A tentativa de Golpe de Estado na Turquia: possiveis consequencias geopoliticas e estrategicas

June 1, 2017 | Autor: Augusto Teixeira Jr. | Categoria: Geopolitics, Geopolitcs and Geostrategy, Turquía
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26/07/2016 A tentativa de Golpe de Estado na Turquia: possíveis consequências geopolíticas e estratégicas | VOX MAGISTER: as relações internacionais pela…

A tentativa de Golpe de Estado na Turquia: possíveis consequências geopolíticas e estratégicas Publicado por marimenesesss22 de julho de 2016

Por Augusto Teixeira Jr.* Marco Túlio Delgobbo Freitas**

Na última sexta, dia 15 de julho o mundo viu aturdido a uma tentativa de Golpe de Estado na Turquia. Pouco após  o  início  de  unidades  militares,  por  terra  e  ar,  buscarem  ocupar  importantes  postos  de  comunicação, comando  e  controle,  o  Presidente  Erdogan  se  pronunciava  para  o  povo  daquele  país  chamando‑o  à  resistir  a tentativa  de  usurpação  violenta  do  poder  por  parte  de  setores  das  Forças  Armadas  e  grupos  civis  que  os apoiavam. A tentativa de Putsch, rapidamente debelada ainda durante o final de semana passado por setores das Forças  Armadas  e  polícia,  traz  um  conjunto  de  indagações  fundamentais  para  o  quadro  de  instabilidade internacional contemporâneo. A seguir, discorremos sobre algumas delas. Apesar  de  não  ser  um  país  árabe  e  nem  possuir  neste  idioma  o  seu  vernáculo,  a  Turquia  é  um  dos  países  de tradição  islâmica  mais  importântes  da  Eurásia.  Não  apenas  por  sua  relevância  entre  as  dinastias  que  se sucederam durante a expansão do mundo muçulmano o país exibe um perfil importante: possui uma população de  maioria  muçulmana,  contudo,  tradicionalmente  o  Estado  é  laico  e  o  país  se  perfila  alinhado  à  potências ocidentais desde a desagregação do Império Turco‑Otomano. Embora não apresente o mesmo nível de robustez que outros países europeus, a Turquia foi considerada como uma democracia ainda em consolidação. Ao menos três  golpes  militares  anteriores  em  sua  história  demonstram  que  a  instituição  Forças  Armadas  imbuía‑se  até recentemente  do  papel  de  poder  moderador  e  fiel  da  balança  no  que  tange  a  manter  o  legado  da  revolução liderada pelos “Jovens Turcos” na figura de Kemal Atartük. Autores de distintas filiações teóricas como Lutwakk (2016) (hኅ迠p://foreignpolicy.com/2016/07/16/why‑turkeys‑ coup‑detat‑failed‑erdogan/)  e  Rodrik  (2016)  (hኅ迠p://www.vox.com/2016/7/15/12204368/turkey‑coup‑expert) convergem ao afirmar que o país cada vez mais ruma ao autoritarismo, estando a democracia e suas instituições notavelmente  ameaçadas  pelo  governo  Erdogan.  A  conexão  entre  a  fragilidade  das  instituições  turcas  e  o Home possível colapso de sua democracia se ligam a alguns desdobramentos analisados a seguir. https://voxmagister.wordpress.com/2016/07/22/a­tentativa­de­golpe­de­estado­na­turquia­possiveis­consequencias­geopoliticas­e­estrategicas/ 1/3 O progressivo ataque ao laicismo na sociedade e Estado turco impacta não somente na transformação na relação

26/07/2016 A tentativa de Golpe de Estado na Turquia: possíveis consequências geopolíticas e estratégicas | VOX MAGISTER: as relações internacionais pela…

