobre quem os recebe) e representação (informar acerca de objetos ou de fatos). Wilbur Schramm, que teve forte influência na disseminação dos modelos lineares na década de 50, liderou a mudança para os modelos relacionais nos anos 70. Para ele, a substituição gradual da idéia de audiência passiva por um conceito de uma audiência altamente seletiva e ativa foi a mais drástica mudança ocorrida (até então) na teoria da comunicação. Schramm avança ainda mais na tentativa de captar o dinamismo do comportamento comunicativo, incluindo em seu modelo o repertório (ou campo de experiência) e o feedback (retroalimentação), rompendo, assim, com a característica linear e unívoca dos modelos anteriores na direção do que ele chamou de “convergência”. Nesse modelo, emissor e receptor devem compartilhar algum campo de experiências e dominar o código que será usado para transmissão e recepção da mensagem. A 23

Em: Extensão ou comunicação? Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1974. 4ª ed. p. 65-74. Na época, Claude Shannon era pesquisador dos laboratórios Bell, fabricante de telefones filial da American Telephon and Telegraph. 24

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eficiência do processo, aqui, não está meramente relacionada à quantidade de informação mas à efetivação do fluxo de informações e garantia de decodificação das mensagens. À medida que os pesquisadores procuravam aprofundar esses processos, mais complexos se tornavam os modelos de comunicação. Após uma extensa pesquisa sobre problemas de comunicação em países africanos, Leonard Dobb desenvolveu um modelo com 12 variáveis interrelacionadas, entre as quais aparecem pela primeira vez os meios de extensão (recursos que dissimulam a distância física entre o comunicador e a sua audiência, como a fita gravada, o texto impresso etc), que seriam, mais tarde, a base da teoria "mcluhiana". Outras variáveis importantes desse modelo são: o lócus espaço-temporal (as condições do lugar e do momento em que a mensagem é recebida podem afetar o entendimento e as reações da audiência); as restrições (condições culturais que inibem ou interditam a transmissão da mensagem); as mudanças (os efeitos imediatos ou de longo prazo, profundos ou superficiais da comunicação). Em 1979, Lawrence Kincaid propõe um novo modelo de comunicação baseado no princípio da “convergência” de Schramm e nas idéias do filósofo Charles Sanders Pierce sobre a natureza dos signos e do significado, que tem como uma das principais influências epistemológicas a teoria dos sistemas. Ao perceber a inerente imprecisão da linguagem na maneira como ela é realmente usada na vida cotidiana, Pierce chegou à conclusão de que “nenhum conceito, mesmo os matemáticos, é absolutamente preciso porque nenhuma interpretação das palavras de um homem é baseada exatamente na mesma experiência da de um outro homem” (Gallic, 1966, p. 175, em Rogers & Kincaid, 1981, p. 44). A todo símbolo, palavra, sentença ou fórmula científica deve ser dado um sentido para se comunicar um pensamento inteligente. (...) O significado de qualquer forma de expressão é revelado pela resposta que provoca, que por sua vez necessita de uma resposta de volta para interpretá-la, e assim por diante, numa seqüência potencialmente infinita. (Rogers & Kincaid, 1981, p. 44)

O modelo de convergência trata a comunicação como um processo cíclico de intercâmbio de informação em mão dupla (Figura 1), tendo como pressupostos que a informação é inerentemente imprecisa e incerta e que a comunicação é um processo contínuo de desenvolvimento ao longo do tempo. A cultura, as formas de organização e as instituições sociais exercem papel fundamental nessas inter-relações através do tempo (que Neelameghan chama time-binding) graças a uma rede de dependência e de responsabilidades mútuas, na qual circulam incontáveis mensagens. Comunicação, aqui, “conota uma série de processos profundamente dinâmicos e complexos que operam em conjunto – a extensão total e todo o ciclo de percepção, memória, processamento e análise de informação, transformação simbólica, liberação e feedback – que guiam o comportamento humano através de e em interação com o ambiente físico e social” (Neelameghan, 1980, p. 3).

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Figura 1

Fonte: Rogers e Kincaid, 1981, p. 65. O processamento de informação envolve, portanto, percepção, interpretação, compreensão, crença e ação (Figura 2), gerando, potencialmente, nova informação e ação coletiva, construída sobre uma base de acordo e entendimento mútuos entre dois ou mais indivíduos. “Toda informação é uma conseqüência (ou traço físico) de ação e, através dos vários planos do processamento da informação humana, a ação pode tornar-se conseqüência da informação” (Rogers & Kincaid, 1981, p. 55). Informação, aqui, é entendida como “o conteúdo que é criado e compartilhado pelos participantes” através de mensagens. Figura 2 interpretação

percepção

INFORMAÇÃO

AÇÃO

percepção

interpretação

AÇÃO AÇÃO COLETIVA

compreensão

crença

crença

compreensão

acordo mútuo entendimento mútuo REALIDADE SOCIAL

A&B Fonte: Rogers & Kincaid, 1981, p. 55.

Nenhum sistema humano pode funcionar adequadamente – isto é, ser coordenado para atingir um conjunto de objetivos – sem realimentação. O feedback “produz ação em resposta a uma entrada de informação e inclui os resultados de sua própria ação na nova informação através da qual modifica seu comportamento subseqüente” (Deutsch, 1963, p. 390, em Rogers & Kincaid, 1981, p. 61).

Nesta concepção o feedback não é meramente uma segunda fase do evento comunicativo, na qual o receptor envia ao emissor uma mensagem sobre a efetividade (ou não) do ato comunicativo

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original, como costumavam considerar os modelos lineares. Nem apenas o “conhecimento de resultados” em determinado ponto de um ciclo de informação. É, sim, um processo em que vários ciclos de intercâmbio de informação são considerados e a informação vai mudando ao longo do tempo (corrigindo possíveis erros de convergência em relação aos objetivos da comunicação). Por isso, Rogers e Kincaid consideram que um feedback efetivo pode ser descrito como um processo de convergência. Um feedback inadequado provoca um ciclo de sucessivas tentativas e respostas incorretas, isto é, um processo de divergência. O processo de convergência é dinâmico: implica movimento, relações mutáveis entre duas ou mais pessoas, orientação por metas ou objetivos, diferenças e semelhanças. Por isso, a entrada de novas idéias em um “ambiente” social pode provocar mudanças de atitudes e comportamentos emindivíduos, grupos ou até em toda a organização. Os processos de transformação que acontecem dentro de um sistema, e que criam um conjunto de recursos de saída a partir de dado conjunto de recursos de entrada, são fundamentais para a compreensão da mudança do sistema (Coleman, 1971). Em outras palavras, a maneira como os indivíduos membros do sistema obtêm e processam informação para chegar a decisões e iniciar uma ação afeta o desempenho do sistema como um todo, e a escala e a direção da mudança do sistema (Rogers & Kincaid, 1981, p. 258).

A adoção de inovações em um sistema depende, portanto, de concordância (o que não quer dizer consenso) conquistada através de um processo comunicativo. “O que os outros pensam e fazem através do entendimento mútuo e da ação coletiva tem importantes conseqüências sobre o que cada indivíduo membro de um sistema pensa e faz” (idem, p. 73). Neelameghan classifica os fatores que afetam a comunicação em quatro níveis: os atributos referentes ao sistema social como um todo, que podem afetar inclusive a transferência de cultura; os atributos referentes aos participantes do processo (que ele chama de comunicator e comunicatee); e os atributos dos meios e modos de comunicação. Na verdade, o que ele busca sistematizar são as barreiras à eficácia comunicativa derivadas das circunstâncias em que ocorre a comunicação, entendida como um processo muito mais complexo do que a mera troca de mensagens, já que envolve transferência de cultura através do espaço e do tempo e, portanto, relações de poder, coesão social e sobrevivência da espécie. 1. atributos do sistema •

se a situação envolve comunicação de um para um, de um para muitos, de muitos para um ou de muitos para muitos;



se a comunicação é realizada dentro de fronteiras nacionais ou fora dela;



se a transferência de cultura é tentada entre iguais ou não-iguais; por exemplo: entre países politicamente alinhados em torno de uma questão ou entre países economicamente diferenciados que negociam tarifas de comércio;



ambiente científico, social, político e econômico global do passado no qual os participantes do processo de transferência têm sido situados e a expectativa de mudança em relação a esses fatores como um resultado da comunicação, da transferência de cultura e do intercâmbio de idéias;

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ambiente científico, social, político e econômico global existente durante o período de transferência cultural;



o ruído, o refugo (informação excedente ou desnecessária), a resistência e a adaptabilidade característicos da infra-estrutura presente no sistema social do receptor.

2. atributos dos participantes •

objetivos e motivações dos envolvidos no processo;



grau de diferenças em termos de experiência religiosa, educacional, econômica, social e cultural entre os participantes;



a intimidade ou proximidade de contato entre os participantes;



experiências anteriores dos participantes em situações contextuais semelhantes;



grau de riqueza de informações que diferencia os participantes;

3. atributos dos meios e modos •

ferramentas e técnicas de comunicação verbal e não-verbal, a linguagem (natural ou codificada) usada, o meio de transmissão ou reprodução etc.



se a comunicação é direta entre quaisquer dos participantes ou se há um intermediário envolvido;



no caso de existência de um intermediário, se é uma pessoa, uma instituição ou um sistema automatizado;



se o intermediário for uma pessoa, alguns dos atributos dos participantes devem ser aplicados;



se for um sistema automatizado, devem ser consideradas as características particulares do sistema utilizado;



alcance dos objetivos de comunicação dependerá da habilidade dos participantes de usar efetivamente o intermediário, humano (capacidade de negociação com uma pessoa) ou automatizado (treinamento adequado para uso dos equipamentos e programas de computador).

_______________

Referências: NEELAMEGHAN, RABAÇA,

A. Information, communication and society. Library Science, vol. 17, nº1, 1980, p. 1-5

Carlos Alberto e BARBOSA, Gustavo. Dicionário de Comunicação. Rio de Janeiro, Codecri, 1978. p. 109-117

ROGERS,

Everett M. and KINCAID, D. Lawrence. Communication networks; toward a new paradigm for research, New York/London, Free Press, 1981. 386p.

2.1 Colégios invisíveis A expressão “colégios invisíveis” deriva historicamente de um grupo de pessoas que, em meados do século XVII, começaram a se reunir informalmente e, mais tarde, organizaram formalmente a Royal Society of London. Os integrantes desse grupo se comunicavam através de cartas para ganhar reconhecimento público, assegurar prioridade e se manterem informados sobre trabalhos feitos por outros. A expressão foi recuperada nos anos 60 por Derek J. de Solla Price, em estudos dedicados ao crescimento exponencial de determinadas áreas de pesquisa e à produtividade

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dos especialistas do campo em questão, a partir da análise de citações em materiais impressos que circulam informalmente entre membros de grupos de cientistas. Em Little science, big science (1963), Price discute a trajetória do artigo científico até seu “estado moderno”, em que funciona mais como dispositivo social da comunidade científica e como estabelecimento e manutenção da propriedade intelectual do que como uma “técnica de acumulação de um quantum de informação” (p. 67). A origem social do artigo científico seria o desejo de cada homem registrar sua proposição e reservá-la para si mesmo. “Apenas incidentalmente o artigo serve como um condutor de informação, um anúncio de um conhecimento promulgado para o bem do mundo, uma dádiva da livre vantagem da competição de todos” (p. 68). Price vislumbrava, então, a existência de “uma considerável organização social de cientistas” que procuravam assegurar prestígio e prioridades por meios mais eficientes do que “o tradicional dispositivo de publicação periódica”, já que cada produtor científico teria algumas centenas de colegas com o mesmo treinamento básico sobre os mesmos assuntos e interessados nos mesmos problemas. Grupos de cientistas emergentes se dividiam entre organizações não-oficiais e sociedades de especialistas e buscavam meios mais contínuos de contato estreito do que os artigos ou conferências. Então esses grupos criam mecanismos para comunicação no dia-a-dia. Há um elaborado aparato para envio não apenas de reedições de publicações mas de préimpressos [preprints] e pré-pré-impressos de trabalhos em andamento e resultados a serem alcançados. A existência de tal grupo deveria ser diagnosticada pela checagem da lista de pré-impressos de uma pessoa seguida pela checagem da lista de cada pessoa mencionada. Acho que logo se descobriria um grupo fechado, um pequeno número de centenas de filiados, selecionados de uma população de dezenas de milhares (p. 84-85).

Price percebeu, também, uma grande mobilidade dos membros desses grupos, que recebiam convites de outros centros de pesquisa para trabalhos periódicos e mantinham a fidelidade ao grupo, independentemente da instituição a que estavam vinculados. “Para cada grupo existe uma espécie de circuito de intercâmbio de instituições, centros de pesquisa e cursos de férias que lhes dão uma oportunidade de reunir-se gradativamente, de modo que num intervalo de poucos anos todo mundo de certa importância tenha trabalhado com todos os outros da mesma categoria” (p. 85). Tais grupos constituem um colégio invisível, no mesmo sentido daqueles pioneiros não-oficiais que no passado se juntaram para fundar a Royal Society em 1660. Exatamente do mesmo modo, eles dão a cada pessoa status na forma de aprovação dos seus pares, conferem prestígio e, acima de tudo, efetivamente resolvem uma crise de comunicação ao reduzir um grande grupo a um seleto, cujo tamanho máximo é o que possa ser sustentado por relações interpessoais (p. 85).

Price considerava que essa tendência de comunicação de pessoa a pessoa, em vez de artigo a artigo, era uma das consequências da transição da “Pequena Ciência” para a “Grande Ciência”, que vinha propiciando o crescimento do trabalho cooperativo na ciência desde o início do século. Dados do Chemichal Abstratcs mostravam que, em 1900, mais de 80% dos artigos tinham apenas um autor e quase todos os restantes eram em duplas – a grande maioria assinada por um professor e um de seus alunos. Desde então o número de artigos de multi-autoria cresceu tanto que, em 1962, o

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matemático W. R. Utz chegou a imaginar que por volta de 1980 os artigos de autor único estariam extintos (1963, p. 89). Outra preocupação de Price era o aumento da produtividade dos autores que se tornavam líderes de equipes de pesquisa, conseguindo assim realizar mais do que poderiam solitariamente. Nos resultados da pesquisa de campo que desenvolveu com Donald Beaver (1966), o fenômeno básico dos “colégios invisíveis” parece ser a existência de um ingroup (grupo distinto de pessoas que possuem interesses comuns) para cada conjunto de especialistas altamente competitivos e ativos. As pessoas desse grupo declaram estar razoavelmente em contato com todo mundo que esteja contribuindo concretamente para a pesquisa sobre determinado assunto, não meramente em escala nacional, mas usualmente incluindo todos os outros países nos quais tal especialidade seja forte. (...) Já que constituem um poderoso grupo de todo mundo que é realmente alguém em um campo, eles poderiam realmente controlar, a nível local e nacional, a administração dos fundos de pesquisa e o espaço laboratorial. Eles também podem controlar o prestígio pessoal e o destino de novas idéias científicas e, intencionalmente ou não, podem decidir a estratégia geral de investimento em uma área (1966, p. 1011).

A pesquisa realizada por Price e Beaver investigou o Information Exchange Group nº 1 (IEG 1) sobre Fosforização Oxidativa e Transporte Elétron Terminal, organizado pela Divisão de Verbas de Pesquisa do Instituto Nacional da Saúde dos EUA. O grupo foi criado em fevereiro de 1961 com 32 membros. Em junho de 1965 já possuía 592 membros e outros seis grupos de intercâmbio de informação em outras especialidades foram iniciados pelo mesmo escritório. Qualquer cientista que seja um genuíno pesquisador no campo em questão pode requerer filiação ao grupo ou ser indicado por outros membros. Todos os membros recebem listagens atualizadas dos filiados, com seus endereços para correspondência, e todos recebem os numerosos memorandos fotocopiados em circulação. Cerca de 90% desses memos são pré-impressos de artigos eventualmente publicados, com ou sem alterações, e os restantes 10% são discussões prévias de artigos e notas técnicas ocasionais ou pessoais propostas para circulação geral. Os membros podem participar desse processo auto-intitulado de “congresso internacional contínuo por correspondência”, bastando enviar uma legível versão datilografada da sua contribuição para o escritório central. Sem nenhuma intervenção editorial, esta será então fotocopiada e distribuída de forma que o contato de cientista a cientista leve apenas um par de semanas em vez de vários meses de demora gastos por uma publicação formal. O custo total dessa operação fica em torno de US$ 125 de subsídios por membro, ao ano, e em cerca de US$ 0,40 para cada cópia isolada de um memo (p. 1011-1012).

A pesquisa feita por Price e Beaver a partir de um conjunto de listas de filiados e dos memos que circularam entre eles aponta para um crescimento exponencial do grupo, que dobrou a cada 13 meses, num espaço de quatro anos e meio desde a sua fundação. Indica, também, o caráter internacional do grupo, embora com forte predominância dos Estados Unidos (com mais de 60% dos filiados), e a tendência à multipla autoria, identificada na maior parte dos 533 artigos analisados. A múltipla autoria tem relação direta com a quantidade de suporte financeiro – governamental, privado ou de fundações – dado à pesquisa da qual se originaram tais artigos, conforme constataram Hirsch e Singleton (1965). Mas Price e Beaver também consideram a 96

possibilidade de que o grupo sistematicamente inclua poucos artigos de autor único ou a existência de “algo na natureza do assunto em questão ou no modo de organização que prejudique uma significativa parcela dos que habitualmente publicam sem colaboradores” (1966, p. 1013). No início da década de 70, Diana Crane publica a mais ampla pesquisa até hoje feita sobre colégios invisíveis, estendendo o conceito do contexto da sociologia da ciência para a sociologia da cultura, a partir de uma abrangente revisão de literatura sobre as situações relacionais nos processos de produção de conhecimento e de idéias. A originalidade do trabalho de Crane está na percepção do desenvolvimento científico como um processo cultural e da ciência como apenas um dos componentes da sociologia do conhecimento, que abrange a sociologia da arte, ideologia, literatura, filosofia, pensamento político, entre outros sistemas informais especializados. Ela propõe que o estudo sociológico da cultura seja visto como um campo único que use os mesmos conceitos e hipóteses para examinar diferentes tipos de fenômenos culturais, centrando-se na análise da organização social de produtores de diferentes tipos de produtos culturais e dos temas que guiam seu trabalho criativo. Deve-se presumir, nesse tipo de estudo, “que a organização social de todas as áreas culturais compartilhe certas características tais como a manutenção de solidariedade e a focalização de interesses sobre certos tipos de questões” (p. 141). Assim, seria possível realizar análises mais complexas sobre as inter-relações entre instituições culturais diferentes. Da mesma maneira que numerosas e distintas áreas de pesquisa da ciência são mantidas coesas através de similaridades de orientações conceituais e por associações pessoais, diferentes instituições culturais também podem ser vistas como tendo “visões de mundo” similares durante o mesmo período histórico e como tendo membros que interagem. Em vez de ver a sociedade como um coletivo de “grupos de interesses” claramente definidos, a sociedade deveria ser reconceituada como uma rede complexa de grupos de indivíduos em interação, cujos padrões associativos e de comunicação são às vezes confinados a apenas um determinado grupo (p. 142).

Crane defende a necessidade de análise do desenvolvimento dos sistemas de crenças desses grupos sociais especializados, bem como de análises sociométricas das relações entre seus membros, entre os próprios grupos e entre estes e a estrutura social abrangente para que se possa compreender a variedade de influências que contribuem para o desenvolvimento de idéias nãocientíficas e a sua difusão. Para ela, “os fatores sociais que influenciam a difusão de idéias têm sido apenas superficialmente tratados na tradição da sociologia do conhecimento”. Para a compreensão desse fenômeno, seria necessária “uma teoria de comunicações e de transmissão de inovações” (p. 130). Com base na literatura da sociologia do conhecimento e da sociologia da arte disponível até o final dos anos 60, Crane detectou três modelos de crescimento cultural: a visão cumulativa da mudança cultural, na qual novas idéias se desenvolvem como resultados lógicos de idéias anteriores (mais freqüentemente aplicada à ciência); a visão de que as inovações não derivam, necessariamente, dos desenvolvimentos culturais mais recentes, mas de quaisquer outros do campo, em qualquer momento da sua história (modelo comumente aplicado ao crescimento cultural não-científico); 97

e o modelo que comporta mudanças cumulativas com descontinuidades revolucionárias e mudanças cumulativas até o limite em que as possibilidades inerentes à idéia original tenham sido esgotadas (que Crane considera mais útil para a compreensão do desenvolvimento de idéias nãocientíficas). Nessa abordagem, os conceitos de “paradigma”, de “círculos sociais” e de “colégios invisíveis” surgem como unificadores teóricos. “Um paradigma indica quais problemas precisam ser resolvidos, que métodos deveriam ser utilizados para obter soluções e que tipos de fenômeno serão observados. Sem essa orientação, um grupo de cientistas seria incapaz de produzir descobertas interrelacionadas e cumulativas” (p.136-37). Para Kuhn, a falta de paradigmas em alguns campos de estudo, “particularmente os das ciências sociais”, impede o conhecimento cumulativo porque os pesquisadores divergem sobre importantes problemas e sobre os métodos para resolvê-los. “Em vez de construirem seus trabalhos mutuamente, eles continuamente disputam entre si interpretações teóricas e descobertas empíricas. Controvérsias que permanecem insolúveis por períodos consideráveis de tempo podem afetar o padrão de crescimento do conhecimento em uma área de pesquisa” (p. 85). Crane argumenta, porém, que a literatura da sociologia estava crescendo muito mais rapidamente (dobrando a cada três anos) que a da física (que dobrava a cada oito anos), até o final da década de 70. Ela considera “possível que as diferenças entre áreas de pesquisa das ciências sociais e naturais se devam não à ausência de paradigmas mas à natureza dos paradigmas disponíveis” (p. 93). Para Polanyi (1962: 59, em Crane, p. 104), a ciência consiste de “correntes de vizinhanças justapostas” que se estendem por todos os limites do campo científico. “Cada cientista compreende o paradigma do seu próprio campo e o suficiente sobre os dos campos vizinhos para avaliar a pesquisa produzida nesses campos, mas que é a extensão da sua compreensão.” Grupos de cientistas de diferentes disciplinas que estudam o mesmo fenômeno empírico podem desenvolver um paradigma comum quando seus interesses possuem um alto grau de convergência. Por exemplo: É muito mais fácil e mais interessante, bem como mais produtivo, para um economista que trabalhe com decisões não-de-mercado se comunicar com cientistas políticos, teóricos dos jogos ou psicólogos da teoria organizacional do que com macroeconomistas do modelo de crescimento, com quem raramente encontram algum solo comum (Buchanan 1966:181, em Crane, p. 108).

Mesmo grupos de inovadores que produzem idéias não-científicas devem ser guiados por noções semelhantes do que é ou não relevante para os seus interesses. Eles compartilham orientações em relação ao seu trabalho que não são completamente ou precisamente desenvolvidas (como um estilo artístico, uma corrente literária ou uma posição política). Kadushin (1966/68) identificou quatro tipos de círculos sociais constituídos com base em interesses compartilhados: - utilitário: cujos membros precisam vender bens e serviços (como nos meios industriais e comerciais); - de poder e influência: de comunidades e governos;

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- interativo (ou integrador): resultantes de algumas experiências comuns, tais como etnia, vivência de guerra, ambiente ocupacional etc; - cultural (dividido em três subcategoriais: os baseados em metas valorativas, tais como religião, psicoterapia e outras filosofias de vida; os baseados em metas de expressão, como literatura, arte e recreação; e os baseados em metas cognitivas, como a ciência e a tecnologia). Análises da organização social de áreas de pesquisa na ciência têm mostrado que os círculos sociais têm colégios invisíveis que ajudam a unificar áreas e a propiciar coerência e direção a seus campos. Essas figuras centrais e alguns de seus associados estão fortemente ligados por vínculos diretos e desenvolvem uma espécie de solidariedade que é útil na construção moral e na manutenção de motivação entre os membros. Grupos desses dois tipos podem ser localizados nas artes e na literatura (p. 138-39).

Do ponto de vista da sociologia da cultura, um grupo especializado pode agregar um círculo social constituído por numerosos vínculos diretos e indiretos, um colégio invisível e vários grupos de colaboradores (Price and Beaver, 1966) ou grupos de solidariedade (Mullins, 1968), ligados uns aos outros através de seus líderes não-formais, que se comunicam entre si e transmitem informação informalmente por todo o campo de pesquisa, configurando uma rede de comunicação. Um exemplo citado por Crane é o de impressionistas franceses que nos anos 60 constituíram um pequeno grupo de solidariedade da comunidade artística cercado por uma associação mais informal de críticos, empresários culturais e compradores que proporcionavam reconhecimento, afinidade e estímulo ao grupo. Um colégio invisível é um cluster ou aglomerado de grupos de colaboradores que se formam em torno dos especialistas mais destacados. No desenvolvimento da especialidade, os membros dos subgrupos tanto podem dar continuidade a uma área de pesquisa ou de criação como trocar de área ou abrir novos campos de idéias e inovações. Na comunidade científica, esses especialistas lideram grupos de pesquisadores que se interligam em rede através dos contatos pessoais, diretos ou indiretos (de colaborações publicadas ou de relações professor-aluno, por exemplo). Em sua pesquisa nas áreas de sociologia rural e de matemática dos grupos finitos, Crane identificou grupos pequenos (dois a quatro membros), médios (cinco a 13) e grandes (27 a 32), além de pesquisadores isolados, que procuravam membros dos grupos maiores para obter assessoria e consultoria. Observou, também, que as ligações recíprocas eram mais frequentes entre os pequenos e os médios grupos, ao contrário dos grandes, nos quais predominavam os vínculos indiretos. Esses dados confirmaram vários outros estudos anteriores (utilizando técnicas de análise de citação) que indicavam claramente a presença de um colégio invisível ou “rede de cientistas produtivos” ligando grupos separados de colaboradores na mesma área de pesquisa. Neste contexto, os cientistas qualificados como “mais produtivos” (pela quantidade de artigos publicados e pelo número de vezes que são citados) exercem um papel fundamental sobre a área em que estão inseridos, estabelecendo normas de pesquisa e mantendo a coesão dos seus integrantes. Estudos sobre decisões eleitorais e sobre hábitos de consumo indicam que a transferência de informação dos meios de comunicação de massa para o público é mediada por “líderes de opinião” que absorvem mais informação sobre tópicos

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específicos do que a média das pessoas e a comunicam de volta para outros (Katz 1960; Katz and Lazarsfeld, 1955, em Crane, p. 72).

No meio científico, os líderes de opinião são cientistas altamente produtivos que “atuam como intermediários na transmissão das inovações feitas pelos primeiros cientistas da área àqueles que entraram no campo mais tarde” (p. 74). Eventualmente, ocorrem casos de “rápida difusão de uma inovação devido a uma combinação de influência pessoal entre pares e influência social na forma de efeitos de demonstração nos quais indivíduos observam o comportamento de outros com os quais não estão pessoalmente familiarizados” (p. 91). Tais casos costumam ser considerados como “moda na ciência”. Uma espécie de efeito de “contágio” acontece quando indivíduos de um sistema social que adotaram uma inovação influenciam os que ainda não a adotaram; com o tempo, o número dos que passam a adotar a inovação aumenta exponencialmente (p. 23). O processo de contágio que torna certas idéias mais visíveis do que outras diminui à medida que as áreas aumentam de tamanho. Ao mesmo tempo, as idéias tornam-se mais especializadas e menos originais (p. 83). Na época em que a pesquisa de Crane foi realizada, a circulação de papers (pequenos artigos) antes da publicação formal representava uma inovação entre os cientistas, “um meio de prover rápida transmissão de informação (...) suplementado pela discussão informal, face-a-face, e por conferências especializadas” (p. 121). A comunicação entre cientistas apresenta duas formas: a meramente consultiva (expressa por escolhas não-recíprocas) e o intercâmbio de idéias (revelado pela escolha recíproca). Na pesquisa de Crane, os pesquisadores isolados foram os que mais consideraram a comunicação informal importante para as suas pesquisas, embora suas próprias escolhas revelassem seu distanciamento em relação às outras pessoas da área. Outra constatação foi a de que o trabalho dos membros menos envolvidos na rede de comunicação tende a ter menos influência sobre a pesquisa de outros na mesma área. (Seria isto verdade em áreas culturais como literatura e artes plásticas, em que o trabalho isolado é típico?) As redes de comunicação mostram-se efetivas para interligar cientistas de diferentes países que atuam na mesma área de pesquisa. Mas há cientistas de certas regiões que não se envolvem muito na rede, o que torna seus trabalhos menos visíveis que o de colegas de outros países. Além disso, nem todos os membros de uma área de pesquisa participam da rede de comunicação informal, que também pode não atingir pesquisadores de outras áreas. Os membros das áreas pesquisadas por Crane revelaram a existência de aglutinações internas que lhes concediam estrutura e identidade, além de numerosos elos com outras áreas, na forma de vínculos isolados em relação a um grande número de indivíduos, o que propiciava canais de difusão de informação da e para a área. Nas comunidades científicas, a transmissão de idéias de uma área para outra ocorre sob quatro condições principais (p. 106): - estratégias de busca usadas pelos cientistas para as suas pesquisas; - distribuição de artigos sobre diferentes assuntos em periódicos de várias especialidades;

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- especialidade híbrida de cientistas que trabalham em mais de um tópico e, como resultado, desenvolvem vínculos com pesquisadores de diferentes áreas; - pesquisas interdisciplinares, nas quais determinados tópicos são estudados por cientistas de diferentes disciplinas; - papéis híbridos de cientistas que atuam tanto nas áreas básicas quanto em pesquisas aplicadas. ______________

Referências PRICE,

Derek J. DeSolla. Invisible colleges and the affluent scientific commuter. In: Little science, big science. New York/London, Columbia University Press, 1971. 4ª ed. [1ª ed. 1963] p. 62-91

PRICE,

Derek J. DeSolla & BEAVER, Donald B. Collaboration in an invisible college. American Psychologist 21, 1966. p. 1011-18. (Separatas da BibECO)

CRANE,

Diana. Invisible Colleges; diffusion of knowledge in scientific communities. Chicago/London, The University of Chicago Press, 1972. 212 p.

2.2 Comunicação intercultural As pesquisas sobre as inter-relações comunicativas entre pessoas, grupos ou organizações provenientes de diferentes culturas (que não envolvem apenas raças e etnias) têm navegado por variadas terminologias, das quais as mais aceitas são “comunicação intercultural” ou “comunicação transcultural”. O ponto de partida é o de que o ato comunicativo implica diferentes experiências de vida, conhecimentos e valores acumulados que interferem na percepção dos sentidos das mensagens recebidas. Este problema vem se tornando ainda mais evidente com a expansão das redes eletrônicas, nas quais as dimensões do tempo e do espaço são “dissolvidas” e o “contato” visual, embora tecnicamente já seja possível, não permite o mesmo tipo de interatividade de uma relação face a face, onde a observação do outro é parte fundamental do feedback das mensagens. Quando uma pessoa se comunica com alguém de um sistema sócio-cultural diferente, os grupos distintos [ingroups, que reúnem pessoas com interesses comuns] e os grupos "de fora" [outgroups] relevantes são os seus próprios sistemas culturais. Se, entretanto, pessoas se comunicam com membros de diferentes sistemas dentro de seu próprio sistema sócio-cultural (por ex., membros de diferentes grupos étnicos ou raciais) os grupos distintos e os "de fora" relevantes são os subsistemas. Essas "formas" de comunicação muitas vezes são denominadas inter-raciais ou interétnicas (...) Quando membros de um grupo entram em contato com membros de um outro grupo desconhecido ou não familiar, os membros do grupo "de fora" não são tratados como indivíduos, a comunicação com eles é baseada nas qualidades percebidas nos membros do grupo. A comunicação intergrupal baseada na categorização social tem sido chamada de "comunicação com estranhos" (Gudykunst,1989, p.856)

Nos anos 50, o antropólogo Edward T. Hall, da Escola de Palo Alto, “desmontou” os códigos da comunicação intercultural num livro chamado The silent language (A linguagem silenciosa), no qual trata do “choque cultural” provocado pelo estabelecimento de contato entre homens de negócios de culturas diferentes, a partir da sua experiência como intermediário entre militares e populações autóctones de ilhas do Pacífico. As linguagens silenciosas regeriam as diferentes visões

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das dimensões simbólicas do tempo e do espaço, o valor das posses materiais, dos acordos, das amizades etc. Essas linguagens informais fazem, por exemplo, com que o prazo que se leva para responder a uma comunicação seja interpretado de forma diferente no Oriente Médio e nos Estados Unidos porque o código da gestão do tempo nesses países não é idêntico. (...) Sob essa nova maneira de ver a relação com o outro, começa sobretudo a colocar-se em questão a teoria matemática da informação surgida à sombra do universo “maquinal” da Segunda Guerra Mundial. (...) A esse modelo linear de comunicação entre um emissor que codifica e transmite uma informação definida como uma grandeza estatística abstrata para um receptor que a decodifica, a Escola de Palo Alto opõe um modelo de comunicação circular ou retroativo. Isto é, um processo social permanente em vários níveis e em contextos múltiplos, integrando não duas ou diversas “variáveis”, mas múltiplos modos de comportamento. São as múltiplas linguagens e códigos estudados por Hall (Mattelart, 1994, p. 113)

Porter (1972) inclui na palavra “cultura” uma gama de atributos cumulativos: conhecimento, experiências, significados, crenças, valores, atitudes, religião, conceitos sobre o universo, autoavaliações, hierarquia de status, expectativas, relações espaciais e conceitos adquiridos por um amplo grupo de pessoas através de gerações. Ou seja, um complexo de muitas dimensões que afeta os atos de compreender e ser compreendido em um processo de comunicação. Quando o objetivo dessa comunicação é transmitir uma informação com o fim específico de provocar determinada ação ou formulação de pensamento, o resutado dependerá fundamentalmente de uma coincidência de interpretação pelos sujeitos intercomunicantes do conteúdo da mensagem (Paulo Freire, 1974). Outro fator importante para a análise dos impactos sócio-culturais sobre a comunicação e a informação são as chamadas "teorias implícitas", que dizem respeito a como a informação sobre outros é selecionada, organizada e combinada para formar uma "impressão de personalidade". A informação sobre outros é gerada através de inferências baseadas em observações. Quando dizem respeito a uma pessoa de um sistema sócio-cultural diferente, a informação disponível é limitada e muitas brechas precisam ser preenchidas e, além disso, numerosas inferências são necessárias. A informação gerada tem origem em estereótipos que emergem das categorizações das pessoas. Os estereótipos que os indivíduos carregam estão ligados a certas atitudes intergrupais como prejulgamento e etnocentrismo (...) e, em contrapartida, têm um impacto sobre comportamentos discriminatórios em relação a membros de grupos "de fora" (Gudykunst, ob. cit., p. 859).

Os estereótipos funcionam, portanto, como filtros no modo como a informação é processada. Eles criam expectativas em relação aos outros que as pessoas tentam confirmar e constrangem os padrões de comunicação alheios, engendrando outros estereótipos de comunicação. Os meios de comunicação de massa fornecem a maior parte das informações que as pessoas têm sobre os que são estranhos para quem não tem contato com os outros grupos (...) Indivíduos que têm pouco contato também tendem a perceber o conteúdo da mídia como sendo "real" (...). A mídia, além disso, alimenta as pessoas com estereótipos que são percebidos como corretos. Estereótipos emergem mais de fontes secundárias (como a mídia) do que de primárias e o contato é necessário para reduzir a estereotipação (idem, p. 871).

Isto é particularmente problemático na "comunicação internacional", que envolve mediações entre sistemas sócio-culturais diferentes. Um caso exemplar do que ocorre nesse processo é o do 102

projeto Imagens da África, cujo objetivo foi avaliar o material de informação produzido na África por ONGs e mídia européias durante a crise de alimentos (seca e fome) de 1984/85. Segundo Marc Nerfin (1991), a meta era estudar a percepção do público europeu sobre as imagens veiculadas pelos meios de comunicação de massa durante a campanha de arrecadação de fundos e identificar, do ponto de vista africano, os aspectos da realidade daquele continente que a campanha européia ignorou. O resultado foi o retrato de uma África apática, morrendo de fome e dependente dos "bons samaritanos" europeus; "...uma primitiva e perigosa África" (p. 112-113). Tudo isso era freqüentemente acompanhado de um extremamente escasso conhecimento de geografia. Mesmo em relação à Etiópia, o país mais freqüentemente citado nos noticiários, os únicos fatos conhecidos eram sobre a ajuda fornecida (UK). Estas imagens enviesadas e distorcidas têm fortemente a ver com o papel desempenhado pela mídia e, em muitos casos, com as próprias ONGs, no fornecimento de informações durante a crise (...) muitos desses quadros de famintos estavam completamente fora de contexto, sem qualquer referência à história, cultura ou vida econômica da África. Análises políticas foram feitas apenas em termos das alianças entre países africanos e ocidentais. As relações Norte-Sul raramente foram mencionadas e as Sul-Sul consideradas como inexistentes (...) O fato de os africanos não terem voz nas informações sobre a própria África (...) minimiza as chances de se atingir uma imagem da África mais próxima à realidade e consonante com a interdependência (citado no Dossiê 67 da IFDA, março/abril 1988, p. 17-18, em Nerfin, ob. cit., p. 113).

Uma outra "teoria implícita" importante para análise das formas de comunicação das ONGs é a que envolve as dimensões que as pessoas usam para avaliar similaridades e diferenças nas relações sociais. Triandis (1977, 1978, em Gudykunst, ob. cit., p. 861) detectou quatro dessas dimensões que parecem ser "universais" em todos os sistemas sócio-culturais: associação-dissociação (solidariedade com ou segregação dos portadores de Aids, por exemplo); superioridadesubordinação (ONGs do Norte e do Sul); intimidade-formalidade (entre ONGs e seus doadores); público-privado (informações oficiais e confidenciais). A comunicação intergrupal, quando envolve interação com estranhos ou com pessoas não familiares, gera incertezas que podem ser causadas por diferenças linguísticas, por falta de conhecimento das atitudes socialmente apropriadas ou por uma perceptível falta de similaridades. O processo de redução de incertezas nas relações interculturais varia em função do estágio dessa relação e está direta ou indiretamente relacionado à identidade social, a comparações intergrupos, a experiências em outros sistemas sócio-culturais, ao grau de semelhança cultural, à competência da segunda língua, a atitudes intergrupais, conhecimento sócio-cultural, redes de comunicação compartilhadas, freqüência na comunicação, intimidade na relação, atração interpessoal, atitude de similaridade e o uso das estratégias de redução de incertezas (Gudykunst, ob. cit. p. 872). Os sistemas de conhecimento agem como focos, a partir dos quais os grupos que compartilham os mesmos interesses e experiências se organizam; os sistemas de conhecimento exclusivo (restritos a determinados grupos) foram denominados por Churchman "esotéricos", em oposição aos "exotéricos" (não exclusivos, acessíveis a um grande número de pessoas). Com a transformação do processo de produção de conhecimento e de atribuição de sentido ao conhecimento dentro de circunstâncias do mundo real, a ciência e a tecnologia deixam de ser vistas

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como atividades exclusivas dos cientistas e especialistas técnicos na medida em que modificam os mais diversos aspectos da vida das populações, mostrando-se intrinsecamente relacionadas à política e aos poderes econômico e militar. Surge, então, o que Cebotarev (1983) chama de “novas estratégias de comunicação e participação” e o que M. H. Bermúdez (1992) defende como a organização da informação para "gerenciar a vida cotidiana", de modo que os processos comunicacionais se tornem mais efetivos no intercâmbio de experiências e na construção das memórias coletivas. Nestas perspectivas, o conhecimento técnico e científico passa a ser visto apenas como "um tipo de conhecimento", entre muitos outros existentes, como o "experimental" ou "experencial", o "prático" e o "socialmente útil" (Churchman, 1974, em Cebotarev). As soluções apropriadas emergem da interseção de vários "sistemas de conhecimento": o do especialista, que provê o conhecimento técnico e científico ao agente de campo; o da cultura local (conjunto de costumes, tradições, definições, valores), em que o processo de pesquisa participativa é desenvolvido; o tradicional, referente às experiências acumuladas ao longo do tempo no desempenho de tarefas específicas relativas ao problema enfocado (memória coletiva); e o das realidades econômicas e políticas (contexto), nas quais a nova tecnologia ou solução será aplicada (cf. Cebotarev, p.11-13). Neste tipo de abordagem surgem termos e expressões como "etnociência", "pesquisa participativa" (investigação conjunta), "comunicação participativa" (diálogo informado, horizontal, equilibrado), "tecnologias apropriadas", "criação de cultura" "observação participante", "monitoramento social", entre outros, comumente utilizados pelos profissionais de ONGs e assessores dos movimentos sociais. Bermúdez propõe duas perspectivas para a discussão da informação científica e tecnológica: aquela na qual os meios de difusão, os comunicadores sociais e os científicos desempenham um papel importante; e a da “comunicação popular” ou “informação utilitária”, na qual comunidades e organizações populares criam seus próprios canais, como imprensa popular, audiovisuais, marionetes, centros de documentação popular, bibliotecas populares e outras formas de armazenamento e distribuição da informação (ob. cit., p. 40). Citando Hebe Vessuri25, este autor lembra que a ciência é excluída da maioria das análises da cultura em virtude do suposto status epistemológico privilegiado. Lembra ainda que os conhecimentos locais das culturas do “terceiro mundo” costumam ser excluídos da divulgação científica, apesar do seu caráter científico e tecnológico para as populações locais (medicina natural, manejo ambiental sem desquilíbrio do ecossistema, alimentos com grandes propriedades nutritivas etc). "Por isso é de suma importância a revalorização destes conhecimentos locais, como a reconstrução das memórias dessas tradições" (idem, p. 40). Cebotarev alerta, porém que “comunicação intercultural” não pode ser confundida com “criação cultural”: a primeira diz respeito à interação cultural via instituições formais e sistemas informais de produção de conhecimento; a segunda, ao "processo criativo de produção de soluções de problemas sociais, econômicos, técnicos ou políticos..." (ob.cit., p. 15) 25

Vessuri, Hebe. Los roles culturales de la ciencia, en los países subdesarollados, ponencia presentada en el seminario "La crisi, responsabilidad y salida". Cátedra Pio Tamayo, Ucv Caracas, 1985. 104

(...) a adoção de novas estratégias frente às crises tecnológicas contemporâneas (...) supõe mudanças significativas na cultura dos homens e das organizações, geralmente pouco adaptados à ação estruturada ao trabalho em redes de comunicação; a um melhor conhecimento dos modos de gestão de crises (ferramentas tecnológicas, condução de grupos, esquemas de organização, enfim, o conhecimento de múltiplas experiências, casos reais ou exercícios de simulação) que podem oferecer uma bagagem geral sobre este supreendente universo das crises pós-acidente [ecológico]" (C. Gilbert, 1986, em Bermudez, p. 41). __________________ Referências: BERMÚDEZ,

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2.3 Fluxos de informação A partir de meados da década de 50, com a retomada do desenvolvimento capitalista do pósguerra e o processo de desestalinização do mundo socialista, algumas correntes das ciências sociais começam a fazer seus primeiros diagnósticos dos fracassos da modernidade, apontando as situações de desequilíbrio entre as nações, de dominação, opressão e discriminação de parte da população mundial, de interferências na soberania nacional dos países economicamente não-dominantes. Novas oposições são traçadas, implicando relações entre pólos hegemônicos e pólos de dependência: países industrializados ou desenvolvidos x países subdesenvolvidos ou em vias de desenvolvimento; centro x periferia. O quadro conceitual utilizado para dar conta dessas relações é o do neocolonialismo e do imperialismo, contra os quais são acenadas as bandeiras da descolonização, da integração entre países não-alinhados e do “terceiro mundo”, da solidariedade e reciprocidade internacionais. Se já não se acreditava no desenvolvimento como uma consequência "natural" do progresso material, que excluía parte da humanidade, as idéias libertárias, igualitárias e emancipadoras que marcaram o início da modernidade continuavam presentes na crença do caráter emancipador da educação, na defesa da eqüidade entre as nações e do respeito aos direitos humanos de todos os povos. Mas a compreensão do caráter heterogêneo dos seres humanos e das suas necessidades específicas de expressão (a "heterogeneidade dos jogos de linguagem"), em contraposição ao

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discurso universalista e consensual da modernidade, começa a se manifestar nos argumentos a favor da organização da cultura nacional como fator de emancipação, do intercâmbio cultural como fator de progresso para a humanidade e da democratização como garantia à pluralidade de expressões. Nesse contexto, a literatura sobre a ordenação dos sistemas de informação começa a diagnosticar os fluxos desequilibrados e a circulação desigual de informações, defendendo a necessidade de distribuição e disseminação equitativas de informação, de livre acesso e livre fluxo de informação. Ao conceito de sistemas de informação agrega-se, então, a idéia de redes ou de links para o intercâmbio horizontal de informação. Na área de comunicação, os grandes temas são a livre expressão do pensamento e a liberdade de comunicação, que geram um grande esforço dos países “não-alinhados” e os do “terceiro mundo” para a reversão do fluxo de informação através de um pool de agências nacionais de notícias e da difusão de modelos de comunicação alternativa e participativa (ver Cap. 2.4). No âmbito da crítica, as grandes questões colocadas pela literatura especializada são a comunicação dominada, a comunicação transnacional, a racionalização do controle social através dos meios de comunicação de massa, entre outras. Este tipo de crítica pressupõe a existência de um fluxo dominante de circulação de informações sintonizado com os poderes político e econômico hegemônicos, em relação ao qual operam-se contrafluxos, desvios, interceptações, exclusões etc, de acordo com as situações de trocas culturais, o jogo de intenções e as circunstâncias da comunicação. Este modelo é caracterizado pela exclusão de amplos segmentos da população dos progressos econômico e técnico-científico e pelo controle dos processos informativos e comunicacionais pelas elites políticas e intelectuais. Na Ciência da Informação, uma produção recente tem chamado a atenção para as diferenças fundamentais entre disponibilidade e acesso democrático à informação, mas as abordagens parecem ainda muito restritas aos problemas do controle dos estoques de informação, no qual a questão do fluxo é considerada apenas do ponto de vista do equacionamento entre oferta e demanda, ou de critérios mais “competentes” de disseminação, ou ainda de adequação entre necessidades e usos da informação. O acesso à informação e o monopólio do conhecimento são as principais questões a serem enfrentadas pela sociedade regida pela economia política global. Aí estão embutidos problemas como a infra-estrutura e os conteúdos dos serviços de informação; seu tratamento como recurso público ou bem de consumo privado; e o poder de quem controla as formas como a informação é indexada, armazenada e tornada acessível. Outras vertentes optam por privilegiar a questão tecnológica, que geraria um novo modelo de sociedade e novas regras de economia política da informação; ou enfatizam a questão político-cultural, que nortearia a organização dos conteúdos e os padrões de distribuição da e acesso à informação. Em um ambiente de desenvolvimento contínuo de novos meios técnico-científicos, a organização informacional funciona como um dos fatores essenciais de exercício do poder. Em geral, nas sociedades, o poder tende a concentrar-se nas mãos de quem superintende nas estruturas em que se molda a organização da sociedade, e as controla, e de quem dispõe das fontes de informação, no sentido amplo dos conteúdos culturais. Organização

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e informação são duas esferas de poder conceitualmente distintas, mas a área em que se cruzam pode muito bem definir-se como o lugar do poder social. (...) São o Estado e as empresas que dispõem, em proporções acentuadamente monopólicas, da informação, isto é, dos meios de produção e difusão (centros de pesquisa, escolas, mass-media) dos conhecimentos científicos e técnicos, das normas e valores predominantes na sociedade (Dicionário de política, Bobbio et alli, 1992, vol. 2, p. 1026).

Doctor (1992) define “democracia da informação” como “um sistema sócio-político no qual todas as pessoas têm garantido o direito dos benefícios provenientes do acesso aos recursos de informação (...) e às ferramentas de que necessitam para participar das estruturas decisórias que afetam a sua vida cotidiana” (p. 44). O poder social, neste caso, não depende simplesmente do acesso a informações, mas do controle do tipo de informação e de conhecimento a que a sociedade está tendo acesso, ou do qual está sendo excluída. A questão básica, para Menzies (1991), é que algumas informações são mais acessíveis do que outras. Em geral, há maior disponibilidade de informações padronizadas, homogêneas, do que de informações originais, especializadas e diversificadas, que tendem a demandar mais tempo para serem obtidas e, em conseqüência, são menos efetivamente acessíveis. O que é considerado e indexado como informação relevante é filtrado para destacar e tornar prontamente acessível apenas a informação e o conhecimento que estende o mercado de bens de consumo e serviços fornecidos através da rede de informação global. Qualquer que seja a tecnologia adotada para armazenamento e disseminação, o usuário não tem como checar o que foi excluído e o que foi realçado na informação a que teve acesso. O outra questão importante é a dos sentidos atribuídos à informação durante o seu processamento; uma forma de pensar (subjetividade) é incorporada na codificação, indexação e classificação da informação em sistemas cada vez mais dominados por um punhado de corporações globais. Embora haja cerca de 440 empresas de bancos de dados on line na América do Norte, apenas cinco grandes companhias americanas controlam mais da metade desses serviços (D.Murray, 1987, em Menzies, p. 6). A dimensão cultural é fundamental na avaliação qualitativa dos sistemas de informação; há termos de indexação que são apropriados a um contexto cultural mas não a todos; o perigo, aí, é o da aculturação aos paradigmas de significação de determinados sistemas (ex: uma concepção de tratamento médico baseada no uso da alta tecnologia versus uma visão de atendimento nas instituições de saúde que privilegie a prevenção de doenças). Mas não há discussão sobre o poder e a democratização do conhecimento que possa deixar de fora os agentes dos sistemas de produção e distribuição, os cientistas, os técnicos, os especialistas, os intelectuais, os profissionais da informação. Desde os anos 60, algumas vozes críticas da comunidade científica vêm questionando os riscos potenciais em áreas geralmente ocultadas ao conhecimento público, como energia nuclear e genética. Aqui e ali começaram a surgir demandas de participação nas decisões que envolvem aplicações da ciência e da tecnologia, que vão desde reivindicações de caráter pessoal – como o direito de uma pessoa ter voz no seu próprio tratamento médico – a protestos locais contra a implantação de um projeto em dada comunidade ou controvérsias de âmbito nacional sobre a adoção de determinada tecnologia. Segundo Dorothy Nelkin (1981), as críticas aos rumos da ciência e as controvérsias tecnológicas das últimas três décadas têm sido marcadas, nos Estados Unidos, pela proliferação de 107

grupos de cidadãos locais com sustentação de entidades nacionais de defesa de interesses, cuja filiação mais do que triplicou nesse período. "Sua clientela relativamente estável pode ser mobilizada para intervir em diversas áreas técnicas e busca ampliar a participação pública em áreas da ciência e da tecnologia que apresentam riscos potenciais" (p. 278). As demandas participativas geradas por esses grupos estão geralmente relacionadas aos impactos sociais, econômicos e ambientais provocados pela implantação de projetos que causam mudanças drásticas em comunidades locais. Mas podem basear-se, também, em princípios ideológicos ou morais ou serem motivadas pelos consumidores dos produtos derivados de desenvolvimentos tecno-científicos recentes ou por protestos de pessoas diretamente afetadas por um evento científico ou tecnológico (a disseminação da Aids ou o vazamento de substâncias radioativas, por exemplo). O interesse desses vários grupos se estende além de políticas específicas para as questões mais amplas de tomada de decisão. A responsabilidade do especialista (expert accountability) tornou-se um tema central para esses grupos, que consideram uma "pressuposição arrogante" deixar as decisões para os cientistas. Por isso, eles buscam munir-se de informação técnica através de "contraespecialistas", visando a maiores oportunidades de participação no processo decisório (cf. Nelkin, 1981, p. 279). No contexto norte-americano, o crescimento dessas demandas coincide com o aumento do papel do Estado no setor de pesquisa e desenvolvimento (P&D) e com a reação do Congresso ao crescente poder das agências administrativas federais. Segundo Nelkin, o surgimento e a expansão do conhecimento técnico estatal se dá através de instâncias decisórias como órgãos consultivos, comissões especiais, equipes de trabalho e grupos de assessoramento, que acabam constituindo uma "tecnocracia intelectual", uma "elite tecnocrática" cujas crescentes implicações políticas não estão totalmente claras (idem, p. 275). Num sistema social em que a autoridade é baseada em informação e muitas escolhas políticas são reduzidas a decisões técnicas, essas "elites do conhecimento" vêm sofrendo uma oposição organizada por parte de grupos preocupados em obter maior influência sobre a direção e o controle da ciência e sua aplicações. Tudo isso ocorre em meio à queda de confiança nas principais instituições sociais e à erosão dos valores democráticos. "As reformas participatórias pretendem fundamentalmente expandir a informação disponível ao público e canalizar informação sobre as preferências públicas para os órgãos de tomada de decisão. Entretanto, algumas reformas processuais buscam abrir o processo administrativo à negociação e ao compromisso, permitindo aos representantes públicos tomar parte no desenvolvimento das políticas" (ibid., p. 281). Com base em estudos de caso, porém, Nelkin chega à conclusão de que a garantia legal de acesso a informação serve mais para reduzir conflitos do que para compartilhar poder. "Cidadãos não familiarizados com o que está disponível ou sem acesso à competência técnica são geralmente incapazes de requisitar material com suficiente especificidade e materiais cruciais sobre tópicos controversos em geral são vetados como informação privativa" (idem, p. 282). Após relatar várias iniciativas de difusão de informações científicas e tecnológicas (nos EUA e na Europa) como parte do processo de apoio à decisão tanto do poder legislativo quanto do

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executivo, Nelkin destaca os problemas para a democratização da informação nesse campo. Os cidadãos envolvidos na política de C&T dependem dos mesmos fatores que afetam a participação política: lideranças, organização comunitária, acesso aos meios de comunicação e à visibilidade e urgência das questões imediatas. Mas a disponibilidade de informação e a distribuição da competência técnica assume especial importância nessa arena. Os grupos de cidadãos precisam lidar com um material técnico complexo e incerto e necessitam de especialistas que possam ajudá-los a analisar o material e a manter o controle da informação para subsidiar suas escolhas políticas. A falta de competência técnica tem sido o grande argumento utilizado por aqueles que rejeitam a participação dos cidadãos nas decisões sobre a política científica e tecnológica. Para as autoridades administrativas, a participação popular coloca em xeque a suposta neutralidade do Estado em relação a interesses particulares e a sua legitimação pela competência técnica, trazendo o dilema dos limites dessa participação no processo decisório. O temor é o de que a ampla participação acabe paralisando o poder executivo em demandas intermináveis e polarizações aparentemente sem solução. Para os cientistas, a maior preocupação é com a sua perda de autonomia e a implantação de um controle externo sobre as suas pesquisas. Como sugere Nelkin, conciliar todas essas demandas é o grande desafio de um processo democrático. ____________________ Referências: ALMINO,

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2.4 A “velha” e a nova ordem A discussão sobre a dependência informativa e comunicacional, que resultou na formulação de uma Nova ordem mundial da informação e da comunicação (Nomic), foi iniciada timidamente em uma reunião de chanceleres de países do Pacto Andino, em 1972, ganhando status de problema internacional um anos depois, na Quarta Conferência de Chefes de Estado e de Governo dos Países Não-alinhados, em Argel. Três anos mais tarde, a primeira Conferência de Ministros da Informação dos Países Não-alinhados, realizada em Tunis, aprovou um projeto de declaração destacando que uma “nova ordem mundial da comunicação era tão importante quanto a nova ordem econômica”. Mas o processo que antecedeu e sucedeu esta explicitação não pode ser entendido fora do contexto histórico das novas relações Leste-Oeste do pós-guerra, em que o bloco de países “nãoalinhados” exerceu papel peculiar; da descolonização iniciada nos anos 60, dando margem ao enquadramento geopolítico de um “terceiro mundo”; e das negociações Norte-Sul a partir da segunda metade da década de 70, cujo exemplo máximo de visibilidade é a conferência da ONU sobre meio-ambiente e desenvolvimento realizada no Rio de Janeiro, em 1992. Os debates em torno da Nomic foram particularmente influenciados pelo caráter transitório das décadas de 70 e 80, quando se considerava que os problemas clássicos da descolonização estariam parcialmente superados, apesar da manutenção das relações de dependência no quadro internacional do sistema capitalista e da retirada de alguns países desse contexto para implantação de projetos socialistas e comunistas (Tullo Vigevani, 1982). Na dinâmica desse processo, surgiram questões contraditórias, como a de “por que os países do bloco dos não-alinhados, apesar de sua maioria integrar o sistema capitalista internacional, intervêm no contexto mundial com posições políticas e econômicas às vezes conflitantes com os interesses dos países desenvolvidos” (idem, p. 206). “O encontro de Brioni (Iugoslávia) entre Tito, Nasser e Nehru (julho de 1956) colocou as bases para um movimento não apenas eventual, de tipo defensivo, mas para uma ação diplomática ofensiva e propositiva (o neutralismo positivo)” (idem, p. 213). Apesar dos antagonismos que marcavam os sistemas sociais dos países integrantes do bloco dos não-alinhados (de formas semifeudais a sistemas socialistas) e até da existência de graves conflitos regionais entre alguns deles (Iraque e Irã, Argélia e Marrocos, Somália e Etiópia, etc), o movimento seguiu uma trajetória de crescente fortalecimento até 1980, quando Tito morreu. Um outro antagonismo foi o provocado pelo contraponto entre a questão nacional, em particular a dos países do “terceiro mundo”, e as transformações nas relações internacionais, em curso desde o pós-guerra. A nova fase de reorganização do sistema capitalista em nível internacional, sob a hegemonia dos Estados Unidos, passou, paulatinamente, a exigir novas formas de relacionamento entre os Estados. Esta exigência coincidiu com outra, de raízes profundas, a da elevação do grau de consciência nacional, cujas causas vinham amadurecendo ao menos há algumas décadas (China, Índia, Idonésia, Egito, Argélia, Vietnã, etc), tendo produzido movimentos nacionalistas fortes, sob a condução ou da 110

burguesia nacional ou da pequena burguesia revolucionária ou do partido marxista (Vigevani, p. 208).

A ênfase econômica nas relações multilaterais, constante desde 1964, mas evidenciada a partir da década de 70, é resultado da “compreensão de parte das esferas dirigentes de que a lógica capitalista, pelo livre fluxo de capitais, de mercadorias, de tecnologia, não corresponde sempre e sob a forma estipulada pelas forças hegemônicas aos interesses das próprias classes dominantes dos países pobres” (idem, p. 210). Tanto a Nomic quanto a Nova ordem econômica internacional (Noei) são expressões de “um perído transitório no qual as velhas relações (políticas e econômicas) entre os Estados e os povos estão em crise mas, ao mesmo tempo, as estruturas internas de cada país ainda não permitem uma reformulação radical das velhas relações. (...) esta formulação não prescinde da eventual discussão a respeito da qualidade do uso da comunicação da parte do Estado, mesmo nos países onde não mais existe a propriedade privada” (idem, p. 207). Neste cenário, observa Tullo Vigevani (p. 215) o debate sobre a dependência no campo da informação, tanto no âmbito das relações Leste-Oeste quanto das relações Norte-Sul, obedecia a motivações diferenciadas: • “a busca de criação de instrumental técnico e político para o rompimento do isolamento no campo da informação, seja receptiva, seja transmissiva”; • “o interesse governamental pela melhoria da própria imagem no exterior, às vezes prejudicada pelas grandes agências de notícias (UPI, AP, Reuter, AFP)”; • “o interesse da própria burocracia internacional na implementação de uma nova área de atuação”; • “possibilidades de utilização de tecnologias intermediárias e de ponta desenvolvidas pelos países em vias dedesenvolvimento, ou ainda a utilização da tecnologia dos países capitalistas desenvolvidos”. O autor lembra que os “modernos sistemas de comunicação, com emprego de satélites e de sofisticados meios eletrônicos, não são neutros. É, pois, natural que, além do estudo da viabilidade de utilização de técnicas desenvolvidas pelos próprios países em vias de desenvolvimento, a aquisição nos países capitalistas centrais da tecnologia necessária se faça estabelecendo a condição de transferência plena do ciclo tecnológico” (idem, p. 211). Para Rafael Roncagliolo (1982), uma discussão sobre a Nomic não pode deixar de levar em conta a pluralidade dos atores que intervêm nas relações internacionais, o duplo nível discursivo e prático em que se processam as suas defesas e “a natureza política (antes que acadêmica) e aberta ao debate (antes que definidora)” da maioria dos seus documentos “oficiais” (p. 194). Roncagliolo alerta que “os documentos em que estão contidas as idéias matrizes da Nomic são como atas do estado de confrontação e não, de modo algum, análises científicas ou plataformas sistemáticas” (p. 198). Durante dez anos, o debate em torno dessa "nova ordem" envolveu pelo menos 42 países, que sediaram e/ou organizaram cerca de 50 encontros de nível intergovernamental e 44 eventos promovidos por organizações não-governamentais e associações profissionais. O levantamento histórico desse período, publicado pela Unesco na série Communication and Society, teve como

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ponto de partida um seminário organizado por jornalistas do “terceiro mundo”, em setembro de 1975, em Nova York, que pela primeira vez apontou a necessidade de um esforço conjunto para o alcance dos objetivos da Nova Ordem Econômica Mundial no campo da informação e da comunicação. Em março de 1976, o 1º Simpósio dos Não-alinhados sobre Informação formulou a expressão "nova ordem internacional de informação e de comunicação", promulgada pela Unesco sete anos depois como an evolving and continuous process. A percepção de que a reformulação da estrutura de informação transnacional era um passo fundamental para a afirmação da soberania política e a luta pela libertação econômica foi explicitada em maio de 1976, no seminário O papel da informação na Nova Ordem Internacional, realizado na Cidade do México. A atual ordem de informação torna impossível uma real compreensão entre as pessoas já que a informação é usada como mais um instrumento de dominação e é um reflexo da estrutura de poder transnacional agindo no interior da maioria dos países da periferia. A informação internacional é dominada por um reduzido número de mídias que observam, avaliam, selecionam e transmitem as notícias como uma função dos interesses comerciais e políticos dos seus países de origem. As notícias se tornaram simples mercadorias a serem vendidas de acordo com a "lógica" do mercado dominante e, assim, não podem refletir as realidades histórica, cultural e política que dão aos fatos sua real dimensão. Dessa maneira, sua utilização política é camuflada sob a capa de argumentos "comerciais". Assim emerge uma verdadeira "pobreza informativa" em meio a uma crescente qualidade da informação disponível. Quanto mais se sabe, menos se é compreendido. Desinformação, distorção, superavaliação de fatos insignificantes e o silêncio em torno das situações comprometidas com os interesses do Establishment são o resultado inevitável (Unesco, p. 23).

Nas conclusões do seminário, a informação foi tratada como um produto social, e não comercial, que deve servir para que os cidadãos obtenham total compreensão dos processos econômicos e políticos, dos conflitos nacionais e internacionais, tornando-se capazes de participar dos processos de tomada de decisão. "A informação é, ao mesmo tempo, uma necessidade social e um elemento essencial ao pleno exercício dos direitos humanos", devendo ser um instrumento de libertação do etnocentrismo dominante. Os participantes do evento recomendaram o reconhecimento e o estímulo às atividades de instituições não-governamentais e de organizações no campo da informação que atingiram a capacidade de avaliar a realidade dos problemas latino-americanos “de uma maneira diferente”. Pregaram, também, o estabelecimento de novos conceitos e valores no campo da informação nos países dependentes contra a imposição dos novos conceitos de seleção de fatos e de um modelo de transmissão veloz baseado na estrutura dominante nos países centrais. Para isso, seria necessário “mudar a cultura informativa” das populações periféricas, acelerando a reformulação dos conteúdos e das atitudes expressas no campo da informação, tanto no centro quanto na periferia. Seria preciso, ainda, criar um código ético geral para orientar a conduta daqueles que selecionam e disseminam informação.

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A pesquisa histórica dos eventos que trataram de uma nova ordem de informação e comunicação, no período de 1975 a 1986 (a cargo do Instituto de Países em Desenvolvimento de Zagreb, Iugoslávia, que já possuía um sistema sólido de intercâmbio entre países não-alinhados e em desenvolvimento no campo da documentação em Ciências Sociais), permite traçar um quadro das grandes preocupações políticas, econômicas e sociais que marcaram os "anos 70" da informação e da comunicação (no sentido da dinâmica histórica, não da demarcação temporal, como prega Frederic Jameson, 1991). 1. reversão do desequilíbrio no fluxo mundial de informações através da cooperação equitativa entre os países na esfera da informação pública em de inciativas como: a criação de um pool de agências nacionais de notícias de países não-alinhados; de um centro de informação para disseminar informações do “terceiro mundo”, tanto nos seus próprios países quanto nos países industrializados; atualização e aceleração do processo de integração das redes de microondas e/ou de rádio no continente latino-americano; a participação dos países da região nas comunicações por satélite a nível mundial e a preparação de um código para regular a conduta dos países usuários; reorganização dos canais de comunicação ainda dependentes ou contendo elementos da herança colonial que pudessem servir de obstáculo à comunicação direta e rápida entre os países nãodominantes26, entre outras; 2. afirmação da soberania nacional no provimento dos meios de informação e de comunicação e coordenação dos setores privados e multinacionais de informação visando a políticas mais eficientes de produção, armazenamento e disseminação de informação científica e tecnológica; inclusão dos setores de informação e de comunicação no planejamento do desenvolvimento econômico e social; definição das responsabilidades sociais dos setores público e privado no uso da comunicação de massa; garantia de participação e acesso dos vários setores da comunidade no processo de comunicação, bem como da multiplicidade de fontes de informação como elemento essencial da liberdade de informação; aceleração da alfabetização das populações e promoção das línguas nacionais, entre outros; 3. criação da “maquinaria” necessária para a geração eficaz de informação e a rápida circulação de mensagens em âmbito nacional, regional e mundial; 4. implementação de programas nacionais e regionais de treinamento de recursos humanos capazes de trabalhar na formulação de políticas, na pesquisa, no planejamento e na execução de projetos de comunicação de massa; Nesse campo, a conferência internacional Sobre uma nova ordem mundial da informação: consequências para a política do desenvolvimento (Alemanha, 1978) listou sete projetos de treinamento avançado e básico e de planejamento em documentação e informação, envolvendo a Associação de Agências de Notícias do Oriente Médio (Cairo), a Federação das Agências de Notícias Árabes (Beirute), o Centro Asiático de Informação e Pesquisa em Comunicação de Massa (Cingapura), a Fundação de Mídia da África, a Agência de Notícias do Caribe, a Liga de Estados 26

Os representantes dos 20 países participantes da Conferência Intergovernamental sobre Políticas de Comunicação na América Latina e Caribe, realizada em julho de 1976, em San Jose, Costa Rica, reconheceram as dificuldades derivadas das diferentes posições políticas existentes na região em relação à liberdade de expressão e direito à informação. 113

Árabes e a Comissão Econômica da ONU para a África. Neste evento, já aparecia a preocupação com o intercâmbio Norte-Sul, com a disseminação de conhecimento (não apenas de informação) e com a relevância da pesquisa aplicada sobre sistemas de informação do “terceiro mundo” que pudesse contribuir para o uso racional dos escassos recursos financeiros, de equipamentos e de especialistas. A importância do determinante econômico na discussão da nova ordem informativa aparece não só na expressão "economia da comunicação" como nas discussões sobre políticas, processos e sistemas de comunicação, nas quais são avaliados fatores como capacidade, facilidades e disponibilidade de meios de comunicação em geral e de meios de comunicação de massa em particular. Dada a velocidade das transformações provocadas pelas então tecnologias emergentes de satélites, de informática e de redes de telecomunicações, a visão crítica em relação aos excluídos do progresso técnico-científico incorpora as idéias de treinamento de recursos humanos, de competências (expertise) e de transferência de tecnologias como instrumentos emancipatórios a serem agregados à educação e ao intercâmbio cultural. Vinte anos depois da formulação oficial da nova ordem de informação e de comunicação pela Unesco, constata-se que a maioria dos países não honrou os compromissos assumidos por seus governos naquelas dezenas de encontros, cujas bandeiras estão agora nas mãos das organizações e movimentos sociais que integram os fóruns regionais e nacionais “pela democratização da comunicação”. A tese da eqüidade informativa e do “igualitarismo comunicacional” entrou para o reino das utopias, segundo Armand Mattelart (1994), um dos principais pensadores do “campo de observação científica” circunscrito pela comunicação internacional e suas representações. Doze anos antes, ele chamara a atenção para as mudanças que então começavam a acontecer. Todas as tecnologias de comunicação, desde o telégrafo até a televisão, chegavam à América Latina e aos países periféricos tempos depois que seus modelos de implantação já tivessem amadurecido nos países centrais. Agora, as novas tecnologias de comunicação chegam quase contemporaneamente aos países latino-americanos e aos países centrais. Isto muda totalmente as regras do jogo e as regras que deveriam guiar as estratégias para impedir que certo tipo de remodelamento dos sistemas de comunicação ocorra (Mattelart, 1982, p. 100).

Paralelamente a essa reestruturação dos sistemas de comunicação capitalista, ocorria “um imenso movimento de comunicação popular”, através das comunidades eclesiais, dos grupos que lutavam na clandestinidade ou na semiclandestinidade no Cone Sul, da descentralização da TV a cabo no México, que para Mattelart significavam o amadurecimento de “uma outra posição estratégica no campo das técnicas de comunicação”. Lembrando Gramsci, que defendia a necessidade de se entender a luta política como uma guerra de posições, o autor considerava que era preciso “buscar novas estratégias políticas que enriqueçam e restituam ao povo seu lugar na luta que parte da sociedade civil” (idem). Antes, tivemos concepções da luta contra o aparato de comunicação que seguiam as estratégias sindicais. Ou as estratégias que correspondiam à noção de partido. O partido, criado para tornar-se o aparato estatal; o sindicato, para preocupar-se com o campo da produção. O que é novo nesta estratégia de guerra de posições é que, a partir do campo da sociedade civil, se tenta obter repercussões no aparato de estado. É uma 114

nova concepção política, uma nova concepção do que deve ser o enfrentamento no campo da comunicação (Mattelart, 1982, p. 100).

