A Tradução de Histórias Orais como Escritura Feminina

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ZAIDAN, Junia C. S. de Mattos. Atradução de Histórias Orais como Escritura Feminina. In: DePaula, Lillian; Rezende, Patrick; Castro, Mayelli; Pertel, Tatiany. (Org.). Tradução: sobre a quintahabilidade na língua, no outro, na arte. 01 ed.São Carlos: Pedro & João Editores, 2014, v. , p. 315-344.. ISBN: 978-85-7993-235-9

A TRADUÇÃO DE HISTÓRIAS ORAIS COMO ESCRITURA FEMININA1 Junia Claudia Santana de Mattos Zaidan Eu vou ter minha voz: indígena,espanhola, branca. Eu vou ter minha língua de serpente – minha voz de mulher, minha voz sexual, minha voz de poeta. Eu vou superar a tradição de silêncio. (ANZALDUA, 2009, p.312)

This is how we are, this is how we exist, scattered and confounded, and called to what? Well… to translation! (RICOEUR, 2006, p.19)

1- Primeiras palavras

Em sua conhecida conferência proferida na Universidade de Nova York na primavera de 1983, Italo Calvino compara o mundo escrito e o “não escrito” (o da oralidade, da imagem e de todos os demais sistemas semióticos). Sua perplexidade confessa diante do mundo não escrito, cheio de sentidos em movimento que ensejam deslizes de todos os tipos e que nem sempre estão ao alcance da “compreensão” se atenua em seu constante retorno ao registro escrito, ao qual ele se refere como estando em “posição de descontinuidade em relação ao primeiro” (CALVINO, 1996). O autor de Cavaleiro Inexistente diz sentir-se deslocado na dimensão além da página, estado compreensível para alguém com trajetória tão distinta no campo da literatura. No entanto, era fazendo freqüentes incursões no mundo da oralidade em que se sentia vulnerável, levantando os olhos por sobre os óculos, que ele também dizia sentir-se reabastecido, valendo-se de toda a imprevisibilidade dos sons, dos gestos, das “visões polimorfas obtidas através dos olhos e da alma” (CALVINO, 1990, p.114), para oferecer à sua escrita elementos que ele conseguia condensar no verbo com que sempre presentearia seus romances.

Emergindo dessa mesma riqueza e potencial de significação, a história oral (doravante, HO) tem servido há meio século como recurso a pesquisa e documentação no âmbito das ciências humanas (especialmente da História e Antropologia). Coletada na forma oral em que se presentifica toda a diversidade semiológica desse registro, a HO é transcrita e, não raro, traduzida para outras línguas, iniciando um percurso que, a um só 1

Uma versão preliminar deste trabalho foi publicada na revista Tradução e Comunicação – Revista Brasileira de Tradutores, ISSN 0101-2789 e ISSN 2178-6976, n,25, 2013, pp. 59-76.

tempo, nos apresenta desafios diversos e nos remete constantemente a ponderações semelhantes às de Calvino ao contrapor os domínios oral e escrito. Dadas as idiossincrasias da oralidade e toda a potencialidade de significação que nela reside, é inevitável indagarmos até que ponto sua transformação e, assim, escritura e reescritura em materialidades discursivas diversas é capaz de deixar um lastro, um indício que seja do sujeito narrador? Como se estabelecem representações desse sujeito via tradução? É com essas perguntas que nos propomos aqui a discutir a tradução de histórias orais que Reeves-Ellington (1999) verte do búlgaro para o inglês e o desdobramento desse processo tradutório partindo do inglês para o português.

Entre 1994 e 1995, a historiadora Barbara Reeves-Ellington coletou HO de mulheres búlgaras de perfil socioeconômico, convicções políticas e grupos étnicos diversos, procedentes de várias regiões da Bulgária. Vitimadas de algum modo no contexto sóciohistórico e político em que viveram, seja através de violência ou de exploração como força de trabalho, as três mulheres selecionadas para seu estudo falam sobre suas vidas no período entre as duas Grandes Guerras. Excetuando-se três mulheres, todas as demais manifestaram o desejo de permanecer anônimas por medo de algum tipo de represália, o que reforça, de partida, a natureza política de qualquer projeto tradutório e a consequente necessidade de auto-reflexividade por parte do tradutor, tanto na tomada de decisões relacionadas à tradução, quanto na teorização sobre seu trabalho. A situação alvo prospectiva em que as narrativas orais (microtextos) foram inseridas envolveu seu uso como dado histórico em análise cruzada com outros textos. Os receptores da tradução para o inglês são, pois, historiadores, sociólogos, antropólogos e leitores leigos interessados em estudos femininos com pouco conhecimento sobre a Bulgária. As narrativas foram primeiramente transcritas em búlgaro, traduzidas termo a termo para o inglês e posteriormente retraduzidas pela autora com base na abordagem textualcontextual de Neubert e Shreve (1992, apud REEVES-ELLINGTON, op.cit.)2, bem como em perspectivas epistemológicas feministas (CHAMBERLAIN, 1988; von FLOTOW, 199; BEHAR, 1993).

2

O princípio básico na abordagem de Neubert e Shreve (1992, apud Reeves-Ellington, 1999) é o de que não se traduzem palavras, mas textos, e de que uma teoria global da tradução pode ser desenvolvida a partir da visão da tradução como processo eminentemente textual. Propõe-se o exame acurado das características que fazem de uma boa tradução um texto, dando relevo, de forma específica, à relação empírica entre a teoria da tradução e sua prática.

Embora não haja aqui a intenção de avaliar a tradução de Reeves-Ellington em si, comparo seu recurso a determinadas estratégias tradutórias com as que vislumbrei ao tomar a tarefa de traduzir as mesmas HO (cf. Seção 5 abaixo) para o português. As seções a seguir apresentam i. o quadro teórico da HO; ii. Uma descrição das teorias que orientaram as traduções em questão; iii. Os textos traduzidos e analisados e iv. As considerações finais.

2- A História Oral em tradução

Longe de ser tomada pela História e Antropologia como abordagem propiciadora de uma visão transparente sobre os “fatos” históricos, a HO se apresenta como um campo de versões possíveis e da subjetividade por excelência. Dessa forma, ela se presta menos a explicar o mundo do que a compreendê-lo, como afirma Alberti (2004, p. 5):

Sua grande riqueza [a da HO] está em ser um terreno fértil para o estudo da subjetividade e das representações do passado tomados como dados objetivos, capazes de incidir (de agir, portanto) sobre a realidade e sobre nosso entendimento do passado.

