A Terceira Idade e a Internet em Portugal: tendências e desafios

July 29, 2017 | Autor: Maria Carrelhas | Categoria: Sociology of Ageing, Active Ageing, Terceira Idade
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A TERCEIRA IDADE E A INTERNET EM PORTUGAL: TENDÊNCIAS E DESAFIOS 5 º SOPCOM - Con gr e sso da Socie da de Por t u gu e sa de Ciê n cia s da Com u n ica çã o - Un ive r sida de do M in h o, Br a ga 6 a 8 de Se t e m br o, 2007

Maria João Carrelhas* Lídia J. Oliveira L. Silva** UNIVERSIDADE DE AVEIRO

Palavras chave: Terceira Idade, Internet, Portugal

Resumo Nas últimas décadas a configuração das pirâmides etárias dos países ocidentais têm vindo a sofrer mudanças estruturais. A terceira idade que tradicionalmente assumia um papel minoritário na segmentação etária da população tem vindo a ganhar um novo espaço, quer devido ao aumento da longevidade quer pela diminuição da taxa de fertilidade desses países. Por outro lado, as ferramentas tecnológicas de suporte à informação, à comunicação e ao acesso ao conhecimento têm vindo a sofrer mudanças, também elas, profundas. Neste contexto urge sistematizar o que está a ser feito em Portugal ao nível da familiarização da terceira idade com os serviços da Internet, que pelo seu carácter ubíquo permitem um novo tipo de mobilidade. Os serviços Internet potenciam a erosão de barreira espacio-temporais que são mais marcadas na terceira idade por dificuldades de ordem fisiológica e psico-social. É, pois objectivo desta comunicação apresentar o ponto da situação do caso português e perspectivar o futuro a médio prazo quando os idosos já tiverem incorporados nas suas rotinas o uso dos serviços Internet. Mas, para perspectivar o futuro terá necessariamente de se passar pela analítica do presente, de modo a compreender a percepção que os idosos têm das novas tecnologias da informação e da comunicação em rede e do seu impacto nas suas rotinas cognitivas e sociais.

* Maria João Carrelhas ([email protected]) - aluna de doutoramento em Ciências e Tecnologias da Comunicação da Universidade de Aveiro, a desenvolver investigação subordinada ao tema A Internet como novo espaço para a Terceira Idade em Portugal – impactos, desafios e oportunidades. ** Lídia J. Oliveira L. Silva ([email protected]) - professora no Departamento de Comunicação e Arte da Universidade de Aveiro onde exerce o cargo de Directora de Curso de Novas Tecnologias da Comunicação e de Vice-Presidente do Conselho Pedagógico da UA. Desenvolve investigação na área das implicações cognitivas e sociais da comunicação em rede, tecnologicamente mediada. Docente responsável das disciplinas de Ergonomia Cognitiva e Cibercultura. 1/21

Neste quadro é fundamental desenhar uma estratégia metodológica que permita compreender o presente e perspectivar o futuro da terceira idade na sociedade da informação e da comunicação. No contexto da sociedade da comunicação abrem-se novos desafios de cidadania em que os seniores terão, por razões diversas, de ser considerados como elementos com know-how significativo para a memória das organizações onde exerceram as suas actividades profissionais e para a memória social potenciadora de inteligência colectiva conectiva

* Maria João Carrelhas ([email protected]) - aluna de doutoramento em Ciências e Tecnologias da Comunicação da Universidade de Aveiro, a desenvolver investigação subordinada ao tema A Internet como novo espaço para a Terceira Idade em Portugal – impactos, desafios e oportunidades. ** Lídia J. Oliveira L. Silva ([email protected]) - professora no Departamento de Comunicação e Arte da Universidade de Aveiro onde exerce o cargo de Directora de Curso de Novas Tecnologias da Comunicação e de Vice-Presidente do Conselho Pedagógico da UA. Desenvolve investigação na área das implicações cognitivas e sociais da comunicação em rede, tecnologicamente mediada. Docente responsável das disciplinas de Ergonomia Cognitiva e Cibercultura. 2/21