Esta nova estratégia implica interrogar os modelos de desenvolvimento, contrapondo-se ao postulado moderno segundo o qual o progresso das forças produtivas é sinônimo de progresso social e à noção de que as forças produtivas são elementos essenciais de uma “revolução das atitudes”. Neste campo, é fundamental questionar o papel dos técnicos e profissionais de comunicação na conformação dos modelos de desenvolvimento, que tanto podem ter facetas progressistas quanto tecnocráticas, ora aliando-se às classes trabalhadoras, ora às esferas de poder. _____________________ Referências: BELTRÁN ,

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2.5 Contexto pós-moderno? Segundo Lyotard (1987), a expressão "pós-modernismo" foi inicialmente empregada em oposição ao movimento modernista nos campos das artes plásticas e da literatura (1910-1945), referindo-se, particularmente, à crítica da hegemonia concedida à geometria euclidiana na arquitetura moderna e à sua pretensão de emancipadora da humanidade (p. 93). Posteriormente, o termo passou a ter conotação de uma crítica radical ao projeto moderno nas grandes expressões do pensamento: arte, literatura, filosofia e política. Tal crítica partiu da observação da queda de confiança dos ocidentais no princípio do progresso geral da humanidade, formalizado na Declaração dos Direitos Universais, marco da Revolução Francesa. "Esta idéia de um progresso possível, provável ou necessário enraizava-se na certeza de que o desenvolvimento das artes, da tecnologia, do conhecimento e das liberdades seria proveitoso à humanidade no seu conjunto" (p. 95). Pensadores, artistas e políticos de todas as tendências nutriam a mesma crença de que "as iniciativas, as descobertas, as instituições só têm alguma legitimidade se contribuírem para a emancipação da humanidade" (idem). Porém, "nem o liberalismo, econômico ou político, nem os diversos marxismos saem destes dois séculos sangrentos sem incorrerem na acusação de crime contra a humanidade" (idem). A modernidade, mais do que um período delimitado por datas, é um modo de pensamento e de ação marcado por grandes discursos (Foucault) ou metanarrativas (Lyotard) emancipadoras: emancipação progressiva da razão e da liberdade, da ignorância e da servidão pelo conhecimento e o igualitarismo (narrativa liberal); emancipação da exploração e da alienação pela socialização do trabalho (narrativa marxista); emancipação da pobreza e enriquecimento da humanidade inteira através dos progressos da tecnociência e do desenvolvimento tecno-industrial (narrativa capitalista); redenção do pecado original (de Adão e Eva) pela conversão das almas ao amor mártir (narrativa cristã). Apesar de não serem mitos, no sentido das fábulas, essas narrativas têm como finalidade legitimar instituições, práticas sociais e políticas, legislações, éticas e maneiras de pensar. Mas, ao contrário dos mitos, não procuram essa legitimidade num ato original fundador e sim numa idéia a realizar (de liberdade, de socialismo etc). Seu valor legitimante está associado à universalidade que

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orientaria todas as realidades humanas, resultando em consenso, unidade sócio-cultural etc (idem, p. 31-38). Na tradição da modernidade, o movimento de emancipação implica a existência de uma vanguarda emancipadora (os iluminados) que acaba por tomar parte na comunidade de sujeitos que pretende libertar. O lugar da pessoa está efetivamente marcado nesta tradição como o do domínio da palavra e do sentido: que o povo tome a palavra política, o trabalhador a palavra social, o pobre a palavra econômica, que o singular se apodere do universal e que o último se torne também o primeiro (p. 39).

Enquanto Habermas advoga que esse projeto moderno de realização da universalidade ficou inacabado e precisa ser retomado e renovado, Lyotard argumenta que tal projeto foi simplesmente destruído, "liquidado". "O domínio do sujeito sobre os objetos obtidos pelas ciências e pelas tecnologias contemporâneas não se faz acompanhar nem por mais liberdade, nem por mais educação pública, nem por mais riqueza melhor distribuída. Faz-se acompanhar por mais segurança nos fatos" (p. 32). O "povo", que se tornara fonte de legitimidade na história moderna a partir de 1792, começa a perder esta condição com os crimes de lesa-soberania cometidos pelo nazi-facismo e pelo estalinismo. Mas o declínio das grandes narrativas modernas "não impede que milhares de histórias, umas pequenas e outras não, continuem a ser a trama da vida cotidiana" (p. 33). Lyotard indaga então: "poderemos hoje continuar a organizar a multiplicidade de acontecimentos que nos chegam do mundo, humano e não humano, colocando-os sob a Idéia de uma história universal da humanidade?" (p. 37). Em A condição pós-moderna – livro resultante de um relatório sobre o saber nas sociedades mais desenvolvidas, encomendado pelo Conseil des Universités do governo de Quebec, Canadá27 –, Lyotard procurou apontar "os signos que indicam um movimento contrário", um refluxo nas idéias emancipadoras que marcaram as produções artísticas e intelectuais e os movimentos políticos do século XIX a meados deste século. Já em O pós-moderno explicado às crianças (coletânea de cartas enviadas a diversos interlocutores), ele detecta "uma espécie de tristeza" que se expressa através de atitudes reativas, reacionárias ou utópicas, mas sem apresentar positivamente uma nova perspectiva. O "pós-modernismo" seria, então, uma grande narrativa da decadência das metanarrativas modernas, marcada pelos grandes acontecimentos do século XX que encerram refutações: a irracionalidade do massacre de Auschwitz refuta a doutrina especulativa do "tudo o que é racional é real e o real é racional"; da Berlim de 1953 à queda do muro em 1989, o desenrolar dos fatos na Europa Oriental refuta a doutrina materialista histórica do "tudo o que é proletário é comunista"; Maio de 68 refuta a doutrina do liberalismo político do "tudo o que é democrático é pelo povo"; e as crises de 1911, 1929 etc refutam a doutrina do liberalismo econômico do "tudo o que é livre jogo de oferta e procura é propício ao enriquecimento geral" (1987, p. 42). O discurso pós-moderno se caracteriza pela renúncia à unanimidade (fala-se agora em heterogeneidade dos jogos de linguagem) e, ao mesmo tempo, pela resistência à diversidade insuperável das culturas; pela dissipação do horizonte universal de emancipação e pela perda do 27

Ver em Mattelart, Comunicação-mundo (1994). 117

sujeito a quem este horizonte estava prometido; pela rejeição às vanguardas e pela deslegitimação das instituições modernas (Estado, escola, igreja, legislativo, burocracia etc); pelo domínio da incerteza e da controvérsia. "O que está em causa aqui é a contingência do encadeamento na situação [de] enfraquecimento da modernidade. Diversas maneiras de encadear são possíveis, e é preciso decidir. (...) sob o termo pós-modernidade as perspectivas mais contrárias podem achar-se reunidas" (idem, p. 43-44). Para Lyotard, a humanidade divide-se, hoje, em duas partes: uma defronta o desafio da complexidade, a outra o antigo e terrível desafio da sua sobrevivência. É nessa contradição que reside, talvez, o principal aspecto do fracasso do projeto moderno (idem, p. 97). O desenvolvimento das tecnociências tornou-se um meio de aumentar o mal-estar, e não de o apaziguar. Já não podemos chamar progresso a este desenvolvimento. Parece continuar-se a si próprio, através de uma força, uma motricidade autônoma, independente de nós. Não responde às solicitações que têm origem nas necessidades do homem. Pelo contrário, as entidades humanas, individuais ou sociais, parecem sempre desestabilizadas pelos resultados do desenvolvimento e suas conseqüências. (...) não apenas os resultados materiais, mas também intelectuais e mentais (idem, p. 96).

Se por um lado a tecno-ciência realiza o projeto moderno de domínio da natureza pelo homem, por outro traz à tona a imbricação do sujeito humano e do objeto que ele estuda e transforma: "o termo natureza inclui todos os constituintes do ser humano - seu sistema nervoso, seu código genético, seu computador cortical, seus captores visuais e auditivos, seus sistemas de comunicação, suas organizações da vida em grupo etc. (...) os objetos têm linguagens e conhecê-los é poder traduzí-los. Daí a imanência da inteligência às coisas. (...) Cai lentamente em desuso a representação da ciência que os sábios têm. O homem talvez seja apenas um nó muito sofisticado na interação geral das irradiações que constitui o universo" (idem, p. 34). Confessando um exagero cometido no seu livro de 1979, Lyotard (sem citar Foucault, que pensava de forma semelhante) procura distinguir narrativa de conhecimento, frisando a existência de diferentes regimes (conjuntos de regras) de frases e gêneros de discursos. A narrativa do historiador está submetida quase às mesmas regras de estabelecimento da realidade do que a do físico. Mas a história é uma narração que tem ainda por cima a pretensão de ser uma ciência, e não simplesmente um romance. Em contrapartida, a teoria científica não tem em princípio a pretensão de ser narrativa (embora a astrofísica contemporânea conte com gosto a história do cosmos desde o Big Bang) (idem, p. 33).

Nos limites daquilo que se define como ciência desde Galileu, "podemos chamar razão ao conjunto de regras que um discurso deve respeitar se visa conhecer e fazer conhecer um objeto (o seu referente)" (idem, p. 75). Para Lyotard, é o estatuto dessas regras - e não as mudanças de conteúdo provocadas pelas novas variáveis empíricas - que está sendo questionado junto com a crítica à modernidade. Enquanto a metafísica ditava as regras no classicismo e a racionalidade crítica na modernidade, o estatuto empírico-crítico ou pragmático é que parece estar regendo a pósmodernidade. O estatuto assim atribuído à razão vem diretamente da ideologia tecnicista: dialética das necessidades e dos meios, indiferença quanto à origem, postulado de uma capacidade infinita de "novo", legitimação através do mais-poder. A razão científica não

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é questionada segundo o critério do verdadeiro ou do falso (cognitivo), sobre o eixo mensagem/referente, mas segundo a performatividade dos seus enunciados, sobre o eixo destinador/destinatário (pragmático). Aquilo que eu digo é mais verdadeiro do que aquilo que você diz, visto que, com o que eu digo, posso "fazer mais" (ganhar mais tempo, ir mais longe) do que você com o que diz. Uma conseqüência trivial desta deslocação é que o laboratório melhor equipado tem melhores hipóteses de ter razão. A razão verdadeira será a do mais forte? (idem, p. 77)

No cenário clássico, o sábio era a figura de uma vocação; no cenário da decadência moderna o cientista é um profissional em vias de desprofissionalização. Para Lyotard, esta ruína da profissão cognitiva é semelhante à vivida pela profissão de tecelão no século XIX. Hoje, que ofício teria mais legitimidade, o de conhecer ou o de fabricar têxtil sintético? "O trabalhador científico "conheceria" para ganhar a sua vida, o patrão "faria conhecer" para enriquecer" (idem, p. 78). A esta visão cética, aparentemente niilista, mas que não rompe com a “Constituição do moderno”, Latour propõe uma outra negação: se os postulados da modernidade falharam, então nunca fomos modernos. Resta então olhar a crítica além do sintoma chamado “pós-moderno”, de modo a reconhecer todos os híbridos de natureza e cultura que aí se escondem. Tanto os anti-modernos quanto os pós-modernos aceitaram o terreno dos seus adversários. Um outro terreno, muito mais vasto, muito menos polêmico, encontra-se aberto para nós, o terreno dos mundos não modernos. É o Império do Centro, tão vasto quanto a China, tão desconhecido quanto ela (Latour, 1994, p. 52). _________________ Referências: LATOUR,

Bruno. Jamais fomos modernos. Rio de Janeiro, Ed.34, 1994. 150 p.

LYOTARD,

Jean-François. O pós-moderno explicado às crianças. Lisboa, D.Quixote, 1987.128 p.

____________________. O pós-moderno. Rio de Janeiro, José Olympio, 1988. 3ª ed. 123.

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3. O terceiro setor A idéia de um terceiro setor provoca a imaginação a inventar outras figuras. Imaginar, por exemplo, uma dinâmica da vida pública que se dê entre três pólos, que não se sobrepõem e que a um tempo se opõem e se atraem (Fernandes, R. C., 1994, p. 20).

Estado, mercado e sociedade civil. Esta é a relação triangular que vem emergindo de algumas discussões teóricas travadas no âmbito das ciências sociais, desde o final da década de 80, sobre as novas práticas políticas em contextos democráticos e os caminhos para o desenvolvimento no quadro das desigualdades mundiais. Com um enfoque diferente do que marcou as primeiras eras das ciências sociais, nos séculos XVIII e XIX, a noção de "sociedade civil" vem sendo retomada particularmente em alguns trabalhos sobre a transição do autoritarismo para a democracia na América Latina, nos quais se constata uma crescente confiança da sociedade nas formas de negociação direta para defesa de seus interesses, em resposta à crise da representação. Mas sua importância cresce ainda mais diante das transformações radicais no mundo socialista e da constatação de que nem mesmo as sociedades ocidentais avançadas encontraram a "fórmula mágica para a estabilidade social" (Wolfe, 1992, p. 19). É nesse contexto que começam a ser notados novos "grupos de pressão" e organizações de interesses não diretamente vinculados ao capital ou ao trabalho, cujas demandas não dependem especificamente do setor público, no sentido do Estado, ou do setor privado, no sentido do mercado, mas muitas vezes de ambos. Exemplos típicos são as pressões exercidas pelos grupos ambientalistas e as entidades de defesa dos consumidores sobre governos e empresas. Porém, em sociedades cujo problema principal ainda é a superação da fome, o controle de doenças e a criação de infra-estrutura para a satisfação de necessidades básicas, a idéia de "sociedade civil organizada" para o exercício da cidadania ainda está associada à utopia emancipadora da modernidade. Neste caso, uma pequena parte da sociedade se organiza, não para defesa de seus interesses diretos, mas para se constituir como intermediária de uma população excluída dos projetos políticoeconômicos dominantes. Entidades filantrópicas, associações de voluntários, "movimento negro", "movimento dos meninos e meninas de rua", associações de moradores de bairros e favelas são alguns exemplos de grupos que procuram influir (através de pressão sobre políticos, técnicos e dirigentes de órgãos governamentais) na formulação e implementação de políticas públicas que tragam benefícios de amplo alcance social (saúde, educação, saneamento básico, transportes etc). Quando os interesses desses grupos extrapolam o ambiente micro das comunidades e populações locais, as pressões passam a ser exercidas sobre os projetos de desenvolvimento, não apenas em nível nacional, mas também sobre as formulações ditadas pelos organismos multilaterais (Banco Mundial, Unesco, empresas transnacionais, "Grupo dos Sete" etc). É nesse contexto que as chamadas ONGs - "organizações não-governamentais" vêm progressivamente tentando diluir a sua contradição intrínseca, ao mesmo tempo em que buscam diferenciar-se das instituições filantrópicas tradicionais e dos movimentos sociais e populares dos quais são parceiras. A literatura sobre essas

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organizações reflete a ordem mundial vigente ao falar em ONGs do Norte (Nongos) e ONGs do Sul (Songos) e ao contrapor as agências de voluntários locais (Volags) às organizações com atuação transnacional (Trangos). Mas deixa em aberto muitas questões relativas à teoria do Estado, à teoria do desenvolvimento e à nova teoria da sociedade civil. O desenvolvimento, por ser um campo onde Estado e mercado se confrontam, tem sido abordado preferencialmente pela economia política, enfatizando a economia global, o sistema financeiro internacional, as organizações transnacionais e o Estado burocrático-autoritário (Wolfe, 1992). Nesse terreno, a teoria da dependência e as abordagens centradas na sociedade costumam ser rejeitadas sob a acusação de reducionismo, sobretudo no que se refere à noção de autonomia do Estado. Em geral, os autores que abordam esse aspecto – inclusive os neomarxistas – não costumam considerar a existência de um ator social independente de classes e de organizações corporativas capaz de intermediar interesses frente ao Estado. O "suporte social" ou a "enorme oposição" a que se referem dizem respeito aos atores ligados ao capital e ao trabalho (entidades patronais e de empregados), à manifestação institucionalizada dos cidadãos eleitores, à relação com os partidos políticos e ao grau de engajamento das elites políticas e da burocracia estatal no projeto político vigente, como se estas esgotassem todas as formas de interesse em relação ao Estado. O conceito de mercado, que pretende abranger uma ampla variedade de práticas econômicas, também não dá conta da complexidade do comportamento humano em coletividades. São os teóricos da sociedade civil que começam a chamar a atenção para a série de aspectos e práticas informais que desempenham papéis cruciais na economia política das sociedades avançadas, a partir da família, da vida religiosa e do trabalho voluntário. Quando, por exemplo, as famílias estruturadas assumem como obrigação moral cuidar dos seus membros dependentes (crianças, jovens, velhos, doentes, inválidos), reduzem-se as pressões sobre as políticas de bem-estar social (públicas e privadas). Por outro lado, num contexto de internacionalização da economia e globalização da política, a pressão para o fornecimento dos serviços essenciais à comunidade (ou o controle da sua qualidade e abrangência) se desloca dos governos nacionais para os governos locais, provocando uma relativa descentralização territorial (o controle dos recursos militares, por exemplo, permanece centralizado). Ao mesmo tempo, certas sociedades apresentam alto grau de mobilização voluntária em situações emergenciais, como aconteceu em Miami, em setembro de 1992, quando comitês de ajuda às vítimas do furacão Andrew foram imediatamente organizados para intermediar a ação governamental e a colaboração do setor privado, permanecendo ativos nos quatro meses seguintes. Ou seja, a descoberta da sociedade civil como uma alternativa para o mercado e o Estado resolve alguns problemas, mas acrescenta novas perspectivas aos antigos (Wolfe, 1992, p. 21-22). Cada vez mais chegamos a reconhecer que nem os mercados nem o Estado existem em um vácuo moral. Os mercados funcionam por causa das relações de confiança e entendimento contratual, que pressupõem relações sociais já existentes. Os Estados funcionam porque expectativas em comum e legitimidade normativa criam pressupostos simplesmente aceitos, sem os quais qualquer política se tornaria impossível. Na medida em que se reconhece a importância da sociedade civil, torna-se necessário estabelecer os limites reais para a expansão tanto dos mercados quanto dos Estados (idem, p. 22).

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Nos países capitalistas avançados, a relação entre sociedade civil e desenvolvimento se reflete no dilema entre tradição e modernização, liberdade de escolha e solidariedade, comunidade e sociedade. Mas, como argumenta Wolfe, todas as formas de desenvolvimento – econômico, político e social – se referem à possibilidade de escolher. Para os economistas, as escolhas revelam preferências por certos locais de moradia, tipo de comércio, facilidades de acesso ao trabalho etc. Já a escolha política é freqüentemente identificada com o voto e o exercício da cidadania, dentro de uma perspectiva democrática (idem, p. 27). Nos países pobres, porém, onde apenas uma pequena parcela da população usufrui, de fato, o seu direito de escolha, a relação entre sociedade civil e desenvolvimento se reflete na contradição entre a aparência moderna das grandes cidades e trabalhadores rurais semi-escravos; entre o direito de escolha e as poucas possibilidades de escolha; entre as tradições locais e a perspectiva global apresentada pelo "primeiro mundo". Diante de tamanha diversidade, a exploração do conceito de sociedade civil trouxe problemas metodológicos imediatos; a noção de escolha racional parecia inadequada para descrever um mundo no qual as pessoas têm uma variedade de motivações, expectativas e normas; em consequência, os modelos de precisão matemática baseados em leis rígidas de comportamento e na previsibilidade das questões humanas passaram a ser rejeitados pelos teóricos interessados em não perder de vista a "lógica confusa" e a imprecisão ambígua que caracterizam o comportamento da sociedade civil. "Um modelo científico leve de comportamento social parece corresponder melhor ao "terceiro caminho" da sociedade civil do que um modelo científico pesado" (Wolfe, 1992, p. 21). Desde a década de 70, a relação entre o Estado e o desenvolvimento econômico e social vem sendo repensada em diversos estudos comparativos (sincrônicos e diacrônicos) que procuram compreender a sociedade e o Estado como sistemas dinâmicos, não universalizáveis e de previsibilidade relativa. As revisões de literatura e estudos de caso realizados nessa nova perspectiva desde meados da década de 80 costumam demarcar as diferenças entre as análises centradas na sociedade e as centradas no Estado, a partir da crítica às correntes de pensamento que dominaram a ciência política e as ciências sociais nas décadas de 50 e 60: estruturalismo, funcionalismo, pluralismo, marxismo, neomarxismo e teoria da dependência. Para autores como Michael Mann, essas são "visões reducionistas" que vêem o Estado predominantemente como um lugar, uma arena, na qual a luta de classes, os grupos de interesses e os interesses individuais (ou a "vontade geral", na visão de alguns funcionalistas) se expressam e se institucionalizam. Duas tendências principais despontam das atuais pesquisas sobre o Estado nos contextos sociais domésticos e transnacionais: a discussão sobre a "autonomia do Estado" e a "capacidade do Estado" como atores que buscam efetivar objetivos políticos; e as argumentações sobre o impacto dos estados sobre o conteúdo e a condução das políticas públicas (Skocpol, 1985). Nessas grandes linhas trava-se uma batalha teórico-conceitual em torno das funções do Estado e das pessoas que nele exercem o poder (elites estatais), das origens e dimensões de poder do Estado, dos mecanismos que explicam as variações e o grau de autonomia desse poder (Mann, 1986). Estudos dentro dessas linhas também se interessam pela influência dos atores privados sobre a definição das preferências das elites estatais que orientam a definição das políticas públicas

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(Nordlinger, 1987) e pela monopolização do espaço político por instituições especializadas (Crouch, 1986). Uma outra corrente da ciência política, porém, vem chamando a atenção para a relação existente entre crise econômica e crise do estado, particularmente na América Latina. Para Francisco Weffort (1992), o Estado latino-americano vive, hoje, talvez a mais grave crise da sua história, que atinge não só o conjunto da sociedade e da economia, mas o próprio sistema político, ou seja, o conjunto das instituições (partidos, parlamento, lideranças etc) que definem as condições de governabilidade de um país (idem, p. 35). O que parece estar em jogo, por essa ótica, é a capacidade do Estado de controlar algumas das suas funções clássicas na economia, bem como outras relativas à segurança dos indivíduos e à coesão da sociedade. Ao mesmo tempo em que cresce em todo o continente a participação política individual, através do voto, surgem, "em vários países, novas formas de participação política fora dos marcos institucionais prevalecentes, pressionando o Estado no sentido da ampliação da democracia" (idem, p. 37). Neste contexto, chama a atenção o crescimento dos movimentos sociais, particularmente os de base popular, e a expansão da capacidade de organização corporativa e civil. Paralelamente, no plano econômico somam-se os fracassos dos choques heterodoxos, dos tradicionais intervencionismos do Estado na economia e das políticas neoliberais, enquanto crescem a desigualdade de rendas e a violência organizada, num evidente processo de “degenerescência social e política” (idem, p. 40). Para Weffort, a incapacidade de os Estados latino-americanos combaterem eficazmente a crise econômica está relacionada a uma crise de governabilidade causada basicamente por três fatores: fracasso dos governos de transição ao tentar assegurar sua continuidade política; dificuldades dos partidos em manter sua dupla função de eleger governos e de organizar governos; perda de prestígio da atividade política, com descrédito de partidos e políticos tradicionais (idem, p. 41). Entre os pesquisadores de ciências sociais, as relações entre economia e política têm seguido três pontos de vista principais: a democracia cresceria em um contexto de crise econômica por causa da crise; a democracia cresceria apesar da crise e o crescimento da democracia política já estaria econtrando seu limite na economia (idem, p. 43). Outros preferem dar mais ênfase às profundas mudanças provocadas pela transnacionalização da economia, que vem se desenvolvendo desde o fim da Segunda Guerra, abalando tanto o Estado de Bem-Estar americano e europeu quanto o "estado do mal-estar" latino americano (como diria o economista do Cebrap Franscisco Oliveira). Hoje, a maior parte das empresas transnacionais é mais poderosa do que a maior parte dos Estados existentes na América Latina; "o Estado-nação já não pode ser visto como o espaço territorial privilegiado do desenvolvimento econômico", seja ele do tipo liberal ou desenvolvimentista (Weffort, p. 46). Nesse contexto, diversas organizações da sociedade civil não diretamente vinculadas ao capital e ao trabalho vêm ocupando o vácuo deixado pelo Estado nas suas funções de integração social e política, promoção da cidadania e viabilização da participação democrática. Assim, parte da sociedade passa a se fazer representar em seu próprio nome quando não reconhece seus representantes enquanto tais: "em sociedades vivendo em situação de apartheid,

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a democracia, mais do que mera forma política, torna-se também um caminho de construção (ou de reconstrução) da sociedade" (idem., p. 49). Uma nova onda de movimentos democráticos que atravessa a África, Ásia e América Latina está demandando um outro tipo de desenvolvimento. Através de organizações de cidadãos, milhões de ambientalistas, agricultores, mulheres e trabalhadores estão dizendo que querem definir e controlar seus próprios futuros. Eles estão começando a cria as bases para um novo tipo de desenvolvimento nos anos 90 – que enfatize a sustentabilidade ecológica, a eqüidade e a participação, além do aumento dos padrões da vida material (Broad et alli, 1990, p. 145).

O “terceiro setor” vai ganhando, assim, contornos de um conceito que “denota um conjunto de organizações e iniciativas privadas que visam à produção de bens e serviços públicos” e que implica uma “expansão” da idéia corrente sobre a esfera “pública”, não mais restrita ao âmbito do Estado, às ações de governo, pois inclui a atividade cidadã (Fernandes, R. C., 1994, p. 22). Ou, mais ainda, um conceito que pode até supor a existência de mais duas “esferas”: a do “estatal-privado”, na qual as empresas e corporações geralmente situados no interior do Estado encontram sua racionalidade substancial na mesma “lógica” da defesa de interesses particulares, econômicos ou setoriais; e a do “social-público”, da qual emergem as instituições e movimentos que, embora formalmente privadas, perseguem objetivos sociais através da articulação de um espaço público não-estatal (Franco, A., 1994, p. 10). Para Rubem César Fernandes, a idéia de terceiro setor deriva da abertura a uma “alternativa lógica”, que pode ser idealmente concebida como uma entre as quatro combinações resultantes da conjunção entre o “público” e o “privado”: agentes

fins

setor

privados

para

privados

mercado

públicos

para

públicos

Estado

privados

para

públicos

terceiro setor

públicos

para

privados

(corrupção)

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17-34.

3.1. O “fenômeno” ONGs No contexto do terceiro setor, as organizações não-governamentais e sem fins lucrativos que se enquadram na sigla “ONG” poderiam ser analisadas, então, como integrantes de uma ordem associativa potencialmente autônoma em relação às regras do mercado e ao padrão normativo do Estado, embora eventualmente dependentes de interesses particulares de parcelas da sociedade civil (igrejas e movimentos populares, por exemplo). Sua diferença em relação às organizações corporativas seria demarcada pela adoção da defesa tópica de interesses, e não da representação dos interesses de categorias funcionais, classes sociais ou ideologias, e pela ênfase nas contribuições voluntárias, tanto financeiras quanto operacionais, em vez da filiação compulsória. Isto contribui significativamente para a autonomia das ONGs face ao Estado, mesmo nos países em que sua atuação é submetida a um aparato legal. O grau dessa autonomia varia conforme as circunstâncias políticas dos regimes nacionais e do poder local das regiões em que atuam, da sua capacidade de neutralizar as pressões dos agentes financiadores e, ao mesmo tempo, da sua habilidade de arregimentar fluxos de solidariedade que as mantenham permanentemente em atividade, sem comprometer os compromissos assumidos perante sua clientela, de prestação de serviços coletivos. A atuação de muitas ONGs poderia ser vista, por outro lado, como semelhante ao funcionamento do mercado, na medida em que elas competem pelos recursos disponíveis nas mesmas fontes financiadoras (principalmente as pertencentes ao complexo das Nações Unidas, como o Banco Mundial e o PNUD), buscam cativar clientelas através de estratégias de marketing e da diferenciação dos serviços que prestam (sempre a baixo custo), incorporando profissionais, métodos de treinamento e tecnologias semelhantes aos do setor terciário da economia. Além disso, as ONGs lançam mão de uma pluralidade de canais para a manifestação dos variados interesses que defendem junto à sociedade e disseminação das pressões para incluir suas propostas na agenda pública e influir nos procedimentos empresariais. Essa prática corresponde a uma perspectiva democrática tanto em relação à arena política quanto do ponto de vista da "livre iniciativa" no mercado.

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O modelo de intermediação de interesses das ONGs consiste, enfim, na proprosição de alternativas aos modelos hegemônicos de exploração e distribuição de riquezas (leia-se desenvolvimento) e de aplicação dos recursos públicos em prol da incorporação das coletividades excluídas desses benefícios. A exclusão, no caso, pode ser tanto de amplas camadas da população (como as confinadas em "bolsões de miséria") quanto de pessoas estigmatizadas pela sociedade e pelo Estado, como os portadores do vírus HIV e os paraplégicos. Todos membros da "sociedade civil" – organizada ou não. O crescimento dessas organizações (em número e em visibilidade) em vários países tem gerado, desde meados da década de 80, uma produção de literatura que poderia ser dividida em duas grandes linhas: a de uma sociologia acadêmica, predominante nos Estados Unidos e interessada no que lá se denomina nonprofit organisations and sectors, e a de uma antropologia não-acadêmica, produzida particularmente no Brasil e em alguns países da América Latina em torno das chamadas ONGs e das asociaciones privadas de desarollo (APDs) ou centros de promoción, estudados por Mario Padrón. Na Europa, onde as poucas referências existentes são de relatórios de avaliação de atividades produzidos por organizações de cooperação internacional, Antonio Onorati (presidente do Centro Internacional Crocevia) identificou quatro tipos de ONGs: - as institucionais, criadas por grandes instituições, como as igrejas, os partidos políticos e as centrais sindicais com o objetivo de defender e obter consenso em torno das suas estratégias; - as Grandes ONGs (Bingos), que dispõem de orçamentos de centenas de milhões de dólares, aparatos de porte ministerial e estão em ligação direta e permanente com grupos industriais, bancos, governos e meios de comunicação, restringindo-se a uma visão assistencialista; - as de consultoria28, formadas por profissionais que atuam em condições de mercado, mas na forma de ONG, através de intervenções quase exclusivamente técnicas nas atividades de cooperação internacional, ou como centros de estudos disfarçados, embora algumas possuam características mais marcadamente não-lucrativas; - as de desenvolvimento, resultantes da crise de credibilidade e de participação dos partidos tradicionais e das instituições de representação formal dos cidadãos, que deixaram de ser referências para as pessoas que pretendem interferir nas escolhas que regem a vida da sociedade como um todo, inclusive as prioridades do crescimento econômico. Grupos de cidadãos, grandes e pequenos, tentam construir um espaço comum onde confrontar-se com quem os governa. Esse confronto não é vivido em termos abstratos, mas transcorre no campo concreto desse ou daquele tema específico (os consumos, o meio ambiente, a droga, a saúde, a velhice, a política exterior etc) para o qual os cidadãos reivindicam o direito de traçar estratégias alternativas às propostas pelo poder. Toma forma, assim, uma prática de "microcidadania" alternativa que encontra nas ONGs um instrumento adequado de expressão e de realização concreta. Esses grupos de pessoas estabelecem entre si um pacto associativo forte, baseado em códigos comuns e em uma hierarquia comum de prioridades (Onorati, 1992, p. 86).

28

O termo não é utilizado por Onorati, mas faz parte do vocabulário "onguiano" e corresponde à descrição que ele faz. 126

Para os cientistas sociais americanos, a origem e o comportamento dos setores que se colocam fora das esferas do mercado e do estado são “quebra-cabeças tantálicos”29, talvez por tentarem aplicar conceitos da sociologia e da ciência política tradicionais, como “escolha racional” e “constrangimentos políticos e econômicos”, para explicar um padrão de institucionalização que se baseia em outros tipos de valores e idéias. DiMaggio e Anheier (1990) atribuem essas abordagens a três equívocos: elas não consideram os fatores de coesão social entre os beneficiários em potencial ou empreendedores que influenciam a capacidade dessas organizações responderem à demanda; vêem o Estado como competidor no fornecimento de serviços, em vez de financiador ou consumidor desses serviços; e negligenciam fatores institucionais como políticas públicas, normas de organização, ideologia e religião. Nos Estados Unidos, este setor é claramente regulamentado (ao contrário do Brasil) por um aparato legislativo que inclui nas categorias de “ligas civis” e “organizações de bem-estar social” hospitais, instituições de caridade, fundações, escolas, creches e outras entidades sem fins lucrativos que sirvam a propósitos coletivos. Seus dirigentes são oriundos de “grupos de status”, como representantes das elites urbanas, comunidades religiosas, grupos étnicos ou, mais recentemente, executivos de grandes empresas que vêm sendo recrutados para “racionalizar” as atividades de organizações que recebem verbas significativas do setor corporativo. Em vários países da África, Ásia e América Latina, algumas organizações nãogovernamentais têm-se diferenciado como “atores importantes na elaboração, planejamento e aplicação de estratégias e alternativas de desenvolvimento”, mas sua influência e importância variam conforme o contexto nacional em que atuam. Essa variação contextual, assim como a diversidade das suas características, “explicam boa parte da dificuldade de estudá-las utilizando teorias pré-existentes, que se mostram ineficientes quando não demasiadamente rígidas” (Padrón, 1982, p. 15-17). A flexibilidade das APDs impede enquadrá-las em modelos que suponham relações mecânicas de causalidade. Assim, por exemplo, sua concepção de participação popular ou de desenvolvimento pode não corresponder de todo – nem em todo momento – com o tipo de projetos que executa. Estas inconsistências derivam de razões pessoais (entre seus membros), de problemas em relação ao regime político do país, das preferências das entidades co-financiadoras que apóiam sua ação ou também das diferenças próprias dos setores populares com os quais trabalham (idem, p. 17-18).

Para formular um marco teórico-conceitual que permitisse tratar essas associações “em toda a sua complexidade”, Padrón partiu da observação de certas constantes e fenômenos recorrentes no próprio contexto da investigação. Em primeiro lugar, foi possível observar uma dinâmica de tensões entre as APDs com o meio político em que atuam (em relação às mudanças institucionais que propõem), em seu interior (diferenças sobre as prioridades na formulação dos seus projetos), e em suas relações com os setores populares a que se dirigem. Em segundo, uma coincidência de 29

tantálico: relativo a Tântalo, “figura lendária, cujo suplício, por haver roubado os manjares dos deuses para dá-los de conhecer aos homens, era estar perto de água, que se afastava quando tentava bebê-la, e sob árvores, que encolhiam os ramos quando lhes tentava colher os frutos” (verbete do Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, 2ª ed., 1986). A expressão foi usada por DiMaggio e Anheier (1990). 127

surgimento em países onde a maioria da população é desfavorecida em relação às minorias que têm acesso e controlam os principais benefícios sociais. Seguindo o pensamento de Bengt Abrahamson (The logic of organisation, 1977), Padrón analisou as relações das APDs em três níveis simultâneos: com a sociedade global, no que se refere ao tamanho e composição da força trabalhadora, as possibilidades de comunicação e as formas de consciência coletiva dos grupos de interesse; com a estrutura da organização em si mesma e suas necessidades de economia, competência, continuidade e mobilização de recursos que requer para efetuar suas ações; e com os próprios trabalhadores da organização. No Brasil, a maior parte das ONGs surgiu da luta política da sociedade civil contra o regime autoritário implantado em 1964 e contra o grande capital que sustentou o golpe e a ditadura militar. Ligadas aos movimentos sociais de base, às igrejas, aos movimentos sindicais e populares, e sustentadas pelos programas de solidariedade internacional, funcionaram de forma quase clandestina entre as décadas de 60 e 80, dedicando-se prioritariamente a tarefas nas áreas de educação, saúde, habitação, organização, assessoria e consultoria a esses movimentos (Betinho, 1992, p. 141). Agora, estão na fase de redefinir seu papel, seu engajamento político e suas formas de atuação. A literatura (acadêmica e não-acadêmica) existente sobre as ONGs brasileiras segue uma linha de investigação semelhante à de Mario Padrón e tem sido produzida basicamente por dois autores: Leilah Landim e Rubem César Fernandes. Os dois têm sido responsáveis, desde meados da década de 80, pelo resgate das origens dessas organizações e pelo acompanhamento do seu desenvolvimento face às mudanças políticas e sociais do país ao longo dos últimos dez anos. A partir desses trabalhos, de documentos esparsos produzidos por diversas ONGs e de levantamentos no noticiário da mídia impressa, é possível dividir a institucionalização e a atuação dessas organizações no Brasil, a partir da década de 70, em três momentos principais: de diferenciação e construção de identidade; de visibilidade como atores sociais; de crise de crescimento e de refluxo da cooperação internacional.

3.1.1 da filantropia à ação política Segundo Fernandes, vários documentos remetem a origem das ONGs aos anos 50 e apontam uma proliferação notável na década de 70, quando se apresentaram como uma “alternativa (grifo do autor) às práticas institucionais características das universidades, igrejas e partidos e esquerda”, numa época em que as pressões do mercado de trabalho e de “um Estado quase sempre autoritário” estimulavam a busca de outros planos de ação (1985, p. 15). “Alternativa” é uma expressão muito cara ao nosso contexto: significa algo como “fazer aquilo que se faz, mas em um outro local e de um outro modo”. Fazer pesquisa, política e, em certo sentido, uma pastoral de salvação, mas não à maneira das universidades, partidos e igrejas. Implica, pois, uma certa ambigüidade, que afirma e nega, ao mesmo tempo, essas vacas sagradas da nossa civilização. Afirma, porque elas permanecem como um referencial, ainda que crítico, fundamental. Nega, porque pretende confrontálas com uma “alternativa” (idem).

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Foi na relação ambígua com essas três instituições que as ONGs foram construindo a sua identidade: abastecendo-se da “competência” universitária mas contrapondo-se ao seu “isolamento” da sociedade; absorvendo o ideal de “serviço ao próximo”, sobretudo aos “mais necessitados”, mas opondo-se à sacralização das hierarquias eclesiásticas; defendendo o “ideário político” das esquerdas, mas rejeitando o seu dogmatismo e a “manipulação” partidária que as permeava (cf, idem). Nessa afirmação, tiveram que romper explicitamente com o “assistencialismo”, mesmo quando originárias de igrejas, e o fizeram com tal veemência que o termo acabou adquirindo um valor negativo, com peso de acusação (como aconteceu à época em que Betinho “provocou” a “Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida”, de imediato considerada um movimento de caráter “assistencialista”). Para Landim, as pioneiras dessas ONGs institucionalizadas nos anos 70, no Brasil, têm origem nos "Centros de Educação Popular" que começaram a ser criados no final da década de 60, mantiveram-se taticamente “invisíveis” durante algum tempo e foram progressivamente se “autonomizando, enquanto conjunto de instituições e de agentes especializados, espécies particulares de profissionais da política”, que se colocavam “a serviço dos grupos e movimentos populares” (1993, p. 6). Esta “virada simbólica” coincide com “um novo ciclo de lutas populares” que encontram nessas organizações um canal para as suas demandas: associações de bairro, sindicais, urbanas e rurais, indígenas, de mulheres, de menores, religiosas e outros agrupamentos apresentam um “enorme volume” de solicitações às ONGs (Fernandes, R. C., 1985, p. 17). O fato de as ONGs assumirem uma posição de independência em relação ao Estado sem atrelar as suas atividades a um projeto de tomada do poder foi fundamental para a construção da sua imagem de autonomia e da sua credibilidade nos movimentos populares. Mas, em meados dos anos 80, com o crescimento e a organização do movimento popular e a consolidação das instâncias sindicais, diversas ONGs começaram a se questionar sobre a sua identidade institucional. Entre propostas radicais de auto-dissolução das organizações cujos objetivos se sobrepusessem aos de movimentos populares ou entidades sindicais e as que buscavam definir-se como um espaço institucional específico, houve quem considerasse que as ONGs deveriam estar sempre redefinindo os seus papéis e suas tarefas diante das organizações populares (Landim, 1988, p. 43-44). A posição que acabou vingando foi a da sua constituição como um dos atores do processo de construção da sociedade civil. Um ator constituído de um conjunto de diversidades mas que de alguma forma conseguiu afirmar-se pela diferença frente aos outros atores da formação social brasileira. As ONGs são microorganismos do processo democrático, são referências, lugares de inovação e criação de novos processos, mais rumos que caminhos, mais luz que iluminação. (...) As ONGs são laboratórios do futuro, sobretudo espaços da criação da utopia democrática. Mas para criar o mundo futuro, partimos do mundo presente, e aí estão os desafios (Betinho, 1991, p. 143)

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3.1.2 emergência como atores sociais Em 1985, as ONGs já eram, para Rubem Cesar Fernandes, uma “realidade sociológica” na América Latina, onde estariam chegando à “idade da razão”. Referia-se ele aos trabalhos analíticos que começavam a ser produzidos por organizações de alguns países do continente sobre a suas próprias atividades, nos quais “uma acumulação de dados e uma purificação de conceitos” seriam “indicadores claros da maturidade da reflexão alcançada” (ob. cit., 1985, p. 14). Isto não significava que o “campo” havia alcançado precisão conceitual e estabilidade institucional. Criavam-se e desativavam-se ONGs de um momento para outro, o que praticamente impedia (e ainda impede) o seu mapeamento quantitativo e qualitativo. Mas agora havia claramente uma racionalidade orientando suas atividades: orçamentos que deveriam ser atualizados anualmente e submetidos à prestação de contas aos agentes financiadores; projetos “redigidos com uma lógica pragmática” que justificavam novos pedidos de financiamento e/ou doações a fundo perdido. Esta racionalidade tinha como peculiaridade o fato de ser orientada por objetivos qualitativos, de valor normativo, como cabia à lógica institucional sem fins lucrativos, embora também houvesse “aspectos quantificáveis” a apresentar no relatório final de cada projeto. Algumas ONGs “bem sucedidas” chegaram a movimentar milhões de dólares anualmente, até o início dos anos 90, através da multiplicação de projetos e da diversificação das fontes doadoras, mas a maioria configurava-se no “estilo pobre”, em termos orçamentários. Essa diferenciação gerava, obviamente, um certo grau de disputa entre as ONGs pelos recursos da cooperação internacional, mas, segundo Fernandes, de maneira controlada, já que não se tratava o dinheiro como na competição mercantil, nem havia entre elas um objetivo único a ser conquistado, como o poder para os partidos. Ainda que algumas se destaquem e ocupem maiores espaços, a pluralidade é tanta que torna impraticável o exercício de uma hegemonia sobre o conjunto do campo trabalhado pelas ONGs. Ocorre então uma distribuição diferenciada, cada ONG formando a sua própria rede de apoio e recortando o seu próprio nicho de atuação (Fernandes, ob. cit, p. 21). A multiplicidade das articulações proporcionadas pelas ONGs assume uma grande variedade de aspectos. Há uma distribuição regional; pelo tipo preferencial de atividade quanto aos meios (gráficos, visuais etc), ou quanto aos fins (educação, saúde etc); quanto às categorias sociais a que se vinculam (menores, mulheres, índios, negros, camponeses, operários, associações de moradores etc); quanto às instituições de que se aproximam (igrejas, sindicatos, órgãos do Governo etc); quanto às afinidades ideológicas; quanto ao estilo de trabalho; quanto aos interesses a que se unem a nível local; quanto às agências de financiamento a que se ligam; quanto ao nível de institucionalização das próprias ONGs (pequenas, médias ou grandes, novas ou antigas etc); quanto às relações pregressas; e assim por diante (idem, p. 22).

Na institucionalização das ONGs, “flexibilidade”, “descentralização” e “simplificação das relações” foram as palavras-chaves, em oposição à rigidez, ao centralismo e à burocratização que caracterizam as instituições tradicionais de governo, sindicatos e partidos. O freqüente papel de mediadoras dos interesses populares que as ONGs exercem faz com que assumam um certo grau de “representatividade”, mas limitada a certos aspectos de uma conjuntura específica. Mas até o início

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da década ainda sofrem de “síndrome de não-visibilidade”, segundo Landim (1988), o que as faz investir pouco na “sua necessária legitimação enquanto conjunto de organizações civis, que crescem no processo de democratização” (idem, p. 49). O interesse de uma parcela das ONGs – sobretudo as mais antigas – por essa legitimação estimula a criação da Associção Brasileira de ONGs (Abong), em agosto de 1991. O documento de convocação da assembléia para constituição da entidade, assinado por nove das mais ativas organizações brasileiras, procura sintetizar os “esforços cada vez mais sistemáticos de aproximação e articulação, reconhecimento mútuo, descoberta e afirmação da sua identidade comum”, deixando clara a sua inserção entre os atores que participam da construção de uma sociedade democrática no país. Inventando novas esferas de participação na base da sociedade, as ONGs brasileiras privilegiam lugares, temáticas e atores os mais diversos. De costas para o Estado, fizeram-se presentes nos interstícios da vida social, viabilizando microespaços e contrapoderes. (...) As ONGs devem responder, agora, ao desafio decorrente desse novo contexto social e político que emerge em toda a sua complexidade, onde está presente uma enorme diversidade de atores, e no qual se impõe a exigência democrática de um convívio pluralista entre diversas orientações políticas no campo democrático, aí compreendido o próprio universo das ONGs (Abong, doc. cit., 1991).

3.1.3. crise de crescimento e de financiamento “Um nome depois da Rio-92”. Esta afirmação no título de um artigo publicado pela revista Tempo e Presença (do Cedi), logo após o megaevento no Rio de Janeiro, exprime sucintamente a fase de grande visibilidade que as ONGs brasileiras começam a atravessar. O espaço que ocuparam na mídia em função da Conferência trouxe à tona a complexidade das questões em que essas entidades estavam envolvidas. Afinal, aquele não era meramente um encontro internacional de ecologistas, como ficou evidente no Fórum Global montado a cerca de 30 km de distância do plenário oficial. E essa distância não era só física: além das diferenças de enfoques sobre os problemas de desenvolvimento, as ONGs exibiram toda a sua habilidade em lidar com informação e comunicação para difundir suas idéias e suas práticas. O farto material informativo e promocional – entre folhetos, newslettters e tablóides diários – distribuído durante o Fórum revelava como as ONGs agilizavam as suas ações articulando-se em redes de intercâmbio de experiências, conhecimento instrumental e conjugação de esforços. “Nada será como antes”, dizia outro título da mesma revista do Cedi. E não foi. Mesmo persistindo a dificuldade de um conceito totalizador do campo e a sua definição pela exclusão do que não eram, alguns traços afirmativos emergiram daquele encontro. (...) no contexto do Fórum, ONG era, dentre outras coisas, a designação de organizações da sociedade civil não comprometidas com o atual modelo de desenvolvimento econômico. (...)

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Outra vertente identificava as ONGs como organizações que teriam uma competência específica, relacionada à capacidade de produção de conhecimento e operacionalidade no âmbio internacional. (...) A realização do Fórum colocou as ONGs brasileiras frente a parcerias dos chamados países do Norte e também do Sul. Esse contato facilitou o desenvolvimento de idéias de constituição de uma sociedade civil articulada em torno de redes de ONGs de diversos países do mundo, e, efetivamente, foi consolidada uma série de contatos internacionais, foram aprofundadas antigas redes e criadas novas. Junto a tudo isso, a certeza de que a diversidade planetária em relação ao que se chama ONG talvez (sic) seja menor que a brasileira, especialmente no que se refere aos países ricos, em que ONGs já se colocam como alternativas de organização aos partidos políticos e aos sindicatos (Vianna, 1992, p. 6).

A visibilidade, porém, coincidiu com o refluxo dos recursos da cooperação internacional, que passaram a ser divididos com outras frentes de apoio, como a guerra na Bósnia e a “reconstrução” do Leste Europeu, ao mesmo tempo em que surgiam novas ONGs e novos projetos para as antigas (como a Ação da Cidadania, que “invadiu” o Ibase e o Inesc, por exemplo). A crise de crescimento não tardou e exigiu rearranjos internos e relacionais. Diversificar os pareceiros em projetos e as fontes de financiamento passou a ser uma questão de sobrevivência e de mudança. _______________

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3.2 Os campos da ação intelectual A relação Informação e Sociedade pode ser pensada, na Ciência da Informação, a partir de duas amplas perspectivas: uma que busca estudar as práticas informacionais típicas de alguns tipos de instituições – escola, universidade, estado, congresso, justiça etc; outra que dá ênfase ao papel dos agentes dos processos de transferência de informação e de conhecimento – professor, cientista, burocrata, assessor parlamentar, arquivista etc. Embora esses dois aspectos (que não são os únicos) do processo de transferência – contexto e sujeito – sejam complementares, há sempre um ponto de vista, uma ótica prévia, que orienta o enquadramento teórico e empírico do objeto e a conseqüente trajetória da pesquisa. O recorte temático da Ciência da Informação proposto por Maria Nélida G. de Gomez (1992), embora privilegie a segunda perspectiva, acaba contemplando a primeira ao pensar o processamento e a transferência associados a diferentes fatos das relações sociais e da vida cotidiana no mundo contemporâneo, particularmente no contexto das sociedades dependentes. Essa proposta parece interessante para se pensar o papel informacional e comunicacional dos profissionais de ONGs, que instrumentalizam e mobilizam forças sociais através de práticas de transferência de informação e de recursos de comunicação. Ou seja, sujeitos de uma ação coletiva que lutam conscientemente contra o poder para construir socialmente novas identidades, criar espaços democráticos para uma ação social autônoma e para reinterpretar normas e remodelar instituições. Os atores contemporâneos abandonam o que eles vêm como um modelo cultural "produtivista" da velha esquerda, bem como seus modos de organização. Em vez de formar sindicatos ou partidos políticos nos moldes socialista, social-democrata ou comunista, eles dirigem seu foco para a política de base e criam associações horizontais, diretamente democráticas que são debilmente federadas a nível nacional

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[forte caráter local]. Além disso, eles têm como alvo o domínio social da "sociedade civil" em vez da economia ou o estado, levantando questões relativas à democratização das estruturas da vida cotidiana e concentrando-se em formas de comunicação e de identidade coletiva (Cohen, 1985, p. 667).

Diferem, portanto, do conceito gramsciano de “intelectuais”, que abrangeria “todos os trabalhadores que, em maior ou menor grau, portam uma especialização e desempenham um papel organizativo, diretivo ou conectivo na sociedade”, comprometidos com o processo de criação de consenso (bloco histórico) e com a tomada do poder de Estado (hegemonia). Os intelectuais que atuam nas ONGs e movimentos sociais, como técnicos, pesquisadores, assessores ou consultores, aproximam-se mais da idéia tradicional, construída pelo senso comum, de uma categoria ou grupo social particular que detém um nível de instrução superior (científico, técnico ou administrativo) e exerce profissões especializadas, sendo então responsáveis pela produção e aplicação dos conhecimentos e valores (Bocayuva e Veiga, 1992, p. 195-196). Nenhuma das duas definições, porém, dá conta da tensão permanentemente vivida por esses profissionais, entre o saber teórico e o saber prático, entre uma explicação científica do mundo e uma visão de mundo construída pelo senso comum, que aparece em todas as reflexões produzidas sobre as relações entre pesquisadores e “agentes” de campo, entre planejadores e “praticantes”, entre educadores e grupos populares. Nas ONGs e nos movimentos populares em geral (mas nem tanto nos movimentos sociais dominados pelas classes médias), “intelectual” é quase sinônimo de “esquerda” e, minimamente, identifica-se com pensamentos progressistas. Mas uma antiga definição de Darcy Ribeiro (1980) sobre o termo faz pensar. Para ele, “o intelectual é o criador ativo e iracundo, que exprime o mundo de seu tempo ou quer passar o mundo a limpo”. Admito que não seja preciso ser de esquerda para ser intelectual, pode ser de direita, desde que seja um membro ativo dela, que não só goste ou deseje que o mundo permaneça tal qual é, ou só mude de forma e de modo a melhor conservar sua estrutura, mas se esforce para isto, tomando partido e optando. Aron e Sartre, na França, são dois bons exemplos de intelectuais contrapostos. Aqui entre nós, Gilberto Freire e Florestan Fernandes são a mesma coisa: ambos ativistas, um do quietismo contente, outro da visão iracunda e transformadora – ambos incômodos para os que discordam deles (p. 213214).

3.2.1 competência e engajamento As teorias sobre os movimentos sociais contemporâneos geradas a partir das grandes mobilizações do final dos anos 60 trazem grandes contribuições para a abordagem das organizações não-governamentais como atores (sociais, coletivos ou políticos). Mas deixam muitas brechas a serem preenchidas no que se refere aos agentes e aos profissionais dessas entidades – às quais não pertecem como "membros", por não serem instituições de representação, podendo integrá-las como voluntários ou como trabalhadores "engajados". Trata-se, portanto, de uma categoria que extrapola a dos “profissionais” das demandas culturais (informação, conhecimento, educação, estética etc) e não se enquadra na de “participantes” dos movimentos sociais, embora deles também participem como “profissionais de ONGs”. 134

Os agentes de informação e de comunicação das ONGs parecem manter traços do sujeito racional do modelo clássico na medida em que seus domínios e ação na organização estão relacionados a atributos preestabelecidos de competência (conhecimento, experiência, habilidades técnicas, cultura política etc). Mas sua prática obedece também a algum tipo de lógica identitária, que se não permite enquadrá-los como intelectuais orgânicos (conceito gramsciano relacionado ao papel dos partidos políticos na construção de hegemonia) aponta para o caráter “engajado” do trabalho remunerado nos objetivos de transformação social traçados pela ONG, com certo grau de equivalência ao trabalho voluntário das associações dos movimentos sociais. O caráter de “militância” no trabalho das ONGs aparece, por exemplo, na aceitação de salários “abaixo do mercado” em troca de um ocupação profissionalmente mais gratificante e ideologicamente recompensadora. Os quadros provenientes das igrejas estão habituados a este estilo de renda – ter casa, comida, roupa lavada, muita viagem e pouco dinheiro na conta do banco é normal para sacerdotes, sobretudo quando são celibatários. Mas não é assim com profissionais liberais de boa formação universitária. Não fosse a dimensão voluntária e as ONGs estariam condenadas a absorver profissionais mal sucedidos. É um fato, no entanto, que justamente os cargos mais dependentes de uma competência universitária são aqueles que apresentam maior defasagem entre os níveis salariais das ONGs e os do mercado. Resulta daí um desafio constante para a profissionalização do trabalho nas ONGs (Fernandes R.C., 1985, p. 20).

Por outro lado, não se observa na maioria dessas organizações uma identidade de grupo, formada pela consciência ou reconhecimento de problemas e interesses comuns frente a interesses diversos ou a situações de conflito e de negociação (como pode ser o caso das ONGs dedicadas às questões femininas, ecológicas, de homossexuais etc). Nas ONGs dedicadas aos problemas do desenvolvimento, por exemplo, a identidade parece ser construída sobre a consciência das necessidades do “outro” (índios, meninos de rua, trabalhadores sem terra etc), em relação ao qual o coletivo assume uma postura emancipatória. Neste caso, os agentes assumem o papel de representação dos interesses dos “não-organizados”, auto-limitando-se em relação aos seus próprios valores, que procuram relativizar em relação ao outro através do discurso de objetivos e de conseqüências (ver Cohen, p.669). “Interesses”, aí, significam “interpretações das necessidades, culturalmente elaboradas” (González de Gomez, 1992, p. 168). Em conseqüência, são esses atores que fazem o cálculo estratégico dos custos e benefícios de cada ação. Levantamento sobre a atuação política (1991)30 de dirigentes de ONGs no período autoritário mostra claramente que uma parcela significativa participou ativamente do movimento de resistência à ditadura: 58% assumiram identificação com organizações ilegais, 56,9% com organizações eclesiásticas ativas nas lutas populares, 44,1% com o MDB (Movimento Democrático Brasileiro, partido caracterizado na época como uma frente progressista) e 32,4% com entidades sindicais (considerando-se respostas múltiplas para esta questão). Mais da metade deles (55,1%) sofreu 30

Realizado por Rubem Cesar Fernandes e Leandro Piquet Carneiro durante o 1º Encontro Internacional de ONGs e agências da ONU, em agosto de 1991, no Rio de Janeiro. A amostra foi composta por 102 dirigentes de ONGs brasileiras entrevistados por meio de questionários distribuídos durante o evento, complementados pelas fichas de inscrição preenchidas por 95 representantes das participantes do encontro. 135

algum tipo de “punição” por suas posições políticas durante o regime miltar (prisão, processo, tortura, exílio, demissão ou cassação). A pesquisa mostra que o pensamento desses dirigentes gravita, há 30 anos, entre a democracia e o socialismo, com forte influência da “igreja progressista”. Na década de 60, 27,5% deles se identificavam com o socialismo e 25,5% com a Ação Católica. Na década de 70, a Teologia da Libertação conquistou 34,3% deles; 25,5 % aderiram às Pastorais Populares e às Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) e 13,7% ao revisionismo marxista. A partir da década de 80, eles passaram a combinar militância político-partidária com engajamento nas causas dos movimentos sociais e populares. Onze anos depois, 78,4% assumiram ter identificação partidária (88,8% desses com o PT Partido dos Trabalhadores), embora só 51% sejam filiados. Mais da metade (52,9%) admitiu ser militante partidário, a maior parte fazendo trabalho de formação e de assessoria. Ao serem indagados sobre as “palavras de esperança para o futuro”, deixaram claro por onde passa a sua identificação ideológica: 32,4% responderam “socialismo democrático”, 28,4% “democracia” e 14,7% “socialismo”. Mas os pesquisadores chamam a atenção para a presença das três bandeiras da Revolução Francesa entre as opções citadas: fraternidade (11%), liberdade e igualdade (ambas com 6%). Sobre o colapso do “socialismo real”, 80% disseram que não faz diferença ou que piora para o hemisfério sul e para a cooperação internacional, embora 57% tenham considerado o acontecimento favorável à “democracia”. Para os pesquisadores, essas respostas levam a questões como “o ethos de ser de esquerda”, a esperança no devir histórico, “as referências messiânicas da cultura” e o novo sentido da palavra “povo” (agora transmutada em “bases”). “A assimilação do marxismo é outro tema que está a esperar por um tratamento específico. (...) ocorre em circunstâncias de distanciamento efetivo e afetivo do establishment marxista; torna-se prática na interação com as dissidências comunistas, na ilegalidade; coincide com a emergência dos 'movimentos sociais'“ (Fernandes e Carneiro, 1991, p. 7). Fortalecer os movimentos sociais, ajudar na construção da sociedade civil, fortalecer as ONGs como atores sociais autônomos e capacitá-las para prestar serviços especializados são pontos programáticos que efetivamente diferenciam o discurso político dos “onguianos” em relação aos demais militantes de esquerda. A identidade própria e a autonomia das ONGs são explicitamente valorizadas por 41% dos seus dirigentes. Os pesquisadores detectaram, porém, na grande maioria dos entrevistados, ambigüidade entre uma visão política estatizante e uma função “nãogovernamental”. Para 55% deles, cabe ao Estado resolver os problemas sociais e às ONGs trabalhar para transformar o Estado nessa direção; para 33%, as ONGs devem formular “políticas alternativas” para o setor público, de forma a evitar um conflito radical entre Estado e sociedade civil. Quando o enfoque é este, 50% preferem definir o sentido da sua ação por um “projeto alternativo de desenvolvimento”, 36% pela elaboração de políticas públicas alternativas e 28% pela mobilização da sociedade para participar da política. Apenas 16% concebem-se como grupos de pressão para a conquista de objetivos específicos (cf. ob. cit. p.18-19).

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3.2.2 metaconhecimento Segundo Landim (1993), uma parte da história de constituição das ONGs passa pela “afirmação distintiva” em relação à comunidade acadêmica, tornando-se “questão relevante em debates e escritos nos canais particulares do mundo dos então Centros de Educação Popular” (p. 44). Através da crítica vigorosa às obras e agentes da universidade, procedia-se à deslegitimação do campo acadêmico para legitimar o surgimento de “novos tipos de intelectuais” e de obras “a serviço” de sujeitos sociais específicos (os “novos agentes-bases”, na concepção dos Cadernos de Educação Popular, da Nova – Pesquisa, Assessoramento e Avaliação em Educação). (...) as relações das ONGs com o campo acadêmico são ambíguas, caracterizadas por uma aliança/concorrência ou por continuidades e descontinuidades cujos termos têm variado com o tempo, a partir entre outras coisas das transformações através dos anos das posições que as “não-governamentais” vêm ocupando no espaço social brasileiro. “Intelectuais pedantes”, “herméticos”, “da torre de marfim”, de um lado; “intelectuais ressentidos”, “baixo clero” ou “maus vulgarizadores”, de outro – as acusações freqüentam os diferentes corredores, cada campo ilegitimando o outro a partir de suas propriedades específicas” (idem).

Contraditoriamente, porém, várias ONGs foram buscar no meio acadêmico – ao qual associam valores de “competência” – pessoas de notório reconhecimento intelectual para fazerem parte dos seus conselhos diretores (sem funções executivas). Este, talvez, seja apenas um dos sinais da redefinição de fronteiras e relações entre o campo dessas organizações e o da universidade. A esse respeito, Landim cita um trabalho de Lygia Sigaud sobre o meio rural, no qual ela constata o “efeito de circulação de idéias e de interpretações” provocado por certas publicações de ONGs, que acabariam alimentando o meio acadêmico sobre as questões agrárias através de pessoas que têm “um pé na universidade e outro nas ONGs” (idem, p. 46-47). Dentro dessa lógica identitária, os agentes das ONGs seguem a tendência de inter-relação entre teoria e prática que emergiu dos movimentos sociais pós-68, ou seja, de teorias geradas dentro do movimento social sobre o movimento (feminismo, ecologismo, desenvolvimento sustentável etc). No caso, a literatura sobre “organizações não-governamentais” e a maior parte do quadro teórico-conceitual têm sido produzidos predominantemente no processo endógeno de construção dessas instituições e dos tipos de ação coletiva que as caracteriza e diferencia. A começar pelas tentativas de definição da expressão que delimitaria o campo e que tem sido alvo de uma produção de âmbito internacional, que se faz nas fronteiras entre a universidade e as agências de cooperação, mas que ainda não encontra reconhecimento no campo acadêmico. É enorme, claro, a produção acadêmica sobre temas conexos em jogo na compreensão do fenômeno ONG, como por exemplo os rumos tomados pela Igreja Católica nas duas últimas décadas, ou os movimentos sociais urbanos e rurais, ou o sindicalismo nesse mesmo período, ou mesmo a chamada “educação popular”. No entanto, a análise sociológica – e o reconhecimento daí advindo – das “ONGs” enquanto instituições específicas não tem sido objeto desenvolvido na academia (Landim, 1993, p. 46).

O desenvolvimento de uma literatura particular, produzida pelas ONGs para um público nãoacadêmico, com linguagem específica, tiragem limitada e circulação dirigida está intrinsecamente atrelado aos processos de construção da autonomia e criação de identidade dessas organizações.

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Muitas vezes financiada, quando não encomendada, por agências internacionais também nãoacadêmicas, essa literatura só há muito pouco tempo começou a alimentar também a produção acadêmica. O que ainda predomina é uma “rede de referências mútuas”, expressa nas co-citações daqueles que vêm se constituindo como os pesquisadores mais sistemáticos sobre o próprio campo em que atuam (cf. Landim, 1993, p. 52). Segundo Fernandes (1985), a aproximação entre teoria e prática é uma idéia importante para distinguir as ONGs do “teoreticismo” atribuído às universidades e da tendência dos partidos de esquerda de integrarem as várias práticas em uma “Praxis” coextensiva do devir histórico. Neste contexto, o elo entre teoria e prática é relacionado a uma inserção específica da atividade intelectual. “Fala-se de ‘intelectuais orgânicos’, numa linguagem gramsciana; mas fala-se também de ‘assessores’, numa veia mais técnica” (idem, p. 24). Ou, como analisa Marcos Arruda (citado por Fernandes), sobre a redefinição do papel dos intelectuais como parte integrante, orgânica do movimento social: “Seu propósito deixa de ser a liderança, para ser o serviço. Seu método deixa de ser o ensinar, para ser o aprender-ensinar-aprender. Começaram a perceber que o fazer teoria não é uma tarefa apenas dos intelectuais. O povo pode e deve criar teoria” (idem). Mas esta não é uma visão unânime entre as ONGs nem nos movimentos populares, segundo Fernandes. Há casos (...) ou momentos, em que a categoria do “assessor” é sublinhada – emprestando-lhe justamente este sentido de alguém que vem de fora atender a uma demanda que exige conhecimento especializado, e que não tem, nem deve ter, qualquer poder sobre o encaminhamento do problema, e muito menos sobre a totalidade da vida do grupo. (...) São outros os ritmos do pensar e do fazer. Os “assessores”, pela natureza mesma do seu empenho em diversos projetos simultâneos, circulam em um tempo estranhamente acelerado aos olhos do pessoal local (idem).

3.2.3 consenso e estratégia Os “onguianos” enquadram-se, assim, no discurso democrático pluralista contemporâneo que oferece um horizonte de legitimidade e de expectativas para a articulação de “novas frentes de luta e resistência contra as múltiplas formas de desigualdade e dominação” (Gozalez de Gomez, p.153). Mas poderiam ser enquadrados na lógica da equivalência que organiza redes de relações sociais? Ou deveriam ser enquadrados na lógica das diferenças, que expande o campo político, criando novas cadeias associativas e novos princípios de agregação? Alguns problemas surgem dessas possibilidades de interpretação. O porta-voz de interesses de um grupo (aquele que fala em nome de, autorizado ou não) geralmente implica pretensões de hegemonia de certas lutas e demandas. As práticas hegemônicas caracterizam-se tanto por seus investimentos conceituais como por seus investimentos técnicos e materiais, recorrem e organizam os setores da produção e ampliam seus espaços de realização como práticas comunicacionais e associativas (Gonzáles de Gomez, p. 146)

Um coletivo constrói ou integra em suas práticas redes de conceitos, de recursos e de pessoas, segundo padrões associativos e de formação de conhecimentos dominantes ou de acordo com tendências emergentes de posições conflitantes (González de Gomez, p. 143). Ao produzir

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diagnósticos e planejamento de ações sobre problemas das estruturas sociais e da vida cotidiana, os agentes de informação de ONGs muitas vezes operam conceitos, técnicas e recursos materiais idênticos aos disponíveis nos contextos sociais hegemônicos, mas com estratégias de comunicação diversas. As estratégias hegemônicas, de fato, tenderiam a subverter o diferente no “idêntico”, a partir da inclusão modelar de comportamentos, atividades e instituições nas “razões” do centro. Desativando ou substituindo as demandas políticas que lhes forem externas, o poder hegemônico se constitui como “centro” do qual emanariam todas as definições do social, todos os significados institucionais e todos os critérios de legitimidade que organizam ou excluem conflitos e demandas (Gonzáles de Gomez, p. 145).

Nas práticas das ONGs no contexto das sociedades dependentes (que num certo sentido podem ser qualificadas como contra-hegemônicas, não porque busquem a sua própria hegemonia, mas o confronto com o discurso hegemônico), o agir comunicacional não costuma ser baseado na expectativa da reciprocidade e do consenso, mas quase sempre na ação estratégica de reestruturação das esferas públicas e da afirmação da diferença nas esferas privadas. Há temas, porém, que envolvem “generalização de interesses” (como o combate à fome e à violência, por exemplo) e “compromisso” entre os participantes do processo de comunicação, justificável em termos discursivos-argumentativos e não imposto por ameaças de constrangimentos ou promessas de incentivos. A expansão da “racionalidade” agregaria, aos pré-requisitos não tematizados do agir comunicacional da vida cotidiana, as condições de uma esfera argumentativa onde, e em determinadas circunstâncias, os participantes podem problematizar afirmações sobre estados de coisas do mundo ou normas acerca do que se deve fazer na ordem social (Gozales de Gomez, p. 163).

Na concepção de Habermas, toda argumentação pressupõe uma “lógica mínima” e uma “ética mínima” que deveriam estar implícitas na elaboração de hipóteses da “esfera pública” e foram reconstituídas na idéia reguladora de “discurso prático”, que tem como antecedente o agir comunicativo da vida cotidiana, onde normas e valores referem-se a conteúdos culturais contingentes e particulares, próprios de situações concretas de experiências. O discurso prático resgataria possibilidades já inerentes à possibilidade humana de comunicação enquanto baseada na interação recíproca (Gonzalez de Gomez, p.165-167).

3.2.4 contra-especialistas Dorothy Nelkin (1981) utilizou as expressões counter-expertise e expert accountbility para designar os cientistas ou especialistas técnicos que passaram a assumir responsabilidades de competência com os movimentos comunitários e grupos de cidadãos dos Estados Unidos, isto é, passaram a colocar seus conhecimentos em favor das demandas sociais. Desde meados da década de 70 esta socióloga vinha observando a tendência crescente de envolvimento desses especialistas em questões de controvérsias políticas envolvendo a aplicação de determinadas tecnologias ou procedimentos científicos. Observou também que, nessa arena, os cientistas desempenham um papel

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ambivalente: são ao mesmo tempo indispensáveis e suspeitos, porque seu conhecimento técnico é predominantemente visto como uma fonte de poder. Essa pressão pelo acesso a conhecimentos especializados e competências técnicas nos EUA comecou nos anos 60, paralelamente à emergência de novos tipos de ações coletivas e à discussão sobre a ética na ciência. Palavras de ordem como “política de proteção” (advocacy policy), “responsabilidade”, “participação” e “desmistificação” entraram em cena. Eventualmente, grupos de cientistas aliam-se a grupos de cidadãos para embargar projetos de grande impacto ambiental, como a construção de usinas nucleares ou de aeroportos para tráfego intenso em áreas muito povoadas (Nelkin, 1975). Nesses casos, o que normalmente acontece é um confronto de conhecimentos construídos sob referências de mundo diferentes e cuja legitimação depende de escolhas políticas e/ou econômicas, e não técnicas ou científicas. São os especialistas do establishment e os “contraespecialistas”. No contexto desta pesquisa, o termo será reapropriado a um tipo de profissional que também trabalha na contramão do establishment, mas que, em vez do enfrentamento de questões tecnocientíficas, lida – na maior parte das vezes – com problemas essencialmente humanos, sociais e culturais. Segundo Fernandes e Carneiro (1991), a grande maioria dos dirigentes das principais ONGs do país (87,2%) possui nível universitário, dos quais 88,8% na área de Ciências Humanas. Entre os dirigentes de nível universitário, 39,2% fizeram pós-graduação, 19% deles no exterior, principalmente Alemanha e França, a grande maioria (71,4%) no período de 1964 a 1984. A Sociologia foi a área preferida por 26% dos pós-graduados, seguida de longe por Pedagogia, Administração, Ciência Política e História (6% cada). Uma pequena parcela manteve o vínculo com a vida acadêmica através da docência universitária, exercida como atividade principal por 7,8% deles e como atividade secundária por 9,8%. Mas a grande maioria se profissionalizou em “onguiano”: 76% dos entrevistados tinham o trabalho em ONG como sua principal atividade profissional e 56% exerciam alguma função regular em outra ONG além daquela à qual pertencem. A pesquisa apurou também que 97,9% dos serviços destacados pelos dirigentes como atividade principal das suas entidades estão relacionados a organização e transferência de conhecimento, representando “um apoio intelectual aos movimentos populares” e o cumprimento de “uma função pedagógica”, como preferem os seus autores.