Assim, a HO constitui uma possibilidade de expandir o espectro de visões da História na medida em que transporta os fenômenos subjetivos para o campo da inteligibilidade conferindo-lhes “um estatuto tão concreto e capaz de incidir sobre a realidade quanto qualquer outro fato”(ALBERTI, op.cit., p. 9)

Naturalmente, são fartas no âmbito da HO questões abertas à problematização. Primeiro, pode-se criticá-la sob a alegação de que toma o indivíduo como valor, soberano e sujeito da razão; segundo, a questão da memória em que se sublinha a impossibilidade de reproduzir o passado tal qual realmente aconteceu posto que tanto a história quanto o pensamento estão sujeitos a descontinuidades e, terceiro, em que medida a interlocução entre entrevistado e entrevistador produz a HO em si em vez de apenas provocá-la.

Bourdieu (1996) discute esse pendor para o hermetismo presente na HO referindo-se a uma ilusão biográfica que promove uma visão de vida como estrada (linear,

unidirecional, cronológica e constante) e, por consequência, do sujeito como lócus das vivências e possuidor de uma identidade fixa conformada com o que ele nomeia de “postulado do sentido da existência narrada”(BOURDIEU, op. cit., p.184,). A filosofia da história como sucessão de acontecimentos e, por sua vez, a filosofia da identidade em que se representa a vida como história são tanto autorizadas pelo mundo social quanto por ele requeridas, como se pode observar no caso dos nomes próprios, dos ritos jurídicos, bem como em todo tipo de instituição de “totalização e de unificação do eu” (BOURDIEU, op.cit., p.186) para a construção de um discurso de “normalidade”. Importa ressaltar que a impossibilidade mesma de tais identificações darem conta do real da vida e da existência, descontínuo e aleatório, é que confere a elas a validade de descrever a história e os indivíduos “somente nos limites de um estágio ou de um espaço”, como afirma Bourdieu (op.cit., p.187). Assim, contar histórias de vida bem como coletá-las é, sobretudo, um empenho para dar sentido à “rapsódia heterogênea e disparatada

de

propriedades

biológicas

e

sociais

em

constante

mutação”

(BOURDIEU,op.cit. 187) que é a vida. Nesse movimento totalizador que sublinha a presença de uma voz única e singular, causando assim a emergência do sujeito narrador com sua experiência concreta e viva, a HO se apresenta como forma de lidar com a fragmentação/dissipação de significados inerentes à existência humana e à própria História porque permeadas pela linguagem. Bourdieu privilegia, pois, a trajetória, o percurso como um conjunto de pontos fixos num mundo movente que pode contribuir para a compreensão dos processos sócio-históricos sem que se corra o risco de ilusão biográfica.

A análise crítica dos processos sociais mal analisados e mal dominados que atuam, sem o conhecimento do pesquisador e com sua cumplicidade, na construção dessa espécie de artefato socialmente irrepreensível que é a "história de vida" e, em particular, no privilégio concedido à sucessão longitudinal dos acontecimentos constitutivos da vida considerada como história em relação ao espaço no qual eles se realizam não é em si mesma um fim. Ela conduz à construção da noção de trajetória como série de posições sucessivamente ocupadas por um mesmo agente (ou um mesmo grupo) num espaço que é ele próprio um devir, estando sujeito a incessantes transformações. Tentar compreender uma vida como uma série única e por si suficiente de acontecimentos sucessivos, sem outro vínculo que não a associação a um "sujeito" cuja constância certamente não é senão aquela de um nome próprio, é quase tão absurdo quanto tentar explicar a razão de um trajeto no metrô sem levar em conta a estrutura da rede, isto é, a matriz das relações objetivas entre as diferentes estações. (BOURDIEU, 1996, p. 189)

A HO como tentativa de recuperação da trajetória, ou, segundo Alberti (1998, p.209), como “projeto de pôr em ordem, de dar sentido e coerência, de totalizar, portanto, a experiência antes fragmentada” se distancia de qualquer investigação com pretensão de ineditismo ou de elucidação objetiva de fatos históricos. Sua inclusão em qualquer projeto é, sim, reflexo de uma “postura com relação à história e às configurações socioculturais, que privilegia a recuperação do vivido conforme concebido por quem viveu” (ALBERTI, 1990, p.5). Nessa mesma perspectiva, Bourdieu nos lembra que (...) não podemos compreender uma trajetória sem que tenhamos previamente construído os estados sucessivos do campo no qual ela se desenrolou e logo, o conjunto das relações objetivas que uniram o agente considerado (...) ao conjunto de outros agentes envolvidos no mesmo campo e confrontados com o mesmo espaço dos possíveis. ”(1996, p. 190).

Ao nos debruçarmos sobre outro problema, o da tradução interlingual da HO, deparamo-nos com uma tarefa que, embora possua aspectos aparentemente diversos em relação aos primeiros (abordagem, técnicas e procedimentos em tradução), conduz-nos de volta às mesmas questões suscitadas pela HO. O processo tradutório se inicia intralingualmente quando da transcrição do texto oral e de sua subsequente “higienização” na própria língua em que foi coletada. Excluem-se então descontinuidades, repetições, ênfase coloquial, hesitações, etc., o que pode fazer crer – afiançados em uma transcrição e tradução interlingual lineares e cronológicas – na existência de sujeitos monolíticos ou na existência de originais que comportam uma suposta essência, um suposto espelho dos fatos históricos, à espera de traduções “fiéis” e capazes de transportar o “ter em mente” do sujeito narrador para o texto traduzido. Com efeito, uma cultura hermenêutica permeia tanto o campo da HO, quanto o da tradução com desdobramentos distintos para cada uma. Se no âmbito da HO ela encoraja uma visão totalizante desse sujeito [movimento produtivo para Alberti quando destaca que na HO, “o papel central é do indivíduo único e singular, de sua experiência de vida concreta, histórica e viva, que, graças à compreensão hermenêutica, é transformada em expressão do humano.” (2004, pp.13, 14)], no campo da tradução, por sua vez, uma abordagem hermenêutica toma o fenômeno linguístico a partir de uma visão representacionista da linguagem, implicando a redução das complexidades inerentes ao processo tradutório.

Segundo Ricoeur (2006) a tradução tem um papel formativo no desenvolvimento de identidades nacionais e culturais. Portanto, se como também afirma Rajagopalan, “a estética está a serviço do político” (2009, p. 130), a tradução da HO afeita à higienização dos elementos típicos da oralidade, e/ou à formatação da voz narrativa a determinado gênero e tipologia textual definido a priori com o objetivo de verter um texto coeso e unificado a qualquer custo, acaba, na verdade, expondo a deficiência dessa abordagem para se pensarem os processos sociais, a história e o sujeito.