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Abstrat In the last decades the configuration of the age pyramids of the western countries have suffer structural changes. The third age which traditionally assumed a minority paper in the age segmentation of the population has been earning a new space, due to the increase of the longevity and the reduction of the fertility rate of those countries. On the other hand, the technological tools supporting the information, the communication and the access to knowledge, have been suffering deep changes. In this context is critical to systematize what has been done in Portugal at the level of familiarization of the elderly with the Internet services and that, by their ubiquitous character, allow a new kind of mobility. The Internet services empower the space-temporal barrier erosion which is more profound in the elderly due to physiological and psycho-social difficulties. It is, therefore the goal of this communication to describe the status of the Portuguese case and to foresee its future, in the medium term, when it is expected that the Portuguese elders will have incorporated in their routines the use of the Internet. But, to foresee the future we will have to analyse one's present, in order to understand the perception that the elders have of the new information technologies and of the net communication, and what are the impacts of these cognitive and social routines. In this map is fundamental to trace a methodological strategy that will allow us to understand the present perception of the elderly of the society of the information and communication, to suggest measures to the future. In this context new challenges of citizenship of the elders are emerging, which can be use as inspiration to construct a social vision of the elderly as significant know-how for the memory of the organizations where they exercised its professional activities and for the social memory inductive of an improved collective and connective intelligence.

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Conjuntura

O INE - Instituto Nacional de Estatística, com a colaboração da UMIC - Agência para a Sociedade do Conhecimento, apresentaram recentemente os resultados do Inquérito à Utilização de Tecnologias da Informação e da Comunicação nas Famílias1 2002 - 2006. Este relatório divulga dados relevantes para esta investigação, dos quais se destaca os seguintes valores referentes a 2006:

Relativamente à utilização do microcomputador: ̇

Por escalão etário apresenta as seguintes variações: 16-24 anos – 83% | 25-34 anos – 63% | 35-44 anos – 44% | 45-54 anos – 32% | 55-64 anos – 17% | 65-74 anos – 4%.

̇

Por habilitações escolares apenas 27% da população portuguesa com qualificação até ao 3.º ciclo usa computador, variando estas proporções para a população com o ensino secundário (87%) e com o ensino superior (91%).

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Observações feitas a indivíduos entre os 16 e os 74 anos

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Relativamente à adesão à Internet: ̇

Por escalão etário desdobra-se do seguinte modo: 16-24 anos – 75% | 25-34 anos – 54% | 35-44 anos – 36% | 45-54 anos – 24% | 55-64 anos – 12% | 65-74 anos – 3%.

̇

Por habilitações escolares apenas 19% da população portuguesa com qualificação até ao 3.º ciclo tem acesso à Internet, variando estas proporções para a população com o ensino secundário (80%) e com o ensino superior (87%).

Partindo-se da premissa que o acesso à Internet e a utilização do computador são realidades que estão intimamente ligadas, as deduções que estes números inferem são simples: ̇

o acesso aos microcomputadores em geral e à Internet em particular continua restrito a apenas algumas pessoas;

̇

o baixo grau de escolaridade tem um reflexo muito negativo no uso do computador e no acesso à Internet;

̇

o grau de escolaridade inferior nas pessoas idosas é um óbice para o seu acesso à Internet;

̇

as gerações mais idosas são as mais info-excluídas.

Igualmente o baixo nível económico associado à grande maioria dos indivíduos que actualmente pertencem à terceira idade (conforme quadro abaixo) faz com que a prioridade seja dada à satisfação das necessidades primárias, afastando a Internet desta experiência.