Serviço prestado pelas ONGs pesquisadas • • • • • • • • • •

Assessoria Pesquisa/Document. em Ciências Sociais Educação Popular Assessoria técnica Formação de lideranças sindicais Pesquisa/Desenv. de Tecnologias Formação sindical Projetos de produção econômica Comunicação Formação de agentes Total

Como atividade principal 40,0% 13,7% 12,6% 10,5% 10,5% 6,3% 2,1% 2,1% 1,1% 1,1% 100%

Como parte do conjunto de atividades 83,2% 42,1% 49,5% 43,2% 42,1% 11,6% 23,2% 22,1% 47,4% 26,3%

Tabela montada a partir das fichas de inscrição da conferência (Fernandes e Carneiro, 1991)

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Para Fernandes e Carneiro, a assessoria, que desponta como principal serviço prestado pelas ONGs brasileiras, é “uma relação contratual, associada à transmissão de alguma competência de conhecimento, que envolve confiança mútua e uma certa afinidade de propósitos. (...) é com freqüência uma forma de relacionar intelectuais, de uma lado, e organizações ou movimentos sociais, de outro, sem que este relacionamento implique um vínculo hierárquico entre as partes. Difere, neste sentido, dos vínculos obtidos através de empresas, de políticas partidárias, ou de pastorais eclesiais” (idem, p. 8). Além disso, 73,5% dos entrevistados colocaram como primeiro ponto da sua agenda o “trabalho de formação que possibilite a passagem da marginalidade para a cidadania” (idem, p. 14). Apesar de exercerem atividades tipicamente intelectuais, apenas uma pequena parte dos pesquisados mantém relações com centros universitários, seja através de seminários (21,57%), de participação em convênios (16,67%) ou de projetos em comum (15,69%). Um terço dos entrevistados (31,4%) afirmou, na época, que tinha planos para desenvolver centros de pesquisas sociais ou tecnológicas de padrão universitário e 63,6% revelaram a intenção de associar-se a empresas privadas para desenvolver projetos em áreas ligadas à transferência de informação e de conhecimento: projetos educacionais (20,59%), consultoria (15,60%), projetos de informação (16,67%), comunicação (10,78%). _________________

Referências: BOCAYUVA,

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Leilah. A invenção das ONGs; do serviço invisível à profissão sem nome. Tese de doutorado aprovada pelo Programa de Pós-graduação em Antropologia Social do Museu Nacional/UFRJ, 1993. 2 vol. 409 + 54 de Anexos.

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Dorothy. Science and Technology Policy and the Democratic Process. In: TEICH, Albert H. (ed.). Technology and Man’s Future. New York, St. Martin’s Press, 1981. 3ª ed. p. 270-293.

_____________. The political impact of technical expertise. Socieal Studies of Science, nº 5, 1975, p. 35-54. RIBEIRO,

Darcy. O papel reservado ao intelectual e à ciência nos países pobres. Encontros com a Civilização Brasileira, nº 25, jul/1980. p. 213-216.

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Nelson Werneck. Posição e responsabilidade dos intelectuais. Encontros com a Civilização Brasileira, nº 18, dez/1979. p. 99-122 [escrito originalmente em 1967, para a Revista da Civilização Brasileira nº 23, que não saiu].

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3.3 Dois mundos de conhecimento O surgimento e o desenvolvimento de um campo profissional especializado no mundo das ONGs, reconstruído por Leilah Landim (1993), possui pontos de interseção com o surgimento e desenvolvimento dos “colégios invisíveis” de especialistas acadêmicos analisados por Diana Crane, que entende a ciência como parte da cultura. A comparação é possível desde que logo seja ressalvada a diferença de objetivos no que diz respeito à “construção do conhecimento científico” e a “produção de conhecimento instrumental” (no caso das ONGs). A pesquisa de Crane descreve um sistema social informal, mas especializado, que produz conhecimento científico básico e investiga o crescimento das idéias científicas em um corpo de conhecimento organizado em áreas, disciplinas ou especialidades. “A especialidade é uma espécie de ambiente – um contexto institucional influenciando a maneira como o cientista se comporta” (p.7). Landim analisa a história da formação das ONGs brasileiras como um processo de construção de um campo (no sentido de Bourdieu) de agentes especializados no qual “se produzem retóricas, problemáticas e práticas sociais específicas, ocupando uma determinada posição com relação a outros campos com os quais se relacionam de modo privilegiado – como o religioso, o acadêmico e sobretudo o político – e com referência aos quais constróem suas marcas distintivas” (p. 6). A tese apresentada por Crane é a de que “o crescimento logístico do conhecimento científico é resultado da utilização de inovações intelectuais por um tipo particular de comunidade social” ou de “instituições sociais que produzem idéias” (p. 2). A “diversidade de tipos de comunidades científicas é tão grande quanto a diversidade entre os tipos de problemas científicos. (...) essas comunidades científicas são ao mesmo tempo entidades distintas e interconectadas umas com as outras de modos que ainda são vagamente compreendidos” (p. 3). A pesquisa de Landim centra-se no conjunto de entidades consideradas pioneiras no campo das ONGs, que se “diversificou enormemente” em subconjuntos de entidades que “acionam agentes de gerações, trajetórias, origens, ideários, posições distintas na sociedade – havendo possibilidades de maiores ou menores interseções entre eles, dependendo da área temática” (p. 15-16). Com base na sociologia da ciência, Crane aborda as inter-relações entre ciência e outras instituições sociais, buscando identificar as características do conhecimento que trazem à tona mudanças e desenvolvimento nas idéias científicas. Sua investigação centra-se no modo como os cientistas usam a literatura especializada, particularmente a extensão em que eles citam obras recentes em comparação com fontes antigas (p. 3-4). Aqui demarca-se uma diferença. A primeira observação de Landim foi a de que o universo de agentes e entidades não-governamentais caracteriza-se por uma fraca objetivação dos seus critérios classificatórios. (...) não se encontram facilmente em documentos institucionais dados que permitam construir um trajeto e um campo (...). O pesquisador se depara, na maior parte das vezes, com documentos meio amarelecidos pelo tempo mas sem data e, sobretudo, não assinados [literatura “cinzenta”]. Quando assinados, não se declinam propriedades dos seus autores (e isso é característica mesmo dos documentos mais públicos dessas entidades, como grande parte dos artigos em suas revistas, por exemplo). (...) Conforme

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se vai avançando no tempo, tudo isso se torna mais visível (...). Seus centros de documentação são coerentes com sua vocação de “serviço aos movimentos populares”, e aí se pode encontrar fundamentalmente um acervo de documentos e publicações as mais diversificadas dirigidas a um público especializado (...)[que] contém o corpo da literatura produzida nos “Centros de Educação Popular”, voltada para o seu meio [metaconhecimento](Landim, 1993, p. 132-134).

Crane encontrou três tipos de problemas fundamentais em sua pesquisa: o modo como as idéias são influenciadas pela posição dos intelectuais na estrutura social das suas sociedades; a estrutura social das comunidades intelectuais ou científicas em relação aos valores e normas da ciência; e as variações que podem ocorrer nas diversas especialidades em diferentes períodos de tempo. Sua questão era compreender como os sistemas sociais das comunidades científicas influenciam o desenvolvimento das idéias científicas, de acordo com as variações nas estruturas das especialidades e de acordo com a natureza da literatura científica. Landim teve dificuldade para detectar “as condições de pertencimentos, hierarquias, classificações reconhecidas no meio” e as formas de criação da legitimidade, do reconhecimento e da criação social de competência de agentes e entidades (p. 133). Há os que vêm diretamente da militância em algum movimento social, seja de bairros, seja sindical, trazendo consigo para a entidade o cacife da experiência, das relações e da posição aí adquiridas. Há os que chegam aos “Centros” via universidades, gente com competências teóricas determinadas e disposição para a “assessoria” e a pesquisa engajada, ou “participante”, ou “pesquisa-ação” (...). Antropólogos, sociólogos, gente formada nas faculdades de Educação – pessoas capazes de realizar as pesquisas e de fazer as famosas “análises de conjuntura” que precediam encontros nas bases ou de formação dos quadros intermediários dos “Centros”. Ou ainda contribuir para o desenvolvimento de debates e teorias da “educação popular”, com sua problemática própria. Outra profissão valorizada – uma das poucas que não diluirá o seu perfil, dentro dessas entidades que cultivarão os especialistas “a serviço” – é a do advogado (...) (Landim, p.246).

O “ethos do cientista” pesquisado por Crane reside nas cinco normas mertonianas, que encerram uma visão idealizada da ciência, baseada no que é “certo” e “bom”: espera-se que o cientista avalie novos conhecimentos critica e objetivamente; que use suas descobertas de maneira desinteressada; que mantenha uma atitude de neutralidade emocional em relação ao seu trabalho; que o mérito científico seja avaliado independentemente das qualidades pessoais e sociais do indivíduo cientista, que não é dono das suas descobertas; o segredo é proibido. O “ethos” do educador popular e/ou do assessor de movimentos sociais é ser de esquerda e/ou ser cristão (ou aceitar conviver com ação social cristã): pessoas que cultivavam uma atitude negativa com relação aos valores do mercado, procurando manter-se distantes dele em profissões e projetos. E que não estabeleceram pontes com grupos mais “alternativos” das classes médias, os agentes de uma “contracultura” que com eles conviviam no tempo. São pessoas que levam novos sistemas de aspirações para postos já existentes, que apresentam relativa maleabilidade para se encaixarem numa situação de “duplo pertencimento”: voluntário/profissional (igreja/universidade; trabalho de base/ universidade; igreja/movimento social; partido/universidade) (cf. Landim, p. 268269).

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Ambos são, portanto, submetidos a códigos de normas, expectativas e valores morais em relação aos quais são avaliados pelas suas respectivas comunidades. Do cientista, estuda-se o seu comportamento no intercâmbio de informação com outros cientistas em busca de reconhecimento, e as condições que produzem conformidade ou desvio em relação a essas normas e valores (Mulkay, 1969; Barnes and Dolby/1970, entre outros). Já os profissionais de ONGs passam periodicamente por “avaliações” e “auto-avaliações acompanhadas”, com participação de pessoas da entidade e de avaliadores externos (p. 265). Um exemplo citado por Landim que se encaixa na idéia de “conformidade” é o dos textos produzidos pela Fase para servir de base para seminários realizados por todas as equipes da entidade, no processo de criação de consensos básicos sobre a metodologia de educação popular a ser praticada pela instituição, “de norte a sul do país”, e que incluíam títulos como: Conhecimento científico e a questão da ideologia; Relação agente-população; Elementos para a sistematização das linhas de trabalho das equipes locais da Fase (p. 257). Crane identifica redes de comunicação na ciência, observando que as idéias se difundem mais eficientemente quando transmitidas por pessoas do que apenas por publicações (p. 26). “Nenhuma área de pesquisa é completamente isolada de outras áreas. Ligações sociais e ideativas mantêm juntos os vários segmentos de conhecimento e permitem a difusão de idéias de uma área para outra, mas de maneiras tão complexas que é difícil identificar inequivocamente uma área particular de pesquisa” (p. 13). Isto sugere que o termo que melhor descreve a organização social de um conjunto inteiro de uma área de pesquisa é o conceito de “círculo social” (Kadushin, 1966, 1968). As fronteiras exatas de um círculo social são difíceis de definir. Os limites desse grupo em termos de pertencimento total também são difíceis de localizar. Cada membro de um círculo social fica normalmente afastado de alguns mas não de todos os membros. Os integrantes de uma área pesquisa são geografiamente separados a ponto de nunca ocorrerem contatos face-a-face entre todos os membros, e só periodicamente alguns membros se encontram (Crane, p. 13).

Segundo Crane, a interação indireta, mediada através de terceiros, é um importante aspecto do círculo social. Isto significa que não é necessário conhecer um membro particular de um círculo para influenciá-lo. “Não há liderança formal em um círculo social embora haja geralmente figuras centrais. (...) Os membros de um círculo social agregam-se mais em torno de seus interesses do que por proximidade ou atributos de status. Membros de uma área de pesquisa juntam-se pelo compromisso com uma abordagem particular para um conjunto de problemas” (p. 14). Landim detecta duas condições sociais predominantes de estabelecimento de relações no campo das organizações não-governamentais: “para cima”, com agências financiadoras internacionais, e “para baixo”, com grupos sociais particulares beneficiários dos serviços prestados pelas ONGs, as “bases” ou “movimentos populares” específicos (p. 131). As estruturas interinstitucionais são construídas pelas lealdades de agentes e instituições que se espalham nacional e internacionalmente (p. 137). Um exemplo que se aproxima do conceito de círculo social é o do Iser, criado em 1970:

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Dedicava-se (...) ao estudo teológico e sociológico, não à “educação”. Iniciou-se com gente que saía das igrejas, entrava em universidades, preservava a religião: o então Iset era lugar de encontro de uma rede de pessoas – intelectuais – que tinha problemas comuns com igrejas e com o Estado.(...) No final da década, a rede ecumênica foi-se esvaziando e a entidade começou a ser pressionada a sair do estudo e entrar no social; de um lado, o pessoal da assessoria católica; de outro, as entidades internacionais, “que têm como norma generalizada o investimento em projetos de ‘promoção social’, e não de pesquisa” [trajeto da pesquisa para a ação]. (Landim, p. 266).

Segundo Crane, a passagem para o “crescimento exponencial” da ciência é marcada pelo aparecimento de novos grupos de cientistas dentro de cada área de pesquisa, que fazem a interação entre eventos cognitivos e eventos sociais e podem ser enquadrados em dois tipos de inter-relação: a) grupos de colaboradores (Price & Beaver, 1966) ou grupos de solidariedade (Mullins, 1968) – ligados uns aos outros através de seus líderes, que se comunicam entre si e transmitem informação informalmente para todo o campo de pesquisa (p. 36); b) rede de comunicação ou colégio invisível (cluster ou aglomerado de grupos de colaboradores) – grupos que se formam em torno dos cientistas mais produtivos (que mais publicam artigos); os membros dos subgrupos dão continuidade a uma área de pesquisa ou trocam de área. Como exemplo das características de um grupo de colaboradores ou de solidariedade, a pesquisadora cita um de matemáticos franceses que constituíram uma área ativa por cerca de 30 anos: (...) eles desenvolveram abordagens radicalmente novas no campo; eram altamente críticos em relação ao trabalho uns dos outros; havia um forte “espírito de corpo”, valorização do humor e piadas de natureza intelectual; havia um “estilo de trabalho” claramente definido e caracterizado por encontros periódicos para revisão de manuscritos; o grupo tinha vários líderes de considerável prestígio nas suas disciplinas e que mantinham seus compromissos com o grupo por longos períodos; havia constante rotatividade entre os membros de menos prestígio no grupo; nos seus períodos de maior vigor não havia dificuldade para recrutar novos membros; e suas atividades tendiam a ser centradas em uma ou duas instituições às quais as lideranças estavam ligadas, embora muitos membros estivessem dispersos (Crane, p. 36).

Landim também observou um processo de mudança cognitiva no ambiente que pesquisou, da “educação de base” para a “educação popular”, sob influência marxista, que proporcionou o surgimento de um novo campo de profissão e a “passagem do diagnóstico objetivo da realidade à ação como fundamento moral”, por setores da Igreja que buscavam unir ciência leiga a pensamento teológico (p. 247/p. 263). (...) são também gente que se conhece, que tem laços estabelecidos através de meios universitários ou de passado político (...) e, por todas essas propriedades, disputarão cargos de direção nas futuras ONGs ( p. 248).

Os centros de educação popular da linha Paulo Freire (como a Nova) preferem “recrutar gente nas universidades, com especialidade ou trabalhos profissionais na área de educação”; mas a maioria investe em “quadros aptos para o trabalho com os movimentos”, sobretudo o sindical, e são essas pessoas que vão fazer parte do contingente de “assessores” ou, a partir de certo momento, dos

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“formadores” de lideranças, “figuras fáceis no quotidiano (sic) da organização e do funcionamento de entidades sindicais e congêneres, tanto na cidade como no campo” (idem). Assim como na ciência o enfraquecimento de um paradigma provoca mudanças na área de pesquisa, precedidas por um período de incerteza cognitiva, no mundo das ONGs também surgem novos paradigmas que reorientam o repertório conceitual que dá suporte tanto às pesquisas quanto ao trabalho de assessoria e de “formação” de agentes. A partir de conceitos gramscianos (hegemonia, sociedade civil, sociedade política, intelectual orgânico) associados às teorias de Paulo Freire, os Centros de Educação Popular e os agentes “a serviço” dos movimentos sociais vislumbraram as “possibilidades de valorização de um saber popular” que lhes permitiria constituirse como instâncias de criação de uma contra-hegemonia (p. 256). As pesquisas de Crane e Landim têm em comum os problemas de produção e difusão de conhecimento em determinadas comunidades de especialistas que se inter-relacionam intensamente através de redes de comunicação informal denominadas “colégios invisíveis”. Mas o conceito que melhor dá conta de um conjunto de grupos e subgrupos que se comunicam em função de interesses numa área de conhecimento em comum é o de “círculos sociais”, que pode ser aplicado tanto à comunidade científica quanto à comunidade de “contra-especialistas” de ONGs e movimentos sociais. Uma diferenciação importante, apontada por Adélia Miglievich (1993), em um estudo sobre o comportamento institucional de sociólogos não-acadêmicos em comparação com os acadêmicos, é que no ambiente não-governamental a formação profissional universitária é secundária em relação à especialização adquirida no campo (índios, mulheres, políticas públicas etc): dos 21 entrevistados, apenas um definiu seus pares/interlocutores como pertencentes à categoria dos sociólogos. Alguns depoimentos: Não se contratam especificamente sociólogos. Uma pessoa é contratada em função de suas habilidades, qualquer que seja sua formação de origem. Não precisa ser sociólogo para atuar na Fase. As atividades são interdisciplinares. O que interessa é a especialização temática do técnico: sindicalismo, questão rural (...) Não há um trabalho do “sociólogo”. Não existe um campo específico para a sociologia fora da Academia. Mas o sociólogo traz uma série de conhecimentos que podem ser aplicados em vários tipos de atividades. Nunca gostei da idéia do sociólogo ficar na “torre de marfim”, entretanto, o mercado de trabalho é difuso e o sociólogo do mercado acaba fugindo de sua formação.

Miguel Chaia (1994) faz uma periodização das relações entre intelectuais acadêmicos e movimentos sociais com o objetivo de verificar o destino do conhecimento gerado nas universidades e o sentido da prática política de agentes sociais. A primeira fase, da década de 60 até meados dos anos 70, caracteriza-se por uma tentativa individual de alguns intelectuais de “imprimir uma racionalidade aos movimentos sociais”. Neste caso, verificam-se ações políticas de professores universitários que, atravessando os ‘muros acadêmicos’, engajam-se em movimentos que já vêm se desenrolando na sociedade circundante. Trata-se de decisões individuais, que não são endossadas pelo

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consentimento institucional acadêmico, mas sim fundamentados por projetos políticos assumidos pessoalmente (p. 46).

A segunda fase, “ainda em processo”, caracteriza-se “pelo impacto da sociedade circundante sobre o espaço interno da academia”, que passa a ser afetado pelos movimentos sociais emergentes, com a valorização de novos temas de pesquisa, criação de novas disciplinas e “até pela interferência nas eleições ou nomeações do quadro acadêmico dirigente”. Chaia observa que as transformações verificadas no país em função da ampliação do espaço de atuação política e do avanço do processo democrático obriga a universidade a se atualizar “para envolver-se com a rica dinâmica da sociedade civil”. O exemplo dado pelo autor para ilustrar esta nova relação é o do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Sócio-Econômicos: Através do Dieese, é possível verificar como o saber acadêmico é transplantado para além dos “muros da universidade”, possibilitando tanto o sucesso do movimento intersindical como a germinação de uma produção de informação que passa a ser controlada por sindicalistas – e não por acadêmicos. O intelectual surge então como um intermediário – um mensageiro – entre a universidade e a sociedade, ampliando as possibilidades de avanço de uma iniciativa do movimento sindical, que pretende também constituir-se em foco gerador de informação e conhecimento. O saber acadêmico subsidiará a formação de um novo produtor e disseminador de dados e análises, voltado imediatamente para suprir as campanhas salariais (p. 47).

Artigo de Regina Novaes, publicado quatro anos antes (1990), confirma esta avaliação de Chaia com o exemplo das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), que na metade da década de 70 “ganharam status de objeto de estudo na universidade”. Nesta época, havia quase unanimidade no mundo acadêmico na valorização dessa experiência religiosa que se destacava em uma sociedade civil desarticulada sob regime militar. (...) Houve um encontro peculiar entre a linguagem utilizada pelos movimentos que se deram a conhecer e o vazio de conceitos existente entre estudiosos de tradição marxista para analisar situações de luta não propriamente revolucionárias ou de resistência à ditadura. Muitas vezes a linguagem (a fala) dos movimentos, suas categorias de pensamento, ocupou lugar de conceitos explicativos (p. 11-12).

Outra experiência universitária que concorre para este tipo de integração de mundos do conhecimento é a do Laboratório de Pesquisa Social do Departamento de Ciências Sociais da UFRJ, que em dois anos criou nove núcleos temáticos de pesquisa que congregam professores com diferentes projetos integrados e alunos com bolsas de iniciação científica. Os “temas dos núcleos eram ligados com maior ou menor intensidade às graves e angustiantes questões que fervilhavam na cabeça das pessoas ‘de bem’ em nossa sociedade”: infância, relações raciais e cultura negra, etnologia indígena, estudos rurais, estudos urbanos e industriais, sindicalismo, memória operária do Rio de Janeiro (Maggie, 1990, p. 18). A extensão é o terceiro pé do tripé que anima o Laboratório de Pesquisa Social. Acreditamos, uns mais outros menos, uns de um modo outros de outro, que é através da pesquisa e da boa formação teórica que se pode pretender uma intervenção mais qualificada no movimento social. Acreditamos que a pesquisa é mesmo o laço mais forte que une universidade e sociedade. (...) Alguns núcleos se ligam a algum grupo, outros a vários e outros ainda prestam consultorias e “emprestam” seus conhecimentos. Muitos núcleos dispõem de acervo 147

onde consulentes de fora podem obter informações sobre os temas pesquisados e alguns já possuem bancos de dados com informações de vários tipos (idem, p. 18-19).

A comparação entre os trabalhos de Crane e Landim e os exemplos aqui relatados de integração universidade-movimentos sociais são fortes indicadores da existência de um “colégio invisível” que inter-relaciona dois mundos de produção e difusão de conhecimentos. ________________ Referências: CHAIA,

Miguel W. Universidade, informação e movimentos sociais. S. Paulo em Perspectiva [Fund. Seade], vol. 8, nº 4, out-dez/1994. p. 46-50.

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Diana. Invisible colleges; diffusion of knowledge in scientific communities. Chicago, University of Chicago Press, 1975. 213 p.

FERNANDES, R. C. Praticantes

e pesquisadores: uma contraditória viagem ao interior. Comunicações do Iser, nº 12,

1984. LANDIM,

Leilah. A invenção das ONGs; do serviço invisível à profissão sem nome. Tese de doutorado aprovada pelo Programa de Pós-graduação em Antropologia Social do Museu Nacional/UFRJ, 1993. 2 vol. 409 p. + 54 de Anexos.

MAGGIE,

Yvonne. Arregaçando as mangas. Tempo e Presença [Cedi], ano 12, nº 250, mar-abr/1990, p. 17-19.

MIGLIEVICH, Adélia. NOVAES,

A sociologia fora do espaço acadêmico. Dissertação de mestrado defendida no Iuperj, 1993-94.

Regina Célia Reyes. Teoria e prática. Tempo e Presença [Cedi], ano 12, nº 250, mar-abr/1990, p. 10-13

3.4 Estratégias comunicativas A partir da década de 80, é possível identificar no trabalho de algumas ONGs brasileiras ações comunicativas que, retoricamente, assemelham-se às principais estratégias defendidas nos documentos da Nomic, então esvaziada no contexto das relações multilaterais. Propositalmente sem a mesma visibilidade dos sistemas hegemônicos, tais organizações constroem uma teia de intercâmbio de informações que se diferencia da comunicação de massa pelo seu caráter de difusão entre pequenos grupos com potencialidade multiplicadora (comunidades organizadas, lideranças locais, sindicais e políticas, universidades, meios de comunicação fora dos grandes centros urbanos etc). As ONGs tornaram-se centros de recursos humanos (assessorias, informações, materiais pedagógicos, formação, elaboração de projetos etc), postos a serviço das associações comunitárias e dos movimentos sociais. Criou-se, desta forma, um circuito nãogovernamental de cooperação que tem sido capaz de articular iniciativas tomadas nos mais diversos planos da sociedade civil. (...) A multiplicidade de iniciativas encontrou formas sui generis de articulação capazes de conviver, e eventualmente de potencializar, a diversidade e a segmentação institucional. A palavra-chave deste novo processo de articulação foi importada do campo da informática – reúnem-se através de “redes” que combinam a autonomia de cada ponto do sistema com um intenso fluxo de informações (Fernandes, R. C., 1994, p. 129-130).

Nesta perspectiva, as ONGs de assessoria aos movimentos populares e de promoção do desenvolvimento exercem atividades de contrapoder ao “decifrar as caixas-pretas das informações oficiais” (Ibase/Rio); ao criarem um “serviço jurídico para crianças e adolescentes dos grupos marginalizados” (CDDH BR/Rio); ao “capacitar agricultores em técnicas agropecuárias alternativas,

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para a produção integrada de alimentos que atendam à subsistência da família e com excedentes comercializáveis” (Cecapas/Recife); ou quando criam centros de documentação que buscam “tornar acessível a informação para os setores populares”, tratando o documento como “um produto social” (CPV/SP). Desde o início, as ONGs têm visto a informação, o treinamento e a educação para o desenvolvimento como algumas de suas principais prioridades para satisfazer uma série de necessidades (...) O tipo de conscientização sobre o desenvolvimento realizado pelas ONGs constitui sua grande contribuição particular ao setor de informação, comunicação e educação para o desenvolvimento, de uma forma que nenhuma outra agência, instituição ou pessoa tem ou poderia ter feito (Agneta3 , 1991)

Antagonicamente, porém, essas atividades passaram a significar uma fonte importante de informações sobre a realidade dos países “em desenvolvimento”, o que tem despertado o interesse das agências de cooperação internacional e de governos de países ricos pelos projetos de informação, comunicação, educação e treinamento operados por ONGs em países pobres. Assim, ao mesmo tempo que utilizam mecanismos de difusão interpessoal (entre militantes e lideranças) e “tribais” (entre grupos de ação coletiva) que podem extrapolar ou até mesmo contrariar os objetivos traçados pelos financiadores dos projetos, as ONGs correm o risco de ser envolvidas pelos interesses dos grandes mantenedores da cooperação internacional, ou de ver as informações serem utilizadas para fins diversos do objetivo original, ou ainda de não atingir a sua finalidade em função de problemas de linguagem e de repertório cognitivo em relação à clientela. Um exemplo dessa possibilidade é a importância que o Departamento de Informação Pública da ONU e o Banco Mundial vêm dando às informações geradas por essas organizações. No início desta década, a base de dados do Bird sobre o perfil das ONGs já continha informações sobre sete mil organizações de todo o mundo, 400 relatórios e relação de artigos, além de arquivos organizacionais de mais de 700 entidades de 100 países (World Bank, 1991, em Nerfin, ob. cit.110). No entanto, a recíproca de acesso às informações sobre as atividades do Banco não é verdadeira. Desde meados de 1993, ONGs sediadas em Washington aliaram-se a comitês de congressistas americanos para pressionar a instituição a rever radicalmente sua política de informação, de modo a permitir amplo acesso a documentos de projetos de interesse social e ambiental, particularmente aqueles que afetam diretamente populações locais. A diversidade de perfis institucionais, clientelas e áreas de atuação das ONGs brasileiras reflete-se na diversidade de serviços de informação e produtos de comunicação que foi possível mapear nesta pesquisa. No ambiente das ONGs que assessoram movimentos sociais e organizações populares, produção de informação e de conhecimento são indissociáveis da sua comunicação e difusão. Como elas trabalham com projetos temáticos, cada projeto abrange sempre uma parte de coleta de informação, outra de tratamento dessa informação de acordo com os objetivos do projeto e finalmente a sua “visibilidade”.

3

Francesca Agneta, diretora geral de Cooperação para o Desenvolvimento do Ministério das Relações Exteriores da Itália 149

As fontes em que se baseiam estes projetos em geral são relatórios analíticos de circulação interna de órgãos públicos ou do setor privado, publicações oficiais de dados estatísticos, textos recém-produzidos no mundo acadêmico, relatórios técnicos de instituições especializadas e análises de conjuntura produzidas na própria ONG ou por parceiros. Nas organizações que possuem uma visão de comunicação integrada (como a Fase e o Ibase, até algum tempo atrás), essa informação “primária” pode servir de base para pesquisas de campo, artigos a serem publicados na imprensa nacional ou em publicações especializadas, roteiros de vídeos, programas educativos, entre muitos outros. Esses produtos têm-se mostrado eficazes quando dirigidos a lideranças e parceiros “engajados” nas mesmas idéias e lutas sociais, que fazem a “tradução” apropriada para as suas clientelas locais. O problema normalmente enfrentado por essas entidades é quando tentam contrapor-se aos meios de comunicação de massa usando os seus próprios canais de expressão e a linguagem dos “movimentos” que aprenderam a falar. Uma linguagem que fica no meio do caminho entre o acadêmico, o doutrinário e o panfletário – que representam justamente as instituições em relação às quais as ONGs buscam diferenciar-se (universidade, igrejas e partidos). O resultado costumam ser produtos geralmente densos em conteúdos relevantes, mas incomunicáveis para um público que não detenha as mesmas “teorias implícitas”. Tentativas de romper com esse padrão, visando “democratizar a informação”, têm sido feitas, mas de forma descontínua e em geral sem dar aos profissionais de comunicação a autonomia de que desfrutam os pesquisadores e os educadores populares das mesmas organizações. Entre as muitas ambigüidades do universo das ONGs, a visão de um “conhecimento apropriado” para ser posteriormente “socializado” baseia-se no paradigma “difusionista” ou “extensionista” que Paulo Freire tanto critica. Justamente ele, que costuma ser apontado como uma referência intelectual quase unânime no campo. A “estrutura vertical”, o mundo social e humano, não existiria como tal se não fosse um mundo de comunicabilidade, fora do qual é impossível dar-se o conhecimento humano. A intersubjetividade ou a intercomunicação é a característica primordial deste mundo cultural e histórico. (...) Pela intersubjetividade, se estabelece a comunicação entre os sujeitos a propósito do objeto (Freire, 1979, p. 65).

O problema parece estar, mais uma vez, na comunicação intercultural como “o outro”, o “estranho”, o “diferente”. Talvez resida aí justamente a eficácia comunicativa das redes, onde a informação circula de forma horizontal e intersubjetiva. _______________ Referências: AGNETA,

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150

3.5 Atuação em redes Networking quer dizer simplesmente “em rede”. Na linguagem do senso comum da era eletrônica, remete a pessoas conectando-se com pessoas, via computador. No jargão das ONGs, a pessoas de uma organização que se comunicam com pesssoas de outra organização ou movimento, por qualquer meio, para articular uma ação. “Redes de ONGs” são, portanto, um modo de articulação estratégica. (...) elas são descritas como “processos dinâmicos permanentes que estabelecem laços múltiplos, descontínuos e redundantes entre pessoas e entre grupos, formais e informais (...). O essencial nestas redes não é a estrutura, mas os processos descentralizados de comunicação e de tomada de decisões. Apóiam-se em sólidos relacionamentos interpessoais que resistem ao teste do tempo (Peón, 1993, em Fernandes, 1994, p.130).

Não diferem, então, das “redes de movimentos”, que para Scherer-Warren (1993) possuem pelo menos quatro características: a) articulação de atores e movimentos sociais e culturais em torno de afinidades programáticas; demandas específicas; um “objetivo de se constituir numa força de pressão institucional mais ampla” (que as ONGs americanas chamam empowerment); enfrentamento de questões regionais ou nacionais; intercâmbio de informações e experiências relacionadas a um tema particular (por exemplo, Aids); defesa e promoção da cidadania da população excluída dos programas sociais governamentais; ou ainda lutas conjunturais (como o Movimento pela Ética na Política); b) transnacionalidade: caracteriza-se basicamente pela cooperação internacional para financiamento de projetos locais e pela articulação de prioridades e estratégias de luta relacionadas a temas de interesse humanitário, como a linha mestra do modelo de desenvolvimento sustentável, plataformas de defesa dos direitos humanos, as discussões sobre os planos de ação discutidos nas conferências mundiais da ONU etc. Os movimentos ecológicos e os movimentos de direitos humanos têm participado de redes transnacionais de informação e solidariedade ou como mecanismo de pressão institucional e cultural. A transnacionalidade nos movimentos de direitos humanos e ecológicos é mais estimulada que entre os movimentos populares propriamente ditos. Entretanto, quando os primeiros (MDH e ecológicos) formam redes de pressão institucional ou cultural a respeito dos segundos (...), podem vir a ser interpretados pelas forças conservadoras como uma ameaça à ordem de dominação (Scherer-Warren, p.120).

c) pluralismo organizacional e ideológico, resultante do “fato de os mesmos atores sociais participarem de várias organizações ou redes, ou pelo fato da mesma organização incorporar atores com concepções ideológicas ou simpatias partidárias variadas” (p. 121); d) atuação nos campos cultural e político, através da postura ética em defesa de valores fundamentais (paz, democracia, combate à miséria, à discrimicação etc), mas não apenas no plano simbólico: “Atuam, por um lado, tendo em vista a transformação da opinião pública, mas, por outro, almejam constituir-se em força de pressão ao sistema institucional e aos padrões dominantes contrários a estes princípios” (p. 121).

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Embora as redes sejam quase sempre mencionadas por Fernandes e Landim nos seus estudos sobre as ONGs brasileiras, elas só aparecem mais detalhadamente em um relatório de Frits Wils (1991) sobre os tipos de relações estabelecidas por essas organizações. Apesar dos poucos dados disponíveis na época, o pesquisador conseguiu, através de entrevistas, reconstituir uma parte desse processo de articulação, que começou em meados dos anos 80, com redes predominantemente temáticas (comunicação audiovisual, mulheres, ecologia, educação popular, dívida externa), de entidades religiosas e de plataformas relacionadas a agências doadoras, variando “consideravelmente de escopo, grau de institucionalização e dinâmica” (p. 18). Um seminário realizado pela Novib (ONG holandesa de cooperação internacional) em 1988, em Olinda, é considerado o ponto de partida para um esforço mais amplo de organização de redes de âmbito nacional. Foram as ONGs de maior porte e conhecidas como ecumênicas – referidas como as de cinco estrelas – que desempenharam papel de liderança nesse processo: Ibase, Cedi e Fase, do Rio (foram feitas referências também ao Iser e ao Idac), Cese, de Salvador, e Centro Luís Freire e SOS Corpo, de Recife. O eixo tradicional Recife-Salvador-Rio parece, assim, desempenhar um papel de liderança crucial entre o Sul e o Sudoeste, seguido de S. Paulo (p. 19).

O interesse por uma ação coordenada entre ONGs mostrava-se, então, crescente, ainda que disperso e problemático, pela diversidade e heterogeneidade das ONGs (em tamanho e capital disponível sobretudo). Grupos de ONGs haviam trabalhado juntos no processo de elaboração da nova Constituição federal, em partes específicas, como por exemplo o capítulo sobre os índios, as seções sobre o trabalho organizado e sobre mulheres. As constituições estaduais e as leis orgânicas dos municípios também aproximaram ONGs com habilidades semelhantes ou complementares. (...) As ONGs também combinam ações conjuntas com organizações populares em torno de questões como habitação, planejamento urbano e governo local; em áreas rurais, ONGs trabalham juntas em programas de treinamento, tecnologias apropriadas e produção, com uma certa divisão de responsabilidades, tarefas e competências [expertise]. ONGs nacionais como a CPT, Fase, Cimi e Ibase têm certas vantagens por terem melhor visão geral da comunidade de ONGs como um todo, embora na maioria dos setores também se considere “liderança” ONGs que tendem a ser vistas como as mais capazes e disponíveis para dar assessoria a outras ONGs (p. 19).

Segundo Wils, certas redes em processo de expansão eram muito orientadas pelo cenário internacional, especialmente as ambientalistas, na época envolvidas na preparação do fórum alternativo da conferência mundial sobre meio ambiente e desenvolvimento (ECO-92). Ligações internacionais também vinham sendo desenvolvidas nas áreas de índios, mulheres e comunicações. A maioria das ONGs trabalha dando apoio a organizações populares mas, de acordo com Wils, essas organizações “não podem ser consideradas intermediárias” (p. 20). Entretanto, algumas trabalham especialmente com lideranças e núcleos, não estando diretamente envolvidas no movimento de base. Esse tipo de trabalho coloca essas ONGs numa posição de influência e permitelhes usar a organização popular como “um canal multiplicador das suas contribuições” (p. 20).

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Outros documentos dispersos mostram que, fora do eixo das “cinco estrelas”, as ONGs nordestinas estiveram na dianteira para a articulação de movimentos locais. Em meados da década de 80, entidades ambientalistas da região começaram a realizar encontros com a preocupação de disseminar informação e estabelecer um processo comum de articulação de âmbito regional. Em 1986, o Conama – Conselho Nacional de Meio Ambiente – passou a ter um representante dessas entidades, o que reforçou a idéia de articulação mais sistemática. Em fevereiro de 1989 foi criada uma Secretaria executiva de entidades ecológicas nãogovernamentais do Nordeste, que um ano depois teve seu nome abreviado para Secretaria de Entidades Ambientalistas do Nordeste (Sean). Entre os objetivos imediatos dessa articulação incluíam-se: divulgar as decisões do Conama; manter cadastro atualizado de todas as entidades ambientalistas autônomas da região, promovendo a sua aproximação; apoiar a criação de novas entidades nordestinas; manter uma base de dados e documentação para consulta das integrantes da Sean; apoiar e promover seminários, simpósios e debates sobre questões ecológicas e sobre o movimento. Mais ambicioso foi o projeto de criação da Rede Nordeste, elaborado a partir de iniciativa do Centro Nordestino de Animação Popular (Cenap), com sede em Recife. A idéia surgiu da constatação de que as organizações populares necessitavam de informações confiáveis e pertinentes às sua atividades, que lhes permitisse tomar decisões com responsabilidade e autonomia. Além disso, a maioria das entidades não tinha recursos para comprar jornais e muito menos assinar periódicos especializados. As mais prejudicadas eram as do interior, onde os jornais do Sul do país chegavam com muito atraso, quando chegavam. A Rede seria formada a partir da infra-estrutura básica de informática disponível no Cenap (um microcomputador ligado à rede eletrônica AlterNex e uma impressora) e do pequeno acervo de documentos existente. Naquela época, o Cenap já mantinha contatos regulares com ONGs do eixo Rio-S. Paulo (Ibase, Iser, Fase, CPT, CPV e Cedi) e intercâmbio com mais de dez entidades de cinco estados do Nordeste (do Piauí a Pernambuco), que seriam o núcleo inicial da RN. Os temas a serem priorizados pela Rede Nordeste para coleta e processamento de informação seriam: barragens, terra (reforma agrária, ocupação, conflitos, solo urbano), sindicalismo (rural e urbano, concepções e correntes sindicais, centrais sindicais, crise do sindicalismo), política partidária (as bases de sustentação, os posicionamentos dos setores da sociedade, a atuação da sociedade civil), políticas de governo (sobretudo as que atinjam mais os trabalhadores e as populações marginalizadas). Na ECO-92, o Fórum de ONGs elaborou um Tratado de comunicação, informação, meios de comunicação e redes (publicado em 1993) que definia alguns critérios para essas articulações: • Estabelecer redes inclui encontros pessoais, organizações formais, encontros informais, material impresso, telefone, fax, correio, rádio, televisão, vídeo e comunicação por computador. • Estabelecer redes envolve: comunicação dentro e através de limites setoriais e organizacionais; utilização de todos os meios que permitam a disseminação de idéias; promoção de relações pessoais com a imprensa, repórteres de televisão etc; partilha e 153

intercâmbio de informação entre pessoas com interesses comuns e que estão em atividades afins. Esse modelo de ação coletiva enquadra-se no que Lembruch (1984) chamou de “redes interorganizacionais de representação de interesses”, envolvendo tanto associações voluntárias pluralistas quanto associações de cúpula (as ONGs “cinco estrelas”). Embora estas organizações não exerçam “representação” de interesses, por não serem entidades corporativas nem classistas, elas assumem a defesa de interesses (advocacy) comuns a certos grupos da sociedade civil em determinado contexto. Ao atribuir à rede de intercâmbio de informação o papel primeiro de rede de relações sociais, as ONGs aqui em foco redirecionaram o discurso ideológico da Nomic através de uma prática que amalgama teorias políticas e sociais a uma abordagem pedagógica da informação e da comunicação, que talvez constitua o seu princípio legitimador. As redes de ONGs hoje ocupam uma posição diferenciada nas cadeias ocidentais de transferência de informação, intermediando a oferta e as demandas de informação com base em critérios de necessidade e de valor. Para analisar a atual fase de transição do capitalismo mundial, Gilson Schwartz faz uma interessante comparação entre a “sociedade de massas” e a “sociedade de redes”: Uma rede é sempre um conjunto de relações entre pontos ou “nós” que mantêm a cada momento uma independência relativa, ainda que ressalte sempre, ao mesmo tempo, uma força que resulta do conjunto. A massa é disforme, dispõe-se para a manipulação. A rede sugere vínculos qualitativos. A massa resulta de uma concentração quantitativa. Redes ocupam espaços, mas dão sentido a esses espaços, criam topografias variadas. Massas nunca definem um sentido por si mesmas. A massa é um receptáculo de informação e sentido. Nas redes ocorre produção de informação e sentido. As massas são passivas, as redes são ativas. É quase natural pensar que as massas podem crescer por incorporação indistinta de elementos “novos” ou “originais” que imediatamente são massificados. Assim, a massa não tem história, pois sempre devora a mudança qualitativa. Tudo o que pode ser quantificado pode ser massificado. A massa é democrática. As redes, para crescer e se transformar, exigem recombinações qualitativas que se associam a um tempo irreversível, histórico. As redes não crescem por incorporação, mas por integração. As redes são seletivas e dependem das ações individuais. As massas tendem a comportamentos de horda e rebanho. As redes exigem interatividade (Folha de S. Paulo, Caderno Mais!, 19/11/95, p. 5).

Complementando com Latour (1994): a rede é “mais flexível que a noção de sistema, mais histórica que a de estrutura, mais empírica que a de complexidade; a rede é o fio de Ariadne destas histórias confusas” (p. 9). As relações de intercâmbio em rede para ação coletiva pertencem ao domínio da comunicação informal e seus processos de legitimação são simultâneos à sua formação e desenvolvimento. Sua “jurisdição” é o fórum aberto no qual se realizam as trocas diretas (entre solicitantes e produtores ou

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detentores da informação desejada) e se estabelecem as poucas e flexíveis regras de convivência. Nas redes, mesmo as especializadas, não existe a idéia de um repositório totalizador de um universo de conhecimento intencionalmente produzido e ordenado para que possa servir de parâmetro para o estabelecimento de um grau “desejável” de acesso e consumo que justifique a existência ou a dimensão do próprio repositório. As comunicações interpessoais regulam as trocas de acordo com as necessidades imediatas de uma informação e os recursos disponíveis em cada “nó”: um arquivo de fotos aqui, um especialista ali, uma seleção de notícias de jornais acolá. Nas redes, todo usuário é potencialmente um agente de informação, um transceptor – emissor/receptor (Everett Rogers, 1981). As políticas de seleção, quando existem (em caso de conferências ou listas de discussão moderadas), são explicitadas e podem ser postas em discussão pela comunidade virtual. Ao contrário do sistema, na rede a informação não depende de intervenção gerencial para ser “recuperada”; mas pode, eventualmente, necessitar de intervenção técnica ou de assessoria especializada. Os critérios de atribuição de valor informacional aos dados e documentos que circulam na rede (expectativas de pertinência e relevância) não se sustentam na “reciprocidade normativa” e sim na reciprocidade participativa entre os atores sociais e indivíduos que a constróem, operam, fortalecem e eventualmente avaliamna. Na rede, o fluxo de informação não é nem vertical, nem horizontal, mas tridimensional. ________________ Referências: BECKER, Joseph e OLSEN, Wallace. Information networks. [Bib.Eco separatas - sem referências]. CUNHA,

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156

4. Redes eletrônicas As redes eletrônicas de interesses não-governamentais e sem fins lucrativos começaram a ser criadas no início dos anos 80, nos Estados Unidos. Mas foi a criação da Rede APC – Association for Progressive Communications –, em 1990, que deu visibilidade a essa “teia” que, apesar de conectada à Internet (predominantemente acadêmica, comercial e governamental), transformou-se em uma infovia viscinal, de conteúdos e padrões de comunicação diferenciados do modelo hegemônico.

4.1. A Rede APC Em 1982, várias redes independentes sem fins lucrativos, de âmbito regional ou nacional, começaram a surgir nos Estados Unidos e Europa como meios viáveis de informação e comunicação. Dois anos depois, um grupo de técnicos e ecologistas americanos do Farallones Institute, com cinco computadores doados pela Apple Corporation e recursos da San Francisco Foundation, criou a EcoNet para dar apoio às organizações que trabalhavam para o avanço da proteção ambiental global e pela causa da sustentabilidade. Em cinco anos a EcoNet evoluiu de uma rede exploratória de pequena escala, que utilizava um primitivo sistema de telecomunicações, para uma rede internacional de indivíduos e organizações envolvidos com questões ecológicas, passando a demandar uma estrutura mais sólida e suporte técnico de alto nível. A EcoNet tornou-se um centro de referência para disseminação de informação e discussão sobre uma ampla variedade de grupos de interesses ambientais, indústrias e órgãos governamentais de âmbito estadual e federal. Pelo menos uma empresa de petróleo usa a EcoNet para manter-se informada sobre os desenvolvimentos do movimento ecológico. (...) as questões cobertas pelas conferências eletrônicas e bases de dados da EcoNet incluem: política energética, aquecimento global, preservação florestal, qualidade da água, tóxicos e educação ambiental. A EcoNet oferece acesso ao catálogo das bibliotecas da Agência de Proteção Ambiental [EPA, na sigla em inglês], um diretório de abrangência mundial de parques nacionais e áreas protegidas, e um calendário de eventos ambientais. A seção do diretório da área de bases de dados contém arquivos com listagens de nomes e endereços de cientistas de vários campos (Sallin, 1994) Em 1985, foi a vez dos pacifistas. Quatro instituições de San Francisco31 juntaram-se para criar um sistema experimental de correio eletrônico que denominaram PeaceNet I; um ano depois abriram ao público em geral um serviço on-line mais sofisticado, PeaceNet II, transformado sete meses mais tarde em uma divisão da Tides Foundation. Criada para servir aos grupos que trabalham pela paz global e justiça social nas 31

Ark Communications Institute, Center for Innovative Diplomacy, Foundation for the Arts of Peace e Community data Processing (CdP - fundada por dez técnicos em computação profissionalizados no Vale do Silício) 157

áreas de direitos humanos, desarmamento e relações internacionais, a PeaceNet está comprometida com a promoção de fontes alternativas de informação que se diferenciem da imprensa dominante e oferece aos seus usuários vários serviços de notícias, incluindo Pacific News Service, UN Information Service, Greenpeace News, PeaceNet World News Service e a cobertura completa da IPS – InterPress Service (cf. Sallin, 1994). Os movimentos dos quais essas redes emergiram possuem diferentes histórias compartilhadas. O movimento pacifista tende a ser percebido como de esquerda, como mostra a listagem de organizações e o conteúdo das mensagens postadas na PeaceNet. (...) A EcoNet abrange muitos pontos de vista diversos do movimento ecológico, que agrega tanto conservadores quanto liberais. A diversidade dos usuários da EcoNet é dramática (sic), incluindo membros de grupos tão diversos como a Dow Chemical, o Environmental Defense Fund e o Earth First! (Sallin, 1994) Em 1987 a EcoNet e a PeaceNet foram incorporadas pelo IGC – Institute for Global Communications –, criado um ano antes pela Tides Foundation com o objetivo de dar suporte às então emergentes redes mediadas por computador. Desde 1988, quando estabeleceu seu primeiro link internacional com a GreenNet, da Grã-Bretanha, o IGC mantém um programa de desenvolvimento de redes computadorizadas de baixo custo fora dos Estados Unidos, especialmente em países não-industrializados do hemisfério Sul, com o objetivo básico de fortalecer organizações locais e promover capacitação técnica em redes de computador. O Instituto considera a cooperação internacional essencial para o enfrentamento dos problemas ambientais e de paz e desempenhou papel chave no desenvolvimento de redes em países como o Brasil (AlterNex), Nicarágua (Nicarao), Rússia (GlasNet) e México (Laneta), com o apoio das fundações Ford, MacArthur e General Service e do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud). Atualmente o grupo IGC é formado por mais três redes além das originais: ConflictNet, LaborNet e WomensNet (IGC, 1996). A ConflictNet, criada em 1989, mantém seu foco na resolução não-violenta de conflitos, na mediação e na arbitragem de disputas e, ao contrário das outras redes IGC, sua base de usuários é formada quase exclusivamente por profissionais de carreira ou autônomos que atuam em organizações envolvidas com resoluções de conflito, e não por ativistas.. Seus recursos de informação incluem exemplos de resoluções de conflitos, atualidades legislativas, bibliografias, material educacional e periódicos. Já a LaborNet, montada em 1992, é uma comunidade de sindicatos, militantes e organizações que trabalham globalmente para a justiça econômica e humana dos trabalhadores. Trata-se de um projeto composto majoritariamente de voluntários empenhados em ampliar a conectividade eletrônica dos sindicatos através de atividades de treinamento e assistência técnica. O alcance desse trabalho propiciou uma taxa entre 13% e 20% de crescimento mensal da base de usuários da LaborNet em 1993 (Sallin, 1994). A “filha” mais nova da família IGC é a WomensNet, criada em 1995, paralelamente ao processo de preparação para a Conferência Mundial da ONU sobre a Mulher, realizada em Pequim (Pequim), da qual foi a principal provedora de informação, através de cinco conferências eletrônicas. A WomensNet é um dos resultados do Programa de Suporte a Redes de Mulheres, criado pela APC em 1993 para disseminar o uso de comunicações via computador por mulheres de todo o mundo, e participa da montagem de postos de treinamento para mulheres em várias locais dos EUA. A criação de uma associação internacional de instituições empenhadas no desenvolvimento de comunicações progressistas começou a ser discutida no âmbito da Tides Foundation desde o primeiro

158

contato transatlântico entre a EcoNet e a GreenNet. Em 1990, a idéia de um consórcio de redes independentes sem fins lucrativos que passassem a atuar de forma coordenada e cooperativa, eliminando a superposição de esforços e a duplicação de conteúdos, foi concretizada na sigla APC – Association for Progressive Communications – pelas sete redes que àquela altura já compartilhavam recursos e que assumiram o papel formal de sócias fundadoras: IGC (EUA), GreenNet (Inglaterra), NordNet (Suécia), Web (Canadá), Nicarao (Nicarágua), Pegasus (Austrália) e AlterNex (Rio de Janeiro, Brasil, operada pelo Ibase, que desde então sedia o Secretariado internacional da APC). Seis anos depois, a Associação já reunia 20 membros efetivos (totalizando 23 redes) que formavam a espinha dorsal (backbone) da Rede e cerca de 50 outras afiliadas (ver quadros 1 e 2), que juntas atendiam a cerca de 40 mil usuários de todo o mundo (dados de abril de 1996), 13 mil deles concentrados nas cinco redes do grupo IGC. Nos seus documentos promocionais, a Associação é apresentada como “o mais abrangente sistema global de rede de computadores dedicado a questões sociais e ambientais”, fornecendo serviços de correio eletrônico, conferências temáticas, listas de discussão, distribuição de periódicos, organização de eventos e consultas a bases de dados, entre outros, a assinantes espalhados por 133 países. As redes APC destinam-se ao uso de ONGs, outros tipos de organizações sem fins lucrativos e aos indivíduos que desejam se comunicar com essas entidades. Isto inclui agências das Nações Unidas, instituições de pesquisa, órgãos governamentais, instituições educacionais, grupos de defesa de interesses e ativistas dos movimentos sociais. Os temas priorizados por estes usuários são: • • • • • •

Desenvolvimento Direitos Humanos Direitos dos povos nativos Educação Fortalecimento dos direitos da mulher Justiça econômica e social

• • • • • •

Movimento sindical Paz, não-violência e desmilitarização Pobreza Problemas ambientais Questões populacionais Saúde pública

A pesquisadora Susanne Sallin, que realizou um estudo de caso sobre a Rede com apoio da Nasa e do Ciesin – Consortium for International Earth Scientific Information Network –, considera a APC “um modelo institucional bem sucedido de incorporação de um espectro variado de usuários e provimento de mecanismos para facilitar o intercâmbio de informação política relevante entre eles”. Com base em mais de 30 entrevistas com fundadores e atores chaves das redes APC, ela chama a atenção para os efeitos sociais da atuação em rede (networking) sobre os esforços cooperativos internacionais que visam mudança social. De acordo com Sallin, a Associação vem estabelecendo uma infraestrutura de comunicações que se destina a atender às necessidades dos analistas da política global e tem feito esforços para incorporar aos seus conteúdos trabalhos de pesquisadores científicos. Mas os resultados nesse campo ainda são tímidos.

Quadro 1 – Membros efetivos da APC Região

Rede

Sede

Abrangência

América do Norte

Web Grupo IGC: PeaceNet EcoNet ConflictNet LaborNet

Toronto/Canadá S. Francisco/CA/EUA

Canadá/Cuba EUA, China e Japão EUA, China e Japão EUA EUA

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WomensNet LaNeta

Cid.do México/México

EUA México

América Central

Nicarao

Manágua/Nicarágua

Nicarágua e América Central

América do Sul

AlterNex ColNodo Ecuanex Chasque Wamani

Rio de Janeiro/Brasil Bogotá/Colômbia Quito/Equador Montevidéu/Uruguai Buenos Aires/Argentina

Brasil e América do Sul Colômbia Equador Uruguai e Paraguai Argentina

Europa Ocidental

GreenNet ComLink Antenna NordNet Histria&ZTN

Londres/Inglaterra Hanôver/Alemanha Nijmegen/Holanda Johanneshov/Suécia Liubliana/Eslovênia

Grã Bretanha, África (N, NO e NE) e Oriente Médio Alemanha, Áustria, Suíça e Turquia Holanda Países Nórdicos e Bálticos Liubliana, Belgrado, Pristina, Sarajevo, Tuzla, Zágreb

Europa Oriental

GlasNet

Moscou/Rússia

GLUK

Rússia e países da Comunidade dos Estados Independentes (CEI) Metrologicheskaya/Ucrâ Ucrânia nia

Ásia e Oceania

Pegasus PlaNet

S. Brisbane/Austrália Canterbury/Nova Zelândia

Austrália, Sudeste Asiático e Ilhas do Pacífico Nova Zelândia

África

SangoNet

Johannesburgo/África do Sul

Sul da África

Susanne Sallin destaca que a APC pode parecer pequena, se comparada aos milhões de usuários de sistemas privados como America On-line e Compuserve, mas lembra que 60% dos filiados às redes da Associação são organizações ou indivíduos que representam organizações, o que constitui uma comunidade de milhares de pessoas com uma capacidade multiplicadora incalculável. Segundo o diretor técnico do AlterNex, Carlos A. Afonso, “pode-se dizer que praticamente todas as ONGs de projeção nacional e internacional, na maioria dos países, são usuárias e participantes dos sistemas da APC” (Afonso, 1994, p. 14). Entre elas, o Greenpeace, Amigos da Terra (Friends of Earth), Anistia Internacional e Oxfam. Além disso, 17 agências da ONU escolheram a APC como provedora de informação e meio de comunicação para coleta e disseminação de informação sobre problemas de mudanças globais, entre as quais a FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura), o Comitê de Negociação Intergovernamental para a Convenção sobre Mudança do Clima (INC/FCCC) e o Centro das Nações Unidas de Direitos Humanos.

Quadro 2 – Redes regionais parceiras da APC Região América Central América do Sul Europa

Ásia

País Cuba Chile Áustria Bélgica Espanha Espanha/Catalunha Espanha/País Basco França Hungria Irlanda Itália República Tchecas Romênia Bangladesh Camboja

Redes Ceniai, TinoRed, RedDavid Reduc Alpin, Demut, Link-Atu, Signale KnoopPunt Ipanex Pangea Euskalnet GlobeNet GreenSpider Connect Ireland ItalyNet Econnect StrawberryNet DAK Pactok-CCCNet

160

África

Pacífico Sul

Filipinas Índia/Bombaim Índia/Délhi Índia/Madras Japão Jordânia Malaísia Palestina Sri Lanka Tadjiquistão Turquia Usbequistão Angola Camarões Etiópia Gana Quênia Senegal Uganda Tanzânia Zâmbia Zimbábue Fiji Ilhas Salomão Indonésia Papua Nova Guiné Samoa Ocidental Vanuatu

Phil-Email Centre Ilbom-IndiaLink Bombay IndiaLink Delhi Food JCA MTC Pactok* Baraka Lanka TajNet Info-IST SilkNet AngoNet Canfido Padis FOEGhana, GhastiNet ELCI, ThornTree Endadak Mukla Hnettan, Unidar, Marie ZamNet Mango Pactok-PSDN Pactok Pactok Pactok Pactok-PSDN Pactok-PSDN

* A Pactok é uma rede eletrônica de baixo custo montada em Sydney, Austrália, para servir a ONGs da região sul da Ásia e Pacífico que trabalhem prioritariamente com questões pacifistas, ecológicas, direitos humanos, justiça econômica e social, eliminação da pobreza e avanço da participação democrática. Em Fiji, Samoa Ocidental e Vanatu, a Pactok atua em parceira com a Pacific Sustainable Development Network (PSDN), que integra o plano da ação do Pnud para países em desenvolvimento.

Com o compromisso formal de trabalhar pelo “fluxo livre e equilibrado da informação” e pela “redução da defasagem informacional entre nações pobres e ricas”, a APC incentiva suas redes membros e afiliadas a aumentar o fluxo de informação entre países em desenvolvimento e entre os dois hemisférios. Uma das preocupações nesse sentido é a de que essa distância não aumente ainda mais com “o advento de países Internet e não-Internet”, como qualificou a Coordenadora Assistente da APC Amália Souza. Muitas ONGs reconhecem que uma eficiente estrutura de comunicação é fundamental para o seu empenho de enfrentar as questões em pauta adequadamente ao mesmo tempo em que constróem suas próprias capacidades de ação. (...) As ONGs usam a APC para evitar duplicação de esforços, tomando conhecimento do que outras estão fazendo, para reduzir a sensação de isolamento das pessoas que trabalham em áreas remotas e para capacitar-se com a competência técnica de outras ONGs (Souza, A., s/d) Mas a entidade ainda não enfrenta, de forma efetiva, os problemas das relações interculturais que caracterizam a comunicação entre pessoas e grupos com histórias e situações sócio-econômicas diversas (embora sua coordenadora geral, Edie Farwell, seja uma antropóloga especializada em comunicação transcultural). Um dos documentos oficiais da Associação exalta o fato de a rede fornecer informação em várias línguas, incluindo algumas pouco disseminadas, como as das antigas repúblicas iugoslavas, mas omite que a grande maioria do material veiculado pelas conferências temáticas ainda é em inglês e não indica a existência de qualquer esforço ou incentivo à tradução e adaptação dos conteúdos recebidos

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majoritariamente das redes americanas, canadense e inglesa. Esse tipo de problema ficou evidente em um dos encontros regionais preparatórios da Conferência da ONU sobre a Mulher, em Daccar, capital do Senegal, na África, divulgado pela própria Rede: As mulheres africanas que chegaram a esta capital para lutar contra a sua marginalização ficaram divididas pelas diferenças lingüísticas herdadas do colonialismo. As mulheres que não falam inglês e participaram do fórum de organizações não-governamentais (ONGs) encerrado nesta terça-feira afirmaram que foram excluídas da elaboração do plano de ação da reunião. (...) O texto foi escrito em inglês e como as delegadas ao fórum de ONGs provêm de todo o continente, “ao menos parte do texto deveria estar em francês ou em árabe”, disse à IPS a advogada tunisiana Alya Cherif Chamari, integrante de uma rede de grupos da Argélia, Marrocos e Tunísia. (extraído do tópico 738, de 21/11/94, da conferência ax.mulher) A participação nas conferências da ONU faz parte de uma estratégia traçada desde o início das operações da APC, que coincidiram com a fase preparatória para a Eco-92, sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Unced, da sigla em inglês – United Nations Conference on Environment and Development), o maior encontro de chefes-de-estado até então realizado, que contou com um envolvimento sem precedentes de organizações da sociedade civil de dezenas de países. Em 1990, o Ibase, ONG que operava o nodo AlterNex no Rio de Janeiro (ver Cap. 4.2), apresentou ao Secretariado Geral da Conferência um Projeto de Informação Estratégica para o evento, cujo principal objetivo era colocar à disposição de ONGs e indivíduos um sistema de intercâmbio eletrônico de informação em âmbito internacional por “quase custo nenhum”. O sistema seria (e foi) planejado, implementado e operado pela equipe do AlterNex, incluindo os seguintes serviços: correio eletrônico e conferências de alcance internacional; acesso on-line aos documentos relacionados à Conferência e um boletim informal diário de notícias sobre o evento. O projeto foi aprovado e a APC designada como a rede oficial do megaencontro. Com apoio financeiro da MacArthur Foundation, a EcoNet passou a “facilitar” a informação sobre a Conferência para distribuição pelas demais redes, que incluía a documentação oficial do Secretariado Geral da Unced, documentos chave dos encontros preparatórios (PrepComs), relatórios de reuniões e comunicados à imprensa, alguns deles traduzidos para o francês e o espanhol. As redes APC permitiram que as ONGs participassem de forma mais eficiente das negociações durante os 22 meses anteriores à conferência, em junho de 1992, fornecendo com antecedência acesso aos documentos oficiais da ONU. As ONGs impossibilitadas de participar dos PrepComs podiam manter-se informadas das negociações através das atualizações diárias postadas nas redes. Na conclusão do PrepCom I, as ONGs anunciaram que através do uso da comunicação eletrônica elas foram capazes de enviar “notícias diárias e versões completas dos documentos oficiais do PrepCom para mais de 9 mil organizações e indivíduos distribuídos por mais de 70 países”, segundo o ativista Langston James “Kimo” Goree VI (Sallin, , 1994). A experiência foi tão importante que tornou-se praxe nas conferências mundiais da ONU seguintes: Direitos Humanos, em Viena (1993); População e Desenvolvimento, Cairo (1994); Desenvolvimento Social, em Copenhague (1995); Convenção sobre Clima, em Berlim (1995); Mulher, em Pequim (1995) e Habitat II, Istambul (1966). Todos esses eventos puderam ser acompanhados remotamente através das conferências eletrônicas abertas com mais de um ano de antecedência e alimentadas tanto por documentos oficiais quanto por debates paralelos e contribuições informais.

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Estrutura e funcionamento da Rede A APC é dirigida por um Secretariado Internacional a cargo do AlterNex e por um Conselho coordenador formado por representantes das redes membros, com uma base administrativa no escritório regional da entidade em São Francisco, Califórnia, EUA. O Conselho é responsável por formular políticas; traçar e monitorar um plano de implementação de cada decisão; adotar padrões de conectividade de rede; facilitar a captação de recursos; determinar o valor e coletar as contribuições dos membros; coordenar esforços comuns de marketing, a administração conjunta, os relatórios financeiros das redes e o desenvolvimento e suporte técnico, entre outras tarefas (APC Charter & Bylaws, 1994). Às redes membros cabe aceitar e executar as decisões do Conselho e respeitar a integridade e autonomia de todas as redes da APC. As políticas da Associação são formuladas originalmente on-line, através da troca de idéias em 30 conferências eletrônicas de acesso privado. Algumas conferências são usadas para coordenação, operações, relatórios, discussões internas e intercâmbio de informação, mas as tomadas de decisão são feitas basicamente em apenas duas delas, de acesso restrito ao Conselho, que se “reúne” on-line trimestralmente e “ao vivo” uma vez por ano (Sallin, , 1994). Para ser membro efetivo da APC, uma instituição precisa ter um “sócio responsável”, isto é, alguma outra organização já integrante da Rede que assuma o papel de intermediário entre a Associação e a rede candidata a filiação, que só integrará o quadro pleno de associados após cumprir algumas exigências. Um membro efetivo da APC deve: • atingir uma ampla variedade de grupos e indivíduos coerentes com os princípios da APC, tomando especial cuidado para não excluir visões conflitantes sobre como promover esses princípios; • prover acesso à Rede sem discriminação de raça, religião, gênero ou orientação sexual; • identificar-se e promover-se como um membro da APC, fornecer informação sobre a Associação e divulgar os serviços de outras redes APC; • adotar procedimentos operacionais e organizacionais eficazes, garantindo um serviço ininterrupto; • praticar os menores preços possíveis sem prejudicar as condições do item anterior; • garantir suporte aos usuários para os serviços APC; • prover acesso, a pedido, a quaisquer das conferências públicas da APC; membros plenos devem colocar a lista dessas conferências públicas à disposição de todos os usuários, seja através da conferência “conferências” ou de algum outro mecanismo aceito pela APC; • fornecer listas públicas de usuários a outras redes APC e tornar accessíveis listas públicas de usuários de outras redes, atualizadas pelo menos mensalmente; • maximizar a segurança das comunicações privadas contra intromissões de agências não-autorizadas de qualquer natureza; • adotar uma estrutura sem fins lucrativos ou algo equivalente aprovado pela APC; • liberar toda informação financeira à APC e a outros membros efetivos; esta informação é confidencial e não pode ser divulgada fora do âmbito das entidades parceiras; (extraído do documento Member Guidelines, atualizado em 25/03/94) A APC “oferece a espinha dorsal [backbone] técnica e administrativa às redes membros que, em troca, desenvolvem relações técnicas e cooperativas com outras mais de 50 redes menores de países em desenvolvimento” (Souza, A. s/d). A distribuição das redes pelo mundo obedece uma geografia peculiar: quase 60% das associadas efetivas da APC estão nas Américas (sete na do Norte, uma na Central e cinco na do Sul); sete delas têm sede na Europa, duas na Oceania e apenas uma na África. Já as afiliadas concentramse basicamente no lado direito do planisfério: são 14 na Europa e igual número na Ásia e na África, além de

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seis nas ilhas do Pacífico Sul; do lado esquerdo ficam três em Cuba e uma no Chile. Há ainda seis outras redes que aparecem no cadastro de usuários do nodo AlterNex e que não figuram das listas da APC. No início de 1996 estavam em andamento projetos de desenvolvimento de redes na Bolívia, Costa Rica e Quênia visando o fortalecimento de organizações locais (ver mapa na próxima página). Segundo Sallin, a APC tem-se empenhado em conquistar novos parceiros em muitos países pobres e feito esforços para apoiar essas redes financeira e estruturalmente. Geralmente as redes de países mais pobres têm problemas não só com sua infraestrutura interna de comunicações, mas também de convencer usuários do valor das redes de computador, já que muitos não são familiarizados nem mesmo com as possibilidades do correio eletrônico. As tecnologias de computação em rede não receberam o mesmo nível de publicidade em países em desenvolvimento como aconteceu em nações mais industrializadas (Sallin, , 1994). ________________________________ Referências: AFONSO, Carlos. A magia dos computadores. Democracia nº 108, nov-dez 94, p. 13-15. Rio de Janeiro, Ibase. APC. History APC.

of the APC. Home Page da APC, atualizada em abril, 1996: http://www.apc.org/history.html

APC Networks: Global computer communications for environment, human rights, development & peace. documento extraído em janeiro, 1996 de: gopher://gopher.igc.apc.org:70/00/igc/apc/apc_brochure

APC. APC

Members & Partners. Home Page, atualizada em 8/5/95: http://www.apc.org/members.html

APC.

Member Guidelines (documento enviado por correio eletrônico por Amália Souza, s/d, sem referências)

APC.

Charter & Bylaws (idem)

CGNET Services. HANSNET.

What is CGNet? Home Page, maio, 1996: http://www.cgnet.com

HandsNet on the web. Home Page, maio, 1996: http://www.handsnet.org/handsnet

HOMEONET.

A communications network for the world’s homeopathic community. Home Page, maio, 1996: http://www.dungeon.com/home/cam/hnet.html

IGC. History PACTOK.

of the networks. Home Page do IGC, maio de 1996: http://www.igc.apc.org/igc/history.html

Pactok. Home Page, maio de 1996: http://www.peg.apc.org/~packtoc

SALLIN, Susanne.

The Association for Progressive Communications: a cooperative effort to meet the information needs of non-governmental organizations. EUA, Ciesin/Harvard, 1994. Extraído do Gopher da APC na Internet: gopher://gopher.igc.apc.org:70/11/igc/articles

SOUZA,

Amália [Coordenadora Assistente do Secretariado da APC]. NGO eletronic networking. Article for clips, Videazimut. s/d.

WOMENSNET.