As decisões a serem enfrentadas pelo tradutor estão sempre além do linguístico, ou seja, traduzir histórias de vida constitui prática política e sociodiscursiva. Como sublinha Veras (op.cit. p. 513) em sua discussão sobre o trabalho do tradutor (intérprete) das vítimas do Apartheid durante seus relatos à Comissão Sul-Africana de Verdade e Reconciliação, o processo tradutório envolve uma constante demanda pela assimetria no percurso doloroso tanto de se narrar a violência perpetrada, quanto de se traduzirem vozes atravessadas pela dor. Da mesma forma que ao articular uma fala, um “discurso de si” (BOURDIEU, op. cit.) o sujeito narrador efetua uma “produção de si”, ao verter relatos de vida da forma oral para a escrita e, posteriormente, de uma língua para outra, o tradutor inevitavelmente produz um novo original. Daí o texto vertido não poder ser tomado como artefato acabado, asséptico, mas, nos termos de Foucault, como monumento em que incide “a exterioridade, a ideologia, as relações de sentido (...), sua incompletude” (MITTMANN, 2003, pp. 45-46). Veras (op.cit., p.518) dá atenção especial ao paradoxo vivido pelo tradutor que se vê em constante estado de errância diante da perplexidade que a narrativa de violência exacerba e a exigência de “neutralidade” e não-envolvimento feita durante o treinamento dos intérpretes anterior aos trabalhos da Comissão de Verdade e Reconciliação: A intérprete não escapa à contingência do que é ouvido, e que diz respeito ao clamor que da voz da vítima e do torturador pode se transmitir, à dor das palavras. Ela escuta a história que se narra na língua que vai pôr em tradução, e junto com ela vem o inarticulado, o real – eis a dificuldade de traduzir, de fazer a passagem desse real, desse fora do sentido, dessas palavras que corpulam na língua de tradução. Porque o acontecimento não se diz. Daí a fala errante, abandonada, escandida pelas contingências... A memória dá voltas, luta contra o esquecimento, hesita, não se deixa moldar em palavras.

Na tradução da HO de que trata este trabalho, Reeves-Ellington dispõe de um aparato teórico que busca superar a visão representacionista da linguagem que uma hermenêutica da transferência implicaria. Para isso, ela recorre a estratégias que

remetem à estrangeirização (VENUTI, 1995) e a princípios da abordagem feminista em tradução acerca dos quais discorremos na próxima seção.

3- A Estrangeirização

Em

sua

teorização

sobre

o

campo

da

tradução,

Venuti

(1995,

The

Translator’sinvisibility: A HistoryofTranslation) denuncia a invisibilidade do tradutor na cultura angloamericana pondo, pois, em cheque a noção naturalizada de que uma boa tradução é a que causa em seu leitor a sensação de que o texto foi originalmente escrito na sua língua (a língua do texto de chegada, ou texto-meta). Implicada nessa noção está também a de que uma tradução fluente, sem descontinuidades sintáticas, e com sentido unívoco é o artefato final desejado e possível. A essa idealização platônica do processo tradutório Venuti se refere como “mistificação” e propõe uma abordagem de resistência como alternativa ao efeito ilusório de transparência. Nessa nova perspectiva, o ato de traduzir tem seu caráter político reforçado uma vez que não se deseja mais neutralizar, mas deliberadamente ressaltar as diferenças entre as línguas em questão. “Estrangeiriza”-se o texto traduzido ao invés de domesticá-lo, ou seja, sublinha-se a presença do tradutor através de estratégias que não negligenciam a disjunção entre os dois espaços semióticos representados pelas línguas em jogo, ainda que (e a fim de que) se efetue um distanciamento entre o texto de partida e o eixo receptor. Na prática, como descreve Martins (2010, p. l67), a estrangeirização envolve o desvio “em termos formais, das normas literárias anglo-americanas (....), [e o recurso a] variações da forma linguística mais familiar, do dialeto padrão ou das formas coloquiais mais comuns, tanto em termos de léxico como de sintaxe”. O texto resultante dessa abordagem pode ser pensado como um grande performativo no sentido austiniano (AUSTIN, 1962) em que se enuncia tanto a necessidade de reconhecer a presença do Outro cultural, quanto a impossibilidade de correspondência total entre duas línguas. O leitor de um texto estrangeirizado terá, portanto, que realizar um empenho interpretativo acerca das relações entre a cultura de partida e a sua própria.

Assim como Venuti (op.cit.), Reeves-Ellington parte de textos de uma língua não hegemônica, no caso, o búlgaro, para uma língua hegemônica, o inglês, o que reitera a possível vantagem da estrangeirização como procedimento descentralizador e de oposição à supremacia do inglês. Sobre os textos que verte, a autora afirma:

Ao usar uma abordagem textual-contextual em tradução, exerço resistência à idéia de que a cultura do texto-alvo seja de importância crucial e, assim, busco técnicas criativas para promover as vozes das mulheres narradoras ainda que sob o risco de causar desconforto ao leitor do texto alvo.(REEVESELLINGTON, 1999, p.111)

Cumpre notar, nesse sentido, que a face crítica de uma abordagem exclusivamente estrangeirizadora se revela no momento em que partimos do inglês a fim de verter o texto em uma língua não hegemônica em relação a ele, o português. Com efeito, em sua defesa de uma abordagem não-apagadora das literaturas “menores”, escritas em línguas sem prestígio nem força geopolítica, Venuti (op. cit.) se posiciona sempre em relação ao que se traduz para o interior da cultura angloamericana e não o contrário. Seu recurso à estrangeirização possibilita tornar os textos opacos, buscando sublinhar a presença do Outro ainda que a recepção pelo público de língua inglesa seja relativamente dificultada. Em nossa investida tradutória para o português, entretanto, não nos valemos exclusivamente dessa abordagem para disponibilizar os possíveis ecos das vozes das mulheres entrevistadas. Embora não nos arvoremos na domesticação dos textos, permitimo-nos um movimento de tradução que não privilegia esta ou aquela abordagem a partir da visão de que tanto os textos quanto as línguas em questão se inscrevem em realidades sócio-históricas particulares e que, portanto, abordagens definidas a priori e independentes do objeto da tradução podem se mostrar pouco produtivas.

O foco deste trabalho recai, assim, sobre a importância de se conceber a empreitada tradutória como um processo necessariamente aberto e que revela o tradutor, sobretudo o da HO, como participante direto na formação de representações de outras culturas como afirma Venuti (2002, p.130):

A Tradução exerce um poder enorme na construção de representações de culturas estrangeiras. A seleção de textos estrangeiros e o desenvolvimento de estratégias de tradução podem estabelecer cânones peculiarmente domésticos para literaturas estrangeiras, cânones que se amoldam a valores estéticos domésticos, revelando assim exclusões e admissões, centros e periferias que se distanciam daqueles existentes na língua estrangeira.

Logo, fatores de ordem sócio-histórica e política constituirão sempre as condições de produção da tradução que necessita ser concebida e praticada sob o signo da transitoriedade dos sentidos que produz no percurso de uma língua para outra.