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(Fonte: Europe in Figures- Eurostat yearbook 2006-07)

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Estes estudos evidenciam que a fraca capacidade interventiva da terceira idade em Portugal advém de uma conjugação de factores que coincidem com a sua fraca adesão à Sociedade de Informação. A exclusão digital parece interligar-se com a exclusão social intensificando-a, como é apanágio desta tecnologia. Esta leitura aponta para uma carência de meios, a qual justifica uma fraca adesão à tecnologia digital por parte da terceira idade. E esta realidade tem muito pouco a ver com a crença generalizada de que os idosos não usam as novas tecnologias em geral e a Internet em particular por uma natural inabilidade. Com base em dados fornecidos pelo Eurostat2 cruzou-se informação referente à percentagem dos indivíduos que, no ano de 2005 e no ano 2006, utilizaram motores de busca de informação, nos seguintes universos: 1. UE15 (União Europeia dos 15): Alemanha, Áustria, Bélgica, Dinamarca, Espanha, Finlândia, França, Grécia, Irlanda, Itália, Luxemburgo, Países Baixos, Portugal, Reino Unido e Suécia. 2. UE25 (União Europeia dos 25): UE15 + Chipre, Eslováquia, Eslovénia, Estónia, Hungria, Letónia, Lituânia, Malta, Polónia e República Checa. 3. Portugal

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Disponível em: http://epp.eurostat.ec.europa.eu/

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Através do cruzamento destes dados construiu-se ao seguinte quadro:

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Pela observação destes números, poderemos tirar algumas ilações: Em primeiro lugar, se compararmos os números entre a UE15/UE25 e Portugal, observa-se que a percentagem dos indivíduos que utilizou um motor de pesquisa é muitíssimo mais baixa no nosso país. Conclui-se que, em Portugal, o enorme potencial de acesso à informação que a Internet representa não está a ser aproveitado da mesma forma que nos outros países da UE. Esse hiato, em 2005, corresponde a -33% (relativamente à UE25) e -37% (relativamente à UE15). Em 2006, a diferença é de -30% (UE25) e -31% (UE15).

0% -5%

2005

2006 Portugal

-10% -15% -20%

UE25 UE15

-25% -30% -35% -40%

Utilizando as mesmas variáveis, mas aplicando-as apenas ao grupo etário entre os 25 e 34 anos (a terceira idade em 2050), o hiato entre Portugal e a UE25 em 2005 corresponde a -24% e entre Portugal e a UE15 é de -21%. Em 2006 a distância entre Portugal e a UE25 equivale a -29% e entre Portugal e a UE15 é de -22%. A evolução entre 2005 e 2006 é pois positiva, com os resultados de 5% e 1% da média da UE25 e da média da UE15, respectivamente. A menor evolução relativamente à UE15 assenta num hiato menor, o que tendencialmente abranda a aproximação.

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0% -5%

2005

2006 Portugal

-10% -15% UE25

-20%

UE15 -25% -30% -35% -40%

Estes números vêm reforçar a ideia de que o esforço dispendido em Portugal de uma evolução no sentido da plena integração na Sociedade de Informação, pelo menos no que se refere ao uso da Internet, está a progredir positivamente. A disparidade percentual de Portugal relativamente à média da UE25 e à média da UE15, entre 2005 e 2006, evoluiu 3% e 6% respectivamente, o que representa um resultado assinalável. Mas se as mesmas variáveis forem aplicadas ao grupo etário entre os 65 e 74 anos (a actual terceira idade) verificam-se os seguintes resultados: em 2005, a divergência entre Portugal, a UE25 e a UE15 corresponde a -75%. Em 2006 a disparidade entre Portugal e a UE25 equivale a -79% e entre Portugal e a UE15 é de 77%. Entre 2005 e 2006 não se verificou qualquer evolução percentual, enquanto a UE25 progrediu 2% e a UE15 avançou 1%. Na prática este resultado significa um distanciamento da actual terceira idade portuguesa relativamente à terceira idade europeia.

0% -10%

2005

2006 Portugal

-20% -30% -40%

UE25 UE15

-50% -60% -70% -80%

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Umas das razões que justificam os números acima reproduzidos prendem-se com o nível educacional das populações investigadas. Segundo uma apresentação do Prof. Doutor Luís Magalhães3, Portugal depara-se com uma realidade paradoxal: por um lado, situa-se na 5º posição (média: 80%) da UE25 (média: 61%) com pessoas com educação secundária (apenas a seguir à Holanda, Suécia, Dinamarca, Luxemburgo) e é o 8º país (média: 87%) da UE25 (média: 84%) com pessoas com educação superior (apenas a seguir aos anteriores e à Finlândia, Reino Unido e Eslovénia); mas estes resultados altamente positivos contrastam com outro universo: Portugal é também o 22º país (média: 19%) da UE25 (média: 32%) com pessoas com educação até ao 9º ano ou inferior (apenas à frente de Itália, Chipre, Grécia). Esta situação tem a seguinte distribuição etária: ̇