Partners & projects. Home Page, maio, 1996: http://www.peg.apc.org/womensnet/projects.html

WOMENSNET.

Documento extraído de: gopher://gopher.igc.apc.org:70/00/women/WN, em 21/05/96

164

165

4.2. O nodo AlterNex O AlterNex foi criado no final da década de 80, no contexto das inovações políticas, metodológicas e tecnológicas que o Ibase tentava trazer para a prática dos movimentos sociais brasileiros desde a sua criação, em 1981, quando um simples modelo de microcomputador Apple (anterior ao advento dos PCs) incorporado à rotina de trabalho já causava estranheza. Um certo tipo de “basismo” predominante àquela época (e cujos vestígios podem ser encontrados ainda hoje) levava a que (sic) grupos e organizações que trabalhavam com as camadas populares acabassem por vestir sua camisa “às avessas”: trabalhar com os pobres significava também trabalhar como os pobres, ou seja, empregar apenas os meios accessíveis aos pobres. Nesta concepção, tanto por seu preço, quanto pelo tipo de treinamento e habilidades requeridas ou mesmo por sua procedência estrangeira, os computadores eram um alvo certo para críticas e preconceitos que, em versões exacerbadas, os reduziam a “coisa de multinacionais”, quando não “do próprio demônio” (Ibase, 1992, p. 6). Visando “retirar o conteúdo ideológico implícito nessas representações”, a equipe do Ibase passou a promover reuniões e contatos com lideranças populares para mostrar que, “recusando o progresso tecnológico, o movimento organizado prejudicava o alcance e a eficácia de seu próprio trabalho”, contribuindo para “ampliar ainda mais a distância que o separava das elites, que sempre se valiam dos meios mais modernos para defender seus interesses” (Ibase, 1992, p. 7). À medida que as resistências foram sendo vencidas e que outras ONGs nacionais passaram a adotar o uso de computadores em suas rotinas de trabalho, o Ibase começou a dar um passo adiante. Em 1987 iniciamos experimentalmente um serviço de correio eletrônico (BBS) via Renpac, em parceria com a Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids (Abia), para divulgação via rede de informações sobre Aids. Desse projeto nasceu a iniciativa do Programa de Desenvolvimento de Redes do Ibase (batizado de AlterNex). Este programa se beneficiava de várias experiências internacionais nesse campo entre ONGs, com o apoio de agências internacionais, como o projeto Interdoc e outros (Afonso, C.A., 1995). Em parceria com o Institute for Global Communications (IGC), com o apoio do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e da Agência Brasileira de Cooperação (ABC, do Ministério das Relações Exteriores), além de outras entidades internacionais, como a agência de cooperação italiana Cesvi – Cooperazione e Sviluppo –, o AlterNex passou a funcionar experimentalmente no final de 1988 e de forma permanente, 24 horas por dia, a partir de 18 de julho de 1989. Em maio do ano seguinte, o Ibase participou da fundação da APC, sediando o seu secretariado internacional, e criou um setor de telemática que, além de apoiar as atividades das equipes de pesquisadores e analistas de informação do instituto, através de uma rede local de computadores e de assessoria técnica, tinha os seguintes objetivos: • dar consultoria, desenvolver sistemas e capacitar membros das ONGs na utilização de meios telemáticos; • fornecer serviços avançados, a baixo custo, de computação e comunicação de dados a entidades da sociedade civil do Brasil e de outros países, especialmente da América Latina; • apoiar tecnicamente o desenvolvimento de redes internacionais de ONGs através de meios telemáticos (Ibase, 1991, p. 49) Em novembro de 1990, o Ibase assinou um convênio de cooperação com a Universidade Federal do Rio de Janeiro para, em conjunto com o Núcleo de Computação Eletrônica (NCE) da universidade, 166

participar da instalação e operação de um nodo da rede Internet no Rio de Janeiro, como parte do projeto da Rede Nacional de Pesquisas (RNP). Com isso, “passou a ser o primeiro serviço de rede de computadores operado por uma ONG na América Latina a ter uma conexão dedicada e permanente com a Internet – um excepcional privilégio para a sociedade civil brasileira” (Afonso, 1994, p. 14). Durante o processo preparatório para a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Eco 92 e Rio 92, na linguagem da mídia), a Rede APC foi indicada pelos organizadores do evento como “um meio prioritário de circulação de informações relacionadas aos preparativos, trabalhos e resultados da Conferência” (Ibase, 1991, p. 50) e o Ibase assumiu a coordenação local dos serviços telemáticos montados nos três pólos de atividades do evento no Rio de Janeiro (Hotel Glória, Rio Centro e Fórum Global no Aterro do Flamengo). “Nasceu daí uma excelente parceria que, entre outras coisas, permitiu que o Ibase passasse a ser membro da RNP e da Rede-Rio, e certamente contribuiu para fazer do projeto de redes da Eco-92 um êxito” (Afonso, C.A., 1995). Em agosto de 1994 foi implantado o primeiro Centro de Informações de Redes voltado a entidades da sociedade civil (CI-ONG), com apoio do PNUD e do CNPq, que além de várias atividades de facilitação de informações oferecia treinamento a grupos de usuários e desenvolvimento de pacotes de software de acesso aos recursos da rede, com base em recursos de domínio público (Afonso, C.A., 1995)32. O Ibase adota uma política de apoio a entidades e indivíduos provedores de informações relevantes à comunidade, reduzindo substancialmente os custos de utilização através de convênios” (com entidades como o Dieese – Departamento Intersindical de Estudos e Estatísticas Sócio-econômicas – e o Ibam – Instituto Brasileiro de Administração Municipal). (...) O que diferencia o AlterNex de outros serviços em seu campo é o acervo dinâmico de informações internacionais indispensáveis para a ação social e política, que são entregues pelos próprios atores sociais em escala mundial. (Afonso, 1994, p. 15) Para manter a sua auto-sustentação simultaneamente à finalidade não lucrativa, o AlterNex estabeleceu algumas seguintes ressalvas para a utilização dos serviços por empresas (que não poderiam promover atividades comerciais na rede), indivíduos e organizações da sociedade civil (que poderiam “cobrar pelo uso de serviços de intercâmbio de informação que utilizassem os recursos da RNP e do AlterNex, desde que ficasse expresso que não se objetivava lucro, mas apenas uma contribuição de usuários para a auto-suficiência e desenvolvimento de serviços”). Mas com a criação da Internet Brasil, operada pela RNP (Rede Nacional de Pesquisa) como uma rede de uso geral, a maior parte dessas restrições, sobretudo as relacionadas à cobrança de serviços e ao uso comercial, deixou de existir. Com o crescimento exponencial da base de usuários após a implantação do acesso à Internet via interface gráfica (World Wide Web), o Ibase vislumbrou no AlterNex a possibilidade de reduzir a sua vulnerabilidade financeira: em janeiro de 1996 criou a AlterCom, empresa controlada pelo Instituto que passou a atuar como provedor comercial de acesso à Internet, utilizando a experiência acumulada no AlterNex. Financiado por fundações estrangeiras, a americana Ford e a holandesa Döen, o novo sistema estabeleceu a ambiciosa meta de ampliar o atendimento aos então cerca de três mil usuários para 30 mil em

32

Esta responsabilidade agora está a cargo do Centro de Informações da Internet Brasil, operado pela RNP, cujas atividades podem ser conhecidas através da home page: http://www.ci.rnp.br 167

11 meses e 50 mil em três anos33 (número equivalente a dois terços da atual base de usuários de todas as redes da APC juntas). Apesar de o Ibase enfatizar que o compromisso com a democratização da informação será mantido e de a APC incentivar a auto-sustentação com base nas contribuições dos usuários, metas desse porte colocam o provimento de acesso à Internet acima de alguns princípios estabelecidos pelos estatutos da Associação para as suas entidades-membros, entre os quais, os de operar em bases sem fins lucrativos e praticar os menores preços possíveis. Mas, segundo o diretor do AlterNex, Carlos A. Afonso, vários dos membros da APC, como a GreenNet e a Pegasus, já são hoje organizadas em forma de empresas, “até porque a forma ONG em vários países é muito complicada para serviços que precisam funcionar de um modo autosuficiente”. Ele explica que a criação da empresa AlterCom “foi uma forma que julgamos mais adequada do que operar com a estrutura profissional de uma entidade sem fins de lucro”34 . Contudo, a insuficiência em relação a capacitação, apoio técnico e consultoria às ONGs fica evidente nos baixos índices de utilização do correio eletrônico e sobretudo das conferências temáticas por essas organizações, revelados pelos levantamentos feitos no sistema para esta pesquisa (ver Cap. 4.3 e 4.4). Com raras exceções, apenas uma pequena elite de ONGs brasileiras “de projeção nacional e internacional” é efetivamente participante dos sistemas da APC. Apesar de ter adotado a interface gráfica na sua oferta de serviços, a grande marca diferencial do AlterNex em relação aos demais provedores de informação via Internet continuou a ser as conferências eletrônicas da interface a caracter (textos com tipologia padrão, com formatação mínima de parágrafos). Ao contrário do correio eletrônico, que permite a troca de mensagens particulares entre usuários individuais, as conferências são repositórios de mensagens que podem ser lidas por um número amplo ou limitado de pessoas, dependendo do seu status: algumas são públicas, isto é, abertas a todos os usuários da rede; outras são privadas, com acesso restrito a uma organização ou a usuários previamente cadastrados. Uma conferência temática consiste em uma lista de tópicos sobre um assunto específico, que deve estar adequado aos objetivos gerais da conferência (o que nem sempre acontece). Cada tópico pode suscitar debate, esclarecimentos, dúvidas que podem ser expressos em subtópicos denominados respostas (cujo número disponível aparece no índice da conferência, ao lado do título de cada tópico). Há conferências que funcionam como listas ou grupos de discussão, no qual cada assinante recebe em sua caixa postal todos os tópicos enviados sobre o tema em questão. Outras transformam-se em banco de informações textuais, que permitem, por exemplo, a reconstituição de um processo como o da discussão e votação da lei de patentes no Brasil (em ) ou a formação e consolidação da Ação da Cidadania contra a Miséria e pela Vida – a “campanha do Betinho” – na dh.fome. (...) a conferência propicia um processo de grupo, uma relação interativa entre ativistas de organizações que trabalham com questões ambientais. As conferências criam um espaço virtual ou uma comunidade virtual onde as pessoas podem trocar informação, permutar novidades e fornecer recursos de informação. É um meio técnico de compartilhar estratéguas e trabalhar junto (Michael Stein, gerente de programação da EcoNet, em entrevista a Susanner Sallin, 1994).

33 34

Dados veiculados na época pelos jornais Gazeta Mercantil, O Globo e Jornal do Brasil Esclarecimento prestado por correio eletrônico em 23/10/96. 168

Com base na listagem completa de conferências disponível no AlterNex (em fevereiro de 1995) foi possível identificar seis tipos de serviços de comunicação da informação oferecidos aos usuários.

a) serviços de referência • bancos de documentos; documentos oficiais e informes de instituições que participam da rede; relatórios de atividades; artigos de reflexão publicados ou inéditos; listas de bases de dados especializadas; • bibliotecas de periódicos; coleções de publicações; • listagem de fontes de informação; listas de publicações selecionadas; catálogos; • calendários de conferências regionais ou mundiais; documentação preparatória e relatórios de eventos; lista de eventos e de premiações em áreas de interesse específico; agenda de instituições; • pedidos e ofertas de empregos; • modelos (templates) de cartas para defesa de interesses; modelos para abrir novos tópicos; • conferências arquivadas ou disponíveis apenas para leitura (read only); palavras-chaves em inglês: library, documentation, directory, database, general information, communications from, overview of, description of, main information, workings reports, articles, on-line listing; hotline updates; mailing list.

b) serviços de sinopses • • • • • • •

resumos de manchetes de jornais e TVs; sumários de periódicos; sumários periódicos de notícias sobre temas específicos; indicações bibliográficas; listagens de conferências temáticas; quadros sinópticos (snapshots) de indicadores sócio-econômicos ou ambientais; tabelas e cronogramas (schedule);

c) mídia eletrônica • • • •

transcrição de periódicos (boletins e revistas); textos enviados por agências de notícias; serviços de envio periódico de informações recentes não veiculadas pela mídia tradicional; informativos para a mídia (press releases) enviados por instituições ou movimentos sociais; palavras-chaves em inglês: newsletters, news posted weekly; timely news; news service; news bulletin

d) conferências operacionais

• • • • • • •

instruções para uso e gerenciamento dos serviços da rede; suporte a métodos de busca e captura de informação; apoio a facilitadores e mediadores de conferências; recursos e documentos da Internet; novidades e avisos importantes da Internet e do AlterNex; depósito e captura de scripts, macros e programas; dicas sobre sistemas de computador e novas tecnologias de informação;

e) correio eletrônico

• envio e troca de mensagens de interesse pessoal ou geral; • envio/recebimento de listas mediante inscrição ou assinatura; • envio de faxes, telex e outras correspondências a uma lista de pessoas ou instituições palavras-chaves em inglês: just talk; making friends and contacts; private discussion

f) conferências de discussões temáticas

• debates e defesa de interesses de grupos sociais, tópicos, países, regiões (ver classificação temática das conferências mais adiante) palavras-chaves em inglês: discussion; dialogue; ideas; opinions; issues; monitoring; echoes; information exchange; alerts; positive stories

169

Em termos percentuais, do total de 312 conferências disponíveis na listagem, tais serviços estavam assim distribuídos:

Discussões temáticas Serviços de referência Mídia eletrônica Conferências operacionais Serviços de sinopses Correio eletrônico

175 53 29 28 14 13

56% 17% 9,5% 9% 4,5% 4%

O problema nesta oferta é que a grande maioria das “centenas de conferências existentes no sistema” – como enfatizam os folhetos promocionais do AlterNex – só é acessível a um seleto número de pessoas que domina a língua inglêsa, já que apenas 30,7% das conferências veiculam tópicos em português (o quadro não mudou significativamente até meados de 1996). Isto contraria frontalmente o objetivo primordial de democratização da informação na sociedade civil proposto pelo Ibase, pelo AlterNex e pela própria APC, pois exclui, por exemplo, milhares de lideranças sindicais e comunitárias, professores de nível médio, técnicos de administrações municipais entre outros tantos “agentes multiplicadores” em potencial que deveriam ser incentivados a utilizar a rede. A escassez de material em português diz respeito, também, ao tratamento de assuntos de interesse do usuário brasileiro, à necessidade de análise crítica da realidade nacional ou mesmo de um olhar brasileiro sobre os problemas mundiais. No estado atual da rede, o que está sendo disseminado, primordialmente, é a visão de mundo de determinadas ONGs e movimentos sociais estrangeiros (sobretudo norte-americanos) e o pensamento das Nações Unidas sobre as relações internacionais e sobre importantes questões estruturais dos países pobres. A começar pelas 64 categorias utilizadas pelo AlterNex para classificar as conferências disponíveis na rede, que seguem o padrão utilizado internacionalmente pela APC e outras redes associadas. Em consequência, os termos são em inglês (ainda que o usuário tenha optado pelo menu de comandos em português ou espanhol) e a classificação não leva em conta os interesses predominantes entre os usuários brasileiros ou mesmo as áreas privilegiadas pelo Ibase e seus programas de ação. Comparando-se essas categorias com as descrições das conferências disponíveis, observa-se que estas comportam núcleos temáticos, com subgrupos de interesse, que poderiam ser resumidos como a seguir:

170

Nº de conferências NÚCLEOS TEMÁTICOS

ÁREAS DE INTERESSE

português

ingl./ esp.

3

4

1

15

2

29

1

11

1

7

2

9

14

35

7

33

3

59

--

10

7

2

AGRICULTURA

• posse e uso da terra • produção e distribuição de alimentos

DESENVOLVIMENTO

• justiça social • população • trabalho & renda

DIREITOS HUMANOS

• crianças • povos nativos e refugiados • violência, segurança e paz

ECONOMIA

• Mercosul

EDUCAÇÃO & PESQUISA

• • • • •

GÊNERO, SEXO E RAÇA

• mulheres • homosexuais • etnias

INTERESSE GERAL

• • • • •

jovens redes publicações eletrônicas serviços noticiosos questões éticas e políticas

MEIO AMBIENTE

• • • • • • •

questões gerais águas clima lixo & desperdício energia florestas legislação ambiental

ONGs

• movimento cooperativo • filantropia empresarial

POLÍTICA

• partidos • poder local • sindicalismo

REGIÕES E PAÍSES

• • • • • • • •

África América Central/ Caribe América Latina/ Amér. do Sul América do Norte Ásia Europa Oriente Médio/Golfo Árabe Pacífico

3

30

RELAÇÕES INTERNACIONAIS SAÚDE

• • • •

Nações Unidas (ONU) Eventos regionais e mundiais Aids Homeopatia

1

19

1

2

JORNALISMO & MÍDIA

assistência técnica educação ambiental educação popular programas de treinamento tecnologia alternativa

171

A classificação utilizada nesta pesquisa baseou-se em duas listagens de padrão “médio” (conforme as opções disponíveis no sistema) capturadas no AlterNex: uma em dezembro de 1994, com 327 conferências descritas em inglês (sendo 55 da Usenet, das quais apenas cinco com descrição); e outra capturada em 8/02/95, com 258 conferências descritas em português (apenas duas sem descrição). Mas nenhuma das listagens disponíveis no sistema estava completa. O mini-manual recebido na época pelo usuário, por exemplo, dizia que “no AlterNex, são cerca de 800 conferências sobre centenas de temas”, mas não explicava que a grande maioria era de acesso privado. Além disso, havia dezenas de conferências públicas cujos nomes não foram incluídos nas listagens e que só podem ser descobertas através de uma “varredura” na conferência , onde o anúncio de uma conferência recém-criada ou renomeada só aparece uma ou outra vez. Uma busca feita nas manchetes veiculadas entre outubro de 1994 e fevereiro de 1995 revelou a existência de 40 nomes de conferências que não apareciam nas listagens disponíveis, ficando, portanto, à margem do conhecimento da maioria dos usuários; mais da metade delas havia sido criada em 1994. Essas conferências eram alimentadas por mais de 120 logins institucionais, a grande maioria pertencente a entidades sem fins lucrativos, sindicatos, associações e movimentos da sociedade civil brasileira e algumas ONGs estrangeiras. Fontes consultadas: AFONSO,

Carlos A. O Ibase, a Rede-Rio e a RNP (tópico da conferência ax.brasil, escrito em 15/ 02/95)

______________. A magia dos computadores. Democracia nº 108, nov-dez 94, p. 13-15. Rio de Janeiro, Ibase. ______________. Normas de utilização dos serviços (tópico da conferência ax.info, escrito em 28/ 09/94) ______________. A telemática e as ONGs – o momento das redes. In: Desenvolvimento, cooperação internacional e as ONGs (1º Encontro Internacional de ONGs e o Sistema de Agências das Nações Unidas). Rio de Janeiro, Ibase/Pnud, 1992, pp. 184-188. IBASE.

Um caso exemplar de inovação e transferência de inovação política. Relatório interno de atividades, 1992 (cópia impressa via computador), 19 pp. (mais Anexo de 17 pp s/nº)

_____. Programa geral de atividades 1990-94. Relatório interno, fev. 1991, 55 pp.

4.3. Os “nós” da rede À época em que os levantamentos para esta pesquisa foram iniciados (janeiro de 1995), o AlterNex oferecia apenas duas possibilidades de mapeamento do perfil dos seus assinantes e do uso que fazem da rede: o cadastro de usuários, montado a partir das fichas preenchidas no ato de adesão ao sistema e então disponível a partir do menu principal; e o comando finger, que fornecia informações sobre as últimas conexões do correio eletrônico de cada login (a identidade do usuário na rede). Ambas, porém, não eram suficientes para identificação das relações de intercâmbio de informação vigentes, dos tipos de elos estabelecidos e de possíveis líderanças. Primeiro porque o cadastro de assinantes não possuía uma estrutura de campos que permitisse a recuperação de informações específicas, como por exemplo profissão ou ocupação, que só apareciam eventualmente no campo personal, no qual também podia constar o nome da instituição para o qual o usuário trabalha. Já o campo keys, destinado às palavras-chaves indicadoras dos assuntos que os usuários 172

esperavam encontrar na rede, era preenchido de forma lacônica por alguns e excessiva pela maioria, muitas vezes com utilização de termos diferentes para indicar a mesma preferência (por exemplo, “ecologia” e “meio ambiente”). Sem essa estruturação, qualquer tentativa de análise quantitativa sairia distorcida. Segundo porque o correio eletrônico é um mecanismo de envio e recebimento de mensagens de interesse particular (ainda que profissional) entre indivíduos. Cada usuário tem sua própria “caixa postal”, onde são depositadas as mensagens a ele dirigidas. Logo, os elos de comunicação estabelecidos por uma pessoa através de correio eletrônico só podem ser avaliados quando o usuário “abre” a sua caixa postal (cópias das mensagens enviadas e recebidas durante um período de tempo) para o pesquisador. O espaço da rede em que se estabelecem redes de relações “públicas” é o das conferências eletrônicas. Estas, porém, não possuem sistema automatizado de busca por palavra-chave que permitisse, por exemplo, saber quais os usuários que mais enviaram tópicos a determinada conferência num período X de tempo. Em função disso, foram adotados procedimentos “exploratórios” mistos, combinando levantamentos estatísticos com buscas por palavras-chave, que permitiram chegar a um conjunto bem diferenciado de instituições ativas na rede. A primeira abordagem partiu de uma amostra aleatória de 384 fichas de usuários (22% dos 1.709 logins listados no início de fevereiro de 1995), que foi então depurada e estruturada em campos para permitir a tabulação de termos relacionados a atividades profissionais (professor, médico, engenheiro...) e ocupacionais (pesquisador, coordenador, empresário etc). De imediato, foram identificados dois tipos de logins: um institucional, geralmente composto pela sigla ou iniciais de uma instituição, empresa ou organização e utilizado por seus diretores, gerentes ou coordenadores e também por alguns pesquisadores que chefiam projetos de universidades; outro individual, mais utilizado por profissionais autônomos, dirigentes de pequenas empresas, estudantes e professores universitários. A exceção fica por conta do Ibase, que concede a todos os seus pesquisadores, funcionários administrativos e equipe de apoio operacional do AlterNex logins de caráter individual (associados à identidade pessoal) para uso “a serviço” da instituição. A pesquisa por amostragem revelou ligeira predominância do usuário institucional (45,5%) sobre o individual (41,5%), devido ao peso dos usuários Ibase/AlterNex (que representavam 11% do total da amostra e 24% dos usuários qualificados como institucionais, incluindo contas especiais de demonstração, treinamento e visitantes estrangeiros) e um índice relativamente alto de usuários não enquadráveis em qualquer categoria (13,3%) em função de dados incompletos ou imprecisos no cadastro. Entre os usuários institucionais, mais de 70% eram entidades da sociedade civil sem fins lucrativos (incluindo sindicatos e associações profissionais) e algumas poucas instituições governamentais ou acadêmicas; o restante era formado por empresas e entidades empresariais, a maioria do setor de informática (Quadro 1). Entre os usuários individuais, também se observou a predominância dos profissionais de informática e telecomunicações, seguido do pessoal acadêmico (professores, pesquisadores, cientistas). A comparação desta listagem de fevereiro como uma outra tirada em 11 de abril de 1995 (2.178 logins) evidencia a tendência de crescimento do número de usuários do AlterNex, que aumentou mais de cinco vezes entre 1991 e 1995, mas em ritmo constante. A “descoberta” da Internet pelo público em geral após a disponibilidade de informações em interface gráfica, através da World Wide Web (WWW), acelerou

173

exponencialmente este crescimento a partir de 1995, gerando uma demanda diferenciada dos objetivos originais da rede. Quadro 1 - Pesquisa por amostragem de profissão/ocupação dos usuários individuais do AlterNex 23%

Profissional de informática e telecomunicações

20%

Professor universitário/ pesquisador/ cientista

14%

Dirigentes e profissionais de ONGs/ lideranças e ativistas de movimentos sociais

12%

Jornalista/ publicitário/ fotógrafo/ videomaker/ bibliotecário

9%

Médico/ dentista/ psicólogo/ psicanalista

5,5%

Economista/ Especialista em marketing

5%

Engenheiro (químico, civil, mecânico, naval, elétrico)

5%

Empresários

2,5%

Parlamentar / Partido Político

2,5%

Designer / artista gráfico/ artista plástico / arquiteto

1,5%

Advogado / jurista

A análise das duas listagens revela também que esse crescimento não alterou significativamente o perfil da distribução regional dos usuários, fortemente concentrados na região Sudeste, sobretudo no Rio de Janeiro, por ser a sede do AlterNex35. Apesar de ter apresentado o maior crescimento relativo (36%), a região Sul manteve-se atrás da região Nordeste em números absolutos de logins, o que talvez possa ser atribuído ao crescimento da participação política no Ceará e à expansão do movimento ecológico no Rio Grande do Norte, estados onde o número de logins dobrou (Quadro 2). Quadro 2 – Evolução da distribuição geográfica dos usuários do AlterNex (fev-abr/95) Região

NORTE 48 – 54 (+12%)

NORDESTE 103 – 132 (+28,5%)

Unidades da federação Acre Amapá Amazonas Pará Rondônia Roraima Tocantins Maranhão Piauí Ceará Rio Grande do Norte Paraíba Pernambuco Sergipe Alagoas Bahia

Nº de assinantes 5 -12 20 9 -2 8 4 8 7 2 36 7 3 28

6 -13 23 9 -3 8 4 15 17 2 39 10 4 33

35

Os usuários residentes na região metropolitanda do Rio de Janeiro (com DDD 021) fazem o acesso à rede pagando uma ligação telefônica local; já os de outras cidades (à exceção de São Paulo, a partir de meados de 1996) pagam ligação interrurbana ou têm que usar a intermediação do serviço de Rede Nacional por Pacotes (Renpac), da Embratel. 174

SUDESTE 1.391 – 1.778 (+28%) SUL 83 – 113 (+36%) CENTRO-OESTE 84 – 101 (+20%)

Espírito Santo Rio de Janeiro Minas Gerais São Paulo

8 1.032 61 290

12 1.331 81 354

Paraná Santa Catarina Rio Grande do Sul

28 14 41

34 23 56

Goiás Mato Grosso Mato Grosso do Sul Distrito Federal

5 6 4 69

10 6 5 80

Base: 1.709 usuários em fevereiro; 2.178 em abril

Para delimitar a “rede parcial” de ONGs e movimentos sociais nesta rede eletrônica, partiu-se das organizações listadas por Leilah Landim como “de assessoria” ou “a serviço” dos movimentos sociais e populares, de cujos nomes foram retirados termos recorrentes relacionados a dois eixos paradigmáticos:

a) um ligado a formas de institucionalização de ações coletivas: ação, agência, assistência, associação, centro, coletivo, comissão, comitê, conselho, convenção, cooperativa, equipe, federação, fórum, fundação, grupo, instituto, movimento, núcleo, rede, serviço, sociedade, solidariedade; b) outro associado a atividades de organização e produção de conhecimento, transferência de informação e emancipação cultural e intelectual: análise, assessoria, articulação, avaliação, comunicação, consultoria, coordenação, cultura, divulgação, documentação, educação, estudos, formação, informação, investigação, memória, orientação, pesquisa, planejamento, programa, projeto (ver glossário no Anexo 1); Com base nessas palavras-chaves foi feita, então, uma busca no cadastro de usuários do AlterNex, filtrando-se as organizações e movimentos sociais autônomos em relação a governos, empresas, partidos políticos, sindicatos (exceto intersindicais, como o Dieese e o Deser), igrejas e universidades, o que resultou em 296 entidades, incluindo mais de 20 latino-americanas e algumas ONGs estrangeiras e fundações da cooperação internacional em atividade no país. Foram excluídas, também, instituições sem fins lucrativos tradicionais, como a Apae – Associação de Paes e Amigos dos Excepcionais –, e a Sociedade Pestalozzi, que além de já existirem muito antes das entidades que deram origem às ONGs, possuem uma atuação “desligada” dos movimentos sociais. Embora 43% das entidades pré-selecionadas possuam no nome alguma referência a atividades de produção, organização e difusão de informação, foram os termos relacionados no primeiro eixo que permitiram identificá-las mais rapidamente no cadastro de usuários do AlterNex e agrupálas por tipos predominantes de institucionalização. Quadro 3 – Padrões de institucionalização das ONGs e movimentos sociais filiados ao AlterNex Padrões de institucionalização • centro/ fórum/ núcleo • associação/ cooperativa/ federação/ sociedade/ união • instituto • coletivo/ comissão/ comitê/ grupo • fundação

Nº 85 52 48 24 20

175

• ação/ agência/ agentes • rede • serviço (assistencial ou de assessoria não-comercial) • movimento • assessoria • conselho/ convenção • outros

13 10 10 09 09 04 12 TOTAL 296

Ainda utilizando o procedimento de busca por palavra-chave, foi possível classificar a maioria das 296 instituições em 21 áreas de especialização (25 delas não possuem um nome identificador da sua área de atuação e dez remetem a atividades diversas). A predominância de instituições dedicadas aos problemas ambientais coincide com o peso que as conferências ecológicas têm na rede (ver Cap. 4.4) e o alto percentual de instituições dedicadas exclusivamente a atividades de produção e difusão de conhecimento e informação confirma a importância que as ONGs atribuem à pesquisa, à informação e à comunicação. Quadro 4 - Áreas de especialização das ONGs e movimentos sociais filiados ao AlterNex Ecologia/ Meio ambiente * Conhecimento/ Informação/ Comunicação Direitos Humanos Ecumenismo/ Evangelização/ Pastoral Questões agrárias e fundiárias Associações/Uniões Promoção/ Ação social Educação Popular Cultura/ Ação Cultural/ Cultura Popular Saúde/ Aids Desenvolvimento Assessoria/ Apoio técnico Infância e adolescência Defesa da cidadania Feminismo/ Questões de gênero Mundo do trabalho Questões indígenas Tecnologias Questão urbana Questões afro-brasileiras Políticas públicas/ sociais Outros

66 22,0% 43 14,5% 15 5,0% 14 4,6% 13 4,2% 11 3,6% 11 3,6% 11 3,6% 10 3,3% 10 3,3% 09 3,0% 09 3,0% 08 2,5% 08 2,5% 07 2,3% 05 1,5% 05 1,5% 04 1,3% 04 1,3% 03 1,0% 02 0,6% 35 11,8% 296 100,0% * Inclui agência de notícias, boletim, rádio, vídeo, pesquisa e divulgação de informações especializadas

É importante lembrar que muitas “associações”, “fóruns”, “federações” e “uniões”, apesar de nãogovernamentais, não-comerciais e não-sindicais, são geralmente criadas para defender os interesses específicos dos seus filiados (pais, estudantes, escoteiros, seringueiros, municípios, bairros etc), ao contrário das organizações privadas sem fins lucrativos criadas para defender interesses de outros grupos (crianças e adolescentes, comunidades pobres, adultos analfabetos, portadores do vírus HIV, etc). Assim, a Federação Municipal das Associações de Bairros de Duque de Caxias difere substancialmente, nos métodos e nos

176

objetivos, da Federação de Órgãos de Assistência Social e Educacional (a Fase), reconhecida nacional e internacionalmente como uma das maiores e mais tradicionais ONGs brasileiras. Delimitado o universo de organizações pertinente aos objetivos desta pesquisa, o passo seguinte foi verificar o grau de atividade de cada uma na rede, em duas etapas: uma relativa ao uso de correio eletrônico (envio e recebimento de mensagens individualmente ou para/de listas de discussão), outra relativa à participação ativa nas conferências eletrônicas (checando-se os tópicos enviados por cada login), já que não havia como medir a participação passiva e o uso indireto, isto é, só leitura ou cópia do texto de um tópico para utilização posterior (por exemplo, atividades de treinamento e educação popular, produção de um artigo, relatório técnico etc). É importante explicar que cerca de 7% das 296 entidades pré-selecionadas utilizavam mais de uma identidade eletrônica institucional para ter acesso à rede. A investigação teve como base o seguinte quadro: • Nº de entidades de login único • Nº de entidades com logins múltiplos • Total de entidades

274 = 274 logins 22 = 106 logins 296 = 380 logins

Através do comando finger no menu principal do AlterNex foi possível verificar as datas da última conexão e da última mensagem recebida por cada login pesquisado, se havia mensagens ainda não lidas ou se o usuário nunca havia “aberto” a sua caixa de correio (never logged in)36. O resultado dessa busca foi espantoso: quase a metade dos logins atribuídos às entidades previamente selecionadas estava inativa, dos quais 37% nunca haviam utilizado o correio eletrônico. • Nº de logins não reconhecidos pelo finger

38

10%

• Nº de logins reconhecidos mas nunca utilizados

146

38,5%

• Total de logins inativos

184

48,5%

• Total de logins ativos

196

51,5%

Dos 106 logins múltiplos iniciais, mais da metade estava inativa. A maioria das instituições que possuíam mais de um login ficava na faixa de duas a seis identidades eletrônicas; fora disso, havia três “grandes” usuários: a Comissão Pastoral da Terra (CPT), com 12 logins (sete inativos); a Fase, com 18 (14 inativos) e o Dieese, com 19 (sete inativos). A Associação Brasileira de Vídeo Popular criou um login para cada uma das suas cinco regionais, mas apenas o da sede era utilizado. Após esta depuração, restaram 207 logins ativos, correspondentes a 174 entidades. Diante dessa constatação, foi adotado um procedimento de verificação do padrão de uso dos logins ativos, com base no número de dias decorridos desde a última conexão. As faixas foram estabelecidas após consulta a alguns usuários experientes, que consideraram “ótima” uma defasagem de até dois dias e “muito ruim” uma demora de mais de 20 dias para abertura da caixa postal.

36

Log, no jargão de informática, significa o “registro de transações ou atividades ocorridas em um sistema de computador, comparável ao diário de bordo feito pelo capitão de um navio” (Computer Dictionary, Microsoft Press, 1991). 177

faixa de uso de zero a 2 de 3 a 7 de 8 a 15 de 16 a 20 mais de 20

avaliação Ótima Boa Regular Ruim Muito baixa TOTAL

nº de logins 124 40 20 05 06 207

percentual 63,5% 20,5% 10,0% 2,5% 3,5% 100

Excluídos os logins com índice de utilização do correio eletrônico “ruim” ou “muito ruim”, sobraram 184 logins de 156 ONGs e entidades dos movimentos sociais identificadas como usuárias efetivas do AlterNex, que configurariam então a base empírica da pesquisa (ver listagem no Anexo 3). Para que se pudesse verificar os elos existentes entre essas instituições e seus especialistas e entre elas e outras instituições sociais e especialistas acadêmicos e não-acadêmicos filiados ou não ao AlterNex, foi enviado um questionário a cada um dos logins ativos (e não apenas às 156 instituições, já que várias delas mantinham logins específicos para entidades subsidiárias ou regionais). O questionário (ver Anexo 4) foi inicialmente enviado no dia 16/10/95 para devolução em 30/11 e reenviado em 3/11 para devolução no dia 20 do mesmo mês. O prazo curto foi estabelecido de forma a evitar que o questionário ficasse “esquecido” na caixa de correio do usuário ou fosse apagado junto com o lixo eletrônico que normalmente circula na rede. Ao todo, 36 instituições (22% do universo) devolveram o questionário preenchido: 20 através da própria rede, 15 por fax e um por correio. Sete responderam que não poderiam participar da pesquisa por motivos diversos: falta de tempo por excesso de trabalho (2); não enquadramento no perfil da pesquisa (3); perda do prazo (2). Este percentual de 22% de retorno em um campo diversificado e ambíguo como o das ONGs e movimentos sociais exige cautela nas generalizações. Por isso, o procedimento adotado aqui foi o de tratar o conjunto das 36 instituições pesquisadas (ver Anexo 5) como uma amostra aleatória da “rede parcial” de usuários do AlterNex formada por ONGs e outras entidades da sociedade civil brasileira e América Latina37 prioritariamente dedicadas a atividades de produção e transferência de informação, seja através de pesquisa, assessoria e capacitação técnica, seja por meio de projetos de educação popular, ação cultural e/ou comunicação.

4.4. Fragmento de um rizoma O questionário foi dividido em dois blocos: um relativo às organizaçõs, tratadas como as unidades de comunicação da rede; outro relativo aos respondentes, tratados como especialistas que operam as relações de intercâmbio de informação na rede. Em ambos foram estruturadas questões que visavam avaliar: * o perfil de especialização de cada entidade (a partir da formação dos dirigentes, equipe e respondentes e dos temas e atividades privilegiados); * vínculos institucionais (financiadores e parceiros) * vínculos intelectuais (fontes de consulta para informação de referência, opinião e conhecimento);

37

Das 36 entidades, uma é do Chile e outra é da Colômbia, e foram mantidas na pesquisa a título de observação de possíveis elos como outras “redes parciais” da América Latina. 178

Para garantir o sigilo de algumas informações de interesse privativo das instituições e/ou respondentes, cada questionário recebeu um código numérico, que aparece em alguns quadros-resumo dos dados consolidados. Os questionários foram majoritariamente respondidos por dirigentes (64%) e funcionários (22%); os restantes ficaram a cargo de profissionais sem vínculo empregatício. A amostra revelou uma distribuição geográfica das instituições semelhante à encontrada no cadastro de usuários do AlterNex, com forte concentração na região sudeste (61%, metade dos quais do estado do Rio de Janeiro) e apenas duas instituições sediadas fora do Brasil (Chile e Colômbia). Além dessas, participaram da pesquisa cinco subsidiárias de ONGs estrangeiras instaladas no país: Centro de Voluntariato Internazionale (Cevi), International Baby Food Action Network (IBFAN), Japan-Brazil Network (JBN), Escritório Local de Assessoria da Organização Pão para o Mundo no Brasil (ELA-BR) e Fundação Grupo Esquel do Brasil (ver listagem dos participantes no Anexo 5). Quadro 5 – Distribuição geográfica dos participantes da pesquisa Localização

Nº de instituições

RJ/ Rio de Janeiro RJ/ Niterói RJ/ Petrópolis DF/ Brasília SP/ S.Paulo RS/ Porto Alegre MG/ Belo Horizonte MG/ Juiz de Fora MG/ Turmalina AC/ Rio Branco BA/ Salvador Chile/ Santiago Colômbia/Bogotá GO/ Goiânia PE/ Arcoverde PE/ Recife RO/ Porto Velho

13 1 1 4 3 2 2 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1

Ao contrário da pesquisa da Leilah Landim (1993), centrada nas ONGs pioneiras no campo, fundadas ao longo da década de 70, durante a ditadura militar, mais de 70% das organizações respondentes foram criadas nos últimos 10 anos, paralelamente ao processo de redemocratização do país, à expansão da cooperação internacional (nos anos 80) e à diversificação dos movimentos sociais brasileiros. Período 1961/ 1979 1980/ 1985 1986/ 1989 1990/ 1995

Nº de instituições 4 6 14 12

A grande maioria (75%) é operada por dois dirigentes e até dez profissionais de nível universitário, enquadrando-se no que Diana Crane (1972) chama de pequenos e médios grupos de especialistas. Mas algumas possuem estruturas bem maiores, com escritórios regionais (como a Fase e a CPT), o que ao todo envolve o trabalho de mais de 600 pessoas graduadas.

179

de 1 a 5 profissionais de 6 a 10 de 11 a 20 mais de 20

12 instituições 15 02 05

Para um mundo de trabalho não-regulamentado, que não exige diploma ou formação específica, a grande parcela de profissionais de nível universitário entre os dirigentes (92%) e a equipe de apoio é significativa, envolvendo 25 áreas de conhecimento na graduação e 24 na pós-graduação, fortemente concentradas nas chamadas “ciências humanas” (menos de um terço dos dirigentes fizeram graduação em ciências físicas e biológicas ou na área tecnológica). Mas entre as áreas de especialização há várias de caráter interdisciplinar, como “Administração rural”, “Economia da tecnologia” e “Metodologias de avaliação de impacto ambiental” (ver listagem no Anexo 6). Quadro 6 – Nº de profissionais de nível universitário por entidade Sigla

Total

Sigla

Total

CPT *250 SOS MATA 8 CISEP 60 PACS 7 FASE 50 IDACO 6 ISER 33 IBFAN-Rio 6 ESQUEL-BR 22 LUZES DA CIDADE 5 CVI-RJ 15 PANGEA 5 SOS CORPO 11 ItC 5 FTERRA 10 CEVI 5 JBN 10 CAALL 5 NEJRS 10 ASPLANDE 5 INED 10 DIEESE-BA 4 VIVACAZUZA 10 SAPE 4 PESACRE 9 CACES 3 AAO 9 CRIAR BRASIL 3 CDCB 9 SPMT 2 CFEMEA 9 ELA-BR 1 GPV-NIT 8 GAPA-MG NR CLADES 8 CEBRAC NR * inclui dirigentes e integrantes das regionais de MT, PR, SC e GO, além da sede em Goiânia.

Nesse campo, “especialização” é entendida tanto como um segundo curso de graduação, quanto como um curso de extensão ou de pós-graduação. Por isso, nas respostas relativas à formação dos dirigentes e dos respondentes, a especialização só foi incluída na pós-graduação quando explicitada como tal. Mais de 65% das instituições pesquisadas possuem pelo menos um profissional com curso de pós-graduação concluído ou em andamento, com destaque para o Iser, na época com 23 pós-graduados (andos). Na média, a titulação acadêmica dos dirigentes é proporcionalmente mais baixa do que a dos profissionais contratados: 11% de dirigentes pós-graduados (sem nenhum doutor ou doutorando) contra 16% de profissionais (com 14 doutorados completos e nove incompletos). Quadro 7 – perfil acadêmico dos dirigentes e profissionais das entidades pesquisadas Formação dos dirigentes graduação especialização

60 13

92% 20%

180

mestrado doutorado

07 00 65

TOTAL

11%

Total de profissionais graduados: 617 Percentual com pós-graduação:

16%

Profissionais com pós-graduação mestrandos mestres doutorandos doutores TOTAL

30 46 9 14 99

30,3% 46,4% 9,0% 14,3% 100%

Organizações com pós-graduados(andos) Faixas

Nº de organizações

até 5 de 6 a 10 de 11 a 20 mais de 20

08 12 02 02 TOTAL 24 NENHUM 03 NR 09

( = 66%)

O perfil de especialização das ONGs pesquisadas foi avaliado também pelas perguntas relativas aos “três temas mais importantes para o trabalho da instituição” e aos “três principais tipos de atividades desenvolvidas”. O conjunto caracterizou-se pela dispersão temática (subject dispersion), considerada por alguns sociólogos do conhecimento geralmente maior nas Ciências Sociais do que nas ciências da natureza. Ao todo, foram citadas 74 expressões indicadoras dos três principais temas privilegiados por cada ONG, posteriormente agrupadas em 16 áreas (ver listagem no Anexo 7). A maior concentração temática ficou com o meio ambiente (17 citações), que aparece associado a “agroecologia”, “pequena produção”, “produtos extrativistas”, “reforma agrária”, “pobreza e desenvolvimento sustentável”, “desenvolvimento urbano”, “formalização de projetos”, “jornalismo ambiental”, “educação”. É interessante observar que de todas as ONGs que citaram o meio ambiente entre os seus temas principais apenas uma foi criada após a Eco-92, sendo, portanto, precursoras do modismo ecológico que sucedeu a conferência da ONU sobre meio ambiente e desenvolvimento. Expressões relacionadas a conhecimento, comunicação e cultura tiveram, ao todo, 16 citações; em seguida vieram educação (13), questões rurais (9), desenvolvimento (8) e saúde (8). Alguns temas são altamente especializados, como “marcos jurídicos apropriados ao desenvolvimento da sociedade civil”, e “marketing da alimentação infantil”. Foram citados espontaneamente 60 tipos de atividades, mais da metade deles relacionados a organização e/ou transferência de informação, sendo 21 “assessoria”, 18 abrangendo “pesquisa”, “estudos” e “investigação”, e 11 incluindo “formação” e “capacitação”, confirmando a vocação de “apoio intelectual aos movimentos populares” identificada por Fernandes e Carneiro (1991, p.8). (ver listagem no Anexo 8). Essa vocação é reforçada pelas respostas sobre as atividades de produção e difusão de informação: mais de 70% têm como atividade-fim projetos de assessoria, consultoria, apoio técnico,

181

treinamento e/ou capacitação profissional e 55% realizam pesquisa de campo, metade como atividade-fim, metade como meio. Apesar da notória presença das igrejas cristãs tradicionais no mundo das ONGs, apenas duas pesquisadas incluíram a evangelização entre as suas atividades-fim; as demais assinalaram a opção “não realiza”. Quadro 8 – Principais atividades de informação e comunicação* Atividades-fim

percentual de escolhas

assessoria/consultoria/ apoio técnico treinamento e capacitação profissional formação de lideranças educação popular publicações

77% 72% 50% 47% 44%

percentual de escolhas

Atividades-meio arquivo de textos arquivo fotográfico pesquisa documental videoteca análises de conjuntura

50% 39% 36% 33% 33%

* Foram admitidas múltiplas respostas Em busca dos vínculos institucionais ou padrões associativos das organizações pesquisadas, foram feitas perguntas relacionadas aos tipos de beneficiários, os financiadores das atividades e os parceiros dos projetos. A questão aberta sobre os beneficiários revelou a mesma diversidade observada nas atividades: foram citadas 59 expressões diferentes para descrever o público-alvo da instituição, com ênfase a diversos tipos de comunidades (19 citações), mulheres (7), crianças e adolescentes (6) e trabalhadores rurais (5) (ver listagem no Anexo 9). Quatro entidades citaram apenas um tipo de beneficiário e oito restringiram-se a dois. Apesar da divulgada retração da cooperação internacional, 69% das instituições pesquisadas ainda recebiam financiamento dessa fonte em 1995 e metade tinha apoio financeiro de fundações estrangeiras para os seus projetos. As outras fontes financiadoras de maior importância eram as prefeituras (36%), o governo brasileiro e as organizações multilaterais (com o mesmo peso de 30% cada) e empresas brasileiras (28%). Esta composição revela um perfil bem diferenciado do fragmento de ONGs que participaram da pesquisa de Fernandes e Carneiro (das quais apenas nove são coincidentes). Na época (1991), somente 14% dos dirigentes entrevistados declararam intenção de obter recursos de órgãos do governo federal, percentual que caía para 7% em relação às prefeituras e 6% para governos estaduais, mesmo percentual dos que pensavam em obter recursos de empresas privadas locais. A diferença entre as expectativas daquele grupo e a realidade das ONGs pesquisadas quatro anos depois tem relação, também, com as mudanças nas conjunturas mundial e nacional: de um lado, a retração da cooperação internacional, de outro, o crescente esvaziamento das políticas sociais por parte do governo federal e a criação de uma base de filantropia empresarial praticamente inexistente no país até a década de 80. Observa-se, ainda, a busca pela diversificação das formas de sustento: além das 11 opções fornecidas pelo questionário, foram indicadas sete outras que somadas às prefeituras indicam o peso que algumas entidades vêm dando à ação local, sem abandonar as relações de âmbito nacional e global (ver quadro 10). Quase metade das instituições (44%) conta com três a cinco fontes financiadoras; 30% utilizam uma ou duas fontes e cerca de 17%, de seis a oito. Três não responderam esta questão. Quadro 9 – Total de entidades por fontes financiadoras* ONGs da cooperação internacional

25

69%

fundações estrangeiras

18

50%

prefeituras

13

36%

182

governo brasileiro

11

30%

organizações multilaterais

11

30%

empresas brasileiras

10

28%

organizações religiosas

08

22%

fundações brasileiras

07

19%

governos estrangeiros

06

16%

governos estaduais

05

14%

empresas estrangeiras

02

05%

Outros: doações particulares

02

sindicatos de trabalhadores

01

agências de fomento a pesquisa, como Finep e CNPq

01

serviços prestados

01

cobrança por atividades eventuais como cursos e exibição de filmes

01

direitos autorais do Cazuza

01

eventos beneficentes

01

* Foram admitidas múltiplas respostas A maior parte das instituições pesquisadas (66%) mantém relações de parceria com até cinco outras instituições e 30% com de seis a dez, sendo a grande maioria ONGs nacionais (89%) e estrangeiras (72%), o que caracteriza a atuação em rede (networking) dessas organizações. Mais da metade (58%) conta com a participação de universidades nos projetos, o que reforça a ligação dos especialistas das ONGs com seus “pares” acadêmicos. Na pesquisa de Fernandes e Carneiro, esse percentual não passava de 17%. Na época, os autores consideraram este índice “expressivo” e revelador de uma interação ainda pouco percebida. Surpreendentemente, 31% daqueles pesquisados revelaram a “intenção de desenvolver centros de pesquisas sociais ou tecnológicas de competência acadêmica equivalente à das universidades” (idem, p.19). Já as prefeituras possuem mais peso como parceiras (53%) do que como financiadoras (36%) e, junto com as associações de moradores, as pastorais e os sindicatos, formam uma frente de apoio importante para a ação local dessas instituições. Cerca de um terço já estabeleceu parcerias com empresas privadas e estatais, mas mantém a salvo sua proposta suprapartidária: nenhum respondente assinalou a opção “partido político”. Apenas um respondente deixou esta questão em branco. Quadro 10 – Total de entidades por tipos de parceiros* ONGs nacionais

32

89%

Outros:

08

ONGs estrangeiras

26

72%

governos estaduais

02

universidades

21

58%

instituições de pesquisa como Inpe e IBGE e ASA Programm (alemã)

02

prefeituras

19

53%

grupos de mulheres, negros e índios

02

associações de moradores

14

39%

entidades estudantis, escolas

01

igrejas/pastorais

12

33%

centrais sindicais

01

sindicatos

12

33%

empresas privadas

11

30%

empresas estatais

09

25%

partidos políticos

00

22%

* Foram admitidas múltiplas respostas

183

Altos índices de “buracos” (ausência de respostas) foram registrados nas perguntas relativas às três instituições com que o próprio respondente mantém relações de parceira mais freqüentemente, aquelas que consulta para obter informações de referência38 e os nomes e instituições dos profissionais de ONGs e/ou de assessores de movimentos sociais que servem de referência para o seu trabalho. De um total de 324 respostas previstas, 54 foram NR, o que dá uma média de 16 “buracos” por questão. Apenas 11 das ONGs que enviaram questionário foram apontadas por mais de um respondente, indicando poucos elos de comunicação entre as próprias instituições pesquisadas. Ao todo, houve apenas uma citação recíproca (Fase e Pacs). É importante observar que as perguntas relativas aos vínculos existentes entre instituições ou entre pessoas eram genéricas, isto é, não se referiam a um tópico específico. O resultado poderia ter sido diferente se as perguntas fossem do tipo: “com que instituição (você) faz parceria para projetos assistenciais e para projetos de pesquisa?”; ou “com que profissionais se comunica para obter informações sobre a conjuntura política nacional?” Na questão sobre parcerias, 43% das respostas válidas foram atribuídas a ONGs nacionais, seguidas de longe por universidades (9%). No geral, as instituições mais citadas foram: Fase (3), Unicef (3), Ibase (2), Cedac (2) e GPV-Niterói (2). No item sobre informações de referência o resultado foi mais diversificado: 41% indicaram ONGs nacionais; 15,5%, órgãos do governo federal; 10%, universidades; e 9% agências da ONU. Oito instituições foram citadas mais de uma vez: Ibase (8), Fase (4), IBGE (3), Abia (2), Embrapa (2), Ministério da Saúde (2) e Pnud (2) (ver Anexos 10 e 11). Na questão sobre os profissionais de referência foram citados 84 nomes, apenas quatro mais de uma vez: Herbert de Souza (Betinho), do Ibase (quatro vezes); Rubem César Fernandes, do Iser/Movimento Viva Rio (duas); Jean Pierre Leroy, da Fase (duas); Raldo Bonifácio, do GPV-Niterói (duas). Apenas nove (25%) das ONGs pesquisadas tiveram mais de um de seus profissionais lembrados pelos respondentes: Fase (5); Ibase (4), Iser (4), SOS Mata Atlântica (3) e Agapan, GPV-RJ, Conservation International, ADFG/Foe-Br e Redeh (duas cada uma). Do total dos profissionais citados, 67% são de ONGs nacionais, 6% de ONGs estrangeiras e 4% de universidades. Mas o maior percentual de “não-respostas” foi à questão que solicitava o nome de três autores que servem de referência para o trabalho dos respondentes: 25% deles não citaram qualquer nome; dois citaram apenas dois nomes e um fez citações incompreensíveis. Dos 69 nomes indicados, apenas quatro foram repetidos: Paulo Freire (3 vezes), o ideólogo da educação popular praticada por grande parte das ONGs brasileiras; Leonardo Boff (2), importante articulador da “teologia da libertação”, base do trabalho das pastorais católicas; Richard Parker (2), um dos principais militantes da prevenção e assistência a pessoas que convivem com HIV e AIDS no Brasil; e José Lutzemberger (2), ecologista gaúcho citado por duas entidades do movimento ecológico local (ver Anexo 12). A partir de todas essas citações foi possível montar uma matriz dos principais elos de comunicação estabelecidos pelas ONGs pesquisadas no exercício regular do seu trabalho:

38

Alguns respondentes disseram que não entenderam a expressão “informação de referência”; outros deixaram em branco, provavelmente pelo mesmo motivo. 184

Figura 1 – Matriz de elos de comunicação entre as pesquisadas e outras instituições A

B

C

D

E

F

G

H

I

J

K

L

M

N

O

P

Q

R

S

T

U

V

W

X

Y

Z

AA B B

1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. 19. 20. 21. 22. 23. 24. 25. 26. 27. 28. 29. 30. 31. 32. 33. 34. 35. 36. 1

Os elos, assinalados em negrito na matriz, correspondem às instituições citadas mais de uma vez nas questões B8, B10 e B11 do questionário da pesquisa e estão representados no diagrama “Fragmento de rede de ONGs” (Figura 2).

A representação gráfica desses elos em um diagrama (ver Figura 2, no final do capítulo) revela um conjunto composto predominantemente por díades (relação de intercâmbio entre dois indivíduos, grupos ou organizações) com muito pouca ligação entre si: menos de um terço das entidades pesquisadas foram citadas uma ou mais vezes pelos respondentes do questionário, ou seja, a maior parte dos contatos é feita com instituições de fora da amostra, que também foram predominanteme indicadas apenas uma vez. Trata-se, portanto, de um fragmento da rede de itercâmbio de informação formada por ONGs preferencialmente dedicadas a tarefas de pesquisa, assessoria, capacitação técnica e difusão de informação em áreas especializadas, que se comunicam regularmente com outras entidades sem fins lucrativos da sociedade civil, organizações governamentais e multilaterais interessadas nas mesmas questões. No total, foram citadas 164 instituições, classificadas em 13 categorias, das quais 16% não puderam ser enquadradas por insuficiência de dados. ONGs nacionais e estrangeiras, juntas, equivalem a quase 42%, seguidas pelas universidades (10,5%), o que reforça o papel da organização e transferência de conhecimento em rede.

185

Quadro 11 – Tipos de instituições incluídas na rede ONGs nacionais Universidades (nacion. e estrang.) Governo federal/ órgãos federais ONGs estrangeiras Fundações nacionais Governos/órgãos estaduais Agências da ONU Prefeituras/orgãos municipais Associações/cooperativas/ movimentos Igrejas/ pastorais Sindicatos/ centrais sindicais Fundações estrangeiras Legislativo/Partidos Não identificadas Total

58 17 11 10 06 06 06 05 05 05 04 03 01 27 164

35,5% 10,5% 07% 06% 03,5% 03,5% 03,5% 03% 03% 03% 02,5% 02% 0,5% 16,5% 100,00%

Quadro 12 – Número de citações por instituição Uma vez 2 vezes 3 vezes 4 vezes 5 vezes 6 vezes ou mais Total

113 34 11 02 01 03 164

GPV-RJ e Inesc Iser (6*); Fase (14); Ibase (16)

* 3 vezes pelo próprio respondente

O Quadro 12 mostra que o Ibase e a Fase exercem papéis de liderança neste fragmento de rede, mas em aspectos diferentes: a Fase teve o maior número de profissionais citados, e o Ibase foi mais lembrado como instituição de referência para consulta (busca de informação), embora Betinho, um de seus fundadores, tenha sido o profissional de ONG mais citado de toda a pesquisa (não se pode esquecer a visibilidade que este sociólogo adquiriu na mídia a partir da “campanha contra a fome” desencadeada em 1993). Na Figura 2 é importante observar que algumas das ONGs pesquisadas mantêm contatos em âmbito nacional e internacional, enquanto outras restringem seu intercâmbio à ação local, caso do Dieese da Bahia, dos ecologistas gaúchos, do grupo de cinéfilos Luzes da Cidade (de Juiz de Fora) e do Cevi, que atua no Norte mineiro. Quatro das participantes da pesquisa formam grupos isolados, com características bem diferenciadas: duas dedicam-se a temas muito específicos e não-típicos de ONGs (cinema e ferrovias); outra, sediada no Chile, não indicou qualquer instituição brasileira com que mantenha contato; e a quarta, apesar de funcionar no Brasil, só mencionou organizações européias e uma “desconhecida” Comunidade dos Pequenos Profetas. Nota-se, no diagrama, que várias instituições governamentais e não-governamentais servem de referência para duas ou mais ONGs, algumas vezes para assuntos diferentes, outras para temas correlatos. Provavelmente, as relações de intercâmbio estabelecidas pelo Cfemea (centrado nos direitos da mulher) e do Cebrac (de apoio cultural) com o Congresso Nacional envolvem pessoas e interesses diferentes. Mas a democratização do acesso aos equipamentos urbanos pode provocar a interseção de entidades aparentemente

186

distantes, como o Instituto de Tecnologia para o Cidadão (ITC), que realiza projetos de racionalização dos transportes coletivos, e o CVI-RJ, que luta pela melhoria da qualidade de vida dos deficientes físicos. Ambos costumam consultar o Instituto de Planejamento do Rio de Janeiro (Iplan-Rio) para obter informações técnicas. Das quatro instituições governamentais citadas por mais de uma ONG – Iplan-Rio, IBGE, Embrapa e Ibama – apenas a última não tem o mesmo status de fonte de consulta, já que funciona mais como órgão normativo e fiscalizador do que como organizador e produtor de informação. Algumas instituições foram citadas duas ou três vezes pelo mesmo respondente, o que indica um vínculo mais forte com estas do que as demais, sempre relacionado a afinidades temáticas: Citante

Citada (vínculos mais fortes)

Pertinência temática

GPV-Niterói GPV-Niterói Viva Cazuza Gapa-MG Pangea CDCB Cebrac Cebrac Citante

Abia GPV-RJ GPV-Niterói Gapa-BA ADFG/FOE-BR Conservation International Ecoa ICV Citada (vínculos mais fortes)

Aids

Esquel-Br Pesacre AAO JBN CPT Cevi Cevi ITC ITC Caces Caces SOS Corpo ELA-BR CAALL Criar IBFAN Asplande PACS

FGEB/Ministério do M.A. Universidade da Flórida Proter APR MST Sindicato dosT.R.Turmalina Campo-Vale Arruar Ibam Cemina Redeh CFêmea Cese Cesep Unicef Unicef CooperAção Koinonia

Meio ambiente

Pertinência temática questão agroambiental

questão rural

questão urbana gênero/ mulher

direitos humanos

cooperativismo políticas públicas

A variedade de indicações recebidas pela Fase e pelo Ibase (que não enviou questionário)39 revela que essas duas ONGs exercem o papel de elos “multiplexados”, isto é, centros de referência que servem de canal para o fluxo de mensagens com múltiplos conteúdos, conforme representado na Figura 3. Apesar da multiplicidade de ligações “rizomáticas” que caracteriza este fragmento de rede, pode-se observar também a formação de alguns cliques especializados, ou seja, subgrupos que interagem mais frequentemente em função daquelas áreas temáticas de interesse comum. A Figura 4 mostra os cinco subconjuntos identificados no diagrama da Figura 2: um relativo a questões de gênero e defesa dos interesses da mulher; outro que gira em torno das ações de prevenção do

39

Como o Ibase não possui um login oficial, foram enviados questionários para o diretor excecutivo e para dois coordenadores de “área” da organização, mas nenhum dos três respondeu. 187

vírus HIV e assistência a pessoas que convivem com a Aids; um clique ecologista que comporta subconjuntos de caráter regional; e dois cliques agroambientais que aparentemente não possuem ponto de contato. A única instituição a fazer parte de mais de um desses cliques é a SOS Corpo – Gênero e Cidadania, uma das mais ativas ONGs do Nordeste, com inserção no debate nacional e internacional sobre mulheres e meio ambiente. Figura 3 – Centros de referência de ONGs (elos múltiplos sobre múltiplos conteúdos)

Vínculos fortes Fase

Asplande (desenvolvimento) PACS (desenvolvimento)* CPT (questão agroambiental) Criar (comunicação) * citação recíproca

Ibase

Asplande (educação ambiental) Idaco (questão agroambiental) CPT (questão agroambiental) Clades (informação/ comunicação) Fase (desenvolvimento sustentável)

Figura 4 – Cliques de ONGs (subgrupos de intercâmbio de informação especializada)

188

As respostas ao questionário não permitiram identificar líderes de opinião típicos de uma rede de comunicação interpessoal mais homogênea. Mesmo Betinho, reconhecido publicamente como uma grande liderança da sociedade civil brasileira, não exerce este papel no que diz respeito ao trabalho das ONGs pesquisadas. Também não foi possível identificar com segurança pessoas que façam ligação entre dois ou mais cliques, a partir da sua posição como integrante de um deles (ponte) ou mesmo não sendo parte de um clique (liaison). Para isso seria necessário desdobrar o questionário em perguntas dirigidas aos citados, sobre os padrões de comunicação que estabelecem em relação às instituições e temas pertinentes ao fragmento de rede em questão. Apesar de serem usuárias do AlterNex, cerca de 80% das ONGs pesquisadas ainda mantêm padrões tradicionais de comunicação informal para troca de informação, como as conversas pessoais e telefônicas, embora o fax, as publicações especializadas e o correio eletrônico sejam muito utilizados por mais da metade delas (ver Quadro 13). Quadro 13 – Meios de informação e comunicação utilizados pelos respondentes GRAU DE UTILIZAÇÃO MUITO

POUCO

NÃO USA

NR

conversa pessoal

83%

14%

1

conversa telefônica

1

78%

20%

publicações especializadas

76%

24%

fax

76%

22%

reuniões

64%

36%

correio eletrônico

61%

33%

6%

debates, seminários, cursos etc

59%

39%

2%

periódicos de informação geral

53%

45%

2%

relatórios oficiais

39%

50%

8%

1

conferências eletrônicas

31%

45%

22%

1

relatórios internos

22%

47%

28%

1

2%

Curiosamente, dois respondentes assinalaram que não utilizam correio eletrônico, embora tenha sido este o meio usado para envio do questionário. Eles fazem parte do grupo que devolveu a pesquisa por fax. Alguns chegaram a justificar as dificuldades que tiveram para transferir o arquivo do questionário da rede para um diretório do próprio computador: “Estamos na AlterNex há apenas três meses; usamos sistematicamente apenas o correio eletrônico”; “Recien se ha instalado en nuestra institución.” Pouco menos de um terço dos respondentes, porém, utiliza efetivamente as conferências eletrônicas e apenas quatro assinam listas de discussão, um instrumento de intercâmbio comum na parte da comunidade acadêmica familiarizada com a Bitnet e a Internet. As conferências, aliás, só perdem para os relatórios internos, como meios menos utilizados. Duas ONGs, no entanto, fazem uso intensivo delas: a CPT, que enumerou 20 conferências que consulta pelo menos uma vez por semana; e o SOS Corpo, que citou 15 conferências, entre as quais saude.direprod, aberta pela assessora de comunicação da organização para disseminar informações na área de saúde da mulher e direitos reprodutivos. Dez respondentes citaram pelo menos um ou dois nomes de conferências e 14 indicaram três ou mais. No total, foram citadas 39 conferências: 24 em português, 10 em inglês, quatro em espanhol e uma multilíngue, a soc.cult.brazil, alimentada basicamente por brasileiros que vivem no exterior. As preferidas foram ax.ambiente e ax.brasil, 189

com oito indicações cada. Meio ambiente foi o tema com maior número de conferências lembradas. Temas de conferências mais citados meio ambiente mulher/ gênero questão agrária notícias direitos humanos

6 4 4 4 3

política saúde economia América Latina outros

3 3 2 2 6

Conferências mais citadas Conferência aids.issues amb.jornalismo amb.pantanal ambi.noticias amlat.mujeres apm.brasil ax.ambiente ax.amlatina ax.brasil ax.cnra ax.manchetes ax.mercosul ax.mulher ax.noticias biodiv.news brasil.noticias child.news cut.agencia cvi.deficienc dh.fome dieese.pregao econ.saps edu.popular eneaa.ambiente ger.anuncios ger.legal.ong ibam [?] lacnet muj.beij95 pol.cnra pt.brasil rainfor.timber redes.al rio.debate saude.direprod soc.cult.brazil susag.news tribo.www women.events

Nº de citações 1 2 1 1 1 1 8 1 8 1 1 1 2 1 1 1 1 1 1 2 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 2 1 1 1 1 1

O Quadro 15 resume os tipos de relações de conectividade, integração e diversidade que foram possíveis mapear com esta pesquisa (com base em Rogers & Kincaid,1981).

190

Quadro 15 – Relações de intercâmbio de informação estabelecidas por ONGs Indicadores da estrutura 1. Nível do indivíduo

Descrição

• Conectividade

O contato é feito em função do conhecimento especializado que o profissional da instituição procurada detém e que o dirigente ou profissional de ONG necessita para a formulação, execução e/ou avaliação de um projeto. Uma vez estabelecido como fonte de referência em certa área de conhecimento, o profissional tende a manter este status mesmo que mude de instituição.

• Integração

Profissionais de ONGs que lidam com os mesmos temas (ex. Aids, educação, reforma agrária etc) mantêm contato sobre essa questão comum, independentemente da sua formação universitária. A relação pode ser meramente informal, através de conversas pessoais e telefônicas, troca de mensagens por fax ou correio eletrônico. Ou pode ser formalizada por intercâmbio de documentos, consultoria ou assistência técnica.

• Diversidade

A produção e difusão de conhecimento das ONGs pesquisadas é tipicamente interdisciplinar. Os indivíduos que integram este fragmento de rede têm formação profissional diversa (com predominância das “ciências humanas”), não necessariamente relacionada ao tema com que trabalham, cujo enfoque varia conforme as especificidades do projeto em questão (duração, locus, financiamento etc) e da clientela a que se dirige (crianças, mulheres, comunidade etc).

2. Nível da instituição • Conectividade

Existem instituições que exercem um papel articulador do sistema como um todo (caso do Ibase e da Fase); outras que servem de referência para questões específicas (a Abia para Aids; o SOS Corpo para mulheres; a CPT para reforma agrária etc).

• Integração

As instituições podem se articular em torno de uma questão geral, de interesse comum (ex: a regulamentação oficial do setor “sem fins lucrativos”) ou visando a uma ação estratégica local (como o Movimento Viva Rio) ou ainda a participação em um evento (o julgamento dos acusados pelo “massacre da Candelária” ou uma das conferências mundiais temáticas da ONU, por ex.)

• Diversidade

A diversidade de interesses temáticos, de parceiros, de beneficiários e de ação local, nacional ou planetária dificulta o mapeamento de padrões gerais de comunicação e intercâmbio de informação das ONGs.

3. Nível do clique • Conectividade

Dirigentes e profissionais de uma ONG que trabalha com um tema específico tendem a contactar mais frequentemente profissionais que lidam com o mesmo tipo de informação em outras instituições, mesmo que não especializadas.

• Integração

ONGs especializadas ou focadas em um tema (ex: Aids, agroecologia etc) tendem a se articular mais frequentemente entre si, formando cliques ou subgrupos que podem ter abrangência nacional.

4. Nível da rede • Conectividade

Esta pesquisa, apesar de restrita a um segmento muito reduzido do ambiente global das ONGs e movimentos sociais brasileiros, permite inferir que essas entidades mantêm um alto grau de conectividade, já que a maioria dos seus contatos prioritários se dá entre “pares”.

• Acessibilidade

Ao mesmo tempo, porém, os profissionais de ONGs mantém um grau razoável de acessibilidade, pois frequentemente cruzam as “fronteiras” da rede em busca de informação e parcerias com outros tipos de instituição, inclusive as programaticamente antagônicas, como as governamentais e as com fins lucrativos.