4- A Abordagem Feminista em Tradução

Consoante com o projeto moderno em busca de racionalidade e objetividade, uma abordagem tradicional em tradução, baseada em preceitos filosóficos ocidentais do que seja a realidade (o “fora” não problemático), a representação e o conhecimento (a representação dessa realidade) tem sido historicamente responsável por uma visão redutora tanto do fenômeno linguístico, quanto do sujeito. Transitar, via tradução, entre dois sistemas semióticos presumindo a possibilidade de equivalência total através de um suposto transporte de significados reflete uma visão essencialista e representacionista da linguagem bem como cartesiana do sujeito. Implicada nessa visão está, como conseqüência, a neutralização tanto (e principalmente) da diferença, quanto da natureza irredutível e contingente de qualquer língua.

Historicamente, durante o período colonial e ainda hoje em que teorias pós-modernas desconstruíram um a um os axiomas da modernidade, apaga-se, via representação em tradução, por exemplo, a violência colonial étnica, cultural (NIRANJANA, 1992), e, de gênero, reforçando-se a falácia purista de original por meio de estratégias tradutórias miméticas calcadas em uma metafísica poderosa da tradução. Poderosa porque se dissemina e consolida através da circulação de textos instituindo e constituindo, binariamente, posições-sujeito para o colonizado, para a mulher, para homossexuais, para asiáticos, para negros, sem problematizar a hierarquização inerente a qualquer binarismo e que, no caso da tradução, mantém esses sujeitos em relação assimétrica (inferior) diante de seus pares binários, quais sejam, o colonizador, o homem, o heterossexual, o ocidental e o branco.

É empreendendo a contestação desse paradigma moderno (e a reboque dele, das disciplinas de natureza supostamente neutras e científicas) em prol de um espaço teórico para pensar os processos sociais que a abordagem feminista em tradução (AFT) se define como atividade inerentemente política ao dar relevo à questão do gênero no

trabalho tradutório (CHAMBERLAIN, 1988; GLUCK E PATAI, 1991; von FLOTOW, 1991, BEHAR, 1993; SIMON, 1996;). Reunindo escolas teóricas e momentos históricos diversos do movimento feminista, podemos elencar, em linhas gerais, os seguintes princípios que a AFT possui como base epistemológica: i- a realidade é construída sociodiscursivamente; ii- o poder e controle social são fabricados e exercidos via discurso; iii- a produção, circulação e recepção de textos se dá no interior de uma organização social patriarcal e que funciona sempre de forma a destacar o masculino e apagar o feminino (invisibilidade); iv- a língua é o lócus onde o discurso patriarcal se materializa. Ciente das complexidades da representação que o ofício do tradutor envolve, a antropóloga Ruth Behar narra sua angústia (cf. TranslatedWoman: Crossing the Border with Esperanza’s Story, 1993) ao reformular a HO de Esperanza, mulher mexicana vitimada pela violência do pai e do ex-marido que impeliu a estudiosa a voltar sua atenção para a questão da tradução:

Como alguém que não está mais apenas aprimorando suas habilidades para ouvir, mas sentada aqui, cortando e editando as historias que Esperanza me contou para depois tecê-las novamente nesse livro como história de vida, temo estar, de alguma forma, mutilando a língua de Esperanza. O problema é que, depois que eu já tiver cortado sua língua, dar-lhe-ei ainda uma nova, uma língua estranha que não é nem inglês, nem espanhol, mas a língua de uma mulher traduzida. Neste livro, Esperanza falará como nunca falou antes. (BEHAR, 1993, p. 19, tradução3 nossa)

O fato de Esperanza “falar” de modo diferente ao ser transcrita e, posteriormente, traduzida não se circunscreve apenas à problemática do processo tradutório, mas à natureza falogocêntrica da língua na qual (e através da qual) o feminino é sempre interditado. Uma das formas de resistir a essa ordem discursiva seria, de acordo com a AFT, revelando e analizando criticamente suas manifestações. Uma outra forma, seria adotando uma abordagem deliberadamente intervencionista no processo de tradução com o objetivo de sublinhar o feminino e, assim, a diferença. Para Godard,

3

“As the one who is no longer just expanding her capacities to listen but sitting here snipping and snipping at the historias Esperanza told me, only to sew them back into this book as a life history, I fear I am somehow cutting out Esperanza‟s tongue. Yet when I am done cutting out her tongue, I will patch together a new tongue for her, an odd tongue that is neither English nor Spanish, but the language of a translated woman. Esperanza will talk in this book in a way she never talked before.” (BEHAR, 1993, p. 19)

Comparável à paródia, a tradução feminista é a diferença apesar da semelhança. Como a teoria feminista tenta mostrar, a diferença é fator chave nos processos mentais e na atividade crítica. Ao afirmar sua diferença crítica e seu prazer na leitura e (re)escrita intermináveis, a(o) tradutora/tradutor feminista deixa à mostra as marcas de manipulação do texto. O trato feminino do texto em tradução toma o lugar daquele que um tradutor modesto e reservado daria. Assim, a(o) tradutora/tradutor se torna participante ativo na produção de sentido. (GODARD, 1984, p.15, apud ARROJO, op. cit. p.157, tradução nossa4)

Reeves-Ellington intervém nos textos através da transformação genérico-tipológica a que os submete com o objetivo principal de capturar os elementos paralinguísticos que uma tradução em prosa direta escamotearia. Resulta dessa reformulação a possibilidade de dar contornos diferentes à tradução e, assim, garantir uma voz narradora feminina. Se a assepsia e formatação das HO em prosa direta mutila a voz narrativa adequando-a a uma ordem discursiva falogocêntrica, ou seja, linear, estável, ordenada, como é representado o que Harrison, (1988, apud WINTER, 2012) chama de “father-text”, tenta-se subverter tal relação de poder devolvendo às mulheres a condição de narradoras, ou seja, a chance de dar a própria versão nos seus próprios termos (representados como não lineares, instáveis e desordenados).