De 65 a 75 anos: 2% (2 milhões)

̇

De 25 a 54 anos: 15% (3 milhões)

̇

De 16 a 24 anos: 59% (1 milhão)

O que estes números indiciam é que em Portugal, a estratégia para a inclusão dos idosos nas novas tecnologias e, especificamente, na utilização da Internet, parece não estar a produzir o resultado esperado. Neste estudo defende-se que a origem desta deficiência se relaciona com o facto da terceira idade se posicionar espacial e temporalmente através de construtos obsoletos, sendo que esta limitação só poderá ser ultrapassada através da estruturação de uma atitude social e digitalmente activa induzida por acções transversais e intergeracionais.

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Presidente da UMIC - Agência para a Sociedade do Conhecimento. Apresentação na conferência “Sociedade da Informação: uma questão de boas práticas?” realizada entre 7 e 8 de Março de 2007, na Universidade de Aveiro.

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Em 2002 foram identificados algumas representações que a terceira idade coloca face aos microcomputadores4: ̇

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Sou demasiado velho para me familiarizar com o PC: 69% (UE 47,9%) Estou informado acerca dos computadores e da sua aplicabilidade: 13% (UE 49%)

̇

Estou motivado para aprender acerca do desenvolvimento tecnológico: 24% (UE 53,7%)

̇

A indústria não tem em consideração os idosos, no design dos PC's: 46,7 % (UE 48%)

Nesta óptica, a construção de uma terceira idade digitalmente incluída implica maiores níveis de educação, um acesso mais facilitado à informação, uma maior capacidade de mobilização dos recursos existentes, e ainda um novo posicionamento social. Estas soluções parecem estar dependentes de uma reorientação não só do acesso às novas tecnologias, mas de uma nova mentalidade a ser criada nos bancos de escola, baseada no prazer do conhecimento e da descoberta, no estímulo a atitudes pró-activas e na aproximação e familiarização com a utilização de computadores e da Internet, alargando a actual utilização predominantemente lúdica da Internet5.

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Amostra: Respostas da população portuguesa (UE15) com mais de 50 anos de idade . Fonte: Senior Watch, 2002. In: “Gerontotecnologia: da Teoria à Prática” i2010 - Trabalho preparatório da Agenda Portuguesa para iniciativas de eInclusão em 2007, de Teresa Almeida Pinto. 5

No estudo Bareme Internet 2006, feito pela Marktest sobre a utilização da Internet em Portugal, verificou-se que 1 128 mil indíviduos fazem download de músicas na internet, um valor que representa 32,9% do universo composto pelos internautas com 15 e mais anos residentes no Continente. Esta percentagem sobe para os 52,1% para os jovens dos 18 aos 24 anos. A rede é usada por 636 mil portugueses (18,5% dos internautas) para jogar online e por 551 mil para ouvir música online (16,1% dos internautas). Contabilizam-se ainda 497 e 495 mil internautas que usam a net para, respectivamente, fazer download de jogos e de filmes (14,5% e 14,4% deste universo).