O progressivo ataque ao laicismo na sociedade e Estado turco impacta não somente na transformação na relação entre indivíduos, sociedade e Estado, mas altera possivelmente a natureza do regime político. A emergência de atores  políticos  não  submetidos  ao  accountability  político  e  a  cadeias  de  responsividade,  ao  invés  disso justificados pela lógica da argumentação religiosa poriam em risco não só a democracia, mas o papel das Forças Armadas turcas na sociedade nacional. A possível emergência de uma turquia islâmica pode, inclusive trazer problemas para a própria Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). Uma Turquia sob a configuração acima pode trazer uma sensação de déjà vu para outro membro atlantista, a Grécia, cujo Ancara tem um histórico de tensões intra‑Aliança. Não apenas Atenas,  mas  uma  Turquia  de  orientação  religiosa  pode  impulsionar  rearranjos  nas  relações  entre  países  de tradição católica‑ortodoxa e islâmica, partícipes da OTAN e do centro e leste europeu. Uma Turquia rumando ao autoritarismo e a uma identidade religiosa poderá perder o recente apoio Europeu contra a recente tentativa de golpe, aumentando as tensões e óbices aos entendimentos entre a União Européia e Turquia. De uma certa forma, esta situação poderá afetar o recente acordo entre UE‑Turquia sobre os refugiados, sendo um importante instrumento  de  barganha  de  Erdogan  no  contexto  em  que  atentados  terroristas  aumentam  em  países  como França e Alemanha, o tandem de uma UE fragilizada pelo recente Brexit. Um ponto importante a ser destacado é se a tentativa de golpe seria uma reação a seu ativismo externo. Sob sua administração,  a  Turquia  se  colocou  no  cenário  internacional  de  forma  singular.  Podemos  ao  menos  destacar duas  situações  que  mostram  como  Erdogan  enxerga  o  papel  da  Turquia  no  cenário  regional.  Primeiro,  ao assumir como intermediário – junto com o Brasil – em uma tentativa de resolver a questão nuclear iraniana, Ancara percebe‑se como um ator capaz de oferecer soluções em relação as questões de segurança presentes na agenda internacional. Ou seja, com Erdogan, a Turquia passa a emular um papel semelhante da Alemanha de Bismark durante os acordos do Congresso de Berlim de 1903. Entretanto, para o plano de Erdogan dar certo ele precisa que a audiência internacional o veja como um ator estabilizador da região e não é isso que ocorre. Desde o inicio da campanha aérea internacional contra o ISIS, seus parceiros atlanticistas nutrem suspeitas acerca de seu parceiro. A principal queixa era que os turcos não participavam  ativamente  desta  campanha  (The  Economist,  2015 (hኅ迠p://www.economist.com/news/leaders/21679191‑dont‑let‑downing‑russian‑plane‑wreck‑campaign‑against‑ islamic‑state‑no‑room)).  E  ainda  pairam  as  acusações  que  seus  familiares  comercializam  petróleo  obtido  em territórios  ocupados  pelo  ISIS  (Christie‑Miller,  2015 (hኅ迠p://www.thetimes.co.uk/ኅ迠o/news/world/asia/article4632906.ece)).    Diante  de  tais  perspectivas,  resta  a Ancara  explorar  sua  posição  geográfica  para  garantir  seus  interesses.  Comportamento  desempenhado  desde quando era o Império Turco‑Otomano. Posicionada  num  ponto  estratégico  da  massa  de  terra  eurasiática,  a  Turquia  é  um  player  fundamental  ao engajamento de potências tais como a Rússia, Israel, Irã e Síria. Rompida com Israel desde a crise gerada pela “Flotilha da Paz” e amargando a maior crise recente com a Rússia desde a destruição no ar de um caça russo na Síria,  a  Turquia  logrou  recentemente  “normalizar”  as  relações  com  Jerusalém  e  Moscou.  Uma  das consequências  desta  reaproximação  foi  o  ataque  terrorista  do  ISIS  ao  aeroporto  internacional  de  Istanbul  que resultou na morte de 36 pessoas e deixou 147 feridos. Contudo, pouco se sabe como a situação pós‑tentativa de golpe  irá  afetar  o  engajamento  das  Forças  Armadas  turcas  aos  curdos  na  faixa  de  fronteira  com  a  Síria,  com possíveis incursões em terra naquele país e atrito com forças iranianas (Guarda Revolucionária) e russas (Força Aérea). Exatamente no momento em que os Estados Unidos visam reduzir o seu engajamento no Oriente Médio e Ásia Central e que precisa cada vez mais do engajamento da OTAN em sua política de contenção da Rússia e do Irã, a Turquia apresenta uma conjuntura política em que os custos gerenciais de uma geoestratégia atlantista talvez tenham  que  ser  revistos.  O  status  de  membro  da  OTAN  da  Turquia  não  permite  igualar  uma  condição  de aliança  EUA‑Arábia  Saudita,  uma  possível  reorientação  da  política  externa  e  do  perfil  doméstico  turco  sob

https://voxmagister.wordpress.com/2016/07/22/a­tentativa­de­golpe­de­estado­na­turquia­possiveis­consequencias­geopoliticas­e­estrategicas/ 2/3 Erdogan  colocam  desafios  importantes  ao  gerenciamento  da  OTAN  e  o  seu  enquadramento  na  estratégia  de

26/07/2016 A tentativa de Golpe de Estado na Turquia: possíveis consequências geopolíticas e estratégicas | VOX MAGISTER: as relações internacionais pela…

Erdogan  colocam  desafios  importantes  ao  gerenciamento  da  OTAN  e  o  seu  enquadramento  na  estratégia  de contenção estadunidense. Em suma, o presidente Turco tem a sua frente uma fabulosa janela de oportunidade para mudanças domésticas e negociar os seus objetivos regionais. O jogo está em aberto. ———‑ *  Doutor  em  Ciência  Política  pela  Universidade  Federal  de  Pernambuco  (UFPE).  Atualmente  é  professor Adjunto  do  Departamento  de  Relações  Internacionais  da  UFPB.  Líder  do  Grupo  de  Pesquisa  em  Estudos Estratégicos e Segurança Internacional (GEESI/UFPB /CNPq). Membro da Associação Brasileira de Estudos de Defesa. ** Marco Túlio Delgobbo Freitas é Mestre e Professor do Instituto Nacional de Pós‑Graduação.

———————————————————————————————————————————————— As opiniões aqui expressas são de responsabilidade exclusiva de seu/sua autor e, portanto, não representam a opinião do Vox Magister nem de todos os seus colaboradores. Sobre estes anúncios (https://wordpress.com/about­these­ads/)

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