Katja de Winter (op. cit.) aborda o poder da (o) narradora/narrador no ensaio Giving a VoicetotheUnheard(2012) ao analisar a personagem Antoinette do romance de Jean Rhys, WideSargassoSea(1966), que recebera o nome de Bertha no romance Jane Eyre de Charlotte Brontë (1847/1994). A posição de narradora que Antoinette tem no texto contemporâneo subverte a relação de poder estabelecida anteriormente no texto de Brontë em que Rochester, seu marido, é o único detentor de uma voz e, assim, da versão oficial sobre a identidade de Bertha. Seu silêncio ao longo do romance de Brontë valida a narrativa masculina que a descreve como louca, incendiária e desestabilizadora da família nuclear. Ao reconstruir a personagem ficcionalizando seu período de vida anterior àquele narrado pelo Rochester de Brontë, Jean Rhys constrói uma Antoinette que possui uma voz e que, como Rochester, utiliza-a para seus próprios fins. Segundo 4

“Like parody, feminist translation is difference despite similarity. As feminist theory tries to show, difference is a key factor in thought processes and in critical activity. The feminist translator affirming her critical difference, her delight in interminable reading and re-writing, flaunts the signs of the manipulation of the text. Womanhandling the text in translation means replacing the modest, self-effacing translator. The translator becomes an active participant in the creation of meaning.” (p.15, apud ARROJO, op. cit. p.157)

Mezei (apud WINTER, op.cit. p. 5, Tradução nossa), “a fim de manter sua sanidade mental, Antoinette se refugia na estrutura estável da ordem narrativa à qual sua vida fica conectada”, ou seja, havendo narrativa, ela se mantém viva, não havendo, ela morre. Ainda que as traduções das HO discutidas aqui não possam ser descritas como “estrutura estável”, importa sublinhar o fato de que uma narrativa, um turno é concedido, a despeito dessa suposta estabilidade.

5- Excertos das Histórias Orais

5.1-

Texto A, Vertendo Olga no poema.

A narradora é Olga Vezhinova, uma mulher de 75 anos com formação universitária. Trabalhou como diretora de teatro a maior parte de sua vida. Articulada e às vezes verbosa, Olga assumiu o controle da entrevista. Reeves-Ellington fornece os seguintes detalhes sobre o momento em que coligiu a HO de Olga (op. cit. p. 113, tradução nossa): Depois que lhe fiz as primeiras perguntas, ela se lançou à narrativa de sua autobiografia e eu mesma falei bem pouco durante as 3 horas que se seguiram. Enquanto falava de sua infância, mencionava sua mãe com muita frequência, o que não era inesperado. Olga tinha orgulho do fato de sua mãe ter sido professora de um vilarejo e ativista política no anos 20 e 30. No final, ela mencionou a morte de sua mãe.

Traduçao da Transcrição do

Tradução

búlgaro para o inglês:

proposta

da

transcrição

Traduçao para o português

por Reeves-Ellington: One of the saddest moments in my life

My mother.

Minha mãe

was my mother‟s early death. She died

I told you, didn‟t I

Eu lhe disse, não disse?

from heart disease when she was 45

that one of the harshest moments of my

que um dos momentos mais duros da

years old and I was still in high school.

life

minha vida

But I think the harsh village life killed

which I think most harshly affected my

quemais duramente afetou o meu destino

her. She worked as a teacher, and she

fate

foi a morte prematura de minha mãe.

had village work and field work to do.

was my mother‟s early death.

Minha mãe morreu quando eu ainda era

Conditions were unimaginably harsh.

My mother died when I was still a girl in

menina

The land was so mountainous and

high school.

Menina em idade escolar

infertile. And then she had to help

My mother died when she was 45 years

Minha mãe morreu aos 45

hermother-in-law. Quite simple the harsh

old

de doença do coração

village life had an adverse effect on her,

from heart disease.

Mas eu acho

and she passed away very early.

But I think

que minha mãe morreu mesmo

my mother died because of the harsh

Foi por causa da dureza da vida na vila

village life.

Mais dura do que se possa imaginar

Unimaginably harsh conditions.

E trabalho na escola

And school work

E trabalho na vila

And village work

E trabalho na roça

And those fields

Terras áridas

Mountainous

Inférteis

Infertile

Tinha que ajudar em tudo isso

She had to help with that

Tudo isso e mais a sogra

That and her mother-in-law.

Muito simples:

Quite simply

avida dura da vila acabou com ela

The harsh village life affected her very

e ela se foi muito cedo

badly

Minha mãe.

and she passed away very early my mother.

Segundo Reeves-Ellington, na medida em que se propõe a preservar a coesão e coerência intratextuais, bem como a fornecer a elucidação dos „fatos‟, a tradução em prosa direta acaba se tornando redutora da força expressiva da narradora, subtraindo do texto a tristeza e a emoção presentes no momento da enunciação , ambas determinantes para uma melhor compreensão da posição ocupada por muitas mulheres búlgaras entre as duas guerras mundiais. A esse respeito a tradutora afirma: Minha insistência inicial em tornar o texto mais coeso comprometeu a lealdade e impediu que a forma de expressão do narrador se refletisse no texto traduzido. A tentação de remover as repetições e peculiaridades levaram a uma simplificação do estilo narrativo. A voz individual é suprimida, o impacto emocional da narrativa se torna ausente, o sentido de tristeza expresso pela narradora ao falar sobre a morte prematura de sua mãe não aparece na tradução. A questão é que a tristeza expressa na narrativa se apresenta, no entanto, como elemento crucial: foi em reação à opressão vivida pelas mulheres nos pequenos povoados da Bulgária entre as guerras mundiais que a narradora se tornou uma ativista social e filiou-se ao Partido Comunista. (REEVESELLINGTON, 1999, p. 116, tradução nossa)

Embora não seja uma tradução domesticadora do texto de partida e se preste a transitar no espaço interlingual sem negligenciar os elementos paralinguísticos presentes na história oral tal como foi coletada, a versão poética, ainda assim, é reconhecida pelo leitor-alvo na língua inglesa como gênero familiar. Seguindo a taxonomia de Neubert e Shreve (apud REEVES-ELLINGTON, op. cit.), a autora classifica sua versão como texto “intertextualmente deslocado”. Deslocado porque nem sempre se espera encontrar

um poema em trabalhos acadêmicos no campo da História e Antropologia, mas familiar porque o gênero poético é parte da tradição literária de língua inglesa.

A versão para o português é fluente na medida em que mantém a repetição de diversas expressões que traduzem a vida dura que a mãe da narradora levava, o vínculo afetivo entre ambas e a consequente tristeza por sua perda e: minha mãe (6 vezes), mais duro(a) (4 vezes), duramente, menina (2 vezes), morreu (4 vezes), acabou com ela, se foi. Optase, por exemplo, pela expressão “minha mãe morreu mesmo foi por causa da vida dura.”, buscando-se marcar o contraste entre a versão oficial sobre a morte de sua mãe e sua própria impressão. A esse mesmo respeito, em vez da expressão „ataque cardíaco‟, que seria provável em textos referenciais, usa-se „doença do coração‟, uma tradução termo a termo que no contexto poético, dada a carga semântica que a palavra „coração‟ tem em português, metaforiza também a doença não física, a doença da alma, causada pela vida extenuante que tivera e pela violência que sofrera. O vocábulo trabalho é usado uma vez a mais do que na versão em inglês enfatizando a razão do cansaço que lhe tomara as forças, efeito de sentido que também se pretende obter ao lançar mão da expressão “tudo isso” e “tudo isso e mais a sogra”. A expressão adverbial “quite simply” é traduzida pela expressão adjetiva “muito simples” seguida de dois pontos a fim de direcionar a atenção do leitor para a causa real da morte dessa mulher.