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O Governo português promove, a partir Setembro de 2007, para todos os estudantes portugueses inscritos no 10º ano, o acesso a preços reduzidos a um computador e à Internet de alta velocidade, estimando-se que esta medida abranja até 2010 cerca de 240 mil estudantes. Apesar de não se ter debatido a formação necessária associada a esta acção6, a medida vai de encontro à posição que aqui se defende: que a alteração da atitude dos idosos face à Internet deverá começar por uma alteração cultural, a qual deverá ter origem na educação das novas gerações. Efectivamente, é frequente encontrar-se nos idosos um discurso denunciador de uma mentalidade tendente ao “já não sirvo para nada”, “estou velho demais para”, “isso não é para a minha idade” ou “agora quero gozar a vida”. Estas fórmulas repetidas e entrosadas revelam uma atitude socialmente apreendida e que não traz benefícios para nenhuma classe etária em particular, nem para a sociedade em geral. Inclusive o próprio idoso sente-se afastado e desvalorizado, entrando frequentemente em estados depressivos7. Esta situação é complexa e a sua abordagem só será eficaz através de medidas multidisciplinares. Nesta óptica, a utilização da Internet é somente uma dessas soluções. Não é única nem será a mais importante. Mas é uma solução eficaz no combate aos espaços de exclusão a que estão votados os anciãos, quer pela dimensão idade, quer pela escolaridade, ou pela precariedade económica. Porque a Internet pode ser encarada como um espaço de inclusão pelo seu carácter desmultiplicador de papéis e de identidades, o que provoca a abolição de constrangimentos sociais e uma adesão por grupos de interesses.

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Kerckhove (1997), citando David Rokeby um engenheiro de computadores e também um artista, dizia “precisamos desesperadamente de filtros”. 7 Sobre este tópico recomenda-se a leitura do livro de Purificação Fernandes (2000) citado na bibliografia.

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Com o decorrer dos anos, o peso da Internet enquanto instrumento de integração tende a ser uma realidade cada vez mais marcante, porque alguns dos maiores óbices actuais para o seu uso pelo senescente relaciona-se com a necessidade de uma aprendizagem no tocante às novas tecnologias e à língua inglesa e estas dificuldades, conforme apontam os números do Eurostat, tenderão a ser ultrapassadas quando a geração-net atingir a terceira idade (a experiência destes indivíduos já incorpora a domesticação das TIC8 e a normalização do Inglês). Estamos na orla do surgimento desta nova terceira idade, que encerra em si características que podem ser utilizadas não só no combate ao isolamento e envelhecimento psicológico, mas como possível resposta para problemas como a degradação do sistema social. Para estes futuros anciãos e reformados, com maiores habilitações literárias e já habituados ao uso das novas tecnologias, a Internet pode oferecer um conjunto de soluções para a ampliação da sua vida activa, oferecendo soluções como o tele-trabalho ou o e-business. Neste sentido, emergem como necessidades estruturais a elaboração de um quadro de referência sobre a terceira idade portuguesa que actualmente utiliza a Internet, a prossecução de novos formas de cooperação laboral, e a procura de soluções curriculares a serem introduzidas na instrução primária, secundária e superior. O intuito será o de se inferir de que forma se poderá optimizar esta tecnologia tendo por móbil o seu usufruto como factor de inclusão, comunicação e informação. A aposta na formação deverá ser feita a diferentes níveis: ̇

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construção de competência tecnológica

Tecnologias da Informação e da Comunicação

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constituição de uma capacidade crítica que permita ao utilizador distinguir os diferentes níveis de credibilidade das inúmeras fontes que estão na Internet

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disposição para o prazer da descoberta, da inovação

Portugal não quer e não pode continuar afastado das novas tecnologias, devendo combater a info-exclusão não só através de medidas paliativas, mas sobretudo por orientações geradoras de correcções aos desvios negativos ao padrão europeu no contexto tecnológico. Defende-se que a Internet age como um espelho côncavo que desmaterializa o conceito de espaço e de tempo, agindo como um mecanismo de implosão de conceitos actualmente redutores de um prolongamento de uma vida útil na velhice. No espaço cibernético, a medição do tempo não é cronológica, como o atesta o aparecimento do tempo Internet (Internet Time): partindo do pressuposto que o nosso mundo se move à base de múltiplos de dez, a Swatch substituiu as 24 horas do dia por mil beats universais (@1000), mil unidades iguais que equivalem, cada uma, a 1 minuto e 26,4 segundos. Desta ideia surgiu o Swatch Beat9 o qual reflecte a grande subversão que a Internet está a produzir no espaço e tempo social. Esta situação implicará novas políticas empresariais, com recurso ao tele-trabalho e à assessoria on-line dos quadros envelhecidos que encerram uma experiência valiosa, um know-how, cuja reutilização beneficiará a organização. E aqui as medidas, além de legislativas, passarão por novas culturas organizacionais.