191

192

4.5 Círculos sociais As conferências eletrônicas da interface-texto do AlterNex correspondem ao que na Internet denomina-se “grupos de discussão” (newsgroups). São espaços públicos onde pessoas com interesses comuns trocam idéias, informações, debatem suas divergências e, conforme o caso, negociam estratégias de ação. Mas as conferências diferem dos newsgroups por serem alimentadas predominantemente por pessoas diretamente ligadas a organizações e movimentos da sociedade civil, como profissionais, assessores eventuais ou militantes. Trata-se, por tanto, de um espaço de “trabalho”, no qual os participantes possuem algum grau de conhecimento especializado em assuntos pertinentes ao tema em questão. As interrelações aí processadas podem ser então consideradas como o correspondente não-acadêmico do que Kadushin (1968/69) chama de “círculos sociais”. Com objetivo de analisar a dinâmica e o perfil dos participantes desse tipo de intercâmbio, foi feita uma triagem das conferências em português, que levou em conta a variedade de provedores e o grau de atividade. Há conferências que, mesmo não sendo privadas, são alimentadas por um pequeno grupo de instituições e/ou de pessoas que tenham interesse particular no assunto (como a , provida quase exclusivamente por logins do Ibase, que durante um período canalizou as informações sobre as “ações” da cidadania contra a fome e a miséria). O grau de atividade diz respeito à constância com que os tópicos são enviados. Da listagem inicial de 30 conferências (que excluía as operacionais e as institucionais, como cut.agência, pt.brasil, ibam.pol etc) a grande maioria apresentava “buracos” de até meses sem um novo tópico. Mas esse tipo de defasagem também acontece em outras redes da APC, como observou Susanne Sallin: Conferências sobre energia e questões climáticas são algumas das mais atualizadas e lidas no momento e recebem uma variedade de tópicos enviados por respeitadas organizações do campo. Outras, porém, passam mais de seis meses sem receber uma informação nova. Existe um esforço em andamento para livrar o sistema dessas conferências inativas, para que os usuários possam encontrar mais facilmente informações relevantes e atualizadas (S.Sallin, 1994). O diretor técnico do AlterNex, Carlos A.Afonso (1991), lembra que “criar, manter e desenvolver o meio é apenas parte da tarefa maior que é estimular a aprendizagem mútua e a integração de ações entre as ONGs”. Para ele, “falta conteúdo [grifo do autor] em muitas redes”, e o simples fato de essas organizações passarem a utilizar “um meio tão poderoso como este não garante avanços efetivos em seu trabalho ou em sua participação frente a problemas comuns”. E completa: “a responsabilidade pelo conteúdo é das próprias ONGs, enquanto usuárias desses sistemas” (ob.cit, p.187). A seleção das conferências mais ativas e participativas do AlterNex foi feita a partir do índice de cada uma, do qual constam a data da postagem, o número do tópico (ordem de entrada na conferência), uma descrição do assunto ou chamada para o conteúdo e o login do remetente (ver exemplo abaixo). Exemplo de um índice de tópicos de conferência (ax.ambiente) 5/11/90 6/13/90 7/10/90 12/20/90 3/13/91

1 2 3 4 5

Objetivos desta conferencia Rede Eletro^nico Global da UNCED Semina'rio sobre Redes Ambientais e SEAN-- UMA DESCRICAO carta de Manaus

1

cafonso pmay pmay notes fase

193

3/19/91 8/04/91 9/17/91 9/18/91 9/26/91 10/15/91 11/13/91 11/14/91 2/13/92 4/09/92 5/29/92 6/07/92 7/13/92 7/23/92 8/25/92 9/03/92 9/25/92 9/30/92

6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24

carta de Brasilia carta de caruaru - rel.nacional do Carta de Limoeiro do Ajuru (PA) Amazonia Brasilea a Venda SOS Borracha Natural Brasileira FUNDACAO PRO VITA Documento s/Residuos e M.Ambiente Resolucion Encuentro Alcaldes CARTA DE EDUCACAO AMBIENTAL Guest on Paper Factory in Brazil Banco de Dados Direito Ecologico GEF. Docs on iucn.news DU PONT destruindo o Pinheirinho Reactivando la campana sobre PAFT Narmada Proyecto: Pedido de Apoyo Re: Hello 7o. Encontro Ongs Ambientalistas ambientalistas farao encontro em b Carta Abierta al Banco Mundial

1

1

fase sean sopren sopren sopren provita abc aless rmulher amaral amaral aless suporte2 ngonet ngonet aless sean sean chasque:ngonet

Obs: os algarismos entre o “assunto” e o login referem-se ao número de respostas recebias pelo tópico

Ao final do processo, apenas quatro conferências foram consideradas adequadas para os objetivos da pesquisa: nome amb.pantanal

apm.brasil ax.mulher ax.ambiente

data

Objetivos

21/10/94 Campanha de defesa do Pantanal, do

06/05/93 25/02/91

Grande Chaco e das populações a serem afetadas pela construção da Hidrovia Paraná-Paraguai Discutir e propor alternativas para o desenvolvimento da agricultura brasileira, com ênfase à pequena produção Dinamizar a comunicação entre mulheres e grupos feministas do Brasil e América Latina

11/05/90 Facilitar o fluxo de informações sobre

impactos ambientais de grandes projetos e denúncias de crimes ecológicos

público-alvo

nº de tópicos

nº de logins

(não explicitado)

251

34

357

43

1.347

40

1.359

134

organizações e pessoas envolvidas com o desenvolvimento agrícola grupos e movimentos de mulheres, feministas, ONGs e pesquisadores ONGs e pesquisadores das áreas de meio ambiente e recursos naturais

A pesquisa foi estruturada em quatro blocos: 1) Fluxo dos tópicos por data e login, cujo objetivo era observar a dinâmica de evolução da conferência (número de tópicos por mês e ano) e da participação dos usuários (número de tópicos por login). 2) Perfil dos provedores de informação, que foram classificados por categoria (pessoal ou institucional); pela instituição a que o login está vinculado; pela área de atuação da pessoa ou organização responsável pelo login; pela rede ou nodo APC à qual o login está associado; e pela localização geográfica do login indicada no cadastro de usuários do AlterNex; 3) Análise de conteúdo da conferência, tendo como referência os objetivos explicitados no primeiro tópico e uma listagem de subtemas elaborada a partir do assunto de cada tópico. A dificuldade, nessa abordagem, foi a identificação dos assuntos com base na descrição feita pelo usuário no item subject (assunto) da mensagem enviada para a conferência, em função da falta de critérios padronizados. No exemplo da página anterior, podem-se observar expressões lacônicas como “Carta de Manaus” e frases interrompidas pela limitação do número de caracteres imposta pelo programa de computador do sistema,

194

geralmente ignorada pelo usuário. O uso indiscriminado de letras maiúsculas (que deveriam ser utilizadas apenas como recurso de alerta para uma situação grave ou um comunicado urgente) aumenta ainda mais essa limitação. Por isso, foi necessário muitas vezes ir ao texto para identificar o assunto específico e o subtema no qual enquadrá-lo. A listagem de subtemas foi elaborada a partir de palavras ou expressões recorrentes nos tópicos. 4) Análise das ações comunicativas do usuário, incluindo o tipo de comunicação utilizado (ver listagem adiante), a língua em que o texto foi enviado (português, inglês ou espanhol), o número e tipos de repostas aos tópicos e os indicadores de ruído (problemas técnicos da rede, procedimentos incorretos do usuário ou inadequação aos objetivos da conferência). A dificuldade, nessa análise, foi a manutenção de uma “coerência classificatória” em relação aos 25 tipos de comunicação pré-identificados, já que muitas vezes uma mensagem poderia ser enquadrada em mais de um deles (por exemplo, um anúncio ou um comunicado). O procedimento adotado foi, então, o de um enquadramento fuzzy, isto é, mais pertinente e não exato. Tipos de comunicação utilizados nas conferências pesquisadas anúncio ......................... mensagem que pretende comunicar ao público as qualidades ou vantagens de determinado produto, serviço ou procedimento, visando despertar interesse, conquistar simpatia ou adesão; utilizado na rede para divulgação de eventos, campanhas, lançamento de publicações, novos recursos de informação disponíveis, entre outros; arquivo binário .............. texto formatado e codificado para leitura no processador de textos do usuário articulação de apoio ..... divulgação de uma ação acompanhada de pedido de apoio político, financeiro ou material, de gestos de solidariedade (geralmente do tipo “passe este texto adiante” ou “envie cópias para...”) ou de união de esforços para uma ação coordenada; artigo de especialista .... texto argumentativo escrito por pessoa experiente ou conhecedora do tema (no caso das conferências, geralmente pesquisadores de universidades, profissionais de ONGs e militantes de movimentos sociais); aviso pessoal ................ mensagem normalmente utilizada para dar conhecimento a toda a rede de uma posição ou atitude de caráter estritamente pessoal; bibliografia .................... indicação de livros e/ou textos que podem ser úteis ao debate ou desenvolvimento de determinado assunto na rede (muito pouco utilizado nas conferências analisadas); busca de informação .... mensagem solicitando fonte de informação, indicações bibliográficas, localização de uma pessoa ou intercâmbio de experiências em um assunto; comentários .................. série de observações com que se esclarece e/ou se critica um documento, uma lei, uma decisão ou um procedimento; apreciação crítica ou interpretação de um fato ou situação a partir de um ponto de vista particular; comunicado .................. informação transmitida formalmente por uma pessoa ou instituição para tornar público um fato, uma opinião ou uma posição oficial; cópia de carta ou fax .... reprodução, para conhecimento público, de mensagem enviada a alguma autoridade solicitando determinada providência ou protestando contra uma decisão tomada (ou recebida como resposta); cronograma .................. divulgação das etapas, datas e prazos de um projeto, programa de ação, reuniões preparatórias para uma conferência, processo de votação etc; denúncia ....................... revelação de uma irregularidade; acusão de procedimento ilegal, antiético ou socialmente injusto; delação do autor de um crime; entrevista ...................... reprodução literal (pingue-pongue) ou resumida de uma conversa;

listagem ........................ relação de pessoas, instituições, endereços eletrônicos, temas ou quaisquer

195

manifesto ...................... matéria de agência ....... mensagem de alerta .....

outros itens de interesse dos frequentadores da conferência; declaração pública ou solene de um sentimento de indignação ou das razões que justificam certos atos, fundamentadas em direitos, postulados éticos, programa político, princípios religiosos etc; textos em formato jornalístico divulgados por agências alternativas de notícias como a IPS e a Alai; mensagem de advertência para um perigo iminente, para as possíveis consequências de um processo em andamento ou para expressar uma atitude de vigilância de certos procedimentos de interesse público; reprodução literal de uma notícia publicada em jornal diário ou dirigido;

notícia de jornal ............ pedido pessoal ............. solicitação particular de um usuário dirigida a qualquer usuário da rede; periódico eletrônico ...... publicações especializadas ou institucionais veiculadas através da rede numa programação de evento proposta de ação .......... relatório ........................

resumo de documento .. sinopse de noticiário .....

periodicidade regular (semanal, quinzenal, mensal etc); comunicado contendo os temas, palestrantes, público-alvo, local, datas, horários e condições de participação de cursos, seminários e conferências; descrição de um plano, projeto ou proposta de campanha aberta à participação de outras pessoas ou instituições; convocação para atos públicos, movimentos ou ações de solidariedade; narração ou descrição ordenada e mais ou menos minuciosa do que se ouviu, apresentou ou observou em um evento ou processo; exposição dos principais fatos e dados colhidos por uma comissão ou pessoa encarregada de examinar determinado assunto ou projeto; dos fundamentos de um voto, decisão ou parecer; das principais conclusões de uma reunião, conferência, encontro de entidades ou seminário; apresentação de planos oficiais; exposição abreviada do conteúdo de um artigo, palestra, livro ou outros tipos de documento; síntese de uma ou mais notícias publicadas (geralmente em jornais diários);

Obs: ver, nos anexos, exemplos de cada um desses tipos de comunicação extraídos das conferências pesquisadas

A pesquisa foi feita em todos os tópicos de cada conferência até a data limite (arbitrária) de 31 de outubro de 1995. Nesse período, as quatro conferências pesquisadas envolveram a participação de 215 logins e 123 instituições (só o Ibase operou com 34 logins, 12 deles da equipe do AlterNex e um do Jornal da Cidadania). Mas, à exceção do login animax, utilizado para estimular o acesso às conferências, nenhum outro enviou tópicos para todas as quatro pesquisadas; a grande maioria (82%) participou de apenas uma conferência, 33 logins de duas (um terço do Ibase e quatro usuários individuais) e seis outros participaram de três conferências: aspta, cptnac, ipsinfo, dois logins do Ibase e um jornalista alternativo (como ele se define) muito ativo no AlterNex (ver listagem nos anexos). As conferências apresentaram dinâmicas e características bem variadas, que serão analisadas individualmente. Mas o principal ponto em comum observado foi a alta concentração da informação por poucos provedores: cerca de 80% dos tópicos de amb.pantanal e apm.brasil foram enviados por apenas quatro instituições cada; em ax.mulher, duas ONGs monopolizaram 83% dos tópicos; já em ax.ambiente a participação foi menos centralizada: oito instituições, utilizando 19 logins, controlaram 52,5% das mensagens veiculadas. Em todas as conferências, entre um terço (ax.ambiente) e pouco mais da metade (amb.pantanal) dos usuários listados limitou-se a enviar apenas um tópico; mais de 80% em amb.pantanal e ax.mulher não passaram de cinco tópicos, o mesmo acontecendo com 66% dos logins de ax.ambiente e com 53,5% dos da apm.brasil. Ou seja, a maior parte teve participação periférica ou subsidiária.

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Os tópicos e as referências a outras organizações, redes e movimentos nas mensagens são os únicos indicadores “visíveis” dos elos institucionais estabelecidos em uma conferência (ver representação gráfica). É importante lembrar, porém, que existem ações comunicativas que passam “invisíveis” pela conferência: um usuário pode, por exemplo, interessar-se por um tópico e entrar em contato direto, via correio eletrônico, com o autor do artigo ou do pedido de informação; vários podem ler uma proposta de articulação que implique enviar faxes de protesto e aderir sem que isto “apareça” na conferência. Há ainda os que utilizam dados e documentos extraídos da conferência em seus programas de treinamento, boletins informativos e relatórios de consultoria. Muitos desses usuários podem jamais enviar tópicos e, com isso, permanecerem invisíveis, apesar de, em alguma medida, serem participantes ativos da conferência. Além disso, em torno de 80% dos remetentes de tópicos são instituições, ou seja, têm necessariamente vínculos fortes com clientelas e parceiros que tanto podem ser fontes quanto consumidores das informações veiculadas, num processo difusor ainda não mensurado. Algumas delas secretariam coalizões ou redes de ação que envolvem dezenas e até centenas de organizações de âmbito regional e nacional, o que potencia as suas possibilidades multiplicadoras. Essas redes de relações sociais e intercâmbio de informação estabelecidas através das conferências temáticas são formadas a partir de dirigentes de ONGs e assessores dos movimentos sociais que adquiriram competência (expertise) nas áreas de conhecimento e ação privilegiadas, tanto na vida acadêmica, quanto em experiência profissional no setor privado ou até mesmo na militância. Através de artigos, relatórios, manifestos, sinopses de noticiário e outros tipos de comunicação, eles utilizam o seu saber ou agenciam informação de outros especialistas visando influir no senso comum de comunidades, grupos sociais e formuladores de políticas acerca de questões ambientais, modelos de desenvolvimento agrícola e fundiário, situação da mulher, crianças e adolescentes, grandes projetos de obras públicas entre inúmeros outros. Formam, assim, uma espécie de “colégio invisível” de “contra-especialistas” cuja base de conhecimento é formada pela interação entre ciência e senso comum com objetivos explícitos de propiciar mudanças sociais e culturais. Uma análise superficial dos conteúdos veiculados nas quatro conferências selecionadas permitiu identificar uma série de termos conceituais que remetem a especialidades emergentes ou ainda em desenvolvimento, nas quais esses contra-especialistas exercem papel fundamental.

4.5.1 em defesa do Pantanal A mais nova das quatro conferências pesquisadas foi criada em outubro de 1994 por três ONGs (Instituto Centro de Vida, de Cuiabá, Mato Grosso; Redes, de Montevidéu, Uruguai; e International Rivers Network, de Berkeley, EUA), para discutir “assuntos relacionados com a campanha em defesa do Pantanal matogrossense, o grande chaco da Bolívia, Argentina e Paraguai, e outros ecossistemas e populações da bacia Paraguai-Paraná que serão atingidas pela construção da Hidrovia Paraná-Paraguai” (tópico nº 1). Nos 13 meses pesquisados, apenas quatro logins foram responsáveis por quase 80% dos 251 tópicos enviados no período: Instituição IRN - International Rivers Network (EUA/CA) IVC - Instituto Centro de Vida (BR/MT)

nº de logins 1 1

nº de tópicos 111 45

% de participação 44% 18%

197

40

Ecoa - Ecologia e Ação (BR/MS) WWF - Wild World Fund (EUA/VA)

1 1

34 10

13,5% 4%

A grande maioria dos 34 logins listados a partir do índice da conferência só contribuiu com um (19 logins) ou dois tópicos (sete logins), sendo que no primeiro ano somente dez logins alimentaram a conferência (ver gráfico no Anexo 21). Mas essa participação pulverizada não pode ser atribuída a indivíduos alheios aos objetivos da campanha em defesa do Pantanal: 85% dos logins participantes eram de profissionais ou pesquisadores identificados com alguma instituição. Perfil dos provedores Chama a atenção que uma conferência voltada para um problema que afetará predominantemente regiões e populações brasileiras e de parte do Cone Sul tenha a participação tão maciça de instituições dos EUA, Canadá e Europa (60%). Mas a razão deve estar, em grande parte, no rápido crescimento do interesse pela ecologia em todo o mundo e na visão de desenvolvimento sustentável global, sobretudo após a Conferência da ONU no Rio de Janeiro (Eco-92), que não ficaram restritos aos movimentos e organizações da sociedade civil, invadindo também as agendas dos pesquisadores acadêmicos. Basta observar o número e o caráter multidisciplinar das universidades e centros de pesquisa de onde foram enviados tópicos (ainda que poucos): ONGs e redes nacionais (5) AlterNex Ecoa - Ecologia e Ação Fórum de ONGs e Movimentos Sociais de Rondônia Fundação Centro Brasileiro de Referência e Apoio Cultural (Cebrac) ICV - Instituto Centro de Vida ONGs e redes estrangeiras (12) Both Ends Centro Cooperativo de Información Foe-Br - Friends of Earth/ Amigos da Terra-Brasil Foe/Amigos de la Tierra-Uruguai REDES Humedades para las Americas IRN - International Rivers Network Nodo Wamani da APC PRMunic - Pro Regenwald Muenchen (grupo de ação pelas florestas tropicais) Robin Wood (grupo ambientalista da Alemanha) Tropical Forests Forever WWF - World Wildlife Fund-Canadá WWF - World Wildlife Fund-EUA Universidades e instituições de pesquisa (10) Consejo Nacional de Investigaciones Científicas y Tecnólogicas (Venezuela) Environment & Natural Resources of International Development Research Council (IRDC) I.E.Weldon Secondary School/ Trent Valley Global River Project (Canadá) Univ. de Stuttgart/ Faculdade de Arquitetura Universidad de Buenos Aires/ Secretaria de Ciencia y Tecnica University College London/ Dep. Geography/ Wetlands Research Unit University of British Columbia/ MultiCentre Research Network (Canadá) University of California St.Barbara/ Dep.of Biological Sciences 40

Secretaria da Rios Vivos, uma coalizão de mais de 300 ONGs nacionais e algumas estrangeiras criada em 1994 para acompanhar o Projeto da Hidrovia Paraná-Paraguai (PHPP). 198

University of California-Berkeley/ Dep. Geography University of Victoria (Canadá)* Organização de apoio governamental Usaid - U.S. Agency for International Development * mensagens enviadas por uma mestranda brasileira em recursos ambientais;

Os usuários participantes da conferência amb.pantanal distribuem-se por 13 áreas de ocupação profissional, sendo 35% relacionados a defesa ambiental e 26% a atividades de conhecimento e informação, dos quais seis logins ligados a pesquisa. Mais de 70% dos logins estão associados a outras redes: 11 do IGC (mantenedor da maior rede ecológica do mundo, a EcoNet, e da principal provedora da amb.pantanal, a IRN); 11 de universidades e centros de pesquisa; três de provedores privados; os outros nove são filiados ao AlterNex (ver mapa de elos interredes no final deste subcapítulo). A maioria (32%) está localizada nos EUA e Canadá; 26% no Brasil; 23% na América do Sul; 15% na Europa; um login não pôde ser identificado. Um terço dos logins são das regiões diretamente afetadas pelo Projeto da Hidrovia (quatro da região Centro Oeste do Brasil, cinco da Argentina e dois do Uruguai). Análise de conteúdo Apesar de centrado na questão do impacto ambiental, o debate sobre a construção da Hidrovia ParanáParaguai na conferência amb.pantanal aborda também aspectos econômicos e sociais do projeto com um enfoque tipicamente regional. No total, o tratamento dos assuntos abrange 14 subtemas: • • • • • • • • • • • • • •

desequilíbrio ecológico economia local ecoturismo educação ambiental estudos ambientais integração regional Mercosul outras hidrovias pesca predatória política ambiental projeto da HPP projetos viários questão indígena uso da rede (informações de suporte, dicas de outros recursos de informação correlatos) Mais da metade (56%) dos tópicos giraram em torno de apenas três subtemas: Projeto HPP (114);

política ambiental (18); integração regional (10). Os participantes da conferência chamam a atenção para os interesses regionais e internacionais envolvidos na construção da Hidrovia, sejam eles comerciais (escoamento da produção, beneficiamento das indústria naval e da construção civil), políticos (expansão do poder regional), sociais (impacto sobre os meios de subsistência e habitação das populações ribeirinhas) ou ambientais (impacto sobre os ecossistemas do Pantanal e do Grande Chaco). Assuntos enquadrados no subtema “projeto da HPP”: • análise dos impactos do PHPP • seminários técnicos de avaliação do PHPP

199

• • • • • •

reuniões do CIH - Comitê Intergovernamental da Hidrovia relatórios da coalizão Rios Vivos ações das ONGs contra o PHPP lobbies de governos e empresários a favor do PHPP escoamento da produção do Mercosul portos fluviais A conferência veicula também tópicos relativos ao monitoramento das políticas nacional e estadual de

meio ambiente e o lobby para integração da economia regional feito pela agência de notícias Sucesos News Service (SCS). Subtemas privilegiados pelos três principais provedores da amb.pantanal Provedor IRN 12 subtemas

ICV 11 subtemas

Ecoa 9 subtemas

subtema projeto HPP integração regional política ambiental estudos ambientais projeto HPP economia local outras hidrovias projetos viários projeto HPP política ambiental economia local projetos viários

nº de tópicos enviados 45 (em 111) 7 7 6 25 (em 45) 4 4 3 12 (em 34) 7 3 3

percentual 40,5% 6,5% 6,5% 5,5% 55,5% 9,0% 9,0% 6,5% 35% 20% 09% 09%

Observa-se que “economia local” e “projetos viários” foram privilegiados pelas duas ONGs do Centro Oeste brasileiro e não pela rede americana, que por sua vez deu importância a “integração regional” (cujo enfoque merecia um estudo à parte) e “estudos ambientais” (campo em que as universidades da América do Norte e Europa estão muito mais avançadas do que as da América do Sul). Ações comunicativas Um projeto polêmico, cercado de pontos de vistas conflitantes, interesses políticos e econômicos diversificados, divergências técnico-científicas e, acima de tudo, pouca informação disponível sobre o que de fato está planejado e decidido. Num quadro como este, os provedores da conferência amb.pantanal preferiram optar pela disseminação da informação do que pelo debate no vazio. E a “informação”, nesse caso, era, na maior parte das vezes, o ponto de vista que cada lado da questão tornava público através da mídia. Não é à-toa que os tipos de comunicação predominantes tenham sido as notícias de jornal (23%), principalmente da imprensa local do Centro Oeste e do Cone Sul, e as matérias distribuídas por cinco agências de notícias (15% dos tópicos). Meios impressos que tiveram material reproduzido na amb.pantanal Tipo de veículo imprensa sul-americana (7)

imprensa regional (6)

Nome/ Localização ABC (Paraguai) Clarin (Buenos Aires) El Comercial (Formosa/ Argentina) El Deber (Santa Cruz/ Bolívia) Hoy (Paraguai) Notícias (Paraguai) Ultima Hora (Assunção/ Paraguai) A Gazeta de Cuiabá Correio Brasiliense Correio do Estado (Mato Grosso do Sul) Diário de Cuiabá Folha do Estado (Mato Grosso)

nº de citações

200

publicações de outros países (5)

imprensa Rio/SP (3) agências de notícias (6)

Porantim (Mato Grosso) Algemenn Dagblad (diário holandês) Financial Times New York Times Privatisation International San Francisco Chronicle Folha de S.Paulo Gazeta Mercantil O Estado de S.Paulo AFP - Agence France Press AP - Associated Press IPS - InterPress Service Promundo Comunicaciones (EUA) SCS - Sucesos News Service Unesp News Release

O “comunicado” e o “anúncio” remetem quase sempre aos inúmeros seminários sobre a Hidrovia e questões correlatas divulgados no período analisado. Já o “relatório” tem relação direta com a postura de “prestação de contas” que caracteriza a atuação das lideranças da campanha de defesa do Pantanal em relação às reuniões que participam em nome do movimento e às iniciativas de defesa de interesses que tomam, tanto frente ao comitê intergovernamental que normatiza o projeto, quanto aos organismos multilaterais responsáveis por boa parte dos recursos técnicos e financeiros (ver relação completa dos assuntos por tipos de comunicação no Anexo 15) Tipos de comunicação privilegiados pelos três maiores provedores de informação IRN 17 tipos ICV 7 tipos Ecoa 9 tipos

matéria de agência notícia de jornal relatório notícia de jornal comunicado relatório notícia de jornal anúncio comunicado denúncia

34 16 7 32 3 3 8 7 4 4

30,5% 14,5% 6,0% 71,0% 6,5% 6,5% 23,5% 20,5% 12,0% 12,0%

Apesar de o maior número de tópicos da conferência ter sido enviado pela americana IRN, 47% dos textos estão em português, 30% em inglês e 22% em espanhol, o que indica um esforço dos provedores em fornecer uma informação accessível aos usuários locais. Mas em função do prefil “multinacional” dos participantes da conferência, houve também um esforço de oferecer determinados textos em mais de uma língua, daí o percentual de 12% de tópicos repetidos. O índice de respostas ficou em 13% (com o máximo de quatro respostas por tópico) e o de ruídos em 5%. Tipos de respostas: • de interação (21 tópicos): articulação política, correção de informação, esclarecimentos, congratulações, comentários, sugestões, avisos, críticas; • de reiteração (6 tópicos): repetição do tópico em outra língua; • de interferência (6 tópicos): ruídos provocados pelo sistema ou equívocos do usuário (repetição do tópico na mesma língua e formatação; mensagem que deveria ser dirigida ao suporte ou facilitador da conferência) Tipos de ruídos:

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• pedidos de assinatura (deveriam ser enviados diretamento ao suporte da rede ou facilitador da conferência) • cancelamentos da lista (idem) • ruídos do sistema (caracteres estranhos; tópico sem conteúdo) • resposta no lugar errado

Elos de comunicação interredes da conferência amb.pantanal

4.5.2 por um novo modelo agrofundiário Criada em janeiro de 1992, a conferência apm.brasil é a única das quatro pesquisadas que passou por uma correção de rumo (ou de método) depois de mais de um ano no ar. No seu tópico número 1, foi apresentada como parte do projeto “Fórum Alternativas para a Agricultura Brasileira”, ligado ao Programa de Agriculturas Camponesas e Modernização (APM) promovido pela Fondation pour le Progre`s de l` Homme (FPH), coordenado na América Latina pelo Centro de Estudio del Desarollo en America Latina y Area Latina (CEDAL) e o Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase). Este Fórum deveria “apreciar questões decorrentes dos processos de globalização e reestruturação da economia mundial, os riscos ecológicos, a garantia da cidadania plena a trabalhadores assalariados e pequenos produtores do Brasil organizando uma pauta de discussões que contemple temas como: a integração regional; a reestruturação fundiária; preços, transformação e comercialização dos produtos agrícolas; agricultura e meio ambiente; recomposição das organizações de pequenos produtores agrícolas; políticas agrícolas e papel do Estado, entre outros”. A proposta era a de que o Fórum teria duas instâncias de discussão: seminários previstos para ocorrer a cada quatro meses e a conferência via AlterNex, que teria como um dos principais objetivos “fomentar o

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debate entre as diversas entidades, organizações e estudiosos”, através de comentários, observações ou desenvolvimentos e da veiculação de textos, projetos e experiências relacionados aos temas ligados a APM. Segundo o coordenador do Programa, Pierre Vuarim, a conferência permitiria, por um lado, “reunir um conhecimento mais aprofundado sobre a estrutura fundiária do país” e, por outro, a união de esforços para “pensarmos e propormos modelos alternativos para o campo que sejam justos e democráticos”. ** Topico 84: Aviso! Reestruturamos a APM ** ** Escrito em 6:35 PM May 26, 1993 por petrina em ax:apm.brasil ** Estimados conferencistas, A conferencia APM.Brasil pretende ser um espaço para o estabelecimento de um diálogo acerca de alternativas para o desenvolvimento da agricultura brasileira. A conferencia faz parte de um projeto mais amplodenominado “Fórum Alternativas para a Agricultura Brasileira” que reúne um conjunto de organizações, entidades e pessoas que vem manifestando preocupações comuns acerca do atual modelo de desenvolvimento Agrícola, bem como com a perspectiva de construção de uma proposta alternativa de modelo democrático e não destruidor dos recursos naturais. Até agora, na conferência apm.Brasil, os textos eram introduzidos em tópicos temáticos, correspondentes aos temas: Reforma Agrária, Mercosul, Política Agrícola, Meio Ambiente e Formas de Organização no campo. A medida que os textos foram sendo introduzidos, apresentaram- se algumas dificuldades: um grande número de respostas foi-se acumulando num só tópico, a visualização dos títulos dos textos introduzidos era problemática (apesar do índice), e ainda, não era possível colocar respostas nos documentos, visto que cada documento era uma resposta. Por esse motivo, resolvemos tomar algumas medidas. A partir de agora, ao introduzirmos um novo texto na conferência, este corresponderá a` abertura de um novo tópico (como nas demais conferências), mas mantendo-se a estrutura temática anterior. De tal forma, o título de cada texto será precedido, no índice, da abreviação dos temas citados acima. Isso significa que os novos textos aparecerão, no índice, segundo a ordem cronológica, e não mais, segundo a ordem dos temas, como anteriormente. (...)

Inicialmente, a conferência seria composta pelos seguintes tópicos: Apresentação do Programa A.P.M., Identificação dos participantes, Agenda, Notícias e Textos de discussão. Em maio de 1993, porém, os facilitadores reestruturam o método de organização dos tópicos, conforme comunicado (não muito claro) enviado aos participantes (ver na próxima página). Devido a essa reestruturação, os primeiros 83 tópicos disponíveis no índice da conferência são repostagens feitas por dois logins: um da equipe operacional do AlterNex (que nunca mais “apareceu”), outro do Ibase. Por isso, para uma análise da dinâmica da conferência coerente com as demais, as medições do fluxo de tópicos e de logins foram feitas a partir do número 84 (equivalente ao nº 1, de apresentação da conferência). Mas é preciso registrar que a existência desses tópicos reenviados causou distorção no cálculos do fluxo de tópicos: com eles, a média do primeiro ano ficou em 18, enquanto que as dos dois anos seguintes ficaram em 9,5 e 9,7 tópicos por mês, respectivamente. As médias de tópicos por login ficaram em 10 no primeiro ano, 4 no segundo e 4,5 no terceiro. Fluxo de envio de tópicos na conferência (1993-1995)

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Nos 29 meses pesquisados (maio de 1993 a outubro de 1995), seis instituições e um usuário individual foram responsáveis por cerca de 80% dos 272 tópicos enviados: Instituição Ibase AlterNex MST CPT Usuário A Vianei

nº de logins 14 2 1 1 1 1

nº de tópicos 104 61 35 25 18 15

% de participação 38,0% 22,5% 13,0% 9,0% 6,5% 5,5%

Mais da metade dos 43 logins listados apenas “passaram” pela conferência: 18 enviaram apenas um tópico no período analisado e cinco enviaram duas mensagens (ver representação gráfica comparativa). Elos visíveis e concentração de tópicos na conferência

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Perfil dos provedores * 88% dos logins são institucionais e foram responsáveis por 93% dos tópicos; 79% concentram-se na região Sudeste do país; 98% são de usuários do AlterNex e 2% pertencem às redes IPS e RNP (ver mapa); * 18 das 22 instituições apuradas são ONGs, 89% delas, brasileiras; três são entidades sindicais e uma instituição de pesquisa:

ONGs nacionais AAO - Associaçao de Agricultura Orgânica AlterNex/Ibase ASPTA - Assessoria e Serviços a Projetos de Tecnologias Alternativas Cedi - Centro Ecumênico de Documentação e Informação Cedi/RJ - Centro Ecumênico de Documentação e Informação CPT - Comissão Pastoral da Terra Fase - Federação de Órgaos de Assistência Social e Educacional Fase/BA - Fed. de Órgaos de Assistência Social e Educacional/Bahia Ibase - Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas Ifas - Inst. de Formação e Assessoria Sindical Santa Rosa da Paz Inesc - Inst. Nacional de Estudos Sociais e Econômicos Jornal da Cidadania/ Ibase

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MST - Movimento Nacional dos Trabalhadores Rurais Sem Terra Pedex - Programa Educativo Dívida Externa SIA - Sobreviventes de Incesto Anônimo Vianei - Centro Vianei de Educação Popular ONGs estrangeiras (2) Child Hope Brasil IPS - InterPress Service Entidades sindicais (3) CUT - Central Única dos Trabalhadores Desep - Deptº. de Estudos Econômicos e Políticos da CUT Deser - Deptº. de Estudos Econômicos Rurais da CUT Instituição de pesquisa (1) Progama Piloto para Proteção das Florestas Tropicais Brasileiras

Os conferencistas da apm.brasil distribuem-se por 23 áreas de ocupação profissional, mais da metade deles em áreas relacionadas a conhecimento e informação (dois logins não foram identificados): pesquisa e ensino universitário difusão de informação biotecnologia/biodiversidade documentação agroecologia agência de notícias jornal alternativo publicação periódica

9 logins 6 logins 3 logins 2 logins 1 login 1 login 1 login 1 login

As atividades típicas de ONGs são exercidas por 35% dos usuários: educação popular assessoria sindical cooperação internacional reforma agrária assessoria parlamentar projetos de desenvolvimento desefesa de cri. e adolescentes florestas tropicais direitos humanos

3 logins 3 logins 2 logins 2 logins 1 login 1 login 1 login 1 login 1 login

Análise de conteúdo Por ter sido estruturada a partir de um programa com prioridades temáticas predefinidas, a conferência apm.brasil possui um perfil de conteúdo plenamente coerente com os objetivos traçados nos tópicos nº 1 e 84. Seus tópicos foram enquadrados em 19 subtemas, 16 deles diretamente relacionados a questões da produção agrícola e estrutura fundiária: • agribusiness • agricultura no Mercosul • agricultura orgânica • agricultura sustentável • agroindústria • cooperativismo • crédito agrícola • legislação fundiária • meio ambiente e desenvolvimento • patentes 206

• • • • • • • • •

pequena produção política agrícola política econômica programa APM reforma agrária segurança alimentar sindicalismo rural uso da rede violência no campo

É importante ressaltar que apesar de a “pequena produção” ter sido listada como um subtema, ela é o eixo que norteia o tratamento de quade todos os demais. Este enfoque permite a emergência de conceitos e pontos de vista que se diferenciam da pesquisa agrícola tradicional, geralmente centrada na grande agricultura extensiva e de exportação. Segurança alimentar, agricultura sustentável, agroecologia, agricultura orgânica e sociologia rural são exemplos de expressões típicas dos especialistas envolvidos no Programa APM (ver exemplos de textos nos anexos). Chama a atenção a ênfase dada ao debate sobre as possibilidades e dificuldades de desenvolvimento da pequena produção no âmbito das novas relações econômicas e jurídicas que estão sendo estabelecidas para o Mercosul, que concentrou 21% dos tópicos, superando a “reforma agrária” (14%), “violência no campo” (12%), “patentes” (7%), “política agrícola” (6%) e “sindicalismo rural” (6%). Dentro dos dois primeiros temas, vale a pena destacar os assuntos predominantes: agricultura no mercosul - integração dos pequenos produtores - conjunturas nacionais dos países do Mercosul - ações do SGT-8 (Subgrupo de Trabalho sobre o Mercosul) - perspectivas econômicas - problemas práticos para o intercâmbio - análises setoriais de produção agrícola (trigo, uva etc) - entrevistas com dirigentes de entidades rurais - notícias de jornais reforma agrária - movimento dos sem terras - lei agrária - assentamentos rurais - campanha “Democracia na terra” - atingidos por barragens - quilombos - publicações A agricultura no Mercosul foi o tema privilegiado por três dos cinco maiores provedores da conferência: Ibase (29% dos seus 126 tópicos), AlterNex (33% dos seus 70 tópicos) e o Vianei (86% dos seus 15 tópicos). Já o MST e a CPT centraram suas mensagens na “violência no campo” (com 46% e 56% dos seus tópicos, respectivamente). O Ibase concentrou seus tópicos em sete subtemas estreitamente vinculados ao Programa APM, que coordena no Brasil, e o MST dedicou 86% dos seus textos aos problemas que mais afetam os trabalhadores sem terra, a quem defende. É interessante observar que um usuário, sozinho, pode influir no peso de um tema numa conferência, como aconteceu com as “patentes”, que teve 25 tópicos postados no período analisado, 18 deles pelo especialista David Hathaway, notabilizado no meio das ONGs pelo seu acompanhamento detalhado do processo de votação da atual lei brasileira sobre o assunto.

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Subtemas privilegiados pelos três principais provedores da apm.brasil Provedor Ibase (7 subtemas) AlterNex (17 subtemas) MST (4 subtemas)

subtema agricultura no Mercosul reforma agrária política agrícola segurança alimentar agricultura no Mercosul reforma agrária violência no campo reforma agrária

nº de tópicos enviados 37 16 12 10 23 11 16 14

perecentual 29% 13% 9,5% 8% 33% 16% 46% 40%

Ações comunicativas Integrada a um projeto que exige a contrução de uma racionalidade específica, a conferência apm.brasil foi predominantemente alimentada por textos analíticos e argumentativos, sob a forma de artigos de especialistas (15%) ou de relatórios (14%). Contudo, trata-se também de um espaço reservado ao debate de dois temas “explosivos” – a reforma agrária e a violência no campo – que exigem muita articulação de apoio (10% das mensagens) e difusão de informação: comunicados (7%), reprodução de notícias de jornal (6%) e sinopse de noticiário (6%), sobretudo nos casos de repressão violenta às ocupações de terras. Apesar da propostas de construção de uma “outra racionalidade”, a mídia tradicional ainda predomina sobre a alternativa. Meios impressos que tiveram material reproduzido na amp.brasil Tipo de comunicação artigo de especialista

matéria de agência

notícia de jornal

Nome do veículo Cadernos Terceiro Mundo EPD - Entwicklungs-politik (revista alemão) Jornal do Brasil Alai - Agência Latinoamericana de Informação IPS - InterPress Service TWN - Third World Network Diário de Cuiabá Folha de S.Paulo Gazeta Mercantil Jornal do Brasil Jornal da Cidadania Jornal do Comércio O Globo O Popular (Goiânia/GO) O Estado de S.Paulo

Os tipos de comunicação mais utilizados por cada instituição são indicadores da maneira como cada uma enfrenta a questão agrária no Brasil: Ibase e AlterNex dão ênfase à formação de opinião e mentalidades, através de artigos de especialistas e relatórios, e à difusão da informação produzida pela mídia impressa; já MST, CPT e Vianei preferem produzir e disseminar a sua própria informação e opinião. Tipos de comunicação privilegiados pelos cinco maiores provedores da apm.brasil Ibase (13 tipos)

artigo de especialista sinopse de noticiário relatório

20 tópicos 14 tópicos 12 tópicos

16% 11% 9,5%

AlterNex (13 tipos)

artigo de especialista comunicado notícia de jornal

20 tópicos 20 tópicos 18 tópicos

28,5% 28,5% 26%

MST (11 tipos) CPT

articulação de apoio

20 tópicos

57%

comunicado

7 tópicos

28%

208

(8 tipos)

articulação de apoio

8 tópicos

24%

Vianei entrevista* 11 tópicos 73 (4 tipos) * com representantes de entidades envolvidas com questões rurais

Coerente com a abordagem da questão agrária do ponto de vista da realidade brasileira, 97% dos tópicos da apm.brasil estão em português, 2,5% em espanhol e apenas 0,5% em inglês. Os níveis de ruído e de redundância não passam de 1% nesta conferência, provavelmente pela significativa participação das experientes equipes do Ibase e do AlterNex em comunicação via rede. Dos 27 tópicos com respostas (7,5% do total), 18 tiveram o caráter de complementação (do conteúdo), seis de interação (esclarecimentos, apoio, correção) e três de interferência (repetição do mesmo conteúdo do tópico).

Elos de comunicação interredes da conferência apm.brasil

4.5.3 todas as mulheres do mundo Criar “um espaço coletivo de troca de informações entre grupos de mulheres, feministas, ONGs, instituições e pesquisadoras(es)” do Brasil e de outros países da América Latina é o objetivo da conferência ax.mulher, aberta em fevereiro de 1991, mais de quatro anos antes da Conferência Mundial da ONU sobre a Mulher, realizada em Beijing/Pequim. A conferência que começou tímida, com apenas sete mensagens enviadas por três instituições em 1992 e seis meses consecutivos sem receber qualquer informação nova, chegou a seu quarto ano com uma média de 53 tópicos mensais e 18 tópicos por login, o que significa um alto grau de atividade (ver gráfico abaixo). Fluxo de envio de tópicos na conferência (1991-1995)

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Mas não necessariamente de participação, pois somente uma instituição – a agência IPS – concentrou 62,5% dos 1027 tópicos veiculados no período analisado e o AlterNex (com quatro logins), 20,5%. Ou seja, apenas duas instituições foram responsáveis por 83% dos tópicos, enquanto 81% dos 53 logins que alimentaram a conferência limitaram-se ao máximo de cinco tópicos ao longo dos quase cinco anos pesquisados. Instituições mais ativas de ax.mulher Instituição IPS AlterNex SOS Corpo Item

nº de tópicos 642 210 29 22

nº de logins 1 4 1 2

% de participação 62,5% 20,5% 3% 2% 88%

210

Elos visíveis e concentração de tópicos na conferência

Perfil dos provedores A exemplo da amb.pantanal e da apm.brasil, esta é uma conferência provida majoritariamente por usuários institucionais (88,5% alimentaram 96,5% dos tópicos) e regionalmente concentrada: 66% dos logins são do Brasil; 22,5% da América Latina; 5,5% dos EUA/Canadá; 05% da Europa e 5,5% não puderam ser localizados. Seu perfil institucional, porém, é um pouco mais diversificado: 75% são ONGs e o restante se divide em outros três tipos de instituições (apenas duas com vínculos acadêmicos). ONGs nacionais (14) Abia - Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids AlterNex AS-PTA - Assessoria e Serviços a Projetos de Tecnologias Alternativas Centro Luís Freire Cesep - Cto. Ecumênico de Serviços à Evangelização e Educação Popular Comissão Pastoral da Terra Eicos - Ecologia e Desenvolvimento Sustentável Fase Internacional Ibase Movimento Nacional dos Meninos e Meninas de Rua/SP MST - Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra Polis - Inst. de Estudos, Formação e Assessoria em Pol. Sociais Serviços de Notícia da Mulher SOS Corpo - Grupo de Saúde da Mulher

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ONGs estrangeiras (10) Cipca - Centro de Investigacion y Promocion del Campesino Cotidiano Mujer Foundation for a Compassionate Society Greenpeace IPS - InterPress Service Isis - International Item - Instituto del Tercer Mundo Missionários Claretianos Red Tercer Mundo/ Third World Network Rio Maria Committee of the USA/ University of Cambridge/ MA Entidades governamentais e intergovernamentais (4) Ibam - Instituto Bras. de Administração Municipal Prodesan - Programa de Desenvolvimento de Santos RNP - Rede Nacional de Pesquisa Secretaria de Comisiones Parlamento Latinoamericano Entidades sindicais (3) Federação Estadual dos Bancários do Rio Grande do Sul Sindicato dos Bancários de S. Borja Sindicato dos Petroleiros do Rio de Janeiro Partido Político (1) PT - Partido dos Trabalhadores

Vários tópicos revelam elos subsidiários com outras instituições através da divulgação de campanhas, cursos e seminários, da solicitação e reprodução de artigos, da articulação de apoio etc. Em ax.mulher, a ligação com universidades de várias partes do mundo fica evidente. Instituições citadas • AIA News (matéria de agência sobre mulheres do Zâmbia) • Alai - Agência Latinoamericana de Información (matéria de agência sobre reunião andina para a 4ª CMM) • Centro de Capacitación Social de Panama (artigo de especialista sobre os direitos das mulheres) • Cladem - Comitê Latino Americano para a Defesa dos Direitos da Mulher (lançamento de livro) • Femea - Feministas e Meio Ambiente (lançamento do fórum de grupos de mulheres para a Eco-92) • Grumin - Grupo Mulher Educação Indígena (consulta sobre direitos humanos das mulheres indígenas) • La Nueva Bandera (revista peruana: artigo sobre o surgimento do feminismo proletário) • Ofip - Officina de Derechos Humanos del Periodista (homenagem ao dia internacional da mulher) • Red Latinoamericana de Información en Europa (entrevista sobre tráfico de mulheres para prostituição) • Rede de Ação de Mulheres da Ásia e Pacífico (manifesto para a 4ª CMM) • Sejup - Serviço Brasileiro de Justiça e Paz (matéria sobre esterilização de mulheres) • Center for Sex Research at California St. University Northridge (Congresso Internacional de Sexo, Gênero e Transexualidade) • Feminist Scholarship Interest Group of ICA - International Communication Association (Conferência sobre Comunicação e Diversidade) • Hypathia, a Journal of Feminist Philosophy (solicitação de artigos sobre interpretações feministas de Foucault) • Iowa State University (15ª Conferência sobre Ensino, Teoria e Ação da National Women’s Studies Association) • Latin America Pwerspectives (periódico da Universidade da Califórnia: solicitação de artigos sobre perspectivas das mulheres no continente) • New Mexico State University (Conferência de Estudos sobre a Mulher: à margem das políticas culturais) • Southern Connecticut State University (solicitação de artigos para o periódico Metaphilosophy) • University of Dayton (Colóquio sobre Perspectivas Ecofeministas)

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• University of South California (conferência sobre doenças invisíveis) A maior parte dos logins está vinculada a difusão de informação (8), apoio operacional (5, todos do AlterNex), publicação periódica (4) e sindicalismo (4). As instituições atuam em 24 áreas ocupacionais diferentes, que poderiam ser agrupadas da seguinte forma: a) questões da mulher • comunicação feminista • saúde e direitos reprodutivos b) conhecimento e informação • agência de notícias • biotecnologia • difusão de informação • pesquisa • publicação periódica c) atividades de ONGs • Aids • cooperação internacional • defesa ambiental • defesa de crianças e adolescentes • direitos humanos • ecologia social • educação popular • evangelização • políticas públicas • promoção campesina • reforma agrária Análise de conteúdo Os tópicos veiculados por ax.mulher foram enquadrados em 17 subtemas pertinentes aos objetivos relacionados na sua abertura e apresentaram a melhor estrutura em termos de conteúdo de todas as pesquisadas, por serem mais centrados em idéias do que em eventos. Ao contrário das outras, a quantificação dos tópicos por subtema revelou valores muito próximos, indicando uma gradação de importância moderada (ver representação gráfica comparativa). Além disso, a variedade de assuntos e enfoques dentro de cada subtema também se mostrou maior do que a das outras conferências, como demonstra a listagem a seguir: aborto (68 tópicos) • índices • legalização x clandestinidade • controle da natalidade x direitos individuais • ONGs x Igreja e governos Bejing 95 (73 tópicos) • reuniões preparatórias • etnias • pobreza • saúde • relações de gênero • direitos sexuais e reprodutivos

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comunicação (37 tópicos) • uso da mídia • publicações feministas • debates sobre comunicação feminina • treinamento para uso das novas tecnologias condições de gênero (79 tópicos) • tradição x modernidade • feminino x feminismo • desigualdade e exclusão • feminismo e religião crianças e adolescentes (32 tópicos) • maternidade precoce • prostituição infanto-juvenil • proteção às crianças • violência contra crianças e jovens • exploração do trabalho infantil direitos civis (77 tópicos) • legislação igualitária • ampliação dos direitos civis • direitos reprodutivos e sexuais • rapto e tráfico de mulheres • relações matrimoniais oportunidades de trabalho (69 tópicos) • participação no mercado • abertura de novas frentes • desigualdades de acesso • desigualdade salarial • capacitação participação política (61 tópicos) • presença em governos e parlamentos • influência nos processos decisórios políticas públicas (63 tópicos) • educação • saúde • agenda da ONU • projetos do Banco Mundial • influência sobre a formulação de políticas governamentais • participação em projetos de desenvolvimento população e planejamento familiar (45 tópicos) • políticas de controle demográfico • controle da natalidade x planejamento familiar • família e “famílias” • taxas de fecundidade e crescimento populacional saúde da mulher (45 tópicos) • Aids e HIV • anemia • gravidez • mortalidade materna • programas de saúde 214

sexualidade e reprodução (55 tópicos) • educação sexual • métodos naturais e artificiais de contracepção • esterilização voluntária • fecundação • prostituição situação social (65 tópicos) • pobreza x modelo econômico • baixos índices educacionais • mulheres chefes de família • consumo de drogas • mulheres negras e indígenas uso da rede (21 tópicos) • comunicação on-line em Beijing • novas conferências eletrônicas sobre mulheres violência física e sexual (99 tópicos) • agressões e assassinatos domésticos • circuncisão ou mutilação genital • abuso e escravidão sexual campanhas contra a violência Vale destacar a importância que as mulheres vêm dando às estratégias de comunicação, à criação de meios próprios de expressão e ao treinamento para uso de novas tecnologias de difusão de informação, o que pode ser resultado do programa que a APC vem desenvolvendo há três anos. As notícias sobre articulação de redes de mulheres (mediadas ou não por computador) na África, Ásia e América Latina também são indicadoras do intenso intercâmbio de informação para a extensão dos tentáculos do movimento feminino. Assuntos pertinentes ao subtema “comunicação” de ax.mulher 1º Encontro Iberoamericano Mulher e comunicação em Cuba Abertura do Fórum Permanente de Comunicação e Gênero (FPCG) p/ a 4ª CMM Agenda Mulher e Políticas Municipais Canal de TV de Hong Kong tem mulheres como alvo Capacitação de promotoras de comunicação eletrônica Coletânea Mujer/Fempress sobre Desenvolvimento Social Colóquio internacional sobre formação, pesquisa e edição feministas na universidade Comunicação, elemento indispensável p/ a igualdade de gêneros Conferência sobre Comunicação e Diversidade (Sidney) Cotidiano Mujer nº 19 Doblejornada informa Estratégia de Comunicação das ONGs Feminismo alcança as telas de TV na África Imprensa deve repercutir o conjunto de problemas das mulher Jornalistas da A.L se queixam de discriminação Luta pela igualdade deve ter apoio na mídia Maior diário da Escandinávia acusado de discriminação Mídia e tradição em desuso na África Mulheres e indígenas excluídos da grande imprensa Mulheres querem mais cultura e menos novelas Livro revela como mulheres são tratadas nas confissões Livro: Mulheres na época de transformação econômica

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Novo livro do Cladem: “Vigiadas e castigadas” Novo livro: “Cuba sem caudilhos: um enfoque feminista para o século XXI” Novo livro: De vozes, sonhos e ousadias; mulheres exemplares do Peru Novo livro: Mulher e política, por mérito próprio Novo livro: O mundo transformado; gênero, trabalho e solidariedade na era do livre comércio e do ajuste estrutural Núcleo de Estudos da Mulher do Ibam lança boletim O movimento de mulheres e a comunicação: informação para a democracia Políticas de comunicação e Aids: as mulheres como pretexto Programa de rádio: Tribuna Internacional de Mulheres Publicações do SOS Corpo Publicações Polis, 18 Rede Científica Peruana dissemina informação s/ a 4ª CMM SOS Corpo lança boletim TV-Saúde no Brasil Vídeo sobre parteiras: a magia da sobrevivência

Assuntos pertinentes ao subtema “uso da rede” em ax.mulher APC estabelece link Internet entre Huairou e o resto do mundo Conferências com informação s/ Beijing Enlace - SOS Corpo: Programa APC/ Mulheres GT Gênero on-line para a 4ª CMM Homens, mulheres e computadores Lista de servidores com informações sobre mulheres Nova conferência Nova conferência sobre Beijing 95: Nova conferência sobre mulheres: Nova conferência: Novos gophers sobre a 4ª CMM Novos usuários de Santos: recados para as mulheres Pré-registro de usuários para a 4ª CMM WWW da Conferência de Beijing WWW.realaudio: Fala de Sonia Correa em Beijing WWW: A Maioria Feminista Online

À exceção do Item e do SOS Corpo, que dedicaram, respectivamente, 86% e 34,5% dos seus tópicos à Conferência da ONU na China, os outros quatro maiores provedores de ax.mulher tenderam a diversificar suas mensagens. IPS e AlterNex foram os que apresentaram mais variedade de assuntos, ainda que “violência física e sexual” tenha predominado. Tirando esta coincidência, porém, os dois provedores fizeram escolhas temáticas semelhantes mas com pesos bem diferenciados. Temas privilegiados pelos principais provedores de ax.mulher AlterNex/Ibase violência física e sexual direitos civis população e planej. familiar situação social oportunidades de trabalho uso da rede sexualidade e reprodução saúde da mulher comunicação condições de gênero Beijing 95

17 subtemas 30 tópicos 22 18 18 17 17 16 15 12 12 10

IPS violência física e sexual aborto condições de gênero participação política políticas públicas direitos civis situação social oportunidades de trabalho sexualidade e reprodução Beijing 95 saúde da mulher

16 subtemas 63 tópicos 53 52 52 49 48 47 46 35 24 24

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aborto participação política organizações políticas públicas crianças e adolescentes manifestações feministas outros

9 9 8 6 5 4 4

crianças e adolescentes população e planej. familiar organizações comunicação manifestações feministas outros

23 22 16 12 10 25

Ações comunicativas Devido ao peso da participação da IPS em ax.mulher, 60,5% dos tópicos veiculados foram matéria de agência. Os 40% restantes mantiveram a tônica na difusão de informação, com 11,5% de notícias de jornal, 7,5% de anúncios e comunicados e 6,5% de artigos de especialistas e relatórios. Apesar do esforço das mulheres para desenvolver meios próprios de expressão, os provedores extraíram da mídia tradicional mais de cem matérias que consideraram de interesse para as ativistas femininas. Veículos da imprensa brasileira citados Folha de S.Paulo 27 tópicos O Globo 25 Jornal do Brasil 24 O Estado de S.Paulo 17 Jornal do Commercio 14 Gazeta Mercantil 2 O Dia 2 Tribuna Livre de Santos 2 O maior número de artigos foi enviado pelo Ibase/AlterNex (24) e pelo Item (10), a maioria deles tratando de temas bem variados, do agravamento da pobreza entre as mulheres à crítica da publicidade sexista, como ilustram os exemplos a seguir: • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • •

“A mulher de...” [políticos] “Sobre mulheres e vampiros” 4ª Conferência Mundia da Mulhere (CMM): um novo centro de atenção internacional A miséria com cara de mulher A mulher e as políticas populacionais na América Latina: o caso do Brasil A Woman's Place/ O lugar da mulher Artesanato têxtil: uma alternativa para as indígenas da América Latina Comunicação, elemento indispensável p/ a igualdade de gêneros Desafios da cidadania para 1995: uma agenda que faz gênero Dia Internacional da Mulher: “Quem tem medo do 8 de março?” Documento informativo da Ngonet nº 1: publicidade sexista Documento informativo da Ngonet nº 2: saúde sexual e reprodutiva, antecedentes do debate Famílias, violência e sobrevivência na América Central Fundamentalismo nos anos 90: efeitos sobre a agenda feminista Gênero & Epidemiologia: articulação em busca de eqüidade Histórias e geografias - um primeiro balanço [da 4ª CMM] Homens, mulheres e computadores Igualdade de oportunidades e de direitos para a cidadania Marcos jurídicos e políticas de ajuste estrutural: efeitos sobre as mulheres Miséria, tua cara é de mulher Mulher negra desconhece a história Mulher reduzida a reprodução Mulher trabalhadora ou mulher vaca? Nova visão do discurso de gênero O impacto da violência sobre a saúde das mulheres

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• • • • • • •

O movimento de mulheres e a comunicação: informação para a democracia O surgimento do feminismo proletário Os homens em Beijing: uma crônica Projeto de lei sobre atendimento a casos de aborto Tendências das políticas de população nos anos 90 Um feminismo desejável Violência: algumas reflexões sobre as estratégias na América Latina

A participação maciça da IPS em contraste com a fraca presença da principal ONG brasileira dedicada às questões femininas na época – o SOS Corpo – influenciou no peso das línguas estrangeiras na ax.mulher: 42% dos tópicos enviados estavam em inglês; 33% em espanhol e apenas 24% em português (apesar de 66% dos logins listados serem de usuários brasileiros). Este seria um aspecto importante a se considerar numa pesquisa sobre a eficácia comunicativa da conferência, na qual a constatação de ruído mínino (em apenas duas mensagens) seria levada em conta. O índice de respostas também foi muito baixo nesta conferência: 2%, a maioria (14 tópicos) para interação (atendimento a pedido de informação, elogios, contraargumentação, refutação, apoio). Embora 64% dos logins pertencessem ao AlterNex, este nodo foi responsável por apenas um terço dos tópicos enviados; 70% ficaram a cargo das outras sete redes, a maioria nodos da APC (ver gráfico na próxima página).

Elos interredes da conferência ax.mulher

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4.5.4 a experiência ecológica “Servir de ponto de intercâmbio entre ONGs e pesquisadores, nas áreas de meio ambiente e recursos naturais, para sua atualização sobre atividades das diversas entidades nacionais e internacionais neste meio, assim como facilitar fluxo de informações sobre impactos dos grandes projetos, denúncias de infrações ambientais, e eventos de interesse para participantes da rede (sic)”. Este é o principal objetivo da mais antiga das quatro conferências pesquisadas, segundo o seu tópico número 1, colocado em rede em 11 de maio de 1990. Com 1.359 tópicos distribuídos ao longo de cinco anos e cinco meses por 135 logins, a conferência teve a maior média de tópicos por mês entre as quatro pesquisadas e o menor grau de concentração: oito instituições, somando 19 logins (mais uma vez devido à variedade de identidades utilizadas pelo Ibase), foram responsáveis por pouco mais da metade (52,5%) dos tópicos. Cerca de um terço dos logins (32,5%) enviou apenas um tópico e 66,6% dos 135 enviaram até cinco tópicos no período, correspondentes a 13,3% do total veiculado. No geral, quase 87% das informações veiculadas ficaram a cargo de um terço dos logins. Instituições mais ativas de ax.ambiente Instituição AlterNex Rede Verde Inesc Econvivência IRN Sean

nº de tópicos nº de logins 200 7 193 1 70 1 64 1 60 4 47 2

% de participação 15,0% 14,0% 5,0% 4,7% 4,4% 3,4%

Elos visíveis e concentração de tópicos na conferência

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Ao contrário das demais, ax.ambiente ficou inicialmente sob a responsabilidade de um “facilitador”, a quem as informações a serem veiculadas deveriam ser enviadas como correio eletrônico. Este procedimento, “adotado como medida temporária”, visava “facilitar a administração da conferência” e evitar “problemas na estruturação”, como acontecera com outra experiência ambientalista do AlterNex (ran.tropictimber). Esta, porém, não deve ter sido a razão principal para a lenta evolução da conferência nos seus três primeiros anos de vida, chegando a ficar sete meses em inatividade em 1991. Com a “explosão” do movimento ecológico no Brasil e América Latina após a Eco-92, a conferência cresceu rapidamente, passando de 16 mensagens enviadas por oito logins em 1992 para 246 tópicos postados por 45 logins durante 1993. Nos dez primeiros meses de 1995, ax.ambiente veiculou 613 tópicos de 76 logins diferentes, atingindo a média de 61,3 tópicos mensais (ver gráfico abaixo). Fluxo de envio de tópicos na conferência (1990-1995)

Perfil dos provedores Ax.ambiente não foge à regra: 79% dos logins utilizados estão vinculados a instituições e foram responsáveis por 89% dos tópicos enviados (13 não puderam ser qualificados); 75,5% do total são do Brasil (mais da metade localizada na região Sudeste, sendo 39% no Rio e São Paulo). Estados Unidos e Canadá vêm a seguir, com 12% dos logins e o restante se divide entre não localizados (9%), América Latina (2%) e Europa (1,5%). A grande maioria (81%) dos logins é de usuários do AlterNex; os demais estão filiados a cinco outros nodos da rede APC (sete da EcoNet), à IPS, à RNP e a duas universidades (ver mapa dos elos interredes). Esta é também uma conferência tipicamente “não-governamental”: 89% das 80 instituições que a alimentaram no período analisado eram ONGs, 54 delas nacionais e 17 estrangeiras. As outras somavam três acadêmicas, duas entidades de trabalhadores, duas de apoio governamental e duas não identificadas. ONGs Nacionais (54) Aao - Associaçao de Agricultura Orgânica ABPPolar - Assoc. Bras. de Prevenção à Poluição do Ar AlterNex AS-PTA - Assessoria e Serviços a Projetos de Tecnologias Alternativas [agora é Agricultura Alternativa] Associação Ambientalista Bandeira Verde Associação Ambientalista Internacional (Pangea)/ Boletim AgirAzul

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Associação de Preservação do Meio Ambiente do Alto Vale do Itajaí Associação Ituana de Proteção Ambiental Associação Mineira de Defesa do Ambiente Associação Pernambucana de Defesa da Natureza Cedeca - Centro de Defesa da Criança e do Adolescente Cedi - Centro Ecumênico de Documentação e Informação Cimi - Conselho indigenista Missionário Coalizão Global pela Diversidade Bio Cultural CPT - Comisão Pastoral da Terra CVII - Centro Visão e Imagem Indígena Ecoa - Ecologia e Ação (Secretaria da Rio Vivos) Econvivência - Centro de Educação Estudos e Tecnologias Ambientais Ecopore - Ação Ecológica do Vale do Guaporé Eicos - Ecologia e Desenvolvimento Sustentável Fase - Federação de Orgãos de Assistência Social e Educacional/ Fase Internacional Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento Fórum de ONGs e Movimentos Sociais de Rondônia Fundação Biodiversitas/ Centro de Dados para Conservação da Biodiversidade Fundação Centro Brasileiro de Referência e Apoio Cultural Fundação Nacional de Ação Ecológica [Fábio Feldman] Fundação Pro-vita Fundação Vitória Amazônia Gamba - Grupo Ambientalista da Bahia Grupo de Estudos Espeleológicos do Paraná Ibase - Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas Jornal da Cidadania/ Ibase IED - Instituto de Ecologia e Desenvolvimento Inesc - Inst. Nac. de Estudos Sociais e Econômicos Instituto de Agroecologia da Amazônia Terra Verde Instituto Ambiental/ Rádio Universitária Instituto Socioambiental Instituto Vitae Civile para o Desenvolvimento Meio Ambiente e Paz Invida - Instituto Centro de Vida IPHAE Inst. de Pré-história, Antropologia e Ecologia ISM - Instituto Sul Mineiro de Estudos e Conservação da Natureza ISPN - Instituto Sociedade e Natureza ITC - Instituto de Tecnologia para o Cidadão Maternatura - Instituto de Estudos Ambientais Movimento Botucatuense Pró-Vida Movimento Ecológico Tubaronense Movimento Nac. dos Meninos e Meninas de Rua-SP Polis - Inst. de Estudos, Formação e Assessoria em Políticas Sociais Rede Mulher Rede Verde de Informaçoes Ambientais SDDH - Sociedade Paraense de Defesa dos D. Humanos Sean - Secretaria das Entidades Ambientalistas do Nordeste Sociedade Nordestina de Ecologia Sopren - Soc. de Preservação dos Recursos Naturais e Culturais da Amazônia ONGs estrangeiras (17) Amanakaea Amazon Network APC - Secretariado de Articulação e Administração ARA (Urgewald) Friends of Earth/ Amigos da Terra Brasil Fund for Peace Fundação Arias para La Paz y el Progreso Humano Greenpeace/ Greenpeace Rio

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International Council for Local Environment Initiatives IPS - InterPress Service IRN - International Rivers Network ISR - Institute for Systems Research Item - Instituto del Tercer Mundo/ Comunicação e Meio Ambiente/ Revista del Sur y Tercer Mundo Economico Japan Brasil Network PAN - Pesticides Action Network/ Conesul RAN - Rainforest Action Network WWF - World Wildlife Fund (Canadá) Instituições de pesquisa (3) Núcleo de Coordenação da RNP - Rede Nacional de Pesquisa Programa Mata Atlântica/ Centro de Informação e Serviços Programa Piloto para Proteção das Florestas Tropicais Brasileiras Entidades de trabalhadores (2) Conselho Nacional dos Seringueiros NEJRS - Núcleo de Jornalistas do Rio Grande do Sul Instituições de apoio governamental (2) Ibam - Instituto Brasileiro de Administração Municipal Prodesan - Programa de Desenvolvimento de Santos Outros (2) Apasc [sigla não explicitada no cadastro] Nação Brasil/ jornal semanal

Apesar de se tratar de uma conferência especializada, o perfil dos provedores de ax.ambiente é o mais diversificado das quatro pesquisadas: foram identificados 33 áreas de atuação, além de 19 “outras”. a) atividades ecológicas • agroecologia • biodiversidade • biotecnologia • defesa ambiental • direito ambiental • ecologia social • educação ambiental • extrativismo • florestas tropicais • gerenciamento ambiental • jornalismo ambiental • planejamento de transportes urbanos • recursos hídricos

b) conhecimento e informação • apoio operacional • agência de notícias • assessoria parlamentar • difusão de informação • documentação • economia rural • holística • jornalismo alternativo • pesquisa • publicação periódica • psicologia transpessoal

c) atividades de ONGs • articulação política • comunicação feminista • cooperação internacional • direitos humanos • defesa da criança e do adolescente • defesa da reforma agrária • educação popular • política indigenista • políticas públicas

Análise de conteúdo De acordo com o tópico número 1, a conferência seria estruturada com os seguintes tipos de conteúdos: • “seleções das redes internacionais e conferências sobre meio-ambiente e recursos naturais, traduzidas para o português” (satisfatoriamente atingido, já que 77% das informações veiculadas estavam em português, contra 17% em inglês e 4% em espanhol; o restante foi ruído); • “comentários e contribuições sobre eventos e ações das ONGs e entidades de pesquisa brasileiras e latinas nas áreas de proteção ambiental, manejo de recursos naturais para desenvolvimento sustentável, análise e crítica aos grandes projetos do ponto de vista ambiental, etc”; estas seleções seriam depois traduzidas para o inglês e transmitidas pelas redes internacionais; objetivo também atingido com a intensa divulgação de recursos de informação ecológica (ver adiante);

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• “informações sobre viagens e reuniões para demonstração do sistema, assistência técnica e equipamentos disponíveis através do projeto Brazilian Environment and Natural Resources Hotline, financiado pela Jessie Smith Noyes Foundation” (também cumprido com tópicos sobre “uso da rede”). Pelo tempo de existência, ax.ambiente acumulou uma diversidade temática bem maior que a das outras pesquisadas: 33 subtemas, com forte predominância do que se denominou “informação ecológica” (com 275 tópicos) e uma gradação suave de importância em relação aos demais (ver gráfico comparativo no final do capítulo). À exceção da educação, do jornalismo e das redes eletrônicas, que mereceram um tratamento à parte foram enquadrados na rubrica “informação ecológica” os seguintes recursos de organização e difusão de informação especializada em questões ambientais: • listagens (de 400 contatos sobre energia sustentável; de animais ameaçados; de signatários da carta ao Banco Mundial, de artigos sobre florestas tropicais) • bases de dados serviços de referência BD em jurisprudência ambiental, Centro de Dados Climáticos Centro de informação sobre conservação de árvores informações e mapas sobre derramamento de óleo no Artico russo Espécies 2000: indexação das espécies conhecidas no mundo Guia de oportunidades em gerenciamento de recursos naturais Centro de Documentação e Informação Ambiental-Cedia

• bibliografias (da CSD da Onu/95 • bibliotecas ecológicas (na Suíça e na Bahia) • boletins e informativos eletrônicos Conama Press ECO Newsletter ESA Today E-wire Infoandina InfoPAN Informativo CAPR Notícias da Red Latinoamericana de Informacion en Europa Radiobras em C&T Revisão/FNAE Tropical Forest Update Vitae Civilis/ Comsema Informa

• conferências, cursos e seminários Conferência de cientistas em Quebec: conhecimento compartilhado no contexto global Conferência Interdisciplinar sobre Meio Ambiente/ Boston-EUA Conferência sobre Ecometria/USP Curso sobre ecologia de pequenos mamíferos Cursos de especialização em ecologia social do Iles Cursos de pós-graduação em Ecotoxicologia Curso: Ciências Sociais e Meio Ambiente/ SP Mestrado em ecologia social na UFRJ: seleção de candidatos Seminário Internacional de Sist. Sócio-Ecológicos-Econômicos: ISEE-95 (Russia)

• pesquisas Pesquisa de campo s/ manejo ambiental em bacia hidrográfica: Pesquisa em ecofisiologia de florestas tropicais Pesquisa na área do rio Aripuana/MS Pesquisa sobre a capa de ozônio

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Pesquisa sobre desenvolvimento e redes de informação Pesquisa sobre formulação de política ambiental na América Latina Pesquisa sobre ONGs ambientalistas que utilizam redes de comunicação por computador Pesquisa sobre redes ambientalistas

• sinopse de noticiário sobre questões ambientais (Rede Ecologista/Rede Verde Os tópicos agrupados sob a rubrica “uso da rede” evidenciam a experiência acumulada pelos ambientalistas (inclusive os brasileiros) na comunicação a distância via computador desde a implatação da EcoNet, há dez anos. Além de divulgar os variados recursos de informação disponíveis em conferências, listas de discussão e sites da World Wide Web – WWW (documentos em interface gráfica), a ax.ambiente lança questões para debate ou para ação, como nestes exemplos: • • • • • • • • • •

“Leis e correio eletrônico: uma alternativa de luta” “Criação da Rede Eletrônica Global para a Eco-92” “Criação da Ecotech Network” “Projeto de uma nova Rede Ecologista no Brasil” “Proposta de criação de nova conferência na rede para notícias internacionais” “Rede Criança e Rede Verde: convite à participação” “Seminário sobre a Amazônia através de correio eletrônico do AlterNex” “Seminário sobre redes ambientais eletrônicas em NY” “Treinamento no AlterNex durante o Fórum Multimídia de Educação Ambiental em S.Paulo” “Uso de tecnologias computadorizadas de comunicação e informação: projeto da Fundacion Acceso”.