A transcrição do búlgaro para o inglês não deixaria explícito o fato de que a narradora da HO era uma mulher. Ao retraduzir o texto na versão poética, Reeves-Ellington insere a expressão “a girl” no sexto verso. Essa inserção não é apenas um reparo decorrente da reformulação de um texto oral para um texto escrito. O recurso a essa estratégia tradutória marca um posicionamento político em que se deseja não só dar visibilidade à mulher

narradora,

mas

também

promover

uma

consciência

de

gênero

(genderconscioustranslation) na tradução como práxis (von FLOTOW, op. cit.). Na versão em português, a palavra “menina” ocorre em dois momentos, estendendo, a partir do inglês, o possível acesso a essa escritura feminina.

5.2-

Texto 2 , Vertendo Loreta pelo coloquial

Loreta Shipkova também tem 75 anos, cursou até o equivalente à quarta série e trabalhou na lavoura até os 35 anos de idade. Mudou-se então do vilarejo onde nasceu para uma cidade grande na costa do Mar Negro. Lá, começou a trabalhar como faxineira numa pequena empresa varejista. No excerto, ela medita sobre as diferenças entre sua geração, nascida logo depois da I Guerra Mundial, e a geração de então (entre 1994 e 1995)

Transcriçao da narrativa oral do búlgaro para o inglês Let me tell you. Now they all want apartments, a separate roomfor the boys, one for the girls. But then the whole family lived together in one place. I wonder how they even made those children. Both our neighbors had six. Granny Kristina had seven, Granny Tuna had eight. And I wonder how they managed to feed themselves. Back then, everything was produced by hand. They used a tiller toturn the soil, and a plough to make furrows for crops like wheat and beans. It was a hard life. The village had four wells, two at the edge and two in the center. Wait, I‟ll tell you more.

Traduçãopropostapor Reeves-Ellington Let me tell you. Now they all want apartments, a separate room for the boys, a separate room for the girls. But then, father, mother, brothers, sisters – all in one place. All together. That‟s how it was then. That‟s how it was. I remember that‟s how it was when I was a little girl. But when I understood… I didn‟t understand… Do you understand? When I came here… when I understand now how life is here, and how life was there, then…. And I wonder how they even made those children… five, six, seven, eight. Our neighbor had six, the other neighbor had six, Baba Kristina had seven, Baba Tuna had eight. All our neighbors there. All their children. How did they feed them? Everything had to be produced by hand. They didn‟t have machines then, they used tillers and hand ploughs. The tiller turned the soil and the plough… well, when they sowed, say wheat or beans, the plough made furrows. Do you understand? A wide, iron tool to make little furrows. And that‟s how they lived... a hard life, I mean a difficult life. No water. There were four wells in the village, but they were far flung, you might say. And then it was a big village. There were two wells at the edge of the village, and two in the center. Wait, I‟ll tell you more.

Tradução para o português Deixa eu te falar uma coisa, agora todo mundo quer ter apartamento, quarto separado pros meninos, outro pras meninas. Mas antigamente, era pai, mãe, irmão, irmã – todo mundo no mesmo cômodo. Tudo junto. Era assim que era naquela época. Assim mesmo. Eu lembro que era assim quando eu era pequena. Mas quando me dei conta... eu não entendi... Você tá me entendendo? Quando eu vim pra cá, quando eu vejo agora como é a vida aqui e como era antes...eu nem sei como é que eles conseguiam fazer aquele monte de filho...cinco, seis, sete, oito. Nosso vizinho tinha seis, o outro vizinho seis, Baba Kristina tinha sete, Baba Tuna oito. Todos os nossos vizinhos lá, aquela filharada. Como é que eles davam de comer para eles? Tudo era feito à mão. Eles não tinham máquinas naquela época, usavam enxada e arado de mão. Com a enxada afofavam a terra e com o arado... bem quando eles plantavam, por exemplo, trigo e feijão, o arado fazia os canteiros. Cê tá me entendendo? Uma ferramenta grande de ferro para fazer os canteirinhos. Era assim que eles viviam... uma vida dura, quer dizer, uma vida difícil. Sem água. Tinha quatro poços na vila, mas eles ficavam longe demais, você pode dizer... E naquela época, era uma vila grande. Tinha dois poços na saída da cidade e dois no centro. Pera que eu vou te contar mais.

A transcrição direta do texto oral, segundo Reeve-Ellington, é repleta de repetições, descontinuidades, elementos aparentemente irrelevantes e expressões de ênfase coloquial. Como se pode notar no excerto acima, ao transcrever a história oral, procedese a uma higienização destes elementos a fim de tornar o texto fonte de referência útil e

de conteúdo (“fatos”) histórico (s). Ao retraduzir, Reeves-Ellington busca recuperar a ênfase coloquial reinserindo os mesmos elementos que dão à narrativa um tom pessoal sendo, pois, carregados de sentido. Segundo a historiadora,

Esta tradução fornece mais informação porque inclui todas as repetições, elementos enfáticos coloquiais e palavras aparentemente irrelevantes que não só personalizam a voz narrativa, mas também têm uma carga semântica. O uso de repetições no texto original, recurso antigo utilizado por contadores de histórias para dar ritmo (por exemplo o verbo „entender‟), precisa ser mantido na tradução. A tradução com variações e substituições elegantes (entender, perceber, pegar, aprender, reconhecer) seria imprópria neste caso. A insistência da narradora em fazer comparações (agora, naquela época, aqui, lá) indica não só sua dificuldade em aceitar as mudanças na sociedade búlgara depois de 1989, mas também sua necessidade de enfatizá-las para mim. Excluir tais palavras seria ocultar o fato de que ela estava se esforçando para aceitar as mudanças. A exclusão das duas perguntas que me fez, “Você tá me entendendo?” também obscureceria sua preocupação em que eu compreendesse não apenas a língua, mas também os detalhes da vida numa época já passada. (REEVESELLINGTON, 1999, pp. 121 e 122, tradução nossa)

O recurso a esta ou àquela estratégia tradutória é regido pelo objetivo que se tem em mente ao verter um texto, como assinala Reeves-Ellington. Em outras palavras, como dito anteriormente, é uma prática eminentemente política, posto que submeter a materialidade discursiva ao processo que Godard (apud ARROJO, op.cit.) nomeia transformance implica não a suposta reprodução do “sentido original”, mas a produção deliberada de sentido.