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http://www.swatch.com/internettime/

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Igualmente o apoio estatal e social das organizações de cooperação e assistência para a terceira idade é uma necessidade adquirida. Mas a sua acção evidencia a carência de um órgão catalisador das diferentes sinergias, que exponencie a sua acção. E também neste exercício, a Internet poderá revelar-se um óptimo auxiliar, na sua qualidade de base de dados imensa e dinâmica. Numa última vertente, a próxima terceira idade, ou seja, os jovens de hoje, deverão ser preparados para as diferentes políticas de segurança social que irão defrontar na sua velhice. Esta mudança passará pela introdução de mudanças no seu curriculum escolar de forma a incutir-lhes não só o desenvolvimento de competências tecnológicas, mas ainda aptidões críticas, uma noção social de utilidade e de valorização do conhecimento, e o valor do exercício da cidadania.

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Iniciativas nacionais e locais

Em Portugal, em Resolução de Conselho de Ministros Nº 96/99, foi criada a Iniciativa Nacional para os Cidadãos com Necessidades Especiais na Sociedade da Informação (INCNESI): “Esta iniciativa pretende ser um contributo efectivo para a concretização dos objectivos estabelecidos no Livro Verde relativamente aos cidadãos com necessidades especiais. Tem como principais objectivos assegurar que os cidadãos que requerem consideração especial não fiquem excluídos dos benefícios da Sociedade da Informação e ainda estabelecer condições para que o desenvolvimento desta contribua inequivocamente para melhorar as condições de vida e bem estar dos cidadãos com necessidades especiais.” 10 Em Janeiro de 2005, foi criada a Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC), um organismo público português com a missão de planear, coordenar e desenvolver projectos nas áreas da sociedade da informação e governo electrónico. A UMIC rege-se pelo Decreto-Lei nº 16/2005, de 15 de Janeiro, e pelos estatutos aprovados em 21 de Fevereiro de 2005. Exerce a sua actividade sob a tutela e superintendência do Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior. A missão da UMIC foi reforçada pelo plano tecnológico do XVII Governo Constitucional (2005-2009).

10

http://www.acesso.umic.pcm.gov.pt/acesso/incnesi.htm

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“O Plano Tecnológico é a peça central da política de crescimento económico do governo português, um conjunto articulado de políticas transversais ao serviço da transformação de Portugal numa economia dinâmica capaz de se afirmar na moderna sociedade do conhecimento. A prossecução deste objectivo deve basear-se em iniciativas em três campos de acção: •

Conhecimento



Tecnologia



Inovação” 11

Existem, contudo, várias iniciativas em Portugal, nomeadamente, no âmbito das políticas relacionadas com a Sociedade da Informação e do Conhecimento, corporizadas na UMIC12, num conjunto de textos articulados com o i201013 e com a agenda da Estratégia de Lisboa14. Desta conjuntura surgiram os ‘Espaços Internet’, que têm desenvolvido várias acções de formação destinadas a familiarizar a terceira idade com a Internet. Destacam-se, como relevantes fontes de informação, o site TIO - Terceira Idade On Line15 (da associação VIDA16, representante em Portugal da Plataforma Europeia das Pessoas Idosas – AGE)

11

http://www.publico.clix.pt/docs/politica/planoTecnologico.pdf http://www.umic.pt/ 13 http://europa.eu.int/information_society/eeurope/i2010/index_en.htm 14 A Estratégia de Lisboa é um compromisso destinado a assegurar a renovação económica, social e ambiental da UE. Em Março de 2000, o Conselho Europeu de Lisboa definiu uma estratégia de dez anos, com o objectivo de tornar a UE a economia mais dinâmica e competitiva. Esta estratégia visa a criação de emprego, paralelamente a políticas de desenvolvimento sustentável e de inclusão social. Disponível em http://www.estrategiadelisboa.pt/InnerPage.aspx?idCat=337&idMasterCat=334&idLang=1&sit e=estrategiadelisboa 15 http://www.projectotio.net/ 16 http://www.viver.org/vida/ 12