Anúncios sobre recursos disponíveis na rede: • Bibliotecas virtuais sobre áreas protegidas (serviço de informação desenvolvido pelo World Conservation Monitoring Centre, Cambridge/UK) • Dicas sobre tópicos em outras conferências: ; ; ; documentos sobre o GEF na ; Selo Verde na ; • Diretórios do Pnud sobre Biotecnologia para a América Latina • Listas de discussão sobre: Ecotechnics 95 florestas tropicais meio ambiente e comércio Permaculture Sistemas de Conhecimento Nativo (Indigenous Knowledge Systems) Sistema de Informação Amazônico/Coordenação Nacional da Venezuela

• Novas conferências: ; ; ; sobre campanha contra importação de mogno brasileiro por paises “ricos”; • Serviço de notícias ambientais por correio eletrônico • Rede internacional de Recursos Hídricos em regiões semiáridas já está no ar • Resoluções do Fórum CASX: documento disponível em gopher • Home Pages (documentos em WWW): banco de dados em biotecnologia e biomédica banco de dados sobre a flora da Califórnia banco de dados sobre liberação de organismos no meio ambiente biodiversidade canadense (CBIN) cartão de Natal contra testes nucleares franceses convenção sobre diversidade biológica da Alcom diretório de estudos sobre ecologia rural do Usaid

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Eco-Compass, novo boletim ambientalista endereços de ecosistemas brasileiros endereços de sites sobre áreas protegidas da Austrália lei canadense para espécies em risco rede de dados sobre famílias de micróbios rede de informação sobre biossegurança (BIN21) relatório anual do BDFF sobre fragmentos florestais sobre a indústria ambiental sobre dinâmica biológica de florestas (BDT) sobre índios do Xingu (Homedia) sobre meio ambiente em espanhol sobre o El Niño software para planejamento de conservação software relacionado a vida selvagem e ecologia

Também surpreende a quantidade de iniciativas jornalísticas para divulgação do debate ambiental listadas a partir da conferência, com destaque para o trabalho do Núcleo de Ecojornalistas do Rio Grande do Sul (NEJRS), que inclui a série “Manual de Emergência”, com dicas de fontes e informações básicas sobre grandes questões ambientais para jornalistas (especializados ou não); o projeto “Terça Ecológica: o ambiente em debate” e a participação no processo de criação da Rede Internacional de Ecojornalistas. • Periódicos impressos: Boletim AgirAzul; Parabólicas (revista); Provita (jornal); • Periódicos eletrônicos: Econotas; Eletronic Green Journal; • Programas de rádio: Catavento (“o programa que fala ecologia”); Gaúcha Ecologia; Ecosul; Os variados assuntos tratados nos 33 subtemas permitem inferir algumas áreas de especialização de conhecimento e técnicas que emergiram do ou se desenvolveram com o movimento ecológico, depois que ele ultrapassou a fronteira da agitação e denúncia, despertando o interesse de pesquisadores acadêmicos e de formuladores de políticas públicas de âmbito local, nacional e global: • agroecologia ou agricultura orgânica; • biodiversidade • biossegurança • direito ambiental • ecofisiologia • ecologia social • ecometria • ecotoxicologia • ecoturismo • educação ambiental • engenharia ecológica • gerenciamento e monitoramento ambiental • gerenciamento de recursos hídricos • gerenciamento do solo • manejo florestal • relatórios de impacto ambiental • Sistemas de Informações Geográficas (GIS) • técnicas de reciclagem • tecnologias ambientais • zoneamento ecológico

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Ações comunicativas Os conferencistas de ax.ambiente utilizaram todos os 25 tipos de comunicação pré-listados, com moderado destaque para “comunicado” (17%), preferido por quatro dos seis maiores provedores da conferência, e “sinopse de noticiário” (16%), utlizado predominantemente pela Rede Verde (169 tópicos). Já a Econvivência centrou a sua participação no repasse de pedidos de articulação de apoio de outras ONGs e redes (sobretudo estrangeiras) e no anúncio de eventos. Tipo de comunicação comunicado sinopse de noticiário relatório articulação de apoio anúncio busca de informação mensagem de alerta periódico eletrônico artigo de especialista notícia de jornal manifesto programação de evento comentários cópia de carta ou fax denúncia resenha de documento aviso pessoal matéria de agência listagem proposta de ação arquivo binário pedido pessoal entrevista bibliografia copia de carta

Total de tópicos 230 220 138 128 115 66 49 46 39 33 30 29 28 27 23 20 18 16 14 10 9 5 3 2 1

A extensão dos elos de comunicação dos conferencistas é indicada pela variedade de instituições que não enviaram tópicos diretamente mas de onde procederam artigos, comunicados, programações de eventos, propostas de ação e relatórios: • • • • • • • • • • • • • •

Alcom - Aquaculture for Local Community Development Programme APA-TO - Alternativas para a Pequena Agricultura (Tocantins) Apec - Asian Pacific Economic Cooperation Bank Information Center of World Bank CAPR - Comitê de Acompanhamento das Propostas Constitucionais (coalizão de 80 ONGs brasileiras) CDS - Comissão de Desenvolvimento Sustentável CEE - Comunidade Econômica Européia Center for Psychology and Social Changes Cida - Canadian International Development Agency CIR - Conselho Indigenista de Roraima Conama - Conselho Nacional de Meio Ambiente Consema - Conselho Estadual de Meio Ambiente (SP) Ecological Righs Association Faor - Fórum de Debates da Amazônia Oriental 226

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Fepam - Fundo Estadual de Proteção Ambiental (RS) FNMA - Fundo Nacional para o Meio Ambiente Fórum de Educação Ambiental Funbio - Fundo para a Biodiversidade GEF - Global Environment Facility Globe - Global Observation to Benefit Environment Iles - Instituto Latinoamericano de Ecologia Social MAB - Movimento dos Atingidos por Barragens OMC - Organização Mundial do Comércio Pnuma - Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente Prodecer - Projeto de Desenvolvimento do Cerrado Pronabio - Programa Nacional de Biotecnologia Red Ambiental Peruana Rede Kurupira Southlinks - United National Volunteers Tecoci - Tecnologias Computadorizadas de Comunicação e Informação Terra - Toward Ecological Recovery & Regional Alliance World Conservation Monitoring Centre Em termos de eficácia comunicativa, ax.ambiente teve o segundo melhor índice de respostas das

quatro pesquisadas (8,5%), a grande maioria com o objetivo de interação com outros usuários ou complemento do tópico; 3% de tópicos repetidos (80% em outra língua, o que amplia o público das mensagens); e apenas 2% de ruídos.

Elos de comunicação interredes da conferência ax.ambiente

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5. Conclusões A reconstrução dos padrões de intercâmbio de informação, conhecimento e experiências entre ONGs e movimentos sociais, a partir da sua própria “literatura cinzenta”, do questionário respondido por entidades civis usuárias do AlterNex e da observação da dinâmica de conferências eletrônicas permitiu confirmar a hipótese formulada para esta pesquisa: a de que as redes constituídas por essas organizações formam um extenso “colégio invisível” de contra-especialistas, isto é, profissionais especializados em diferentes áreas que colocam o seu saber e a sua competência técnica “a serviço” de movimentos sociais através de variadas práticas de comunicação informal. Esta pesquisa – primeira do gênero no Brasil – procurou sistematizar um repertório teórico-conceitual transdisciplinar que parece o mais adequado para tratamento das redes como agregações descentralizadas de componentes heterogêneos e comportamento dinâmico não-linear, sobre as quais é difícil fazer previsões. Os conceitos com os quais foi necessário lidar – informação, contra-informação, não-governamental, movimentos sociais, redes – são tipicamente nebulosos: constroem-se por exclusões/inclusões, oposições, ambigüidades, imprecisões de limites. Mas convergem para um único e grande problema: o das interações humanas para intercâmbio de informação visando ações coletivas. Para dar conta desse tipo de objeto, o trabalho de investigação partiu do pressuposto geral da transição paradigmática que as ciências como um todo vêm atravessando nesta metade do século XX, em função do colapso da lógica positivista. Libertos da exigência de separação sujeito/objeto como condição de alcance objetivo da verdade única, pesquisadores de várias áreas passam a dar atenção às características de imprecisão, incerteza, desordem e irregularidades observáveis em alguns fenômenos e antes rejeitadas como “ruídos” da experimentação científica. A aplicação desse aparato teórico-metodológico às ciências sociais, dentro de uma abordagem fenomenológica ampla associada à lógica dialética, torna possível enfrentar a complexidade típica das interações humanas, particularmente quando envolvem um número incalculável de pessoas que se inter-relacionam através de redes de intercâmbio cujas fronteiras são difíceis de demarcar. Nestas condições, uma informação nova ou o levantamento de uma questão até então não discutida pode provocar mudanças qualitativas profundas na dinâmica da rede, indicando sensibilidade a pequenas variações nas condições iniciais do seu funcionamento (caos determinístico). Mas estas alterações podem não ser apenas sinais de desordem em uma ordem mais ampla e sim indicadores de um sistema complexo caracterizado pela multiplicidade de agentes que se inter-relacionam de forma não-determinista e pela capacidade de auto-reorganização. Tanto os dados colhidos através de questionário, quanto os coletados nas conferências eletrônicas do AlterNex foram submetidos a técnicas de análise de redes sociais e de redes de comunicação interpessoal sistematizadas, respectivamente, por John Scott (1992) e Rogers & Kincaid (1981). Tais técnicas estão, porém, estagnadas há mais de dez anos, preservando a influência que sofreram do funcionalismo, uma das variantes do positivismo sociológico, que vê as sociedades como sistemas comparáveis aos organismos vivos, cujas partes interagem em busca de consenso e adaptação. Para os funcionalistas, as leis que regem os fenômenos sociais são intemporais, invariáveis e tendentes à estabilidade e à coesão. Essa visão tende a

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limitar a análise de redes à busca de regularidades nas ligações entre os nós, mesmo quando se utilizam programas de computador que permitem tratar um número amplo de unidades interconectadas e múltiplas variáveis. Ainda assim, a aplicação destas técnicas à identificação de elos (links) e de tipos de vínculos institucionais revelados tanto pelos questionários quanto pela participação nas conferências permitiu traçar representações gráficas significativas da imprecisão de contornos e da dinâmica que caracterizam as redes de ONGs e movimentos sociais. Apesar de partir de um número reduzido de elementos (as 36 organizações que responderam o questionário enviado), o mapeamento dos principais vínculos relatados permitiu configurar um conjunto complexo de interconexões que envolvem pelo menos 162 entidades, entre nãogovernamentais, estatais, intersindicais, universidades, fundações estrangeiras sem fins-lucrativos e organizações multilaterais. No entanto, este é apenas um fragmento da “rede parcial” formada a partir de organizações e movimentos que utilizam os serviços do AlterNex. Se considerarmos o potencial multiplicador de cada “nó” – as “teias” invisíveis – tem-se um mapa “rizomórfico” de relações assimétricas de comunicação desencadeadas em vários pontos simultaneamente, sem que se possa identificar um ponto “gerador”, como nas estruturas em árvore. Mas a pesquisa não se limitou a quantificar elos de comunicação, procurando indentificar também os padrões de intercâmbio de informação utilizados pelas organizações respondentes do questionário. Mais de 70% das entidades pesquisadas têm como atividade-fim projetos de assessoria, consultoria, apoio técnico, treinamento e/ou capacitação profissional e mais da metade dos 60 tipos de atividades indicados por elas como os mais importantes relaciona-se a organização e/ou transferência de informação. Mesmo sendo usuárias de um serviço de intercâmbio via computador, cerca de 80% das ONGs pesquisadas ainda preferem padrões tradicionais de comunicação informal, como as conversas pessoais e telefônicas, embora o fax, as publicações especializadas e o correio eletrônico sejam muito utilizados por mais da metade delas. Curiosamente, dois respondentes assinalaram que não utilizam correio eletrônico, embora tenha sido este o meio usado para envio do questionário. Eles fazem parte do grupo dos 15 que devolveram a pesquisa por fax. Pouco menos de um terço dos respondentes utiliza efetivamente as conferências eletrônicas e apenas quatro assinam listas de discussão, um instrumento de intercâmbio comum entre pesquisadores acadêmicos e usuários individuais da Internet. As conferências, aliás, só perdem para os relatórios internos, como meios menos utilizados. Esses dados são parcialmente reforçados pelos resultados da análise de quatro conferências temáticas do AlterNex, que envolveram, ao todo, a participação de 215 logins e 123 instituições (só o Ibase operou com 34 logins, 12 deles da equipe do AlterNex e um do Jornal da Cidadania). À exceção do login animax, utilizado para estimular o acesso às conferências, nenhum outro enviou tópicos para todas as quatro pesquisadas; a grande maioria (82%) participou de apenas uma conferência. Ou seja, observou-se uma alta concentração da difusão da informação por poucos provedores. Entre duas e quatro entidades “monopolizaram” cerca de 80% dos tópicos de três conferências; apenas em ax.ambiente a participação foi menos centralizada: oito instituições, utilizando 19 logins, controlaram 52,5% das mensagens veiculadas. Em todas as conferências, entre um terço (ax.ambiente) e pouco mais da metade (amb.pantanal) dos usuários listados limitou-se a enviar apenas um tópico; mais de 80% em amb.pantanal e ax.mulher não

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passaram de cinco tópicos, o mesmo acontecendo com 66% dos logins de ax.ambiente e com 53,5% dos da apm.brasil. Ou seja, a maior parte teve participação periférica ou subsidiária. A comparação dos gráficos que descrevem as dinâmicas das quatro conferências analisadas mostra que os fluxos de tópicos enviados ao longo dos anos não seguem uma evolução linear, cumulativa. A única semelhança observável entre esses fluxos é o aumento significativo de tópicos/mês de ax.ambiente e de ax.mulher em função das conferências mundias da ONU sobre esses temas (ECO-92 e Beijing-95). No primeiro caso, o aumento só ocorre a partir da realização do evento no Rio de Janeiro; já a reunião sobre mulheres começa a movimentar a conferência eletrônica desde os seus encontros preparatórios, em função da experiência acumulada pelas organizações e movimentos feministas desde 1992. Por outro lado, a referenciação imprecisa da autoria da maior parte dos documentos que circulam nessas conferências, a predominância de logins institucionais em vez de pessoais e a “rarefação” de vínculos pessoais recíprocos nos questionários da pesquisa não permitiram avaliar a extensão do “colégio invisível” formado pelos especialistas que trabalham como pesquisadores de ONGs e/ou assessores de movimentos sociais e populares. Essa verificação exigiria uma investigação específica, de longo prazo e amplo universo, dentro de uma abordagem etnometodológica (que analisa as interações a partir dos relatos dos próprios atores sobre suas práticas). Os tópicos e as referências a outras organizações, redes e movimentos nas mensagens são os únicos indicadores “visíveis” dos elos institucionais estabelecidos em uma conferência, na qual ocorrem também ações comunicativas “invisíveis”: um usuário pode, por exemplo, interessar-se por um tópico e entrar em contato direto, via correio eletrônico, com o autor do artigo ou do pedido de informação; vários podem ler uma proposta de articulação que implique enviar faxes de protesto e aderir sem que isto “apareça” na conferência. Há ainda os que utilizam dados e documentos extraídos da conferência em seus programas de treinamento, boletins informativos e relatórios de consultoria. Muitos desses usuários podem jamais enviar tópicos e, com isso, permanecerem invisíveis, apesar de, em alguma medida, serem participantes ativos da conferência. Além disso, em torno de 80% dos remetentes de tópicos são instituições, ou seja, têm necessariamente vínculos fortes com clientelas e parceiros que tanto podem ser fontes quanto consumidores das informações veiculadas, num processo difusor ainda não mensurado. Algumas delas secretariam coalizões ou redes de ação que envolvem dezenas e até centenas de organizações de âmbito regional e nacional, o que potencia as suas possibilidades multiplicadoras. Essa invisibilidade é, em parte, herdada da forma de trabalhar dos antigos centros de educação popular analisados por Leilah Landim como a origem das ONGs brasileiras constituídas a partir dos anos 70. Mas, de outra parte, é característica intrínseca da própria articulação em rede, cuja “vida” reside exatamente na capacidade multiplicadora dos seus “nós”. Esse efeito multiplicador pode ser operado de n formas: através de projetos de comunicação comunitária, de formação de lideranças, de projetos de educação popular, de transferências de tecnologias apropriadas, de centros de preservação da memória popular, da participação em conselhos multinstitucionais em instâncias governamentais como forma de interferir na formulação e implantação de políticas públicas, entre tantas outras. Além disso, ONGs e movimentos sociais produzem centenas de veículos impressos de baixa tiragem, de circulação dirigida, oferecendo um material informativo claramente diferenciado da mídia tradicional, cujos efeitos ainda estão por ser estudados.

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É preciso observar, porém, que se tratam de padrões de relações diferenciados: nas redes eletrônicas, as trocas se dão basicamente entre “pares”, especialistas acadêmicos e não-acadêmicos que detêm uma certa gama de conhecimentos e experiências sobre uma área de interesse comum, formando o que Kadushin chama de “círculos sociais”. Na ação multiplicadora que se desdobra de cada nó da rede, trata-se, em princípio, de um intervenção emancipadora em situações de comunicação intercultural nas quais alguém detém um conhecimento que vai ser compartilhado, socializado, e não meramente “transferido” para outras pessoas. Essas táticas de contra-informação e contracomunicação não mais se baseiam na centralidade contrahegemônica guiada pelos partidos políticos e sim na transformação cultural operada pelos agentes “socialmente competentes” (Giddens) de práticas coletivas institucionalizadas por ONGs e outras entidades da sociedade civil. Contra-informação, nesse novo contexto, diz respeito a conteúdos normalmente não veiculados pelas instituições tradicionais (escola, mídia) que são fundamentais para a construção de uma visão de mundo diferenciada daquela “vendida” pelo discurso dominante. Ou seja, inscreve-se na proposta de pedagogia da informação e de ação cultural herdada principalmente de Paulo Freire, na qual a interação entre ciência e senso comum é fundamental. Contracomunicação abrange tanto as atividades de veiculação desses conteúdos, por diversos meios, como as atividades dedicadas à abertura de canais de expressão para a população normalmente destituída dessa possibilidade, como as rádios e TVs comunitárias. No contexto da redefinição das idéias de democracia e de hegemonia, e de articulação entre o local e o global, as redes de ONGs e movimentos sociais associadas à APC e ao AlterNex são, então, espaços potenciais de ação política e de intercâmbio de informação e conhecimento especializado visando à construção de novos consensos e a transformações no senso comum a respeito de determinados problemas da vida cotidiana. A ênfase em uma vertente ou outra, ou a sua combinação equilibrada, depende de situações conjunturais e das estratégias traçadas por cada organização ou por uma coalizão de entidades. No Brasil, embora haja essa dupla atuação, os desdobramentos políticos ainda são tímidos, se comparados com a capacidade de mobilização de recursos dos movimentos sociais americanos através das redes eletrônicas, particularmente os de defesa ambiental, que possuem mais experiência no ramo. Além disso, ainda são muito poucas as organizações nacionais que têm acesso e dominam a telemática. O sucesso da interface gráfica da Internet entre a classe média brasileira não parece ter contaminado na mesma medida as organizações da sociedade civil, seja por dificuldades financeiras, diante da retração da cooperação internacional, seja ainda pelas resistências a incorporar aparatos tecnológicos que contrastam com as situações excludentes contra as quais lutam. Até agosto de 1996, não chegavam a 20 as ONGs e movimentos que já estavam veiculando páginas gráficas sobre os seus projetos na Web. Apesar de serem um meio extremamente dinâmico de difusão democrática da informação e de intercâmbio de experiências, as redes de relações interpessoais e interorganizacionais (mediadas ou não por computador) têm despertado pouco interesse dos pesquisadores da Comunicação e da Ciência da Informação – tanto no Brasil, quanto no exterior. Estudos sobre o impacto das chamadas “novas tecnologias de informação e comunicação” (que não param de se renovar aceleradamente desde o início dos anos 80) tendem a se limitar às conseqüências imediatas da adoção do aparato técnico, ora com um enfoque apocalítico (como os riscos de isolamento das pessoas e a dominação transnacional), ora com abordagem de

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encantamento, como se o tratamento maquínico fosse resolver as grandes dificuldades humanas frente à “explosão” da informação e do conhecimento. Só recentemente, com a transformação da Internet em um “fenômeno da atualidade”, é que os teóricos das duas disciplinas parecem ter acordado para as infinitas possibilidades culturais, sociais e políticas da interação de pessoas via redes eletrônicas. Do ponto de vista das necessidades de informação para um desenvolvimento socialmente justo em um país como o Brasil, a Internet representa uma espécie de latifúndio ainda muito pouco produtivo, concentrado nas mãos de uma pequena parcela da população que domina a língua inglêsa, a linguagem técnica e o aparato tecnológico necessário à sua exploração. Ao mesmo tempo, porém, representa uma nova instância de debates sobre questões de interesse público que possui interface de mão dupla com os meios de comunicação de massa e com as redes de ONGs e movimentos sociais, constituindo-se em um imenso rizoma com muitas teias invisíveis. Logo, muitos são os desafios para os pesquisadores que resolverem mergulhar neste campo: a constituição de comunidades virtuais como um novo padrão de comunicação intercultural; as mudanças na organização do pensamento e nas possibilidades de comunicação trazidas pela linguagem de hipertexto; os tênues limites entre a liberdade de expressão e a invasão de privacidade; os problemas da segurança da informação, entre tantos outros. Para as ONGs e movimentos sociais que ainda estão alheios ao mundo da comunicação digital tornase urgente a necessidade de vencer as resistências e dificuldades em relação ao uso das tecnologias de informação (hoje bem mais fáceis de operar e proporcionalmente mais baratas do que na época em que o AlterNex foi criado) para investir em assessoria e treinamento em telemática. Sem capacitar os seus “especialistas da transformação” (Landim) para enfrentar os novos desafios impostos pela “ideologia” da globalização, essas entidades correm o risco de perder o bonde da história que uma parte delas mesmas construiu.

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244

A teia invisível: informação e contra-informação nas redes de ONGs e movimentos sociais Tese de doutorado em Comunicação defendida no PPG-CI Ibict-ECO-UFRJ; Área de concentração: Ciência da Informação; Linha de pesquisa: Informação, Sociedade e Tecnologia Sonia Aguiar Lopes Orientadoras: Profª Drª Gilda Maria Braga; Profª Drª Maria Nélida González de Gómez Rio de Janeiro, 1996

volume 2

ANEXOS SUMÁRIO • 1. Atividades de informação e comunicação de ONGs • 2. Glossário dos termos identificadores das entidades pesquisadas • 3. Instituições da sociedade civil usuárias ativas no AlterNex • 4. Questionário da pesquisa sobre redes sociais • 5. Organizações e entidades que participaram da pesquisa (por ano de criação) • 6. Áreas de especialização e pós-graduação dos dirigentes e respondentes • 7. Temas privilegiados pelas organizações pesquisadas • 8. Tipos de atividades envolvidas na “rede parcial” • 9. Tipos de beneficiários dos projetos realizados • 10. Instituições parceiras citadas pelos respondentes • 11. Instituições consultadas para intercâmbio de informação • 12. Autores citados pelos respondentes • 13. Instituições provedoras das conferências pesquisadas • 14. Frequência dos logins por conferência • 15. Assuntos por subtemas da conferência amb.pantanal • 16. Assuntos por subtemas da conferência apm.brasil • 17. Assuntos por subtemas da conferência ax.mulher • 18. Assuntos por subtemas da conferência ax.ambiente • 19. Exemplos de textos veiculados nas conferências analisadas • 20. Exemplos de atuação em rede de entidades filiadas ao AlterNex

245

Anexo 1 - Atividades de informação e comunicação de ONGs Das 121 instituições listadas por Leilah Landim (1993, vol. 2, p.282-286) como exemplificadoras do universo de ONGs “de assessoria e apoio aos movimentos populares”, 73 (60%) contêm em seus nomes termos referentes a atividades relacionadas a produção, organização e transferência de conhecimento, disseminação, intercâmbio de informação e comunicação. Tais atividades ficam ainda mais explicitadas nas expressões utilizadas por essas organizações para descrever os seus objetivos institucionais. 1. Produção de conhecimento e de informação • • • • • •

análises avaliação em educação estatísticas estudos investigação(ões) social(ais) pesquisa

atividades-fim: “realizar pesquisas e estudos relativos a problemas e fenômenos que constituem objeto de conhecimento das Ciências Humanas”; “construir um novo pensamento jurídico, desenvolvendo formas e mecanismos de defesa dos direitos humanos”; “estudar o fenômeno das migrações - suas causas e consequências, fluxos e tendências - através de pesquisas, acompanhamento de história de vida, documentação, organização de simpósios, debates etc”; “discutir a invisibilidade de gênero e raça nas estatísticas”; “experimentação, demonstração, pesquisa e formação em tecnologias alternativas para a pequena produção rural”; “rede de informações sobre o campo no Nordeste - coleta de dados, disseminação e análise de informações técnico-científicas, em particular nas áreas de geografia e história”;

2. Documentação e memória • • •

criação da imagem popular documentação memória popular, memória do povo cearense

atividades-fim: documentar as lutas dos movimentos populares, sindicais e pastorais; programa de memória e acompanhamento do movimento operário; serviço de documentação de artigos sobre migrações para consulta pública; “sistematização de informações bibliográficas sobre a atuação do Banco Mundial no Brasil”; registro etnográfico e iconográfico de grupos indígenas;

3. Transferência de conhecimento técnico e de tecnologias • • • • • • •

apoio assessoria assistência consultoria planejamento projetos tecnologias alternativas

atividades-fim: assessoria jurídica, agrária, educacional, multiprofissional, sindical e popular, em política social; acompanhamento, consultoria a apoio técnico a projetos comunitários, a “projetos de inspiração alternativa”, aos movimentos populares; capacitação de agricultores em técnicas agropecuárias alternativas; aplicação de técnicas adaptadas às comunidades; tecnologia para o cidadão;

4. Educação, promoção cultural e treinamento • •

ação cultural alfabetização popular

246

• • • • • • • •

aprendizado e desenvolvimento técnico capacitação cultura, culturas negras, cultura contemporânea educação, educação popular, educação a distância escola de formação/ formação sindical projetos pedagógicos treinamento universidade popular

atividades-fim: educação de adultos, capacitação de educadores populares, formação de lideranças comunitárias, rurais e sindicais, metodologia de educação de adultos; programa de alfabetização e sobrevivência; aprendizagem profissional e preparação para o trabalho; instrumentalizar agentes comunitários; educação sócio-política; capacitação e formação de quadros jurídicos para prestação de assessoria aos movimentos sociais; especialização de profissionais na área de Ciências Humanas para prestar assistência aos movimentos sociais;

5. Comunicação e intercâmbio de informação • • • • •

agência ecumênica de notícias comunicação, comunicação popular divulgação (da Amazônia) informação rede mulher

1. atividades-fim: publicação de boletins, jornais e revistas, de caráter noticioso, técnico ou analítico da conjuntura nacional e latino-americana, envio de notícias via fax, organização de entrevistas coletivas; divulgação e troca de experiências; produção de videos; promoção de debates; “serviço de informatização de dados, em conexão com outros Centros de Estudos Migratórios”; “produzir programas de rádio e publicações que tenham como principal objetivo corrigir a discriminação que pesa contra a mulher nos meios de comunicação de massa”; serviço disque cidadania (Recife);

247

Anexo 2

Glossário de termos utilizados na busca por palavra-chave para determinar a “rede parcial” de ONGs e movimentos sociais usuários do AlterNex GRUPO a) PADRÕES DE AÇÃO COLETIVA E DE INSTITUCIONALIZAÇÃO ação - “Processo que decorre da natureza ou da vontade de um ser, o agente, e de que resulta criação ou modificação da realidade. (É considerada, de modo geral, em seu relacionamento com os diversos domínios do conhecimento).” agente. “O princípio ou o sujeito de uma ação.” agência - “Empresa especializada em prestação de serviços, e que desempenha, em geral, função intermediária. (...). agência internacional. Agência de notícias privada ou governamental, que transmite internacionalmente notícias e comentários de interesse geral, e que dispõe de aparelhamento técnico e de ampla rede de informantes e correspondentes.” apoio - “Auxílio, socorro, amparo.” assistência - (...) Intervenção de pessoas legalmente autorizadas em certos atos daqueles que têm relativa capacidade civil, para lhes suprir a deficiência. [Cf. autorização e representação] (...) assistêncial social. Serviço gratuito, de natureza diversa, prestado aos membros da comunidade social, atendendo às necessidades daqueles que não dispõem de recursos suficientes.” associação - “Combinação, união; liga, organização; V. sociedade.” centro - “Lugar onde habitualmente se tratam certos negócios ou executam certas atividades; (...) Ponto de convergência. (...) Coisa ou pessoa a que muitas outras se acham ligadas.” coletivo - “Que manifesta a natureza ou a tendência de um grupo como tal ou pertence a uma classe, a um povo, ou a qualquer grupo.” comissão/ comitê - “Grupo de pessoas com funções especiais, ou incumbidas de tratar de determinado assunto;” conselho - “Corpo coletivo superior. (...) Corporação à qual se incumbe opinar ou aconselhar sobre certos negócios públicos.” convenção - “Ajuste, acordo ou determinação sobre um assunto, fato etc; convênio, pacto; (...) Encontro, reunião ou assembléia de indivíduos ou representações de classe, de associações etc, onde se delibera sobre determinados assuntos; conferência, congresso.” cooperativa - “Sociedade ou empresa constituída por membros de determinado grupo econômico ou social, e que objetiva desempenhar, em benefício comum, determinada atividade econômica.” defesa - “(...) socorro, auxílio, (...): defesa dos oprimidos.” equipe - “Conjunto ou grupo de pessoas que se aplicam uma tarefa ou trabalho.” federação - “Associação, aliança, liga, união. Reunião de grupos profissionais, esportivos, religiosos, ou outros de caráter definido, para defender e promover objetivos comuns.” fórum - “Foro. Lugar onde funcionam os órgãos do poder judiciário; jurisdição, alçada, poder.” fundação - Pessoa jurídica autônoma instituída por “ato do Estado, ou liberalidade privada, por doação ou por testamento, destinada a fins de utilidade pública ou de beneficência, mediante dotação especial de bens livres”. grupo - “Pequena associação ou reunião de pessoas ligadas para um fim comum.”

248

instituto - “Organização de alto nível cultural dedicada ao estudo ou a pesquisas de caráter especializado” movimento - “Série de atividades organizadas por pessoas que trabalham em conjunto para alcançar certo fim.” núcleo - “Ponto central em torno do qual se agrupam ou donde se derivam pessoas ou coisas.” rede - “O conjunto de meios de comunicação ou de informação (...) que, pela sua estrutura, se assemelham a uma rede. (...) O conjunto de estabelecimentos, agências ou mesmo de indivíduos pertencentes a organização que se destina a prestar determinado serviço.” serviço - “Econ. Produto da atividade humana que, sem assumir a forma de um bem material, satisfaz uma necessidade.” (...) serviço de informações. Obtenção e prestação de informação, especialmente de natureza sigilosa; o pessoal ou a entidade dedicados a essa atividade. (...) serviço social. Serviço público ou privado de previdência ou assistência, destinado a proporcionar melhoria de condições sociais a seus beneficiários.” sociedade - “Agrupamento de seres que vivem em estado gregário. (...) Grupo de indivíduos que vivem por vontade própria sob normas comuns; comunidade. (...) Relação entre pessoas; vida em grupo; participação, convivência comunicação. (...) Grupo de pessoas que se submetem a um regulamento a fim de exercer atividade comum ou defender interesses comuns; agremiação, centro, grêmio, associação.” solidariedade - “Laço ou vínculo recíproco de pessoas ou coisas independentes. Adesão ou apoio à causa; (...) Relação de responsabilidade entre pessoas unidas por interesses comuns, de maneira que cada elemento do grupo se sinta na obrigação moral de apoiar outros.”

GRUPO b) PADRÕES DE PRODUÇÃO, ORGANIZAÇÃO E DIFUSÃO DE INFORMAÇÃO análise - “Exame de cada parte de um todo, tendo em vista conhecer sua natureza, suas proporções, suas funções, suas relações etc. (...) Estudo pormenorizado; exame, crítica.” articulação - “Ato ou efeito de articular(-se)” – “Juntar formando cadeias; ligar, unir, juntar. (...) Estabelecer contatos entre duas ou mais pessoas para a realização de...” assessoria - “Escritório, ou instituição, especializado na coleta e análise de dados técnicos, estatísticos ou científicos sobre uma matéria.” avaliação - “Ato ou efeito de avaliar(-se).” – “Fazer idéia de; apreciar, estimar (...) Fazer a apreciação; ajuizar; avaliar de causas, de merecimentos.” comunicação - “Ato ou efeito de emitir, transmitir e receber mensagens por meio de métodos ou processos convencionados, quer através da linguagem falada ou escrita, que der outros sinais, signos ou símbolos, quer de aparelhamento técnico especializado, sonoro e/ou visual. (...) A capacidade de trocar ou discutir idéias, de dialogar, de conversar, com vista ao bom entendimento entre as pessoas.” consultoria - “Cargo ou função de consultor” – “Aquele que dá pareceres acerca de assuntos da sua especialidade.” coordenação - “Ato ou efeito de coordenar.” – “Dispor segundo certa ordem e método; organizar; arranjar; ligar .” cultura - “O desenvolvimento de um grupo social, uma nação etc, que é fruto do esforço coletivo pelo aprimoramento desses valores (...) Atividade e desenvolvimento intelectuais; saber, ilustração, instrução. divulgação - “Ação de divulgar” – “Tornar público ou notório; publicar, propagar, difundir.”

249

documentação - “Conjunto de conhecimentos e técnicas que têm por fim a pesquisa, reunião, descrição, produção e utilização de documentos de qualquer natureza, abrangendo, assim, a bibliologia, a museologia, a arquivologia, a iconografia, a discografia, a filmografia e as coleções de história natural (...).” educação - “Processo de desenvolvimento da capacidade física, intelectual e moral da criança e do ser humano em geral, visando à sua melhor integração individual e social (...) Os conhecimentos ou as aptidões resultantes de tal processo (...) O cabedal científico e os métodos empregados na obtenção de tais resultados.” estudos - “Trabalhos que precedem a execução de um projeto (...); exame, análise.” formação - “Maneira por que se constitui uma mentalidade, um caráter, ou um conhecimento profissional.” informação - “Comunicação ou notícia trazida ao conhecimento de uma pessoa ou do público. (...) Conhecimento amplo e bem fundamentado, resultante da análise e combinação de vários informes.” investigação - (...) busca, pesquisa; indagação minuciosa...” memória - “Faculdade de reter as idéias, impressões e conhecimentos adquiridos anteriormente. (...) Memória nacional. Pesquisa que envolve fatos históricos, sociais e artísticos, e a cultura material correspondente, e visa revitalizar de modo permanente o passado e o presente do país.” orientação - “Educ. Fase do ciclo docente em que o professor acompanha, utilizando técnicas, recursos e procedimentos adequados, a marcha do aprendizado dos seus alunos.” pesquisa - “Indagação ou busca minuciosa para averiguação da realidade; investigação; inquirição. Investigação estudo, minudentes e sistemáticos, com o fim de descobrir ou estabelecer fatos ou princípios relativos a um campo qualquer do conhecimento.” planejamento - “Trabalho de preparação para qualquer empreendimento, segundo roteiro e métodos determinados (...). Elaboração, por etapas, com bases técnicas (especialmente no campo sócio-econômico), de planos e programas com objetivos definidos; planificação.” programa - “Exposição sumária das intenções ou projetos dum indivíduo, dum partido político, duma organização etc. Plano, intento, projeto.” projeto - “Idéia que se forma de executar ou realizar algo, no futuro; (...) Empreendimento a ser realizado dentro de determinado esquema.” _____________________ Definições extraídas de: Novo Dicionário Aurélio da Lingua Portuguêsa, 2ª ed. rev.ampl., 18ª impr. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1986. Dicionário Contemporâneo da Língua Portuguêsa de Caldas Aulete. 2ª ed. bras., 5 vol. Rio de Janeiro, Delta, 5ª ed., 1964.

250

Anexo 3

Instituições da sociedade civil usuárias ativas do AlterNex * número de dias desde a última conexão nome da instituição Ação. Educativa, Assessoria, Pesquisa, Informação Ag. de Notícias dos Direitos da Infância Agentes Inovadores do Bem-Estar Social Assessoria e Planejamento p/o Desenvolvimento Assessoria e Serviços a Projetos de Tecnologias Alternativas Assoc. Ambientalista Internacional/ AgirAzul Assoc. Bras. de Engenharia Sanitária e Ambiental Assoc. Bras. de ONGs Assoc. Bras. de Video Popular Assoc. Bras. Interdisciplinar de Aids Assoc. de Agricultura Orgânica Assoc. de Apoio a Comunidades e Núcleos de Educação Popular

login acaoeducativ andi ashokabr asplande aspta agiraguiar abesnacsupex abong abvp abia aao acende freitasacend Assoc. de Levantamento Florestal do Amazonas pdbff Assoc. de Urbanização Popular arruar Assoc. Democrática Feminina Gaúcha/ Friends of Earth - Brasil foebr Assoc. Gaucha de Proteção ao Ambiente Natural agapan Assoc. Mico-Leão-Dourado micoleao Assoc. Mineira de Defesa do Ambiente amdamg Assoc. Pernambucana de Defesa da Natureza aspan Assoc. Recife-Oxfam oxbrazil Center for Justice and International Law cejilbrasil Cidadania, Estudos, Pesquisa, Informação, Ação cepia Coletivo Feminista de Sexualidade e Saúde cfssaude Comis. Evangélica Latino Americana de Educação celadec Comis. Fulbright Worldwide fulbright Comissão de Cidadania e Reprodução ccr Comissão Pastoral da Terra cptnac cptrs cptmg cptartoc Cons. Indigenista Missionário cimi Regionais: Sul cimisul Norte 1 ciminorte Cons. Nacional de Seringueiros cns Conservation International cibrasil Cooperação e Apoio a Projetos de Inspiração Alternativa capina Coordenadoria Ecumência de Serviço cese Cto. Bras. de Referência e Apoio Cultural cebracbsb Cto. de Assessoria e Estudos Urbanos cidade Cto. de Assessoria MultiProfissional camprs Cto. de Atividades Culturais, Econômicas e Sociais caces Cto. de Criação da Imagem Popular cecip Cto. de Cultura Prof. Luiz Freire clf Cto. de Dados p/ Conservação da Biodiversidade/ Fundação Biodiversitas cdcb Cto. de Desenvolv. e Apoio a Programas de Saúde beckercedaps Cto. de Educação Popular do Inst. Sedes Sapientiae sedes Cto. de Estudos da Cultura Contemporânea cedec Cto. de Estudos das Relações do Trabalho e Desigualdades ceert Cto. de Estudos de Saneamento Ambiental aguaevida Cto. de Estudos e Comunicação em Sexualidade e Reprodução Humana ecos Cto. de Estudos e Debates Maria Sabina mariasabina Cto. de Estudos e Pesquisas Aplicadas em Recursos Naturais da Ilha do ceparnic Cardoso Cto. de Estudos Interdisciplinares em Agricultura e Sociedade lagraria nome da instituição Cto. de Imprensa, Assessoria e Rádio Cto. de Investigacion y Promocion del Campesino

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* 0 0

251

Cto. de Pesquisa Indígena/ NCI - Núcleo de Cultura Indígena Cto. de Troca de Informações sobre Empresas Multinacionais Cto. de Vida Independente do Rio de Janeiro Cto. di Volontariato Internazionale Cto. Dom Helder Câmara de Estudos e Ação Social Cto. Ecumênico de Documentação e Informação Cto. Ecumênico de Serviços à Evangelização e Educação Popular Cto. Ecumênico Diego de Medellin Cto. Feminista de Estudos e Assessoria Cto. Internazionale Crocevia Cto. Paraguayo de Cooperativistas Cto. Regional de Desenvolvimento Infantil/ CNBB -Pastoral da Criança Deptº Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos

Deptº Intersindical de Estudos Rurais Earth Action Alerts Network - Oficina Regional Ecologia e Ação Ecopaz Fed. de Órgãos de Assistência Social e Educacional Fed. Municipal das Assoc. de Bairros de Duque de Caxias Fórum das ONGs de Rondônia Fund. Botânica Margaret Mee Fund. Bras. para o Desenvolvimento Sustentável Fund. de Apoio à Vida nos Trópicos Fund. do Rio Parnaíba Fund. Dom Avelar Brandão Fund. Esperança Fund. Grupo Esquel Brasil Fund. Pro-vita Fund. SOS Mata Atlântica Fund. Terra Fund. Vitoria Amazônica Gr. Ambientalista da Bahia Gr. de Apoio e Prevenção à Aids de Minas Gerais/ da Bahia/ do Ceará

Gr. de Cinéfilos e Produtores Culturais Luzes da Cidade Gr. de Estudos e Ação em Aleitamento Materno Gr. de Pesquisa e Extensão em Sistemas Agroflorestais do Acre Gr. de Saúde da Mulher Gr. de Trab. Novas Propostas sobre questões Agroecológicas da Amazônia Gr. Green Peace - Rio Gr. Nativa de Proteção, Pesquisa e Informação Ambiental Gr. PelaVida Niterói Gr. Transas do Corpo/ Ações Educativas em Saúde e Sexualidade Inst. Baía da Guanabara Inst. Bras. de Análises Sociais e Econômicas nome da instituição Inst. Centro de Vida Inst. Comunicación y Desarrollo Azucar Inst. de Ação Cultural

nci tiebr cvirj cevi cendhec cedi koinos cesep medellin cfemea crocevia cpcpy crdi dieesesp dieesepr dieesers dieesesc diessedf dieeserj dieeseseebrj dieeseaju dieeseba dieesecnbcut dieesemg dieesefntta deser earthaction ecoabrmspant ecopaz fase faseintern mub forumro mmee fbds ecotropica desert pioneira fesperan esquelbr provita provitaaps smata ivanquirino fva gamba gapamg gapabahia gapace luzescidade origemrio pesacre soscorpo gtna gprio candidojr gpvniteroi gtcaess guanabay atila login invida icd idac cflent

CPI TIE-BRASIL CVIRJ CEVI CENDHEC CEDI CESEP FÊMEA CPCPY CRDI DIESSE

DESER ECOA ECOPAZ FASE

FORUMRO

ECOTROPICA FURPA

FVA GAMBA GAPA

PESACRE SOSCORPO GTNA

IBG IBASE

sigla INVIDA ICD IDAC

5 0 0 4 0 6 6 1 1 0 3 0 4 0 0 0 4 0 0 5 0 0 0 7 2 6 3 0 0 0 0 1 0 1 1 0 1 0 1 1 1 4 0 0 0 9 9 10 1 0 0 0 0 0 0 2 14 2 0 0 * 0 8 0 0

252

Inst. de Apoio Jurídico Popular Inst. de Assuntos Culturais Inst. de Desenvolvimento de Ação Comunitária Inst. de Ecologia e Desenvolvimento Inst. de Ecovivência – Estudos, Educação e Tecnologia Ambiental Inst. de Estudos Ambientais Inst. de Estudos da Religião/ Núcleo de Pesquisa Inst. de Estudos, Formação e Assessoria em Políticas Sociais Inst. de Formação e Assessoria Sindical Sta. Rosa da Paz Inst. de Pesqs. e Projetos Sociais Tecnológicos Inst. de Políticas Alternativas Cone Sul Inst. de Pre-Historia, Antropologia e Ecologia Inst. de Projetos e Pesquisas Ecológicas Inst. de Tecnologia Intuitiva e Bio-Arquitetura Inst. de Tecnologia para o Cidadão Inst. Direito e Sociedade Inst. Ecoar para a Cidadania Inst. Latino Americano de Criatividade e Estrategia Inst. Latino Americano de Desenvolvimento Econômico e Social Inst. Nacional de Educação a Distância Inst. Nacional de Estudos Sociais e Econômicos Inst. p/ Estudos Sócio-ambientais dos Sul da Bahia Inst. p/ o Desenvolvimento, Meio Ambiente e Paz Inst. Regional da Pequena Agropecuária Apropriada Inst. Sociedade e Natureza Inst. Socioambiental Inst. Sul Mineiro de Estudos e Conservação da Natureza Inst. Viva Brasil de Estudos Ambientais e Recursos Naturais Intern. Development Research Center InterPress Service Investigaciones Sociales ISIS International Japan Brasil Network MacArthur Foundation Missão Projeto Amazonas Mov. Botucatuense Pro-vida Mov. dos Trabalhadores Rurais Sem Terra Mov. Nac. dos Meninos e Meninas de Rua Núcleo de Ecojornalistas do R.G. do Sul Programa Educativo Dívida Externa Boletim dos Cristãos das Classes Médias/ Centro Alceu Amoroso Lima p/ a Liberdade Rede de Informação Um Outro Olhar Rede em Defesa da Espécie Humana Rede Verde de Informações Ambientais Save the Children Fund - Brasil Secretaria de Entidades Ambientalistas do Nordeste Secretaria Nac. da Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida Sempreviva Organização Feminista Serv. Alemão de Cooperação Técnica e Social Serv. de Educação e Organização Popular nome da instituição Serv. de Evangelização p/ a América Latina Serv. de Notícias da Mulher Serv. e Estudos de Realização Empresarial Social Serv. Espiritano de Justiça e Paz Sobreviventes de Incesto Anônimo Soc. Paraense de Defesa dos Direitos Humanos

ajup icabraz idaco ied ieco amalia maternatura iser npe polis ifas ipso pacs iphae ipe tiba itc ides ecoar ilace ildes ined inesc kalger tonhao irpaa ispn socioamb sgcsocioamb ism vivabrasil idrcmon ipsrio base isis yuta bertrand paz mbpv semterra mnmmr mnmmrsp nejrs rvillar pedex bolrede outroolhar redeh redeverde scfbra xblu acfv sof losactesrj tof seop login sepal layoli sere sejup sia sddhbelem

AJUP IAC IDACO IED IECO MATER-NATURA ISER POLIS IFAS PACS IPHAE IPE TIBA ITC IDES ECOAR ILACE ILDES INED INESC VITAECIVILO IRPAA ISPN

ISM VIVABRASIL IDRC IPS BASE-IS ISIS

MBPV SEMTERRA MNMMR NEJRS PEDEX

REDEH REDE VERDE SEAN

SOF SACTES SEOP

sigla SEPAL SERE SEJUP SIA SDDH

1 12 0 8 6 0 8 0 0 0 6 1 0 7 0 5 0 5 0 2 0 1 0 0 1 6 12 0 3 1 0 0 0 5 0 8 7 0 14 0 13 13 2 0 1 6 1 0 1 15 6 2 0 11 10 0 * 0 5 0 1 1 4

253

Sociedade de Pesquisa para Melhoria do Trem Sociedade Viva Cazuza Treinamento para Assistência ao Desenvolvimento

spmtjbs vivacazuza ubvbra

UBV

0 0 0

254

Anexo 4

QUESTIONÁRIO DE PESQUISA SOBRE REDES SOCIAIS Caro usuário do AlterNex: O objetivo do questionário a seguir é identificar redes de comunicação formal e informal entre especialistas que assessoram ou trabalham para ONGs, movimentos sociais e movimentos populares como profissionais remunerados ou voluntários. As respostas serão utilizadas na pesquisa-tese de doutorado que estou realizando e não terão qualquer uso comercial. Caso aceite participar, você não precisará de mais do que 15 minutos para responder as 25 questões. Se desejar, poderei enviar posteriormente um quadro-resumo da análise quantitativa dos resultados, garantindo o sigilo nominal dos participantes. Se não puder ou não quiser participar, solicito que apenas assinale suas razões no final do questionário e reenvie esta mensagem. Se preferir, imprima o questionário e o envie por FAX para o número (021) 000-0000, até o próximo dia 30 de OUTUBRO. Antecipadamente agradeço a sua colaboração e me coloco a disposição para qualquer esclarecimento. ____________________________ Sonia Aguiar - [email protected]. Jornalista, professora de jornalismo da Universidade Federal Fluminense, doutoranda em Ciência da Informação pela Escola de Comunicação da UFRJ em convênio com o Ibict - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia **************************************************************************** A. PERFIL DA INSTITUIÇÃO A1. Nome e sigla: ____________________________________________________ A2. Ano de fundação: 19__ A3. Dirigentes atuais: a) nome: _______________________________________ formação / especialização: _______________________ b) nome: _______________________________________ formação / especialização: _______________________ A4. Quantos profissionais de nível superior completo (incluindo os dirigentes) trabalham atualmente para a instituição? ( ) A5. Desses, quantos possuem pós-graduação? ( ) mestrado incompleto ( ) mestrado completo ( ) doutorado incompleto ( ) doutorado completo A6. Cite os três temas mais importantes para o trabalho da instituição (por exemplo: meio ambiente, educação, crianças etc): ________________________________________________________ A7. Cite os três principais tipos de atividades desenvolvidas pela instituição (por ex: pesquisa, assessoria, comunicação etc): ________________________________________________________ A8. Cite os três tipos mais importantes de beneficiários dessas atividades: (por ex: comunidades, sindicatos, crianças etc) ________________________________________________________ A9. Assinale as fontes de financiamento (ou NÃO) da instituição:

255

governo brasileiro governos estrangeiros governos. estaduais prefeituras empresas brasileiras empresas estrangeiras fundacões brasileiras fundacões estrangeiras organizacões religiosas ONGs da cooper. intern. organ. multilaterais

NÃO ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )

SIM ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )

( ) OUTRAS/ especificar: ____________________________________ A10. Com que tipo de instituições mantém relações de parceira para projetos? NAO SIM universidades ( ) ( ) igrejas/ pastorais ( ) ( ) prefeituras ( ) ( ) associac. de moradores ( ) ( ) empresas privadas ( ) ( ) partidos politicos ( ) ( ) empresas estatais ( ) ( ) ONGs nacionais ( ) ( ) ONGs estrangeiras ( ) ( ) sindicatos ( ) ( ) ( ) OUTRAS/ especificar: ___________________________________ A11. Qualifique as atividades de produção de conhecimento, informação e comunicação realizadas pela instituição, a partir dos seguintes critérios: (1) atividades-fim da instituição (2) atividades-meio periódicas (3) realiza eventualmente (4) NÃO realiza ( ( ( ( ( ( ( (

) arquivo de textos ) arquivo fotográfico ) videoteca ) pesquisa documental ) pesquisas de opinião ) pesquisas de campo ) levantamentos estatísticos ) análises de conjuntura

( ( ( ( ( ( ( (

) educação popular ) formação de lideranças ) treinamento/ capacitação profissional ) assessoria/ consultoria/ apoio técnico ) comunicação popular ) agência de notícias ) publicações ) evangelização

B. PERFIL DO INFORMANTE B1. Nome completo: _______________________________________ B2. Formação técnica ou universitária: _________________________ B3. Especialização ou pós-graduação: _________________________ B4. Relação institucional: ( ) dirigente ( ) colaborador voluntário ( ) consultor remunerado

( ) funcionário ( ) prestador de serviços ( ) OUTRA/ especifique: __________________

B5. Principais atividades que exerce na instituição: _________________________________________________________

256

B6. Exerce atividade profissional em outra instituição? ( ) NÃO ( ) SIM - qual? __________________________________ B7. Em que tipo de instituição (ões) trabalhou anteriormente? ( ) governo ( ) instituição de ensino público ( ) empresa privada ( ) instituição de ensino privado ( ) empresa estatal ( ) instituição religiosa ( ) partido político ( ) instituição parlamentar ( ) sindicato ( ) outra ONG ( ) OUTRAS/especifique: _______________________________ B8. Cite três profissionais de ONGs e/ou assessores de movimentos sociais que servem de referência para o seu trabalho (de que instituições ?): a) nome: __________________________________________ instituição: ______________________________________ b) nome: __________________________________________ instituição: _______________________________________ c) nome: ___________________________________________ instituição: _______________________________________ B9. Cite três autores que servem de referência para o seu trabalho: a) ______________________________________________ b) ______________________________________________ c) ______________________________________________ B10. Cite três instituições com que realiza projetos em parceria: a) ____________________________________________ b) ____________________________________________ c) ____________________________________________ B11. Cite três instituições onde busca informações de referência: a) _____________________________________________ b) _____________________________________________ c) _____________________________________________

B12. Cite os nomes de conferências do AlterNex e/ou de news groups do WWW que consulta pelo menos uma vez por semana: _________________________________________________________________ B13. Cite os nomes das principais listas de discussão que assina: _________________________________________________________________

B14. Indique os meios que costuma utilizar profissionalmente para obter e para fornecer informacões, qualificando-os da seguinte forma: (1) utiliza muito (2) utiliza pouco (3) não utiliza: conversas por telefone conversas pessoais reuniões c/ até 5 pessoas correio eletrônico conferências eletrônicas comunicações por fax publicações especializadas periódicos de informação geral

( ( ( ( ( ( ( (

) ) ) ) ) ) ) )

257

relatórios oficiais relatórios de circul. interna debates, seminários, cursos etc

( ) ( ) ( )

OUTROS/ especificar: ___________________________ #################################################### FIM NÃO PARTICIPEI DA PESQUISA PORQUE: ( ) So li a mensagem apos o prazo final para envio (30/10/95) ( ) Não quero revelar dados sobre o meu trabalho e/ou instituição ( ) Não tenho interesse em participar desse tipo de pesquisa ( ) OUTRA: __________________________ ----------------------------------------------------------MUITO OBRIGADA PELA COLABORAÇÃO

258

Anexo 5 Organizações e entidades que participaram da pesquisa (por ano de criação) Ano

Sigla

Nome completo

Localização

1961 FASE

Federação dos Órgãos de Assistência Social e Educacional

RJ/ Rio de Janeiro

1970 ISER

Instituto de Estudos da Religião

RJ/ Rio de Janeiro

1971 CLADES

Centro Latinoamericano de Documentación Economica y Social da Chile/ Santiago Cepal - Comision Economica para America Latina

1975 CPT

Comissão Pastoral da Terra

GO/ Goiânia

1980 CISEP

Centro de Investigación Social y Educación Popular

Colômbia/Bogotá

1980 SOS CORPO

Gênero e Cidadania

PE/ Recife

1982 DIEESE-BA

Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-econômicos - BA/ Salvador Regional Bahia

1984 CEVI

Centro de Voluntariato Internazionale

MG/ Turmalina

1984 FTERRA

Fundação Terra

PE/ Arcoverde

1985 IBFAN-Rio

Rede Internacional pelo Direito de Amamentar

RJ/ Rio de Janeiro

1986 CEBRAC

Fundação Centro Brasileiro de Referência e Apoio Cultural

DF/ Brasília

1986 PACS

Instituto Políticas Alternativas para o Cone Sul

RJ/ Rio de Janeiro

1987 CACES

Centro de Atividades Culturais, Econômicas e Sociais

RJ/ Rio de Janeiro

1987 SAPE

Serviços de Apoio à Pesquisa em Educação

RJ/ Rio de Janeiro

1987 GAPA-MG

Grupo de Apoio e Prevenção à Aids do Estado de Minas Gerais

MG/ Belo Horizonte

1987 SOS MATA

Fundação SOS Mata Atlântica

SP/ S.Paulo

1988 CVI-RJ

Centro de Vida Independente do Rio de Janeiro

RJ/ Rio de Janeiro

1988 IDACO

Instituto de Desenvolvimento e Ação Comunitária

RJ/ Rio de Janeiro

1989 AAO

Associação de Agricultura Orgânica

SP/ S.Paulo

1989 CDCB

Centro de Dados para Conservação da Biodiversidade/ Fundação MG/ Belo Horizonte Biodiversitas

1989 CFEMEA

Centro Feminista de Estudos e Assessoria

DF/ Brasília

1989 ESQUEL-BR

Fundação Grupo Esquel do Brasil

DF/ Brasília

1989 INED

Instituto Nacional de Educação a Distância

DF/ Brasília

1989 ItC

Instituto de Tecnologia para o Cidadão

RJ/ Rio de Janeiro

1990 NEJRS

Núcleo de Ecojornalistas do Rio Grande do Sul

RS/ Porto Alegre

1990 PESACRE

Grupo de Pesquisa e Extensão em Sistemas Agroflorestais do Acre

AC/ Rio Branco

1990 VIVACAZUZA

Sociedade Viva Cazuza

RJ/ Rio de Janeiro

1991 GPV-NIT

Grupo Pela Vidda – Niterói

RJ/ Niterói

1992 LUZES CIDADE

DA Luzes da Cidade – Grupo de Cinéfilos e Produtores Culturais

MG/ Juiz de Fora

1992 PANGEA

Associação Ambientalista Internacional/ Agir Azul Boletim Ambientalista RS/ Porto Alegre

1992 SPMT

Sociedade de Pesquisa para a Melhoria do Trem

RJ/ Rio de Janeiro

1993 ASPLANDE

Assessoria e Planejamento para o Desenvolvimento

RJ/ Rio de Janeiro

1993 CAALL

Centro Amoroso Lima para a Liberdade/ Boletim dos Cristãos das RJ/ Petrópolis Classes Médias

1993 JBN

Japan-Brazil Network

RO/ Porto Velho

1994 CRIAR BRASIL Centro de Imprensa, Assessoria e Rádio

RJ/ Rio de Janeiro

1995 ELA-BR

SP/ S.Paulo

Escritório Local de Assessoria da Pão para o Mundo no Brasil

259

Anexo 6

Áreas de especialização/ pós-graduação dos dirigentes e respondentes 1. Administração 2. Administração rural 3. Antropologia 4. Ciência da Informação 5. Ecologia para jornalistas 6. Economia 7. Economia da tecnologia 8. Educação 9. Extensão rural 10. História econômica 11. Literatura 12. Manejo e conservação da vida silvestre 13. Methodologies of Assessment of Environment Impact 14. Metodologia de ensino superior 15. Planejamento 16. Planejamento e administração de desenvolvimento regional 17. Planejamento urbano 18. Política Social 19. Psicanálise 20. Recursos hídricos 21. Relações do trabalho 22. Relações internacionais 23. Saúde Pública 24. Sociologia y Ciencia de la información

260

Anexo 7

Temas privilegiados pelas organizações pesquisadas Cód 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36

Tema 1 agroecologia desenvolvimento direitos humanos relações de gênero educação conservação de fauna e flora meio ambiente direitos da mulher gestão informação

Tema 2 meio ambiente planejamento questão cultural das periferias meio ambiente alfabetização de adultos educação ambiental capacitação técnica mulher e legislação participação popular comunicação

terra comunicação social portadores de deficiência emprego marcos jurídicos apropriados ao desenvolvimento da sociedade civil (sic) desenvolvimento políticas públicas educação educação reforma agrária educação terceiro setor desenvolvimento urbano educação cultura jornalismo organização popular amamentação desenvolvimento políticas públicas desenvolvimento rural comunitário saúde e direitos reprodutivos meio ambiente locomotivas saúde meio ambiente

assalariado rural direitos humanos cidadania renda desertificação educação meio ambiente sexualidade prevenção da Aids pequena produção tecnologia religião meio ambiente saúde educação meio ambiente educação popular marketing de alimentos infantis educação unidades de conservação pesquisa participativa gênero Mata Atlântica trens criança (s) formulação de projetos para entidades de base

Tema 3 educação ambiental cooperativismo universidades pobreza e desenvolvimento formação de educadores planejamento ambiental animação social mulher e política gênero desenvolvimento econômico e social agricultura familiar criança (s) segmentos segregados custo de vida crianças de 0 a 6 anos em situação de risco meio ambiente desenvolvimento sustentável saúde pública crianças considerando o HIV (sic) meio ambiente política violência urbana transporte criança (s) formação cultural da população NR direitos humanos saúde infantil meio ambiente divulgação pequenos produtores desenvolvimento recursos hídricos estações ferroviárias cidadania pesquisas de indústrias extrativistas

261

Anexo 8

Tipos de atividades envolvidas na “rede parcial” Atividade apoio pediátrico apreciação de projetos arquivamento e catalogação de fotos ferroviárias articulação da sociedade civil articulação política assessoria assessoria a organizações populares assessoria a rádios comunitárias assessoria aos pequenos produtores assessoria em trabalhos populares assessoria p/ montagem de polític. internas de Aids em empresas (sic) assessoria para projetos de entidades de base assessoria parlamentar assistência assistência a pessoas vivendo com HIV/Aids assistência técnica democratização da comunicação avaliação de projetos campanhas capacitação capacitação de líderes capacitação técnica das ONGs comunicação consultoria consultoria para agências do governo japonês denúncias ao Ministério Público difusão documentação edição de boletim ecológico educação educação ambiental educação comunitária estudos e pesquisas estudos sobre cinema extensão formação formação de lideranças informação inventários biológicos investigação marketing social mobilização organização de mostras de cinema palestras e seminários parcerias com a pref. p/ melhorias no sistema de saúde pública (sic) pesquisa pesquisa histórica sobre as estradas de ferro pesquisa para empresa japonesa pesquisa-ação pesquisas para futura publicação de livros sobre a história ferroviária prevenção da epidemia do HIV/ Aids

Nº de citações 1 1 1 1 1 14 1 1 1 1 1 1 1 1 3 2 1 1 1 3 1 1 4 2 1 1 2 1 2 1 1 1 1 1 1 5 1 1 1 3 1 1 1 1 1 9 1 1 1 1 2

262

Atividade produção de programas de rádio projetos projetos de pesquisa projetos demonstrativos publicações registro, sistematização e socialização de conhecimentos adquiridos e produzidos (sic) reportagens sobre meio ambiente representação política [?] treinamento NR

Nº de citações 1 1 1 1 1 1 1 1 1 9

263

Anexo 9

Tipos de beneficários dos projetos realizados Beneficiários adolescentes de escolas públicas agricultores assalariados rurais associações bibliotecas comunidade (s) comunidade em geral que se interessa por cinema comunidade ferroviária comunidades acadêmicas comunidades carentes comunidades de periferia comunidades do semiárido comunidades indígenas comunidades organizadas de trabalhadores rurais consumidores cooperativas crianças crianças e adolescentes crianças portadoras do vírus da Aids dioceses empresas entidades dos movimentos sociais familiares [dos portadores de deficiência] famílias governo (s) grupos minoritários como profissionais do sexo e homossexuais (sic) idosos jornalistas lactentes lideranças meio ambiente minorias étnicas moradores dos estados abrangidos pela área da Mata Atlântica (sic) movimentos populares movimentos sociais mulheres mulheres populares museus ONGs ONGs de desenvolvimento urbano organizações de mulheres organizações populares de mulheres órgãos multilaterais parlamentares federais pequenos produtores rurais pesquisadores pessoas que vivem com HIV/Aids portadores de deficiência prefeituras profissionais de educação profissionais de saúde profissionais e serviços da saúde rádios comunitárias rede pública estadual e municipal de ensino de 1º e 2º graus

Nº de citações 1 1 1 2 1 9 1 1 1 2 1 1 1 2 1 1 1 2 2 1 1 1 1 1 3 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 3 1 1 2 2 2 1 1 1 2 1 2 1 1 1 2 1 1 1

264

sindicatos sociedade civil trabalhadores através de empresas e sindicatos trabalhadores rurais universidades

4 1 1 1 1

Anexo 10

Instituições parceiras citadas pelos respondentes Nome 1. Aduerlat (Alemanha) 2. Aliança Francesa de Juiz de Fora 3. ANAI 4. APPRI - Associação dos Produtores Rurais de Ibiuna 5. APR - Animação Pastoral Social do Meio Rural 6. Arruar 7. Associação dos Produtores Orgânicos de Ribeira 8. CAV - Centro de Agricultura Alternativa Vicente Nica 9. Cedac - Centro de Desenv. de Ação Comunitária 10. Cedai - Centro de Estudo e Desenv. na Amér. Latina 11. Cemina- Centro Mulher Informação e Assessoria de Projetos 12. Cempla 13. Cese 14. Cesep 15. CFemea 16. CIDDEEBENI (Trinad, Bolivia) 17. Cimi - Conselho Indigenista Missionário 18. Conservation International 19. Contag - Confederação Nac. dos Trab. na Agricultura 20. CooperAção 21. Cooperativa Agroextrativista de Xapuri 22. Coppe 23. CPT 24. CUT - Central Única dos Trabalhadores 25. CUT-BA 26. Diocese de Araçuaí 27. Ecoa 28. Essor 29. Fase - Feder. dos Órgãos de Assist. Soc. e Educ. 30. FNMA - Fundo Nacional do Meio Ambiente 31. Fund. Pública Municipal de Educação de Niterói 32. Fundação Ford 33. Fundação MacArthur 34. Gapa-BA - Grupo de Apoio e Prevenção da Aids 35. Governo da Bahia/ Secretaria Est. do Trabalho 36. Governo do Paraná/ Secret. Est. do Emprego 37. Governo RJ/ Secretaria Estadual de Saúde 38. GPV-Niterói/ Grupo Pela Vidda 39. GPV-RJ - Grupo Pela Vidda 40. Ibam - Instituto Brasileiro de Admin. Municipal 41. Ibama - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente 42. Ibase - Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas 43. ICV 44. Imagem Sensoriamento Remoto

Nº de citações 01 01 01 01 01 01 01 01 02 01 01 01 01 01 01 01 01 01 01 01 01 01 01 01 01 01 01 01 03 01 01 01 01 01 01 01 01 01 02 01 01 02 01 01

265

45. Inesc - Instituto Nacional de Estudos Sociais e Econômicos 46. Inpe - Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais 47. Instituto Sul Mineiro de Estudo e Preservação da Natureza 48. Instituto Estadual de Florestas - MG 49. Instituto Socioambiental 50. Kindermissionswerk 51. Koinonia 52. Lateinamerika Zentrum 53. MST - Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra 54. Nodo AlterNex/ Ibase 55. PACS - Projetos Alternativos para o Cone Sul 56. Pastoral da Criança 57. PIINFA 58. Pnud - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento 59. Prefeitura de Juiz de Fora/Funalfa - Setor Audio Visual 60. Prefeitura de Curitiba/ Secretaria de Educação 61. Prefeitura de Niterói/ Centro Previdenciário 62. Prefeitura do Rio/ Iplan - Instituto de Planejamento 63. Prefeitura do Rio/ Secretaria Municipal de Saúde 64. Procon - Programa de Proteção ao Consumidor 65. Proter 66. PUC-RJ 67. Rebraf - Rede Brasileira Agroflorestal 68. Rede Nacional Feminista de Saúde e Direitos Reprodutivos 69. Reduc 70. Sere - Serviço e Estudos de Realização Empresarial Social 71. Sindicato dos Trab. Rurais de Turmalina 72. Smith-Stiftung 73. SOS Amazônia 74. Transport 2000 (Montreal-Canadá) 75. UFBA/ Faculdade de Ciências Econômicas 76. UFF - Departamento de Psicologia 77. UFJF - Centro de Estudos Murilo Mendes 78. UFRRJ - Universidade Federal Rural do RJ 79. UNB - Universidade de Brasília 80. Unicef - Fundo das Nações Unidas para a Infância 81. Unifem 82. Universidade da Flórida 83. WWF - Fundo Mundial para a Natureza - Brasil

01 01 01 01 01 01 01 01 01 01 01 01 01 01 01 01 01 01 01 01 01 01 01 01 01 01 01 01 01 01 01 01 01 01 01 03 01 01

266

Anexo 11

Instituições consultadas para intercâmbio de informação Abia - Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids Grupo pela Vida (GPV-RJ e SP) Grupo de Apoio a Portadores de Aids (Gapa-BA e RS) Abong - Associação Brasileira de ONGs ADFG - Amigos da Terra (Foe-br) Ameppe APC - Association for Progressive Communications ASPTA Associação Brasileira de Preservação Ferroviária Associação de Engenheiros Ferroviários BID - Banco Interamericano de Desenvolvimento CAA-NM (Montes Claros-MG) Campo-Vale Cemina - Centro Mulher Informação e Assessoria de Projetos Centro de Documentação do SOS Corpo CFCP - Coordenação de Folclore e Cultura Popular CFemea Congresso Nacional/ Bibliotecas Conjunto Universitário Cândido Mendes Consórcio Rede de Educação a Distância (Pennsylvania State University) CooperAção CPT - Comissão Pastoral da Terra Da Vida Embrapa Fase- Federação dos Órgãos de Assistência Social e Educacional Fepam - Fund. Estadual de Proteção Ambiental (RS) FGV - Fundação Getúlio Vargas Fundação Carlos Chagas Governo da Bahia/ SEI Handicap International Ibama Instituto Brasileiro de Meio Ambiente Ibase - Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas IBFAN nacional e internacional IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística Idac - Instituto de Ação Cultural Inesc - Instituto Nacional de Estudos Sociais e Econômicos Inst.tuto Nac. de Estadistica e Informatica (Chile) Instituo Agronômico Instituto Equatorial de Cultura Contemporânea Instituto Victus IPEA Iplan Rio Iser - Institutp de Estudos da Religião Ministério da Saúde/ Boletins Epidemiológicos Ministério do Trabalho Ministério Público (Chile) Ministerios de Planificación de Amer. Latina Ministérios do Governo Federal Movimento Roessler MST - Movimento Nacional dos Trabalhadores Rurais Sem Terra Naciones Unidas OMS - Organização Mundial da Saúde

267

Open University/ Milton Keynes (Inglaterra) Pangea Pnud - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento Preserfe/ RFFSA PUC-RJ - Instituto de Relações Internacionais Real Patronato de Prevencion y de Atencion a Personas con Minusvalias Rede Nacional de Saúde e Direitos Reprodutivos Redeh - Rede de Defesa da Espécie Humana Reduc Secretaria Estadual do Meio Ambiente de SP The Development GAP UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais Unicamp - Universidade Estadual de Campinas Unicef - Fundo das Nações Unidas para a Infância Universidad Nacional Abierta (Caracas/ Venezuela) Universidade da Flórida USP - Universidade de S. Paulo Fundação Vitae-SP World Institute on Disability

Anexo 12

Autores citados pelos respondentes Alan Wolfe

Gisela Swetlana Ortriwana

Marina Rea

Alceu Amoroso Lima

Guerreiro Ramos

Michael Quinn Patton

Alda Faccio

Heleiete Saffioti

Michel Foucault

Augusto Ruschi

Herbert de Souza (Betinho)

Miguel Casas Armengol

Bernard Lecompte

Hermógenes de Freitas Leite Filho

Paulete Goldemberg

Borje Homberg

Humberto Maturana

Paulo Freire (3)

Carl Roger

Ibsen de Gusmão Câmara

Paulo Nogueira Neto

Caroline Moser

Ivo Pletto

Peter Drucker

Cepal (?)

Jeanine Anderson

Peter Hildebrand

Claus Offe

John Scull

Philip Kotler

Cristina Bruscchini

Jorge Mattoso

Rachel Carson

Desmond Keegan

José de Souza Martins

Reinaldo Gonçalves

Eisenberger (?)