Na versão em português pode-se perceber novamente uma abordagem fluente do texto, expondo a intenção de enfatizar a presença da narradora e, ao invés dos dados históricos relativos à famíliae ao trabalho rural, suas impressões mesmas e atitudes relativamente a tal contexto. A HO é reescrita em português com a inclusão deliberada de formas linguísticas não-padrão típicas do registro oral (redução de palavras, hesitação, ênfase coloquial, entre outras peculiaridades da oralidade, marcadas em itálico no texto). Embora possam ser tomados como um movimento facilitador em direção ao leitor alvo, tais traços são, na verdade, uma tentativa de dar audibilidade a uma voz narrativa situada

em

um

determinado

lugar

sócio-histórico

que

formas

linguísticas

“rigorosamente” correspondentes à versão em inglês talvez não dessem conta de representar.

Resistir à assepsia do texto é autorizar a circulação de sentidos que surgem na paratextualidade, mas que podem se presentificar textualmente via descontinuidades, pausas, hesitações e perguntas. O estranhamento provocado no leitor é consequência de um projeto tradutório que tem como agenda dar relevo à identidade narrativa; esta que opera tanto como autora, quanto como leitora de sua própria vida (RICOEUR, 2006).

5.3-

Texto 3, Vertendo Maria por uma sintaxe “perturbada”

Maria Yakova é uma professora de balé de 63 anos cuja vida acadêmica fora interrompida antes que ela conseguisse concluir o ensino médio em 1950, quando foi declarada “inimiga do povo” pelo Partido Comunista. Durante a entrevista, a narradora tece duras críticas a um regime que mudou o curso de sua vida. Segundo ReevesEllington (op.cit. p. 124, tradução nossa):

Yakova se mostrou orgulhosa de seus ancestrais, de sua vida financeira confortável e da história da cidade em que cresceu às margens do Rio Danúbio. Artista extremamente articulada e segura, mostrou pouco interesse em quaisquer perguntas que eu fizesse e, aparentemente havia decidido de antemão o que iria dizer-me. Estava determinada a contar-me sobre sua vitimação pelo Partido Comunista, bem como sobre as atrocidades por ele cometidas.

Transcrição do búlgaro para o inglês If the gentlemen communists had not expelled me, in my opinion NT particularly fairly, because I was only 17 years old and understood nothing of politics... That does not mean I liked them. I don‟t deny that I approved of neither the way they came to power nor the way they treated people right after they came to power. I was such a naïve, pure little soul. It seems tome it was a crime against all young people who were repressed in the name of a syphilitic idea. Lenin didn‟t die of any ordinary disease. He was a madman of great genius because He had syphilis. However obscene it is to talk like that of a dead man who is considered a titan inhis ideological aspirations, I maintain that that‟s the way it is.

Traduçãopropostapor Reeves-Ellington If the gentlemen communists had not expelled me, in my opinion not particularly fairly because I was just a girl of 17 and understood nothing of politics… that does not mean I liked them, I don‟t deny I didn‟t like them, I don‟t deny that I approved of neither the way they came nor the way they treated people right after September 9, yet I was such a naïve and pure little soul that it seems to me it was a crime against all young people who were repressed in the name of a syphilitic idea, because we all knew – from our parents, grandmothers, aunts and uncles we knew – that Lenin didn‟t die of any ordinary disease but that he was a madman of great genius because he had syphilis, and however obscene and inappropriate it is to talk like that about a dead man who is considered a titan in his ideological aspirations, I maintain that that‟s the way it is.

Tradução para o português Se aqueles benditos comunistas não tivessem me expulsado, o que na minha opinião não foi lá muito injusto, porque eu era apenas uma menina de 17 anos e não entendia nada de política... isto não significa que eu gostasse deles, não nego que não gostava deles e não nego que não concordava nem com a maneira como eles chegaram ao poder, nem com a forma como tratavam as pessoas logo depois de 9 de setembro, só que eu era uma bobinha ingênua e pra mim era um crime cometido contra todos os jovens que

eram reprimidos em nome de uma mente doente porque todo mundo sabia – pelos nossos pais, avós e tios, todos sabíamos que Lênin não morreu de nenhuma doença comum, mas que era um homem louco de grande gênio porque tinha sífilis e ainda que seja imoral falar assim de um homem morto que é considerado um titã em suas aspirações ideológicas, eu continuo dizendo que foi assim que aconteceu.

O texto é traduzido, tanto para o inglês, quanto para o português criando-se uma oração apenas. A atenuação das complexidades do texto original através de sua segmentação em várias orações, estratégia comum no manuseio de HO, é deixada de lado, ainda que, sintaticamente, produza desconforto no receptor. Tem-se aqui uma fala encolerizada, enraivecida, de uma narradora que levanta a voz e perde o fôlego ao discorrer sobre eventos que ocorreram há tantas décadas, mas que ainda a significam de forma tão intensa, dando a impressão de ser recentes. É a sintaxe inusitada, a ausência de pontos para marcar pausas maiores que podem remeter a uma fala angustiada, apressada e aparentemente desordenada. Daí a insuficiência da prosa direta, asséptica, com rigor sintático típico do registro escrito, ou seja, se nos valêssemos da pontuação como forma de restaurar a ordem significante que parece ter sido “perturbada” pela retórica de um determinado narrador, sacrificaríamos, como pontua Reeves-Ellington, o tom, a intensidade da narrativa em nome da clareza. No excerto em questão, fez-se o percurso oposto (uma tentativa de tradução fluente) na confiança de que os significados que circularão tornarão disponíveis para o leitor alvo a força retórica e o estado emocional da narradora em relação ao governo comunista e à violência de que fora vítima.

6- Do que se pode concluir

Como temos discutido em nossas aulas de Estudos de Tradução na Universidade Federal do Espírito Santo, embora qualquer texto enseje sempre nosso confronto com a natureza complexa da tradução, o texto literário o faz de modo particular, expondo essa fratura: nada está resolvido, ou seja, uma obra literária é perfeita na sua incompletude. Se há algo de literário nas escolhas feitas pelo tradutor, se é possível promover uma leitura deslocada da que é tradicionalmente feita quando se tem histórias orais diante de si, se só é possível uma reescritura, os sentidos que circulam não cessam de variar e de fugir aos encapsulamentos gerais que se promovem em nome da fidelidade. Nesse percurso que as histórias de vida das mulheres analisadas fazem do búlgaro para o inglês e o português, fica evidente que tal incompletude encerra, a um só tempo, o

reconhecimento da irredutibilidade das línguas (como discute Derrida ao analisar o mito de Babel, 2002), e a própria consagração do ímpeto de traduzir. No dizer do filósofo desconstrutivista, Deus contende com a tribo de Sem impondo-lhes a sina de uma “dupla dobra” (doublebind):