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e o site da Associação para o desenvolvimento de novas iniciativas para a vida – ADVITA17. Pelas razões acima citadas, iniciativas como a Net@vó, um projecto intergeracional, desenhado e desenvolvido numa Escola Básica do Concelho de Santa Maria da Feira, o projecto Net Sobre Rodas da EDV Digital, e a Netsénior - Plataforma de Serviços a Cidadãos Seniores da Câmara Municipal de Oeiras, constituem importantes experiências a considerar. Ainda através da UMIC, na área de acção da Inclusão e Acessibilidade, destaca-se a obra "Acessibilidade aos sítios Web da AP para Cidadãos com Necessidades Especiais Requisitos de Visitabilidade"18. Outras relevantes fontes de informação são: a RUTIS – Rede de Universidades da Terceira Idade19 e a associação O DIREITO DE APRENDER20 que publica a revista trimestral “Aprender ao Longo da Vida”. Todas estas iniciativas apostam na qualificação dos portugueses alinhando-a com o processo de internacionalização. São acções que tendem a combater a exclusão dos idosos portugueses da revolução tecnológica global. O desafio central é conhecer o presente para desenhar um futuro sustentável para a terceira idade de 2050. Esses idosos são os jovens adultos de hoje (25-34 anos) e sendo assim, não é irrelevante sublinhar que apenas 54% deles têm hoje acesso à Internet. Logo, sente-se um país a duas velocidades, no qual é necessário intervir quer nos

17

http://www.advita.pt/ http://www.acesso.umic.pt/manuais/manual_formacao.htm 19 http://www.rutis.org 20 http://www.direitodeaprender.com.pt

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jovens-idosos (55-64 anos) que têm uma baixíssima taxa de acesso à Internet (12%), quer nos jovens-adultos para que sejam idosos com melhores índices de qualidade de vida, quer ao nível económico quer de vivência cognitiva e social.

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BIBLIOGRAFIA

Branco, Rui, Gonçalves, Cristina (2000), ‘Envelhecimento Demográfico - Aspectos Demográficos, Económicos e Sociais da População Idosa em Portugal’, Instituto Nacional de Estatística, I Congresso Português de Demografia, org. ISCTE/INESLA, Tróia, Grândola, 21-23 Setembro, Sessão Plenária: População e Envelhecimento. Brown, J. S., & Duguid, P. (1991), ‘Organizational learning and communities-ofpractice: Toward a unified view of working, learning and innovation’. Organization Science, 2: 40-57. Carrilho, Maria José (1993) ‘O Processo de Envelhecimento em Portugal: Que Perspectivas...?’, Revista Estudos Demográficos nº 31, INE, Lisboa. Castells, Manuel (2004), A Galáxia Internet, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian Fernandes, Purificação (2000), A Depressão no Idoso – estudo da relação entre factores pessoais e situacionais e manifestação da depressão. Colecção Educação e Saúde. Coimbra: Quarteto Editora Fonseca, António M (2004), O Envelhecimento: uma abordagem psicológica, Lisboa, UCP Fries, J. (1980), ‘Aging natural death, and compression of morbidity’, New England Journal of Medicine nº 303, 130-135. INE (1999), ‘As Gerações Mais Idosas’, Série Estudos nº 83, Instituto Nacional de Estatística - Gabinete de Estudos e Conjuntura, Lisboa. Kerckhove, Derrick de (1997), A Pele da Cultura, Lisboa: Relógio d’Água Kachar, Vitória (2003), Terceira idade e informática - aprender revelando potencialidades, S. Paulo, Cortez Editora Nonaka, I. & Takeuchi, H. (1997), La connaissance créatrice – la dynamique de l’entreprise apprenante, Bruxelles: De Boeck Université. Paúl, Constança (1997), Lá para o fim da vida. Idosos, família e meio ambiente, Coimbra, Globo,Lda. Paúl, Constança e FONSECA, António M. (2005), Envelhecer em Portugal. Psicologia, Saúde e Prestação de Cuidados, Lisboa, Climepsi editores

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