José Eli da Veiga

Richard Parker (2)

Elza Berquó

José Ignacio Lopez Vigil

Robert Chambers

Emmanuel Levinas

José Luís Coraggio

Robert Keshane

Ernst Götsch

Jose Lutzemberger (2)

Roberto Machado

Felicity Savage King

Jurandir Freire Costa

Roland Bunch

Fernando Cardoso

Lacan

Rubens Longhi

Fonseca, GAB (?)

Leonardo Boff (2)

Sally Burch

Francisco Weffort

Luís Fernando Veríssimo

Samuel Murgel Branco

Francisco Whitaker

Marcelo Barros

Sergio Caparelli

Frei Beto

Marcus Arruda

Shiro Miyasaka

Freud

Margareth Rago

Waldemar de Gregori

Fritjol Capra

Marilena Chauí

Wiklas Luhman

* O algarismo entre parêntesis corresponde ao número de vezes que o autor foi citado

268

Anexo 13

Instituições provedoras das conferências pesquisadas

270

271

272

Anexo 14

Frequência dos logins por conferência

273

274

275

276

277

Anexo 15

Assuntos por subtemas de amb.pantanal Subtema desequilíbrio ecológico

Assunto Desertificação na província argentina de Formosa Desmatamento no cerrado e na serra da Bodoquena Floods of tears on the Rhine O perigo ambiental da hidrelétrica de Yacycuta Queimadas no Pantanal

economia local

ecoturismo

Governador propõe corte no orçamento do estado em troca das dívidas da União Governo diz que MT virou o NE do Centro-Oeste Governo investe no porto de Concepcion Mineração no Pantanal Obras incompletas evidenciam desordem na política econômica Porto de Concepcion está pronto para receber a safra de MS Terra boa e farta atrai brasileiros à Bolívia ZPE de Cáceres é debatida em Brasília Dados sobre ecoturismo para um guia de conservação ambiental Governo de MT anuncia prioridade ao turismo

Banco Mundial muda postura ao avaliar projetos de risco ambiental estudos ambientais Deterioração de manguezais em todo o mundo alarma ambientalistas Escassez de água provocará conflitos no próximo século fatos e estatísticas sobre áreas úmidas dos EUA Garimpos irão operar com tecnologia moderna Hidrovia e evento de liminologia Recriação de áreas úmidas Rede da Bacia do Rio da Prata Sensoriamento remoto do Pantanal A conexão bioceânica e a integração regional integração regional Demanda energética do Brasil impulsiona integração Encontro entre autoridades paraguais e do MS em Ponta Porã Ex-diretor da Petrobrás acusa Bolívia de não cumprir acordo de gás com o Brasil Futuras vias de integração sulamericana Luta contra pobreza passa pela integração Paraguai e MS discutem legislação comum Preço de gás coloca em risco projeto de gasoduto Brasil-Bolívia Pres. paraguaio Wamosy propõe incluir Rio de la Plata na integração regional Terremoto causa estragos no terminal marítimo no Chile Mercosul

outras hidrovias

Cooperacion energetica no Mercosur Ecologistas chilenos criticam a não inclusão de temas ambientais nas negociações do Mercosul Encontro dos pres. do Peru, Bolívia e Paraguai s/ Mercosul Mercosul incrementa exportações através do Porto de Caceres Mercosul: o desafio dos transportes O setor marítimo e o Mercosul Paraguai promove PHPP em conferência sobre Mercosul em Londres Viagem de ONGs aos países do Mercosul Hidrovia Araguaia-Tocantins tem verba aprovada Hidrovia do Araguaia tem apoio do governo Hidrovia do Tietê atrai R$ 1,5 bilhão em investimentos (Ibase-Cronotícias) Hidrovia Tietê-Paraná (em inglês) Julio Campos quer viabilizar Hidrovia Teles Pires-Tapajós O problema da navegação total do rio Paraná Resposta a um estudo de expansão da navegação do rio Mississipi, nos EUA

278

Subtema pesca predatória

política ambiental

projeto da HPP

Subtema

Assunto “Preocupa mortandad de peces en Yacyreta” Ambientalistas concluem reunião sobre pesca MS interdita a pesca para comércio Pesca proibida por mais 20 dias em MT Toneladas de peixes capturados com rede Acordo intergovernamental p/ conservar o fluxo migratório de aves aquáticas da África e Eurásia América Latina repudia testes nucleares da França Aprovação de inspeção do Planafloro Bacia do Paraguai vai ser trabalhada pelos dois estados Comitê gestor da Bacia Hidrográfica do Alto Paraguai (BHAP) Críticas às atitudes da presidente do Ibama Debate sobre o projeto de lei de proteção à fauna brasileira Desmatamento no Pantanal Dragagem no Canal de Tamengo (Bolívia) Ecologistas contestam presid. do Ibama Entidades ecológicas int. criticam política de desenvolvimento econômico estrutural da ONU Fazendeiros devem ter Rima para fechar “baías” fluviais Fazendeiros do Pantanal querem substituir pastagem nativa por espécies exóticas Levantamento indica omissão na defesa do patrimônio indígena do MT OAB promove encontro sobre direitos humanos e meio ambiente ONG pede revisão de plano contra inundações em Bangladesh Pássaros migratórios reduzidos em 30% na América Central e Caribe Serra da Bodoquena pode ser desmatada (não é considerada Mata Atlântica) “Ecologia y diversidad del Rio Parana: reflexiones s/ el proyecto Hidrovia, una obra conflictiva” “La Revolucion Portuária Regional” “Menos água no Pantanal” (arquivo binário) “WWF opina que HPP sera desastrosa” 1º Encontro Pró-Porto de Murtinho (articulação pró-HPP) A hidrovia da desinformação A hidrovia e as questões de transporte comercia do Mercosul Acordo sobre a HPP Ambientalistas agradecem o compromisso dos governantes para proteção do Pantanal Ambientalistas consideram positiva a mudança de atitude do CIH Análise crítica da viabilidade e impactos da HPP Análise s/ os interesses em jogo no PHPP Apoios recebidos pela coalização Rios Vivos Armadores reclamam dos acordos de regulamentação da HPP Bióloga condena projeto da Hidrovia Carta ao diretor do Pnud Carta da Chapada dos Guimarães Carta da IRN enviada ao Pnud Carta da Rios Vivos a FHC (em ing) Carta da Rios Vivos ao BID e ao Pnud Carta da Rios Vivos ao Pnud e BID sobre reunião com o presidente do CIH em Brasília Carta de 72 ONGs do MT e MS ao BID sobre os impactos ambientais da HPP Carta de diretor da IRN ao administrador do Pnud Carta dos povos indígenas do Pantanal e do Chaco aos coordenadores da campanha de defesa dos rios Assunto CIH inicia planos para alterações no rio Paraguai (ing) CIH não cumpre promessa de divulgar estudos sobre HPP Conclusões do Seminário Internacional em SP Conclusões do workshop em Brasília Concurso para criação de logomarca p/a Rios Vivos

279

projeto da HPP (cont.)

Conferência Mundial de Educação Ambiental Conferência sobre impactos hidrológicos e ambientais do PHPP no Pantanal Matogrossense Contatos para o programa de estudos BID-Pnud sobre a HPP Coordenação de ONGs amplia Coalizão Rios Vivos incluindo o rio da Prata Crítica ao “lobby da indústria automobilística” contra o PHPP Deputados brasileiros pedem informações oficiais sobre a HPP Dragadores disputam o projeto bilionário da América do Sul Dragagem do Canal Martin Garcia Duas mil milhas de hidrovia para o comércio Ecologistas combatem Hidrovia do Mercosul Ecologistas criticam união dos rios sulamericanos Ecologistas de 8 países se unem contra PHPP Economista ligado às ONGs que acompanham o PHPP mostra estudos condenando a obra Editorial defendendo a HPP Empresa belga investe US$700 milhões em projeto para dragar e aprofundar rio Paraná Empresário defende o início das obras da HPP EN Portada (em defesa da HPP) Encontro entre ONGs e governos sobre HPP Encontro para avaliar o projeto da HPP, realizado em Rosário, Argentina, em 7/9/94 Entrevista c/Jesus Gonzalez, do CIH, sobre as controvérsias do projeto e a inclusão do Rio da Prata Entrevista do presidente uruguaio sobre a HPP Especialistas debatem impacto ambiental da Hidrovia” Fatos recentes envolvendo o PHPP Fundos para HPP dependem de respeito ao ecossistema Governo paraguaio planeja represa no rio Paraguai Hidrovia do rio Paraguai (Ahipar) terá movimento recorde Hidrovia entusiasma Mercosul Hidrovia será acelerada Hidrovia, ecologia e desenvolvimento sustentável HPP é defendida por vice-governador HPP ganha mais espaço na imprensa argentina HPP pode se transformar na espinha dorsal das exportações do Mercosul Informações sobre o PHPP e a área do Pantanal Informações sobre o Uruguai e o Paraguai para um trabalho de escola secundária dos EUA Interesses que envolvem o PHPP Mapa com o traçado da HPP Ministro das Rel. Exteriores considera HPP prioritária Ministro das Rel. Exteriores critica ONGs sobre HPP Mudança de local do seminário em Assunção Muito além do Pantanal (idem sem ruidos) Novas adesões à campanha da HPP ONGs de 5 países condenam a HPP Pedida a conclusão do porto fluvial de Murtinho Perez Esquivel apóio Rios Vivos Pergunta sobre um escritório de engenharia e o nº de pessoas supostamente beneficiadas pela HPP Posição oficial do WWF sobre a HPP Prefeito de Cáceres defende HPP e ataca “pseudo cientistas” Presid. do CIH convida WWF para encontro aberto ao público Presidente paraguaio acusa ONGs de só querer dinheiro Presidentes da região reafirmam compromisso com a HPP Projeto de aproveitamento do rio Paraguai Projeto de construção da barragem no rio Paraguai recebe apoio do governo da Espanha Proposta de ação conjunta contra o relatório da 16ª reunião do CIH Proposta de ação junto aos novos governadores de estado e ao governo FHC

280

Subtema projeto da HPP (cont.)

projetos viários

questão indígena

uso da rede

outros

Assunto Protesto contra a HPP durante visita do presid. brasileiro à Alemanha Questões sobre a HPP discutidas no congresso de Ornitologia Neotropical emAssunção (idem ao top 194 s/ os ruídos) Questões técnicas e políticas da hidrovia Recomendações finais do seminário s/ a HPP em Santa Cruz de la Sierra, Bolívia Relato oficial da Rios Vivos sobre a reunião em B.A. Relatório do BID alerta sobre os impactos da construção da HPP Resposta ao debate do top.194 (críticas ao doc. “Considering Hidrovia”, da IRN) Resposta do administrador do Pnud ao IRN Resposta do WWF ao CIH Resposta do WWF aos comentários da IRN Resultados do workshop sobre a HPP Reunião da Coorden. Int. de ONGs para o PHPP Reunião do CIH com ONGs em Buenos Aires Rio da Prata pode virar lama SBPC debaterá HPP SBPC é contra a HPP Seminário internacional s/ impactos ambientais da HPP Seminário Internacional sobre o PHPP em SP Seminário s/ impactos ambientais da HPP em Assunção Sobre a carta das ONGs ao BID Termos de referência do Pnud para avaliação dos impactos ambientais da HPP Vice governador diz que HPP ainda não tem projeto Visão do CIH sobre o encontros ONGs-governantes Workshop sobre os impactos ambientais e sociais da HPP e Brasília WWF considera PHPP inviável e defende Ecoturismo Expansão da estrada Transpantaneira ameaça Pantanal Governo do MS debate transporte Lavouras marginais prejudicam estradas Ministro dos Transportes defende conclusão da rodoferrovia Ferronorte Ponte rodoferroviária terá R$80mi Via férrea para o Pantanal deve ser desativada A última batalha das etnias indígenas Deputados discutem suicídios entre os índios Funcionário da Funai em MT é assassinado Nº de suicídios entre os guaranis-kaiowá é o maior dos últimos 10 anos Notícias da Semana/ Inesc: 1º Encontro Nac. de Mulheres Indígenas Suicídio de uma criança guarani Cancelamento de assinatura da lista Cobrança aos participantes da conferência Elogios à conferência Lista sobre os participantes da conferência Mensagem de boas vindas Propósito da conferência Questão dirigida ao facilitador da conferência Contato com economista que deu entrevista sobre a HPP Guia sobre o Banco Mundial Mudança de endereço da ADFG/Foe-br Nº de fax e e-mail da Sobrevivência y Alter Vida Organiz. uruguaias se solidarizam com grupos sociais do Acre que lutam contra a extração de madeira para exportação

281

Anexo 16

Assuntos por subtemas da conferência apm.brasil Subtema agricultura no Mercosul

Assunto A adesão do Chile A difícil padronização da qualidade dos alimentos A importação de vinho e os pequenos produtores A iniciativa para as Américas Agenda para integração dos peq. produtores Análise crítica de pesquisadores do Ipardes - Inst. Paranaense de Desenvolv. Social Área agricola movimentará US$15 mi Argentina vive conjuntura delicada Aumentam exportações de pêssego em conserva do RS Avaliação do SGT-8 pelo Desep da CUT Avaliação dos 18 seminários já realizados Barreiras não tarifárias dificultam intercâmbio Bibliografia comentada Brasil e Argentina acertam acordo sobre soja Caderno Temático da RIAD nº 3 Calendário de reuniões Caminhos e descaminhos Centrais sindicais pedem democratização Considerações dos fóruns estaduais do pequeno produtor Continuação do tópico anterior Cronograma de medidas a serem adotadas Declaração das ONGs ambientalistas Divulgação de notícias de Jornais Dumping social: a preocupação da CUT Encontro de dirigentes de org. de pequenos agr. Encontro de pequenos agricultores do Cone Sul Entraves e avanços Fórum p/ integração do setor papel-celulose Fórum Sul ONGs: reunião do grupo de trabalho Impacto do MS nos conflitos rurais brasileiros Importação de farinha de trigo Integração neoliberal Integração ou desintegração da agr. sul-brasileira? Intercâmbio Brasil-Argentina em 1993 Lula defende rediscussão do MS Medidas em andamento Mercosul absorve 32,7% das exportações Mercosul incrementa exportação na HPP notícias de jornais (1ª quinzena de agosto/92) notícias de jornais (1ª quinzena de julho/92) notícias de jornais (fevereiro/93) notícias de jornais (janeiro/93) notícias de jornais (junho/92) notícias do mês de julho O impacto sobre os pequenos produtores: análise do DNTR da CUT O trabalho do Ipardes Opinião coordenador executivo do SGT-8 s/ a situação dos peq. produtores rurais no MS Opinião da Fecotrigo [?] Opinião da Fed. da Agricultura do Estado do PR (Faep) Opinião da Fed. de Agricultura do RS (Farsul)

282

Subtema

agricultura no Mercosul (cont.)

agricultura orgânica

agricultura sustentável

agroindústria

cooperativismo

crédito agrícola

Assunto Opinião da Fed. dos Trab. da Agr. do Estado do PR (Fetaep) Opinião da Fed. dos Trabalhadores Rurais de SC (Fetaesc) Opinião da Fed. dos Trabalhadores Rurais Gauchos (Fetag) Opinião da Org. de Cooperativas do Est. do PR (Ocepar) Opinião da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) Opinião da Secretaria da Agr. do PR (SEAA) Opinião do Dep. de Estudos Econômicos e Políticos da CUT (Desep) sobre o SGT-8 Opinião do Instituto de Planejamento e Economia Agrícola de SC (Cepa) Opinião do representante do governo de SC Opinião do Secretário de Política Agrícola da Contag Otimismo dos produtores de maçã Paraguai fora da reunião Prazos adiados Produtores de arroz do Uruguai denunciam travas às exportações Produtos excluídos da lista de exceções do BR no comércio regional Reconversão do setor vinícola Seminário da CPT sobre pequenos produtores do MS Seminário em Curitiba: desafios para os movimentos sociais Setor sucro-alcooleiro ganha linha de crédito subsidiado SGT inclui representantes da agricultura familiar Tarifa externa do leite Usineiros da Argentina temem o Brasil Workshop: viabilidade da peq. produção rural Documento final da 9ª Conferência Científica Internacional da Ifoam [?] FAO defende usos de métodos agr. naturais Lançamento de vídeo Nova publicação especializada Pesquisa sobre decomposição orgânica Agricultura sustentável (parte 2) Agricultura sustentável e políticas públicas Carta de princípios da Rede T.A. Sul (versão final) Conferência internacional na Alemanha Fórum mineiro de entidades para o desenv. rural Nova técnica p/ aproveitamento dos talos de banana Princípios básicos da RTA/Sul - Rede de Tecnologias Alternativas Seminário Nacional sobre Politicas públicas e A.S. Seminário sobre políticas públicas e agricultura sust. A agroindústria e o pequeno produtor: o caso da Sadia A integração agroindustrial: terceirização no campo? A representação institucional do agribussines Pesquisa Parmalat e Cica Formas de organização: a formação de empresas coletivas Formas de organização:teoria e prática da cooperativa na agricultura Mudanças na CLT podem afetar cooperativas Caderno de consultas: estudo aponta falhas no crédito agr. Contra a vinculação a preços mínimos Crédito para os pequenos agricultores FCO e Procera em Goiás Financiamento da agricultura sofre grande redução Financiamento da safra e falsa equivalência dos produtos Jornada de lutas por crédito de investimento para a peq. produção Medidas para financiamento agrícola Sobre o perdão das dívidas agrícolas

283

Subtema legislação fundiária

meio ambiente e desenvolvimento

patentes

pequena produção

Assunto Emendas agrárias Emendas agrárias na revisão consitucional O campo na revisão constitucional 2º Congresso Nac de Defesa e p/ o desenvolvimento da Amazônia A água: tema do Dia Mundial do Meio Ambiente Agrotóxicos, OMC e Mercosul Articulação multi-institucional As ONGs e a Eco-92, uma avaliação Compromisso do Fórum Global/92 em relação `a biodiversidade Debate em SP sobre a Hidrovia Paraguai-Paraná Fiscalização da Hidrovia Gatt derruba a lei de agrotóxicos Gatt/OMC derruba leis de ambiente e consumidor Lei de agrotóxicos: carta aberta ao presidente da República Lei sobre agrotóxicos derrubada por portaria Projeto de desenvolvimento: subsídios para discussão renuncia a grupo de trabalho sobre a Amazônia Tratado de agricultura sustentável do Fórum Global/92 130 emendas votadas Adesões importantes para o projeto Carta a Ney Suassuna Carta Aberta a FHC Carta aberta do AS-PTA ao Senado CCJ aprova emendas ao projeto CCJ marca data da votação Declaração de Penang: os perigos da engenharia genética Diálogo sobre patenteamento da vida Direito de propriedade e biodiversidade Fase contra patenteamento da vida Gatt e biodiversidade Governo “concede” um pouco Governo já dá patentes a processo de biotecnologia Governo não convence Senadores lei de patentes no Senado Novo parecer no Senado Panorama internacional Patenteamento da vida Patentes: voto próximo no Senado? Projeto discutido no Senado Retrocesso em novo parecer Senado pára para pensar Votação no Senado Votação no Senado adiada novamente 2º Encontro de agricultores familiares A agricultura familiar no estado do RJ A pequena produção no sul do país; subsídios p/ discussão A Souza Cruz e agricultura familiar Agricultores brasileiros fecham fronteira com a Argentina Agroecologia valoriza a pequena produção Capítulo do livro “Agricultura Camponesa e Modernização na AL” Desafios atuais ao desenvolvimento Encontro internacional de lideranças da pequena produção rural Formas de organização: participação da produção familiar na agricultura brasileira Manifesto do Fórum MG a favor do pequeno produtor

284

Subtema pequena produção (cont.)

política agrícola

política econômica

programa APM

questão indígena

reforma agrária

Assunto Os frutos da união Proposta de Plano Diretor de Desenvolvimento Rural local feita pelo Serviço de Tecnologia Alternativa (Serta), de Limoeiro/PE Relações sociais de gênero na agricultura familiar Reunião do Coletivo Nacional da Produção Familiar A bancada ruralista se articula A proposta da Contag Aos ruralistas, tudo ? Cobertor curto e eleitoreiro Comissão de elaboração das bases da P.A. brasileira Contradições do ministro da Agricultura Crise do setor sucro-alcooleiro Debate sobre política agrícola Disputa pelos recursos agrícolas Duas faces do campo brasileiro Encontro com parlamentares para debater agr. fluminense Grito da Amazônia Irrigação e geração de emprego Medidas do governo para a safra 94/95 O Plano FHC e a agricultura Os oportunistas do campo Pacote da miséria Plano FHC e a agricultura Seis meses de governo FHC na agricultura Setor agropecuário liderou economia nos anos 80 UE confia na queda dos subsídios aos cereais vários A avalanche neoliberal Argentina: um país destruído pelo ajuste Causas do colapso neoliberal Curso: democratizando o orçamento Desigualdade e concentração de renda no Brasil Efeitos da crise mexicana Impactos do Gatt na agricultura O déficit fiscal no Plano Real O Gatt e a agricultura O paradoxo que nos leva ao México Protesto nacional contra o Plano Real Quem pagará a conta? Venceu o real, a moeda Declaração final do seminário do APM realizado no México O Programa Agricultura Camponesa e Modernização (APM) Organização de uma Rede APM na América Latina Pesquisa sobre formas de organização no campo Primeiro seminário do Fórum Alternativas p/ a Agricultura Brasileira Seminário: Agric Familiar e Projeto de Modernidade XXX Congresso Brasileiro de Economia e Sociologia Rural (Sober) Assessor para saúde indígena Massacre de índios Yanomami Prefeito patrocina invasão de área no Pará 100 anos/Chico Tome/Quilombo Rio das Rans A luta dos atingidos pela barragem de Itaparica Apelo em favor de posseiros do SE As propostas do MST

285

Subtema reforma agrária (cont.)

segurança alimentar

Assunto Aspectos constitucionais Avaliação do projeto de lei agrária Carta do Seminário “Terra nos anos 90” Carta dos quilombos contemporâneos Cia Vale do Rio Doce possui terras ociosas Cidadania em campo CNRA: democracia na terra, cidadania e combate à fome Concentração estadual - RS Concepções nos anos 90 Cortes do governo prejudicam sem-terra Decisões do seminário sobre assentamentos rurais Denúncia do MST Descaso do governo e do poder judiciário Despejo de 200 famílias no MA Despejo no MT Em defesa do Instituto de Terras Erros afastam esquerda da R.A. Exposição de fotos sobre os Sem terra Fala de Lula no 2º seminário da CNRA Governo anuncia que fará desapropriações Grito da Terra Brasil Lançamento da campanha “Democracia na Terra” Lançamento de livro sobre assentamentos rurais Lançamento dos Cadernos Temáticos Mesa Redonda Conjuntura Agricultura Mesa redonda do CPDA/UFRRJ [Rural] MST promove 2ª Festa da Reforma Agrária no ES MST responde à Folha de S. Paulo: invasão ou ocupação? Novo livro: Produção, emprego e renda O papel da agricultura em um novo modelo de desenvolvimento Ocupação de latifúndio no Mato Grosso do Sul Ocupação de terras em Brasília Panorama atual Pela permanência do presidente do Incra Presidente anuncia desapropriação de terras Pressão p/ incluir recursos para a R.A no orçamento da União Proposta do MST para o Incra Quanto custa fazer a reforma agrária no Brasil? Questão agrária: desenvolvimento ou miséria? RA e Eleições: consenso aparente Resoluções do 3º Congresso do MST Reunião das entidades da CNRA Revista Reforma Agrária Seminário CPT: Terra nos anos 90 Seminário internacional: a problemática dos assentamentos rurais numa perspectiva multidisciplinar (RJ-nov/92) Seminário s/ assentamentos de R.A.: estratégias de desenvolvimento rural? (RJ, mai/92) A inércia do Estado e a fome no nordeste A urgência do combate à fome Assembléia global sobre segurança alimentar Aumentam as desigualdades Norte/Sul Curso internacional de pós-graduação Fome e produção de alimentos: Encontro Regional Leste da APIPSA - Assoc. do

286

Subtema segurança alimentar (cont.)

sindicalismo rural

uso da rede

violência no campo

Assunto Projeto de Intercâmbio de Pesquisa Social em Agricultura Gatt e segurança alimentar Livre comércio & inseguranca alimentar Nos marcos de um novo modelo de desenvolvimento Panoramas e mitos do abastecimento alimentar Pobreza e fome no campo Rumo à cúpula mundial de alimentação Segurança alimentar para quem ? Seminário internacional s/ questões agroalimentares Sistema alimentar e meio ambiente (palestra) 1ª Plenária do DNTR-CUT 2º Congresso do Dep. Nac. dos Trabalhadores Rurais (DNTR) da CUT 2º Congresso do DNTR da CUT 3º Congresso da Fed. dos Trab. Rurais do Estado (Fetae-MG) A proposta do AS-PTA Carta dos Direitos Fundamentais dos Trabalhador Encontro do DETR-CUT-RJ Formas de organização.:constituição do Fórum Nordeste Formas de organização: estrutura sindical no campo Formas de organização: negociação coletiva no meio rural Formas de organização: o dilema das associações e sindicatos rurais Formas de organização: proposta de seminário sobre o tema Negociação coletiva na área irrigada de GO Nota oficial da Contag sobre a revisão constitucional Resolução do DNTR da CUT sobre estrutura sindical Salário maternidade Salário maternidade e aposentadoria para as trabalhadoras rurais Salário maternidade para as trabalhadoras rurais Sobre os sindicatos: clareando o debate Tentativa de transformar o STR em agenciador de mão-de-obra avulsa Texto para discussão sobre a CUT no campo A questão da terra na conferência video.brasil Conferência da FAO: votação de propostas via Internet Objetivo da conferência Reestruturação da conferência A dor que não sai nos jornais Armas contra os sem terras Assassinato de dirigentes do PSTU em s.Carlos/SP Assassinato de mais um agricultor Balanço de 1994 pelo MST Bando invade acampamento no PR Campanha para prisão dos assassinos de Chico Mendes Campanha pela liberdade de lavrador Caso Jósimo: mais dois presos Chacina na Serra da Onça Clima tenso em Xapuri CNRA: manifesto sobre retirada violenta de sem terras em Getulina Comissão rejeita projeto sobre trabalho escravo Conflitos com sem terras no sul do Brasil Convocação de ato público Fórum permanente contra a violência em Alagoas Julgamento de ex-policial no Pará Julgamento de fazendeiro assassino Lançamento do relatório da CPT: Conflitos no campo/94

287

Subtema violência no campo (cont.)

outros

Assunto Lancamentode livro sobre trabalho escravo Lavradora absolvida por unanimidade Lavradores acusados de morte no Maranhão Líder de sem terras assassinado no PR Massacre em Corumbiara/RO Massacre em Corumbiara/RO provoca mobilização Massacre em Corumbiara/RO: ato ecumênico Massacre em Corumbiara/RO: nota da Contag MST Informa: desapropriação violenta no RN Noticias da Terra n. 48 Noticias da Terra n. 49 Noticias da Terra n. 50 Notícias da Terra n. 51 Notícias da Terra n. 52 Pastorais denunciam crescimento de ações violentas Pe. Ricardo recebe novas ameaças anônimas Polícia contra sem terras no PR Prisão de trabalhadores acampados no Noroeste do PR Prisão de trabalhadores em GO Prisão e tortura no Mato Grosso do Sul Sindicalista assassinado em PE 2º simpósio IESA-AL - Investigacion y Extension en Sistemas Agropecuarios de América Latina Campanha pela extradição de Garcia Meza Contato com Luís Fernando Veríssimo Estação Experimental de Videira linhas de ação da CPT Livros que todo militante deve ler Monitorando os vereadores do Rio Notícias da Imprensa: 10 a 21/11 Reflexão da CPT sobre o processo eleitoral Reforma constitucional Resposta da Abong à Rede Globo Rumos da pesquisa social na agricultura Simpósio sobre iatrogenia e erro médico Tortura na Bolívia

288

Anexo 17

Assuntos por subtemas da conferência ax.mulher Subtema aborto

Assunto 300 mil abortos ilegais no Peru A dupla face do aborto em Cuba A questão do aborto na conferência do Cairo Aborto é a base do planejamento familiar no Brasil Aborto é legal, mas não socialmente aceitável na India Aborto ganha amplo apoio na Guiana Aborto provoca 180 mil internações por ano no Brasil Aborto: contribuição p/o debate Abortos clandestinos, dilema de vida ou morte Abortos ilegais matam inúmeras mulheres em Bangladesh Adoção de lei de proteção à infância reacende debate sobre aborto no Chile Arcebispo Tutu admite aborto em casos críticos Brasil faz 1,4 milhão de abortos anuais Brasil tem 1,5 milhão de abortos clandestinos por ano Ceará tem um dos mais altos índices de aborto do mundo Chile e Malta: os únicos países que não admitem qualquer razão para o aborto Clinton e Papa continuam discordando sobre o aborto Colômbia rejeita aborto como método de controle populacional Conferência do Cairo é mais do que aborto Debate sobre o aborto continua a ser tabu nas Filipinas Debate sobre o aborto no centro do debate em Serra Leoa Descriminando o aborto: críticas ao Vaticano Enviado do Vaticano ao Uruguai faz pressão contra o aborto Equador dá apoio firme ao Vaticano contra o aborto Equador rechaça aborto como método de planejamento populacional Espacio Feminista cobra dos presidenciáveis uruguaios posição sobre o aborto: Estatísticas subestimam incidência de abortos na A.Latina Falta de consenso adia decisão sobre o aborto no Cairo Feministas e sindicatos espanhóis criticam nova lei de aborto Governo espanhol busca apoio para despenalizar o aborto Governo italiano faz campanha contra o aborto Governo panamenho apoia o Vaticano na luta contra o aborto Grupos feministas apelam para legalização do aborto no Zimbabwe Guerra de propaganda sobre o aborto na África do Sul Importante obstáculo à ampliação da lei do aborto Lacalle e Menem coordenam ação contra o aborto Legalização do aborto: a visão da irmã Ivone Gebara Lei não garante aborto seguro na França Maioria defende liberalização da lei do aborto em SP Mais de 15 milhões de mulheres fazem aborto anualmente na ex-Uniao Soviética Menem convida Lacalle p/ coordenar ação contra o aborto Menem enfrenta onda de protestos por seu ataque ao aborto Menem, único mandatário que falou contra o aborto Ministro peruano sugere que mulheres dêm filhos para adoação, em vez de abortar Ministro progressista da Espanha quer modificar lei do aborto Muitos problemas decorrentes do aborto não são registrados Mulheres do Zimbábue se arriscam com abortadores de rua Mulheres se mobilizam contra Menem, pelo aborto Mulheres usam métodos de risco para abortar O aborto em debates políticos na Argentina e Uruguai

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Subtema aborto (cont.)

Beijing 95

Assunto O aborto, discussões sobre um tema ausente no Peru ONGs de mulheres planejam ação pró-aborto no Cairo ONGs pedem à ONU garantias de direito ao aborto Países da A. Latina se alinham com o Vaticano contra aborto Paulistanos querem mudar legislação sobre aborto Peru tem a mais alta taxa de abortos provocados da AL e C. Pesquisa Data Folha sobre a proibição do aborto no Brasil Pílula do aborto poderá reduzir mortalidade materna Prática de aborto cresce, mas não é aceita na Colômbia Presidente sérvio veta lei restritiva ao aborto Pressão p/ mudança da lei de restrição ao aborto na Espanha Projeto de lei sobre atendimento a casos de aborto Quem sabe da Irmã Ivone Gebara? Rechaço do governo colombiano ao aborto cria controvérsias Técnicos da ONU discutem aborto Tribunal acaba c/possibilidade de legalizar aborto na Colômbia Unicamp faz aborto para casos de malformação, diz médico Uruguai defende solução sem aborto nem ingerência externa 4ª CMM: antecedentes, temas em discussão e colchetes 4ª CMM: reunião subregional andina 4ªCMM: O despertar das mulheres/ Lilian Celiberti 4ªCMM: Um novo centro de atenção internacional A cor e a raça da pobreza [a propósito da 4ª CMM] A metade do mundo é a metade do poder na 4ª CMM Ação para a saúde das mulheres no mundo América Latina e Caribe rumo à 4ª CMM Ao presidente Fernando Henrique Cardoso Assim é mais fácil lutar Balanço da Subregião do Caribe Balanço Fórum de Mar del Plata China promete liberdade de expressão no Fórum de ONGs Circular da Coordenação Regional da A.L. para a 4ª CMM Começa a contagem regressiva para a 4ª CMM Começa em Viena o encontro preparatório para a 4ª CMM Conclusões da Conferência de Mar del Plata Conferência Mundial: Declaração e Programa de Ação Conferência Nacional é adiada Conferência sobre a Mulher: tudo no caminho Consultas informais para a Plataforma de Ação Contribuição das Organizações de Mulheres De Paris a Pequim, de trem Declaração das mulheres brasileiras - versão final Declaração dos governos na 4ª CMM Delegadas de ONG debatem proposta para Viena Delegados de ONGs debatem propostas para a 4ª CMM Delegados do Or. Médio aprovam plano para a 4ª CMM Delegados falam pelo Islã mas condenam terrorismo Discurso inaugural do Fórum de ONGs da A.L. e Caribe (FOALC) p/ a 4ª CMM Divididas pelo idioma, unidas pelo mesmo fim Documento informativo da Ngonet nº 1: publicidade sexista Documento informativo da Ngonet nº 2: saúde sexual e reprodutiva, antecedentes do debate Documento informativo da Ngonet nº.3: direitos sexuais e reprodutivos, prioridades para a 4ª CMM

290

Subtema Beijing 95 (cont.)

comunicação

Assunto FOALC - balanço da Coordenadora (Lilian Celiberti Virginia Vargas) FOALC - Fórum de ONGs de Mulheres da A.L. e C.: principais eixos da reunião de Mar del Plata Formado comitê de espanholas para a 4ª CMM Fórum de mulheres no Mar del Plata: relatório final Fórum de ONGs Fórum Popular de Mulheres lança jornal no Paraná FPCG: próxima parada, Mar del Plata Grupo canadense critica relatório do governo para a 4ª CMM Histórias e geografias - um primeiro balanço Homens e mulheres têm um papel a desempenhar Igualdade de oportunidades e de direitos para a cidadania Inscrição de ONGs para a 4ª CMM Latinoamericanas querem pegar trem para Pequim Marcos jurídicos e políticas de ajuste estrutural: efeitos sobre as mulheres Mulh. exigem redução da dívida dos países pobres Mulheres da AL e C. buscam acordos mínimos para a 4ªCMM Mulheres debatem proposta da A.L. para a 4ª CMM Mulheres querem ação ONGs africanas não conseguiram propor um Plano de Ação ONGs árabes preparam-se para a 4ª CMM ONGs satisfeitas com resultados da Conf. de Viena Os homens em Beijing: uma crônica Painel sobre saúde e direitos reprodutivos Pedaços de trabalhos de todo o mundo: um tapete mágico Plano de Ação acusado de ignorar problemas étnicos Plano de Ação para Europa e América do Norte Programa de Ação Regional p/ as mulheres da A.L. e Caribe: 1995-2001 Reivindicações do Fórum de ONGs em Huairou Reunião da Região A.L. e C. c/ as Redes Globais Reunião de Viena recebe mais de mil delegadas Secretª da 4ªCMM diz que situação piorou desde Nairobi Seminário do Comitê Brasileiro para a 4ªCMM Tarja preta simboliza campanha contra a violações dos D.H. Trabalho duro, mas bem sucedido Trem para a 4ª CMM TWN visita sede do Fórum de ONGs na China Vínculo entre a CMDS e a 4ª CMM Violência: algumas reflexões sobre as estratégias na A. Latina Viver melhor 1º Encontro Iberoamericano Mulher e comunicação em Cuba Abertura do Fórum Permanente de Comunicação e Gênero (FPCG) p/ a 4ª CMM Agenda Mulher e Políticas Municipais (idem formatado) Canal de TV de Hong Kong tem mulheres como alvo Capacitação de promotoras de comunicação eletrônica Coletânea Mujer/Fempress sobre Desenvolvimento Social Colóquio internacional sobre formação, pesquisa e edição feministas na universidade Comunicação, elemento indispensável p/ a igualdade de gêneros Conferência sobre Comunicação e Diversidade (Sidney) Cotidiano Mujer nº 19 Doblejornada informa Estratégia de Comunicação das ONGs Feminismo alcança as telas de TV na África

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Subtema comunicação (cont.)

condições de gênero

Assunto Imprensa deve repercutir o conjunto de problemas das mulher Jornalistas da A.L se queixam de discriminação Livro revela como mulheres são tratadas nas confissões Livro: Mulheres na época de transformação econômica Luta pela igualdade deve ter apoio na mídia Maior diário da Escandinávia acusado de discriminação Mídia e tradição em desuso na África Mulheres e indígenas excluídos da grande imprensa Mulheres querem mais cultura e menos novelas Novo livro do Cladem: “Vigiadas e castigadas” Novo livro: “Cuba sem caudilhos: um enfoque feminista para o século XXI” Novo livro: De vozes, sonhos e ousadias; mulheres exemplares do Peru Novo livro: Mulher e política, por mérito próprio Novo livro: O mundo transformado; gênero, trabalho e solidariedade na era do livre comércio e do ajuste estrutural Núcleo de Estudos da Mulher do Ibam lança boletim O movimento de mulheres e a comunicação: informação para a democracia Políticas de comunicação e Aids: as mulheres como pretexto Programa de rádio: Tribuna Internacional de Mulheres Publicações do SOS Corpo Publicações Polis, 18 Rede Científica Peruana dissemina informação s/ a 4ª CMM SOS Corpo lança boletim TV-Saúde no Brasil Vídeo sobre parteiras: a magia da sobrevivência “Thelma e Louise” italianas desafiam a cultura mediterrânea 15ª Conferência sobre Ensino, Teoria e Ação da NWSA A incômoda questão da desigualdade, segdº estudo da ONU A nova mulher deve ser mais feminina que feminista A Woman's Place/ O lugar da mulher Agências matrimoniais da Rússia ampliam a busca de maridos no exterior Anglicanos ordenam a primeiras 32 sarcedotes Argentina confirma conferência regional sobre a mulher As mulheres do mundo: homenagem da Ofip Auge econômico não garante igualdade de gêneros no Japão Avaliação de uma década (de descontentamento) Chamada p/ elaboração de artigos e participação em eventos COI analisará “seriamente” pedido de exclusão de países que discriminam mulheres COI rejeita apelo para banir nações que excluem mulheres Colóquio sobre Perspectivas Ecofeministas Conceitos radicais prejudicam luta da mulher Concursos de beleza na cultura filipina Condição de gênero varia sustancialmente no planeta Congresso Internacional de Sexo, Gênero e Transexualidade (crossdressing) Dia Internacional da Mulher: “Quem tem medo do 8 de março?” Dignidade e autonomia para as mulheres Discriminação começa em casa, diz economista Dote demanda rompimento social Escândalo envolvendo monge budista tailandês traz à tona questões de gênero Esforço anti-drogas deve enfocar relações de gênero Espaços de gênero Especialistas discutem sobre gênero, ciência e tecnologia na Costa Rica Estudos sobre mulheres no Novo México

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Subtema condições de gênero (cont.)

Assunto Feminismo e Filosofia: solicitação de artigos Fórum de gênero da Univer. do Zimbabwe discrimina homens Fundamentalismo nos anos 90: efeitos s/ a agenda feminista Ganhando menos, vivendo mais que os homens Governo chinês promove modelo de dona de casa Homosexualidade e maternidade alternativa Indianas: entre as tradições e a dignidade Inglesas se convertem ao islamismo em busca de nova moralidade Interpretações feministas sobre Foucault Lei islâmica precisa se adaptar às necessidades da mulher moderna Livrando-se dos grilhões do véu islâmico Longo caminho para as mulheres no Zimbábue Luta da mulher para manter a identidade no casamento Mais igualdade significa mais trabalho para as mulheres Maridos britânicos querem esposas trabalhando fora e dentro de casa Militantes africanas incorporam homens às suas agendas Muçulmanas enfrentam dilemas cotidianos na França Muitas mulheres israelenses gostariam de ser “rabinas” Mulher enfrenta chovinismo no Zimbabwe Mulher reduzida a reprodução Mulheres dos Emirados Arabes abandonam as tradições lentamente Mulheres promovem luta por ecofeminismo na Espanha Mulheres são tratadas como propriedade em Uganda Mulheres têm mais deveres que direitos na América Central No Dia da Mulher Nova visão do discurso de gênero Nudez feminina é utilizada como forma de protesto em grupo étnico do Quênia O dilema das mulheres argelinas ONU reconhece injustiça contra as mulheres Papa defende em mensagem os direitos das mulheres Paquistão: por trás do véu Perspectivas das mulheres na América Latina Pesquisa mostra que argelinas têm uma visão diferente da do homem em relação ao islamismo Pesquisa sobre a produção relacionada à mulher na universidade brasileira Pesquisa traça o perfil da “mulher bandida” Postura do Papa sobre ordenação de mulheres irrita católicas belgas Pouca proteção para donas de casa Poucas evidências de uma vida melhor p/ meninas e mulheres Prêmio Nobel de Literatura reflete luta das mulheres pela igualdade Pressão das mulheres pela igualdade na sociedade africana Problemas unem as mulheres no seu Dia Internacional Protesto de mulheres católicas na visita do Papa Questões de gênero são priorizadas na Tanzânia Representações do feminino: seminário e ciclo de vídeos Secretª da 4ªCMM recomenda que mulher lute pelos seus direitos sem se comparar ao homem Tradição ainda é um álibi para a opressão das mulheres Tradição é ameaçada pela demanda de liberdade dos jovens Um feminismo desejável Vaticano tenta vetar ação de católicas Vencedora da maratona de NY amplia lista de quenianas bem sucedidas em corridas Visão panorâmica da Teologia Feminista - Palestra no Rio

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Subtema

Assunto

crianças e adolescentes

500 mil menores na prostituição, no Brasil Americas Watch documenta violência contra crianças e adolescentes de rua no Brasil As 180 mil mães adolescentes da Venezuela Bebê saudável mama no peito Centro para crianças de rua é criado na Venezuela Crianças prostitutas acorrem aos turistas no Zimbábue Especialistas discutem Aids pediátrico em SP Estudo revela que milhões de crianças são maltratadas nos EUA EUA tenta frear rumores s/ roubos de crianças na Guatemala Floresce a prostituição de meninas em balneário africano Fome atinge milhares de crianças em Burundi G-15 deve assumir compromissos com proteção à criança Grupo de D.H. recomenda foco sobre filhos de adolescentes Interpol inclui em sua agenda de trabalho a pornografia infantil, o turismo sexual e a venda de menores Japão é acusado de incentivar escravidão sexual de jovens em áreas rurais Mães-meninas, um drama vinculado à pobreza Mao-de-obra infantil: pouco retorno para muitos riscos Meninas carentes são tema de campanha c/ apoio do Unicef Mercado livre na China gera crianças de rua Mulheres africanas enfrentam mutilação genital de crianças e adolescentes Nova lei pune sexo com menores de idade O que fazer para proteger as crianças? OMS privilegia cuidados neonatais Paquistão usa crianças na produção de tapetes Parlamento Europeu combate exploração do trabalho infantil Plano para combater a exploração do sexo entre as crianças Político filipino cobra da Unicef relação entre defesa da criança e igualdade da mulher Proliferam casos de violação infantil e aborto na Nigéria Prostituição infantil duplicou na Colômbia Prostituição infantil em Santos Quem quer “ficar” com as crianças? Unicef anuncia novo plano para salvar crianças na Etiópia

direitos civis

A jurisprudência se feminiza na Europa Oriental Advogada e parlamentar italiana tem projeto para lei anti-rapto Apesar da lei igualitária, persiste a discriminação Assédio sexual atinge 30% das trabalhadoras brasileiras Assédio sexual na América Latina e Caribe Comitê Anti-discriminação deve se mudar para Genebra Crescimento de divórcios preocupa igreja católica do Uruguai Decreto autoriza mulheres a prestar serviço militar no Brasil Direitos das mulheres indígenas Direitos das mulheres no Brasil Direitos iguais ainda não existem no Sudão Diretor da ONU propõe mudança radical nas relações econômicas, políticas e sociais entre mulheres e homens Discriminação ainda é um problema no Zâmbia Discriminação da mulher no Egito Discriminação no trabalho e abuso doméstico na Rússia Emendas restringem direitos constitucionais da mulher no Brasil Espanhol é preso por tráfico de mulheres Estado e Igreja se opõem em relação aos direitos da mulher no Zimbábue

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Subtema direitos civis (cont.)

Assunto Feministas criticam lei sobre igualdade de sexos na Suíça Forçando os homens a honrar o casamento Forum Nórdico sobre mulheres destaca igualdade Governo tenta ampliar direitos femininos na Tunísia Grupo feminista alerta p/ armadilhas de casamentos arranjados entre indianas e australianos Industriais da Costa Rica apóiam sanções p/ assédio sexual Informe governamental denuncia discriminação da mulher Legítima defesa em julgamento: comitê de apoio a M.Rodrigues Lei anti-rapto enfrenta oposição nas Filipinas Lei contra a discriminação no DF causa polêmica Lei contra nulidade matrimonial reabre debate sobre divórcio Lei de proteção à mulher é aprovada no Peru Leis falham na proteção dos direitos reprodutivos Licença maternidade para empregadas domésticas Líder feminista critica sistema judiciário da Turquia Líderes das mulheres no Quênia protestam contra alegações de rapto Machismo e discriminação nas escolas chilenas Maridos asiáticos caçam mulheres que fogem de casa Medo impede mulheres de denunciar assédio sexual Menem é questionado em reunião contra discriminação Ministro considera demagógica lei de maternidade gratuita Mulher é condenada por assédio sexual Mulheres debatem seus direitos Mulheres decidem reverter desigualdades na África Mulheres desafiam as leis muçulmanas Mulheres ganham indenização por danos causados por silicone Mulheres iraquianas fazem progresso em seus direitos Mulheres reclamam legislação sobre amamentação Mulheres sulafricanas exigem prioridade à igualdade Nova lei de rapto preocupa mulheres de Nova York OIM alerta para tráfico de mulheres ONU protesta contra execução de empregada doméstica em Singapura Os direitos das mulheres Parlamentares brasileiros apóiam propostas feministas Parlamento votará sobre igualdade de direitos na Turquia Pensão alimentícia e pleitos conjugais são os maiores problemas das nicaraguenses Perda da virgindade em consultório médico é indenizada Pré-consulta do Grumin sobre D.H. das mulheres indígenas Pressões para a igualdade legal de companheiras na Espanha Procedimentos para denúncias de discriminação Protestos contra buscas da polícia da Guiana Quaitiano é preso em Boston por escravizar empregada Radiografia da discriminação versus igualdade legal Raptos com fins matrimoniais geram controvérsias em Nairóbi Refugiada defende minorias oprimidas de Ruanda Restrições chocam a equipe de monitoração de D.H. da ONU Salário maternidade para as tarbalhadoras rurais Salário maternidade para trabalhadoras rurais Salário-maternidade para trabalhadoras rurais São Paulo terá cartilha sobre igualdade sexual Seminário do Cladem: contribuição das mulheres aos 50 anos da Declaração Universal dos D.H.

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Subtema

Assunto

direitos civis (cont.)

Senado brasileiro proíbe a exigência de atestado negativo de gravidez Senado dos EUA poderá ratificar convenção contra discriminação da mulher Senado elabora novo código civil brasileiro Trabalhadoras rurais apelam por salário maternidade Tráfico de mulheres para prostituição na Europa Uma mulher é raptada a cada seis horas no Quênia Unicef tenta apurar casos de discriminação de meninas e mulheres na ex-Uniao Soviética e Europa Oriental Viúvas do Zimbabwe são obrigadas a casar com parentes do marido

manifestações feministas

Agenda do Dia Internacional da Mulher no Rio de Janeiro Caminhada das Flores: Fala Mulher Dez mil mulheres protestam contra a política de imigração francesa Istambul: mais de 100 mulheres de “cara preta” fazem protesto Jornada de luta do oito de março na Itália Mulheres de desaparecidos políticos em greve de fome no Chile Mulheres de Lesotho fazem protesto p/ garantir seus direitos Mulheres fazem passeata no Rio de Janeiro Mulheres festejam e protestam no seu Dia Internacional Mulheres organizam protesto pacífico em Chipre Protesto no Chipre une 40 mil mulheres numa cadeia humana Rally em rotesto contra o assassino de feminista argelina Três mil participam de “jornadas feministas” na Espanha Uma jornada de denúncia e reivindicação na A. Latina

oportunidades de trabalho

“Sobre mulheres e vampiros” 1º Encontro Latino-Americano de Trabalhadoras Rurais 3ª Conferência Mundial de Mulheres Trabalhadoras (Caracas) 5º Encontro Sobre Mulher Trabalhadora Acesso equitativo a postos superiores pode levar 475 anos Agricultura oferece ingresso estável no mercado de trabalho Alto nível intelectual feminino não impede exclusão Artesanato têxtil: uma alternativa p/ as indígenas da A.L. As novas garis de Pernambuco Aumenta discriminação sobre o trabalho da mulher Banco da Mulher registra taxa de inadimplência menor Betinho lança desafio de emprego digno Canavieiras se prostituem para sobreviver Carvoeiras da Etiópia ganham a vida com trabalho duro Centros de apoio à mulher no Chile facilitam a vida das coletoras de frutas Cresce a participação das mulheres no mercado De mulher para mulher Debate sobre Ecologia do trabalho Deputadas alemães cobram o reconhecimento do trabalho da mulher Desemprego é maior para as mulheres Desigualdade salarial no Chile é maior em cargos superiores Dois terços dos magistrados uruguaios são mulheres Empresa do Lesotho demite mulheres em massa Enfrentando dificuldades p/ conseguir emprego Ex-agricultoras ganham mais consertando redes de pesca Experiência de incentivo a pequenos projetos Facilidade de crédito ajuda mulher rural a encontrar caminho Falta de informação bloqueia o accesso a empréstimos Falta de mulheres gerentes preocupa parlamentar européia Floresce o projeto “faça você mesmo” no Zimbábue Fórum de Dakar mostra mulher de negócios na África

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Subtema oportunidades de trabalho (cont.)

organizações

Assunto Funcionárias da ONU reclamam maior poder de decisão Independência econômica favorece acesso a tecnologias Japão ignora formação das mulheres para o trabalho Mão-de-obra feminina Mercado carioca não absorve mulheres e negros Mercado de trabalho continua discriminando a mulher no Brasil Microempresas melhoram condições de vida na Tanzânia Mulher casada e grávida pode ser demitida na Espanha Mulher recebe 39% menos que o homem Mulher trabalhadora ou mulher vaca? Mulheres “pilotas” se reúnem em Moscou Mulheres ampliam participação no mercado de trabalho em SP Mulheres continuam marginalizadas de cargos gerenciais Mulheres da CUT lançam campanha no RS Mulheres dos UAE já trabalham fora, sob as ordens de homens Mulheres empreendedoras agitam tradicionais cidadelas indianas Mulheres fazem vila em mutirão, em PE Mulheres no desenvolvimento tecnológico internacional Mulheres pobres continuam marginalizadas no mercado de trabalho chileno Mulheres recebem até 30% a menos de salário no Chile do que homens que exercem a mesma função Mulheres trabalham mais tempo que os homens Mulheres, ''sexo forte'' da economia peruana Noruega é modelo de igualdade, exceto nos salários ONU promove princípio do “trabalho igual/ salário igual” Pequenos empréstimos ajudam grandes sonhos a se tornarem realidade Poucas faces femininas entre os assalariados de Burkina Quanto mais capacitadas mais discriminadas salarialmente Relatório da ONU aponta queda do emprego de mão-de-obra feminina Salário-mínimo é pago mais a mulheres e jovens Salários inferiores para mulheres em Portugal Sindicatos da Ásia enfrentam a economia informal Suíças ganham mil dólares menos q/homens na mesma função Trabalhos informais, tábua de salvação para muitas mulheres Um quarto das latinoamericanas está do mercado de trabalho Unesco patrocina treinamento em computador Unicef ajuda projeto de geração de renda para 400 ameríndias na Guiana Vaticano quer salário para as donas de casa Vivendo do roubo de areia na África “As outras vozes do planeta”: Fórum Alternativo de ONGs e movimentos sociais em protesto contra a criação do FMI, BM e Gatt 3º Encontro feminista boliviano A mulher cada vez mais presente em organizações populares Árabes criam rede de apoio feminino para o Oriente Médio Campanha de descrédito do 6º Encontro Feminista Latinoamericano e do Caribe na mídia de El Salvador Contato com entidades de Defesa dos Dir. da Mulh. na Europa Contatos com grupos de mulheres Criação da Femea - Feministas e Meio Ambiente Criação da Rede Feminista de Saúde e Direitos Reprodutivos Dois desafios para as feministas árabes Fórum alternativo das outras vozes do planeta: boas vindas da comissão organizadora Movimento de ONGs na África

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Subtema

Assunto

organizações (cont.)

Mulheres da Tanzânia formam grupo de pressão Mulheres de Lesotho organizam-se p/ defender seus direitos Nota do SOS Corpo sobre morte de ativistas O surgimento do feminismo proletário Observadores da ONU recomendam fusão de duas ONGs ONG africana e grupo internacional premiados pela ONU ONGs de mulheres pedem articulação entre Estado e sociedade ONGs de mulheres vão vigiar a aplicação do texto da ONU aprovado no Cairo ONGs enfatizam sua importância no mundo árabe Organizações suíças buscam caminho para democracia global Proposta de criação de um Conselho Mundial de Mulheres Islâmicas Proposta de criação de uma Rede Mulheres/Igreja Proposta do Sec. Geral da ONU para fusão de duas entidades feministas causa polêmica Proposta polêmica de fusão de entidades é congelada na ONU Rede feminina de comunidades rurais no Sri Lanka Redes feministas no México Treinando uns aos outros para treinar outros no Sri-Lanca

participação política

“A mulher de...” [políticos] “Democracia e D.H., o papel da mulher num mundo interdependenteö: tema de encontro em Portugal A difícil presença no governo em Burundi Amansando o leão parlamentar do Zimbábue Articulação nacional de mulheres pelo impeachment do presidente Collor Bancada feminina cresce no Congresso brasileiro Da guerrilha às eleições parlamentares em Uganda Deputadas e senadoras levam pleito ao governo Desafiando maridos irados, mulheres assumem lideranças Eleições com maior participação feminina no Brasil Escassa participação da mulher em governos locais do Chile Excluídas de órgaos de decisão palestinos Governo de Nairobi se recusa a incluir mulheres no processo decisório Grupo de especialistas quer as mulheres em todas as negociações de paz Jovens reclamam participação em tomada de decisões Mexicanas de classe alta organizam grupo de protesto Militantes da OLP se aliam a israelenses para defender a paz Ministra da Finlândia concorre à presidência do país Ministra de Singapura assume a chefia do Unifem Ministro muda Conselho da Mulher Moçambicanas continuam à margem da vida política e econômica Mulher chefe de polícia vai reformar maior prisão da India Mulher é eleita para Conselho Islâmico na Jordânia Mulheres argentinas de olho no Parlamento Mulheres aumentam a presença política paraense Mulheres aumentam representatividade no PSOE Mulheres buscam mais espaço no Parlamento colombiano Mulheres continuam marginalizadas de órgãos de decisão no Oriente Médio Mulheres defendem maior participação na vida política Mulheres demandam participação política na Suíça Mulheres do Pacífico Sul estabelecem grandes metas para a região Mulheres em busca do poder na África do Sul Mulheres formam primeiro partido feminista da Rússia Mulheres ganham força no Parlamento da África do Sul Mulheres palestinas querem exercer maior papel na política

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Subtema participação política (cont.)

políticas públicas

Assunto Mulheres reclamam mais peso no movimento sindical Mulheres reivindicam maior participação no processo decisório Mulheres são incentivadas a votar no partido de oposição em Honduras Mulheres são maioria dos eleitores no Rio Mulheres somam 11% na Assembléia Legislativa de SP Mulheres vetam irlandês para comissão européia Número recorde de mulheres no novo ministério holandês O papel da mulher no desenvolvimento do Pacífico sul Ocupação de postos chaves na política espanhola ONGs da Birmânia questionam situação da líder da oposição Os portões do poder estão fechados p/ a mulher na Tailândia Partido Trabalhista inglês dá mais chances a mulher Poder político, premissa para a igualdade com os homens Política com toque feminino Política, na India, é “coisa de homem” Primeira Ministra do Paquistão: duvidosa esperança p/ a mulher Progressos sócio-políticos das mulheres brasileiras Quanto mais altoo posto, mais rara a presença Quenianas querem participar do programa de privatização Sri-Lanca poderá ter a sua primeira mulher presidente Suíça tem 40 % de parlamentares mulheres Tempo de falar e de recuperar o destino em Honduras Três mulheres indicadas para compor o governo do Zimbabwe Uma casa dividida: ministra de Zâmbia polemiza com ONGs sobre programa de mulheres União Parlamentar Mundial tem plano para dar maior poder político às mulheres Vitória parcial das mulheres para o Parlamento francês “Escolas do crime” estão agora desacreditadas na Inglaterra 50 nações têm baixos índices de educação para meninas A sociedade está em dívida com a saúde e cidadania das mulheres Agenda da ONU: próximas reuniões temáticas Agenda de reuniões p/ Conferências da ONU (Cairo e Beijing) Agenda Mulher e Políticas Municipais Alto Comissariado de D.H. da ONU prega cooperação global Apenas um em oito dos projetos do Banco Mundial é dirigido às mulheres As conferências da ONU AsDB revê projetos sobre mulheres Banco Mundial promete centrar-se nas necessidades das mulheres Canadenses se preocupam com a CMDS Candidatos à presidência de El Salvador assumem compromisso com a infância e a mulher Chefia do Unifem lança desafios aos governos Chile ativa plano de igualdade de oportunidades p/ a mulher Como educar os formuladores de políticas? Conferência de Estudos sobre a mulher: à margem das políticas culturais Conferência sobre Ética Feminista e Política Social Cúpula do Desenvolvimento: retrocesso anunciado Dados sobre concessão de licença maternidade Democracia deverá enfrentar situação crítica das mulheres Desafios da cidadania para 1995: uma agenda q/ faz gênero Diretor do Unicef acusa nações ricas de serem ômiseráveisö na ajuda aos pobres Discriminação persiste, apesar das recentes reformas no Chile Documento recomenda inclusão de questões femininas na agenda da Cúpula das Américas, em Miami

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Subtema políticas públicas (cont.)

população e planejamento familiar

Assunto Economista italiana acusa chefe da ONU de não priorizar mulheres Educação começa a romper as barreiras da discriminação Encontro abre com apelo a compromisso político EUA anunciam ajuda para meninas e mulheres pobres na AL Falta de fundos pode atrapalhar execução de Plano da Ásia Fórum de ONGs africanas promete suporte ao desenvolvimento Gênero & Epidemiologia: articulação em busca de eqüidade Governo sueco inicia esforço radical para garantir igualdade Governos devem adotar a visão feminina de segurança Integração da mulher ao desenvolvimento na A.L. Líder feminista destaca importância da CMDS Mulher e ambiente, prioridades do Pnud Mulheres americanas lutam pelo fim das políticas racistas Mulheres clamam por igualdade, paz e desenvolvimento na A.L. e Caribe Mulheres como agentes e beneficiárias do desenvolvimento Mulheres denunciam defasagem das políticas públicas na A. L. Mulheres do Terceiro Mundo advertem sobre “lip services” Mulheres estabelecem os pontos chave para a Conferência da ONU sobre Desenvolvimento Social (CMDS/ Copenhague) Mulheres exigem presença na CMDS Mulheres são chave no gerenciamento dos recursos naturais Nova direção do Unifem: menos verbas, mais trabalho Número de meninas fora da escola deve crescer ONGs cobram maior responsabilidade dos governos ONGs criticam Plano de Ação Regional da Ásia-Pacífico ONU elogia Bolívia por ser o primeiro país sulamericano a incorporar políticas de igualdade Países do sulasiáticos adotam plano de ação comum em relação à mulher Participação da mulher em programas de água e saneamento Programa de 5 anos reduz taxas de mortalidade de mães e crianças na China Programas de Educação para a mulher são chave p/ o desenvolvimento Programas de Meio Ambiente precisam de ação das mulheres Relatório do governo colombiano admite dificuldades no tratamento da mulher Seminário internacional de desenvolvimento social na UFRJ Seminário sobre políticas para a mulher na Bolívia Seminário: Gênero e políiticas públicas, a cidade das mulheres Tunisia aclamada como modelo entre nações islâmicas Unicef elogia plano que vincula mulher panamenha ao desenvolvimento Vítimas do vício e da negligência de governos A mulher e as políticas populacionais na A.L.: o caso do Brasil Africanas criticam condução da Conferência do Cairo AID desmente plano de esterilização em massa em Honduras Caribenhas querem reconhecimento de diferentes unidades familiares Casais ainda são conservadores em relação à família China alardeia sucesso no planejamento familiar Conferência do Cairo aprova declaração final com ressalvas Controle populacional: é tudo uma questão de escolha CPI confirma esterilização de mulheres em massa no Brasil Crescimento populacional zero no estado de Virgínia/ EUA Crise diminui a fecundidade das brasileiras Encontro anual da Academia Americana de Planejamento Familiar Natural (AANFP) Envie mensagens a seus delegados à Conferência do Cairo EUA defendem a distribuição de anticoncepcionais para controle populacional

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Subtema população e planejamento Familiar (cont.)

saúde da mulher

Assunto EUA doa 40 milhões ao Fundo das Nações Unidas para População Fecundidade cai mas pobreza aumenta no mundo Fecundidade entre brasileiros está menor FNUAP prioriza papel da mulher no dilema demográfico Fundo da ONU p/ População tem projetos até 1996 Ganharam as mulheres do 3º Mundo no Cairo? Governo brasileiro vai distribuir DIU e diafragma de graça Governos podem ajudar as mulheres no planejamento familiar Grupo de mulheres rejeita política de planejamento familiar do governo indiano India terá mais 200 mil habitantes na virada do século Legislação será uma das principais metas do Ano Internacional da Família (1994) Lei cria planejamento familiar em SP Mulheres denunciam campanhas oficiais de esterilização no México Mulheres fazem encontro preparatório para a Conf. do Cairo O papel da mulher na discussão demográfica ONGs contestam pressão para reduzir a população ONGs de ilhas do Pacífico Sul discutem população ONU defende planejamento familiar para o ano 2000 ONU discute novos conceitos de “família” Planejamento familiar é inexistente no Brasil PRB faz recomendações p/ planejamento familiar em países pobres Reformas econômicas na India prejudicam controle da natalidade Relatório da ONU centra-se no papel da mulher para o controle populacional Renda nacional dependerá de controle da natalidade Saúde, direitos reprodutivos e planejamento familiar Seminário no Rio: diferença entre controle da natalidade e planejamento familiar Senado aprova regulamentação do planejamento familiar no Brasil Serviços de planejamento familiar nos campos de refugiados Taxa de fecundidade cai 33% no estado de SP Tendências das políticas de população nos anos 90 Vozes das mulheres 94: politicas de popul. mundial Aids atinge a Ásia e ameaça mais mulheres que homens Aids avança entre mulheres Aids cresce entre as mulheres Aids é a principal causa da morte de mulheres em SP Aids muda mais a vida sexual dos homens que das mulheres Anemia se espalha pelos países em desenvolvimento AZT dificulta a transmissão do HIV da mãe para o filho Brasil: 5º lugar em mortalidade materna Cadastro informará sobre saúde materno-infantil Campanha de prevenção à Aids dirigida às mulheres Clínica para mulheres pobres é modelo no Haiti Conf. internac. sobre a vulnerabilidade da mulher à Aids em Lusaca Conferência sobre doenças invisíveis Conferência sobre pesquisas em saúde da mulher Conferência sobre psicologia e saúde da mulher Conselho incentiva ação contra silicone Cresce porcentagem de mulheres e crianças c/HIV no Uruguai Dirigentes de saúde priorizam prostitutas no programa de HIV Documentos da Abia sobre mulher, saúde, políticas públicas e Aids Donas de casa apresentam maior vulnerabilidade à Aids Falta de cuidado mata cinco mil gestantes por ano Gravidez mata 5,4 mil mulheres por ano no Brasil HIV contamina mais mulheres em são Paulo

301

Subtema

Assunto

saúde da mulher (cont.)

Má nutrição, um sério problema no Sri-Lanka Maioria das grávidas do Terceiro Mundo sofre de anemia Mais cuidado com a saúde do que remédios Mais da metade das grávidas do mundo têm anemia Mais do que remédios para a saúde Melhorias nos serviços de saúde aumentam expectativa da vida feminina Mortalidade materna pós-parto no Zimbabwe Morte de mulheres pós-parto é 10 a 15 vezes maior na Europa oriental que na ocidental Mulheres caribenhas desconhecem riscos da Aids Mulheres sofrem mais de problemas mentais do q/os homens Mulheres têm mais chances de contrair o HIV Mulheres, as mais expostas ao vírus da Aids OMS alerta para aumento do nº de mulheres fumantes OMS alerta para discriminação da mulher nos postos médicos OMS analisa uso de espermicida p/ proteger mulheres da Aids ONU busca redução das mortes maternas pós-parto Pnud reúne esforços para reduzir mortes maternas Profissionais de saúde que abriram clínicas para mulheres em Bangladesh estão sob ameaça Seminário sobre Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher Talidomida ainda faz vitimas no Brasil Tradições culturais tornam mulheres mais vulneráveis à Aids Uma em cada 100 mulheres já tem o vírus da Aids no Brasil

sexualidade e reprodução

3º Encontro Nacional das Trabalhadoras do Sexo Acrescentando um sabor diferente ao amor jovem Assédio sexual é incluído em convenção coletiva de trabalho no ABC paulista Ativistas prevêm problemas para a saúde reprodutiva Aumenta uso de camisinhas entre as prostitutas cariocas Barriga de aluguel: americana coloca anúncio Brasil não endossará posição da Igreja no Cairo Campanha contra projeto de diversidade do genoma humano Canadenses lutam contra o uso do Norplant Católicas pobres do Cone Sul têm sexo com angústia China proíbe a procriação de deficientes CNBB critica esterelização voluntária de mulheres Dalai Lama aceita uso de anticoncepcionais Direitos sexuais e reprodutivos ganham reconhecimento no Cairo Dom Mauro condena projeto que regulamenta esterilização Educação sexual: arma para combater o aborto em Cuba Encíclica papal confirma repúdio aos métodos artificiais de controle da natalidade Encíclica papal confirmará valores mais tradicionais Encontro discute legalização da prostituição Esterilização de mulheres no Brasil Estudantes abandonam a escola p/ evitar teste de virgindade Exploração sexual, forma de migração na A. Central França terá legislação sobre métodos artificiais de procriação Ginecologista italiano no centro da polêmica sobre métodos artificiais de fecundação Gravidez causou 500 mil mortes em 92, em todo o mundo Grupo de mulheres questiona o direito de o Vaticano impor ao mundo seus dogmas sobre sexualidade e reprodução Grupos caribenhos se unem contra o Vaticano Lei que autoriza a esterilização voluntária é aprovada na Câmara dos deputados (Brasil)

302

Subtema sexualidade e reprodução (cont.)

situação social

Subtema

Assunto Limites ao aborto ameaçam mulheres do hemisfério sul Maioria da população africana conhece mas não usa métodos anticoncepcionais Médicos ingleses incentivam métodos naturais de controle da natalidade Método de contracepção é demonstrado no Cairo Métodos artificiais de contracepção geram questões éticas Movimento de mulheres repudia uso do Norplant no Brasil Mulheres ainda estão alheias aos alertas sobre Aids Mulheres contra teste de virgindade nas escolas da Turquia Mulheres do Zâmbia condenam tradicional “purificação” sexual Mulheres mais instruídas preferem menos filhos Mundo Macho da Medicina encoraja abuso nas Filipinas Novo relatório da ONU mostra falha na educação sexual e serviços de contracepção Novo tratamento para fertilidade (designer babies) causa polêmica O discurso do Vaticano OMS divulga dados sobre a mulher em fase reprodutiva ONU e Papa divergem sobre direitos sexuais da mulher Pressão do Vaticano divide América Latina Prostituição cresce de forma alarmante A.Latina Prostituição, uma forma moderna de escravidão Prostitutas de estradas do terceiro mundo causam polêmica na Itália Prostitutas do Camboja protestam contra fechamento de bordéis Reportagem distorce números sobre prostituição Saude sexual e reprodutiva de quarentena até o Cairo Sinal verde para o contraceptivo mensal Trilhas sonoras de filmes picantes aumentam assédio sexual Uma saída para as profissionais do sexo no Zâmbia Vacina da OMS que reduz a gravidez é condenada 1ªs damas de 15 países avaliam progressos das mulheres rurais 2o. Encontro de Mulheres Negras da Baixada Santista A miséria com cara de mulher A pobreza, cada vez mas feminina Ajuste econômico estrutural é pior que o machismo Alto índice da analfabetismo dificulta progresso das mulheres Analfabetismo é maior entre as mulheres no Equador Analfabetismo, a maior barreira para as mulheres na África Ativistas dizem que situação da mulher no Terceiro Mundo tem piorado Aumenta o nº de mulheres viciadas em drogas no Peru Aumento do nº de mães solteiras traz novos problemas para a Rússia Censo revela que mulheres ganham posições na sociedade brasileira Comissão do G-77 discute situação da mulher palestina Conferência européia reivindica solidariedade para mulheres do Terceiro Mundo Crise afeta mais as mulheres que os homens Crise transforma mulher em chefe de família em SP Delegação do Quáiti se sensibiliza c/ sofrimento de mulheres e crianças em Bagdá Desemprego aumenta número de mulheres alcoólatras Estudo do BID sobre pobreza entre mulheres rurais da América Central Falta de oportunidades joga meninas na prostituição Famílias, violência e sobrevivência na América Central Grupo de paquistanesas enfrentam a extorsão generalizada na localidade de Karachi Impactos das mudanças econômicas estruturais s/ a mulher Indígenas sofrem tripla discriminação

Assunto

303

situação social (cont.)

uso da rede

Subtema

Investimento estrangeiro: más notícias para as mulheres no Chile Maioria invisível em campos de refugiados do Sri Lanka Mais taxas aumentam o nº de ingleses na pobreza Matrimônio e maternidade, fatores de pobreza Miséria atinge mais as mulheres Miséria, tua cara é de mulher Mudança de regime traz dificuldades para as mulheres da Europa Oriental Mulher chefia 20% das casas no Brasil Mulher negra desconhece a história Mulheres brasileiras chefiam 17,3% das famílias paulistas Mulheres da Somália estão no centro da instabilidade do país Mulheres de Bangladesh buscam saída para a pobreza Mulheres excluídas por sua cultura Mulheres farão campanha contra o racismo Mulheres indígenas: excluídas entre as excluídas Mulheres lutam para encontrar e manter habitação segura Mulheres protestam por situação de pobreza em Honduras Mulheres são as mais afetadas pela pobreza em todo o mundo Mulheres se capacitam para livrar-se da pobreza Mulheres sentem a mão pesada da pobreza no Caribe Mulheres, “vítimas invisíveis” dos anos 90 ONG organiza dados estatísticos sobre a mulher árabe ONU: consumo de drogas entre as mulheres aumentou Os efeitos da guerra sobre as croatas Pesquisa traça o perfil da mãe que doa os filhos Pobreza no Panamá fomenta alto índice de esterilizações Pobreza se “feminiza” na Ásia Pressões sociais na África levam mulher a jogar bebês no lixo Questões relativas a mulher perdem espaço para crise social Rápidas mudanças econômicas afetam o papel da mulher na China Recessão e mudanças conduzem à feminização da pobreza Reformas de mercado na China excluem a mulher Reformas econômicas na Nigéria levam mulheres a procurar métodos tradicionais (e mais baratos) de planejam. familiar Reivindicações das mulheres indígenas reunidas em Mar del Plata Reivindicações das mulheres negras reunidas em Mar del Plata Retrato da mulher carioca Seminário no Peru: Mulher negra e D.H. das comunidades afroamericanas Ser negra ou hispânica implica problema dobrado nos EUA Situação das mulheres africanas piorou nos útilmos 10 anos Uma geração marcada pelo sofrimento no Oriente Médio Vida das mulheres rurais e nativas piorou desde a Eco-92 APC estabelece link Internet entre Huairou e o resto do mundo Conferências com informação s/ Beijing Cronologia do Ibase entra em recesso Cronologia Ibase entra em recesso Cronotícias do Ibase entra em recesso Enlace - SOS Corpo: Programa APC/ Mulheres GT Gênero on-line para a 4ª CMM Homens, mulheres e computadores Lista de servidores com informações sobre mulheres Nova conferência Nova conferência sobre Beijing 95: Nova conferência sobre mulheres:

Assunto

304

uso da rede (cont.)

violência física e sexual

Subtema

Nova conferência: Novos gophers sobre a 4ª CMM Novos usuários de Santos: recados para as mulheres Objetivos desta conferência Pré-registro de usuários para a 4ª CMM WWW da Conferência de Beijing WWW.realaudio: Fala de Sonia Correa em Beijing WWW: A Maioria Feminista Online “Doméstica é agredida a punhaladas pelo amásio” 250 mil mulheres ainda apanham dos maridos na Espanha A circuncisão feminina, uma dura tradição na África Aborto em baixa, violência doméstica em alta na Finlândia Abrigo secreto salva mulheres da morte por maridos Abusos contra mulheres no Ira ficam impunes Ação contra violações na ex-Iugoslávia Agressões contra mulheres em Manaus Anistia Internac. denuncia abusos contra mulheres indígenas Anistia Internacional coibe violência contra a mulher Apelo ao fim da circuncisão irrita tradicionalistas islâmicos Assassinato de argelinas por extremistas islâmicos Assassinato de mulheres por companheiros vem aumentando na Costa Rica Assassinatos e escravidão sexual no Japão Ativistas reagem ao fechamento de abrigos para mulheres espancadas em Istambul Aumenta a violência contra a mulher no Panamá BID condena circuncisão feminina no Quênia Brasil tem mais de 160 violações por mês em SP Campanha contra a violência doméstica em Goiânia Campanha contra circuncisão feminina é lançada na Tanzânia Campanha publicitária alerta para violência contra a mulher no Panamá Cedim-RJ organiza campanha contra a violência Cerca de 100 milhões de mulheres são submetidas a mutilação genital, segundo a OMS Cerca de 66% dos casos de estupros no ABCD-SP são incestuosos Circuncisão feminina já não é tabú para discussão Combate à violência doméstica Comissão de haitianas e norte-americanas denuncia crimes sexuais do regime militar Convenção da OEA para erradicar violência contra a mulher Cresce a violência contra a mulher em Manaus Cresce a violência contra a mulher no Rio Cresce em 50% o número de casos de violência em BH Cresce o abuso sexual contra a mulher em SP Cresce o número de incestos no Pará Crimes passionais na China Dados sobre a violência contra a mulher no Brasil Defesa da mulher contra a violência: 1ª amostra de experiências municipais Defesa da mulher rende prêmio a prefeituras brasileiras Delegados apelam para o fim da violência marital Duas mulheres são agredidas a cada hora no Rio Embaixador da Nigéria refuta acusações de mulher ao país Encontro debate violência contra mulher negra Estado japonês admite responsabilidade p/ escravidão sexual Estupros aumentam 228,57% em Ribeirao Preto

Assunto

305

violência física e sexual (cont.)