Vocês estão condenados à multiplicidade das línguas; traduzam e, antes de tudo, traduzam o meu nome. Traduzam o meu nome, ele diz, mas, ao mesmo tempo, afirma: Vocês não conseguirão traduzir o meu nome porque, acima de tudo, é um nome próprio e, segundo, porque o meu nome, o nome que eu mesmo escolhi para esta torre, significa ambigüidade, confusão, etc. Assim, Deus, em sua contenda com a tribo de Sem, de certo modo lhes dá uma ordem totalmente dupla. Impõe-lhes uma dupla dobra ao dizer: Traduzam-me e, digo-lhes ainda mais, não me traduzam. Desejo que me traduzam, que traduzam o nome que imponho a vocês; e, ao mesmo tempo, façam o que for, não o traduzam, vocês não conseguirão traduzi-lo. (DERRIDA, 2002, p. 102, Tradução nossa.)5

Estabelece-se, nesse sentido, a promessa de sentido total que nunca é cumprida, a dívida que nunca é quitada (RAJAGOPALAN, 2006, p. 65), mas que, apesar dessa impossibilidade, continua a ser feita à guisa de “reiterar [o] texto, de dar-lhe uma sobrevida.”

A complexidade de se lidar com a alteridade via tradução nos leva à relativização tanto da ideia de domesticação como inerentemente etnocêntrica e apagadora do “Outro”,quanto da ideia de estrangeirização do texto como movimento político eficiente de resistência (ou descentramento). Rodrigues (2008) discute a ética desse processo de apropriação ressaltando que tanto uma abordagem quanto a outra podem ter efeitos imprevisíveis uma vez que a tradução fluente, domesticada pode servir como estratégia de descentramento em projetos tradutórios que envolvam a tradução de textos do inglês para línguas não hegemônicas, ou seja, ter como resultado o „efeito‟ contrário àquele denunciado por teóricos como Berman (2007) e Venuti (2008). Por sua vez, a 5

“You will be condemned to the multiplicity of tongues; translate and, to begin with, translate

my name. Translate my name, says he, but at the same time he says: You will not be able to translate my name because, first of all, it‟s a proper name and, secondly, my name, the one I myself have chosen for this tower, signifies ambiguity, confusion, et cetera. Thus God, in his rivalry with the tribe of the Shems, gives them, in a certain way, an absolutely double command. He imposes a double bind on them when he says: Translate me and what is more, don‟t translate me. I desire that you translate me, that you translate the name I impose on you; and at the same time, whatever you do, don‟t translate it, you will not be able to translate it.” (DERRIDA, 2002, p. 102)

estrangeirização do texto traduzido com o intuito de abrigar o Outro sociocultural pode acabar reclamando uma adaptação e, posteriormente, a padronização parcial da tradução em favor de sua legibilidade sem com isso representar uma tradução necessariamente etnocêntrica (cf. estudo de Lane-Mercier, 1998 sobre a retradução de The Hamlet), o que reforça o argumento de que a polarização clássica entre domesticação e estrangeirização da tradução é pouco produtiva.

Reeves-Ellington transita entre a domesticação e a estrangeirização, ou seja, ao mesmo tempo

em

que,

à

moda

de

etnocentrismo/hipertextualismo/platonismo

Berman tradicionais

(op. que

cit.), por

resiste muito

ao tempo

permearam tanto o ofício do tradutor quanto a teorização sobre ele, deixa clara no texto que apresenta sua ciência de que a letra é o “espaço de jogo” da tradução e precisa, portanto, abrigar procedimentos e estratégias que possibilitem também o movimento de quem está na outra extremidade do eixo, a recepção. Seu projeto de uma tradução comprometida com o que ela nomeia „lealdade‟ exorbita a noção platônica de transparência de sentidos entre textos de partida e de chegada. Lealdade, no sentido da historiadora, se inscreve num projeto ético que nem domestica o Outro a despeito de sua posição sócio-histórica e cultural, nem o estrangeiriza, no afã muitas vezes quixotesco de assim promover uma suposta abordagem contestatória em tradução.

De igual modo, seu recurso à abordagem feminista não é motivado pela possibilidade de subversão do texto-fonte, mas para buscar formas de tornar disponíveis para o leitor do texto-alvo as vozes das mulheres traduzidas. Dito de outro modo, seu objetivo é menos a subversão do texto original do que um movimento em direção à visibilidade do feminino (e, assim, da diferença) através de uma forma alternativa de linguagem, posto que inscrever o feminino na ordem simbólica falogocêntrica é impossível. Lealdade, nesse sentido, se estende para além da ideia de fidelidade já que, em vez de apontar para a materialidade discursiva, o verbo, o texto – caso desta última –, aponta para o sujeito (ou indivíduo) que o formulou – a mulher traduzida. Sendo esse gesto a afirmação de uma fala própria, de uma écriture féminine (CIXOUS, 1988), é, assim, inevitavelmente, a transgressão da estabilidade linguística reflexiva da Lei-do-Pai, a ordem simbólica que reprime a fluidez, a não fixidez, a instabilidade para trazer o discurso à existência. À medida que as hesitações, as descontinuidades sintáticas, as lágrimas, o silêncio, a ansiedade, o aparente caos semântico, a prolixidade, as digressões, a busca por uma

interlocução irrompem, são tentativamente traduzidos como língua. Tais elementos extra-sistêmicos que numa abordagem tradicional de tradução seriam provavelmente tratados como excrescência e, assim domesticados, suprimidos, adaptados com o fim de não “perturbar” a ordem significante da língua de chegada, ganham relevo na tradução de Reeves-Ellington e na que propusemos em português, podendo ser pensados, como tentativa de uma écriture féminine.

Se do búlgaro para o inglês as HO aqui apresentadas têm a opacidade como marca dando a ver que o texto é uma tradução, em minha tentativa de estender a audibilidade das vozes dessas mulheres aos leitores da língua portuguesa faço não mais uma tradução de resistência, mas reformulo as narrativas na confiança de que uma tradução fluente e razoavelmente domesticada ao português é mais produtiva em relação à tradução para o inglês.

A abordagem, os procedimentos, as técnicas precisam estar sempre a serviço de uma epistemologia que reclama sempre construção e reconstrução nos ET. São sempre secundários, pois, derivando de princípios norteadores, serão selecionados ou descartados dependendo das línguas que se encontram (ou se confrontam) num dado projeto e momento histórico, bem como em virtude do modo de circulação e recepção em que uma tradução estiver inscrita. Não se trata, pois, de abolir práticas tradicionais de, por exemplo, tentar dar ao texto traduzido a “aparência de original”. Tampouco se trata de radicalizar a noção de estrangeirização do texto causando ao leitor um estranhamento que dificulte a circulação de sentidos.

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