Subtema

Experiências municipais em defesa da mulher França ajuda vítimas da violência conjugal Governos entram em ação p/ conter violência contra a mulher Governos se omitem na agressão à mulher Grande maioria de agressões no Equador é conjugal Grupo de croatas tenta documentar atrocidades sexuais contra mulheres e crianças Lar, uma zona de risco para as mulheres Lar, uma zona de risco para muitas argentinas Leis sobre condição feminina não contêm violência doméstica na Colômbia Mãe nigeriana usa ameaça de mutilação genital às filhas para fugir de deportação dos EUA Maioria das mulheres casadas do Sri Lanka aceita o abuso sexual como sina Mais de 50% das mulheres canadenses acima de 16 anos já foram atacadas, fisica ou sexualmente Mais mulheres denunciam agressões em El Salvador Mais um caso de estupro e assassinato em praias de Niterói Ministro do Zimbábue estimula mulheres a atacar maridos espancadores Morte de jovem imigrante turca na França reaviva dilema mulçumano Mostra de Experiências Municipais: prazo prorrogado Mulher acusada de matar as duas filhas nos EUA Mulher sofre mais violência Mulheres africanas organizam campanha contra a violência Mulheres agridem maridos no Paraná Mulheres buscam erradicar violência na A. Central Mulheres casadas são surradas na Tunísia em nome do Islã Mulheres da Tanzânia sofrem em silêncio Mulheres demandam reforma de códigos penais na A. Central Mulheres e crianças mortas na Somália por forças de combate Mulheres e juízes se unem contra maus tratos Mulheres fazem ato contra a violência em PE Mulheres maltratadas no Panama exigem proteção legal Mulheres pedem sanções por delitos sexuais de militares Mulheres são vítimas de violência doméstica no México Mulheres unificam estratégias contra violência na A. Central Novas comissões para tratar da violência doméstica O começo do fim para a circuncisão feminina em Gana O horror oculto da violência doméstica O impacto da violência sobre a saúde das mulheres Oitenta milhões de mulheres são vítimas de mutilação genital ONU aprova declaração sobre violência contra a mulher ONU condenará violência contra a mulher Pernambuco lidera violência contra mulher Plano de ação p/ conter violência contra a mulher na Europa Religiosos sudaneses condenam proibição da mutilação genital feminina Seminário sobre violência sexual em SP Solidariedade contra violência islâmica na Alemanha Solidariedade não é suficiente para conter violência contra argelinas Somali revela os horrores da mutilação genital Tráfico de mulheres será investigado pelo Itamarati Uma de cada 5 mulheres são vítimas da violência masculina Violação, crime de guerra sem castigo Violência contra a mulher na América Latina Violência contra a mulher tem características “epidêmicas” na A.L. e C., afirma ativista

Assunto

306

violência física e sexual (cont.)

Violência contra mulher na Paraíba Violência contra mulher também procede do governo argelino Violência doméstica supera a dos grupos armados

outros

Ameaças a líderes sindicais rurais Assassinato de agricultor em SC Boletim Informativo da ONU Campanha pela extradição do ditador Garcia Meza Campanha pela prisão dos assassinos de Chico Mendes Carlota Ramos, um exemplo de luta para as mulheres do Peru Carta de Macedo: injustiçado em nome da lei Cinco mulheres ganham o Prêmio Nobel Alternativo Comissão de observadores da ONU desaponta ativistas na India Comunicado à imprensa sobre a Bósnia Conferência de mulheres latinoamericanas que vivem no RU Crescimento ilimitado: quantos anos restam? Desaparecidos políticos: 136 beneficiados pelo PL Escritora ameaçada promete continuar lutando Escritora feminista ameaçada chega à Suíça Exposição de fotos sobre os Sem Terra Gana conta seus órfaos depois de conflito étnico Grupos de Istambul dão apoio a escritora ameaçada Guerras serão assunto da Conferência da ONU Homenagem às 10 mulheres de 1993 escolhidas pelo CNMB Jovens acreditam no Hamas: Movimento de Resistência Islâmica Mestrado: Psicossociologia de comunidades e ecologia social Mulheres criticam trabalho do Alto Comissariado da ONU para refugiados Mulheres do Grupo Andino prometem manter viva a cultura indígena Mulheres equatorianas questionam Perez de Cuellar Mulheres recorrem à esposa do presidente brasileiro para tentar deter os conflitos armados na A.L. Mulheres usufruem do reflorestamento na Tanzânia Nações Unidas acusada de quebrar promessas Novo livro de V. Shiva, do Item: Monocultura e Biotecnologia Ocupação do Ministério da Fazenda pelos sem terra ONU requisita fundos para ajudar refugiados somalis Os efeitos da guerra civil no Líbano e na Palestina Papa cancela visita à Bósnia por medida de segurança Parlamento A.Latina decide se modernizar Parlamento Latinoamericano: informe da Secret. de Comissões Parlatino discute dívida pública, condição da mulher e mudanças jurídicas Preso outro envolvido na morte da líder camponesa Margarida Rushdie faz campanha por escritora de Bangladesh condenada à morte Secr. geral da ONU preside reunião de “notáveis” Secretária da 4ª CMM recebe prêmio internacional Secretária Geral da 4ª CMM recebe homenagem na ONU Taiwan faz lobby para admissão na ONU UNFPA (agência da ONU) comemora 25 anos Zimbabue: construindo sobre as cinzas da guerra Vítimas de violação rompem o silêncio no Haiti

307

Anexo 18

Assuntos por subtemas da conferência ax.ambiente Subtema agroecologia

Assunto “Os frutos do trabalho integrado” na agropecuária A questão dos agrotóxicos em SC Agroecologia e Amazônia Agrotóxicos, OMC e Mercosul: dúvidas a esclarecer Agrotóxicos: apoio à carta ao presidente repudiando decreto Ajuda para projeto de pesquisa sobre agricultura e recursos hídricos relacionados ao problema da fome Aviação agricola em xeque/SC Banespa cria prêmio agroambiental Boletim bimestral sobre alimentação, agricultura e meio ambiente: News&Views Carta de S.Paulo: resoluções da Conferência Científica Internacional da Ifoam sobre agricultura orgânica Conferência sobre agricultura sustentável/ EUA Crescem as vendas de pesticidas no BR Curso sobre plantas medicinais Ecologia na produção de alimentos Estudos sobre resíduos de pragas em hortaliças Fazendas de caranguejos na Ásia Grupo interamericano de agricultura sustentável Livro sobre Reforma Agrária e Meio Ambiente Palestras sobre Segurança Alimentar e Agroecologia Papel da fixação biológica do nitrogênio: simpósio em Angra dos Reis-RJ Pequenas conchinhas dão lucro Pequenos agricultores Prêmio agroambiental Banespa Primeiro Seminário dos Produtores Amazônicos Projeto Renascer precisa de sementes Seminário de Normas Técnicas e Comercialização de Produtos Orgânicos: participação das ONGs na organização do evento Seminário Nacional sobre Politicas e Agricultura Sustentável Simpósio de Agricultura Orgânica no Instituto Agronômico de Campinas (IAC) Vídeo sobre agricultura orgânica

Amazônia

Ajuda para projeto escolar sobre floresta tropical Amazônia: como superar a tragédia Audiência para discutir projeto de Política Florestal da Amazônia Audiência pública sobre a exploração de caulim na Amazônia Campanha pela Vida na Amazônia: textos informativos Cancelada a audiência sobre Política Florestal Carta de Manaus: encontro de movimentos sociais sobre o futuro da Amazônia Castanheiras da Amazônia ameaçadas Conferência do Faor sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento da Amazônia Oriental, em Belém Cooperação Internacional não salva a Amazônia Encontro estadual do Faor Garimpagem de ouro: evolução e tendências (seminário) Grupo de trabalho europeu da Amazônia Implantação do Centro de Biotecnologia da Amazônia (CBA) Notícias atuais do Sivam Novo projeto para a Amazônia é lesivo ao meio ambiente Os riscos das exigências do G-7 e da CEE para “Conservação da Floresta Amazônica” Pesquisa sobre expansão do garimpo na Amazônia

308

Subtema Amazônia (cont.)

Assunto Políticas Florestais: desafio às instituições internacionais Primeira visita de FHC à Amazônia Relações entre a Europa e a Amazônia: mesa redonda Renúncia ao GTA: Programa Piloto de Florestas Tropicais

animais em perigo

“Matadouro-sumidouro de fauna reabre” [em SC] 1º Encontro sobre Pesquisa e Conservação de Mamíferos Aquáticos do Nordeste/BA (conclusões) Comissão Internacional da Baleia: próxima reunião Decreto anti-bisão no Senado dos EUA Defesa de animais no Conama: criação de câmara técnica Esclarecimentos sobre morte de golfinho na Venezuela Fauna ameaçada em MG: cientistas debatem lista Grupo pede ajuda ao Greenpeace p/ acabar com pesqueiros piratas Ibama libera caça de javalis Ignorância e crendice cegam animal Litoral gaucho vira refúgio de lobos-marinhos Manutenção do veto à caça de baleias em reunião no Japão Migração intercontinental de pássaros Nejrs promove debate sobre pesca e piracema Projeto de lei de defesa dos animais no Senado Projeto para BD em computador sobre insetos raros do Havaí Refúgio da vida selvagem em perigo no Alaska Regulamentação da pesca de espécies transazonais e altamente migratórias em áreas de alto mar Resultados da reunião anual da Comissão Internacional de Baleia, no México Rinocerontes em extinção Situação e conservação de golfinhos de rio em todo o mundo Tartarugas marinhas estão morrendo na costa do Texas

biodiversidade/ patentes

3º encontro do Fórum Global sobre Biodiversidade: chamada para envio de artigos 74 espécies desaparecem p/dia Biodiversidade do fundo oceânico Campanha contra o projeto de Lei de Patentes Campanha pela biodiversidade marinha e costeira Conclusões do Encontro Internacional de Trabalho sobre a Diversidade Ecossocial Conferência sobre biodiversidade e saúde/ EUA Congresso peruano de botânica Consulta a ONGs sobre diretrizes e estratégias (c/ questionário) Contra Patentes da Vida: manifestação em NY Convenções Biodiversidade e mudanças no Clima Curso de avaliação de riscos em centros de biologia na AL Curso sobre biossegurança na Fiocruz Declaração de Penang/Malásia: redefinindo as ciências da vida; perigos da eng. genética Encontro de ONGs sobre biodiversidade Encontro interna. de Diversidade Ecossocial e estratégias de cooperação Especialistas tentam garantir a biossegurança Estratégia Global da Biodiversidade: tradução à venda Estratégias agrodiversidade de pequenos animais Formação do Conselho do Funbio GATT, biodiversidade, patentes Governo cria grupo consultivo Indicação de ONGs para o Funbio Informações GT Biodiversidade Lançamento do livro “Cultivando a diversidade”: edição brasileira de “Growing Diversity”, sobre recursos genéticos e segurança alimentar Palestra s/ Lei de Patentes

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Subtema biodiversidade/ patentes (cont.)

Assunto Patenteamento da soja e de genes humanos: carta aos políticos Patenteamento da vida na União Européia: última chance para impedir Patenteamento da vida: ativistas americanos contra Patenteamento da vida: campanha mundial contra Patenteamento da vida: carta aberta do AS-PTA contra Patenteamento da vida: CCJ do Senado aprova lei Patenteamento da vida: protesto da Fase Patentes no Senado Patentes: 130 Emendas p/ 3a feira Patentes: adesões importantes Patentes: audiência pública com ministros Patentes: Carta Aberta do Fórum pela Liberdade do Conhecimento ao FHC Patentes: FHC pode dar um golpe Patentes: Governo “concede” um pouco Patentes: retrocesso em novo parecer Patentes: Senado pára para pensar Patentes: votação adiada de novo Patentes: votação no Senado Patentes:ambientalistas apelam ao Congresso Patentes:andamento do projeto na CCJ do Senado Pesquisa de materiais para treinamento na área de biodiversidade Pesquisa sobre a contribuição das ONGs p/ a biodiversidade Pesquisa sobre florestas tropicais Planejamento global para recursos genéticos em agricultura e alimentação Plantas transgênicas da Monsanto em teste no Brasil Projeto de lei de patentes: pedido de esclarecimentos sobre o parecer solicitado por um senador às ONGs de Curitiba Projeto de lei sobre patentes: antecipada a votação Projeto de lei sobre patentes: audiência no Senado Projeto de lei sobre patentes: contra votação no Senado Projeto de lei sobre patentes: proposta da SBPC Projeto de lei sobre patentes: resposta de senador à MaterNatura Projeto de lei sobre patentes: votação na CCJ do Senado Pronabio: 1ª reunião do GT Pronabio: proposta do governo Prospecção de petróleo e biodiversidade/Peru Ratificação do GATT; apelo contra a criação da OMC Rede de ecossistemas - BIN21 Reuniões do grupo consultivo Seminário sobre diversidade biológica costeira Sugestões para o Pronabio e o Funbio

biosfera/ ozônio Brometo de metila:grande destruidor da camada de ozônio Greepeace defende a proibição de todas as substâncias destruidoras da camada de ozônio Liberação de CFCs na atmosfera clima América Latina na Conf. de Clima Brasileiros na Conf de Clima em Berlim Conferência de Berlim: protesto contra os EUA Conferência sobre a Convenção de Mudança do Clima (cheio de RUÍDOS) Curso sobre meteorologia e contaminação atmosférica Palestra sobre aquecimento induzido do clima Projeto para formar rede de cientistas ambientais de países em desenvolvimento que estudem as mudanças no clima global desenvolvim. “Down to Earth” (De pés na terra): confer. interregional para ação comum realizada em sustentável Copenhagen A natureza não é uma grande mãe

310

Subtema desenvolvim. sustentável (cont.)

desmatamento

Subtema

Assunto Agenda 21 e os desafios do ISO14000 Agenda 21 em português Agenda 21: saúde, saneamento e assentamentos humanos Agenda-21 Brasil: documento do seminário Agenda-21 no Fórum Global 94 Agenda-21: arranjos institucionais para implementação Agenda-21: diretrizes da Eco-92 avaliadas e adaptadas à realidade brasileira Audiência pública na Camara Deputados sobre o Brasil na conferência mundial sobre População Audiência pública sobre Conferência Internacional de População e Desenvolvimento Carta de Caruaru: 1º Encontro Nordestino Preparatório para a Eco-92 CDS95 - crônica do Fórum paralelo de ONGs Comissão de Desenvolvimento Sustentável: documento informal Copasad - parte 1 Copasad - parte 2 Copasad - parte 3 Copasad - parte 4 Copasad - parte 5 e última Copasad complemento Curso de verão nos EUA: Por um futuro sustentável Debate sobre população e meio ambiente/ EUA Desenvolvimento sustentável na serra do nordeste gaúcho Estratégias para o desenv. sustentável: resultados da pesquisa de informação para o Guia de Ação Global Ex-ministro do M.A. brasileiro eleito para a CDS da ONU Forong: comentários s/ relatório apresentado na Conferência Projetos Estratégicos Alternativos Fórum CASX Inter. sobre Desenvolvimento Sustentável - preparação Fórum de desenvolvimento sustentável: seminário Fórum de ONGs alemãs sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento notas da CDS 3 - debate interno para salvar o que resta das florestas Notas da CDS 4: FHC recebe doc. de ONGs brasileiras sobre Agenda 21 Notas da CDS 5 - FHC e ONGs americanas Notas da CDS 6 - FHC e ONGs americanas ONGs brasileiras presentes na reunião da CDS em NY Oportunidades para pesquisa Preservação e Desenvolvimento em debate na SBPC Seminário internacional desenvolvimento social Seminário sobre conhecimento tradicional nativo Seminário sobre Desenvolvimento Sustentável Seminário sobre Gestão e Financiamento do Desenvolvimento Urbano: Um ano da Eco92 - reflexão Um ano de Eco-92: avaliação do Grupo Ambientalista da Bahia (Gamba) A procura de alguém de Pancas/ES para denunciar desmatamento Ação contra madeireiras: Agressão ao Parque Estadual Jacupiranga/SP Ambientalistas buscam acordo sobre Selo Verde na reunião do Forest Steward Council/ Canadá Apremavi denuncia lobby da madeira no Gaúcha Ecologia As árvores e os governantes Budista ecológico tem que renunciar na Tailândia Campanha de defesa das florestas do PR Carta aberta de ambientalistas Cartas em defesa do mogno amazônico Desmatamento criminoso em São Carlos/SP Assunto

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desmatamento (cont.)

Desmatamento fora de controle na Venezuela Desmatamentos em seringais continuam no Acre Extrativismo em campos rupestres Fogo destrói a mata de área indígena no PA Frustrado comércio ilegal de mogno Governo autoriza roubo de madeira Greenpeace denuncia roubo de mogno Madeireiras “atacam” florestas do Suriname Mercado internacional de madeira: comércio ou pirataria? Movimento em defesa das florestas em áreas de extrativismo no Acre O setor de Papel/celulose e suas verdes intenções ONGs entregam fazendeiro para autoridades estaduais e federais de RO Projeto Rondônia de Reflorestamento Pulp, paper and power: Como uma indústria remodela o seu ambiente social Suiça pede cartas de apoio ao selo obrigatório para toda madeira ou produto de madeira The Dalai Lama on Tree Cutting: carta de refugiados chineses

direito ambiental

“Crimes corporativos”, livro de Russel Mokhiber 1ª Conferência Latinoamericana de Direito Ambiental 1º Congresso venezuelano de direito ambiental Agrotóxicos: carta aberta ao presidente contra a eliminação da obrigatoriedade de renovação de registro Agrotóxicos: lei pode ser derrubada por portaria Aprovada resolução do Conama que regulamenta decreto 750 Código Florestal em perigo: degradação ético-ambiental Diretor da Amigos da Natureza vai depor na CPI do rio Potengi, em Natal Dispositivos de veiculação obrigatória pela mídia Dossiê sobre legislação disponível Garantia das conquistas na Constituição de 88: carta aberta ao Congresso Nacional Juiz manda parar barragem em Roraima Legislação de agrotóxicos no RS é uma farsa Legislação sobre agrotóxicos no Mercosul Mandado de segurança coletivo em favor do capítulo de Meio Ambiente da Constituição Meio Ambiente e Revisão Constitucional: carta aberta ao Congresso Nacional Mineradora processada Morte de tartaruga: formação de jurisprudência Movimento para uma Carta da Terra (Earth Charter) Movimentos sociais de SC entram na Justiça contra mineradoras que poluem rios Nova lei prejudica Galapagos Nova lei sobre sistemas de parques nacionais O financiamento como instrumental de controle ambiental ONGs discutem o que deve virar lei Pelas conquistas ambientalistas: fax ao relator da Constituição Projeto de lei ameaça Ministério Público Projeto EcoJuri da Unicamp Projetos de Meio Ambiente: esforço concentrado na Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e Minorias (CDCMAM) da Câmara dos Deputados Reunião de ONGs da Bahia e Sergipe com a Comissão de Meio Ambiente da Câmara Federal Revisão Const. nova redação para todo o capítulo do Meio Ambiente Revisão Constitucional ameaça conquistas da sociedade civil em prol do meio ambiente e dos direitos do cidadão Sociedade de Sivicultura propõe nova lei florestal Veracruz embargada definitivamente Veracruz paralizada por liminar

direitos humanos Subtema

1ª Conf. Nacional sobre Segurança Alimentar: painel Meio Ambiente, Fome e Miséria Ambientalista ameaçado de morte no PR Assunto

312

direitos humanos (cont.)

Americas Watch revisita trabalho escravo no Brasil Anistia Internacional edita o primeiro manual sobre desaparecidos e assassinados Assassinato de Ambientalista no ES Carta brasileira contra as desigualdades e pelo direito à cidade Carta de Macedo: injustiçado em nome da lei Cartas contra prisão do editor do jornal The Ecologist Comissão de Direitos Humanos: reunião ordinária Contra a pena de morte Contra a pena de morte no Brasil Debate sobre Meio Ambiente e Pobreza Desaparecidos políticos: 136 nomes beneficiados pelo projeto Ecologista ameaçado de morte no Ceará Favelados alimentando-se de restos humanos Governo brasileiro reconhece a existência de trabalho escravo no país Governo da Venezuela persegue ambientalistas Jornalista preso em Xapuri Legalização das terras ocupadas por quilombo do PA Macedo solto contesta pena e torna-se “Prisioneiro da Consciência” pela Anistia Internacional Manual para os grupos de direitos humanos (DH) Meio Ambiente e Pobreza na Am. Latina: projeto de livro Ministério Público cobra da prefeitura de SP responsabilidade sobre os meninos de rua Morte de ecologista costarriquenho Narmada/Índia: crianças mortas! Narmada/Índia: vilarejos em condições subhumanas OAB debate projetos de impacto sobre os direitos humanos e o M.Ambiente do Centro Oeste PL sobre desaparecidos políticos: comissão de familiares Polícia ataca ativistas na Russia Presidente da Associação dos Moradores do Rio Limoeiro do Ajuru (Amorla/PA) denuncia ameaças do poder local Queima indiscriminada ameaça pequenos plantadores de coca da Colômbia Religioso perseguido no Acre por defender seringueiros Sequestro de ambientalista na Índia Sequestro de ativista indiano Solidaridade no Uruguay a grupos sociais do Acre Suriname: conflitos florestais atingem ponto crítico Vigília pela vida no Acre Violência em área extrativista de Rondônia

ecoturismo

Formação de uma Frente Verde para participar da Feira de Turismo Regional Integrado do Vale do Paraíba Guia de projetos turísticos operados por populações nativas Preparação de guia de projetos turísticos operados por populações nativas Turismo, Desenvolvimento e Miséria

educação ambiental

1ª Conferência Mundial sobre Educação Ambiental/ Venezuela Aniversário do Dia da Terra Campanha Limpando o mundo promovida pelo Pnuma Campanha Limpando o Mundo: atividades locais/Ilhabela-SP Campanha Limpando o Mundo: atividades locais/RS Campanha limpando o mundo: Mutirão ecológico Educação ambiental nos EUA: palestra Jornada Internacional de Educação Ambiental Lançamento da campanha Meio Ambiente e Cidadania Novos desenvolvimentos em educação ambiental PL sobre educação ambiental Projeto “Salve as Praias” Projeto sobre educação ambiental Assunto

Subtema

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YouthCan '95: projeto de telecomunicações entre jovens da N.Y. University (apresentação institucional) entidades ecológicas

Subtema

5º Encontro Sulbrasileiro: Informes gerais 5º Encontro Sulbrasileiro: resoluções 6º ENEA - Encontro Nacional de Entidades Ambientalistas: circular 6º ENEA: informe 6º ENEA: proposta do Grupo de Trabalho 6º ENEA: proposta do GT6 para código de conduta ética 6º ENEA: reunião do GT região sul 9 6o.ENEA: GT1 - Comunicação das ONGs 6o.ENEA: GT2 - Condutas e ética 6o.ENEA: GT3 - Conama e FNMA6o.ENEA: GT4 - Cnumad (Eco-92) 6o.ENEA: GT5 - Plataforma mínima ambiental 6o.ENEA: GT6 -Critérios de Londrina 7º Encontro de Ongs Ambientalistas do NE A LDO e as ONGs: aquisição de bens permanentes ADFG: novo endereço Ambientalistas preparam 5º ENEA em Brasília Amigos da Natureza sofre processo por perdas e danos em Natal Amorla precisa de ajuda Aspan: apresentação institucional Aspan: nova direitoria Associação Ituana de Proteção Ambiental (Aipa): apresentação institucional Atualização do mailing da Aipa Bandeira Verde: mudança de endereço Cadastro preliminar de ONGs envolvidas c/ conservação de florestas tropicais e desenvolvimento sustentável Carta aberta de ONGs alemãs ao Presidente FHC CNRBMA: eleicões, um problema Comitê de Acompanhamento das Propostas Revisionais (CAPR): Informativo 1 Composição CENEA - Coordenação Executiva Nac. das Entidades Ambientalistas Conferência Internac. em Criatividade e inovação no movimento de base (grassroots level) Conselhos de Meio Ambiente do PR estão paralisados Contatos com ambientalistas do Chile Criação da Sociedade Brasileira das Bromélias Ecologistas despejam lixo na porta do Ibama Eleição da nova Comissão Meio Ambiente e Minorias da Câmara dos Deputados Encontro Estadual de Entidades Ecológicas/RS Encontro Sul-brasileiro de entidades ambientalistas ENEA / 94: participantes Estágio em ONG ecológica americana que atue no BR FHC na Alemanha:manifestação da sociedade civil FNMA: esclarecimentos sobre eleições e Conama Forong: organização do 11º Encontro Nacional Forong: adiamento do 11º Encontro Nacional Forong: marcada a data do 11º Encontro Nacional Forong: novo endereço Forong: proposta do Inst. Vitae Civile para o 10º Encontro Nacional Forong: reunião de avaliação em SP Forong: textos de apoio para o 11º Encontro Frente Verde do Vale do Paraíba quer formar um Comitê da Bacia do Rio Paraíba do Sul Fund. Charles dDarwin procura diretor Fundação Biodiversitas: apresentação institucional GEF-Fundo Ambiental Global: apresentação institucional Assunto

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entidades ecológicas (cont.)

Greenpeace denuncia caluniador (resposta à revista Veja) Greenpeace estuda ação no Mercosul Greenpeace: a viagem de navio no sul do Brasil Greenpeace: navio em Porto Alegre Greenpeace: navio no rio Amazonas Grupo de Estudos Espeleológicos do Paraná (Geep): apresentação institucional Guia sobre o Banco Mundial IED muda endereço Informacões sobre ONGS ecológicas na Itália IWC/Brasil: apresentação institucional LDO96 E ONGS: despesas de capital Líder de movimento ambientalista da Austrália quer contato com rede brasileira Marcado o Encontro Nacional de Entidades Ambientalistas (ENEA) 93 em Londrina Mater Natura: apresentação institucional Modelos de regimento interno de conselhos municipais de meio ambiente Movimento Botucatuense Pró-Vida: apresentação institucional Mudança de telefone e fax do Inst. Vitae Civilis Núcleo pró-unidades de conservação ONG romena em busca de cooperação Pesquisa sobre ONGs ambientalistas latinoamericanas: leia tópico em Rainforest Action Network: programa de estágio Brasil/EUA Recadastramento das ONGs no CNEA Rede Verde: apresentação institucional Reunião dos delegados ao Fórum Global 94 Reuniões regionais e subregionais do Fórum Internacional de ONGs Roubo no Instituto Vitae Civilis Sean: apresentação institucional Sean: circular 01/94 The Center for Resolution, Vision and Change/EUA: apresentação institucional Treinamento de ONGs: curso sobre fortalecimento institucional Voluntária para Friends of Earth

extrativismo

Apelo dos extrativistas de Rondônia Cerrado ganha primeira reserva extrativista Controle internacional do comércio de produtos florestais Criação da primeira reserva extrativista do Cerrado, Alto Araguaia/GO Let them eat rainforest crunch? Planafloro: pedido de inspeção do projeto Planfloro urgente:pedido de inspeção Produção de borracha natural: protesto contra a ação do Ibama Queimada e violência contra trabalhadores extrativistas da Amazônia Regularização da Reserva Chico Mendes Reservas extrativistas em perigo Tocantins: problemas para criação de reserva extrativista Xapuri urgente: seringueiros em perigo

fontes de financiamento

Anulação do financiamento à Pesquisa Geológica dos EUA Banco Mundial descarta empréstimo p/ Nepal Banco Mundial não consegue obter fundos ambientais dos doadores Bancos e Desenvolvimento Sustentável Bancos internacionais financiam mudança ambiental Bco. Mundial (BM) financia “estrada da soja” BID destinará US$ 25 mil ao programa de santuário da vida silvestre da Funatura Carta da NBA ao BM sobre sua responsabilidade social Conama Press - 02/94 Cronograma de votação do Orçamento 95 Declaração de Berlim contra MDBs

315

Subtema fontes de financiamento (cont.)

grandes barragens

Assunto Déficit de investimentos ambientais Ecobonus e narcotráfico: Financiamento de projetos poluentes FNMA - Fundo Nacional do Meio Ambiente: relação dos projetos aprovados em junho FNMA: projetos aprovados na décima reunião FNMA: análise críticaenviada ao Ministro do Meio Ambiente FNMA: Carta-renúncia do representante das entidades ambientalistas FNMA: Circular 003 - mudanças anunciadas FNMA: circular 2 FNMA: circular 3 FNMA: circular 4 FNMA: circular da reunião de junho FNMA: correção do relatório do CNEA-1992 FNMA: eleicões dos representantes das ONGs FNMA: moção contra o decreto que modifica a composição FNMA: novo decreto de regulamentação FNMA: pauta da reunião FNMA: pauta da reunião 22 a 24/08 FNMA: pedido de esclarecimentos sobre mudanças FNMA: proposta de alterações no regimento interno FNMA: Relatório 92/94 (dados quantitativos) FNMA: Relatório Anual 1992 FNMA: resultado da eleição FNMA: reunião com ministro sobre mudanças FNMA: reunião marcada FNMA: reunião ordinária Forong: carta aberta sobre o Orçamento da União Forong: participação no Comitê de PPP do GEF Guia de agências financiadoras para ONGs ICMS Ecológico e notícias de Itu Imposto ambiental Imposto Verde Lançado o Programa de Pequenos Projetos (PPP) ou Small Grants do GEF ONGs indianas contra a ajuda do Banco Mundial Planafloro: Forong pede ao BM suspensão dos desembolsos para o projeto Protesto sobre os 50 anos Banco Mundial/FMI Reforma da ODA japonesa Relatório da reunião do GEFem Beijing Relatório sobre o GEF VC declina do Funbio Ação do MAB contra hidrelétrica de Tijuco Alto Agradecimentos pelo apoio ao movimento na Índia Barragem de Sardar Sarovar: cartas de protesto à India Briefing da TERRA sobre a barragem Nam Theun II (Tailândia) Campanha de solidariedade aos camponeses do Projeto de Assentamento de Rio Gelado/ Tucuruí-PA Castanhão: mega-barragem projetada pelo Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs) Declaração de Manibeli: entidades que apoiaram Declaração Manibeli contra o apoio do BM para construção de grandes barragens Eletrosul quer reiniciar obras de Jacuí (??) sem atender exigências ambientais Eletrosul, desrespeito a todos Financiamento de barragem no Nepal: Greve de fome em Bophal contra projeto da barragem Sardar Sarovar Hidrelétrica do Tijuco Alto: deputados aprovam projeto vetado pela CCJ da Assembléia/PR

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Subtema grandes barragens (cont.)

Assunto Impugnação de barragem hidrelétrica no Nepal Justiça suspende construção de usina hidrelétrica de Tijuco Alto/PR Memo do BM: insegurança nas barragens indianas Mortandade de peixes no rio Paraná Narmada/Índia Narmada/Índia: ação urgente, águas ameaçam tribos Narmada/Índia: ativistas acusam governo Narmada/Índia: carta aberta ao Banco Mundial contra projeto Narmada/Índia: carta do Narmada Action Committe-UK para o presidente do BM Narmada/Índia: casas estão submersas Narmada/Índia: começa inundação Narmada/Índia: dez anos da luta, começo de nova fase Narmada/Índia: Home-truths Narmada/Índia: lançamento do livro Toward Sustainable Development? Narmada/Índia: Monsoon Summary Narmada/Índia: movimento contra a hidrelétrica Narmada/Índia: movimento contra o Projeto Sardar Sarovar Narmada/Índia: polícia destrói casas Narmada/Índia: problemas continuam. Novo relatório sobre financiamento do BM a grandes barragens Pedido de inspeção em projeto de hidrelétrica no Nepal Pesquisa sobre impactos de barragens Privatização e grandes barragens SSP/Índia: governo revê projeto SSP/Índia: greve de fome continua SSP/Índia: notícias da Suprema Corte SSP/Índia: notícias de Shrikumar Poddar SSP/Índia: notícias sobre a greve de fome em Bhopal SSP/Índia: projeto Sardar Sarovar SSP/Índia: relatório da reunião do grupo dos 5 SSP/Índia: situação dos grevistas em Bhopal SSP/Índia: Suprema Corte rejeita reposta do governo SSP/Índia: suspensa a greve de fome SSP/Índia: últimas notícias da Suprema Corte

habitação

Ao encontro de uma cidade para a vida/ Quito-Equador Preparação para o Habitat II Primeiro projeto brasileiro de cohabitação (co-housing) em MG

hidrovia no Pantanal

Ambientalistas comemoram compromisso de governos com o Pantanal Apoios à carta enviada ao Pnud Caceres: “lobby contra hidrovia” Carta da IRN ao Pnud sobre a HPP Estudo de ambientalista condena projeto Governo MT debate Hidroviva PP Governo paraguaio planeja represa no rio Paraguai Governos refazem acordos com ONGs Hidrovia ameaça o Pantanal do Brasil Hidrovia ameaça Pantanal Hidrovia entrará em vigor em outubro Hidrovia Paraguai-Paraná: 200 milhas para comércio Hidrovia PP: carta de Grupos Indígenas Hidrovia PP: carta para endossar Hidrovia PP: comunicado à imprensa de carta a FHC Minuta do encontro Governo/ONGs sobre a Hidrovia Muito Além do Pantanal (versão legivel do top.1246)

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Notícias sobre a Hidrovia na imprensa Subtema hidrovia no Pantanal (cont.)

Assunto Pnud: resposta à carta do IRN Prefeito de Caceres defende Hidrovia na SBPC Programação do Seminário sobre a Hidrovia PP: impactos e alternativas Projeto da Hidrovia Paraguai-Paraná: seminário internacional em SP Represa no rio Paraguai c/ apoio da Espanha Rios Vivos: encontro ONGs-governos SBPC contra Hidrovia Paraguai-Paraná SBPC debate HPP SBPC e a Hidrovia SBPC: mesa redonda discute hidrovia Seminário HPP em SP Seminário sobre Hidrovia em SP Seminário sobre viabilidade econômica e impactos da Hidrovia PP WWF: Hidrovia será desastrosa

informação ecológica

12º Festival de Filme Ecológico/ Alemanha 400 contatos sobre energia sustentável Accesso às informações do Banco Mundial Acesso às informações do Banco Mundial (BM) Artigos sobre florestas tropicais disponíveis na Cida Bahia ganha biblioteca especializada em meio ambiente Banco de dados em jurisprudência ambiental Banco de dados sobre experiências juridicas na área ambiental e Programa de Conservação Ambiental do BNDES Bibliografia da CDS da Onu/95 - parte 2 Bibliografia da CSD da Onu/95 Biblioteca ecológica na Suíça Boletim da Revisão n.1/FNAE Boletim da Revisão n.2/FNAE Boletim InfoPAN Boletim Informativo da Radiobras 122 (Trechos) Boletim Informativo da Radiobras em C&T 121 (íntegra) Boletim Revisão 5 Boletim sobre manejo de flor.tropicais: Tropical Forest Update Boletin Infoandina vol.1, nº 3 Boletin Infoandina, vol1, nº 4 Bolsas de estudos para ecologistas da AL e Caribe CAPR: Informativo 05 CAPR: Informativo 06 CAPR: Informativo 07 CAPR: Informativo 09 CAPR: Informativo 2 CAPR: Informativo 3 CAPR: Informativo extraordinário Centro de Dados Climáticos: relatório técnico disponível Centro de informação sobre conservação de árvores Ciências Sociais e Meio Ambiente: curso/SP Conama Press - 01/94 [Informativo das entidades] Conama Press - 03/94 Conama Press - 04/94 Conama Press - 05/95 Conama Press - 06/95 Conferência de cientistas em Quebec: conhecimento compartilhado no contexto global Conferência Interdisciplinar sobre Meio Ambiente/ Boston-EUA Conferência sobre Ecometria/USP

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Subtema informação ecológica (cont.)

jornalismo ambiental

Curso sobre ecologia de pequenos mamíferos Assunto Cursos de especialização em ecologia social do Iles Cursos de pós-graduação em Ecotoxicologia Cursos e publicações ambientais: serviço de referência Derramamento de óleo no Artico russo: informações e mapas Boletim Informaitvo E-wire (15 edições irregulares) ECO Newsletter El efecto invernadero: notícias da Red Latinoamericana de Informacion en Europa Enciclopédia sobre Literatura e Meio Ambiente Boletim informativo ESA Today do nº 31 ao 44 Espécies 2000: indexação das espécies conhecidas no mundo Guia de oportunidades em gerenciamento de recursos naturais Informações sobre a lista de referência da Sopren Intercâmbio de Informação Ambiental para América Latina e Caribe: apresentação institucional Intercâmbio de informação entre grupos Intercâmbio de informações técnicas para ONGs: Programa Brasil da Rainforest Action Network está compilando uma base de dados Lista de animais ameaçados3 Lista de discussão sobre florestas tropicais Lista parcial de signatários da carta ao BM Lista sobre sistemas de conhecimento nativo (Indigenous Knowledge Systems) Mestrado em ecologia social na UFRJ: seleção de candidatos Notícias do FNAE 3 e 4 Novas listas sobre meio ambiente e comércio Pesquisa de campo s/ manejo ambiental em bacia hidrográfica: Pesquisa em ecofisiologia de florestas tropicais Pesquisa na área do rio Aripuana/MS Pesquisa sobre a capa de ozônio Pesquisa sobre desenvolvimento e redes de informação Pesquisa sobre formulação de política ambiental na América Latina Pesquisa sobre ONGs ambientalistas que utilizam redes de comunicação por computador Pesquisa sobre redes ambientalistas Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) faz cadastro Programa The Globe proposto pelos EUA Projeto do Centro de Documentação e Informação Ambiental-Cedia Rede Ecologista/Rede Verde: Sinopse de notícias sobre meio ambiente (do nº 1 ao 124) Rede Ecologista/Rede Verde: #01/95 ao 44/95 Rede Ecologista/Rede Verde: Sinopse de Férias Referências bibliográficas para pesquisa sobre Cidadania e meio ambiente na mídia impressa Seminário Internacional de Sist. Sócio-Ecológicos-Econômicos: ISEE-95 (Russia) Serviço Biológico Nacional dos EUA: futuro em risco Serviço de notícias ambientais por correio eletrônico Sinopse da Rede Verde fora do ar Sinopse Rede Verde fora do ar Sopren cria lista de referência VC/Comsema INFORMA N. 2 (01-9-94) Vitae Civilis Informa n. 3 - de 01/10/94 “Greenpeace, o navio pleno de amor” (sic) Boletim AgirAzul: “Parques, reservas e a farsa do bom selvagem” Boletim AgirAzul: apresentação institucional Boletim AgirAzul: assinaturas Boletim AgirAzul: lançado nº 8 Boletim AgirAzul: pauta para a décima edição Boletim AgirAzul: resumos das edições de nº 5 a 11 Boletim eletrônico Econotas

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Subtema jornalismo ambiental (cont.)

Assunto Catavento, O Programa que Fala de Ecologia: apresentação institucional Conferencia Internacional de Jornalismo Ambiental-Paris Congresso em Paris: participação do Nejrs Críticas ao movimento ecológico Endereços de Federações Internacionais de Jornalistas Ambientais (IFEJs) Entrevista c\ Raul Jungmann Fax do Nejrs ao ZH Formação da rede de jornalistas ambientais Gaúcha Ecologia: novo programa de rádio Instituto Socioambiental lança revista 'Parabólicas' Jornal ecológico eletrônico (Electrônic Green Journal): 2ª ed. Jornal Provita: 3ª edição Manual de Emergência do Nejrs: - 2: pólo petroquímico Manual de Emergência do Nejrs: - 3: material perigoso Manual de Emergência do Nejrs: - 4: calamidades naturaiis Manual de Emergência do Nejrs: - 5: fontes Nota 10 Manual de Emergência do Nejrs: - apresentação Manual de Emergência do Nejrs: desastres ambientais Mary Allegretti (ex-assessora de Chico Mendes) volta ao Brasil Nada mais bobo que o ZH Nejrs precisa de ajuda p/ localizar repórteres e editores O preconceito do jornal Zero Hora Paris1 - Jornal. Ambiental: criação de rede internacional Paris2 - Jornal. Ambiental: comunicado do Nejrs Paris3 - Jornal. Ambiental: e-mail de ecojornalistas Pelo livre acesso a informação: declaração de Paris Programa Ecológico em Rádio: Ecosul Projeto “Terça Ecológica”: o ambiente em debate/RS Rádio: Gaúcha Ecologia (equipe vai para a Alemanha) Rádio: Gaúcha Ecologia (resumo dos programas de nº 6 a 41 Reportagem sobre a rejeição da União Européia ao patenteamento dos seres vivos Seminário internacional na Inglaterra

lixo/ resíduos tóxicos

1º Encontro de Prefeitos de Metrópoles Latino-Americanas sobre gestão de resíduos Conferência nos EUA:Resíduos sólidos e dioxinas Curso popular sobre reciclagem de papel Lixo tóxico em SC Lodos ativados em Joinville/SC O problema do lixo nuclear Programa Municipal de Lixo Programa municipal de racionalização do lixo em Guaratinguetá: pedido de ajuda de especialista Proibição da exportação de lixos tóxicos pela Convenção de Basiléia Residuos industriais - consultores requisitados Resíduos tóxicos: a volta dos incineradores? Resolução sobre resíduos perigosos Técnica de reciclagem de jornal Técnicas de reaproveitamento de pneus

manejo de ecossistemas

À procura do livro “Cerrado: vastos espaços” Ação contra licenças de exploração florestal no Suriname Ajuda ao Parque Nacional de Galapagos/ Equador Baleia franca aumenta no Sul Campanha contra projeto de construção na Coréia Campanha de filiação ao Consejo Manejo Florestal do México Campanha para salvar os manguezais equatorianos Cerrados: a vida em extinção.

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Subtema

manejo de ecossistemas (cont.)

Mata Atlântica

Assunto Compra de terras por três ONGs americanas em Guaraqueçaba/ PR p/projetos de manejo e recuperação Conferência anual da Associação de Gerenciamento Ambiental Global Curso de pós-graduação em Administração e Manejo de Unidades de Conservação/ MG Declaração das ONGs japonesas e brasileiras sobre o Tratado da Eco-92 e o Prodecer Definidas as normas da ISO 14.000: prévia do Gaúcha Ecologia Demolição de casas ilegais no litoral Norte do PR Dequada não mata peixe no Pantanal Desastre ecológico em Galinhos/RN Dunas: destruição em Imbituba/SC Ecossistema em perigo em Belize Ecossistemas costeiros Esforço de conservação em perigo? Estrada ameaça dunas em Natal Estrada invade reserva no PR Estratégias e alternativas para conservação das florestas de Araucárias Greenpeace faz expedição à Antartida Grupo Votorantim pede autorização para mineração na Fazenda Intervales IAIA - Encontro sobre participação popular Impacto ambiental sobre o Santuário Bhitarkanika Incêndio na Estação Ecológica de Taim Lagos de Furnas: ambiente no Sul de Minas Lançamento do livro “Toxic Nation, the fight to save our communities from contamination” Manejo Florestal em debate na Câmara Manejo florestal na área de Xikrin/ PA Mangrove Action Project: relatório de atividades Métodos de recuperação de áreas degradadas pela extração de carvão: pedido de ajuda para estágio nos EUA O papel do Japão em relação aos Cerrados e o Prodecer Painel Internacional de Florestas Pangea faxina Rio do Rastro/ SC Pantanal: troca de partagem nativa por exótica! Paraná desrespeita mata de restinga Parque Nac. Serra do Cipó: ameaças Pesquisa aplicada em manejo de sistemas naturais na Amazônia: Procura-se pesquisador(a) Pesquisa sobre rentabilidade social de preservar bosque nativo Procura-se economista/geógrafo socio-ambiental para pesquisa multidisciplinar em áreas de manguezais próximas a Recife Prodecer no Tocantins e Maranhão Programa de Conservação Ambiental do BNDES -2 Projeto corredores de fauna Projetos “ambientais” que afundam. Proteção de coral reef e correlatos Relatório do Projeto Fragmentos de Florestas (Forest Fragments Project) Salvem o Parque Nacional de Gorgona/ Colômbia Seminário de Consulta Nacional sobre gestão do saneamento e meio ambiente urbanos/ Ibam Seminário Internacional de Restauração de Espaços Degradados/ Chile Seminário internacional sobre desenvolvimento ecológico em regiões semiáridas (Sobral/CE) Seminário sobre manguezais/ Santos-SP Trabalho de campo na Estação Darwin em Galapos/Equador Treinamento em Conservação ambiental na Am. Latina Unidades de conservação ameaçadas Zona de Processamento Econômico (ZPE) ameaça Pantanal “PFL-SC quer estuprar Mata Atlântica” [sic] Ambientalista quer Mata Atlântica protegida

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Subtema Mata Atlântica

Assunto Ambientalistas lançam campanha em defesa da Mata Atlântica Ameaça ao decreto 750 da Mata Atlântica Ameaça de extinção da Mata Atlântica Decreto 750, de proteção da Mata Atlântica, cai no esquecimento Ecologistas contestam pres. do Ibama sobre Serra da Bodoquena Greenpeace usa vídeo p/ registrar destruição pela Odebrecht Ibama não inlui Serra da Bodoquena (MT) na Mata Atlântica Mais desmatamentos: ação de madeireiros no sul da Bahia Prefeitos do litoral paranaense ajudam a derrubar Mata Atlântica Presidente do Ibama revoga orientação sobre decreto 750 Projeto Renascer: viveiro de mudas nativas da Mata Atlântica Reunião da Câmara Técnica do Conama Reunião do Conselho da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica Seminário Nacional de ONGs da Mata Atlântica sobre o Programa Piloto para a Conservação das Florestas Tropicais Brasileiras (PPDA) Teleférico no litoral N do RS Vera Cruz Celulose pode reiniciar desamatamento

modelo energético

4º Encontro Latinoamericano Antinuclear e 4ª Feira Latinoamericana de Energias Alternativas Carta de Brasília contra o modelo energético brasileiro, tirada no 1º Congresso Nacional de Trabalhadores Atingidos por Barragens Entidades especializadas em energia solar ou em energias renováveis Especialização em energia solar em Lima/Peru Explorando a biomassa no Brasil: eucalipto para eletricidade Procuram-se ONGs que trabalhem c/ fontes alternativas de energia

política ambiental

“Vivenciando a política florestal” 15ª Reunião Extraordinária do Conama A quem serve a ex-presidente do Ibama Africa do Sul: crítica a Política Ambiental As podas de árvores em Porto Alegre Audiência sobre zoneamento ecológico-econômico (ZEE), na Câmara dos Deputados Bancada do PMDB do RS boicota sistema estadual de proteção ambiental Brasil foi mal na Cites/94: diplomacia vetou ONGs Cadê a Politica Nacional do Meio Ambiente? Comissão de Meio Ambiente da Câmara Comissão Meio Ambiente da Câmara Conama em debate Conferência na Ucrânia sobre “Ecologization” Controle ambiental no Brasil: ilusão? Criação de Agência Ambiental do Mercosul Curso de política ambiental na Holanda Dia Mundial do Meio Ambiente: declaração do Secretário geral da Onu Discurso de congressista americano sobre o Dia da Terra Empresas agridem meio ambiente com aquiescência do Ibama Exigências da sociedade ao novo governo FHC na Alemanha Frente da soberania contra o Gatt/OMC Hidrelétricas, Ibama e Conama Ibama anuncia mais projetos e decretos (Gaúcha Ecologia) Ibama contra proteção do mogno Iniciativa teuto-brasileira s/participação Lançamento de livro sobre conflitos ambientais Liberalismo ou protecionismo verde Licenças para fazendas arborizadas no Canadá renovadas secretamente Ministério do Meio Ambiente lança PED: Programa de Execução Descentralizada Ministro do Meio Ambiente em SC

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Subtema política ambiental (cont.)

Assunto Ministro não convence ambientalistas mineiros Notícias do Congresso Nacional: ONGs de Rondônia criticam política fundiária do Incra e o Planafloro Pauta de eventos relacionados ao M.A. na Câmara dos Deputados Pedido de adiamento da eleições dos representantes das ONGs no Conama Pobre da Fepam/ RS Política ambiental Amazônia Prefeitura de Porto Alegre contra meio ambiente Projetos aprovados na Câmara Questão ambiental não preocupa empresas Reativando a campanha sobre o Plano de Ação para a Floresta Tropical (Paft) Resoluções 37ª Reunião Ordinária do Conama Restrições do Gatt/OMC para defesa do meio ambiente, saúde e consumidores Seminário sobre Diretrizes de Ação para o Meio Ambiente no Brasil Tasso veta Lei que protegeria dunas e falésias no CE Terras públicas nos EUA: nova lei Texaco equatoriana: projeto em negociação TFL: negociações sobre transferências Transferência de licenças de fazendas arborizadas

poluição/ radiação

“Padrões de emissão x padrões ambientais” 2ª Lista suja do PR: os 13 maiores degradadores Ação direta na Russia contra terminal de gás Aprovação de projeto de lei Proconve, sobre emissão de poluentes por veículos Audiência pública sobre garimpo é sucesso Barco inglês com material radioativo ameaça Pacífico Chuva ácida em SC Contaminação por urânio de nascentes de rios em Poços de Caldas Contenção do vazamento de petróleo no Oceano Árctico Contra a ameaça ao Taj Mahal Desastre na Guiana: vazamento de cianureto Du Pont destruindo o córrego Pinheirinho (PR) Emissões de carbono na Venezuela Exclusivo: As dioxinas da Riocell Greenpeace: rota do mercúrio na Amazônia Grupos ecológicos contra a duplicação da fábrica de papel Riocel Lista suja da AMDA/MG -1995: os 12 maiores degradadores Mercúrio na Região Amazônica : contaminação do homem e do meio ambiente nas áreas de mineração de ouro O óleo nosso de cada dia Palestra sobre mercúrio em Brasília Peixes com metais pesados Pesquisa sobre radiações não ionizantes Petrobrás produz diesel mais limpo Poluição ambiental na Rússia por indústria metalúrgica Poluição deforma peixes no rio Guaíba/RS (Gaúcha Ecologia) Praia do Hermenegildo/RS, 16 anos depois da Maré Vermelha Problema da exploração da bauxita e transformação em alumínio Programa de recuperação da balneabilidade das praias de Santos São Paulo urgente: operação rodízio Terceirização da poluição em SC Terceirização e lodos ativados Ultrafértil joga cianeto em rio da região metropolitana de Curitiba Vendendo ar: o comércio da poluição

questão indígena

A proposta neoliberal para demarcação das terras indígenas Abaixo assinado contra o novo projeto de demarcação de terras

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Subtema questão indígena (cont.)

Assunto Audiência pública na Comissão de Meio Ambiente Campanha difamatória faz povos do Vale do Javari busca apoio p/ demarcação Campanha Internacional p/ regularização do território Maxakali Capoib promove mobilização contra mudanças no dec.22/91, de demarcação de terras Capoib se posiciona contra mudança no decreto de demarcação de terras Carta do Capoib ao Presidente FHC Carta do Nucleus for Indigenous Rights (NDI) contra invasão de reservas indígenas Cimi denuncia impunidade na Bahia Cimi e organizações indígenas participam do Dia dos Excluídos Cimi fortalece apoio ao protagonismo indígena Cimi participa do Comla-5 Cimi realiza 11ª assembléia geral CIR debate demarcação de terras indígenas CIR realiza mobilização para demarcação de terras CNBB se manifesta contra mudanças no decreto de demarcação de terras Comissão do Estatuto do Indio Comissão externa da Câmara visita três áreas indígenas Comla enfatiza participação missionária junto aos povos indígenas Comunidade Lacandona (Chiapas/México) pede ajuda Congresso Nacional x índios Consulta nacional sobre direitos humanos da mulheres indígenas Dec 22 e direitos indígenas. Declaração da 11ª assembléia geral do Cimi Demarcação das terras indígenas: audiência sobre o andamento do processo Demarção das terras indígenas na região amazônica: nota da Abong à imprensa Deputados debatem suicídio entre os índios Direitos dos índios na Rev. Constitucional Direitos indígenas estão ameaçados, diz Cimi Direitos indigenas vira moeda de troca no Congresso Dossie FHC - Revisão de terras indígenas Emenda contra demarcação de terras indígenas Encontro sobre demarcação de terras para Guaranis em Angra Epidemia de malária atinge populações indígenas do Alto Solimões Estatuto das Sociedades Indígenas é aprovado na Câmara Exposição Maxacali chega a Salvador FHC tenta neutralizar reações contra dec. de demarcação Forum contra a violência condena mudança no dec.22/91 Globo e Manchete contra índios Guarani Governo ameaça direitos indígenas Governo Brasileiro fala em discutir demarcação Governo brasileiro quer rever toda a demarcação de terras Iminente agressão aos direitos indígenas Incra assenta famílias em área indígena Indios isolados e em semi escravidão Indios reivindicam suas terras Indios Tremembe precisam de ajuda no Ceará Indios tupinikim e guarani do ES reivindicam mais terras Indios vencem madeireiras do Pará no STJ Líder Macuxi e homenageado nos EUA Lideranças indígenas falam sobre evangelização Liminar contra construção de estrada que corta área indígena em RO Mapa da Fome dos Povos Indígenas: painel da 1ª Conf. Nacional sobre Segurança Alimentar Mapa da fome entre os povos indígenas Mapa da fome indígena Marcio Santilli na Funai

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Subtema questão indígena (cont.)

Assunto Massacre dos Yanomami Massacre Yanomami. (idem sem ruídos) Militares, PM, União e Cia: repercussão no Congresso Nacional Morte de índio kaingang por atropelamento Mulheres indígenas realizam encontro Nota do Conselho Indígena de Roraima: ameaça de violência ONGs contra guaranis Organizações indigenas: um novo sujeito político Por que tanta terra para índios? Portaria ministerial contra demarcação de terras indígenas Presidente assume compromisso com lideranças indígenas Proposta de Emenda Constitucional (PEC) sobre demarcação de terras Reais interesses de alteração do decreto de demarcação de terras Região do Purus registra mais conflitos Relevante interesse da União para posse de terras Suicídios entre os Guarani-Kaiowa Tuxauas são ameaçados de morte Vigílias e protestos marcam o massacre de povos indígenas no Brasil

questão nuclear Ação anti-nuclear. Ações contra o reinício das obras da Usina Nuclear de Angra 2 Boicote à indústria de turismo francesa Congresso s/seguridade radiológica e nuclear Corrente anti-bomba atômica Declaração contra a ameça nuclear francesa Explosões no Atol de Mururoa: declaração do Movimento Humanista do Peru Explosões no Atol de Mururoa: nota da Red Amb. Peruana Explosões no Atol de Mururoa: protesto das ONGs de SC Plebiscito sobre instalação e funcionamento de usinas nucleares Política nuclear Presidente quer terminar Angra II Reunião sobre usina de Angra II Usina nuclear Slovakian Usinas nucleares: projeto de lei em discussão recursos Acordo sobre a bacia do rio Mekong, entre o Laos, Camboja, Vietnan e Tailândia hídricos Audiência pública sobre projeto de lei p/ gerenciamento de recursos hídricos Carta da IRN ao Pnud sobre projeto de água Carta da Paraíba: Viva Vida São Francisco Condenações do Tribunal das Águas Conferência Intern. s/ conservação e administração de lagos/ Lima-Peru Conferência s\Impactos Hidrológicos da Hidrovia PP Conferência sobre água: conflito e cooperação/ EUA Estudo sobre o Rio São Francisco (versão preliminar) Lei de royalties para municípios com áreas de preservação e mananciais de água no RS Movimento de ONGs para evitar a transposição do rio São Francisco Narmada/Índia: inundação do rio ONGs no Acordo de Mekong Parque Nacional de Everglades: drenagem de água Pesquisa sobre modelos para projetos de água em países em desenvolvimento Reflorestamento ameaça lagoas do litoral do RS Seminário em Miami: Diálogo Interamericano sobre Administração de Águas, visando consolidar a Rede Internacional de Recursos Hídricos Transposição das águas do Rio São Francisco: 30 entidades questionam o prjeto Transposição do Rio São Francisco Transposição do Rio São Francisco: licenças concedidas

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Subtema

Assunto

solo/ desertificação

Bibliografia para pesquisa sobre desertificação na AL Conferência sobre desertificação e seca na AL Convenção sobre desertificação da Furpa em Genebra Erosão ameaça Ilha do Mel Pesquisa sobre desertificação no Brasil e na A.L., a pedido da Earthaction Programa de apoio a pesquisa cooperativa s/ gerenciamento do solo, c/ participação do Usaid Solo e comunicação: programa global

tecnologias ambientais

2º conferência intern. sobre engenharia ecológica/ Suíça Catálogo da Feira Internacional de Tecnologia Ambiental Ecotech 94: artigo sobre celulose Estudo de biodiversidade por sensoriamento remoto O futuro da engenharia ecológica Oficina de GIS (Sistema de Informações geográficas) para ONGs

transportes

Palestra sobre participação de ONGs na formulação de políticas viária: a realidade do Canadá Recife poderá ter um sistema de ciclovias Rodovias e meio ambiente: programa de treinamento do Geipot

uso da rede

Apoio à criação de nova conferência Bibliotecas virtuais sobre áreas protegidas: serviço de informação desenvolvido pelo World Conservation Monitoring Centre (Cambridge/UK) Comitiva visita Macedo (remissão para a conf. Conferência Conferência Conferência fechada por falha da facilitadora: explicação Conferência: Criação da Ecotech Network Criação da Rede Eletrônica Global p/a Eco-92 Dica sobre tópico na conf. Diretórios do Pnud sobre Biotecnologia p/ AL Documentos sobre o GEF disponíveis na conf. Governo destrói chapada (remissão para a conf. ) Guest Book - registracion Leis e correio eletrônico:uma alternativa de luta Lista de discussão sobre Permaculture Lista de discussão: Sistema de Informação Amazônico/Coord. Nac. da Venezuela Listas de discussão da Ecotechnics 95 Nejrs ganha prêmio e abre nova conferência eletrônica: Notíciais sobre o Selo Verde na conf. Nova conferência Nova conferência eletrônica sobre campanha contra importação de mogno brasileiro por paises “ricos” Nova conferência sobre Apec Objetivos desta conferência Projeto de uma nova Rede Ecologista no Brasil Proposta de criação de nova conferência na rede para notícias internacionais Rede Criança e Rede Verde: convite à participação Rede internacional de Recursos Hídricos em regiões semiáridas já está no ar Resoluções do Fórum CASX: documento disponível em gopher Seminário sobre a Amazônia através de correio eletrônico do AlterNex Seminário sobre redes ambientais eletrônicas em NY Treinamento no Alternex: S.Paulo durante o Fórum Multimídia de Educação Ambiental Uso de tecnologias computadorizadas de comunicação e informação/ Fundacion Acceso Volta ao ar (participação na conferência) www contra testes nucleares franceses www sobre a indústria ambiental

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Subtema uso da rede (cont.)

outros

www sobre dinâmica biológica de florestas (BDT) Assunto www sobre índios do Xingu (Homedia) www sobre meio ambiente em espanhol www: banco de dados em biotecnologia e biomédica www: Banco de dados sobre a flora da Califórnia www: banco de dados sobre liberação de organismos no meio ambiente www: Biodiversidade canadense (CBIN) www: cartão de Natal www: Convenção sobre diversidade biológica www: diretório de estudos sobre ecologia rural do Usaid www: Eco-Compass, novo boletim ambientalista www: endereços de ecosistemas brasileiros www: endereços de sites sobre áreas protegidas da Austrália www: Home Page da Alcom www: Home Page sobre o El Niño www: Informação sobre convenção de biodiversidade www: Lei canadense para espécies em risco www: Rede de dados sobre famílias de micróbios www: Rede de informação sobre biossegurança (BIN21) www: relatório anual do BDFF sobre fragmentos florestais www: Software para planejamento de conservação www: software relacionado a vida selvagem e ecologia “Amor é tudo” (sic) 2º Festival Internacional de “Ecology and Creation” Ajuda sobre qualidade de vida Antropocentrismo ou Ecocentrismo: por uma ética ecológica Apelo em favor da manutenção do pres. do Incra Boas Festas/FNAE Canadense se oferece como voluntário p/ trabalho sobre floresta tropical Carta do seminário “CPT: Terra nos anos 90” Curso de Permacultura em Brasília Ecologia antropocêntrica ou natureza em harmonia? Estação Energia XXI - Campinas Férias de Verão Filosofia pragmática de defesa da natureza. Fórum Alternativo para as Outras Vozes do Planeta Governador vende o Acre Inesc: notícias da semana Jardim Botânico/RJ: contato com o Projeto Tamar Lançamento do Guia do Lobby Lançamento do livro Santa Mãe Terra - põesia verde Macedo solto contesta pena McDonalds no tribunal em Londres Notícias da quinzena do Inesc Opinião sobre a qualidade de vida urbana em São Paulo Palestra do pres. da SBPC s/ AZT e AIDS no Brasil Paris e bombas (viagem de participante da conf.) Permissão para publicar: comentários Procuram-se biólogos Procuram-se especialistas em produção e processamento de erva-mate Programa de treinamento do Ibam [vários temas] Publicação da CPT sobre luta dos posseiros de Pinhão - PR Reforma agrária e meio ambiente Revisão Constitucional: “gato por lebre” Sambódromo não sairá no Parque da Harmonia/ Porto Alegre

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Seminário CPT: Terra nos anos 90 Subtema outros (cont.)

Assunto Seminário de Política Mineral /MT Série de publicações Pólis Sessão passatempo na Europa (crítica de Paulo Francis à Conferência da Onu sobre população em Copenhague) SOS Juju (campanha p/ funcionário de uma ONG) Xico Blu fora do ar

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Anexo 19

Exemplos de tipos de comunicação utilizados nas conferências Obs. Os textos foram reproduzidos conforme o original veiculado na conferência, inclusive com a forma de acentuação típica da interface-texto; dos mais longos, porém, foram extraídos apenas alguns trechos. anúncio INTERCAMBIO DE INFORMACOES TECNICAS PARA ONGS O Programa Brasil do Rainforest Action Network esta compilando uma base de dados sobre Informacoes Tecnicas para ONGs. Temos directorios, catalogos, bibliografias de livros e artigos, e contatos con outras organizacoes com respeito aos seguintes temas: * energia renovavel * manejo de recursos naturais * silvicultura * agricultura * microempresa * industria de pequeno porte * avaliacao de programas, elaboracao de propostas, recadacao de fundos, marketing, uso de computadores * e outros.... No momento, tambem estamos elaborando um esquema para reduzir o custo para que as ONGs brasileiras possam participar no intercambio, especialmente com respeito ao preco de publicacoes e correio. (...) __________________________________________________________________________

articulação de apoio ** Topico: **URGENTE!!! URGENTE!!! ** ** Escrito em 6:25 PM Aug 10, 1995 por ciro em ax:apm.brasil ** From: “Ciro V. T. da Silva” Subject: **URGENTE!!! URGENTE!!! /* Escrito 11:13 am Aug 10, 1995 por ciro em ax:ax.brasil */ /* ---------- “**URGENTE!!! URGENTE!!!” ---------- */ GENTE URGENTE URGENTE URGENTE URGENTE URGENTE URGENTE URGENTE URGENTE URGENT MASSACRE EM RONDONIA Na madrugada de ontem (9 de agosto) 36 trabalhadores rurais sem-terra foram assassinados pela Policia Militar de RO. Cerca de 200 pessoas estao feridas. Uma testemunha que conseguiu chegar ao local pode ver 32 corpos em um caminhao da Policia: a MAIORIA das VITIMAS e' composta por MULHERES e CRIANCAS !!! O local do conflito e' a fazenda Helina, no municipio de Corumbiara (cerca de 800 Km de Porto Velho), em Rondonia (RO), Brasil. 329

Cerca de 300 policiais militares fortemente armados invadiram o local de acampamento dos Sem-Terra. O local permanece cercado, entradas e saidas estao proibidas. Teme-se novas mortes e violacoes dos direitos Humanos. E' URGENTE QUE PESSOAS, ORGANIZACOES E ENTIDADES POSSAM SE MANIFESTAR, DIVULGAR E BUSCAR NOVAS INFORMACOES. NO BRASIL E NO MUNDO!!! Inicialmente podemos fazer um “congestionamento” dos Fax das autoridades “responsaveis” cobrando atitudes imediatas!!!! ********************* Ministro de Justica Sr. Nelson Jobim Fax: (061) 224-0954 224-0959 ********************* ************************ Governador de Rondonia Sr. Valdir Raupp de Matos Fax: (069) 224-3520 Tel: (069) 223-3000 (voz) ************************* *********************************** Secretario de Seguranca de Rondonia Sr. Wanderley Martins Mosini Fax: (069) 224-2715 tel: (069) 224-2125 (voz) *********************************** GENTE URGENTE URGENTE URGENTE URGENTE URGENTE URGENTE UREGENTE URGENTE URGENT ______________________________________________________________________________

artigo de especialista ** Topico: PROGRAMA APM. ** ** Escrito em 4:02 PM May 6, 1993 por saff em ax:apm.brasil ** * escrito originalmente por [email protected] em 1/23/1992 * O Programa Agricultura Camponesa e Moderniza
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